Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ERROS NO DIREITO PENAL Material produzido pelo Prof. Davi Dunck Instagram de aulas: penal.aulas Telegram (grupo de estudos): penalaulas ERRO DE TIPO (ESSENCIAL) Erro sobre os elementos do tipo Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. Erro determinado por terceiro Art. 20, §2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. 1. CONCEITO: Erro de tipo é a falsa percepção da realidade sobre os elementos constitutivos do tipo penal (é o chamado “erro de tipo essencial”). 2. ESPÉCIES: O erro de tipo pode ser escusável ou inescusável: a) escusável (desculpável, inevitável, invencível): é o erro que não deriva de culpa. b) inescusável (indesculpável, evitável, vencível): é o erro que deriva de culpa (imprudência, negligência ou imperícia). 3. EFEITOS: O erro de tipo sempre exclui o dolo: - Erro de tipo escusável (desculpável, inevitável, invencível): o agente não atua com culpa – exclui o dolo e a culpa. - Erro de tipo evitável (indesculpável, evitável, vencível): o agente atua com culpa – exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. - ATENÇÃO: Como o erro de tipo sempre exclui o dolo (escusável ou inescusável), Zaffaroni denomina o erro de tipo de “cara negativa do dolo”. - ATENÇÃO: É perfeitamente possível a incidência do erro de tipo nos crimes omissivos impróprios (ao sujeito que tem o dever de agir para evitar o resultado). 4. ERRO DETERMINADO POR TERCEIRO: Segundo o art. 20, §2º, responde pelo crime o terceiro que determina o erro. O erro provocado pode ser doloso ou culposo. 5. DISCRIMINANTES PUTATIVAS Descriminantes putativas Art. 20, §1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. Conceito: A descriminante putativa é uma excludente da ilicitude que existe apenas na imaginação do autor, mas não no mundo concreto. - Erro relativo aos pressupostos fáticos de uma descriminante. - Natureza jurídica: discriminante putativa por erro de proibição (teoria extremada da culpabilidade), ou discriminante putativa por erro de tipo – erro de tipo permissivo – (teoria limitada da culpabilidade). - ATENÇÃO: Apesar de não haver consenso entre os doutrinadores, considerando-se que o CP – item 17 da Exposição de Motivos do CP – acolheu a teoria limitada da culpabilidade, muitos concursos inclinam-se pela posição de que o erro relativo aos pressupostos fáticos configura-se como erro de tipo permissivo. Em relação aos concursos (sobre esse tema em específico), é importante analisar o perfil da respectiva banca examinadora. ERRO DE TIPO (ACIDENTAL) Erro sobre a pessoa Art. 20, §3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. Erro na execução (aberratio ictus) Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis) Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. 1. CONCEITO: Erro de tipo ACIDENTAL é aquele que recai sobre dados diversos dos elementos constitutivos do tipo penal, isto é, sobre as circunstâncias e fatores irrelevantes da figura típica. São espécies do erro acidental: 1 – Erro sobre a pessoa; 2 – Erro sobre o objeto; 3 – Erro quanto às qualificadoras; 4 – Erro sobre o nexo causal; 5 – Erro na execução; 6 – Resultado diverso do pretendido. 1º - ERRO SOBRE A PESSOA (error in persona) a) Conceito: É aquele em que o agente confunde a pessoa desejada, atingindo pessoa diversa. b) Consequências: O CP adotou a teoria da equivalência, já que o agente deve ser punido como se tivesse atingido a pessoa pretendida – vítima virtual –, e não aquela que efetivamente atingiu – vítima real. 2º - ERRO SOBRE O OBJETO a) Conceito: É aquele em que o agente acredita que sua conduta recai sobre determinado objeto, mas na realidade atinge coisa diversa. b) Consequências: Esse erro é irrelevante para fins penais, pois não influencia na tipicidade penal, contudo, excecionalmente, a depender do caso em concreto, pode acarretar no princípio da insignificância. 