Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO ELEITORAL – JAIME BARREIROS NETO INTRODUÇÃO AO DIREITO ELEITORAL O Direito Eleitoral corresponde ao ramo do Direito Público diretamente relacionado à instrumentalização da participação política e à consagração do exercício do poder de sufrágio popular, de modo a que se estabeleça a precisa equação entre a vontade do povo e a atividade governamental. Assim, pode-se compreender o objeto do Direito Eleitoral como sendo a normatização de todo o chamado processo eleitoral. E o seu objeto como sendo a busca da garantia da normalidade e da legitimidade do exercício do poder de sufrágio popular, viabilizando a democracia. Poder de sufrágio compreende o poder inerente ao povo de participar da vida política do Estado. Esse poder de materializa, principalmente, mas não unicamente, através do voto. O voto é o grande instrumento através do qual temos a masterização do sufrágio. Porém, existem outras maneiras de participação. A Constituição de 1988 é uma constituição maximalista, em termos democráticos, com uma democracia participativa ou semidireta, que não se resume à participação política. Assim, o povo participa também através de plebiscito, referendo, iniciativa popular de lei. NORMALIDADE: Está presente quando não há vício ou fraude no processo de manifestação da vontade, quando todos os procedimentos são realizados da forma correta. Isto é, significa a plena garantia da consonância do resultado apurado nas urnas com a vontade soberana expressada pelo eleitorado. Na história do Brasil, a normalidade sempre encontrou desafios, haja vista até meados dos anos 1990, fraudes aconteciam devido ao voto em papel. OBS.: Boletim de Urna - Com o fim da votação no dia da eleição, o mesário presidente coloca um código na urna e o Boletim de Urna é impresso. O BU fica exposto dentro do local onde é feita a votação para visualização de quem tiver interesse. O boletim contém o resultado completo da votação em cada urna, isto é, quantos votos cada candidato teve. Esse BU, que é impresso pela própria urna, tem o resultado exato de votos recebidos pelos candidatos. Só depois é que os dados são copiados para um dispositivo parecido com um pendrive e enviados para a Justiça Eleitoral. LEGITIMIDADE: Vai além do aspecto formal de se evitar uma fraude; materialmente consiste em uma garantia à plena autonomia do eleitor. O eleitor precisa exercer seu voto com total autonomia e liberdade, sem qualquer pressão ou mando. Somente em uma democracia há preocupação com a legitimidade material. Assim, representa o reconhecimento de um resultado justo, de acordo com a vontade soberana do eleitor. OBS.: A competência privativa para legislar sobre Direito Eleitoral é da União, segundo o art. 22, da Constituição Federal. FONTES DO DIREITO ELEITORAL: Constituição Federal, 0 Código Eleitoral, a Lei das Eleições (Lei n°. 9.504/97), a Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar n°. 64/90), a Lei dos Partidos Políticos (Lei n°. 9096/95), além das resoluções do Tribunal Superior Eleitoral. Art. 105, Lei nº 9.504/97. Até 0 dia 05 de março do ano da eleição, 0 Tribunal Superior Eleitoral, atendendo ao caráter regulamentar e sem restringir direitos ou estabelecer sanções distintas das previstas nesta Lei, poderá expedir todas as instruções necessárias para sua fiel execução, ouvidos, previamente, em audiência pública, os delegados ou representantes dos partidos políticos. O legislador, que 0 poder regulamentar da Justiça Eleitoral é limitado, não podendo estabelecer restrições a direitos sem embasamento legal. DEMOCRACIA COMO CONDIÇÃO À EXISTÊNCIA DO DIREITO ELEITORAL O Direito Constitucional serve para tratar da organização política da sociedade; estabelecer quais são os direitos, deveres e garantias fundamentais; e instrumentalizar a participação política. O Direito Eleitoral é decorrente do Direito Constitucional, em uma sociedade democrática preocupada com a legitimidade e que busca a igualdade política. Art. 1º, CF. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui- se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - A soberania - A soberania pertence ao povo; é o fundamento da participação política. II - A cidadania - Compreende o conjunto de direitos e deveres políticos fundamentais; é o que fundamenta o voto. III - A dignidade da pessoa humana - Consiste naquilo que é inerente à condição humana. A política é inerente à condição humana. IV - Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - O pluralismo político – Pode ser traduzido como a democratização, expansão do poder. Deve-se garantir a diversidade. FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS – Princípio republicano, igualdade e alternância do poder, pressupõe engajamento político. Federação é uma forma de repartição de poder, a participação política será repartida em seu exercício., de modo a garantir uma descentralização do poder. Fundamento democrático, básico do Direito Eleitoral. ROBERTO DAHL, SOBRE A DEMOCRACIA: Há cinco características fundamentais para caracterização do regime democrático: (1) Inclusão de adultos, isto é, de sufrágio universal, não devendo haver restrições desarrazoadas; (2) Participação efetiva de todos os membros da comunidade, que devem ter oportunidades iguais e efetivas para expressar suas opiniões; (3) Igualdade de voto, todos devem ter o mesmo poder de participação; (4) Controle do planejamento, ou seja, transparência pública, possibilidade de intervenção da sociedade no Estado, nas decisões políticas; (5) Educação, entendimento esclarecido. Portanto, democracia é um regime político fundamentado na ampla participação popular, na igualdade política, na transparência e no desenvolvimento do espírito crítico do povo. Segundo Giovanni Sartori, o ideal democrático não define a realidade democrática e, vice-versa. Uma democracia legítima não é, e não pode ser, igual a uma democracia ideal, vez que esta pauta- se em um conceito formal e estático. A democracia, dessa forma, deve ser estudada como um processo, em constante evolução e aprimoramento, para o qual todos devem contribuir. ESPÉCIES DE DEMOCRACIA A. DEMOCRACIA DIRETA – Caracterizada pelo exercício do poder popular sem a presença de intermediários. B. DEMOCRACIA INDIRETA (REPRESENTATIVA) – É o modelo marcado pela pouca atuação efetiva do povo no poder, uma vez que ao povo cabe apenas escolher, através do exercício do sufrágio, seus representantes políticos, periodicamente. C. DEMOCRACIA SEMIDIRETA (PARTICIPATIVA) – O povo exerce a soberania popular não só elegendo representantes políticos, mas também participando de forma direta na vida política do Estado, através dos institutos da democracia participativa (plebiscito, referendo e iniciativa popular de lei). INSTITUTOS DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - Plebiscito; II - Referendo; III - Iniciativa popular. Art. 2º, Lei nº 9.709/98. Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. A. PLEBISCITO – Deve ser convocado com anterioridade ao ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido. Parágrafo primeiro, art. 2º, Lei n°. 9.709/1998. B. REFERENDO – É convocado com posterioridade a ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição. Parágrafo segundo, art. 2º, Lei n°. 9.709/1998. Art. 3º, Lei nº 9.709/98. Nas questões de relevância nacional, de competência do Poder Legislativo ou do Poder Executivo, e no caso do § 3º do art. 18 da Constituição Federal, o plebiscitoe o referendo são convocados mediante decreto legislativo, por proposta de um terço, no mínimo, dos membros que compõem qualquer das Casas do Congresso Nacional, de conformidade com esta Lei. Art. 18, §3º, CF. Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir- se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. A incorporação de estados entre si, a subdivisão e 0 desmembramento para se anexarem a outros, ou formarem novos estados ou territórios federais, dependem da aprovação da população diretamente interessada. Aprovado 0 ato convocatório da consulta popular, 0 presidente do Congresso Nacional dará ciência à Justiça Eleitoral, a quem incumbirá, nos limites de sua circunscrição, fixar a data da consulta popular, tornar pública a cédula respectiva, expedir instruções, etc. O referendo pode ser convocado no prazo de trinta dias, a contar da promulgação de lei ou adoção de medida administrativa, que se relacione de maneira direta com a consulta popular (art. 11 da Lei n°. 9.709/98). O plebiscito ou referendo, convocado nos termos da citada lei, será considerado aprovado ou rejeitado por maioria simples, de acordo com 0 resultado homologado pelo Tribunal Superior Eleitoral (art. 10 da Lei n°. 