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Resumo - Princípios Constitucionais

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Curso de Direito – 8/9° Períodos - Disciplina: Direito do Consumidor
Professora: Fabiana Figueiredo
____________________________________________________________
ORDENAÇÃO BRASILEIRA DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR
Aspectos Constitucionais
	 Princípios Constitucionais: Alicerces, pilares sobre os quais se constrói o sistema jurídico, além de dar estrutura e coesão ao arcabouço jurídico, de tal forma, que sua inobservância deve ser evitada ao máximo para que não haja ruína do ordenamento. Os princípios exercem importante função no ordenamento jurídico-positivo, pois, orientam, condicionam e informam a maneira de interpretação das demais normas. A respeito da importância do respeito aos princípios constitucionais, a presente lição de Konrad Hesse baseada numa lição de Walter Burckhardt: “...aquilo que é identificado como vontade da Constituição deve ser honestamente preservado, mesmo que, para isso, tenhamos de renunciar a alguns benefícios, ou até a algumas vantagens justas. Quem se mostra disposto a sacrificar um interesse em favor da preservação de um princípio constitucional fortalece o respeito à Constituição e garante um bem da vida indispensável à essência do Estado democrático. Aquele que, ao contrário, não se dispõe a esse sacrifício, malbarata, pouco a pouco, um capital que significa mais do que todas as vantagens angariadas, e que, desperdiçado, não mais será recuperado”.
As normas Constitucionais: regras jurídicas de menor amplitude, mas que devem também serem seguidas e aplicadas na busca da defesa e proteção do consumidor. São diversas, podendo estar implícitas ou expressas no Texto Constitucional.
A interpretação do sistema jurídico: com base nos ensinamentos de Hans Kelsen, a interpretação do ordenamento jurídico brasileiro dar-se-á em conformidade com os preceitos constitucionais, observando-se a constitucionalidade das normas, ou seja, a adequação do texto normativo à Constituição da República ou aos processos legislativos nela previstos.
Princípios Constitucionais de proteção ao Consumidor
2.1) Soberania: a soberania de um Estado implica a sua autodeterminação com independência territorial, impondo normas jurídicas na órbita interna e relacionando-se com outros Estados na órbita internacional, podendo, inclusive assinar tratados internacionais. Porém, a possibilidade de assinar tratados não impõe sua aplicação ao caso concreto em desconformidade com o ordenamento jurídico interno, tal como na hipótese de malas extraviadas em voos internacionais em que advogados de companhias aéreas defendem a sobreposição do tratado internacional relacionado à matéria aos ditames constantes do CDC, em respeito à soberania do Estado e a defesa do consumidor, a lei aplicável será a consumerista.
2.2) Dignidade da Pessoa Humana: primeira garantia das pessoas e a última instância de guarida dos direitos fundamentais. É um princípio de extrema relevância e demasiado espectro de aplicação, devendo ser analisado no caso concreto, para a correta aferição do seu real significado. 
2.3) Liberdade: A Constituição traz referido princípio relacionado a diversas esferas, liberdade de manifestação de pensamento (art. 5°, IV), liberdade de consciência e de crença (art. 5°, VI), liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, cientifica e de comunicação (art. 5°, IX), dentre outras. No direito consumerista possui duas vertentes, quais sejam, a liberdade de o consumidor agir e a do fornecedor de empreender (liberdade de iniciativa prevista no art. 1°, IV, CR/88). Dessa forma, a atuação do Estado deve dar-se de forma a garantir referidas liberdades por meio de regulação de bens essenciais, de modo que não seja cerceado o direito de escolha do consumidor, impedindo por exemplo, a formação de cartéis, por outro lado, com relação ao fornecedor, o Estado deve agir de modo a garantir-lhe condições de ingressar no mercado, por meio, por exemplo de crédito facilitados, cursos profissionalizantes, dentre outras práticas que auxilie o empreendedor.
2.4) Justiça: Princípio trazido pelo art. 3°, CR/88, estabelece um objetivo fundamental da República e é dirigido à realidade social concreta do país. Ante a complexidade das relações interpessoais tornou-se necessário a edição de normas com o objetivo de realização social real e justa. Importante ressaltar, na aplicação da norma jurídica em alguns casos é necessária atenuar o rigor do texto normado para que se possa agir com equidade e alcançar a justiça no caso concreto.
2.5) Solidariedade: decorrência lógica do estabelecido no art.3°, I, CR/88, diz respeito à necessidade de participação efetiva de todos para o funcionamento perfeito do sistema jurídico. Trata-se, pois, “de um dever ético que se impõe a todos os membros da sociedade, de assistência entre seus membros, na medida em que compõem um único todo social” (Rizzato Nunes).
2.6) Princípio da Isonomia: inicialmente, importante ressaltar a igualdade de todos perante a lei, conforme art. 5º, caput, CR/88, devendo o princípio da igualdade dirigir-se ao legislador e ao aplicador da lei. Objetivando avaliar se determinado tratamento seria discriminatório ou não, o intérprete deve ter em mente alguns elementos, tais como os fatores que determinam o tratamento diferenciado, além da própria discriminação. Por exemplo, a exigência de determinada altura para agente de polícia é plenamente compatível às exigências da função, porém, a mesma exigência, de altura mínima, mostrar-se-ia totalmente irrelevante ao exercício de uma função administrativa na prefeitura de determinado município. No entanto, não obstante estabelecer o princípio da isonomia, a Constituição da República expressamente prevê em seu texto a possibilidade de tratamento diferenciado a alguns grupos de indivíduos, tais como as mulheres trabalhadoras (art. 7º, XX), portadores de deficiência (art. 37, VIII) e o consumidor (art. 5º, XXXII).
2.7) Direito à vida: tal princípio diz respeito não só ao direito à vida, tal como garantido pelo art. 5º, XLVII, CR/88 (proibição à pena de morte, exceto em caso de guerra declarada), mas compreende também o direito à vida digna e saudável, tal como estabelecido no art. 225, CR/88 (“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.)
2.8) Direito à intimidade, vida privada, honra e imagem: princípio previsto no art. 5.º, X, CR/88 (“são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”). Conceituando, vida privada é a que ocorre no domínio do lar, na órbita pessoal, no restrito âmbito doméstico, sendo um âmbito comum de todo indivíduo, relacionando-se com o indivíduo e seus familiares ou amigos mais próximos. Por sua vez, a intimidade diz respeito à vida em família, ao amor, ao sexo, enfim, à esfera mais íntima do indivíduo e que somente a ele diz respeito. Quanto à honra, um valor social atribuído a todos os indivíduos, ante sua complexidade, sua conceituação deve ser atribuída conforme o caso concreto, levando-se em conta o ambiente em que o sujeito vive. A honra relacionada com a imagem que determinado indivíduo possui perante determinada sociedade, chamada de honra objetiva. Por outro lado, a honra relacionada ao sentimento do indivíduo com relação a si próprio recebe o nome de honra subjetiva e se materializa negativamente com padecimentos internos, sofrimentos. Por fim, imagem diz respeito às características de atributos cultivados pelo indivíduo e que são reconhecidos pela sociedade, além de dizer respeito também à reprodução gráfica do sujeito, “imagem-retrato”. A proteção à imagem abrange a todas as suas esferas, ninguém podendo utilizar-se da imagem alheia, inclusive de pessoa jurídica, sem sua autorização, inclusive para fins comerciais, sob pena de indenização.
2.9) Informação:divide-se em direito de informar, direito de se informar e no direito de ser informado. 
- Direito de informar: prerrogativa constitucional concedida às pessoas físicas e jurídicas (art. 220, "A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição", e artigo 5º, IX, "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença", ambos da CR/88). Porém, como todos direitos fundamentais, tal prerrogativa não é absoluta e encontra limites no próprio texto constitucional, ao determinar serem invioláveis a honra, intimidade, vida privada e a imagem das pessoas. 
- Direito de se informar: prerrogativa concedida às pessoas e que decorre do fato da existência da informação. A Constituição da República o assegura, inicialmente, no artigo 5º, inciso XIV, ao assegurar o direito à informação em geral, garantido o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional, nos casos em que tal sigilo é necessário ao exercício da profissão, como no caso dos jornalistas. No entanto, o sigilo da fonte não pode ser utilizado como forma de acobertar violações a garantias constitucionais, tais como a garantia do direito à vida ou à dignidade da pessoa humana. Tal como dito anteriormente, tal prerrogativa também encontra limite na inviolabilidade da vida privada, intimidade, honra e imagem das pessoas. 