3º - ERRO QUANTO ÀS QUALIFICADORAS a) Conceito: É aquele em que o erro recai sobre uma qualificadora do crime. b) Consequências: Esse erro exclui apenas a qualificadora, mas não afasta o dolo e culpa em relação ao tipo penal fundamental, ou seja, o agente responderá pelo crime em sua modalidade básica. 4º - ERRO SOBRE O NEXO CAUSAL (aberratio causae) a) Conceito: É aquele em que o erro recai sobre a causa do crime (ou seja, o resultado pretendido pelo agente ocorreu por um acontecimento diverso daquele que ele imaginou). b) Consequências: Esse erro é irrelevante para fins penais, pois, de qualquer forma, o agente alcançou o resultado pretendido. A corrente que prevalece é no sentido de que o agente deve ser punido com base no nexo ocorrido (contudo, é sempre importante observar o perfil da banca examinadora, que a depender do concurso pode exigir uma posição mais favorável ao réu em relação às consequência do erro sobre o nexo causal). 5º - ERRO NA EXECUÇÃO (aberratio ictus) a) Conceito: É a aberração no ataque, isto é, é aquele em que o agente erra o seu alvo (por acidente ou erro no uso dos meios de execução), atingindo pessoa diversa. b) Consequências: O CP adotou a teoria da equivalência, já que o agente deve ser punido como se tivesse atingido a pessoa pretendida – vítima virtual –, e não aquela que efetivamente atingiu – vítima real. DIFERENÇAS: As diferenças entre o erro sobre a pessoa e o erro na execução são nítidas: - No ERRO SOBRE A PESSOA: o agente confunde a pessoa que queria atingir; - No ERRO NA EXECUÇÃO: o agente erra o seu alvo em relação à pessoa que queria atingir; c) ESPÉCIES: O erro na execução apresenta duas espécies: - Com unidade simples (com resultado único): apenas uma única pessoa á atingida (a vítima virtual não é atingida). - Com unidade complexa (com resultado duplo): além de atingir a pessoa desejada, atinge também pessoa (s) diversa (s). Neste caso, aplica-se a regra do art. 70 do CP (concurso formal próprio – o Juiz aplica a pena do crime mais grave aumentada de 1/6 a 1/2). - ATENÇÃO: Se houver dolo eventual em relação às demais pessoas atingidas, não há se falar em erro na execução, aplicando-se a regra do concurso formal impróprio (somam-se as penas de todos os crimes). 6º - RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO (aberratio criminis) a) Conceito: É aquele em que o agente deseja praticar um crime específico, mas por erro na execução acaba praticando outro crime (resultado diverso do pretendido). DIFERENÇAS: As diferenças entre o aberractio ictus e o aberratio criminis são nítidas: - No ABERRATIO ICTUS: o erro na execução envolve PESSOA x PESSOA. - No ABERRATIO CRIMINIS: o erro na execução envolveCRIME x CRIME. c) ESPÉCIES: O resultado diverso do pretendido apresenta duas espécies: - Com unidade simples (com resultado único): o agente atinge apenas um único bem jurídico diverso do pretendido (o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo). - Com unidade complexa (com resultado duplo): o agente atinge o bem jurídico desejado e também outro bem jurídico diverso, culposamente (neste caso, aplica-se a regra do art. 70 do CP – concurso formal próprio – o Juiz aplica a pena do crime mais grave aumentado de 1/6 a 1/2). - ATENÇÃO: Se o resultado previsto como CRIME CULPOSO for menos grave ou se o crime não admitir a modalidade culposa a regra prevista no art. 74 do CP deve ser afastada. 01. O erro sobre elementos do tipo, previsto no artigo 20 do Código Penal: a) exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. b) sempre isenta o agente de pena. c) não isenta o agente de pena, mas esta será diminuída de um sexto a um terço. d) se inevitável, isenta o agente de pena; se evitável, poderá diminuir a pena de um sexto a um terço. 