9.709/98). C. INICIATIVA POPULAR DE LEI – Prerrogativa que o povo tem de apresentar projeto de lei que poderá, ou não, se tornar lei. A tramitação de projeto de iniciativa popular de lei federal sempre é iniciada na Câmara dos Deputados. Art. 13, Lei nº 9.709/98. A iniciativa popular consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. § 1º O projeto de lei de iniciativa popular deverá circunscrever-se a um só assunto. § 2º O projeto de lei de iniciativa popular não poderá ser rejeitado por vício de forma, cabendo à Câmara dos Deputados, por seu órgão competente, providenciar a correção de eventuais impropriedades de técnica legislativa ou de redação. LEGITIMIDADE DO EXERCÍCIO DO PODER DE SUFRÁGIO De acordo com Paulo Bonavides, 0 sufrágio é 0 poder que se reconhece a certo número de pessoas (o corpo de cidadãos) de participar direta ou indiretamente na soberania, isto é, na gerência da vida pública. SUFRÁGIO é o poder inerente ao povo de participar da gerência da vida pública. VOTO é o instrumento de materialização do sufrágio. E ESCRUTÍNIO é a forma como se pratica o voto, o seu procedimento. Assim, 0 poder de sufrágio pode ser exercido através do voto, por meio de escrutínio secreto. O sigilo do voto é garantido, no Brasil, através da inviolabilidade do emprego de urnas que assegurem a inviolabilidade do sufrágio. ESPÉCIES DE SUFRÁGIO - O que distingue 0 sufrágio universal do restrito não é 0 fato de existirem restrições ao exercício do poder democrático, mas sim a razoabilidade, ou não, de tais restrições. No sufrágio plural, um mesmo indivíduo tem 0 poder de exercer, mais de uma vez, 0 direito ao voto em um determinado processo eleitoral, fazendo com que 0 seu poder de sufrágio seja mais forte do que 0 de outros cidadãos. No sufrágio singular, cada cidadão deve corresponder a um único voto. PRINCÍPIOS DO SUFRÁGIO No Brasil vige 0 PRINCÍPIO DA IMEDIATICIDADE do sufrágio, segundo 0 qual 0 voto deve resultar imediatamente da vontade do eleitor, sem intermediários, bem como 0 PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE DO SUFRÁGIO, 0 qual impõe, dentro dos parâmetros da razoabilidade, 0 direito de sufrágio a todos os cidadãos. Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos (...) No entanto, é possível, excepcionalmente, o voto indireto, em caso de vacância concomitante dos cargos de prefeito e vice-prefeito ou governador e vice-governador, ou ainda presidente e vice- presidente da República, nos últimos dois anos de mandato, casos em que a Constituição determina a realização de eleições indiretas para os cargos vagos, a fim de que sejam completados os mandatos vagos. MANDATOS POLÍTICOS – REPRESENTAÇÃO POLÍTICA O mandato político é o instituto de direito público por meio do qual o povo delega, aos seus representantes, poderes para atuar na vida política do Estado. Inicialmente, a tradição civilista do mandato influencia decisivamente a concepção do mandato político. Com o filósofo inglês John Locke, no século XVII, a teoria do mandato político imperativo passa a ser difundida. Assim, corresponde ao processo político através do qual os eleitores conferem aos eleitos poderes condicionados, ou seja, sujeitando os atos de representação do mandatário à vontade do mandante. Já o mandato político-representativo segue a lógica de que há incompetência do povo para tratar de assuntos gerais, devendo assim ser eleitos representantes mais preparados e entendidos de tais questões, para 0 bem de toda a sociedade. São característicos do mandato representativo a generalidade, visto que o mandatário representa a nação em seu conjunto; a liberdade, vez que o representante exerce o mandato com inteira autonomia de vontade; a independência, que denota que os atos do mandatário se encontram desvinculados de qualquer necessidade de retificação por parte do mandante; e, por fim, a irrevogabilidade, haja vista o eleitor não poder destituir o mandatário “infiel”, como no mandato privado. Sob o argumento da necessidade de um maior controle por parte do eleitorado em relação às atitudes dos seus mandatários políticos, foi incluído na Lei nº 9.504/97 o inciso IX no art. 11, estabelecendo que os candidatos a cargos majoritários do Poder Executivo (prefeitos, governadores e presidente da república) deverão juntar, aos seus requerimentos de candidaturas, as suas propostas e projetos de campanha. Tal obrigação, ressalte-se, é imputável apenas a candidatos a cargos executivos. Art. 11, Lei 9.504/97. Os partidos e coligações solicitarão à Justiça Eleitoral o registro de seus candidatos até as dezenove horas do dia 15 de agosto do ano em que se realizarem as eleições. § 1º O pedido de registro deve ser instruído com os seguintes documentos: IX - propostas defendidas pelo candidato a Prefeito, a Governador de Estado e a Presidente da República. FUNDAMENTOS PRINCIPIOLÓGICOS DO DIREITO ELEITORAL PRINCÍPIOS DO DIREITO CONSTITUCIONAL QUE SE RELACIONAM AO DIREITO ELEITORAL 1. PRINCÍPIO REPUBLICANO – Um dos fundamentos estruturantes do Direito Eleitoral. Ideia do engajamento, participação, direitos fundamentais do cidadão. 2. PRINCÍPIO DA ALTERNÂNCIA DO PODER – Todos, em tese, são politicamente iguais. Os mandatos são temporários, havendo uma alternância periódica mandatária. 3. PRINCÍPIO DO PLURALISMO POLÍTICO – Pode ser traduzido como a democratização do poder, que não se revela no pluripartidarismo. O que deve ser garantido é que a complexidade da sociedade seja respeitada, assim como o direito à oposição. PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO DIREITO ELEITORAL 1. PRINCÍPIO DA LISURA DAS ELEIÇÕES – Esse princípio respalda-se na busca da verdade real, possibilitando até mesmo que o juiz produza provas de ofício, no processo eleitoral, a fim de formar o seu convencimento. Art. 23, Lei Complementar n° 64/90. O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos e notórios, dos indícios e presunções e prova produzida, atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas partes, mas que preservem o interesse público de lisura eleitoral. O juiz deverá, portanto, se ater a realidade dos fatos ao julgar o caso concreto, utilizando, para isso, o conhecimento de fatos públicose notórios. 2. PRINCÍPIO DO APROVEITAMENTO DO VOTO – O juiz deverá se abster de pronunciar nulidades sem prejuízo (in dubio pro voto). Art. 224, Lei nº 4.737/65 (Código Eleitoral). Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias. O TSE, abstendo-se de pronunciar nulidades sem prejuízo, de forma a valorizar a legitimidade da soberania popular, decidiu que o artigo 224 do Código Eleitoral não se aplica quando, voluntariamente, mais da metade dos eleitores decidirem anular 0 voto ou votar em branco, preservando, assim, a validade da eleição 3. PRINCÍPIO DA CELERIDADE – O processo eleitoral, como um todo, ocorre em menos de seis meses, contados do registro das candidaturas até a diplomação, 0 que exige que as decisões judiciais, em tal matéria, sejam rápidas. Art. 97-A, Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições). Nos termos do inciso LXXVIII do art. 5o da Constituição Federal, considera-se duração razoável do processo que possa resultar em perda de mandato eletivo o período máximo de 1 (um) ano, contado da sua apresentação à Justiça Eleitoral. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009) § 1º A duração do processo de que trata o caput abrange a tramitação em todas as instâncias da Justiça Eleitoral. § 2º Vencido o prazo de que trata o caput, será aplicável o disposto no art. 97, sem prejuízo de representação ao Conselho Nacional de Justiça. Como se observa, 0 legislador buscou evitar que políticos eleitos irregularmente possam continuar a exercer mandato eletivo por tempo demasiado, enquanto aguardam decisão transitada em julgado que acarrete a perda do mandato, violando a democracia. 4. PRINCÍPIO DA ANUALIDADE – Princípio importante para a estabilidade política do processo democrático. A regra presente no dispositivo abaixo é de não se mudar as regras em cima da hora. Art. 16, CF. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. Em 1990, o STF enfrentou esse tema em uma ADI. O Ministro Relator entendeu que “quando a Constituição fala em norma que vier a alterar norma de direito eleitoral, diz respeito somente às normas processuais eleitorais”. Em 2006, a matéria foi novamente objeto de análise pelo Supremo – Lei nº 11.300/06, que alterou regras da propaganda eleitoral. Essa lei impactava no processo eleitoral, que deveria ser interpretada como processo democrático, isto é, uma série de atos que visam a democracia. O STF entendeu que este princípio engloba tanto matéria de direito processual, quanto de direito material, e visa a não alteração da estabilidade democrática. . Nesse mesmo julgamento, o STF entendeu que nem tudo altera a estabilidade, tem certas mudanças que são válidas para todos, então tem que analisar no caso concreto o impacto dessa mudança. A conclusão foi que a Lei nº 11.300 poderia ser publicada em 2006 e ser aplicada às eleições do mesmo ano, porque muda apenas regras de propaganda e não impacta ninguém, o que, na visão de Jaime Barreiros, é um equívoco. Em junho de 2010, quando toda a movimentação política já estava firmada em torno de determinados candidatos, foi aprovada a Lei da Ficha Limpa, que afastaria várias pessoas que seriam potenciais candidatos naquela eleição. Terminou por prevalecer, naquela oportunidade, no âmbito do TSE, entretanto, 0 entendimento segundo 0 qual a aplicação imediata da nova lei não feria o princípio da anualidade, uma vez que ela não geraria desequilíbrio na disputa nem privilégios desmedidos a quaisquer candidatos, não se constituindo, assim, em fator perturbador do pleito, capaz de introduzir deformações capazes de afetar a normalidade das eleições. Todavia, o STF terminou por decidir, por 06 votos a 05, pela inaplicabilidade da lei da Ficha Limpa nas eleições 2010 (Tema de Repercussão Geral nº 387). CASO NOTÓRIO: Joaquim Roriz, ex-governador do Distrito Federal. já havia sido escolhido como candidato, com campanha na rua. Durante a campanha, porém, percebeu que a intenção do TSE era validar a Lei da Ficha Limpa. Com isso, Roriz renunciou a candidatura e colocou a sua esposa em seu lugar, porque sabia que ia ganhar, mas não ia exercer o cargo. Todavia, ela perdeu a eleição, os eleitores perceberam que ela não estava preparada. CASO NOTÓRIO: Jader Barbalho, senador do Pará. Buscava a reeleição, porém, de acordo com a Lei da Ficha Limpa, era considerado ficha suja. Ele concorreu, foi o mais votado no Pará, mas como o TSE entendeu que a Lei era aplicável, ele não foi declarado eleito, e os votos nele foram considerados nulos. Ele recorreu para o Supremo, e o STF entendeu que a Lei da Ficha Limpa não seria aplicável no ano de 2010, e deveria ser aplicável a partir de 2012. 