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Profissionalização do Serviço Social

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DESCRIÇÃO
A formação do profissional do Serviço Social no contexto do modo de produção capitalista.
PROPÓSITO
Analisar a trajetória da profissionalização do Serviço Social, com foco no modo de produção
capitalista e na racionalização da prática da assistência, como terreno de sedimentação e
consolidação da profissão.
OBJETIVO
MÓDULO 1
Reconhecer o processo de profissionalização do Serviço Social no Brasil engendrado no modo
de produção capitalista, especialmente quanto às influências europeia e americana
MÓDULO 2
Distinguir as experiências das primeiras escolas de Serviço Social na América Latina e suas
influências no processo de profissionalização do Serviço Social no Brasil
MÓDULO 3
Identificar influência dos Estados Unidos na profissionalização do Serviço Social no Brasil pela
via da atuação profissional pautada no viés psicossocial
INTRODUÇÃO
O Serviço Social como profissão se desenvolve e legitima a partir das demandas da sociedade
capitalista, como parte integrante das estratégias desse modo de produção, que visa à
opressão social e reprodução da ideologia dominante. Portanto, trata-se de uma profissão que
surge de uma demanda colocada pelo capital, com intuito de regular a classe trabalhadora em
formação.
Para que a profissão colabore com esse intento, faz-se necessária sua legitimação e
institucionalização, o que se dá por meio do aparato estatal e por recursos mobilizados pelo
empresariado. Registra-se, também, a forte influência da Igreja Católica, presente no
pensamento social da Igreja, que trata a questão social como questão individual, moral e
requer medidas de ajustamento. Tal enfoque encontra um campo fecundo na profissão,
marcando significativamente seu modo de operar.
Essa caracterização inicial serve como pano de fundo para compreensão do processo de
surgimento das primeiras escolas de Serviço Social na América Latina, suas características
principais e contribuições para o desenvolvimento da profissão. Além disso, serve para ilustrar
a fase de influência norte-americana sobre o Serviço Social, e como a proposta de
desenvolvimento de comunidade e a abordagem psicossocial incidiram sobre o Serviço Social
brasileiro.
MÓDULO 1
 Reconhecer o processo de profissionalização do Serviço Social no Brasil
engendrado no modo de produção capitalista, especialmente quanto às influências
europeia e americana
CONSOLIDAÇÃO DO CAPITALISMO E A
PRÁTICA DA ASSISTÊNCIA
A origem do Serviço Social está intimamente ligada a três fatores importantes:
O desenvolvimento da ajuda aos pobres (caridade e filantropia).
Foto: Shutterstock.com
O significativo apoio operacional e material prestado pela Igreja Católica e pelo Estado.
Foto: Lidia Muhamadeeva / Shutterstock.com
O surgimento do modo de produção capitalista e suas requisições de ampliação e reprodução
social.
Foto: Shutterstock.com
O surgimento e desenvolvimento do Serviço Social como profissão está diretamente
relacionado à demanda da sociedade capitalista, bem como a suas estratégias e seus
mecanismos de reprodução da ideologia dominante. Por isso, a história do Serviço Social
demonstra que sua institucionalização não esteve livre dos condicionantes sociais e
econômicos, que materializam os conflitos iniciados na apropriação privada dos meios de
produção – condição primordial do modo de produção capitalista.
O AMPARO À POBREZA, DESDE A ANTIGUIDADE,
CONTOU COM UMA FORTE VINCULAÇÃO DA IGREJA
CATÓLICA E, AOS POUCOS, PASSOU A CONTAR COM
A GRADATIVA INTERVENÇÃO DO ESTADO.
No século XIX, a assistência social ainda não estava plenamente legitimada, de forma que a
caridade permeava as ações dos agentes sociais. Nesse mesmo período histórico, o Estado
faz suas primeiras tentativas de organização da caridade. Um exemplo disso é a primeira
legislação sobre a assistência social da qual se tem notícia, chamada de Poor Law – Lei dos
Pobres, na Inglaterra, em 1834.
Ao tratarmos sobre a Poor Law e suas características, fica clara a vinculação entre controle e
poder econômico perante o enfrentamento da questão social, fomentado pela grande mudança
na forma de viver, a partir da Revolução Industrial (segunda metade do século XVIII).
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Com a Revolução Industrial, a forma de trabalhar e produzir riquezas se deslocou das
propriedades feudais, dos senhores feudais e de seus vassalos – muitos detentores de seus
meios de produção em terras de outrem – para um mercado autorregulável. Nesse mercado,
os objetivos eram o lucro e uma liberdade de compra e venda de mercadorias e de mão de
obra.
 COMENTÁRIO
A liberdade era bastante relativa, na medida em que a massa de trabalhadores disponíveis
para vender livremente sua mão de obra, para sobreviver de seu trabalho assalariado, possuía
poucas regulações e proteções. Desse modo, esses trabalhadores ficavam à mercê do livre
mercado, das vagas de trabalho existentes e da remuneração definida por seus empregadores.
Além disso, havia o agravante de não mais deterem seus meios de produção para o trabalho.
 
Imagem: Shutterstock.com
A Revolução Industrial consolidou essa mudança e introduziu o maquinário industrial às
produções fabris. Esse fato acelerou a industrialização, gerando a diminuição de postos de
trabalho e, com isso, uma grande massa de mão de obra sem ocupação, acirrando a questão
social da época. Portanto, o processo coordenado da Revolução Industrial transformou
profundamente a vida dos sujeitos sociais dos pontos de vista econômico, social e cultural.
Inicialmente, o processo foi deflagrado na Inglaterra, em decorrência da efervescência da
organização das novas formas de viver e trabalhar. Posteriormente, espraiou-se para os
demais países da Europa e pelo restante dos continentes, de forma desigual e não combinada,
quanto ao tempo e ao espaço.
 