02. Durante uma festa rave, Bernardo, 19 anos, conhece Maria, e, na mesma noite, eles vão para um hotel e mantém relações sexuais. No dia seguinte, Bernardo é surpreendido pela chegada de policiais militares no hotel, que realizam sua prisão em flagrante, informando que Maria tinha apenas 13 anos. Bernardo, então, é encaminhado para a Delegacia, apesar de esclarecer que acreditava que Maria era maior de idade, devido a seu porte físico e pelo fato de que era proibida a entrada de menores de 18 anos na festa. Diante da situação narrada, Bernardo agiu em: a) erro de tipo, tornando a conduta atípica. b) erro de tipo, afastando o dolo, mas permitindo a punição pelo crime de estupro de vulnerável culposo. c) erro de proibição, afastando a culpabilidade do agente pela ausência de potencial conhecimento da ilicitude. d) erro sobre a pessoa, tornando a conduta atípica. 03. Flavio, pretendendo matar seu pai Leonel, de 59 anos, realiza disparos de arma de fogo contra homem que estava na varanda da residência do genitor, causando a morte deste. Flavio, então, deixa o local satisfeito, por acreditar ter concluído seu intento delitivo, mas vem a descobrir que matara um amigo de seu pai, Vitor, de 70 anos, que, de costas, era com ele parecido. Nesse caso hipotético, a Flavio poderá ser imputada a prática do crime de homicídio doloso, com erro: a) sobre a pessoa, considerando a agravante de crime contra ascendente, mas não a causa de aumento em razão da idade da vítima; b) sobre a pessoa, considerando a causa de aumento em razão da idade da vítima, mas não a agravante de crime contra ascendente; c) de execução, considerando a agravante de crime contra ascendente, mas não a causa de aumento em razão da idade da vítima; d) de execução, considerando a agravante de crime contra ascendente e a causa de aumento em razão da idade da vítima; e) de execução, considerando a causa de aumento da idade da vítima, mas não a agravante de crime contra ascendente. 04. Durante discussão acontecida na Câmara Municipal de uma cidadezinha do interior, o vereador “A” dispara um tiro contra o vereador “B” com a intenção de matá-lo, porém causa-lhe apenas lesão corporal. Ocorre que o mesmo projétil que atravessou o ombro de “B”, atingiu o tórax do presidente da Câmara “C”, causando-lhe a morte, resultado não pretendido por “A”. É correto afirmar que, nesse caso hipotético, houve: a) aberratio ictus, aplicando-se a regra do concurso formal próprio. b) aberratio criminis, aplicando-se a regra do concurso formal imperfeito. c) erro na execução, aplicando-se a regra do concurso formal impróprio. d) erro in personae, aplicando-se a regra do concurso formal perfeito. 05. Vitalina quer matar o marido Aderbal, envenenado. Coloca veneno no café com leite que acabou de preparar para ele. Enquanto aguardava o marido chegar na cozinha, para tomar a bebida, distraiu-se e não percebeu que a filha Ritinha entrou no local e tomou a bebida, preparada para o pai. Ritinha, socorrida pela mãe, morre a caminho do hospital. Nessa hipótese, considerando o Código Penal e a doutrina, assinale a alternativa correta. a) Vitalina deverá responder por homicídio culposo, já que não teve a intenção de matar a filha. b) Na hipótese de Vitalina vir a ser condenada, o juiz sentenciante poderá aplicar a ela o perdão judicial. c) Vitalina deverá responder por homicídio doloso, restando configurada situação denominada de aberratio ictus por acidente. d) Vitalina não responderá por homicídio, em razão de ter havido aberratio ictus. e) Vitalina responderá por homicídio doloso, restando configurada situação de aberratio ictus por erro no uso dos meios de execução. 06. Após uma discussão em um bar, Pedro decide matar Roberto. Para tanto, dirige-se até sua residência onde arma-se de um revólver. Ato contínuo, retorna ao estabelecimento e efetua um disparo em direção a Roberto. Contudo, erra o alvo, atingindo Antonio, balconista que ali trabalhava, ferindo-o levemente no ombro. Diante do caso hipotético, Pedro praticou, em tese, o(s) crime(s) de: a) lesão corporal leve. b) lesão corporal culposa. c) homicídio tentado e lesão corporal leve. d) lesão corporal culposa e tentativa de homicídio. e) homicídio na forma tentada.
Compartilhar