5. PRINCÍPIO DA MORALIDADE ELEITORAL - No âmbito da Justiça Eleitoral há 0 debate acerca da aplicabilidade imediata ou não do artigo 14, § 9º, da Constituição, no que concerne à possibilidade de indeferimento do registro de candidatura de indivíduos que sejam considerados indignos e/ou imorais para concorrer nas eleições, independentemente de trânsito em julgado de sentença penal condenatória em seu desfavor, a partir da análise da vida pregressa. Esse debate se acirrou desde que foi promulgada a ECR 04/94, até a publicação da Lei da Ficha Limpa, em 2010. Art. 14, §9º, CF. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. Súmula n°. 13, Tribunal Superior Eleitoral. Eleitoral. Inelegibilidade. CF/88, art. 14, § 9º. Dispositivo não autoaplicável. Não é autoaplicável o § 9º art. 14 da CF/88, com a redação da Emenda Constitucional de Revisão 4/1994. A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) ajuizou, junto ao Supremo Tribunal Federal, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n°. 144, questionando a validade constitucional das interpretações emanadas pelo TSE relacionadas ao tema da inelegibilidade proveniente da análise da vida pregressa do candidato em face do disposto no art. 14, § 9° da CF/88, bem como arguindo a não recepção da Lei Complementar n°. 64/90 pela ECR 04/94 nos seus dispositivos que exigem 0 trânsito em julgado para efeito de reconhecimento de inelegibilidade. DIREITO ELEITORAL – II UNIDADE SISTEMAS ELEITORAIS A vontade popular, em uma democracia com representação política, puramente representativa ou semidireta, exige que haja uma disputa entre candidatos ao exercício dessa representação. Assim, os sistemas eleitorais consistem na fórmula que traduz a vontade popular em representação política, conforme entende Eneida Desiree Salgado. Assim, os sistemas eleitorais são mecanismos necessários para a definição daqueles que irão exercer, de forma efetiva e em nome do povo, o poder soberano, exercendo cargos políticos - Executivo e Legislativo -, definindo políticas públicas e determinando o futuro do país e o legado para as próximas gerações. Em suma, trata-se dos critérios (regras) utilizados para definir os vencedores da disputa eleitoral. Para Andrew Reynolds, Ben Reilly e Andrew Ellis, seis são os critérios a serem observados na concepção e construção de um sistema eleitoral: (01) Deve-se fornecer representação, podendo ser representação geográfica, ideológica, político- partidária, etc.; (02) As eleições devem ser acessíveis e significativas, uma vez que“eleições são muito boas, mas podem significar pouco para as pessoas se é difícil votar, ou se no fim das contas o seu voto não altera em nada o modo como o país é governado”; (03) Deve-se fornecer incentivos para a conciliação entre diferentes grupos de interesses; (04) Busca-se facilitar um governo estável e eficiente; (05) Pretende-se encorajar a formação e fortalecimento de partidos políticos; (06) Importa também promover oposição e fiscalização legislativa. EFEITOS DOS SISTEMAS ELEITORAIS Os sistemas eleitorais têm a capacidade de produzir efeitos anteriores e posteriores ao exercício do voto. Quanto a temática dos efeitos dos sistemas eleitorais, destacam-se as “LEIS DE DUVERGER”, desenvolvidas no século XX por Maurice Duverger (1917-2014), cientista político francês, as quais apontam para tendências nos sistemas partidários decorrentes dos sistemas eleitorais. POSSÍVEIS EFEITOS MECÂNICOS SOBRE O SISTEMA POLÍTICO Os efeitos mecânicos dizem respeito à relação entre o número de votos conquistados e o número de cadeiras obtidas por cada partido em uma eleição, decorrendo, portanto, da aplicação concreta das fórmulas eleitorais em um pleito. Verifica-se que a mudança de uma fórmula eleitoral pode gerar efeitos mecânicos, muitas vezes não calculados, sobre o sistema político como um todo, tais efeitos podem ser: (01) Incremento da representação, de modo a pluralizar o debate, fazendo com que as minorias sejam representadas – ou restringir, fazendo com que menos grupos da sociedade sejam representados, dando um menor acesso à arena decisória. (02) Acesso à arena decisória, assim, os sistemas eleitorais podem ampliar o acesso e a relevância das eleições; (03) Incentivos à convivência entre as pessoas, à pluralidade de opiniões entre diferentes, gerando efeitos conciliatórios, assim como instituir um processo eleitoral sustentável – ou o contrário; (04) Estabilidade dos governos, de maneira que os sistemas podem auxiliar a formação de governos estáveis e eficientes. Por exemplo, há a tendência de quanto menor o quadro partidário, maior a estabilidade governamental; (05) Impactos no sistema partidário: Os sistemas eleitorais podem fortalecer ou enfraquecer os partidos políticos. Por exemplo, os sistemas que adotam o princípio majoritário para a representação parlamentar, tendem a produzir um sistema bipartidário. LEIS DE DUVERGER – Demonstra que no sistema proporcional, existe uma tendência ao aumento do número de partidos, já no sistema majoritário, a tendência é a redução do quatro partidário. Nesse sentido, para Maurice Duverger, os sistemas majoritários de turno único tenderiam à formação de uma polarização entre dois grandes partidos em virtude de, neste tipo de sistema, muitas vezes partidos com razoável popularidade não elegem uma quantidade de representantes significativa ao seu desempenho eleitoral, uma vez que, em distritos uninominais, vence a eleição apenas um candidato, normalmente representante do partido mais forte, e, assim, todos os outros partidos deixam de ser representados na referida circunscrição. (06) Podem promover a oposição legislativa e os controles do executivo, além de poderem facilitar a accountability republicana - fiscalização e responsabilização constante no que se refere aos atos praticados por agentes públicos em virtude do uso do poder outorgado pela sociedade, fortalecendo a democracia; (07) Concentração ou dispersão do poder, de modo em que se apresenta possível, por exemplo, que o sistema eleitoral ajude uma nação a fortalecer sua posição internacional. EFEITOS PSICOLÓGICOS DOS SISTEMAS ELEITORAIS Os chamados efeitos psicológicos, anteriores ao voto, determinam o comportamento de eleitores, candidatos e partidos políticos no processo eleitoral. A. EFEITO DO “VOTO ÚTIL” Quanto ao fenômeno do “voto útil”, é verificado a influência psicológica do eleitor optar por votar em um candidato com mais chances de vencer, mesmo que este não seja o seu preferido, sob a crença de que isso faria com que sua participação tenha valor e que não seja desperdiçada, ou na hipótese de evitar determinado candidato vença. Todavia, em uma eleição de dois turnos, o fator psicológico do voto útil tende a ser minimizado, uma vez que o eleitor, na maioria das vezes, é convencido a dar o voto útil apenas no segundo turno. B. EFEITO BANDWAGON Também denominado de “efeito manada” ou “efeito adesão”, trata-se da tendência de que o eleitor vote, após acompanhar pesquisas eleitorais ou até mesmo opiniões de pessoas próximas, por influência da maioria, mesmo que o(s) candidato(s) não se adeque(m) as suas vontades ou ideologias pessoais. C. EFEITO UNDERDOG Quando ao efeito underdog effect, no qual o eleitor faz uma espécie de voto de protesto ou em uma tentativa de evitar que determinado candidato vença, onde o votante opta por um candidato no qual acredita que não possui chance de vencer, mesmo que não concorde com aquele candidato. ELEMENTOS DOS SISTEMAS ELEITORAIS - ANTÔNIO GIUSTI TAVARES CIRCUNSCRIÇÃO ELEITORAL (DISTRITO OU COLÉGIO ELEITORA) A imprensa costuma confundir colégio eleitoral com o local de votação, em verdade, o colégio eleitoral é o espaço geográfico onde a eleição é disputada, cuja definição deverá levar em conta a extensão territorial, o volume da população e o número de representantes a serem eleitos. Assim, em uma eleição de prefeito, a circunscrição é o Município, na de governador, a circunscrição será o estado e na de presidente será o país como um todo. “Circunscrição, colégio ou distrito eleitoral é a unidade territorial da qual a