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CADERNO PROCESSO PENAL 2 NATALI

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DIREITO PROCESSUAL PENAL II – NATALIE RIBEIRO PLETSCH – 2014/2
Email: natalie_pletsch@uniritter.edu.br
Bibliografia
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional.
RANGEL, Paulo. Direito processual penal.
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal.
NICOLITT, André Luiz. Manual de processo penal.
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I. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA (art. 92, CF e art. 69, CPP)
1. Noções Gerais
A jurisdição e a competência vão dizer onde é que o processo irá tramitar.
Jurisdição é dizer o direito no caso concreto. A jurisdição é exercida pelo Estado, por meio de seus órgãos jurisdicionais, que diz o direito no caso concreto, ou seja, soluciona o caso penal de forma definitiva. A jurisdição é um poder do Estado de dizer o direito, mas também um dever do Estado de definir o caso penal, pois ele presta a jurisdição. A jurisdição também é um direito que o particular tem em relação ao Estado, pois o Estado tem o dever de prestar a jurisdição de uma maneira imparcial.
O Estado detém o poder de punir, porém o Estado é inerte na aplicação desse seu poder, ou seja, só o Estado que pode aplicar à pena, mas ele precisa ser provocado. Por essa razão é que sempre falamos de processo, jurisdição e ação. Essa trilogia sempre aparece junta porque a jurisdição para a aplicação da pena precisa ser sempre presidida do processo, enquanto o processo deve ser sempre presidido do exercício do direito de ação. É necessário, portanto, que entre a ação e a jurisdição haja um devido processo legal, por isso não podemos pensar na pena sem jurisdição, jurisdição sem processo e processo sem ação, isso tudo tem que estar entrelaçado.
O Estado exerce seu poder jurisdicional através de todas as decisões judiciais, no entanto, o momento por excelência da jurisdição é a sentença. Contudo, no curso do processo, o juiz já pode ter decidido diversas questões (ex.: busca e apreensão), exercendo, assim, a jurisdição.
A competência, por sua vez, é a delimitação da jurisdição. Todos os órgãos do poder judiciário têm jurisdição, mas todos os órgãos não podem decidir sobre tudo, se não seria uma bagunça. As regras de competência têm, portanto, exatamente o caráter de organizar a jurisdição, ou seja, de sistematizar e limitar o exercício da jurisdição.
2. Princípios da Jurisdição
Para termos um adequado exercício da jurisdição, segundo as regras de competência, há alguns princípios devem ser observados.
2.1. Inércia de Jurisdição
A jurisdição é inerte, ou seja, ela não é exercida senão quando provocada. O Judiciário, embora detentor de todo o poder jurisdicional, só pode exercer esse poder quando provocado. A provocação se dá, sobretudo, pelo exercício da ação. A provocação da jurisdição, no entanto, limita, também, o poder da jurisdição. Portanto, o judiciário só atua quando provocado e no limite da sua provocação (ex.: se surgir elementos novos de acusação no curso do processo, o juiz só poderá decidir quando for, também, provocado a esse respeito – a acusação tem que fazer um aditamento a acusação, exemplo).
2.2. Indelegabilidade
Os órgãos jurisdicionais não podem delegar a jurisdição a quem não o tenha, ou seja, só podem exercer a jurisdição quem está investido desse poder.
2.3. Imparcialidade
É um princípio fundamental para o exercício da jurisdição. Segundo Jacinto Coutinho o juiz deve estar para além dos interesses das partes, por isso ele não pode estar comprometido com os interesses das partes.
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2.4. Inafastabilidade (art. 5º, XXXV, CF)
No processo penal não há a aplicação do direito penal material sem o processo e sem o poder judiciário, ou seja, não há aplicação de nenhuma pena fora do poder judiciário. Portanto, no processo penal, o direito material só se aplica dentro do poder judiciário por meio de um processo penal (princípio da jurisdicionalidade - nulla culpa sine judicio: a responsabilização só poderá ser feita em juízo, ou seja, a responsabilização tem que vir de um processo e que esse processo seja conduzido por um órgão do judiciário competente).
Art. 5º, XXXV, CF: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
2.5. Juiz Natural (art. 5º, LIII e XXXVII, CF)
É tão importante quanto o da imparcialidade. Esse princípio garante que não haverá Tribunal de exceção, ou seja, o juiz estará definido antes do crime acontecer e essa definição seguirá as regras constitucionais.
Art. 5º, LIII, CF: ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente – a garantia do juiz natural estende-se para todo o processo, ou seja, o acusado não pode ser processado e nem sentenciado por autoridade incompetente.
Art. 5º, XXXVII, CF: não haverá juízo ou tribunal de exceção.
2.5.1. Exemplo de Violação ao Princípio do Juiz Natural
Juízes Convocados: são os juízes de 1º grau chamados para atuarem nos Tribunais. Discutia-se se a convocação desses juízes viola ou não o juiz natural, ou seja, se poderia haver uma apelação sendo julgada por um Juiz e não por um Desembargador. O STF decidiu, nesse caso, que os juízes convocados podem sim decidir sem haver violação ao princípio do juiz natural, o que não pode acontecer é uma escolha arbitraria e/ou subjetiva dos juízes que serão convocados. A forma de convocação desses juízes que tem seguir determinadas regras e critérios objetivos pré-definidos.
2.6. Identidade Física (art. 399, §2º, CPP)
Segundo esse princípio o mesmo juiz que acompanha a produção da prova é o que decide no processo. Portanto, o mesmo juiz que conduz a instrução é o juiz que tem que sentenciar. No entanto, há situações em que esse princípio não pode ser observado, como, por exemplo, quando o juiz se aposenta, esta em licença saúde, etc. Nesses casos, tem-se aplicado por analogia o art. 132 do CPC, em que permite que outro juiz possa proferir a decisão.
Art. 399, §2º, CPP: o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.
Art. 132, CPC: o juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor.
( Princípio do Juiz Natural x Princípio da Identidade Física: pode haver um processo em que não foi observado o princípio do juiz natural, no entanto, o princípio da identidade física foi. Ex.: processo era de competência da justiça estadual, mas foi distribuído na justiça federal, porém, esse processo esteve do início ao fim com o mesmo juiz, ou seja, houve um juiz incompetente que ficou todo o tempo com o mesmo processo. Por outro lado, pode haver um processo que tramitou no juízo competente, porém não foi observado o princípio da identidade física, ou seja, iniciou com um juiz e foi sentenciado por outro. Portanto, esses princípios não dizem respeito com a mesma questão, são autônomos, podendo, inclusive, um ser violado e o outro ser preservado.
# Lei 12.694/2012 (Organização Criminosa): essa lei foi apelidada de lei do juiz sem rosto, no entanto, se conhece o juiz que julga o caso. De acordo com essa lei cria-se um colegiado (juiz do caso e mais dois juízes convocados) para decidir algo sobre o caso quando houver algum motivo fundamentado (risco a integridade física do juiz, por exemplo). Esse colegiado dará a sua decisão e, em caso de voto divergente, não é mencionado qual dos juízes que proferiu aquele determinado voto.
Essa lei tem diversas lacunas, como o caso de violação ao princípio da identidade física do juiz, pois do colegiado formado apenas um tem conhecimento sobre o caso (em tese), os demais serão convocados para aquele determinado ato e não tem contato com o caso penal desde o início. Outra questão é com relação a violação ao princípio do juiz natural, pois os outros dois juízes que formaram o colegiado não são juízes competentes para julgar aquele caso.
A grande problemática dessa lei é que ela é genérica, deixa para os Estados definir as questões em aberto. Deveria haver, em verdade, uma lei federal disciplinando essa material processualpenal, pois não pode haver, por exemplo, um regimento interno em um Tribunal disciplinando questões sobre processo.
3. Estrutura do Poder Judiciário (art. 92, 111, 118, 122 e 125, CF)
4. Definição da Competência
Precisamos especificar onde o processo irá tramitar, onde a denúncia ou a queixa-crime tem que ser distribuída.
1º - Qual a justiça? Temos a competência da justiça militar, da justiça eleitoral, da justiça federal e da justiça estadual. Conforme o crime que for praticado ele será processado em uma dessas justiças, ou seja, conforme a matéria que estiver sendo discutida no caso. A distribuição quanto à matéria está disciplina na CF, em razão disso, essas regras é de competência absoluta e, assim, tem que ser observadas sob pena de gerar uma nulidade absoluta.
2º - Qual o órgão? Temos que saber se existe no processo alguma pessoa com prerrogativa de função, ou seja, quem será a pessoa a ser julgada ou se essa pessoa ocupa determinada função com prerrogativa. Esta determinação também está disciplinada na CF e, por isso, é uma regra de competência absoluta e, portanto, se não for cumprida, gerará uma nulidade absoluta.
3º - Qual o foro? É a competência territorial, ou seja, em qual comarca ou subseção determinado caso deve tramitar. As regras dessa competência esta no CPP e, por isso, é uma competência relativa, ou seja, se for desrespeitada não causa tanto problema para o andamento processual.
4º - Qual o juízo? Está relacionado com qual vara, câmara ou turma em que o processo irá tramitar. Essa competência também esta no CPP e, por isso, configura uma nulidade relativa se não for observada.