- Direito de ser informado: no texto constitucional o direito de ser informado, menos amplo do que no sistema consumerista, diz respeito ao dever dos órgãos públicos em prestar informações ao público em geral, tal como previsto no artigo 5º, XXXIII (“Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular ou de interesse coletivo em geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”). Além da previsão expressa de dever de publicidade da Administração Pública, direta e indireta, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e Municípios (art.37, caput). Importante salientar que a informação está ligada ao princípio da moralidade, devendo seu conteúdo ser pautado pela ética, não podendo faltar com a verdade, quer seja por afirmação, quer por omissão.
2.10) Princípios gerais da atividade econômica: estabelecidos pelo artigo 170 da Constituição da República tais princípios devem ser analisados sem nos afastarmos dos fundamentos da República, precipuamente a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, além dos direitos e garantias fundamentais, previstos nos artigos 1 e 5º, CR/88, respectivamente.
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995)
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.
Assim sendo, o mercado de trabalho está aberto à exploração por qualquer interessado, porém, tal exploração deverá ser feita com responsabilidade social e de forma que não causa quaisquer danos ao mercado ou à sociedade, como nos casos de cartel ou qualquer outra prática tendente à dominação do mercado e cerceamento do direito de escolha do consumidor. O lucro é legítimo, porém, os riscos advindos deverão ser suportados exclusivamente pelo empreendedor e não repassados ao consumidor, tudo em consonância com a função social da propriedade, da defesa do consumidor, da necessidade de construção de uma sociedade livre, justa e solidária, da promoção do bem comum e da livre concorrência. A decisão de empreender é livre, o lucro decorrente dessa exploração é legítimo e o risco total do empreendedor. Há uma meta na exploração do mercado: produção e oferta de produtos e serviços com a melhor qualidade e o menor preço possíveis. Quando a Constituição protege a livre concorrência ele protege melhores preços ao consumidor, ou seja, melhores produtos e serviços a iguais ou menores preços, sendo melhor, aquele produto ou serviço que ofereça mais segurança, mais eficiência, mais economia de uso, maior durabilidade de uso, menor índice de quebra (vício) e menor possibilidade de acidente (defeito).
2.11) Princípio da Eficiência: princípio previsto pelo texto constitucional para a prestação dos serviços públicos, conforme dispõe o art. 37, caput (“A administração pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, PUBLICIDADE e eficiência e, também ao seguinte:’). Ressalte-se que tal princípio fora incluído ao texto constitucional quando da promulgação da EC 19/98, emenda conhecida pela reforma que operou na administração pública do país, ao alça-la ao patamar gerencial e de busca da eficiência, ou seja, a busca por melhores resultados com menores sacrifícios, além de passar a prever a avaliação periódica dos servidores públicos e a necessidade de análise de produtividade e empenho no exercício de suas funções, sob pena de sanções administrativas.
2.12) Publicidade: princípio constitucional que diz respeito à publicização dos atos da administração pública, mas que também está relacionado à aproximação dos fornecedores aos consumidores, também conhecido como propaganda. A Constituição, apesar de garantir a liberdade de profissão, estabeleceu limites à produção de propagandas que dizem respeito a bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias (art. 220, § 4°, CR/88). Na mesma seara, o inciso II do § 3° do art. 220, estabelece que se deve proteger a pessoa e a família contra a publicidade nociva à saúde e ao meio ambiente, bem como a família e a pessoa têm assegurado o respeito a valores éticos (inciso IV, art. 221, CR/88). Dessa forma, o anúncio publicitário deve ser fiel à verdade, não podendo manipular frases, sons e imagens para, de alguma forma, iludir o destinatário do anúncio.
3) Código de Defesa do Consumidor. 
	3.1) Lei principiológica: Antes de adentrarmos ao exame do Código de Defesa do Consumidor, importa-nos esclarecer o seu papel no contexto jurídico brasileiro. Pois, sua edição inaugura um subsistema no ordenamento jurídico, prevalecente sobre os demais, à exceção da Constituição somente. Tal prevalência se dá, inicialmente, ante a expressa previsão de sua criação no Texto Constitucional (art. 48, ADCT), bem como, pelo fato de ser precipuamente uma lei principiológica, por fixar os princípios fundamentais a serem observados nas relações jurídicas de consumo em geral, modelo até então inexistente na legislação pátria, por exemplo quando prevê a vulnerabilidade do consumidor em seu artigo 4°, em decorrência direta do princípio constitucional da igualdade (tratamento desigual aos desiguais para se chegar à igualdade material). Além de albergar normas de ordem pública e de interesse social, tendo em vista a irrenunciabilidade, indisponibilidade, dos direitos do consumidor. Assim sendo, havendo cláusula abusiva num contrato, pode o juiz reconhecer, de ofício, sua inaplicabilidadeou inexistência de modo a garantir os direitos do consumidor. Porém, importante destacar, sendo o caso de litígio envolvendo contratos bancários o juiz não poderá reconhecer de ofício a abusividade de suas cláusulas, conforme entendimento sumulado no enunciado 381, STJ (“Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas”).
	3.2) Pressupostos para interpretação: Os pressupostos do pensamento liberal aparecem no sistema codificado, como por exemplo em nosso Código Civil de 1916, traduzindo-se por cláusulas que garantam a liberdade de contratar e da autonomia da vontade. Com o passar dos anos e a ocorrência da globalização, a produção em massa é implementada, inclusive de contratos-padrão e formulários de forma unilateral e que eram impostos aos consumidores deixando-os sem a devida proteção e vulneráveis num sistema precipuamente liberal. Desta forma, o Código de Defesa do Consumidor é editado, tardiamente, para fomentar a defesa dos consumidores frente a referida massificação da produção e promover a proteção desta categoria de indivíduos que não possuía meios diálogo com os fornecedores. Levando-se em consideração a característica principiológica da referida codificação, sua interpretação deverá ser feita com base nos princípios que regem a defesa do consumidor, devendo toda e qualquer norma que com eles conflita ser desconsiderada para efetiva aplicação do CDC. 
4) Conceituação
O CDC traz quatro definições acerca dos elementos que compõem as relações jurídicas por ele disciplinadas, são eles: Consumidor; Fornecedor; Produto e Serviço.
● Elementos Subjetivos = Consumidor e Fornecedor
● Elementos Objetivos = Produto e Serviço.
 4.1) Elementos Subjetivos
a) Consumidor (art. 2º, caput, CDC) = traz o conceito em seu sentido estrito. 
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Pessoa física ou jurídica: não importa a sua renda ou capacidade financeira;
Adquire: compra diretamente;
Utiliza: usa, em proveito próprio ou de outrem;
Produto: qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial – art. 3º, § 1º do CDC;
Serviço: qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, desde que não seja de natureza trabalhista – Art. 3°, § 2º, CDC;
Destinatário final: para uso próprio, privado, individual, familiar ou doméstico, e até para terceiros, desde que o repasse não se dê por revenda.
Dessa forma, não haverá incidência do CDC nas relações entre empresários (rede de supermercado que compra participação acionária no grupo concorrente) e relações civis entre pessoas comuns (venda do apartamento ao vizinho), ambas regidas pelo Código Civil. Ressalte-se, porém, que, no Brasil, a pessoa jurídica pode ser consumidora, conforme se verá adiante.
Do conceito de consumidor descrito pelo art. 2°, do Código de Defesa do Consumidor, podem-se inferir três elementos: Subjetivo, objetivo e o finalístico. O primeiro elemento, o subjetivo, diz respeito às pessoas que podem ser consideradas consumidores: pessoas naturais ou jurídicas. O elemento objetivo refere-se ao objeto da relação de consumo: produtos ou serviços colocados no mercado de consumo. No entanto, a principal divergência jurisprudencial e doutrinária na conceituação de consumidor, de extrema relevância prática na caracterização ou não de determinada relação jurídica como relação de consumo, concerne ao elemento finalístico, ou seja, o que deve ser considerado “consumidor destinatário final”.