Imagem: Shutterstock.com
O campo inglês foi devastado pela expropriação de terras dos pequenos camponeses, que
tiveram suas culturas e habitações violentamente demolidas pelo Estado. O Estado também foi
responsável por uma série de legislações e impostos que empurraram um significativo
contingente popular para a pobreza e miséria. Com tudo isso, o Estado precisava assumir
alguma postura no trato da questão social.
Cerca de duzentos anos antes, a Rainha Elizabeth (1533-1603) já havia instituído um
imposto para benemerência. No entanto, o acirramento da pobreza decorrente da
implantação do modo de produção capitalista ocasionou uma revisão legal, que deu forma mais
rígida à Poor Law.
RAINHA ELIZABETH (1533-1603)
Rainha Elizabeth (Elizabeth I ou “A Rainha Virgem”) nasceu em 1533 e faleceu em 1603.
Filha de Henrique VIII e Ana Bolena – casamento que deu origem ao Protestantismo
Inglês, o Anglicanismo –, governou a Inglaterra e a Irlanda de 1558 até sua morte. Por
não ter se casado ou tido herdeiro, foi a última monarca da Dinastia Tudor.
POOR LAW E WORKHOUSES
 
Imagem: Wellcome Library, London / Wikimedia Commons / CC BY 4.0
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A Lei dos Pobres foi a forma que o Estado britânico criou para lidar com a questão
social vigente. No início, a finalidade da lei era de reprimir a mendicância e a
“vagabundagem”, aliviando parcialmente a pobreza existente. Com as mudanças sociais e
econômicas, a lei passa a apresentar um forte viés regulador das relações entre patrões e
empregados, relacionando a pobreza às péssimas condições de vida da massa de
trabalhadores na Inglaterra.
AS DUAS INTERPRETAÇÕES SOBRE A LEI MANTÊM
FORTES TRAÇOS TANTO DA CARIDADE CRISTÃ
QUANTO DO VIOLENTO PRECONCEITO SOCIAL.
Além disso, há um entendimento da pobreza como algo disfuncional e decorrente de uma
responsabilidade individual do sujeito pela situação na qual se encontra.
 
Imagem: Wellcome Library, London / Wikimedia Commons / CC BY 4.0
A Lei dos Pobres previa, inclusive, internação nas workhouses. Trata-se de casas correcionais,
que funcionavam como mecanismo da lei para cumprir o objetivo de acabar com os pedintes
profissionais. Para tanto, obrigavaa internação compulsória da camada social alijada da
sociedade.
Nas workhouses, eram internados homens, mulheres, crianças, doentes, desocupados e
criminosos – enfim, todos aqueles que não tinham como se manter. O objetivo era atender e
formar essa população nos padrões requisitados pelo sistema capitalista, em sua fase de
organização, a fim de legitimar e consolidar uma nova sociedade.
A Lei dos Pobres e suas formas de aplicação, portanto, dão a direção de como a assistência
aos mais pobres e marginalizados vinha sendo gerida, com o traço comum da caridade
revestida de coerção.
CASO BRASILEIRO
No Brasil, a história da assistência está ligada à caridade e filantropia. Inicialmente, tais
atividades eram operacionalizadas por mecanismos da Igreja Católica e por grupos
relacionados à filantropia empresarial, com pouca inserção advinda do Estado.
A partir dos anos 1930, essa configuração muda, por meio de condicionantes políticos,
econômicos e sociais, como veremos a seguir.
Vamos aprofundar, agora, um pouco mais sobre a importância da Revolução Industrial inglesa
para o surgimento do profissional de Serviço Social.
ASSISTÊNCIA NO BRASIL E
PROFISSIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO
SOCIAL
A perspectiva de enfrentamento e da regulação da questão social assume novos contornos a
partir da década de 1930. Essa época foi marcada por manifestações da questão social na vida
cotidiana da sociedade brasileira e por mudanças políticas e econômicas. Tal cenário atua
como campo fértil para a profissionalização do Serviço Social e o estabelecimento de uma
nova lógica no trato da questão social e da assistência.
É fato que a profissão surge a partir de demandas da sociedade capitalista, no entanto a Igreja
Católica apresenta destaque na estruturação dessa profissão emergente no país. São
provenientes da Igreja Católica:
IDEÁRIO
CONTEÚDOS
PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS PRIMEIROS ASSISTENTES
SOCIAIS BRASILEIROS
 
Imagem: Shutterstock.com
A questão social, por isso, é vista a partir de forte influência do pensamento social da Igreja,
que associa a questão social à questão moral, compreendendo-a como um conjunto de
problemas de responsabilidade individual da população que os vivenciam. Nesse enfoque,
desconsideram-se completamente as mazelas sociais provocadas pelas relações capitalistas.
TAL VISÃO APONTA PARA O TRATO DA QUESTÃO
SOCIAL POR UM ENFOQUE INDIVIDUALISTA,
MORALIZADOR E PSICOLOGIZANTE, QUE ENCONTRA
CONDIÇÕES EFETIVAS DE DESENVOLVIMENTO NA
PROFISSÃO.
CARÁTER VOCACIONAL DA PROFISSÃO
No bojo de transformações sociais, econômicas e políticas no Brasil, no período entre 1930 e
1940, o Serviço Social surge como profissão. Na época, contava com o projeto de
recristianização da Igreja Católica, bem como com a ação de grupos e instituições que
possibilitaram tais transformações.
 SAIBA MAIS
Durante o Estado Novo (1937-1945) Vargas visava garantir o controle social e sua legitimação,
apoiado na classe operária, por meio de uma política de massa. Tal política defendia e
reprimia, ao mesmo tempo, os movimentos reivindicatórios de melhores condições de vida e
trabalho.
Vargas adotava o modelo fascista europeu como exemplo. A versão brasileira desse modelo
era mais atenuada e contava com uma legislação social protetora e uma estrutura sindical
legalizada.
 