5. Competência em Razão da Matéria – Justiça Competente (Qual a justiça competente?)
a) Justiças Especializadas: essa justiça tem uma matéria específica e, em matéria penal, são duas, que são justiça militar ou justiça eleitoral.
b) Justiças Comuns: justiça federal ou justiça estadual.
5.1. Justiça Especializada
5.1.1. Justiça Militar (art. 122 e seguintes, CF; súmula 6, 53, 75, 78, 90, 172, STJ)
A justiça militar tem competência para julgar crimes militares que estejam enquadrados nas hipóteses no art. 9 ou 10 do CPM. O juiz só pode decidir conforme o Código Penal Militar e, além disso, só julgará os crimes militares nele previstos. Portanto, a justiça militar tem competência taxativa, pois só julga crimes militares cometidos ou não por militares (a JM não tem competência para julgar militares, mas sim crimes militares).
Ex.: crime de abuso de autoridade esta disciplinado na Lei 4.898/65, ou seja, não está no Código Penal Militar. Logo, esse crime não será processado pela justiça militar (súmula 172, STJ – compete a Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço).
Art. 9º, CPM: Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; - somente os crimes previstos no CPM seja o crime igual à lei penal comum ou não.
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados:
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; - crime de militar contra militar na ativa. O STF, em alguns casos, acrescenta o interesse militar, ou seja, o interesse da instituição militar em si.
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; - crime de militar contra qualquer um dentro da administração militar.
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; - crime cometido por militar em serviço atuando fora da administração. Ex.: forças de pacificação.
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; - crime patrimonial cometido por militar.
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso lI, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior. – militar da ativa é vítima de algum crime cometido fora da administração, mas sujeito a ela. Ex.: força de pacificação.
* Art. 125, §4º, CF: compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.
* Art. 9º, p. ú, CPM: os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei nº 7.565/86 - Código Brasileiro de Aeronáutica.
( Tribunal do Júri: não será de competência da Justiça Militar, ainda que se enquadre no art. 9º e que tenha previsão no CPM, os crimes de competência do Tribunal do Júri quando a vítima for civil. Os crimes do Tribunal do Júri são os crimes dolosos contra a vida. Portanto, se um militar comete um crime doloso contra o civil ele será processado na Justiça Comum perante o Tribunal do Júri. Ex.: caso do Amarildo.
a) Justiça Militar da União (art. 122, 123 e 124, CF): terá competência para os crimes relacionados às Forças Armadas, que são o Exército, Marinha e Aeronáutica. Se um civil praticar um crime relacionado às Forças Armadas ele será julgado pela Justiça Militar da União.
b) Justiça Militar Estadual (art. 125, §4º, CF): esta relacionada aos militares estaduais que são, especificamente no RS, a Brigada Militar (Polícia Militar), os Bombeiros e os Policiais Rodoviários Estaduais. O Policial Civil não é militar e o Policial Rodoviário Federal é funcionário público federal e não é militar. Essa justiça só tem competência para julgar os militares, ou seja, não julga os civis. Se um civil comete um crime militar ele responderá na Justiça Comum, se o crime for tipificado no CP, se o crime não for tipificado o sujeito não será punido.
5.1.2. Justiça Eleitoral (art. 121, CF; Lei 9.504/97 e Código Eleitoral)
A justiça eleitoral julga os crimes eleitorais assim definidos em lei (Código Eleitoral e Lei 9.504/97). São crimes que atentam contra o processo eleitoral, contra o direito ao voto, contra a liberdade de escolha dos candidatos, etc. São crimes eleitorais que estão na lei eleitoral definido como tal. Esses crimes previstos têm a finalidade de proteger o processo eleitoral. Ex.: compra e venda de votos, retenção de título de eleitor, declaração falsa sobre o domicílio eleitoral, etc.
A Justiça Eleitoral também julga os crimes que lhe forem conexos, ou seja, os crimesnão eleitorais (crimes comuns) que lhe forem conexos. Diferentemente do que ocorre na Justiça Militar, que só julga crimes militares e os que forem conexos são separados, a Justiça Eleitoral julga os crimes conexos. Ex.: sujeito A compra o voto do sujeito B e rouba a sua carteira – nesse caso o sujeito A cometeu dois crimes: crime eleitoral e crime de furto. Os dois crimes têm vínculo, pois foi no mesmo, dia, contra a mesma pessoa, cometido pelo mesmo sujeito. Em razão disso, esses dois processos tramitam juntos na Justiça Eleitoral, pois são conexos.
No entanto, há duas exceções com relação com os crimes conexos, que é o caso de crime doloso contra vida (Júri), crime federal e crime militar. Nessas hipóteses, os crimes que forem conexos serão julgados separadamente ao crime julgado pela Justiça Militar.
5.2. Justiça Comum
5.2.1. Justiça Federal (art. 109, IV e seguintes do CF) 
a) Crimes Políticos (art. 109, IV, CF; Lei 7.170/83): cabe a justiça federal julgar os crimes políticos. A doutrina tem entendido que os crimes políticos são os previstos na lei de segurança nacional (Lei 7.170/83). Para se configurar um crime político tem que estar configurado nesta lei e o crime têm que ter o objetivo de atentar contra a soberania nacional, contra o Estado brasileiro, contra as instituições democráticas e contra os Poderes.
b) Crimes Contra Bens, Serviços ou Interesse da união, Autarquias ou Empresas Públicas (súmula 38, 42, 73, 165, 107, 147, STJ): atualmente, a maioria dos crimes processados na JF são em decorrência aos crimes previsto nesta hipótese (art. 109, IV, CF).
Art. 109, IV, CF: os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral – primeiramente temos que descartar a hipótese de ser Justiça Militar ou Eleitoral. Posteriormente, analisamos se é contravenção ou não, se for não será de competência da Justiça Federal, mas sim da Justiça Estadual (súmula 38, STJ), pois a Federal não julga contravenções penais.
Os crimes previstos nesta hipótese têm que lesar diretamente os bens, serviços ou interesses que consistem no patrimônio, as atividades prestadas por esses entes ou, ainda, a finalidade para qual esses entes existem. Podem ser, portanto, tanto os bens, serviços ou interesses da União, quanto das Autarquias (Ex.: INSS, Agências Reguladoras – ANTT, Anatel – Banco Central, IBAMA, UFRGS) ou das Empresas Públicas (Ex.: Correios, CEF). 
Importante: as sociedades de economia mista não determinam a competência federal. Ex.: Petrobras e Banco do Brasil.
Os crimes ambientais, em regra, são de competência da Justiça Estadual. No entanto, se for um crime que contamina os bens da união como, por exemplo, o mar territorial, animais em extinção, ou, ainda, um rio de divisão entre dois Países ou Estados a competência é da Justiça Federal (se for um rio ou lago de uma cidade, apenas, a competência é da Justiça Estadual).
O crime de moeda falsa é de competência da Justiça Federal, pois a vítima é a União. No entanto, se for uma falsificação grosseira incorrerá em crime de estelionato e a competência será da Justiça Estadual (súmula 73, STJ).
Os crimes que envolvem a Justiça do Trabalho são de competência da Justiça Federal, pois a Justiça do Trabalho pertence a União (súmula 165, STJ).
c) Crimes Previstos em Tratado ou Convenção Internacional Cujo Início ou Resultado Tenha Ocorrido no Brasil: é necessário haver um tratado ou convenção e que tenha caráter transnacional, ou seja, tem que transcender as fronteiras. Existem alguns crimes que o Brasil comprometeu-se, internacionalmente, a punir (ex.: tortura, tráfico de drogas, tráfico de pessoas, tráfico de armas), porém, isso não basta, pois o crime tem que transcender as fronteiras (ou o crime começa no Brasil ou acaba no Brasil). Além disso, é necessário haver um tipo penal que preveja aquela conduta como crime.
d) Causas Relativas a Direitos Humanos nos Termos do art. 109, V-A e 109, §5º, CF: essa previsão foi inserida com a EC 45/2004. Essa competência são para os crimes que são da Justiça Estadual, mas que são deslocados para a Justiça Federal por meio de um incidente de deslocamento de competência.
d.1) Requisitos: haver uma grave violação aos direitos humanos, a inércia ou incapacidade do Estado brasileiro na persecução penal e, ainda, a possibilidade de responsabilização internacional.
d.2) Legitimidade para Arguir: o incidente de deslocamento de competência tem que ser arguido pelo Procurador Geral da República.
d.3) Competência para Decidir: quem determina o deslocamento de competência é o STJ.