Verificando-se a enorme dificuldade em se encontrar uma definição apropriada de consumidor, sob o seu elemento finalístico, surgiram três correntes teóricas: a teoria finalista, a teoria maximalista, e a teoria finalista moderada. A partir da análise destas três correntes, assim como do atual posicionamento adotado pelos nossos Tribunais, poderá se definir, com um pouco mais de precisão, o que é de fato um consumidor e, em consequência, quando estará caracterizada a relação de consumo, objeto de incidência do microssistema de defesa do consumidor.
Teoria Maximalista
Segundo a teoria maximalista, o Código de Defesa do Consumidor surgiu para ser um código geral de consumo. Para os maximalistas, basta que a pessoa retire o bem da cadeia de consumo para se tornar um destinatário fático e, portanto, um consumidor. Assim, para essa teoria, o conceito estabelecido pelo artigo 2º, do CDC, deve receber interpretação mais ampla possível, sendo consumidor aquele que retira a mercadoria do mercado de consumo (destinatário fático), não importando, para tanto, se o produto adquirido será utilizado para o desenvolvimento de uma atividade lucrativa, isto é, se será reintroduzido na cadeia produtiva e de consumo.
Nota-se que, conforme já exposto, esta teoria amplia o conceito de destinatário e, consequentemente, fragiliza a essência do Código de Defesa do Consumidor que é proteger o mais vulnerável, pois, para referida corrente, a vulnerabilidade NÃO é fator de relevância.
Diante disso, constata-se que esta linha doutrinária, ao adotar um conceito de consumidor extremamente amplo, acaba por subtrair, do Código Civil e das legislações esparsas, a disciplina da maioria dos contratos civis e empresariais (acabando, portanto, com a própria essência desses contratos, que pressupõe o equilíbrio entre as partes), que estariam albergados pelo Código de Defesa do Consumidor.
Exatamente por isso, observa Cláudia Lima Marques que, sobretudo após a entrada em vigor do Código Civil de 2002, a teoria maximalista foi perdendo força, cedendo espaço a outra concepção de consumidor denominada finalista, que ganhou apoio de parte substancial da doutrina e da jurisprudência brasileiras.
A principal crítica que se tem à concepção maximalista é que, ao se adotar uma concepção demasiadamente extensiva de consumidor (apenas destinatário fático, isto é, que adquire ou retira do mercado o produto ou serviço, não importando se para uso próprio ou com finalidade de lucro), tal teoria acaba por fazer com que o Código de Defesa do Consumidor (CDC) - concebido em sua origem como uma legislação especial destinada à proteção de determinados sujeitos numa relação jurídica específica -, passe a ser uma regulação geral de todo e qualquer contrato de aquisição de bens ou serviços, enfim, “um código para a sociedade de consumo, que institui normas e princípios para todos os agentes do mercado”.
Todavia, como já afirmado, esse não é o objetivo do CDC, especialmente criado, por força constitucional, para defesa do sujeito vulnerável da relação de consumo. Aliás, como bem observam os autores do anteprojeto, a transformação do CDC em um “Código Geral” do mercado de consumo, esvaziaria a sua força de proteção especial ao realmente vulnerável da relação obrigacional de consumo, com possíveis abrandamentos nas interpretações jurisprudenciais e doutrinárias.
Resumo:
Conceito jurídico de consumidor;
Destinatário final é o destinatário fático, não importando a finalidade da aquisição ou do uso do produto ou serviço, podendo até mesmo ter intenção de lucro.
Ex: ao produtor agrícola que compra adubo para o plantio se aplicaria o CDC, pois o adubo não será objeto de transformação ou beneficiamento (STJ, REsp 208.793, Rel. Menezes Direito, DJ 1/8/2000).
Teoria Finalista
Em caminho contrário dos maximalistas, a teoria finalista ou teleológica, como a própria denominação indica, busca uma conceituação do consumidor para fins de aplicação da cobertura protetiva do CDC mais alinhada à finalidade para o qual foi criado, ou seja, a proteção da parte vulnerável da relação jurídica.
Para os finalistas, o conceito de consumidor baseado na ideia de destinatário final, envolve não apenas destinatário fático, mas tambémdestinatário econômico do bem ou serviço, isto é, aquele que o retira do mercado de consumo, para uso próprio, sem fins lucrativos ou de reintrodução na cadeia produtiva.
Assim, ao interpretar o art. 2°, do CDC, a teoria finalista adota um conceito restritivo de consumidor. Para essa teoria, só pode ser considerado destinatário final (e, portanto, consumidor) aquele que retira o produto ou serviço do mercado de consumo, sem o objetivo de reintegrá-lo ao mercado, ou seja, que não o aplica na sua cadeia produtiva, utilizando-o como insumo.
Exemplo prático da aplicação da teoria finalista na jurisprudência diz respeito aos contratos de mútuo celebrados entre o empresário e a instituição financeira, destinados a fomentar a atividade empresarial. Não obstante a súmula n.° 297, do Superior Tribunal de Justiça, assinalar que o Código de Defesa do Consumidor se aplica às instituições financeiras, há inúmeros julgados que negam a caracterização de relação de consumo nos empréstimos tomados por empresários com a instituição financeira, quando o crédito se destina a servir de insumo da atividade, ou seja, para financiamento da atividade empresarial. É o que se pode inferir, exemplificativamente, do julgado abaixo:
	
EMENTA: EMBARGOS DE DEVEDOR - CONTRATO BANCÁRIO - PESSOA JURÍDICA - CAPITAL DE GIRO - RELAÇÃO DE CONSUMO NÃO CONFIGURADA - CDC INAPLICÁVEL – JUROS REMUNERATÓRIOS - AUSÊNCIA DE LIMITE PELA LEI DE USURA - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - LEGALIDADE – IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS - PROVIMENTO DA APELAÇÃO. Em que pese não mais haver divergência quanto à aplicação do CDC às instituições financeiras, nos termos da Súmula 297, do STJ, certo é que o suposto consumidor deve adequar-se ao conceito inserido em seu artigo 2º, vale dizer, deve ser destinatário final do produto ou serviço objeto da contratação, o que não ocorre no caso, no qual o dinheiro tomado pela empresa embargante, inclusive a título de capital de giro, presta-se ao fomento da atividade por ela desenvolvida, enquadrando-se como verdadeiro insumo. No que concerne aos juros remuneratórios, em consonância com a Súmula 596, do STF, o limite de 12% ao ano fixado pelo Decreto 22.626/33 não se aplica às instituições financeiras, competindo, exclusivamente, ao Conselho Monetário Nacional "limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos, comissões e qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços bancários ou financeiros", conforme dispõe o artigo 4º, IX, da Lei n.º 4.595/64. A estipulação da comissão de permanência para a hipótese de atraso no pagamento do débito é admitida pela Resolução BACEN 1.129/86, bem como pela Súmula 294, do STJ. (TJ/MG, Apelação Cível n.º 1.0569.05.001.904-5/001, 16ª Câmara Cível, Rel. Batista de Abreu).
Nesse sentido, para a teoria finalista, não podem ser considerados consumidores as pessoas jurídicas e profissionais que, em uma relação obrigacional, tenham adquirido produto ou serviço caracterizado como fator de produção.
A teoria finalista se baseia na ideia de que o sistema consumerista tem por objetivo a proteção do vulnerável e, assim, não poderiam ser considerados consumidores vulneráveis (do ponto de vista técnico, jurídico e fático) as pessoas jurídicas e profissionais que adquirem produtos ou serviços com finalidade lucrativa.
Por essa razão, em sua concepção inicial, os finalistas só consideravam consumidores pessoas físicas, excluindo totalmente do âmbito de proteção das normas de defesa do consumidor, as pessoas jurídicas. Por esse motivo, em várias legislações extravagantes, como Alemanha e França, o conceito de consumidor está atrelado à pessoa física, “definido com um leigo ou um não profissional que contrata ou se relaciona com um profissional para fins familiares ou de suas necessidades de vida”.
