Buscar

Redação Modelo VUNESP - Sistema Prisional Brasileiro e Racismo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Lívi� Coelh�
Redação Modelo VUNESP
Tema: Sistema Prisional Brasileiro e Racismo
Nota: 9,5 / 10
Sistema prisional brasileiro: entre o racismo e a legitimação
No contexto do fim da escravidão no Brasil, decretado a partir da Lei Áurea em
1888, a grande quantidade de libertos deveria significar maior disponibilidade de mão de
obra assalariada disponível para as atividades econômicas. Contudo, devido à influência de
visões como o Darwinismo Social, a Antropologia Criminal e a eugenia, a ideia de
inferioridade da “raça negra” foi fortalecida, relegando os ex-escravos à marginalização. Tal
interpretação, também assimilada pelo poder penal brasileiro, apresenta continuidades até
os dias atuais, mesmo com a comprovação científica da improcedência de suas ideias.
Nesse cenário, medidas segregacionistas discriminatórias e opressivas legitimadas pelo
sistema prisional brasileiro evidenciam seu caráter racista, que se distancia do ideal de
justiça e reproduz desigualdades.
Como resultado da exclusão iniciada no período pós-abolição, a população negra foi
gradualmente impelida às periferias dos centros urbanos. Julgados como incapazes e
"biologicamente inferiores”, os ex-escravos eram vistos com repulsa e tratados com
desprezo, considerados indignos de quaisquer direitos humanos. Essa ideia, associada à
proposta de Cesare Lombroso de que “as raças inferiores” seriam mais propensas ao crime
- interpretado como uma questão biológica ao invés de social - fortaleceu o enraizamento do
racismo no país e a associação da pele negra à delinquência. Mesmo após a refutação
científica dessas teorias e a comprovação da igualdade física e psíquica entre pessoas
independentemente da origem étnica, bem como a desconstrução do termo “raça” para se
referir a humanos, o preconceito em relação a pretos e pardos se mantém, perceptível no
tratamento distinto destinado, por parte dos agentes de segurança, a indivíduos suspeitos
de cometer crimes. Os privilégios e a proteção à imagem daqueles que são brancos e
economicamente abastados, assim, contrastam-se fortemente com a humilhação e a
exposição às quais os negros são submetidos, mesmo em casos de ausência de provas
que evidenciem a autoria do delito.
Ademais, as condições sub-humanas das penitenciárias, insustentáveis devido à
superlotação e à estrutura precária, condenam a população carcerária - majoritariamente
composta por negros - à barbárie, sem acesso a recursos básicos como higiene pessoal,
alimentação adequada e privacidade. Embora ciente desse cenário, a maior parte da
sociedade civil não se sente impelida a se mobilizar em favor de mudanças que garantam
alguma qualidade de vida aos presos, julgando-os merecedores de quaisquer suplícios e
negando as possibilidades de recuperação. Esse estigma negativo fomenta a perpetuação
do racismo e do preconceito arraigado no sistema carcerário do país, uma vez que legitima
as condutas assumidas. Como consequência, a população negra se distancia ainda mais do
usufruto de seus direitos e do alcance de respeito à própria dignidade, num processo de
retroalimentação das desigualdades iniciadas no século XIX.
O sistema prisional brasileiro, portanto, reflete o racismo vigente na sociedade. As
decisões tomadas por seus agentes promovem a injustiça e favorecem a continuidade da
desigualdade no país.

Continue navegando