Tem alguns autores que criticam esse deslocamento, pois para eles diz-se que a Justiça Federal pune melhor que a Estadual, ou seja, desloca-se para a outra justiça com a promessa de uma punição ou, ainda, de uma melhor punição.
e) Crimes contra o Sistema Financeiro e a Ordem Econômica nos casos Determinados em Lei (art. 109, VI, CF): nesse caso a lei diz se a competência é federal ou não, ou seja, a lei determina.
f) Crimes Cometidos a Bordo de Navios ou Aeronaves (art. 109, IX, CF): a competência de julgar esses crimes será da Justiça Federal quando os navios ou as aeronaves, se forem públicos ou militares, onde quer que se encontrem. Os militares será de competência da Justiça Militar conforme definido em lei, se não for será da Justiça Federal. Os privados a competência será da Justiça Federal se tiverem no mar territorial ou no espaço aéreo brasileiro, ou, ainda, se privados, de bandeira brasileira, e estiverem em alto mar.
g) Crimes de Ingresso ou Permanência Irregular de Estrangeiro (Lei 6.815/80 e art. 109, X, CF): esse crime será de competência da Justiça Federal quando um estrangeiro praticar um crime para entrar no Brasil ou para aqui permanecer. Esses crimes estão disciplinados no Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/80). Ex.: falsificação de passaporte para ingressar no Brasil.
h) Crimes que Envolvam a Disputa sobre Direitos Indígenas (súmula 140, STJ e art. 109, XI, CF): os indígenas podem praticar crimes assim como serem vítimas de crimes. Em regra, esses crimes são de competência da Justiça Estadual, no entanto, será de competência da Justiça Federal quando o crime envolver os direito do grupo indígena. Ex.: crimes que ocorram em razão de disputa de terras.
5.2.2. Justiça Estadual
Se nenhum dos casos da Justiça Federal se enquadrar ao caso concreto, nem na Justiça Militar e nem na Justiça Eleitoral, a competência será da Justiça Estadual, que tem uma competência residual. Portanto, tudo que não se enquadrar na competência das outras justiças será de competência da Justiça Estadual.
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6. Competência por Prerrogativa de Função (Ratione Personae) – Órgão Competente
6.1. Previsão Legal (art. 29, X; 53; 86; 96, III; 102, I; 105, I, CF - arts. 84 a 87, CPP – Lei 8.038/90 – Constituições Estaduais e Regimentos Internos dos Tribunais)
Vários são os dispositivos legais que envolvem a prerrogativa de função, mas quem estabelece a prerrogativa de função é a Constituição Federal. A Constituição é que distribui, conforme os órgãos, a competência para julgar determinadas pessoas ocupantes de certos cargos. Portanto, é o texto Constitucional, seja ele Federal ou Estadual, que estabelece a competência para julgar determinadas pessoas enquanto ocupam certos cargos ou funções públicas. Sempre que alguma dessas regras não forem observadas dá-se causa a uma nulidade absoluta, porque trata-se de uma regra de competência absoluta.
6.2. Noções Gerais e Critério Temporal (súmula 451 e 394 [cancelada], STF)
A prerrogativa de função é a prerrogativa estabelecida na Constituição das pessoas ocupantes de determinados cargos públicos ou que desempenham certas funções públicas de serem julgadas pelos Tribunais que exercem, nesses casos, sua competência originária. Ou seja, O Estado julga relevante certas funções e entende que essaspessoas precisam, durante o período que exercem essas funções, serem julgadas perante órgãos específicos. A preocupação, nesse caso, é com a preservação da função pública e não o individuo em si.
O critério temporal segue o princípio da atualidade, ou seja, a prerrogativa existe enquanto houver a função. Não importa o momento do crime, mas sim que o processo seja contemporâneo a função. Dessa forma, se o processo ainda não estiver tramitando e a pessoa desempenha determinada função e comete algum crime, o processo será iniciado no foro de competência em razão da sua função, mas se a função terminar antes do término do processo, o mesmo muda a tramitação e passa a ser processado no 1º grau, por exemplo. Pode ocorrer, também, de já haver um processo criminal em curso e a pessoa passa a exercer determinada função, nesse caso, o processo muda a tramitação para o foro que tem competência em razão da função que essa pessoa passou a desempenhar. Portanto, conforme o momento em que o processo esteja tramitando, se o sujeito tiver exercendo alguma função pública, ele terá prerrogativa de função; se ele deixa de exercer a função pública, deixa de ter a prerrogativa de função.
Importante destacar que a prerrogativa de função também estende-se para a investigação, ou seja, a investigação tem que tramitar por órgão competente. O STF tem o entendimento, inclusive, de que o Tribunal tem que autorizar a investigação e as medidas autorizadas no curso da investigação.
A prerrogativa de função tem vigência a partir da diplomação do sujeito até o momento que se encerra o mandato. No entanto, pode acontecer de o sujeito ter o mandato cassado ou de ele renunciar. Nessas hipóteses, o sujeito perde a prerrogativa de função. Além disso, os concursados, como os juízes, por exemplo, quando aposentados ou exonerados também perdem a prerrogativa de função.
( Súmula 394, STF (cancelada): cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício – segundo essa súmula, se o crime foi durante a função, a prerrogativa irá existir sempre, mesmo que o processo comece depois que o sujeito não está mais na função. O STF cancelou essa súmula argumentando que o sujeito não pode levar a prerrogativa de função, pois o que se buscar preservar é a própria função. Dessa forma, só faz sentido o julgamento no Tribunal, por exemplo, enquanto o sujeito esta exercendo a função.
Em razão do descontentamento de muitos pelo cancelamento dessa súmula o Congresso Nacional aprovou, na forma de lei, o teor da súmula cancelada. O Congresso Nacional inseriu os §§ 1º e 2º do art. 84 do CPP�. Em função disso, o STF reconhece a inconstitucionalidade desses dispositivos através das Ações de Inconstitucionalidade nº 2797-2 e 2860-0. Nesse caso, o STF decidiu que os crimes que haviam sido julgados pela vigência desses parágrafos iriam permanecer como estavam (condenados ou absolvidos) e que, portanto, os efeitos da declaração de inconstitucionalidade seriam para frente, ou seja, tem efeito ex tunc.
6.3. Distribuição de Competência Conforme a Função segundo a CF
	Jurisdição Competente
	Executivo
	Judiciário
	Legislativo
	Outros
	STF
	Presidnete, Vice-Presidente, Ministros e Advogado-Geral da União, Presidente do Banco Central, Chefe da Controladoria Geral da União
	Membros dos Tribunais Superiores, incluindo o STF
	Membros do Congresso Nacional (Senadores e Deputados Federais)
	Procurador Geral da República, Comandante das Forças Armadas, Membros do Tribunal de Contas da União, Chefes de missão diplomática
	STJ
	Governadores*
	Membros dos TRF, TRE, TJ e do TRT
	---
	Membros dos Tribunais de Contas dos Estados, Distrito Federal, Municípios, Membros do MP da União que atuam perante Tribunal
	TRF TJ TRE (somente para crimes eleitorais)
	Prefeitos
	Juízes de Direito, Juízes Federais, Juízes do Trabalho, Juízes Militares da União - serão julgados no Tribunal ao qual estão submetidos
	Deputados Estaduais**
	Membros do MP da União (MPF, MPT, MPM, MP do DF) e do MP Estadual
* Os Vice-Governadores só tem prerrogativa de função estabelecida nas Constituições Estaduais. As Constituições Estaduais não podem incluir prerrogativa no STF e nem no STJ, apenas no TJ e no TRF.
No RS quem tem prerrogativa de funções é o Vice-Governador, os Secretários e o Procurador Geral do Estado (art. 95, X e XI, CERS).
6.4. Situações Específicas
6.4.1. Prerrogativa de Função e Crimes Dolosos Contra a Vida (art. 5º, XXXVIII, CF e súmula 721, STF)
Os crimes dolosos contra a vida são: aborto, homicídio, infanticídio e a instigação ao suicídio. Os crimes dolosos contra a vida são aqueles em que há o dolo e que atingem o bem jurídico vida. Esses crimes podem ser na forma tentado ou consumado.
Esses crimes, em regra, serão julgados pelo Júri. Porém, pode ocorrer de alguém com prerrogativa de função cometer algum crime doloso contra a vida. Nesse caso, se a prerrogativa de função estiver estabelecida na CF prevalecerá a prerrogativa de função (súmula 721, STF) e o órgão competente será aquele em que há a prerrogativa de função para o sujeito. No entanto, se a prerrogativa não estiver na CF prevalecerá a competência do Júri. Exemplos:
Súmula 721, STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual. – o crime será julgado pelo Júri apenas quando a prerrogativa estiver estabelecido na Constituição Estadual.
a) Vereador: não tem prerrogativa de função no RS.
b) Defensor Público: não tem prerrogativa de função no RS.
c) Deputado Estadual (art. 25 e 27, §1º, CF): embora a prerrogativa do Deputado Estadual não esteja explícita na CF, tem prevalecido o entendimento de que sua prerrogativa decorre da CF, pois o Deputado Federal tem prerrogativa estabelecida na CF e, em virtude da simetria, estaria garantido tudo que se aplica ao Deputado Federal, também, para o Deputado Estadual.
6.4.2. Corréu com Prerrogativa de Função
Quando há um corréu com prerrogativa de função o processo tramita no órgão competente do sujeito que tem a prerrogativa de função. Houve discussão com relação a isso, pois, segundo o entendimento de alguns, haveria uma violação do juiz natural, no entanto, o STF editou a súmula 704 e decidiu que isso não violaria o princípio do juiz natural.
Súmula 704, STF: não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.