Resumo:
Conceito econômico de consumidor;
A interpretação da expressão “destinatário final” deve ser restrita e somente o consumidor, parte mais vulnerável na relação contratual, merece especial tutela jurídica (TRF2 2009);
O consumidor é apenas o não profissional, aquele que adquire ou utiliza um produto para uso próprio ou de sua família (TRF2 2009);
Teoria Finalista Moderada
Todavia, contrariando a tendência da teoria finalista (em sua concepção radical) e das legislações alienígenas que a adotaram, o art. 2°, do Código de Defesa do Consumidor brasileiro, a teoria finalista moderada incluiu também as pessoas jurídicas no conceito de consumidor, estabelecendo que “consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”.
Em razão disso, surgiram discussões sobre em que circunstâncias a pessoa jurídica é caracterizada como consumidora destinatária final, pois, via de regra, os produtos e serviços são adquiridos pela pessoa jurídica como insumo da sua atividade produtiva.
Assim, ainda baseando-se na visão teleológica do CDC, de proteção ao vulnerável da relação de consumo, situando-se entre as teorias finalista e maximalista, formou-se a denominada teoria finalista mista ou moderada (denominada também de finalista aprofundada).
Para essa teoria, é possível considerar a pessoa jurídica e o profissional consumidor se, no caso concreto, for demonstrada a sua vulnerabilidade (técnica, jurídica ou fática), elemento este que é o centro para o qual convergem as normas consumeristas e que, portanto, deve orientar a sua interpretação.
Nesse sentido, para a teoria finalista moderada, por força legal, a vulnerabilidade da pessoa natural não-profissional é presumida. Por outro lado, a pessoa jurídica e o profissional presumem-se, em regra, não-vulneráveis. Todavia, essa presunção é relativa, podendo ser afastada, mediante a demonstração de vulnerabilidade em face de determinadas circunstâncias do caso concreto.
Ressalte-se, entretanto, que há hipóteses em que a vulnerabilidade da pessoa jurídica e do profissional pode se apresentar com maior facilidade, como, por exemplo: o profissional de pequeno porte; nos casos em que o fornecedor detém monopólio do serviço ou produto; quando o profissional adquire produto ou serviço que não guarda relação com a sua atividade.
Vejamos decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais acerca da aplicação do CDC em questões envolvendo a aquisição de programas de computador por escritório de advocacia:
DIREITO DO CONSUMIDOR. PROGRAMA DE COMPUTADOR. SOFTWARE. CONSUMIDOR. RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE DE ADVOGADOS E EMPRESA DE SOFTWARE. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. TEORIA FINALISTA MITIGADA. DA RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO. INADIMPLEMENTO TOTAL DA OBRIGAÇÃO. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. VOTO VENCIDO. O consumidor intermediário, por adquirir produto ou usufruir de serviço com o fim de, direta ou indiretamente, dinamizar ou instrumentalizar seu próprio negócio lucrativo, não se enquadra na definição constante no artigo 2º do CDC, permitindo-se, entretanto, a mitigação à aplicação daquela teoria, na medida em que se admite, excepcionalmente, a aplicação das normas consumeristas a determinados consumidores profissionais, desde que demonstrada, in concreto, a vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica. Nas hipóteses de inadimplemento absoluto, não se estaria no âmbito do art. 18 (e, conseqüentemente, do art. 26 do CDC), mas no âmbito do art. 14, que, quanto à prescrição, leva à aplicação do art. 27, com prazo de cinco anos para o exercício da pretensão do consumidor. Como a prescrição é a perda da pretensão por ausência de seu exercício pelo titular, em determinado lapso de tempo, para se verificar se houve ou não prescrição é necessário constatar se nasceu ou não a pretensão respectiva, porquanto o prazo prescricional só começa a fluir no momento em que nasce a pretensão, ou seja, quando se constata de forma inequívoca o inadimplemento total da obrigação. Recurso provido. VV.: A norma consumerista somente tem aplicação quando o contratante puder ser caracterizado como destinatário final. Quando a aquisição de bens ou a utilização de serviços, porpessoa natural ou jurídica, possui o escopo de implementar ou incrementar a sua atividade-fim não se reputa como relação de consumo e, sim, como uma atividade de consumo intermediária, razão pela qual não se submete às normas do Código de Defesa do Consumidor. A partir da vigência do novo Código Civil, o prazo prescricional das ações de reparação de danos que não houver atingido a metade do tempo previsto no Código Civil de 1916 fluirá por inteiro, nos termos da nova lei (art. 206). (Desª. Electra Benevides). (Apelação Cível 1.0024.06.207799-5/001, Relator(a): Des.(a) Cabral da Silva , 10ª CÂMARA CÍVEL,) 
O posicionamento do Superior Tribunal de Justiça é pela aplicação da Teoria Finalista Moderada ou Aprofundada, conforme julgado abaixo:
Direito do consumidor – Recurso Especial – Conceito de consumidor – Critério subjetivo ou finalista – Mitigação – Pessoa Jurídica – Excepcionalidade – Vulnerabilidade – Constatação na hipótese dos autos – Prática abusiva – Oferta inadequada – Característica, quantidade e composição do produto – Equiparação (art.29) – Decadência – Inexistência – Relação jurídica sob a premissa de tratos sucessivos – Renovação de compromisso – Vício oculto. A relação jurídica qualificada por ser “de consumo” não se caracteriza pela presença de pessoa física ou jurídica em seus pólos, mas pela presença de uma parte vulnerável, de um lado (consumidor), e de um fornecedor, de outro. Mesmo nas relações entre pessoas jurídicas, se da análise da hipótese concreta decorrer inegável vulnerabilidade entre a pessoa jurídica consumidora e a fornecedora, deve-se aplicar o CDC na busca do equilíbrio entre as partes. Ao consagrar o critério finalista para interpretação do conceito de consumidor, a jurisprudência deste STJ também reconhece a necessidade de, em situações específicas, abrandar o rigor do critério subjetivo do conceito de consumidor para admitir a aplicabilidade do CDC nas relações entre fornecedores e consumidores empresários em que fique evidenciada a relação de consumo. São equiparáveis a consumidor todas as pessoas, determináveis ou não, expostas às práticas comerciais abusivas (STJ, REsp. 476428/SC, Terceira Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, j. 19.04.2005).
Vulnerabilidade:
A jurisprudência do STJ tem mitigado os rigores da teoria finalista para autorizar a incidência do CDC nas hipóteses em que a parte (pessoa física ou jurídica), embora não seja tecnicamente destinatária final do produto ou serviço, se apresente em situação de vulnerabilidade. A vulnerabilidade não comporta prova em contrário por advir da lei, expressamente.
Art. 4°, I. É princípio da Política Nacional de Relações de Consumo o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo.
	
Em relação às principais vulnerabilidades adotadas pelo STJ (com base na doutrina da Prof. Claudia Lima Marques), temos:
Vulnerabilidade técnica: seria aquela na qual o comprador não possui conhecimentos específicos sobre o produto ou o serviço, podendo, portanto, ser mais facilmente iludido no momento da contratação.
Vulnerabilidade jurídica ou científica: seria a própria falta de conhecimentos jurídicos, ou de outros pertinentes à relação, como contabilidade, matemática financeira e economia.
Vulnerabilidade econômica ou fática: Vulnerabilidade real diante do parceiro contratual, seja em decorrência do grande poderio econômico deste último, seja pela sua posição de monopólio, ou em razão da essencialidade do serviço que presta, impondo, numa relação contratual, uma posição de superioridade.
Obs: Recentemente, a professora Claudia Lima Marques ainda aponta outro tipo de vulnerabilidade: a informacional. Embora reconheça-a como espécie de vulnerabilidade técnica, a autora dá destaque à necessidade de informação na sociedade atual. Para ela, as informações estão cada vez mais valorizadas e importantes e, em contrapartida, o déficit informacional dos consumidores está cada vez maior. Assim, de modo a compensar este desequilíbrio, deve o fornecedor procurar dar o máximo de informações ao consumidor sobre a relação contratual, bem como sobre os produtos e serviços a serem adquiridos.
Hipossuficiência:
Importante destacar a diferença efetuada pela doutrina no tocante aos termos “vulnerabilidade”e “hipossuficiência”, sendo a primeira um fenômeno de direito material com presunção absoluta (art. 4º, I – o consumidor é reconhecido pela lei como um ente “vulnerável”), enquanto a segunda, um fenômeno de índole processual que deverá ser analisado casuisticamente (art. 6º, VIII - a hipossuficiência deverá ser averiguada pelo juiz segundo as regras ordinárias de experiência.