distribuição dos votos, entre partidos e entre candidatos, é convertida em cadeiras legislativas.” - José Antônio Giusti Tavares. MAGNITUDE A magnitude é a quantidade de cadeiras em disputa em cada circunscrição. No sistema eleitoral proporcional, quanto maior a magnitude, maior a chance de um partido pequeno eleger alguém. OBS.: Pega-se o total dos voto válidos e divide-se pelo número de cadeiras em disputa para obter o resultado de quantos deputados foram eleitos pelo partido. Ex.: São Paulo elege 70 deputados federais. Se divide 100% dos votos válidos por 70, dá, mais ou menos, 1,4%. Isso significa que um partido político, somando seus candidatos e conquistando, pelo menos 1,4% dos votos válidos, terá assegurado uma cadeira na Câmara dos Deputados. Ex.: 10 cadeiras em disputa = 100% dos votos válidos / 10 cadeiras = 10% dos votos válidos para assegurar uma cadeira. O que torna muito mais difícil para os partidos menores terem sucesso. “A magnitude corresponde ao número de cadeiras em disputa em cada distrito eleitoral. Distritos uninominais têm magnitude igual a um, enquanto os distritos plurinominais têm magnitude superior a um”. - Jaime Barreiros Neto Distritos uninominais, nos quais apenas um representante por distrito é eleito, têm magnitude igual a um, enquanto os distritos plurinominais, nos quais mais de um representante por distrito é eleito, têm magnitude superior a um. Segundo Tavares, para existir eficazmente, a representação proporcional, exige distritos plurinominais de magnitude média a grande. Em distritos eleitorais de baixa magnitude, com até cinco representantes, a tendência é que os resultados obtidos sejam majoritários e concentradores, e não proporcionais e difusos, mesmo diante de uma fórmula proporciona. A proporcionalidade mais satisfatória, assim, para o referido autor, pressupõe a existência de distritos com magnitude igual ou superior a quinze cadeiras em disputa. Países, neste sentido, que adotam maior magnitude nos distritos eleitorais, tendem a possibilitar uma maior representação dos partidos pequenos. A Holanda e Israel adotam, por exemplo, um único distrito nacional, viabilizando assim, teoricamente, a mais pura das representações proporcionais. Já na Espanha, onde, após o fim da monarquia,foi adotado o sistema eleitoral proporcional com listas fechadas para a formação do parlamento nacional, os parlamentares são eleitos a partir de distritos de baixa magnitude, tática utilizada para privilegiar a estabilidade política do governo parlamentarista, ante uma possível fragmentação partidária. Além disso, uma cláusula de desempenho de 3% dos votos foi estabelecida nacionalmente. Este sistema terminou por gerar uma relevante distorção de proporcionalidade, ao permitir que partidos mais fortes viessem a ser super-representados em detrimento dos partidos menores, além de favorecer partidos fortes regionalmente e fracos nacionalmente em detrimento de partidos mais lineares, no plano nacional, com votação mais dispersa por todo o país, sem domínio de redutos regionais. Sobre este último fenômeno, salienta Ana Claudia Santano que a estabilidade do governo passou a depender do comportamento de pequenos partidos regionais, algo que, a princípio, não era esperado pelos criadores do sistema. No que se refere, por sua vez, à relação entre a magnitude de uma circunscrição eleitoral e os sistemas eleitorais majoritários, destaca ainda Giusti Tavares que nesses sistemas há uma tendência a uma maior desproporcionalidade quando o tamanho da circunscrição é maior, bem como quando o número de circunscrições é menor. De forma inversa, quanto menor a magnitude do distrito e maior for a quantidade de circunscrições, maior, teoricamente, será a tendência de “compensações entre os partidos, no conjunto do sistema eleitoral, quanto às posições de maioria e minoria”, fato que aproxima a composição da casa legislativa de uma maior proporcionalidade. Magnitude alta A partir de 15 cadeiras em disputa. Magnitude média De 6 a 14 cadeiras em disputa. Magnitude baixa Até 5 cadeiras em disputa. PROCEDIMENTO DE VOTAÇÃO 1. VOTO ÚNICO: Quando o eleitor dispõe de um único voto, a ser dado a um candidato ou lista partidária; 2. VOTO MÚLTIPLO: Quando o eleitor pode dar mais de um voto, sendo o número de votos disponíveis igual ao número de vagas a serem preenchidas na circunscrição; 3. VOTO LIMITADO: Quando o eleitor pode dar mais de um voto, em número menor, contudo, ao número de vagas a serem preenchidas na circunscrição, a exemplo do que já ocorreu durante parte do Brasil Império (1822-1889), na época da vigência da chamada “Lei do Terço” (1875-1881); 4. VOTO PREFERENCIAL: Quando o eleitor, além de dispor de mais de um voto, pode estabelecer pesos diferentes entre eles, a fim de demonstrar suas preferências; voto alternativo, utilizado em distritos uninominais como forma de evitar a realização de segundo turno. Neste modelo, o eleitor pode expressar várias preferências alternativas, a serem levadas em conta sempre que o candidato preferido não tiver chance de vitória; 5. VOTO CUMULATIVO: Quando se possibilita ao eleitor concentrar múltiplos votos em um mesmo candidato; 6. PANACHAGE: Fórmula preferencial de voto interpartidário, na qual é facultada ao eleitor a possibilidade de estabelecer preferências entre candidatos de listas partidárias diferentes, consagrando, assim, uma grande liberdade de escolha. ESPÉCIES DE SISTEMAS ELEITORAIS Os três sistemas eleitorais mais conhecidos para determinar os candidatos eleitos em uma eleição (pleito) são o sistema majoritário, o sistema proporcional e o sistema misto. No Brasil, adota-se o sistema majoritário nas eleições para cargos executivos (prefeito, governador e presidente da república) e o sistema proporcional para cargos legislativos (deputados e vereadores). SISTEMA ELEITORAL MAJORITÁRIO Por meio deste sistema, é considerado eleito o candidato que possui a maior soma de votos sobre os seus competidores, sendo os votos atribuídos aos demais candidatos desprezados, prevalecendo, assim, o pronunciamento emitido pela maioria. Assim, vence a eleição o candidato mais votado. O sistema eleitoral majoritário é subdividido em: a. SISTEMA MAJORITÁRIO SIMPLES: É necessário a mera maioria relativa dos votos para que o candidato seja eleito, sendo uma eleição que ocorre em apenas um turno. Nele, vence o candidato mais votado, independentemente da soma dos votos dos adversários. Critica-se esse sistema pela possibilidade de que um candidato com alta rejeição do eleitorado seja eleito. Esse sistema é adotado no Brasil nas eleições para senadores da república e prefeitos de municípios com até duzentos mil eleitores (e não habitantes). b. SISTEMA MAJORITÁRIO ABSOLUTO: É necessário a maioria absoluta dos votos para que o candidato seja eleito, ou seja, mais votos do que os de todos os adversários somados. Todavia, a maioria absoluta é aferida apenas por meio dos votos válidos, não considerando abstenções, votos em branco ou votos nulos. Nesse sistema, caso nenhum candidato alcance a maioria absoluta, deverá ocorrer o segundo turno entre os dois candidatos mais votados. Esse sistema é adotado no Brasil nas eleições para presidente da república, governadores e prefeitos de municípios com mais de duzentos mil eleitores. SISTEMA ELEITORAL PROPORCIONAL No sistema eleitoral proporcional há a repartição aritmética das vagas, pretendendo-se, dessa forma, que a representação de determinado território se distribua em proporção às correntes ideológicas ou de interesse, integrada nos partidos políticos concorrentes. Foi com a Revolução Francesa, em 1789, que surgiu o ideal do sistema eleitoral proporcional, com a ideia de que o Parlamento deveria expressar, da forma mais fiel possível, o perfil do eleitorado.21 Em 1861, John Stuart Mill (1806-1873), em sua obra "Considerações sobre o Governo Representativo", consagrou a defesa do sistema eleitoral proporcional como o mais democrático e representativo. Já em 1885, em uma conferência internacional sobre reforma eleitoral, ocorrida na Bélgica, vem a fortalecer, definitivamente, a tese do sistema eleitoral proporcional. Consagra-se, neste momento, o modelo de representação proporcional formulado por Victor D'Hont (1841-1901), cuja concepção era a de que os sistemas eleitorais deveriam viabilizar a representação das diversas correntes de opinião presentes na sociedade expressas pelos partidos políticos. Assim, atualmente existem duas técnicas adotadas para a representação proporcional: a. TÉCNICA DO NÚMERO UNIFORME: Utilizada pela primeira vez na Alemanha, nas eleições parlamentares ocorridas em 1920, o número de votos correspondentes ao preenchimento de uma vaga, em cada circunscrição, é previamente estabelecido por lei, fazendo com que, tantas vezes esse montante seja atingido, tantas vagas serão obtidas. b. TÉCNICA DO QUOCIENTE ELEITORAL: Baseada no método D’Hont, a técnica é consistente de operações aritméticas sucessivas, para que haja a representação proporcional, sendo a adotada pelo Direito Eleitoral brasileiro nas eleições para deputados e vereadores. No Brasil, portanto, se determina o quociente eleitoral dividindo-se o número de votos válidos apurados pelo de lugares a preencher