Há, no entanto, duas exceções, que são quando existe um crime doloso contra a vida e quando se quiser aplicar o art. 80 do CPP. No caso de existir crime doloso contra a vida, o julgamento será separado, ou seja, havendo alguém com prerrogativa de função, esse será julgado pelo órgão competente em razão da sua prerrogativa e os demais serão julgados no 1º grau (ex.: caso boate Kiss – Prefeito foi julgado pelo TJ enquanto os demais foram julgados pelo Júri). Já o art. 80 do CPP diz que o juiz deveria reunir os processos, mas se ele achar conveniente separar ele poderá, ou seja, esse dispositivo dá um espaço para o juiz decidir no caso concreto, isto é, se aquele caso tem que ser julgado junto ou separado.
7. Competência Territorial: Competência Ratione Loci (art. 70 e seguintes, CPP) – Foro Competente
Qual a Comarca ou a Subseção que julgará determinado caso criminal.
	1ª Regra
	Regra Geral
Teoria do Resultado
(art. 70 CPP e art. 14, I, CP): onde aconteceu o crime, ou seja, onde se consumou o crime será onde o processo irá tramitar. Essa é a teoria que o Brasil adota. Essa teoria traz uma regra de competência relativa, que se não for observada causa uma nulidade relativa e como não é um regra absoluta pode ser prorrogada.
	Exceção
Teoria da Atividade (art. 70 CPP, parte final): lugar emque for praticado o último ato de execução, ou seja, aplica-se quando não há o resultado, apenas os atos executórios. É o caso dos crimes tentados.
OBS.: nos crimes de homicídio, em que a vitima só morre em outra Comarca, aplica-se essa teoria (ex.: boate Kiss – várias vítimas foram transferidas para outros hospitais e vieram a falecer).
Teoria da Ubiquidade (art. 70, §1º e 2º do CPP e 6 CP): utiliza tanto a teoria do resultado quando a da atividade nos casos de crimes a distância e transnacionais.
	2ª Regra
	
Domicílio do Réu: aplica-se a regra do domicílio ou residência do réu (onde o réu mora), se não se sabe o lugar da infração (art. 72, caput, CPP). Além disso, pode-se aplicar a regra do domicílio do réu no caso das ações penais privadas, mesmo sendo conhecido o local do ato (art. 73, CPP).
	3ª Regra
	
Prevenção* (art. 83, CPP): o juiz prevento é aquele que teve o primeiro contato com o processo, ou seja, teve o primeiro ato decisório no processo. Prevento poderá ser o juiz que recebe a denúncia, que decreta a prisão, que decreta a busca e apreensão, a interceptação telefônica, etc. Isso ocorrerá nos seguintes casos:
a) quando sabe-se o local do crime, porém não conseguimos definir a qual Comarca que pertence o local do crime, pois o crime dá-se no limite territorial entre duas ou mais jurisdições ou quando o crime ocorrer nas divisas de duas ou mais jurisdições (art. 70, §3º, CPP). Ex.: crime que ocorre no meio do campo.
b) crimes permanente e crimes continuados (art. 71, CPP e 71, CP): ex.: crime de sequestro – por ser um crime permanente ele está em permanente consumação. Dessa forma, não há como aplicar a teoria do resultado. Nesse caso, portanto, aplica-se a teoria da prevenção, pois pode ser julgado em qualquer lugar que ocorreu.
O crime continuado é uma ficção legal (art. 71, CP), pois o autor do fato pratica diversas vezes o mesmo crime, em razão disso ele deferia responder por cada crime cometido. Porém, a lei criou uma ficção legal, ou seja, é como se o sujeito, num único dia, tivesse cometido todos os crimes, em razão disso, ele responderá e terá a pena de um crime com um acréscimo correspondendo aos demais crimes.
c) se desconhecido o lugar da infração e réu com pluralidade de residências (art. 72, §1º, CPP)
d) se desconhecido o lugar da infração e réu sem residência certa ou ignorado o paradeiro (art. 72, § 2º, CPP)
* A prevenção é um critério de definição de competência no processo penal, ou seja, o juiz que primeiro decide na fase do inquérito será competente para julgar o processo. Porém, muito se critica isso, pois a prevenção deveria ser um critério de exclusão da competência em razão de o juiz que decretou a prisão na investigação, por exemplo, já esta contaminado de certa forma.
7.1. Situações Específicas
a) Competência Brasileira para Crimes Consumados no Estrangeiro (art. 88, CPP e art. 7, CP): será competente o juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no Brasil, será competente o juízo da Capital da República.
b) Competência Territorial para Crimes Consumados em Navios ou Aeronaves (art. 89 e 90, CPP): os crimes cometidos em qualquer embarcação nas águas territoriais da República, ou nos rios e lagos fronteiriços, bem como a bordo de embarcações nacionais, em alto-mar, serão processados e julgados pela justiça do primeiro porto brasileiro em que tocar a embarcação, após o crime, ou, quando se afastar do País, pela do último em que houver tocado.
Os crimes praticados a bordo de aeronave nacional, dentro do espaço aéreo correspondente ao território brasileiro, ou ao alto-mar, ou a bordo de aeronave estrangeira, dentro do espaço aéreo correspondente ao território nacional, serão processados e julgados pela justiça da comarca em cujo território se verificar o pouso após o crime, ou pela da comarca de onde houver partido a aeronave.
8. Juízo Competente
Definida a Comarca temos que definir qual a Vara que o processo irá tramitar.
a) Vara do Júri (art. 5º, XXXVIII, CF e art. 74, CPP): se o processo for relacionado a um crime que tenha que ser julgado pelos Jurados ele será distribuído na Vara do Júri. Os crimes de competência da Vara do Júri são os crimes dolosos contra a vida, tanto na forma consumado ou tentado, que são: aborto, homicídio, infanticídio e instigação ao homicídio. Havendo algum desses crimes a competência será da Vara do Júri.
OBS.: Importante lembrar que esses crimes não precisam ter, necessariamente, como resultado morte. São crimes que o bem jurídico protegido é a vida. Latrocínio, por exemplo, não vai a Júri.
A competência da Vara do Júri é estabelecida na CF, em razão disso, se for violada essa competência haverá uma nulidade absoluta.
b) Juizado Especial Criminal (art. 65, Lei 9.099/95): se houver infração de menor potencial ofensivo a competência será do Juizado Especial Criminal. As infrações de menor potencial ofensivo são os crimes ou contravenções com pena máxima igual ou inferior a 2 anos (ex.: art. 330, CP). A competência do Juizado também esta prevista na CF (art. 98, I, CF), em razão disso, se essa competência não for respeitada haverá uma nulidade absoluta.
c) Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (Lei 11.340/06): se o crime for crime que configura violência doméstica a competência será desse Juizado Especializado criado pela Lei Maria da Penha.
d) Varas Especializadas: há a possibilidade de haver Varas Especializadas, como é o caso em Porto Alegre, no Foro Central, que tem a Vara de Delitos de Trânsito. Portanto, havendo uma Vara Especializada para determinada matéria o processo deve ser dessa competência.
e) Prevenção (art. 83, CPP): se não houver nenhuma das situações anteriores temos que analisar se existe prevenção, ou seja, se tiver algum Juiz prevento o processo deve ser de competência desse Juiz.
OBS.: o Juiz plantonista não fica prevento. 
f) Distribuição (art. 75, CPP): se não tem nenhuma das hipóteses acima e nem prevenção o processo tem que ir para distribuição e qualquer uma das Varas competentes podem receber aquele processo criminal.
9. Critérios de Modificação de Competência: Conexão e Continência (art. 76 e 77, CPP)
São vínculos existentes entre pessoas e/ou entre crimes que justificam um julgamento único modificando a competência para julgamento se tais crimes ou pessoas fossem julgados separadamente. Conexão e Continência são critérios de modificação de competência porque se não existisse conexão entre os crimes eles seriam julgados separadamente. O motivo do julgamento em conjunto de dois ou mais crimes que tenham conexão é para a melhor produção da prova e para a preservação da coerência das decisões.
9.1. Conexão (art. 76, CPP)
Há, necessariamente, uma pluralidade de condutas, ou seja, esta sempre ligada a mais de um crime.
a) Intersubjetiva: conexão entre sujeitos, ou seja, mais de um crime cometido por mais de uma pessoa.
- Por Simultaneidade: crimes cometidos ao mesmo tempo, mas sem previa combinação entre os sujeitos, ou seja, foi uma coincidência que os crimes aconteceram ao mesmo tempo. Ex.: dá uma briga em um bar e ocorre um crime de lesão e outro de furto em razão da confusão causada pela briga.
- Por Concurso ou Concursal: há um ajuste, uma combinação entre os agentes para o cometimento dos crimes e, neste caso, os crimes não precisam ser simultâneos e nem com a intervenção ou execução de todos os sujeitos objetivamente. Ex.: caso Bruno.