Art. 6o, VIII. A hipossuficiência deverá ser averiguada pelo juiz segundo as regras ordinárias de experiência.
Todo consumidor é vulnerável por força de lei, porém nem todo consumidor é hipossuficiente, considerando-se que a hipossuficiência é noção processual (alternativa correta – Defensoria/ES – CESPE 2009).
	Vulnerabilidade
	Hipossuficiência
	Natureza de direito material
	Natureza de direito processual
	Presunção absoluta (não comporta prova em contrário)
	Análise do caso concreto
Relações jurídicas nas quais não se aplica o CDC:
•	Relações jurídicas entre os condôminos e o condomínio (AgRg no Ag 1122191 / SP, Rel. LUIS FELIPE SALOMÃO , 4a Turma, DJe 01/07/2010);
•	Relação entre o INSS e seus beneficiários (REsp 143.092-PE, 5a Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, julgado em 24/4/2001);
•	Relações tributárias => logo, a multa moratória do CDC não se aplica às multas tributárias (AgRg no REsp 1120361 / SP, Rel. HAMILTON CARVALHIDO, 1a Turma, DJe 16/04/2010);
•	Contratos locatícios (REsp 706594 / PR, Rel. LAURITA VAZ, 5a Turma, DJe 28/09/2009; REsp 280.577). isso não se refere ao contrato entre locador e imobiliária (serviço).
•	Contratos de crédito educativo (REsp 1188926 / RS, Rel. BENEDITO GONÇALVES, 1a Turma, DJe 07/10/2010).
•	Relação entre franqueador e franqueado (REsp 687.322);
Relações jurídicas nas quais há relação de consumo:
•	Entre o consumidor-mutuário do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) como vulnerável faticamente frente ao agente financeiro (REsp 85.521, José Delgado, DJ de 3/6/1996);
•	Previdência privada: "O Código de Defesa do Consumidor é aplicável à relação jurídica entre a entidade de previdência privada e seus participantes." - Súmula n. 321/STJ; “A restituição das parcelas pagas a plano de previdência privada deve ser objeto de correção plena, por índice que recomponha a efetiva desvalorização da moeda" - Súmula n. 289/STJ;
•	Operadora de serviços de assistência à saúde que presta serviços remunerados à população (REsp 267.530);
•	Entre o condomínio de que é cobrada indevidamente taxa de esgoto e a concessionária de serviço público (AgRg no REsp 1119647 / RJ, Rel. HERMAN BENJAMIN, 2a Turma, DJe 04/03/2010);
•	Contratos de promessa de compra e venda em que a incorporadora se obriga à construção de unidades imobiliárias, mediante financiamento;
•	Contratos de arrendamento mercantil;
•	Contrato de financiamento celebrado entre banco e taxista para aquisição do veículo (REsp 231.208);
•	Relacionamento entre o canal de televisão e o seu público (REsp 436.135);
•	Responsabilidade civil do transportador aéreo internacional pelo extravio de carga (REsp 171.506);
•	Sociedades sem fins lucrativos, quando fornecem produtos ou prestam serviços remunerados (REsp 436.815 e REsp 519.310).
Consumidor por equiparação: 
I) O parágrafo único do artigo 2°, CDC traz a previsão da defesa coletiva do consumidor. (Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.)
II) Por sua vez, o art. 17 CDC trata das vítimas do evento danoso (ex.: é aquela pessoa que, apesar de não ter comprado a TV, quando a liga na tomada sofre danos devido à sua explosão). As vítimas de evento danoso são conhecidas pela doutrina americana de By-stander. Por exemplo, aquele que passava peloshopping para cortar caminho em direção a sua casa, mesmo não comprando qualquer coisa no shopping. Mesmo aquele que não foi comprar um produto, mas sofreu o evento danoso, também será considerado consumidor. 
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
III) Por fim, o art. 29, CDC, equipara a consumidor todas as pessoas, determináveis ou não, expostas às práticas comerciais e contratuais. 
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.
b) Fornecedor (art. 3º, caput, CDC) é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados que colocam um produto ou serviço no mercado de consumo com habitualidade na atividade fim (não há necessidade de uma constituição formal para a sua caracterização, bastando a habitualidade). 
Atenção: por vezes, o CDC quer que todos sejam obrigados, aí utiliza o termo “fornecedor” (gênero); porém, outras vezes quer designar algum fornecedor específico, utilizando-se de termo particular (espécie). Ex: “fabricante, produtor, construtor e importador” (art. 12).
Logo, o fornecedor pode ser o Estado, pois o artigo fala em empresas públicas ou privadas, devendo ser incluídas as concessionárias de serviços públicos. Os fornecedores podem ainda, ser entes despersonalizados, ou seja, aqueles que, "embora não dotados de personalidade jurídica quer no âmbito mercantil, quer no civil, exercem atividades produtivas de bens e serviços" 
Tipos de Fornecedores
Reais, são aqueles que integram o processo de criação, produção e fabricação do produto;
Aparentes, são aqueles que "apõe no produto seu nome, sinal, marca 
Presumidos, como o importador, por exemplo, que, apesar de o produto ser de outro país, ele responderá por seus defeitos.
Conceito chave: “desenvolvem atividade” => somente será fornecedor o agente que pratica determinada atividade com habitualidade.
A doutrina também tem exigido como requisito para a caracterização do fornecedor o profissionalismo – requisito este também extraído da expressão “atividade”.
Quanto às instituições financeiras, em que pese a menção expressa à sua inclusão no conceito de fornecedor no parágrafo 2° do artigo 3° do CDC, as mesmas sustentavam que a Lei 4.595/64 (que regula as instituições financeiras), por ser lei específica, seria a única legislação aplicável para suas atividades, deixando de ser observada a lei geral, no caso em espécie, o CDC. No entanto, a jurisprudência majoritária externou entendimento no sentido de que o CDC aplica-se aos contratos bancários, uma vez que as instituições financeiras estão inseridas na definição de prestadoras de serviço, contempladas no artigo 3o, §2o, da legislação em comento. Na tentativa de solucionar a controvérsia, o STJ emitiu a Súmula 297, com o seguinte teor: “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.
A doutrina também entende que se aplica às instituições, sob os seguintes fundamentos: 
I) serviço bancário é serviço remunerado;
II) serviço prestado de forma ampla e geral;
III) habitualidade e profissionalismo da prestação destes serviços;
IV) os tomadores deste serviço (consumidor) são vulneráveis na relação (parte mais fraca). 
Obs.: Foi proposta a ADIN 2591/DF, na qual argumentava que o CDC é lei ordinária, não podendo assim regulamentar a instituição financeira, em razão de ser inconstitucional, pois o art. 192 CRFB/88, diz que as mesmas serão regidas por lei complementar. O STF decidiu por sua improcedência, ratificando o entendimento de aplicação do Código de Defesa do Consumidor às instituições Financeiras.
Da mesma forma, houve discussão jurisprudencial sobre a aplicação da legislação consumerista nas relações das entidades de previdência privada e seus consumidores, uma vez que a Lei Complementar n. 108/01 regulamentou a matéria e, por ser lei especial, deveria ser a única a tratar da matéria. No entanto a Súmula 321 do STJ solucionou a divergência e determinou que “o Código de Defesa do Consumidor é aplicável à relação jurídica entre entidade de previdência privada e seus participantes”.
Muito se discute também a possibilidade de aplicação da legislação consumerista nas relações de locação de imóveis. Neste caso, a jurisprudência majoritária expressa entendimento de que não se aplicam as regras do CDC nas relações locatícias, uma vez que há norma específica que regulamenta a relação locatícia, além de não haver a caracterização de consumidor e, principalmente, fornecedor. Lembrar a exceção da relação entre imobiliária e locador.
Elementos Objetivos
a) Produto (art. 3º, §1º, CDC) qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. Exemplo de bem imaterial (mútuo bancário). A doutrina também considera como produto, os bens novos ou usados, fungíveis ou infungíveis, principais ou acessórios. Bem móvel é aquele que pode ser transportado sem prejuízo de sua integridade, como o carro ou uma bolsa. Por outro lado, o bem imóvel é aquele cujo transporte ou remoção implica em destruição ou deterioração considerável, por exemplo, um apartamento. Por bem material (corpóreo ou tangível) ou imaterial (incorpóreo ou intangível), tem-se os veículos e o lazer, como entradas para casas noturnas, “abadás’ para carnavais fora de época, dentre outros exemplos, respectivamente.