Foto: Governo do Brasil / Galeria de Presidentes / Wikimedia Commons / Domínio Público
Dessa forma, o Estado representava, por um lado, uma entidade que concedia direito
potenc¬¬ial à reivindicação e à cidadania. Por outro lado, esse mesmo Estado suprimia a
possibilidade real de organização política autônoma da classe trabalhadora, criando uma rede
assistencial cujo aparato visa atender muito mais ao elevado nível econômico do mercado do
que às necessidades da população.
As décadas de 1930 e 1940 são caracterizadas por uma sociedade industrial capitalista, tanto
na cidade quanto no campo:
A INDUSTRIALIZAÇÃO PROCESSAVA-SE DENTRO DE
UM MODELO DE MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA,
POIS ERA FAVORECIDA PELO ESTADO
CORPORATIVISTA, CENTRALIZADOR E AUTORITÁRIO.
ASSIM, A BURGUESIA INDUSTRIAL, ALIADA AOS
GRANDES PROPRIETÁRIOS RURAIS, BUSCAVA APOIO
PRINCIPALMENTE NO ESTADO PARA SEUS
PROJETOS DE CLASSE E, PARA ISSO, NECESSITAVA
ENCONTRAR NOVAS FORMAS DE ENFRENTAMENTO
DA CHAMADA QUESTÃO SOCIAL.
(PIANA, 2009, p. 88)
Essa influência da Igreja Católica recai sobre a formação profissional dos primeiros assistentes
sociais brasileiros, que estavam sob influência europeia, mais especificamente do modelo
franco-belga. Como principais características do ideário formativo da profissão, é possível
destacar os princípios messiânicos (tomismo) de salvar o corpo e a alma, centrado no objetivo
de servir ao próximo.
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Imagem: Shutterstock.com
TOMISMO
O tomismo é uma doutrina da Igreja Católica baseada no pensamento de São Tomás de
Aquino. Para ele, a sociedade é a união dos homens com propósito de efetuar algo
comum. O Estado, segundo esse ideário, deve respeitar a Igreja, e toda forma de
governo será considerada boa, desde que garanta os direitos das pessoas e o bem-estar
da comunidade.
O modelo franco-belga, desse modo, ficou limitado a uma formação essencialmente moral e
pessoal. A profissão, nesse cenário, era enxergada como uma espécie de vocação, que
requeria uma formação profissional doutrinária, para que os assistentes sociais pudessem
enfrentar a realidade social com subjetividade.
INSTITUIÇÕES ASSISTENCIAIS E O TECNICISMO
O Serviço Social segue com uma formação profissional doutrinária em suas primeiras
conformações, até a década de 1940. Nessa época, descortina-se uma série de novas
requisições profissionais, apontando para uma maior profissionalização do trato com as
questões sociais e com a assistência.
Apesar de ser um novo ciclo, a profissão segue profundamente marcada pela sua origem
católica, norteada pela:
CARIDADE
BENEVOLÊNCIA
FILANTROPIA
A diferença, portanto, reside na tomada de espaço do Estado no campo assistencial com apoio
do conjunto da sociedade civil. Essa tomada foi materializada por meio da criação das grandes
instituições assistenciais.
Para atuar em tais instituições, o Serviço Social busca uma instrumentalização técnica,
valorizando o método e desvinculando-se dos princípios neotomistas para se apoiar nos
pressupostos funcionalistas da sociologia. De forma tecnicista, o Serviço Social respondia às
novas exigências do mercado, ainda que não houvesse essa clareza e crítica no seio da
profissão.
INFLUÊNCIA EUROPEIA E NORTE-
AMERICANA SOBRE O SERVIÇO SOCIAL
É certo que o desenvolvimento do capitalismo no mundo e a gradativa expansão do domínio
norte-americano na América Latina se encarregaram de gerar demandas no campo social. Tais
demandas exigiam a superação do trabalho voluntário e apostolar dos primeiros agentes
sociais.
Corrobora-se, nesse contexto, a necessidade de uma formação especializada de agentes
sociais, por meio dos centros de formação. Como consequência, surge o Serviço Social
profissional.
ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL
O surgimento das escolas de Serviço Social deve ser compreendido pelo surgimento de
demanda de uma ação especializada e profissionalizada, também pelo movimento mais amplo
de desenvolvimento do capitalismo em todo o mundo.
Os países latino-americanos, de modo geral, contaram com alguma assistente social de origem
europeia para a criação de suas escolas. Se isso não fosse possível, ao menos, contavam com
uma escola local que tivesse a base europeia em sua formação. Nesse período, a formação
europeia assume um protagonismo nas escolas da América Latina.
 
Foto: Anton_Ivanov / Shutterstock.com
Posteriormente, os Estados Unidos assumem esse protagonismo devido a dois fatores:
Por um lado, pela consequente penetração norte-americana na América Latina, por questões
de alianças políticas e econômicas.

Por outro lado, pelos textos e visitas de professores estadunidenses ou mesmo de enviados de
organismos internacionais.
Otecnicismo, apontado como estratégia do Serviço Social para enfrentar as novas requisições
colocadas à profissão em seu período de institucionalização, diz respeito ao forte apelo à
linguagem do investimento, da técnica e do planejamento no universo profissional daquele
momento. Tudo isso constitui bases importantes para a profissionalização do Serviço Social.
 COMENTÁRIO
Apesar do esforço para superar o vínculo com a Igreja Católica, a profissão segue com uma
herança conservadora advinda da Igreja. A política assistencial passa a ser gerida
prioritariamente pelo Estado, sendo efetivada, direta ou indiretamente, pelas instituições do
próprio aparelho estatal ou associadas ao Estado.
A assistência deixa, portanto, de ser um serviço prestado exclusivamente pelas instituições
assistenciais privadas, tendo como novos protagonistas o Estado e o empresariado. Essa
mudança afeta não só o público atendido pelos mecanismos assistenciais, mas também as
expressões da questão social.
PAPEL DO EMPRESARIADO E DO ESTADO
O desenvolvimento do capitalismo e a inserção da classe operária no cenário político e social
da época provocam novas manifestações da questão social, expressas pela fome, pelo
desemprego, pela violência, entre outras. Isso exige do Estado e do patronato ações mais
efetivas e organizadas.
A DEMANDA DE TRABALHO POSTA AO SERVIÇO
SOCIAL NÃO SE DÁ PELA POPULAÇÃO USUÁRIA,
MAS POR REQUISIÇÕES APRESENTADAS PELO
EMPRESARIADO E ESTADO.
As características da população atendida pela malha assistencial também passam por
mudanças.
Antes
Uma pequena parcela da população era atendida por meio das obras assistenciais privadas.