- Por Reciprocidade: a vítima de um crime é autora de outro e a autora do outro crime e vítima do outro crime (crime 1 – autor A e vítima B; crime 2 – autor B e vítima A), as situações são recíprocas. Ex.: vizinha A perturba o sossego da vizinha B; outro dia B perturba o sossego de A.
b) Teleológica ou Finalista: um crime tem um objetivo/finalidade em outro crime, ou seja, um crime é cometido para garantir a impunidade ou a descoberta do outro crime. Ex.: ocultação de cadáver.
c) Instrumental ou Probatória: quando doiscrimes são apurados juntos unicamente para facilitar a produção da prova.
Concurso de Crimes
- Concurso Material: art. 69, CP - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.
- Concurso Formal: art. 70, CP - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
9.2. Continência: Unidade de Conduta (art. 77, CPP)
Há uma unidade de conduta.
a) Por Cumulação Subjetiva: mais de uma pessoa, mas há apenas um só crime.
b) Objetiva: é quando se tem uma única conduta que resultaria na prática de mais de um crime, mas que por ficção legal se considera como se tivesse sido praticado um único crime. É nessa continência que aplica-se a regra do concurso formal.
- Concurso Formal (art. 70, CP): uma conduta que origina vários crimes, mas que o sujeito responderá por um crime e mais um acréscimo
- Erro na Execução: art. 73, CP - quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. – Sempre aplica-se a pena como se o sujeito tivesse matado quem ele pretendia matar, mas que por um erro na execução do crime ele acabou tendo um resultado diferente. Se o sujeito atingir quem ele também queria (mata quem não queria, mas lesiona quem queria, por exemplo), ele responderá por concurso formal.
- Resultado Diverso do Pretendido: art. 74, CP - fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.
9.3. Foro Prevalente: Vis Attractiva (art. 78, CPP)
É o foro que vai prevalecer na definição da competência nos casos em que há conexão ou continência exercendo a vis attractiva, ou seja, atraindo os demais crimes e/ou sujeitos para um julgamento único. Isto é um dos crimes irá prevalecer na regra de competência.
a) Tribunal do Júri (art. 78, I, CPP): quando há um crime de competência do Tribunal do Júri essa competência irá prevalecer sob os demais crimes, pois esses crimes exercem a vis attractiva. Com isso chegamos à conclusão que o Júri não julga apenas os crimes dolosos contra a vida, mas também aqueles que forem conexos a esses crimes.
b) Jurisdições de Igual Categoria – Graduação (art. 78, II, CPP): é quando há juízes na mesma situação, na mesma graduação. Nesse caso, prevalece o critério do crime com a pena mais grave; se não for possível passa para o critério de maior número de infrações e, não sendo possível ainda, utiliza-se o critério da prevenção. Ex.: assalto (art. 157) em Canoas e em Porto Alegre que são conexos – a pena é a mesma, o número de infração é a mesma, mas o juiz prevento é o de Canoas.
OBS.: súmula 122, STJ – quando houver conexão entre um crime da Justiça Federal e outra da Estadual prevalecerá a competência da Federal. Não há uma hierarquia entre uma e outra Justiça, mas o STJ entende que se há conexão entre os crimes Estaduais e Federais a competência prevalecente é da Federal. Ex.: quadrilha assalta Bradesco, Santander, Banco do Brasil e CEF – prevalece a competência da Justiça Federal.
c) Jurisdição de Diversas Categorias (art. 78, III, CPP): se houver juízes de diferentes categorias como, por exemplo, Desembargador que tenha que ser julgado com um Juiz, prevalece a competência do Juiz de maior categoria, exceto nos casos de Júri que se entende que quem não tem a prerrogativa de função estabelecida na CF será julgado separado pelo Tribunal do Júri e quem tem prerrogativa será julgado pelo juiz competente da sua função.
d) Justiça Especializada (art. 78, IV, CPP): quando tiver a Justiça Comum e a Justiça Especializada prevalecerá a competência da Justiça Especializada. Essa regra só se aplica para a Justiça Eleitoral. Portanto, quando houver um crime comum junto com um crime eleitoral, ambos serão julgados pela Justiça Eleitoral, exceto se o outro crime for militar, que o outro crime seja de competência da Justiça Federal ou do Júri.
Ex.: compra de votos + homicídios = compra de votos será julgado pela Justiça Eleitoral e o homicídio pelo Júri.
Ex.: compra de votos + lesão corporal = a competência será da Justiça Eleitoral.
9.4. Hipóteses de Separação Processual – Cisão
Em alguns casos, mesmo que o crime tenha conexão ou continência, o Código estabelece a separação do julgamento, uma cisão processual, que em alguns casos é obrigatória e em outra é facultativa.
9.4.1. Separação Obrigatória (art. 79, CPP)
A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:
a) Justiça Militar (art. 79, I, CPP e súmula 90, STJ): sempre que houver um crime comum e um crime militar esses serão julgados separadamente. Isto é, o crime militar será de competência da Justiça Militar (só julga crimes militares) e o crime comum será de competência da Justiça Comum.
b) Ato Infracional (art. 79, II, CPP): a competência será do Juizado da Infância e da Juventude.
* OBS.: Justiça Militar e Ato Infracional justificam a separação do processo desde o início, ou seja, o processo já começa separado.
c) Doença Mental Superveniente (art. 70, §1º, CPP): réu foi citado corretamente e estava respondendo o processo, no entanto, no curso do processo, o réu tem uma doença mental. Nesse caso, o juiz manda fazer um exame e o processo não pode seguir até que a doença cesse.
d) Réu Citado por Edital (art. 79, §2º e art. 366, CPP): esse réu é considerado foragido e, por isso, não pode ser julgado a revelia, pois, não sendo citado, o processo desse réu não pode seguir. 
* OBS.: por doença mental superveniente ou por ter réu citado por edital a separação do processo se justifica posteriormente ao início do processo, ou seja, o processo inicia um só, em conjunto, por conta da conexão e da continência, mas surge algum motivo que justifica a separação do processo.
9.4.2. Separação Facultativa (art. 80, CPP)
Art. 80, CPP: Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
O juiz pode, quando houver conexão e/ou continência, mandar separar os processos caso ele julgue relevante e conveniente. 
10. Competência Absoluta e Relativa (art. 108 e 567, CPP)
a) Absoluta: a competência absoluta esta relacionada com a Justiça e o órgão competente, pois em ambos a determinação da competência tem origem constitucional, ou seja, é a CF que diz qual a Justiça competente e os órgão devidos as prerrogativas. Se esses regras não forem observadas há uma nulidade absoluta do processo. A competência absoluta pode ser arguida a qualquer tempo, inclusive depois do transito em julgado, por qualquer uma das partes, inclusive pelo juiz de ofício, podendo ser feita através de exceção de incompetência, por simples petição, por preliminar em recurso, por habeas corpus, por revisão criminal. Após o transito em julgado apenas a defesa pode discutir qualquer tipo de nulidade absoluta.
b) Relativa: esta relacionada às regras do foro e do juízo competenteque estão disciplinadas no CPP. O juiz pode reconhecer de ofício a incompetência relativa, pois é o primeiro a analisar o processo. A doutrina recomenda, no entanto, que isso ocorra no início do processo, pois depois começa a instrução probatória e, então, é preferível preservar o principio da identidade física do juiz.
Se o juiz não reconhecer a incompetência caberá as partes argüirem, sobretudo a defesa. Essa argüição deverá ser no primeiro momento em que a parte se manifesta no processo e deverá ser através de exceção de incompetência.
OBS.: a discussão sobre competência não suspende o processo. Em razão disso, o ideal é que ocorra no início do processo. Além disso, sendo reconhecida a incompetência se aproveitam apenas os atos postulatórios e instrutórios (art. 567, CPP) e não se aproveitam os atos decisórios (podem ser aproveitados, mas o juiz competente tem que ratificar aquelas decisões).
A doutrina critica esse artigo 567, pois se o processo está no lugar errado, no lugar incompetente, ele tem que ser refeito no lugar certo, principalmente se tivermos diante de uma nulidade absoluta porque o princípio do juiz natural garante a parte que seja processada e julgada perante o juiz natural, ou seja, todos os atos têm que ser no juiz competente. Por isso a doutrina diz que esse dispositivo só pode se aplicar para questões de competência relativa.
11. Exceção de Incompetência e Conflito de Jurisdição e Competência
11.1. Exceção de Incompetência ou Declinatória Fori (art. 108 e seguintes, CPP)
a) Arguição: a competência penal é a questão de ordem, pelo que deve ser reconhecida de ofício, inclusive a chamada incompetência relativa. Não sendo averbada ex officio pelo magistrado, caberá a exceção, oposta verbalmente ou por escrito, no prazo de defesa. Tratando-se de incompetência relativa, não sendo arguida no prazo de defesa prévia, ocorre a preclusão, assim como a impossibilidade de ser declinada de ofício se superada esta etapa.
b) Procedimento: deve ser oposta junto ao juiz da causa e autuada em apartado. Uma vez recebida, o magistrado ordenará a notificação do MP, prolatando decisão em seguida, não sem antes ouvir a parte contrária, se esta não for o Parquet.
c) Recurso: não cabe recurso da decisão que julgar improcedente a exceção de incompetência, podendo ser ajuizada habeas corpus ou arguida a matéria em preliminar de futura apelação. Sendo reconhecida a incompetência, cabível será a interposição de recurso em sentido estrito.
d) Efeitos: procedente a exceção, os autos são remetidos ao juízo competente, anulando-se os atos decisórios e aproveitando-se os instrutórios (art. 567, CPP). Esta disposição, em que pese o silêncio da lei, tem aplicação apenas nos casos de nulidade relativa, pois diante da incompetência absoluta, todos os atos devem ser reputados imprestáveis, devendo ser refeitos perante o juízo natural da causa.