Art. 3 
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
Obs: A remuneração é dispensada para a caracterização da relação de consumo no caso de fornecimento de produto. Daí que a amostra grátis ou brinde merece a proteção do CDC. Atenção: situação diferente do que ocorre com o serviço → o fato do serviço ser remunerado é um elemento essencial para incidência das normas do CDC. 
b) Serviços (art. 3º,§2º, CDC) qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Como se depreende, só estão incluídos os serviços remunerados (“mediante remuneração”), seja ela direta ou indireta. 
- Remuneração indireta = estacionamento gratuito no shopping.
- Serviço gratuito = médico que atende pessoa passando mal no meio da rua. 
Não estão abrangidas pelo CDC as atividades desempenhadas a título gratuito. Todavia, é preciso verificar se o fornecedor não está tendo uma remuneração indireta na relação (serviço aparentemente gratuito) (REsp 566.468, Rel. Jorge Scartezzini, DJ de 17/12/2004). Muitas vezes o produto ou serviço é oferecido gratuitamente ao consumidor, mas o custo daí inerente está embutido em outros pagamentos efetuados pelo consumidor. É o caso de estacionamentos “gratuitos” em supermercados, da aquisição de rádio para automóvel com serviço de instalação “gratuito”. Sem dúvida, haverá, nestes casos, a incidência das regras do CDC, uma vez que a remuneração é indireta.
O Código de Defesa do Consumidor e os direitos básicos do Consumidor
Incidência do CDC aos contratos celebrados antes de sua vigência
De acordo com a jurisprudência do STJ e do STF, o Código de Defesa do Consumidor não incide aos contratos celebrados antes de sua vigência, sob pena de afronta ao ato jurídico perfeito. (STF, RE 205.999, Rel. Moreira Alves, DJ 3/3/2000; STJ, REsp 248.155, Rel. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 23/5/2000).
Porém, nos contratos de execução diferida (que se prolongam no tempo) e prazo indeterminado, celebrados anteriormente à vigência do CDC, a partir da edição do Código consumeirista, incidirão essas novas normas, ao argumento de que o contrato é renovado a cada pagamento efetuado. Ex: previdência privada (STJ, REsp 331.860, Rel. Menezes Direito, DJ 5/8/2002) e plano de saúde (STJ, REsp 1.011.331, Rel. Nancy Andrighi, DJe de 30/4/2008; AgRg no REsp 707286/RJ, DJe 18/12/2009).
Diálogos das Fontes
Segundo Masson e Andrade, o Código de Defesa doConsumidor é uma lei especial, subjetivamente (tutela um sujeito especial de direitos, o consumidor), geral, materialmente (regula todas as relações, contratuais e extracontratuais, do sujeito consumidor no mercado de consumo) e principiológica, por alcançar toda e qualquer relação jurídica de consumo, mesmo que regrada por outra fonte normativa (como a lei que regula os planos de saúde). 
Assim sendo, num cenário de multiplicidade leis é natural que ocorra conflito entre dois dispositivos em um caso concreto, cabendo ao operador do direito resolver tal conflito obedecendo aos critérios previstos na Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, quais sejam: 1) Critério cronológico – a lei mais nova retira do sistema a lei anterior com ela conflitante; 2) Critério da especialidade – a lei geral nova não revoga a lei especial anterior, a não ser que incorpore ou regule inteiramente a matéria de que tratava a lei especial antiga; 3) Critério hierárquico – a lei hierarquicamente superior tem prioridade de aplicação e pode afastar ou revogar a lei inferior com ela conflitante.
Porém, a doutrina moderna propõe um novo método para solução de antinomias não baseado na prevalência de uma norma sobre outra, denominado de “diálogo das fontes” e criada por Erik Jayme em 1995, no Curso Geral de Haia. Ainda conforme Masson e Andrade, “a expressão ‘diálogo das fontes’, criada por Erik Jayme, traduz a ideia da necessidade de coordenação das normas em conflito, a fim de restabelecer a coerência do sistema, sob a luz da Constituição. Em outras palavras, propõe-se uma mudança de modelo: em vez de se promover a simples retirada do sistema (revogação) de uma das normas em conflito (ideia de monólogo), busca-se a convivência dessas normas, o diálogo coordenado e harmônico das fontes legislativas plúrimas”.
Referido método de aplicação das normas permite sua coordenação, sua aplicação simultânea e coerente de diversas fontes legislativas, sejam elas gerais (Código Civil), seja especial (CDC) com campos de aplicação convergentes mas não iguais. 
Para Cláudia Lima Marques, professora responsável pelo aprofundamento do instituto no Brasil, três são os tipos de “diálogo”, entre o CDC e o Código Civil, possíveis:
a) Diálogo sistemático de coerência = aplicação simultânea de duas leis, sendo que uma serve de base conceitual para outra (o Código Civil é a base do CDC, ou seja, conceitos trazidos pelo CC/02 são utilizados na aplicação do CDC, tais como contrato, pessoa jurídica, nulidades, provas). 
b) Diálogo sistemático de complementariedade e subsidiariedade = consiste na aplicação coordenada de duas leis, uma complementando a aplicação da outra ou sendo aplicada de forma subsidiária. Temas que constam no Código Civil e não no Código de Defesa do Consumidor e vice-versa. Ex: Prazo prescricional para ação de repetição de indébito em caso de cobrança indevida (o CDC prevê a ação de repetição de indébito em seu art.42, mas não prevê qual o prazo para sua propositura, tal como o faz o art. 205, CC/02). 
c) Diálogo das influências recíprocas sistemáticas = influência do sistema geral no especial e vice-versa. Por exemplo, a conceituação de consumidor sofreu influências do CC/02, porquanto a entrada em vigor deste novo código para contratantes em igual situação conteve a aplicação da teoria maximalista para a definição de consumidor. 
Por fim, vale dizer que o diálogo das fontes deverá ocorrer também entre o CDC e “leis especiais” como a lei de planos de saúde, lei sobre incorporação imobiliária, Código Brasileiro de Aeronáutica, lei sobre as mensalidades escolares, lei de concessões e permissões de serviços públicos, lei complementar que regulamenta o sistema financeiro...
Natureza jurídica das normas do Código de Defesa do Consumidor.
O próprio artigo 1º do CDC explicita que ele estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, DE ORDEM PÚBLICA E INTERESSE SOCIAL.
Isso, segundo a doutrina, equivale a dizer que as normas são INDERROGÁVEIS por vontade dos interessados em determinada relação de consumo, embora se admita a livre disposição de alguns interesses de caráter patrimonial, como, por exemplo, o artigo 107 (as entidades civis de consumidores e as associações de fornecedores ou sindicatos de categoria econômica podem regular, por convenção escrita, relações de consumo que tenham por objeto estabelecer condições relativas ao preço, à qualidade, à quantidade, à garantia e características de produtos e serviços, bem como à reclamação e composição do conflito de consumo).
O artigo 1° do CDC é expresso ao estabelecer que suas normas são de ‘ordem pública e interesse social’, não podendo ser modificadas pelas partes de determinada relação de consumo. Nesse sentido, a referida jurisprudência do STJ:
DIREITO DO CONSUMIDOR. ADMINISTRATIVO. NORMAS DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR. ORDEM PÚBLICA E INTERESSE SOCIAL. PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR. PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. PRINCÍPIO DA CONFIANÇA. OBRIGAÇÃO DE SEGURANÇA. DIREITO À INFORMAÇÃO. DEVER POSITIVO DO FORNECEDOR DE INFORMAR, ADEQUADA E CLARAMENTE, SOBRE RISCOS DE PRODUTOS E SERVIÇOS. DISTINÇÃO ENTRE INFORMAÇÃO-CONTEÚDO E INFORMAÇÃO-ADVERTÊNCIA. ROTULAGEM. PROTEÇÃO DE CONSUMIDORES HIPERVULNERÁVEIS. CAMPO DE APLICAÇÃO DA LEI DO GLÚTEN (LEI 8.543/92 AB-ROGADA PELA LEI 10.674/2003) E EVENTUAL ANTINOMIA COM O ART. 31 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO. JUSTO RECEIO DA IMPETRANTE DE OFENSA À SUA LIVRE INICIATIVA E À COMERCIALIZAÇÃO DE SEUS PRODUTOS. SANÇÕES ADMINISTRATIVAS POR DEIXAR DE ADVERTIR SOBRE OS RISCOS DO GLÚTEN AOS DOENTES CELÍACOS. INEXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA.