Depois
Um maior número de proletários tem acesso às poucas políticas sociais criadas pelo Estado
naquela ocasião.
Tal mudança também altera o vínculo profissional, já que o empresariado e o Estado passam a
ser os principais empregadores de Assistentes Sociais. Isso dá um contorno diferente ao
exercício da profissão, uma vez que cada segmento empregador tem (em relação à prática
profissional):
LÓGICAS
INTERESSES
OBJETIVOS
EXPECTATIVAS
FRAGILIDADE DA CONSCIÊNCIA POLÍTICA
O pensamento conservador e a influência da doutrina católica traçaram um perfil de ação para
os profissionais de Serviço Social atrelado ao pensamento burguês. Sob esse olhar, eram
atribuídas ao Serviço Social tarefas como amenizar conflitos, preservar a ordem vigente e
promover equilíbrio nas relações sociais. Tudo isso desconsiderando as relações de
desigualdade que, necessariamente, dizem respeito ao modo de produção capitalista.
A profissão, portanto, possuía uma frágil consciência política, na medida em que não
conseguia perceber as contradições do exercício profissional, pois centrava suas forças e seu
pensamento na questão da ajuda ao próximo. Tais características profissionais facilitaram a
aceitação da profissão não só pela Igreja Católica, mas também pelo Estado e pela sociedade
burguesa.
É PRECISO TER CLARO QUE AS PRÁTICAS
ASSISTENCIAIS JÁ EXISTIAM ANTES MESMO QUE O
SERVIÇO SOCIAL SE CONSOLIDASSE COMO
PROFISSÃO.
No entanto, tal consolidação permite o uso do seu componente técnico operativo, incorporando
formas tradicionais de assistência e ação social, tais como:
ESTUDO DAS NECESSIDADES INDIVIDUAIS
TRIAGEM DOS PROBLEMAS
“CONCESSÃO” DE AJUDA MATERIAL
ACONSELHAMENTOS
INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO
VISITAS DOMICILIARES
ENCAMINHAMENTOS
AULAS DE TRABALHOS MANUAIS
ORIENTAÇÕES
INFORMAÇÕES SOBRE HIGIENE, ORÇAMENTO E MORAL
Podemos perceber, com isso, como a história da profissão marca a categoria até a atualidade.
Ainda contamos com demandas tradicionais, adaptadas aos novos tempos e cenários
econômicos, políticos e sociais.
INÍCIO DA INFLUÊNCIA NORTE-AMERICANA
Na década de 1940, o Serviço Social brasileiro passa a ter acesso aos métodos importados
dos Estados Unidos, com mais ênfase no Serviço Social de Caso e, de modo secundário, ao
Serviço Social de Grupo. O enfoque das duas metodologias diz respeito à solução de
problemas pessoais, de relacionamento e de socialização.
Só a partir da década de 1960, o Serviço Social brasileiro amplia seu campo de atuação
profissional para o chamado Desenvolvimento de Comunidade, também por influência norte-
americana.
 
Foto: Shutterstock.com
 VOCÊ SABIA
Em sua origem, o Serviço Social era composto basicamente por frações da elite da sociedade,
predominantemente feminina. Após o término da Segunda Guerra Mundial, a profissão passa a
receber membros da pequena burguesia, que tinham como interesse não mais a questão
vocacional religiosa, mas a possibilidade de ingresso no mercado de trabalho e a obtenção da
qualificação profissional que garantiria tal acesso.
RELAÇÃO ENTRE BRASIL E ESTADOS UNIDOS
 