em cada circunscrição eleitoral, desprezada a fração se igual ou inferior a meio, equivalente a um, se superior. Considera-se ainda como votos válidos, nesse sistema, os votos dados à candidatos regularmente inscritos e à legendas partidárias. Percebe-se, por fim, que o sistema eleitoral proporcional para cargos executivos somente é viável no caso de o Estado adotar sistema de governo diretorial, onde a chefia do governo é exercida concorrentemente por um determinado grupo de pessoas. SISTEMA ELEITORAL MISTO O sistema eleitoral misto não é adotado no Brasil e existem duas principais espécies de aplicação: a. SISTEMA ELEITORAL MISTO ALEMÃO: mais tendente à proporcionalidade, esse sistema busca combinar os princípios decisórios das eleições majoritárias com o modelo representativo proporcional, dividindo o voto em duas partes, computadas em separado. Elege-se, poreste sistema, a metade dos deputados por circunscrições distritais e a outra metade em função de listas de base estadual. b. SISTEMA ELEITORAL MISTO MEXICANO: tem como base predominante o sistema eleitoral majoritário. Para a eleição dos integrantes da Câmara dos Deputados, dois tipos de unidades eleitorais são estabelecidos: são eles os distritos eleitorais uninominais, em número de 300, distribuídos pelos trinta e um estados e o Distrito Federal, observando-se o limite mínimo de dois deputados, ou seja, dois distritos, para cada unidade federativa; e as circunscrições plurinominais, em número de cinco para todo o país, e que constituem a base para a eleição de duzentos deputados pelo princípio da representação proporcional. Dessa forma, a Câmara dos Deputados mexicana é composta por 500 (quinhentos) deputados, 300 (trezentos) eleitos pelo sistema de maioria relativa nos distritos e 200 (duzentos) eleitos proporcionalmente, com a ressalva de que nenhum partido pode ter mais de 350 (trezentos e cinquenta) deputados, ainda que a sua votação permita. WALTER BAGEHOT E JOHN STUART MILL O grande debate era sobre que tipo de modelo de sistema seria o mais adequado para as eleições parlamentares na Inglaterra. Isto é, para eleger os representantes da Câmara dos Comuns – sistema de governo parlamentarista; o primeiro ministro é eleito a depender de ter a maioria ou não dos deputados apoiando; o primeiro ministro é um representante da maioria parlamentar, assim, um partido mais forte ou uma coalização de partidos que se torna majoritária é quem indica o primeiro ministro. Passou-se a discutir o que é mais relevante em uma democracia – a governabilidade ou a representatividade. A governabilidade relaciona-se à eficiência do sistema, à capacidade de o sistema operar e apresentar respostas aos problemas que são postos. Assim, um sistema político que tem uma boa governabilidade é aquele que consegue resolver os problemas e ser eficiente. Por outro lado, a representatividade tem a ver com o espelhamento dos governantes com a sociedade, com o cidadão se sentir parte daquele sistema, titular de fato do poder, representado, atuante, trazendo maior diversidade nas escolhas. O que seria melhor, uma ditadura ou uma democracia? A resposta é que depende do objetivo que se deseja alcançar. Se o objetivo for eficiência apenas, talvez um regime autoritário seja o mais adequado. Mas se o objetivo for a proteção dos direitos humanos e a contenção do abuso de poder, o ideal seria a democracia. O debate travado entre Belgehot e Mill pautou-se nessa discussão: o que seria melhor para a Inglaterra nas eleições para escolha dos deputados – garantir a maior representatividade possível ou garantir a eficiência; concentrar o poder em dois partidos políticos ou que o poder seja distribuído entre vários partidos e várias pessoas diferentes. Belgehot entendia que, apesar de a Inglaterra tem um sistema parlamentarista, formado pela maioria, se se tem um quadro partidário complexo, formado por muitos partidos, é difícil criar uma maioria consistente. Nesse sentido, não tendo nenhum partido majoritário, o primeiro ministro teria de ser produto de uma coalizão – essa aliança, porém, poderia ser uma aliança frágil [ex.: Itália, parlamentarismo multipartidário; formam-se coalizões para que o governo se estabeleça, coalizões essas que são, muitas vezes, corruptas e desonestas]. Ademais, se durante o período de governo dois desses partidos que formam essa coalizão brigam, saem da coalizão e vão para a oposição, a oposição passa a ser maioria e o primeiro ministro deve ser substituído, o governo cai, forma-se um novo governo e tudo começa de novo. Belgehot então pensou que, para evitar um cenário como esse, seria melhor se ter um sistema de voto distrital [ex.: 400 deputados na Inglaterra. Divide-se a Inglaterra em 400 distrito uninominais, assim, naturalmente, a tendência, ao se eleger somente um, é de que ele seja de um partido mais forte e mais estruturado]. Para Belgehot, o mais importante é a estabilidade, a governabilidade. É muito mais fácil ter governabilidade em um cenário mais restrito – se só se tem dois partidos na Câmara dos Comuns, tem um partido com 60% dos deputados e outro com 40%, por exemplo. Deste modo, tem-se um partido mais forte e estável, para que o primeiro ministro governe tranquilamente. Consequentemente, ter-se-ia uma estabilidade e eficiência maior. Stuart Mill, todavia, defendia que não é a governabilidade que importa em uma democracia, mas sim que todos sejam representados, que a minoria tenha voz e que as pessoas se vejam como parte integrante do governo. Dessa forma, não importa se tem muitos partidos na Câmara dos Comuns. Portanto, defendia o sistema proporcional. Contudo, se torna mais difícil governar. O Brasil hoje segue a ideia de Mill, com o sistema proporcional. Assim, 0 Presidente da República, para governar, precisa negociar com muitos partidos diferentes. A Inglaterra, porém, adota o sistema distrital, não tendo essa dificuldade, por existir um partido majoritário. PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO Arranjo que a Constituição de 1988 buscou de fazer com que o Presidente da República tenha a habilidade necessária de construir alianças, mantendo a representatividade das minorias, um sistema plural e, ao mesmo tempo, construindo a sua governabilidade por meio dessas coalizões. Contudo, essa governabilidade, no Brasil, se dá com base em corrupções. Percebe-se, portanto, que o melhor sistema é aquele que se adapta melhor a cultura de cada país. JUSTIÇA ELEITORAL E MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL A Justiça Eleitoral é uma justiça federal especializada - Poder Judiciário da União, mas tem a peculiaridade de não ter um quadro permanente próprio de magistrados. Estrutura-se a partir do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, dos Tribunais Regionais Eleitorais, um em cada estado brasileiro e um no Distrito Federal, dos juízes eleitorais e das Juntas (somente no período de eleição, atuam nas zonas eleitorais – que são as divisões geográficas da Justiça Eleitoral de primeiro grau, o equivalente às comarcas, mas não coincidem, necessariamente, com o município). Cada zona eleitoral tem um juiz eleitoral, que exerce a jurisdição daquela zona. O juiz eleitoral é um juiz estadual que é incumbido de uma função federal, recebendo para isso uma gratificação, paga pela União. O TRE é composto por sete membros (desembargadores eleitorais): I. Dois são desembargadores do Tribunal de Justiça do estado - Por eleição interna para ocupar o cargo por dois anos. Um deles será o Presidente do TRE e o outro será o Vice Presidente. Vale a ressalva de que as formas de ingresso são pelo quinto constitucional, escolhido pelo governador, ou por promoção por merecimento. II. Dois são juízes estaduais, de primeiro grau, escolhidos pelo Tribunal de Justiça. III. Um juiz federal, indicado pela Seção Judiciária do estado. IV. Dois advogados, que têm a prerrogativa de continuar advogado. O TRE informa ao TJ do estado que vai abrir uma vaga para desembargador eleitoral, assim, o TJ lança um edital, para que qualquer advogado se inscreva para a eleição. Dos inscritos, o TJ escolhe três nomes, cuja lista é enviada ao Presidente da República, que escolhe dois dos três. FUNÇÕES DA JUSTIÇA ELEITORAL Função jurisdicional vinculada às eleições, desde o alistamento eleitoral até a diplomação dos eleitos (indicando que o sujeito está apto para ser empossado), e consultas populares (plebiscito e referendo). Função administrativa, interna – preparação e organização das eleições. Função consultiva, o TSE pode ser provocada para se manifestar abstratamente a respeito de uma lei – consulta dissociada do caso concreto. Função educacional, levar a informação, incentivar a participação política, debater a importância da democracia. MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORALTambém não tem uma composição permanente, nem mesmo previsão constitucional expressa. É organizado de forma semelhante à Justiça Eleitoral, haja vista não existir uma carreira permanente. Nesse sentido, são emprestados membros do Ministério Público para compor o MP Eleitoral. O Promotor Eleitoral é um promotor estadual. Junto ao TRE, atua o Procurador Regional Eleitoral, como chefe do MP Eleitoral