1. Mandado de Segurança Preventivo fundado em justo receio de sofrer ameaça na comercialização de produtos alimentícios fabricados por empresas que integram a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação – ABIA, ora impetrante, e ajuizado em face da instauração de procedimentos administrativos pelo PROCON-MG, em resposta ao descumprimento do dever de advertir sobre os riscos que o glúten, presente na composição de certos alimentos industrializados, apresenta à saúde e à segurança de uma categoria de consumidores – os portadores de doença celíaca.
2. A superveniência da Lei 10.674/2003, que ab-rogou a Lei 8.543/92, não esvazia o objeto do mandamus, pois, a despeito de disciplinar a matéria em maior amplitude, não invalida a necessidade de, por força do art. 31 do Código de Defesa do Consumidor – CDC, complementar a expressão “contém glúten” com a advertência dos riscos que causa à saúde e segurança dos portadores da doença celíaca. É concreto o justo receio das empresas de alimentos em sofrer efetiva lesão no seu alegado direito líquido e certo de livremente exercer suas atividades e comercializar os produtos que fabricam.
3. As normas de proteção e defesa do consumidor têm índole de “ordem pública e interesse social”. São, portanto, indisponíveis e inafastáveis, pois resguardam valores básicos e fundamentais da ordem jurídica do Estado Social, daí a impossibilidade de o consumidor delas abrir mão ex ante e no atacado.
4. O ponto de partida do CDC é a afirmação do Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor, mecanismo que visa a garantir igualdade formal-material aos sujeitos da relação jurídica de consumo, o que não quer dizer compactuar com exageros que, sem utilidade real, obstem o progresso tecnológico, a circulação dos bens de consumo e a própria lucratividade dos negócios.
5. O direito à informação, abrigado expressamente pelo art. 5°, XIV, da Constituição Federal, é uma das formas de expressão concreta do Princípio da Transparência, sendo também corolário do Princípio da Boa-fé Objetiva e do Princípio da Confiança, todos abraçados pelo CDC.
6. No âmbito da proteção à vida e saúde do consumidor, o direito à informação é manifestação autônoma da obrigação de segurança.
7. Entre os direitos básicos do consumidor, previstos no CDC, inclui-se exatamentea “informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem” (art. 6°, III).
8. Informação adequada, nos termos do art. 6°, III, do CDC, é aquela que se apresenta simultaneamente completa, gratuita e útil, vedada, neste último caso, a diluição da comunicação efetivamente relevante pelo uso de informações soltas, redundantes ou destituídas de qualquer serventia para o consumidor.
9. Nas práticas comerciais, instrumento que por excelência viabiliza a circulação de bens de consumo, “a oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores” (art. 31 do CDC).
10. A informação deve ser correta (= verdadeira), clara (= de fácil entendimento), precisa (= não prolixa ou escassa), ostensiva (= de fácil constatação ou percepção) e, por óbvio, em língua portuguesa.
11. A obrigação de informação é desdobrada pelo art. 31 do CDC, em quatro categorias principais, imbricadas entre si: a) informação-conteúdo (= características intrínsecas do produto e serviço), b) informação-utilização (= como se usa o produto ou serviço), c) informação-preço (= custo, formas e condições de pagamento), e d) informação-advertência (= riscos do produto ou serviço).
12. A obrigação de informação exige comportamento positivo, pois o CDC rejeita tanto a regra do caveat emptor como a subinformação, o que transmuda o silêncio total ou parcial do fornecedor em patologia repreensível, relevante apenas em desfavor do profissional, inclusive como oferta e publicidade enganosa por omissão.
13. Inexistência de antinomia entre a Lei 10.674/2003, que surgiu para proteger a saúde (imediatamente) e a vida (mediatamente) dos portadores da doença celíaca, e o art. 31 do CDC, que prevê sejam os consumidores informados sobre o "conteúdo" e alertados sobre os "riscos" dos produtos ou serviços à saúde e à segurança.
14. Complementaridade entre os dois textos legais. Distinção, na análise das duas leis, que se deve fazer entre obrigação geral de informação e obrigação especial de informação, bem como entre informação-conteúdo e informação-advertência.
15. O CDC estatui uma obrigação geral de informação (= comum, ordinária ou primária), enquanto outras leis, específicas para certos setores (como a Lei 10.674/03), dispõem sobre obrigação especial de informação (= secundária, derivada ou tópica). Esta, por ter um caráter mínimo, não isenta os profissionais de cumprirem aquela.
16. Embora toda advertência seja informação, nem toda informação é advertência. Quem informa nem sempre adverte.
17. No campo da saúde e da segurança do consumidor (e com maior razão quanto a alimentos e medicamentos), em que as normas de proteção devem ser interpretadas com maior rigor, por conta dos bens jurídicos em questão, seria um despropósito falar em dever de informar baseado no homo medius ou na generalidade dos consumidores, o que levaria a informação a não atingir quem mais dela precisa, pois os que padecem de enfermidades ou de necessidades especiais são freqüentemente a minoria no amplo universo dos consumidores.
18. Ao Estado Social importam não apenas os vulneráveis, mas sobretudo os hipervulneráveis, pois são esses que, exatamente por serem minoritários e amiúde discriminados ou ignorados, mais sofrem com a massificação do consumo e a "pasteurização" das diferenças que caracterizam e enriquecem a sociedade moderna.
19. Ser diferente ou minoria, por doença ou qualquer outra razão, não é ser menos consumidor, nem menos cidadão, tampouco merecer direitos de segunda classe ou proteção apenas retórica do legislador.
20. O fornecedor tem o dever de informar que o produto ou serviço pode causar malefícios a um grupo de pessoas, embora não seja prejudicial à generalidade da população, pois o que o ordenamento pretende resguardar não é somente a vida de muitos, mas também a vida de poucos.
21. Existência de lacuna na Lei 10.674/2003, que tratou apenas da informação-conteúdo, o que leva à aplicação do art. 31 do CDC, em processo de integração jurídica, de forma a obrigar o fornecedor a estabelecer e divulgar, clara e inequivocamente, a conexão entre a presença de glúten e os doentes celíacos.
22. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.
(REsp 586316/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/04/2007, DJe 19/03/2009)
Leonardo Medeiros Garcia diz que o juiz poderá, nas relações de consumo, apreciar qualquer matéria de ofício. Exemplo: poderá inverter o ônus da prova de ofício; desconsiderar a personalidade jurídica de ofício; declarar a nulidade de cláusula abusiva de ofício (a qualquer tempo ou grau de jurisdição), etc.
Importante: pela Súmula 381/STJ, “nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas”. Essa súmula é bastante criticada na doutrina, que aponta a inconstitucionalidade do entendimento, até mesmo por contrariar a lógica vista no parágrafo antecedente.
Uma discussão que se colocou em relação ao CDC foi a de se saber se a nova sistemática das chamadas cláusulas abusivas atingiria ou não os atos jurídicos praticados anteriormente. A orientação do STJ era no sentido de que, em se tratando de normas de direito econômico, sua incidência é imediata, alcançando, sim, os contratos em curso, notadamente os chamados de trato sucessivo ou de execução continuada, em decorrência exatamente do caráter de normas de ordem pública. No entanto, o STF entendeu de modo diverso, por conta da proteção ao ato jurídico perfeito. O STJ, posteriormente, seguiu o STF.
No que tange, agora, ao INTERESSE SOCIAL, tenha-se que o CDC visa a resgatar a imensa coletividade de consumidores da marginalização não apenas em face do poder econômico, como também de dotá-la de instrumentos adequados para o acesso à justiça do ponto de vista individual e, sobretudo, coletivo.
Assim, embora destinatária final de tudo que é produzido em termos de bens e serviços, a comunidade de consumidores é sabidamente frágil em face da outra personagem nas relações de consumo, os fornecedores. Daí vem o CDC para estabelecer o necessário equilíbrio de forças.