Imagem: Shutterstock.com
O estreitamento das relações entre Brasil e Estados Unidos se solidificou na Era Vargas, mais
especificamente em 1942. Isso se deu em função de um objetivo comum – fortalecer o
capitalismo na América Latina, privilegiando determinados interesses econômicos e
políticos e, ainda, combatendo a ameaça comunista.
Embora o cerne da questão fosse econômico, a relação entre Brasil e Estados Unidos iria além
dessa fronteira, implicando um processo forte de ideologização norte-americana no país.
Desse modo, os Estados Unidos passaram a obter o status de grande referência de ideias e
ações, no campo econômico, financeiro, cultural e, especialmente, no campo das políticas
públicas.
Como profissão inserida nesse contexto social, o Serviço Social é permeado por tais
influências e absorve o modelo de profissão norte-americano em seus pressupostos filosóficos,
teóricos e científicos. Tais pressupostos serviam como bases de resposta na atuação
profissional.
A ideologia dominante naquele período histórico necessita de uma intervenção técnica forte,
organizada e planejada. Com isso, o Serviço Social desencadeou uma busca por recursos
técnicos, a fim de superar ações filantrópicas e espontâneas:
AS EXIGÊNCIAS DE TECNIFICAÇÃO DO SERVIÇO
SOCIAL SÃO ATENDIDAS, MANTENDO-SE A MESMA
RAZÃO INSTRUMENTAL: BUSCA-SE UMA MAIOR
QUALIFICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS
INTERVENTIVOS, UTILIZANDO-SE, INCLUSIVE,
FUNDAMENTOS ADVINDOS DA PSICOLOGIA, NA
EXPECTATIVA DE QUE OS PROFISSIONAIS
ASSISTENTES SOCIAIS FOSSEM CAPAZES DE
EXECUTAR PROGRAMAS SOCIAIS COM SOLUÇÕES
CONSIDERADAS MODERNIZANTES PARA O MODELO
DESENVOLVIMENTISTA ADOTADO PELO BRASIL.
(PIANA, 2009, p. 92)
O fazer profissional, sob esse aspecto, visa eliminar os desajustes sociais, utilizando-se de
uma intervenção profissional profundamente moralizadora e psicologizante, orientada pela
matriz positivista. No campo assistencial e do Serviço Social, o conservadorismo se
mantém presente no universo ideológico. Nesse sentido, passa-se a conceber uma política
técnico-burocrática, em um período no qual a profissão traduz sua ação por meio de uma ética
vinculada à moral conservadora e dogmática, segundo a base ideológica neotomista.
NEOTOMISTA
Corrente filosófica surgida o século XIX com objetivo de reviver a filosofia tomista, do
século XIII, a fim de lidar com os problemas sociais daquele período.
Segundo a ideologia neotomista, os problemas sociais são enxergados como um conjunto de
disfunções sociais, avaliados moralmente de acordo com uma concepção do que é ou não
normal, de acordo com o esquema valorativo do cristianismo.
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 ATENÇÃO
Há uma clara tendência ao ajustamento social, a visualizar a questão social como advinda de
desajustes individuais e de cunho psicológico. Portanto, tende-se a reduzir as demandas por
direitos sociais em uma forma de adoecimento. Notem que essa esfera é completamente
deslocada da discussão por efetivação de direitos sociais para ajustamento de necessidade
dos usuários.
Nesse mesmo contexto, o Serviço Social se profissionaliza. Sobre os primeiros profissionais,
recaem tais influências, tanto em suas formações quanto no cotidiano de suas atuações
profissionais.
CRISE E BUSCA POROUTROS MODELOS
O Serviço Social de Casos e de Grupo segue com suas abordagens individualizadas e com a
predominância de ação “psicologizada” – metodologias usadas por grande parte do corpo
profissional. Contudo, por volta da década de 1960, são registrados os primeiros movimentos
no sentido de a categoria questionar e buscar outros modelos de intervenção profissional.
Trata-se da primeira crise ideológica em alguns centros de formação profissional em Serviço
Social na América Latina. Nesses espaços, passa-se a vislumbrar possibilidades voltadas à
transformação da sociedade, substituindo a perspectiva desenvolvimentista presente na Era
Vargas e validada pela forte influência econômica, social e política norte americana.
Em um período posterior, boa parte da profissão passará a perceber a dimensão política de
sua prática, buscando o rompimento com a visão funcionalista e integradora no Serviço Social.
A partir daí, configuram-se as primeiras aproximações com a concepção crítica no âmbito
profissional.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA QUANTO ÀS
CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DO PROCESSO PELO QUAL PASSOU O
SERVIÇO SOCIAL EM SUA PROFISSIONALIZAÇÃO:
A) Manutenção de traços conservadores na atuação profissional; busca pela legitimação
profissional; rompimento com o ideário da Igreja Católica, mas ainda sob influência da doutrina
social da Igreja.
B) Manutenção do ideário católico, expresso pela doutrina social da Igreja e reafirmação do
viés apostolar e vocacional na profissão.
C) Rompimento definitivo com as influências católicas, e negação do viés apostolar e da
vocacional na profissão.
D) Revisão crítica das formas de atuação profissional e reconhecimento do caráter político da
atuação dos assistentes sociais.
E) Negação das práticas conservadoras no âmbito profissional e reafirmação do viés apostolar
e vocacional, próprio da doutrina social da Igreja.
2. COM RELAÇÃO ÀS INFLUÊNCIAS EUROPEIA E NORTE-AMERICANA
SOBRE O SERVIÇO SOCIAL, PODEMOS INFERIR QUE:
A) A principal influência europeia foi o modelo de formação franco-belga, que consistia em uma
formação essencialmente crítica e combativa ao sistema vigente. Em relação à influência norte-
americana, tiveram destaque o Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade, além dos
modelos de políticas públicas, implementados no país durante a Era Vargas.
B) A principal influência europeia foi o modelo de formação franco-belga, que consistia em uma
formação essencialmente científica e baseada na inovação de métodos de atuação
profissional. Em relação à influência norte-americana, tiveram destaque os métodos mais
arcaicos e voltados para a doutrina social da Igreja.
C) A principal influência europeia foi o modelo de formação franco-belga, que consistia em uma
formação essencialmente moral, pessoal e vocacional. Em relação à influência norte-
americana, tiveram destaque o Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade, além dos
modelos de políticas públicas, implementados no país durante a Era Vargas.
D) A principal influência europeia foi o modelo de formação franco-belga, que consistia em uma
formação essencialmente contestadora e rebelde. Em relação à influência norte-americana,
houve registros de poucas inovações metodológicas, sendo a mais expressiva o Serviço Social
de Caso.
E) A principal influência europeia foi o modelo de formação franco-belga, que consistia em uma
formação essencialmente moral, pessoal e vocacional. Em relação à influência norte-
americana, incipiente frente ao Serviço Social, conseguiu certo destaque tardio com o
Desenvolvimento de Comunidade.
GABARITO
1. Assinale a alternativa correta quanto às características principais do processo pelo
qual passou o Serviço Social em sua profissionalização:
A alternativa "A " está correta.
 
Trata-se de um primeiro movimento no sentido de repensar nas formas de atuação profissional
no Serviço Social, ainda sem muita profundidade e criticidade. Essas características são a
base sob a qual se constituiu o Serviço Social no Brasil.
2. Com relação às influências europeia e norte-americana sobre o Serviço Social,
podemos inferir que:
A alternativa "C " está correta.
 
Os dois primeiros blocos de formação profissional em Serviço Social receberam, como
influência europeia, o modelo franco-belga, que era essencialmente moral e apostolar.
Posteriormente, receberam a influência modelo norte-americano, fundado na sociologia
americana e na perspectiva de ajustamento e atuação psicossocial. Tais movimentos foram
importantes para, com a continuidade, fomentar a crítica à atuação do Serviço Social, que viria
mais tarde, com os primeiros esboços do Movimento de Reconceituação na década de 1960.
MÓDULO 2
 Distinguir as experiências das primeiras escolas de Serviço Social na América Latina
e suas influências no processo de profissionalização do Serviço Social no Brasil
FORMAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA
AMÉRICA LATINA
 