11.2. Conflito de Jurisdição
Ocorre quando dois ou mais juízes se consideram, contemporaneamente, competentes ou incompetentes para tomar conhecimento do fato delituoso. Também se manifesta o conflito se existe controvérsia sobre a unidade de juízo, junção ou separação de processo, nas hipóteses de conexão e continência.
a) Espécies e Competência (súmulas 22, 59, 428, STJ)
- Positiva: dois ou mais juízes que se julgam competentes para conhecerem do fato.
- Negativo: os magistrados julgam-se incompetentes.
Tem legitimidade para suscitar o conflito a parte interessada, os órgãos do MP junto a qualquer dos juízes em dissídio e os juízes ou Tribunais em causa (art. 115, CPP).
b) Processamento: a arguição é feita mediante representação dos juízes em conflito ou requerimento das partes, podendo o conflito negativo ser suscitado nos próprios autos. Tratando-se de conflito positivo, o relator pode determinar que seja suspenso o processo.
II. RITOS PROCESSUAIS PENAIS (art. 394 e seguintes do CPP) – como o processo se desenvolve
1. Distinção entre Processo e Procedimento
Todos os casos penais são apurados dentro de um processo penal. Esse processo penal vai desde o momento que a denúncia ou queixa é oferecida até o momento que é sentenciado. Não importa o tipo de crime e nem a pessoa que esta sendo processada, todos os processos partem de uma acusação e vão ir até uma decisão judicial.
Todos os processos são as atividades das partes e do juiz que reconstroem os fatos, produzem a prova até uma sentença ser proferida, até a jurisdição ser prestada. O que muda é o procedimento, pois conforme o crime ou a pessoa que esta sendo julgada será um procedimento. Dessa forma, o procedimento é, justamente, a sequência dos atos processuais.
Paulo Rangel diz que “o processo, portanto, é a atividade desenvolvida pelo Estado-Juiz com a função de aplicar a lei ao caso penal concreto. O procedimento é a maneira como esta atividade irá se realizar e se desenvolver. Ou seja, o processo é o movimento na sua forma intrínseca; o procedimento é este movimento, porém visto de fora, extrinsecamente.”
Para Gustavo Badaró o “procedimento é uma sequência de atos unidos teleologicamente, visando a um fim comum, no caso a sentença.”
2. Noções Gerais sobre Procedimento Comum e Especial
a) Especial: é aquele especifico para determinados crimes ou determinadas pessoas, conforme previsão legal no CPP ou em lei especial, ou seja, quem dirá que há um procedimento especifico para aquele crime será a lei. Ex.: crimes dolosos contra a vida tem o procedimento especial do Tribunal do Júri; Lei 11.343/06 (crime de drogas); Lei 8.038/90 (lei que trata dos procedimentos nos Tribunais – quem tem prerrogativa de função é processado conforme essa lei).
b) Comum: se não houver um procedimento especial, o procedimento será o comum. Esse procedimento se divide em três: ordinário, sumário e sumaríssimo. O critério utilizado para definir o rito é a pena máxima para o crime que será processado. Dessa forma, será do rito ordinário quando o crime tiver pena máxima igual ou maior que 4 anos; será sumário quando o crime tiver pena máxima inferior a 4 anos; e sumaríssimo para os casos de menor potencial ofensivo (Lei 9.099/95) que são as infrações que tem a pena máxima igual ou inferior a 2 anos (art. 61, Lei 9.099/95). O rito sumaríssimo procede-se nos Juizados Especiais.
Art. 394, §1º, CPP: § 1o  O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo:
I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade;
II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade;
III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei.
Ex.: rito ordinário – crime de furto (art. 155, CP), roubo (art. 157, CP); rito sumário – crime de violação de sepultura (art. 210, CP); rito sumaríssimo – impedimento ou perturbação de cerimônia funerária (art. 209, CP).
Se houver mais de um crime na denúncia ou na queixa o rito que seguirá será o da soma das penas máximas.
3. Procedimento Comum: Rito Ordinário (art. 395 e seguintes do CPP)
3.1. Oferecimento da Denúncia ou da Queixa Crime (art. 41, CPP)
Art. 41, CPP: A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
Importante lembrar que o rol de testemunhas é facultativo, mas sempre que a acusação quiser ouvir testemunha é, necessariamente, no momento do oferecimento da denúncia ou da queixa que as testemunhas tem que ser arroladas.
No rito ordinário, o número de testemunhas é de até 8. Segundo o entendimento da jurisprudência é de que são 8 testemunhas por fato imputado.
3.2. Recebimento e Rejeição da Denúncia ou da Queixa Crime (art. 395, CPP)
a) Recebimento: é quando o juiz verifica a viabilidade da denúncia ou queixa e determina a citação do acusado. Nãohá recurso previsto na lei contra a decisão que recebe a denúncia ou queixa, pois o nosso Código é autoritário e não previu recurso para isso. Porém, essa decisão pode ser discutida, pode ser impugnada, por meio de habeas corpus para o trancamento da ação penal.
Além disso, a decisão do juiz que recebe a denúncia ou queixa tem que ser fundamentada, pois toda decisão tem que ser fundamentada. No entanto, esse não é o entendimento da jurisprudência. Pela jurisprudência, a decisão de recebimento da denúncia não precisa ser fundamentada.
Sendo recebida a denúncia ou queixa o juiz deve determinar a citação do acusado para apresentar resposta à acusação. Após, o processo volta concluso para o juiz e ele poderá absolver sumariamente ou marcar audiência. Se o juiz opta por marcar audiência essa tem que acontecer em 60 dias do dia em que o juiz a marca até a sua realização. Porém, esse prazo nem sempre é respeitado. Nesse caso, o que pode ocorrer é que o réu preso pode pedir a sua liberdade. 
b) Rejeição (art. 395, CPP): é quando o juiz, verificando alguma inviabilidade, rejeita a denúncia ou queixa. A decisão que rejeita a denúncia ou queixa pode ser atacada por recurso em sentido estrito. A rejeição tem que ser fundamentada. Sendo rejeitado a denúncia ou queixa o processo se encerra.
A acusação pode entrar com uma nova denúncia ou queixa, sobre os mesmos fatos, mas depende dos motivos pelos quais ela foi rejeitada anteriormente. Se a denúncia ou queixa foi rejeitada com base em aspectos formais não fará coisa julgada material.
No processo penal não tem a possibilidade de emendar a inicial. No entanto, o que pode ocorrer é de haver uma rejeição parcial da denúncia ou queixa. Ex.: duas pessoas são denunciadas, o juiz recebe quanto a um, mas não quanto ao outro; ou ainda, a pessoa é denunciado por dois crimes, mas o juiz recebe apenas com relação a um crime.
Art. 395, CPP: A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (I) for manifestamente inepta – pressuposto processual; (II) faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (III) faltar justa causa para o exercício da ação penal – condição da ação.
b.1) Inépcia (art. 41, CPP e 395, I, CPP): a denúncia e a queixa tem que seguir os requisitos do art. 41 do CPP. Se não seguir esse requisitos será uma denúncia ou queixa inepta, ou seja, não será uma denúncia apta a processar alguém. A denúncia ou a queixa tem que ser bem feitas porque ambas tem que viabilizar o direito de defesa do sujeito, em razão disso que devem ser observados os requisitos do art. 41 do CPP. Se a denúncia ou a queixa mal feita for recebida, o sujeito acusado tem que se manifestar sobre isso imediatamente, antes da sentença.
Art. 41, CPP: A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas – a denúncia ou queixa tem que conter a descrição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias. Se não houver será uma denúncia genérica, que é inepta, pois não obedece as regras do art. 41.
Quando o juiz rejeita a denúncia por inépcia, a acusação pode corrigir o fato que não estava adequado aos requisitos do art. 41 e oferecer nova denúncia, pois isso só faz coisa julgada formal.
A inépcia da denúncia ou da queixa é, também um pressuposto processual de validade objetivo.
b.2) Falta das Condições da Ação (art. 395, II, CPP): quando a acusação oferece a denúncia todas as condições da ação tem que ser cumpridas. No entanto, quem confere se essas condições foram cumpridas será o juiz. Se não forem cumpridas, o juiz rejeita a denúncia. No processo penal as condições da ação são:
- Legitimidade de parte: quem é a parte legitima para oferecer a denúncia ou a queixa. Ex.: ação penal privada subsidiária da pública – vítima não espera o prazo (6 meses) para o MP oferecer a denúncia e oferece a queixa-crime. Nesse caso, o juiz irá rejeitar porque a vítima não é parte legitima, pois quem tem que oferecer a denúncia é o MP.