do estado, que oficia junto ao TRE, sendo um membro do Ministério Público Federal (Procurador da República). Já junto ao TSE, atua o Procurador Geral Eleitoral, que é o próprio Procurador Geral da República, pode delegar essa função de Ministério Público ao Vice Procurador Geral Eleitoral, que é um dos membros do Ministério Público Federal (sub-Procurador Geral da República). DIREITOS POLÍTICOS E ELEGIBILIDADE Somente quem está no gozo dos direitos político tem a possibilidade de ser representante político da sociedade. Direitos políticos são, em verdade, direitos humanos pela sua essencialidade. Poder político é um pressuposto social. O ser humano vive em uma lógica paradoxal em sua própria existência – por um lado é um animal social que precisa do outro, havendo uma necessidade de convivência; e por outro, termina sendo o grande adversário de si mesmo, com a necessidade de dominar uns aos outros. O ponto de equilíbrio entre essa necessidade de convivência e de dominação é o poder. Poder se manifesta através de normas que refletem valores e escolhas, que variam no tempo e no espaço. A política se revela como uma ação consistente em conquistar, manter e exercer poder. Para que haja democracia, e para que o Direito Eleitoral se materialize, é necessário que existam pessoas no gozo de direitos políticos, exercendo o poder de sufrágio, dotadas, portanto, de capacidade política. Fávila Ribeiro define a capacidade política como a aptidão pública reconhecida, pela ordem jurídica, ao indivíduo para integrar o poder de sufrágio nacional, adquirindo a cidadania e ficando habilitado a exercê-la. Direito político, por sua vez, é o direito de participar da organização e funcionamento do Estado. É o poder de sufrágio. A aquisição da capacidade política para os brasileiros, firmada a partir do alistamento eleitoral, por sua vez, é obrigatória para os maiores de 18 anos e menos de 70 anos de idade, e facultativa para os maiores de 16 anos e menores de 18 anos, maiores de 70 anos e analfabetos. Com a aquisição da capacidade política, o indivíduo, tornado cidadão, no sentido estrito da palavra, habilita-se ao exercício da capacidade eleitoral ativa (votar) e passiva (ser votado). O povo é um dos elementos fundamentais do Estado, sendo entendido como o grupo de indivíduos que guarda, com o Estado, vínculos jurídicos e político que vão além das próprias fronteiras estatais. É o povo que tem a prerrogativa de exercer direitos políticos. Nacionalidade primária é aquela que decorre de um fato natural, o nascimento. 0 Brasil ad mite tanto 0 jus solis como 0 jus sanguinis. 0 jus solis é 0 critério do território, que defere nacionalidade aos nascidos no território do Estado. 0 jus sanguinis é 0 critério do sangue, da família, que defere a nacionalidade primária aos nascidos fora do território com laços familiares a nacionais (filhos de brasileiros nascidos no exterior). Já a nacionalidade secundária decorre de um ato de vontade, a naturalização. Art. 12, CF. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; II - naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. OBS.: Português equiparado a brasileiro nato. Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta. Segundo 0 citado tratado, em seu artigo 17, 0 gozo de direitos políticos por brasileiros em Portugal e por portugueses no Brasil só será reconhecido aos que tiverem três anos de residência habitual e depende de requerimento à autoridade competente. Assim, 0 brasileiro que, porventura, estiver exercendo direitos políticos em Portugal, em virtude do Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta, terá seus direitos políticos no Brasil suspensos, enquanto permanecer nesta condição. ALISTAMENTO ELEITORAL O alistamento eleitoral, considerado a primeira etapa do processo eleitoral, é 0 ato pelo qual o indivíduo se habilita, perante a Justiça Eleitoral, como eleitor e sujeito de direitos políticos, conquistando a capacidade eleitoral ativa. O alistamento eleitoral, segundo 0 artigo 42 do Código Eleitoral, se faz mediante a qualificação e a inscrição do eleitor. A qualificação é 0 ato através do qual 0 indivíduo faz prova que satisfaz as exigências legais para se tornar eleitor. Já a inscrição é 0 registro da pretensão à condição de eleitor, realizada por servidor da Justiça Eleitoral a partir de postulação do cidadão. Art. 91, Lei das Eleições. Nenhum requerimento de inscrição eleitoral ou de transferência será recebido dentro dos cento e cinquenta dias anteriores à data da eleição. Art. 49, Código Eleitoral. Os cegos alfabetizados pelo sistema "Braille", que reunirem as demais condições de alistamento, podem qualificar-se mediante o preenchimento da fórmula impressa e a aposição do nome com as letras do referido alfabeto. DOMICÍLIO ELEITORAL Art. 42, Código Eleitoral. O alistamento se faz mediante a qualificação e inscrição do eleitor. Parágrafo único. Para o efeito da inscrição, é domicílio eleitoral o lugar de residência ou moradia do requerente, e, verificado ter o alistando mais de uma, considerar-se-á domicílio qualquer delas. Segundo jurisprudência consolidada do TSE, 0 domicílio eleitoral não se confunde, necessariamente, com 0 domicílio civil. Assim, 0 fato de 0 eleitor residir em determinado município não constitui óbice para que 0 mesmo se aliste como eleitor de outro, desde que com este outro mantenha vínculos (negócios, propriedades, atividades políticas etc.). É 0 chamado "domicílio eleitoral afetivo. Vale destacar que 0 eleitor só poderá candidatar-se na circunscrição eleitoral que abranja 0 município em que estiver inscrito como eleitor, e para que seja candidato a um cargo eletivo, 0 cidadão deverá ter domicílio eleitoral na circunscrição seis meses antes do pleito. Segundo 0 art. 18 da Resolução n°. 21.538/03, a transferência do eleitor só será admitida se satisfeitas as seguintes exigências: I - recebimento do pedido no cartório eleitoral do novo domicílio no prazo estabelecido pela legislação vigente; II - transcurso de, pelo menos, um ano do alistamento ou da última transferência; III - residência mínima de três meses no novo domicílio, declarada, sob as penas da lei, pelo próprio eleitor (Lei n°. 6.996/82, art. 8°); IV - prova de quitação com a Justiça Eleitoral. TÍTULO ELEITORAL - O título eleitoral é 0 documento que comprova 0 alistamento do eleitor. O título eleitoral prova a quitação do eleitor para com a Justiça Eleitoral até a data de sua emissão. EXCLUSÃO E CANCELAMENTO DA INSCRIÇÃO ELEITORAL Sempre que um brasileiro estiver inscrito como eleitor com infração à legislação eleitoral,a Justiça Eleitoral poderá ser acionada para proceder à exclusão ou ao cancelamento do título irregular. São causas de cancelamento do título eleitoral a infração às regras do domicílio eleitoral; a suspensão ou perda dos direitos políticos (que serão estudadas ainda neste capítulo); a pluralidade de inscrição; 0 falecimento do eleitor e a falta injustificada em três eleições consecutivas, sem pagamento de multa. Uma vez cessada a causa do cancelamento, 0 interessado poderá requerer nova inscrição. CORREIÇÃO E REVISÃO DO ELEITORADO O Corregedor-Regional Eleitoral realizará correição do eleitorado, a fim de verificar se existem irregularidades no processo de alistamento eleitoral que comprometam a normalidade e a legitimidade das eleições (excesso de eleitores em determinado município, acima da média populacional, ou inscrição de eleitores falecidos, por exemplo). Caso, na correição, seja comprovada irregularidade comprometedora, será realizada a revisão do eleitorado, procedimento equivalente a um recadastra mento, a partir do qual todos os eleitores de determinada zona ou região serão convocados para uma revisão eleitoral, sob pena de cancelamento do título. 0 procedimento de revisão eleitoral poderá ser provocado mediante denúncia fundamentada de fraude no alistamento em zona ou município, dirigida ao TRE. Não será realizada revisão do eleitorado em ano eleitoral, salvo em situações excepcionais, quando autorizada pelo TSE. PERDA OU SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS Dada a essencialidade dos direitos políticos, na dúvida, o direito político deve ser preservado. Podemos afirmar que a perda dos direitos políticos é definitiva, enquanto a suspensão é temporária. Diante desta diferenciação, é possível concluir que a única hipótese de perda de direitos políticos prevista no ordenamento jurídico brasileiro ocorre quando 0 indivíduo perde a sua nacionalidade, seja em ação de cancelamento de naturalização, ou seja, voluntariamente. Assim, todas as demais hipóteses de impedimento pleno ao exercício de direitos políticos se vinculam a situações de suspensão de direitos políticos, de caráter temporário. Art. 15, CF. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I - Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; Quem perde a nacionalidade brasileira está perdendo definitivamente os direitos políticos, segundo a doutrina tradicional. II - Incapacidade civil absoluta; Contudo, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, no art. 76, dispõe que 0 poder público deve garantir à pessoa com deficiência todos os direitos políticos e a oportunidade de exercê-los em igualdade de condições com as demais pessoas. Como se observa, a partir da publicação do Estatuto da Pessoa com Deficiência, passa a ser direito fundamental dessas pessoas, de forma inquestionável, a participação na vida política do Estado, inclusive no que se refere ao direito de serem votadas. No que se refere ao direito de votar, por sua vez, a nova lei estabelece que é dever do Estado, e, por conseguinte, da Justiça Eleitoral, garantir que os pro cedimentos, as instalações, os materiais e os equipamentos para votação sejam apropriados, acessíveis a todas as pessoas e de fácil compreensão e uso, sendo vedada a instalação de seções eleitorais exclusivas para a pessoa com deficiência, III - Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; Quando alguém é condenado criminalmente de forma definitiva, a pessoa fica com os direitos políticos suspensos até cumprir a pena. Na prática, não vota (capacidade política ativa) e nem é votado (capacidade política passiva). Com a Lei da Ficha Limpa, na maioria dos crimes, se o indivíduo for condenado em decisão colegiada, o indivíduo se torna inelegível desde a condenação colegiada, mesmo antes do trânsito em julgado, até oito anos após o cumprimento da pena. O Tribunal Superior Eleitoral, através da sua súmula n°. 09, firmou de que 0 cumprimento ou extinção da pena faz cessar a suspensão dos direitos políticos imediatamente, independentemente de reabilitação criminal ou prova de reparação de danos. Acerca da condenação por contravenção penal, duas correntes se dividem. A primeira realiza uma interpretação literal da Constituição, mais restrita, defendendo que somente a conde nação definitiva por prática de crime gera a suspensão dos direitos políticos; a segunda, por sua vez, em sentido contrário, realiza uma interpretação teleológica da Constituição, defendendo que 0 objetivo do legislador constituinte é a defesa da ordem democrática contra a indignidade penal. O TSE aderiu à segunda corrente, interpretando que a condenação com trânsito em julgado por contravenção penal gera a suspensão dos direitos políticos do réu. Na hipótese de SURSIS, mantém-se a suspensão dos direitos políticos do condenado. Da mesma forma, caso um indivíduo condenado com trânsito em julgado por prática de crime promova a revisão criminal, continuará 0 mesmo com os direitos políticos suspensos, até que 0 pedido da revisão seja julgado definitivamente procedente. Já na hipótese de suspensão condicional do processo, como ainda não houve condenação criminal transitada em julgado, 0 réu preserva seus direitos políticos intactos. O mesmo ocorre na hipótese de transação penal. IV - Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V - Improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. A improbidade administrativa, conforme previsão da Lei n°. 8.429/92, se caracteriza com a prática de atos que importam em enriquecimento ilícito, que causam prejuízos ao erário e que atentam contra os princípios da administração pública. Não cabe à Justiça Eleitoral julgar os casos de improbidade administrativa, e sim à Justiça Comum. Não é efeito imediato da condenação, devendo expressamente contar da decisão para que ocorra. CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE X CAUSAS DE INELEGIBILIDADE A capacidade eleitoral ativa refere-se ao direito inerente ao cidadão de participar, como eleitor, de eleições e consultas populares, bem como propor Ação Popular, promover a Iniciativa Popular de Lei, e outras prerrogativas provenientes do exercício do poder de sufrágio. A capacidade eleitoral passiva, por sua vez, vincula-se à capacidade que o cidadão tem de ser votado, pleiteando mandatos políticos A jurisprudência do STF entende que há uma diferença entre condições de elegibilidade e causas de inelegibilidade: as condições de elegibilidade são requisitos positivos para que um cidadão possa ser elegível – ser votado e eleito em uma eleição; enquanto as hipóteses de inelegibilidade são requisitos negativos. Contudo, tanto as condições de elegibilidade quanto as causas de inelegibilidade têm o mesmo objetivo – falar quem pode concorrer e quem não pode. O problema jurídico encontra-se nas previsões do parágrafo terceiro e parágrafo nono do art. 14 da Constituição. Lei complementar complementa um mandamento constitucional. O legislador constitucional reservou à lei complementar algumas matérias que entendeu como mais importantes e exigem uma maior legitimidade no momento da discussão – exigência de um quórum qualificado de maioria absoluta presente, e aprovado por maioria absoluta. Para aprovação de uma lei ordinária, é necessário que esteja presente a maioria absoluta, por maioria simples. Na concepção de Jaime Barreiros, a forma mais restritiva de interpretação, que conduz a uma melhor salvaguarda dos direitos fundamentais, é a que aponta para a necessidade de lei complementar para disciplinar, no plano infraconstitucional, as condições de elegibilidade, assim como ocorre com as causas de inelegibilidade. Não é esta, contudo, a tese abraçada pela jurisprudência dominante O direito de ser candidato é um direito político, mas também um direito fundamental.A lógica é no sentido de que as restrições devem ser as mínimas necessárias. Restringir a capacidade eleitoral passiva deve ser exceção, não regra. Art. 14, §9º, CF. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. Art. 14, § 3º, CF. São condições de elegibilidade, na forma da lei: I - a nacionalidade brasileira; II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição → Tem que ser eleitor daquele local em que pretende se candidatar, seis meses antes do pleito, conforme a Lei n. 9.504/97. V - a filiação partidária; Regulamento VI - a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d) dezoito anos para Vereador. OBS.: De acordo com 0 art. 11, § 2° da Lei n°. 9.504/97 (Lei das Eleições), "a idade mínima constitucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade é verificada tendo por referência a data da posse". Importante novidade legislativa, contudo, surgiu a partir da promulgação da Lei n° 13.165/15, que alterou 0 referido dispositivo legal para dispor que a idade mínima de 18 anos, exigível para candidatos a vereador, deverá ser aferida, doravante, na data-limite do pedido de registro de candidatura, e não mais na data da posse, como ocorria até então. Para os demais cargos, contudo, a idade mínima exigível continuará a ser aferida na data da posse. A Lei n. 9.504/97 (Lei das Eleições) determina que para concorrer às eleições deve estar filiado a um partido político até seis meses antes da eleição; impedindo, na prática, de quem tem menos de seis meses de concorrer. Está criando uma condição de inelegibilidade por lei ordinária, não por lei complementar, consequentemente, há uma inconstitucionalidade. Há uma discussão acerca da autorização de candidaturas avulsas. Contudo, a Constituição trata de forma objetiva acerca da condição de elegibilidade à filiação partidária. Há quem entenda que essa disposição viola o Pacto de San José da Costa Rica. EC 45/2004; tratados de direitos fundamentais poderão ingressar no ordenamento jurídico brasileiro com status de emenda constitucional, desde que seja ratificado com o quórum qualificado de emenda]. Gilmar Mendes cria a atese da supralegalidade, assim, o Pacto de San José da Costa Rica, anterior a 2004, é intermediário, está acima da lei, mas abaixo da Constituição. Gera um efeito paralisante no legislador ordinário, que se torna impedido de legislar sobre a matéria. Assim, o Código Civil se tornou incompatível com o tratado, e a norma que tratava da prisão do depositário infiel passou a ser incompatível. A partir desse cenário, está se discutindo se esse mesmo raciocínio valeria para a filiação partidária. Há quem argumente que o art. 23 do Pacto de San José diz que os direitos políticos são direitos humanos, que podem ter restrição, mas que serão excepcionais [é possível restringir a elegibilidade por haver condenação criminal e ter nacionalidade estrangeira]. Assim, exigir a filiação partidária seria restringir esse tratado internacional. Todavia, é a Constituição que exige a filiação partidária. Há uma diferença de interpretação acerca de se aplicar a lógica do depositário infiel, porém, essa norma era de eficácia limitada. A filiação partidária é norma de eficácia, no máximo, contida, tendo aplicabilidade imediata. Nesse caso, Jaime Barreiros entende que a exigência de filiação partidária é uma exigência constitucional, devendo ser observada. Ocorre que o parágrafo nono do art. 14 da CF fala que as hipóteses de inelegibilidade estão previstas na Constituição e em lei complementar (Lei Complementar n. 64/90 e Lei da Ficha Limpa). Se o Pacto de San José é válido, com natureza supralegal, e fala que só pode restringir a elegibilidade em casos de condenação criminal e nas condições de nacionalidade, as restrições da Lei da Ficha Limpa, por exemplo, uma punição ético-disciplinar, não seriam válidas. HIPÓTESES DE INELEGIBILIDADE A classificação mais difundida, entretanto, no estudo das inelegibilidades, é aquela que diferencia as inelegibilidades absolutas das inelegibilidades relativas. As INELEGIBILIDADES ABSOLUTAS valem para qualquer cargo (por exemplo, os analfabetos são inelegíveis para qualquer cargo). As INELEGIBILIDADES RELATIVAS, por sua vez, só se referem a determinados cargos, podendo ser originadas de motivos funcionais ou mesmo decorrentes de parentesco. 