Foto: Leonidas Santana / Shutterstock.com
As bases do Serviço Social na América Latina foram constituídas, historicamente, na década
de 1920. No entanto, somente alguns anos mais tarde é que o Serviço Social se constituiu
como profissão, inserida na divisão social e técnica do trabalho.
Até que esse processo se consolidasse, as protoformas do Serviço Social na América Latina se
deram de acordo com a realidade de cada país, mas mantendo alguns traços em comum. Na
maioria dos países, as ligas operárias desempenharam um papel decisivo na implantação das
bases do que, mais tarde, seria assumido pelo Estado como a Previdência Social.
O principal traço comum entre as realidades latino-americanas, no entanto, foi a base
organizacional e doutrinária da ação social da Igreja, além da intervenção do Estado no campo
assistencial:
O TRABALHO ASSISTENCIAL E PATERNALISTA FOI O
EIXO PRINCIPAL DESSAS PREFIGURAÇÕES DA
PROFISSÃO. DESEMPENHARAM UM PAPEL
SIGNIFICATIVO, NELAS, OS SETORES RELIGIOSOS –
A IGREJA POSSUI UMA EXTREMA REDE DE
HOSPITAIS, OBRAS DE CARIDADE, DE INSTITUIÇÕES
ASSISTENCIAIS, CUJA AÇÃO ESTÁ BASICAMENTE
ORIENTADA PARA MINORAR OS PROBLEMAS
SOCIAIS. DENTRO DA IGREJA, O MOVIMENTO LAICO
EXERCEU, EM TODOS OS PAÍSES DA AMÉRICA
LATINA, UM PAPEL DESTACADO NA ORGANIZAÇÃO E
DIREÇÃO DE OBRAS ASSISTENCIAIS
COMPREENDIDAS DENTRO DA AÇÃO SOCIAL
CATÓLICA. OS SETORES JUVENIS CUMPRIRAM UM
PAPEL DESTACADO NESTE PROCESSO, SOB A
TUTELA HIERÁRQUICA ECLESIÁSTICA. AO LADO DA
IGREJA, OS SETORES ARISTOCRÁTICOS E
OLIGÁRQUICOS DAS SOCIEDADES LATINO-
AMERICANAS AGILIZARAM UMA SÉRIE DE AÇÕES
SOCIAIS QUE PRETENDIAM “AJUDAR OS MAIS
NECESSITADOS”, “PROTEGER A INFÂNCIA
DESVALIDA”, “MINORAR OS MALES DA SOCIEDADE”.
IGUALMENTE O ESTADO PÕE EM AÇÃO POLÍTICAS E
MEDIDAS ASSISTENCIALISTAS E,
ESPORADICAMENTE, ALGUMAS DE CARÁTER
PREVENTIVO.
(SANTOS, 1993, p. 182)
PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL NA
AMÉRICA LATINA
Ao tratarmos sobre profissionalização do Serviço Social, uma dimensão que assume grande
importância é a formação dos quadros de assistentes sociais.
 ATENÇÃO
É preciso compreender, para além das formalidades de grades curriculares, as
intencionalidades e os contextos sobre os quais a formação profissional se efetiva. Para isso,
temos de analisar as experiências das primeiras escolas de Serviço Social na América Latina.
A gestão das primeiras escolas se deu em contextos de mudanças políticas e sociais
significativas no continente, nos quais a Igreja Católica desempenhou papel fundamental.
Devido à importância e influência da experiência chilena sobre as demais escolas da América
Latina, começaremos nossa análise por este país.
CHILE
 
Imagem: Shutterstock.com
Na década de 1920, o Chile passava por um período de grandes mudanças sociais,
econômicas e políticas:
NA HISTÓRIA CHILENA, TODA A DÉCADA DE VINTE
[1920] ESTÁ MARCADA COMO UM PERÍODO DE
SEVERA CRISE INSTITUCIONAL E CONTÍNUOS
PROTESTOS. A BREVE INTERRUPÇÃO DO GOVERNO
ALESSANDRI, QUE CULMINA COM SUA VOLTA AO
PODER, SUCEDEM DIVERSOS EVENTOS QUE
ACENTUAMA INSTABILIDADE – E ALESSANDRI
ABANDONOU O CARGO TRÊS MESES ANTES DA
CONCLUSÃO DO SEU MANDATO. SUBSTITUIU-O
EMÍLIO FIGUEIROA, QUE GOVERNOU POR POUCO
TEMPO, CEDENDO LUGAR AO CORONEL IBAÑEZ,
DESIGNADO PRESIDENTE A 27 DE MAIO DE 1927.
CONTUDO, O REGIME, ACUADO POR UMA ONDA DE
PROTESTOS E PELAS GRAVES CONSEQUÊNCIAS DA
CRISE DE 1929, FOI DERRUBADO POR UM LEVANTE
GERAL EM 1931. UM ÚNICO DADO PODE SERVIR
COMO REFERENCIAL DO IMPACTO DA CRISE: A
PRODUÇÃO DE SALITRE, PRODUTO FUNDAMENTAL
DA EXPORTAÇÃO CHILENA, FOI, EM 1920, DE MAIS
DE TRÊS MILHÕES DE TONELADAS; EM 1933, CAIU A
POUCO MAIS DE QUATROCENTAS MIL TONELADAS.
(MANRIQUE CASTRO, 1987, p. 65)
O panorama apresentado mostra que, além das crises políticas expressas pelas reiteradas
sucessões presidenciais, a instabilidade chilena da época diz respeito também às questões
econômicas – produção e exportação. Tais questões orientaram a reorganização da base
produtiva no país, que provocou, por sua vez, a alteração das relações entre as classes
sociais.
A organização e disciplina da classe operária chilena – de definição socialista e anarquista –
merece destaque nesse processo. O cenário denota o contexto de efervescência social no qual
se funda, no Chile, a primeira escola de Serviço Social, em 1925.
Embora tenha ocorrido de forma semelhante em outros países da América Latina, inclusive no
Brasil, a burguesia chilena foi pioneira ao institucionalizar diversas reinvindicações populares e
operárias no aparato estatal e privado burguês, provocadas pelas pressões populares e da
classe operária. Tal movimento figurou como fator preponderante para a profissionalização do
Serviço Social naquele país.
A institucionalização das demandas populares gerou uma legislação que obrigava o Estado –
mas não somente ele – a responder pelos problemas relacionados à previdência social,
habitação, às condições de trabalho, saúde pública, salariais, entre outras – todos objetos de
reivindicações da classe operária.
 SAIBA MAIS
A legislação promulgada em 1924 evidenciou a necessidade de adequar as entidades ligadas
ao Estado, direta ou indiretamente, ao que foi definido nas leis. Tratava-se de operacionalizar o
que estava preconizado nas leis, tanto do ponto de vista material, de infraestrutura, como de
profissionais de formação diferenciada. Tais profissionais deveriam atender ao crescimento da
intervenção estatal no campo da assistência social.
ESCOLA DEL RÍO
A fundação da primeira escola de Serviço Social no Chile ocorreu em 1925, por Alejandro Del
Río. A escola fundada por Del Río tem sua origem mais ligada à ação estatal. Del Río era
médico e concebia o Serviço Social como uma espécie de complementação do trabalho da
Medicina.
Com as aprovações de legislações e a consequente criação de necessidades de
operacionalização das leis, Del Río, apoiado pela Junta Central de Beneficência de Santiago,
visitou centros de formação acadêmica na Bélgica. Seu objetivo era conhecer os métodos e
trazê-los para seu país.
 