- Possibilidade jurídica do pedido: o fato tem que ser aparentemente criminoso, isto é, não se processa alguém por um fato que não é crime (ex.: prostituição ou caso de insignificância – furto caneta BIC). Essa condição faz coisa julgada material, ou seja, a acusação não pode oferecer nova denúncia.
- Interesse de agir: o processo tem que ter alguma utilidade no final, ou seja, tem que haver a possibilidade de uma punibilidade concreta. Ex.: prescrição – nos crimes prescritos não há a possibilidade de punição concreta. Essa condição também faz coisa julgada material.
- Justa causa: para processar alguém tem que haver elementos mínimos de autoria e materialidade. É para essa condição que serve o inquérito. Nesse caso, se o juiz rejeita a denúncia com base nesse fundamento, a acusação só poderá oferecer nova denúncia, sobre o mesmo fato, se surgir nova prova, novo elemento que justifique o que antes não existia (autoria ou materialidade).
- Condições de procedibilidade: são condições especiais da ação que só existem para determinados crimes. Ex.: requisição do Ministro da Justiça ou Representação da vítima, crime contra propriedade privada que precisa de laudo.
b.3) Falta da Pressuposto Processual
Para o processo existir e ser válido têm algumas coisas que são pressupostos, que tem que ter. Os pressupostos processual dividem-se em de existência e da validade. Se os pressupostos de existência não existirem não há processo, por outro lado, se os de validade não existirem há processo, mas ele será nulo.
Nem todos os pressupostos processuais são verificados no momento da rejeição da denúncia e a falta deles ou de um deles nem sempre causará a rejeição da denúncia.
b.3.1) Pressupostos de Existência: para começar a falar em processo tem que haver um órgão investido de jurisdição e um ato de pedir em juízo, ou seja, tem que haver uma provocação perante o Poder Judiciário, perante um órgão investido de jurisdição.
b.3.2) Pressupostos de Validade
b.3.2.1) Objetivos: está relacionado com o próprio processo. A acusação tem que ser conforme art. 41, CPP, se não for a acusação será inepta. A citação válida também é um pressuposto processual de validade, no entanto, esse pressuposto não é avaliado no momento processual em que o juiz recebe ou rejeita a acusação, mas posteriormente.
b.3.2.2) Subjetivos: está relacionado com as partes.
- Juiz: tem que ser um órgão investido de jurisdição, mas para esse órgão ser válido tem que ser um órgão compete e imparcial. O juiz avalia a competência no momento em que ele recebe ou rejeita de núncia, mas isso não é causa de rejeição da denúncia e sim de redistribuição.
A imparcialidade, por sua vez, esta ligada aos casos de impedimento e suspeição. A imparcialidade também não é causa de rejeição da denúncia, mas sim de redistribuição para o substituto legal do juiz impedido ou suspeito.
- Partes: para estar em juízo a parte precisa ter capacidade processual e capacidade postulatória.
3.3. Resposta à Acusação (art. 396 e 396-A, CPP; súmula 710, STF; art. 2º, §2º, Lei 9.613/98)
O juiz, recebendo a denúncia ou queixa, determina a citação do réu para apresentar a resposta à acusação. Essa resposta é uma peça processual firmada por Advogado e obrigatória no processo penal, pois sem resposta à acusação o processo não segue. Essa resposta à acusação tem que ser apresentada no prazo de dez dias, que são contados da ciência pessoal do réu (súmula 710, STF - no processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem).
É importante lembrar que o réu pode ser citado pessoalmente, por hora certa ou por edital. Se o réu é citado pessoalmente ou por hora certa, o prazo dele se inicia e ele tem que apresentar resposta à acusação. Nesse caso, se ele não apresenta resposta à acusação o processo não pode seguir, dessa forma, o juiz tem que nomear um Advogado(Dativo ou Defensor Público) que terá, a partir da nomeação, o prazo de 10 dias para apresentar a resposta em nome do réu. O processo, nesse caso, não se suspende.
Por outro lado, se o réu é citado por edital o processo se suspende, pois essa citação é ficta. Na citação por edital, após publicação do edital, aguarda-se por 15 dias para que o réu apareça e/ou constitua Advogado. Se assim fizer, inicia o seu prazo de 10 dias para apresentar a resposta. Se o réu não aparece, o processo fica suspenso, exceto se esse sujeito estiver sendo processado por um crime de lavagem de dinheiro.
A resposta à acusação tem que conter as preliminares, as questões de mérito e as provas que o sujeito pretende produzir. Essa resposta tem que ser uma petição consistente porque será no momento posterior a sua apresentação que o juiz analisará a possibilidade de absolver sumariamente o réu. As preliminares são todas as questões que, se acolhidas, tornam prejudicial o processo, ou seja, dispensam o exame do mérito naquele momento ou para sempre (ex.: incompetência absoluta, prescrição, condição da ação, inépcia da denúncia ou queixa). O mérito refere-se a autoria e a materialidade de um fato típico, ilícito e culpável em um crime. Já com relação as provas, o sujeito tem que prevenir-se para caso não seja absolvido sumariamente, dessa forma, tem que especificar todas as provas que pretende produzir e arrolar, inclusive, as testemunhas (que são 8 testemunhas por fato, segundo a jurisprudência).
Além disso, será junto com o prazo da resposta que o réu poderá apresentar alguma exceção, se for o caso (ex.: exceção de suspeição, litispendência, coisa julgada, incompetência). A resposta e a exceção são duas peças separadas que ficam em apenso.
3.4. Absolvição Sumária (art. 397 e 399, CPP)
Art. 397, CPP: Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: (I) a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; (II) a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; (III) que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou (IV) extinta a punibilidade do agente.
A absolvição sumária é um decisão de mérito assim como se fosse a absolvição ao final do processo. Essa absolvição faz coisa julgada material e o sujeito esta absolvido daquele fato imputado para sempre.
A extinção da punibilidade são as situações em que se extingue, para o Estado, a possibilidade de punir o sujeito (ex.: prescrição). As causas de extinção da punibilidade estão previstas no art. 107 do CP�. Essa extinção não avalia o mérito do processo (culpa ou inocência), mas reconhece a impossibilidade de punição. Então, é uma decisão em que o juiz apenas declara que esta extinta a punibilidade. No entanto, essa decisão também tem força de decisão de mérito e, por consequência, também faz coisa julgada material.
3.5. Audiência de Instrução e Julgamento (art. 400 ao 405, CPP; art. 159, §5º, I, CPP; art. 185, CPP)
É a audiência una que serve para instruir e julgar o processo. No entanto, é possível que essa audiência seja fracionada, sem que isso cause alguma nulidade do processo. É nesse audiência que haverá a produção da prova, que se inicia com a oitiva do ofendido.
a) Ofendido (art. 201 e seguintes do CPP): o ofendido não é testemunha, mas é obrigado a comparecer; se não comparece o juiz pode mandar conduzi-lo.
b) Testemunhas de Acusação e de Defesa: após o ofendido são ouvidas as testemunhas de acusação e, após, as testemunhas de defesa, nessa ordem, necessariamente. Porém, essa ordem poderá ser modificada quando a defesa concorda na inversão da ordem ou quando há inquirição por carta precatória. No caso das precatórias, normalmente o juiz as expede quando marca a audiência e, junto, dá um prazo para o cumprimento das precatórias. O juiz não precisa esperar o retorno das precatórias para sentenciar o processo (art. 222, §2º, CPP).
c) Peritos, Acareação (art. 229, CPP) e Reconhecimentos (art. 226, CPP): os peritos podem ser ouvidos em audiência. A perícia vem em um documento escrito, mas se as partes entenderem que algum esclarecimento pode ser dado, elas podem pedir que eles comparecem em audiência. Esse pedido, no entanto, tem que vir aos autos, no máximo, até 10 dias antes da audiência e junto as partes tem que enviar os quesitos/perguntas que serão formuladas, pois eles podem responder por escrito. A acareação poderá ocorrer quando duas testemunhas prestaram depoimentos divergentes, podendo ser solicitado pelo juiz ou por qualquer uma das partes.
d) Interrogatório: depois que toda essa prova tiver sido produzida, o interrogatório será realizado. O interrogatório é o último ato da instrução. Essa mudança ocorreu em 2008. O réu é interrogado segundo as regras do art. 185 e seguintes do CPP.
e) Diligências Finais: após toda prova ter sido produzida e do réu ter sido ouvido, o juiz pergunta se as partes tem alguma diligência final, ou seja, o processo já está pronto para ser julgado e o juiz questiona se há, ainda, algum elemento essencial que precisa vir para os autos antes de ser sentenciado. Se as partes disserem que há diligências finais o juiz irá apreciar o pedido, que poderá ser negado ou deferido. Ex.: no dia da audiência chegou a informação de que tinha uma câmara de vigilância no local do crime; pedido para ouvirem as testemunhas referidas.
As diligências finais tem que ter surgido da instrução. Se a prova poderia ter sido pedido já na resposta à acusação e não foi pedida, o juiz poderá indeferi-la. Se o juiz defere a diligência final a audiência não prossegue, ocorre o fracionamento da audiência, pois aguarda-se aquela diligência final.
f) Debates Orais: se não há diligências finais ou se o juiz a indefere a audiência prossegue. O próximo passo serão os debates orais que são no tempo de 20 minutos prorrogáveis por mais 10 minutos. Se tiver mais de um réu, o tempo é individual para cada um.