Da doutrina: é forçoso reconhecer que, diante do caráter de lei de ordem pública e interesse social do Código, prevalece o espectro mais abrangente do CDC, para o qual não há limite tarifado para as indenizações decorrentes de acidentes aéreos ou extravio de mercadorias e bagagens.
PRINCÍPIOS NO CDC
Vulnerabilidade
Já estudado em tópicos anteriores.
Boa-fé:
A boa-fé objetiva estabelece um dever de conduta entre fornecedores e consumidores no sentido de agirem com lealdade e confiança na busca do fim comum, que é o adimplemento do contrato, protegendo, assim, as expectativas de ambas as partes. Em outras palavras, a boa-fé objetiva constitui um conjunto de padrões éticos de comportamento, aferíveis objetivamente, que devem ser seguidos pelas partes contratantes em todas as fases da existência da relação contratual, desde a sua criação, durante o período de cumprimento e, até mesmo, após a sua extinção.
Funções da boa-fé objetiva:
-	TELEOLÓGICA OU INTERPRETATIVA (art. 113, CC/02): A função interpretativa da boa-fé e a mais utilizada pela jurisprudência, serve de orientação para o juiz, devendo este sempre prestigiar, diante de convenções e contratos, a teoria da confiança, segundo a qual as partes agem com lealdade na busca do adimplemento contratual.
-	CONTROLE OU LIMITADORA DE DIREITOS (art. 187, CC/02): A função de controle da boa-fé visa evitar o abuso do direito subjetivo, limitando condutas e práticas comerciais abusivas, reduzindo, de certa forma, a autonomia dos contratantes.
-	INTEGRATIVAOU CRIADORA DE DEVERES LATERAIS (anexos) (art. 422, CC/02): A função integrativa insere novos deveres para as partes diante das relações de consumo, pois além da verificação da obrigação principal, surgem novas condutas a serem também observadas. São os assim denominados “deveres anexos” ou “deveres laterais” pela doutrina e jurisprudência. A violação a qualquer dos deveres anexos implica inadimplemento contratual. Exemplo de deveres anexos: proteção, informação, cooperação, cuidado, etc. A violação desses deveres anexos ou laterais é chamado pela doutrina de “violação positiva do contrato” ou também de “adimplemento ruim”.
Informação:
O inciso III assegura o direito básico à informação, realizando a transparência no mercado de consumo objetivada pelo art. 4º CDC. No CDC a informação deve ser clara e adequada (arts. 12, 14, 18, 20, 30, 33, 34, 46, 48, 52 e 54). Esta nova transparência rege o momento pré-contratual, a eventual conclusão do contrato, o próprio contrato e o momento pós-contratual. É mais do que um simples elemento formal, afeta a essência do negócio, pois a informação repassada ou requerida integra o conteúdo do contrato, ou, se falha, representa a falha (vício) na qualidade do produto ou serviço oferecido. 
Da mesma forma, se é direito do consumidor ser informado, este deve ser cumprido pelo fornecedor e não fraudado. Assim, a cláusula ou prática que considere o silêncio do consumidor como aceitação (a exemplo do art. 111, Código Civil), mesmo com falha da informação, não pode prevalecer (arts. 24 e 25, CDC), acarretando a nulidade da cláusula no sistema do CDC (art. 51, I) e até mesmo no sistema geral do CC/02 (art. 424).
Segurança:	
O direito básico de segurança é um fundamento único ou fonte única do dever de segurança ou de cuidado dos fornecedores quando colocam produtos e serviços no mercado brasileiro. É por isso que o CDC quebra a divisão entre responsabilidade contratual e extracontratual, pois agora o importante é a segurança das vítimas consumidoras que deve ser assegurada por toda a cadeia de fornecedores, sejam eles contratantes diretos (responsabilidade contratual) ou não (por exemplo, fabricantes) com os consumidores. 
Em outras palavras, o sistema do CDC, no mercado de consumo, impõe a todos os fornecedores um dever de qualidade dos produtos e serviços que presta e assegura a todos os consumidores um dever de proteção, fruto do princípio da confiança e da segurança.
Inversão do ônus da prova:
Requisitos: quando for verossímil a alegação OU quando o consumidor for hipossuficiente.
A inversão do ônus da prova não é automática, devendo o juiz justificar devidamente se presentes os pressupostos da referida norma, para, aí sim, deferir a inversão do ônus da prova. Chamada de inversão do ônus da prova ‘ope judici’ (por ato do juiz) em contraposição à inversão do ônus da prova ‘ope legis’ (por força de lei).
O Código de Defesa do Consumidor adotou a regra da distribuição dinâmica do ônus da prova, uma vez que o magistrado tem o poder de redistribuição (inversão) do ônus probatório, caso verificada a verossimilhança da alegação ou hipossuficiência do consumidor. O Código de Processo Civil, ao contrário, adotou a regra da distribuição estática do ônus da prova, distribuindo prévia e abstratamente o encargo probatório, através do art. 333. Assim, caberá ao autor provar os fatos constitutivos do seu direito e ao réu provar os fatos impeditivos, modificativos e extintivos.
‘In dubio pro’ consumidor:
É um princípio hermenêutico, de interpretação, mais favorável ao consumidor. Verificação do princípio constitucional da isonomia, na qual os desiguais devem ser tratados desigualmente na medida de suas desigualdades.
Referido princípio acarreta a presunção de boa-fé dos atos do consumidor. Esse entendimento tem sido aplicado pelo STJ no tocante à exclusão das coberturas de doenças preexistentes à contratação de planos de saúde (RESP 651713/PR STJ).
O Código Civil estipulou regra semelhante em seu art. 423, mas restringiu tal interpretação favorável somente em favor do aderente aos contratos de adesão em que haja cláusulas ambíguas ou contraditórias.
Repressão eficiente aos abusos:
Direciona-se tanto ao consumidor quanto ao fornecedor.
Exemplos de disposições no ordenamento pátrio a respeito do princípio da repressão eficiente aos abusos encontram-se desde a publicidade enganosa, prevista no art. 37, §2°, na oferta (arts. 30 e 31), bem como nas situações explanadas no art. 39 e 51, CDC. Outros dispositivos do CDC parecem tratar do assunto, a exemplo do art. 2°, parágrafo único e o art. 29 que, além de conferirem amplo sentido ao conceito de consumidor, deixam claro que o consumidor está exposto a práticas de comércio muitas vezes agressivas, principalmente no campo dos contratos.
Paulo Brasil Dill Soares assevera que o parágrafo único do art. 2° e o art. 29 elegem à condição de consumidores tanto os terceiros beneficiários como os consumidores intencionais, visto que tanto faz a posição à qual o consumidor se encontra: ele será atingido do mesmo modo pelos abusos dos fornecedores.
Harmonia das relações de consumo.
Tem fundamento nos princípios constitucionais, sendo algum deles o da isonomia ou igualdade, da solidariedade e dos princípios gerais da atividade econômica, este amparado no art. 170, CR/88.
Sobre o assunto, João Batista de Almeida aponta o atendimento das necessidades dos consumidores como o objetivo principal da política nacional das relações de consumo. Entende, também, que a transparência e a harmonia das relações de consumo devem ser objeto de preocupação dessa política. Portanto, a política nacional das relações de consumo tem por objetivo harmonizar as relações consumeristas. Busca estabelecer um equilíbrio e uma compatibilização entre os interesses dos fornecedores e as necessidades dos consumidores. Visa ainda à proteção do meio ambiente, com o intuito de assegurar o desenvolvimento tecnológico, social e econômico de toda a sociedade. A esse respeito, enfatiza o referido autor: “O objetivo do Estado, ao legislar sobre o tema, não será outro que não o de eliminar ou reduzir tais conflitos, sinalizar para a seriedade do assunto e anunciar sua presença como mediador, mormente para garantir proteção à parte mais fraca e desprotegida”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENJAMIN, Antonio Herman V.; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
ANDRADE, Landolfo; MASSON, Cleber; ANDRADE, Adriano. Interesses Difusos e Coletivos Esquematizado. 3 ed. Rio de Janeiro: Método, 2013.
TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual - Volume Único - 3 ed. Rio de Janeiro: Método, 2013. 
NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. Curso de Direito do consumidor. 7. ed. Revista e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2012.

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