Foto: Autor desconhecido / Wikimedia Commons / Domínio Público
ALEJANDRO DEL RÍO
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Alejandro del Río Soto-Aguilar (1867-1939) foi um médico renomado no Chile com uma
carreira prolífica. Depois dos estudos de Higiene na Europa, tornou-se o médico social
mais qualificado do seu tempo, entendido como aquele que, por meio de sua atividade
médica, procurou reduzir os graves problemas derivados da questão social.
Após diversos contatos, Del Río contou com o apoio de Rene Sand para apoiá-lo no intento de
criar uma escola para formar profissionais destinados a complementar o trabalho do médico.
No entanto, apesar de a escola de Del Río estar, em sua origem, mais vinculada à esfera
estatal, não se pode desconsiderar a forte influência da Igreja Católica, nem na experiência
chilena, nem nas demais escolas latino-americanas.
Na constituição desses centros de estudos, recorrentemente estão conjugadas duas
estratégias comuns:
Estratégia 1
A iniciativa estatal.

Estratégia 2
A iniciativa da Igreja Católica e de suas instituições e grupos correlacionados.
TAMBÉM NÃO SE PODE EXCLUIR A INCIDÊNCIA DAS
PRESSÕES ADVINDAS DOS MOVIMENTOS
POPULARES E DO PROLETARIADO.
No Chile, assim como em outros países, a marca da Igreja Católica em relação ao trato com a
assistência esteve presente. Desde a antiguidade, a Igreja era a principal promotora das obras
de caridade e difusora permanente de sua doutrina e pensamento. Portanto, nesse campo,
foram constituídas as primeiras formas do Serviço Social.
Embora a primeira escola de Serviço Social fundada no Chile tenha sido laica, e não católica,
isso não significa que a Igreja decidiu intervir no campo social e assistencial somente após a
criação dessa escola. O exercício da assistência social já tinha precedência da Igreja Católica,
cuja prática se dava sob arraigada inspiração religiosa. Os agentes sociais da Igreja atuavam
como um verdadeiro apostolado nas chamadas obras de misericórdia, com o vasto recurso
financeiro do qual dispunham naquele período.
ESCOLA ELVIRA MATTE DE CRUCHAGA
A primeira escola católica de Serviço Social no Chile – escola Elvira Matte de Cruchaga – foi
criada em 1929, por Miguel Cruchaga Tocornal, que foi Presidente do Senado chileno e
Ministro de Relações Exteriores. Isso explica os recursos financeiros estatais e o prestígio
recebidos pela escola em sua gestão. Tais recursos custeavam parte dos gastos derivados dos
trabalhos acadêmicos e das obras sociais.
Sob o ponto de vista da organização da escola, foi entregue à responsabilidade de Rebeca e
Adriana Izquierdo. As irmãs buscaram apoio de Louise Joerissen – ex-diretora da Escola de
Serviço Social Católica de Munique, Alemanha –, que esteve à frente da instituição até 1933,
quando foi substituída por Rebeca Izquierdo.
 
Foto: Ministerio de Relaciones Exteriores de Chile / Wikimedia Commons / Domínio Público.
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MIGUEL CRUCHAGA TOCORNAL
Miguel Cruchaga Tocornal (1869-1949) foi advogado e político do Partido Conservador.
Foi senador por dois mandatos nos períodos de 1937-1945 e 1945-1953.
Entre outras atividades, dedicou-se à escrita, especialmente na área do Direito
Internacional, e colaborou com jornais e revistas, nacionais e estrangeiras. Foi benfeitor
da Sociedade de Proteção à Criança e fundador da Escola de Serviço Social da
Universidade Católica, a qual deu o nome de sua esposa, Elvira Matte, por ter sido
construída com doações próprias.
Pouco antes de sua morte, ele foi mencionado como um possível candidato ao Prêmio
Nobel da Paz.
 SAIBA MAIS
Em 1933, a Direção da Escola ficou a cargo das irmãs Rebeca e Adriana Izquierdo Phillips. As
irmãs, movidas por uma profunda sensibilidade social, realizaram seus estudos na Bélgica e na
Alemanha.
Rebeca e Adriana Izquierdo deixaram os cargos de diretoria da Escola de Serviço Social Elvira
Matte de Cruchaga após 36 anos de trabalho ininterrupto e grandes conquistas.
Em discurso de agradecimento aos serviços prestados pelas irmãs, o então deputado José
Manuel Tagle disse:
“Queríamos elevar nossa voz para agradecer estas altruístas senhoras. Sua ação é tão ampla
e eficaz em favorecimento da comunidade e, principalmente, dos setores modestos. Elas têm
trabalhado com a mais autêntica humildade, com o mais profundo patriotismo, cientes das
necessidades sociais de nossa terra” (TAGLE, 1965, p. 3282-3283)
A criação dessa escola apresentava diversas motivações. Entre elas, havia o interesse da
Igreja em criar um centro ortodoxo para a formação de agentes sociais adequados às
mudanças sofridas pela sociedade chilena. Tais profissionais deveriam responder aos
estímulos práticos impostos pela luta de classes entre a burguesia e o proletariado.
Outra motivação dizia respeito à intenção da Igreja em estender sua influência católica nas
escolas de Serviço Social de todo o continente latino-americano, ampliando sua doutrina social
e, consequentemente, seu poder como instituição. Isso explica uma dasindagações sobre o
motivo de terem sido instituídas duas escolas de Serviço Social no Chile, em curto espaço de
tempo, sem que houvesse uma tentativa de complementar esforços em relação à primeira
escola, já fundada.
INTERESSES DA IGREJA CATÓLICA
A criação da escola Elvira Matte de Cruchaga se inscreve no contexto dos interesses globais
da Igreja Católica, que tentava se colocar em destaque no movimento intelectual da época, a
fim de recuperar seu papel na conduta moral da sociedade. Nesse sentido, a Igreja se via entre
o pragmatismo burguês e o socialismo, com seu pressuposto ateu. Para não perder espaço, a
Igreja redobrava sua ação nos terrenos mais diversos, investindo na formação de intelectuais
alinhados com seus pensamentos e dotando-os dos meios de intervenção necessários para
atuação naquele contexto.
A Igreja enxergava a necessidade e a oportunidade ao se envolver com a questão social –
produto da modernização capitalista – por meio da assistência social. Pode parecer uma
mudança sutil, mas a Igreja começa a voltar seu olhar para outra direção, não mais às vítimas
das pestes ou aos desvalidos em geral.
 