Se os debates não acontecerem o Juiz pode substituir por memoriais escritos, nesse caso, as partes terão o prazo sucessivo de 5 dias para apresenta-los (art. 403, §3º, CPP), ou seja, primeiro a acusação e depois a defesa. Tem-se entendido que o prazo para os memoriais não são individualizados, dessa forma, será 5 dias para todos os réus e, em razão disso, os autos ficam em cartório.
Art. 403, §3º, CPP: O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.
f) Sentença: se os debates são orais a sentença é oral. Se os debates são substituídos pelos memoriais escritos, a sentença será escrita.
4. Procedimento Comum: Rito Sumário (art. 531 a 538, CPP)
É quase igual ao procedimento ordinário, há apenas quatro diferenças, que são: o número de testemunhas (que no sumário são 5), a audiência deve se realizar em 30 dias, não há previsão de diligências finais e não há previsão de memoriais escritos.
O rito ordinário processa crimes mais complexos, em razão disso é um rito mais demorado, mais detalhado e com mais testemunhas. Já o rito sumário tem abrangência para crimes com pena menor e, por isso, será um rito mais célere. No sumário, todos as provas deveriam ser realizadas na própria audiência, mas isso não significa que se o juiz autorizar que uma prova seja produzida no final ou que os memoriais sejam escritos que isso gerará uma nulidade processual.
5. Procedimento Comum: Rito Sumaríssimo (Lei 9.099/95; art. 98, I, CF)
É um procedimento que foi instituído pela Lei 9.099 que é de 1995, mas desde a CF de 1988 já há a previsão de uma nova forma de processamento para os crimes de menor potencial ofensivo (crimes ou contravenções onde a pena máxima seja igual ou inferior a 2 anos0029. A Lei 9.099 tenta trazer um rito mais compatível com o tipo de infração. Essa lei traz um rito praticamente oral, que se resolve em audiênciainformal. Essa lei inovou em muitos aspectos, trouxe uma nova forma de processar, como por exemplo a oitiva do ofendido ao final (fato que só foi modificado no ordinário após a reforma de 2008 no Código). Porém, essa lei trouxe para o Poder Judiciário situações que antes não chegavam até o Poder Judiciário (ex.: brigas de vizinhos).
O termo circunstanciado é a forma de investigação dos crimes de menor potencial ofensivo, que se resumo no boletim de ocorrência, sem uma investigação mais detalhada.
5.1. Critérios que Originam o Rito Sumaríssimo
Art. 62, Lei 9.099/95: o processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.
Os critérios do rito sumaríssimo são: oralidade, informalidade, economia processual e celeridade. A oralidade nesse rito será que a denúncia será oferecida na forma oral, a defesa se dará oralmente, debates orais e sentença oral. A informalidade está relacionada com a questão de que no JECrim não há citação por edital, a questão da expedição das precatórias se dá de uma forma mais informal com comunicação direta entre as Comarcas, a sentença e o acórdão dispensam relatório. Os eventos da informalidade se aplicam na economia e na celeridade, mas há, além disso, a questão do termo circunstanciado em que a investigação é mais célere, uma audiência preliminar e outra de instrução e julgamento.
Já os objetivos desse rito são: reparação dos danos e aplicação de pena não privativa de liberdade. A reparação dos danos está voltada para a vítima e a pena não privativa de liberdade está voltada para o autor do fato. Portanto, essa lei objetiva conciliar duas questões, isto é, que a vítima tenha o seu dano reparado e que o autor do fato seja penalizado pela sua conduta, sendo a pena de prisão a última opção. Com relação a vítima essa lei inovou nesse ponto, pois ela trouxe a vítima para o processo penal, que até então a vítima tinha uma dificuldade de participação no processo. Com relação a penalização do autor do fato, essa lei trouxe as medidas despenalizadoras, que são acordos entre a vítima e o autor do fato ou entre o autor do fato e o MP para impedir ou suspender o processo, ou seja, para que não haja processo. Essas medidas são uma maneira de atender tanto a vítima quanto o autor do fato, pois a vítima com o acordo terá a reparação dos seus danos, já para o autor do fato com o acordo ele não terá o processo.
Os acordos dessas medidas são: a composição (entre a vítima e o autor do fato), a transação (entre o MP e o autor do fato) e a suspenção condicional do processo (entre o MP e o autor do fato já como denunciado). A composição e a transação impedem o processo, ou seja, o processo não se inicia. Já a suspensão o processo se suspende, ou seja, já existe processo.
5.2. Conceito de Infrações Penais de Menor Potencial Ofensivo
Art. 61, Lei 9.099/95: consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.
Sendo uma infração de menor potencial ofensivo as consequências serão que o processo será de competência do Juizado Especial Criminal, que seguira o rito sumaríssimo e, ainda, será possível uma medida despenalizadora. Ex.: art. 250, §2º, CP – incêndio culposo.
Os crimes que se enquadram na Lei Maria da Penha não se aplicam a Lei do Juizado Especial Criminal.
Art. 41, Lei 11.340/06: Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Esse artigo já foi discutido no STF, por meio da ADI 4.424 e da ADC 19 e teve confirmada a constitucionalidade do artigo, ou seja, o STF disso que o art. 41 da Lei 11.340/06 é constitucional e que nos casos da Lei Maria da Penha nãos e aplica a Lei do JECrim. Portanto, se houver um crime, por exemplo, de ameaça entre o casal, será competente o Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e nesse Juizado não se aplicará o rito sumaríssimo e nenhuma das medidas despenalizadoras, para acabar com a história de que o homem que bate na mulher pagava uma cesta básica e estava tudo resolvido. Portanto, caso de violência doméstica a infração será processada no Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra Mulher, segundo o rito sumário ou ordinário, dependendo da infração cometida, e não será possível nenhuma media despenalizadora.
Se houver mais de uma infração de menor potencial ofensivo (ex.: incêndio culposo + ameaça) que forem conexas, que tenham que ser processadas juntas, soma-se as penas máximas e se essa soma ultrapassar os dois anos não será competência do JECrim e, logo, não seguirá o rito sumaríssimo.
Lei 11.343/06: a lei de drogas não descriminalizou o consumo individual da droga. O que a lei fez foi trazer penas que não são penas de prisão, ou seja, houve uma descarcerização e não uma despenalização. As consequências dessa conduta é de que quem for pego portando ou em alguma das situações do art. 28 da lei, será encaminhado para o JECrim.
Art. 90-A, Lei 9.099/95: As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar.
5.3. Definição da Competência
a) Competência Absoluta em Razão da Matéria (art. 98, I, CF): sempre que houver uma infração de menor potencial ofensivo deverá ir para o JECrim, à exceção dos casos de conexão, continência ou prerrogativa de função. Em caso de inobservância dessa regra isso gerará uma nulidade absoluta, pois a CF que determina que as infrações de menor potencial ofensivo vão para o JECrim e que tramitam pelo rito sumaríssimo.
b) Competência em Razão do Lugar (art. 63, Lei 9.099/95): a competência será do lugar em que foi praticada a infração. Isso traz uma divergência na doutrina, pois existe a dúvida sobre qual o lugar da prática da infração, uns dizem que o lugar é o da ação, outros dizem que é o lugar da ação e do resultado. Dessa forma, não existe nada expresso que defina essa aplicação.
c) Conexão (art. 60, p. único, Lei 9.099/95): quando um caso de menor potencial ofensivo tiver que sair do JECrim por força da conexão ou continência, segue sendo possível a composição e a transação.
5.4. Procedimento
O procedimento do JECrim é composto por duas audiências, uma preliminar e outra audiência de instrução e julgamento.
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5.4.1. Audiência Preliminar
Essa audiência ocorrerá logo após o termo circunstanciado chegar ao foro.
a) Tentativa de Composição: nessa audiência, o primeiro ato será a tentativa de composição através de umas das três medidas despenalizadoras (composição, transação e a suspensão condicional do processo). Essas três medidas sempre serão oferecidas na ordem.
A composição só será possível nos crimes que procede-se mediante ação penal privada ou ação penal pública condicionada à representação, pois a composição tem o poder de encerrar o processo criminal. Se a ação não se tratar de um crime que se proceda mediante uma dessas ações, a audiência já inicia com a proposta de transação, ou seja, se for um crime de ação penal incondicionada pula-se a composição e vai direto para a transação. No entanto, na prática, alguns juízes, dependendo do caso, aplicam a composição, mas isso não proíbe o MP de agir. 
Se for um caso de ação condicionada a representação, a vítima poderá renunciar ao direito de representação sem que haja acordo, ou ainda, a vítima pode esperar até 6 meses (da ciência da autoria) para decidir ser irá representar.
b) Transação: se não for caso de composição, passa-se para a transação, que é um segundo acordo. A transação, se for aceita, encerra-se a audiência ali; se não for aceita porque o MP não ofereceu ou porque o sujeito não aceito a transação, haverá o oferecimento da denúncia em audiência.
A composição e a transação acontecem antes do oferecimento da denúncia.

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