1. ANALFABETO E INALISTÁVEL – ANALFABETO, no Brasil, adquiriu o direito de votar com a Constituição de 1988, contudo, não tem o direito de ser votado. Art. 14, §4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. Havendo dúvida quanto à alfabetização, o sujeito pode ser intimado a provar que é alfabetizado [há jurisprudência que entende que essa prova viola a dignidade da pessoa humana]. A Carteira Nacional de Habilitação gera a presunção da escolaridade necessária ao deferimento do registro de candidatura (Súmula n° 55 do TSE). Como INALISTÁVEIS, podemos apontar os estrangeiros, uma vez que estes não possuem capacidade política no Brasil (a exceção dos portugueses beneficiados pelo Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta), e os conscritos, que, como já foi explicado nesta obra, são aqueles indivíduos que estão prestando 0 serviço militar obrigatório. Além desses casos, são inalistáveis os menores de 16 anos e aqueles que tiveram seus direitos políticos perdidos ou suspensos. A ação de impugnação de registro de candidatura pode ser proposta no prazo de cinco dias a contar da solicitação do registro. Os legitimados poderão questionar a ausência das condições de elegibilidade que impeça que um candidato tenha seu registro deferido. Se foi uma inelegibilidade infraconstitucional, trazidas pela Lei Complementar n 64, deverão ser arguidas necessariamente nessa ação de impugnação de registro de candidatura, sob pena de preclusão. Se se tratar de uma inelegibilidade de previsão constitucional, se não foi arguida, poderá ser questionada depois da diplomação. 2. REELEIÇÃO – Emenda Constitucional 16/97 possibilitando a reeleição para os mandatos executivos. Não é possível a reeleição para três mandatos consecutivos. OBS.: Possibilidade, ou não, de prefeito reeleito disputar uma terceira eleição municipal consecutiva para prefeito concorrendo, no entanto, na terceira eleição, em outro município (por exemplo, 0 prefeito do município de Irecê, na Bahia, no exercício do segundo mandato consecutivo, disputando a eleição seguinte para prefeito do município vizinho de João Dourado). Segundo nova jurisprudência do TSE, é vedada tal manobra, por se constituir em forma de indevida perpetuação no poder. 3. NECESSIDADE DE DESINCOMPATIBILIZAÇÃO – Presidente da República, governadores e prefeitos, a fim de concorrerem a outros cargos, devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. 4. REFLEXA / POR PARENTESCO – O parente até segundo grau do titular do mandato executivo, assim como o cônjuge/companheiro, está impedido de disputar eleições na circunscrição onde exerce o mandato. A Súmula Vinculante n° 18 do STF dispõe que a dissolução da sociedade ou vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade reflexa. Salvo se o parente já for titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. Parentes do prefeito,entretanto, podem ser candidatos a deputados no mesmo estado, sem que tal fato gere inelegibilidade reflexa, uma vez que 0 território de jurisdição do prefeito (o município) é menor do que a circunscrição das eleições para deputado estadual ou federal (todo 0 estado). A Art. 14, §7º, CF. São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. O falecimento ou a renúncia do prefeito, governador ou Presidente da República, seis meses antes da eleição, afasta a inelegibilidade reflexa dos seus parentes e cônjuges. A única hipótese de inelegibilidade reflexa, neste caso, ocorre se 0 parente ou cônjuge desejar disputar 0 mesmo cargo anteriormente titularizado por seu familiar, caso este já tenha sido ocupado, de forma consecutiva, nos dois últimos mandatos por ele. 5. MILITAR ALISTÁVEL – Pode ser candidato nas eleições, porém, tem que se afastar do serviço. Isso porque o militar não pode estar filiado a nenhum partido político. Art. 14, § 8º, CF. O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - Se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II - Se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. 6. HIPÓTESES INFRACONSTITUCIONAIS – LEI COMPLEMENTAR N. 64/90. Art. 14, §9º, CF. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. A LC 135/10 (Lei da Ficha Limpa) estabeleceu a substituição de diversas penas de inelegibilidade de três anos, p revistas no artigo 1° da Lei Complementar n°. 64/90, por outras de oito anos, a contar das eleições em que tenham concorrido os condenados. OBS.: Foi firmada a tese de repercussão geral número 860, em que foi definida a possibilidade de aplicação do prazo de 8 anos de inelegibilidade por abuso de poder previsto na Lei Complementar 135/2010 às situações anteriores à referida lei em que, por força de decisão transitada em julgado, 0 prazo de inelegibilidade de 3 anos aplicado com base na redação original do art. 1°, I, "d", da Lei Complementar 64/1990 houver sido integralmente cumprido. 6.1. INALISTÁVEIS E ANALFABETOS – Art. 1º, inciso I, a), LC 64/90. 6.2. PARLAMENTARES COM MANDATOS CASSADOS – Os parlamentares cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar ficarão inelegíveis pelo tempo equivalente ao restante do mandato, somado ao tempo de 08 anos subsequentes ao término da legislatura. Na mesma sanção, de acordo com 0 dispositivo normativo supracitado, incorrem os parlamentares que tenham perdido seus mandatos em virtude da infringência às normas do artigo 54 da CF/88, uma vez que 0 referido inciso I do artigo 55 da Constituição remete ao artigo anterior da Carta Maior. Resumidamente, então, ficarão inelegíveis para as eleições que se realizarem durante 0 período remanescente do mandato para 0 qual foram eleitos e nos oito anos subsequentes ao término da legislatura. Art. 1º, I, b), LC 64. São inelegíveis: para qualquer cargos: os membros do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Municipais, que hajam perdido os respectivos mandatos por infringência do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Constituição Federal, dos dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios e do Distrito Federal, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos oito anos subsequentes ao término da legislatura; 6.3. GOVERNADORES, PREFEITOS E VICES POR VIOLAÇÃO A DISPOSITIVO DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL, LEI ORGÂNICA DO DF OU DO MUNICÍPIO – Art. 1º, I, c), LC 64. São inelegíveis: para qualquer cargos: o Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringência a dispositivo da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término do mandato para o qual tenham sido eleitos; 6.4. ABUSO DO PODER NAS ELEIÇÕES – 8 anos contados da data do primeiro turno das eleições no ano em que foi condenado. Importa o dia da eleição para saber se o indivíduo pode concorrer. Foi admitida a imposição da sanção de inelegibilidade independentemente de condenação transitada em julgado em desfavor do candidato, bastando 0 proferimento de tal decisão por órgão colegiado, mesmo que a causa ainda esteja pendente de recurso, flexibilizando, assim, 0 princípio da presunção da inocência. Em regra, as inelegibilidades são auferidas no dia do registro da candidatura, mas, se um fato superveniente acontecer entre essa data e a data da eleição, e esse fato levar a não existir mais aquela inelegibilidade, o sujeito poderá disputar o pleito. Art. 1º, I, d), LC 64. São inelegíveis: para qualquer cargos: os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes ABUSO DO PODER POLÍTICO – Tradicionalmente entende-se que se refere ao abuso da administração pública. Porém, a política não se exerce somente pelo Estado. Há abuso de poder político na esfera privada, quando há finalidade eleitoral. Se o ato altera o comportamento do indivíduo, pode se considerar abuso de poder, (ex.: ato de abuso poder religioso – “ou vota em fulano, ou vai para o inferno”). 6.5. INCOMPATIBILIDADE OU INDIGNIDADE DO OFICIALATO Art. 1º, I, f), LC 64. São inelegíveis: para qualquer cargos: os que forem declarados indignos do oficialato, ou com ele incompatíveis, pelo prazo de 8 (oito) anos; 6.6. CONDENAÇÃO CRIMINAL – A inelegibilidade será aplicada a partir da condenação, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, gerando efeitos até 08 anos após o cumprimento da pena. Caso, no entanto, a condenação se dê por outros crimes, não previstos nesta lista, 0 eleitor terá apenas seus direitos políticos suspensos enquanto durarem os efeitos da condenação, de acordo com 0 previsto no artigo 15, III da Constituição Federal de 1988. Art. 1º, I, e), LC 64. São inelegíveis: para qualquer cargos: Os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena, pelos crimes: 6.7. ATO DOLOSO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - Não bastará, para a declaração da inelegibilidade, decisão de órgão colegiado, sendo necessária decisão irrecorrível do órgão competente para 0 julgamento das contas. Art. 1º, I, LC 64. São inelegíveis: para qualquer cargos: g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa
Compartilhar