Foto: Shutterstock.com
Nesse momento, a Igreja se volta ao amparo daqueles que não suportavam as consequências
de um novo modo de produção que mercantiliza a força de trabalho, que dá novos contornos à
família, que promove concentrações urbanas, que modifica o papel feminino ao passo que
incorpora a mulher ao mercado de trabalho e à relação de assalariamento, que origina novas
doenças, entre outras questões atualizadas.
No projeto da nova escola católica, a Igreja tentava responder, de forma complementar e não
antagônica, à escola que já havia sido fundada por Del Río. Inclusive, as duas escolas
compartilhavam uma base doutrinária comum. Entre outros aspectos, compartilhavam da
influência belga, mas guardavam suas diferenças e particularidades ainda assim.
Uma dessas diferenças dizia respeito à concepção do fazer profissional:
ESCOLA DE DEL RÍO
ESCOLA ELVIRA MATTE DE
CRUCHAGA
ESCOLA DE DEL RÍO
Havia a compreensão do Serviço Social como profissão apêndice da área médica. Nesse
sentido, apesar da influência católica, o marco da prática profissional acabava muito delimitado
ao caráter complementar à profissão médica.
ESCOLA ELVIRA MATTE DE CRUCHAGA
O campo de atuação do Serviço Social era enxergado de modo mais amplo, com relação à
atuação frente às múltiplas expressões da questão social. Com isso, sempre era mantido o
horizonte da ação profissional vocacional, de forte cariz católico e preocupado com a satisfação
das questões materiais, morais e relacionadas ao bem comum e ao amor ao próximo.
A criação da escola Elvira Matte de Cruchaga, portanto, obedeceu a uma dupla racionalidade.
Responder às demandas que uma sociedade em mutação impunha à Igreja e aos seus
intelectuais.

Exercer o papel de divulgadora internacional do Serviço Social católico.
Sob aspecto da divulgação internacional, a Escola Elvira Matte de Cruchaga foi um projeto
destinado à organização do laicato, no sentido da formação para a assistência social
plenamente em acordo com a lógica da religião católica. Tal ação social era acompanhada por
treinamentos, propiciados fundamentalmente pela Igreja Católica, por intermédio dos seus
primeiros centros de formação.
A EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO DAS VISITADORAS
SOCIAIS NESSES CENTROS CONSTITUIU EMBRIÃO
DA FORMAÇÃO TÉCNICA MAIS ESPECIALIZADA EM
SERVIÇO SOCIAL.
IMPORTÂNCIA DAS VISITADORAS SOCIAIS
NO PROCESSO DE PROFISSIONALIZAÇÃO
PROCESSO DE FORMAÇÃO PELA ESCOLA
ELVIRA MATTE DE CRUCHAGA
A Escola Elvira Matte de Cruchaga foi criada com objetivos claramente definidos em relação ao
ideário da Igreja Católica no contexto das desigualdades produzidas pelo modo de produção
capitalista.
Do ponto de vista do Serviço Social, a escola investia em um sólido processo de formação
profissional, pautado em dois fatores combinados:
OS ANTECEDENTES DA CANDIDATA
A FORMAÇÃO OFERECIDA PELO CURSO
A escola primava pela ligação das ex-alunas com o centro de estudo, como estratégia de
manutenção de vínculos.
A escola apresentava rigorosos requisitos para admissão de suas alunas, tais como idade (ter
entre 21 e 34 anos), atestado médico de boa saúde, bons antecedentes, recomendação
paroquial e bom rendimento escolar em ciências humanas. Portanto, a seleção se baseava
em critérios elitistas, de forma que somente as jovens mulheres de famílias abastadas
conseguiam preencher os requisitos.
 VOCÊ SABIA
O plano de estudo foi fundamentado duração com três anos, entre cursos teóricos e atividades
práticas. O plano era apoiado nos princípios do Papa Pio XI, que se referia à relação entre a
escola e a Igreja, apregoando que todo ensino e toda organização, bem como professores,
programas, livros e demais atividades, estejam dirigidas pelo espírito cristão.
Os problemas relacionados às péssimas condições de saúde da população faziam com que
houvesse ênfase nas disciplinas relativas à saúde. Tais problemas eram derivados das
condições insalubres resultantes do reordenamento capitalista sobre a economia e a
sociedade, aliado à influência de formação europeia, que já aproximava o Serviço Social e a
Enfermagem.
 
Foto: Shutterstock.com
ESCRITÓRIO CENTRAL DE SERVIÇO SOCIAL
Em 1936, a escola criou o Escritório Central de Serviço Social, realizando um importante
trabalho de mapeamento das demandas sociais atendidas. Nas áreas rurais e urbanas, a
incidência dos problemas era diferente. No entanto, identificou-se que os problemas de ordem
médica e higiênica, somados aos econômicos, apontavam para a origem das limitações
salariais, ligadas às relações capitalistas de produção.
As práticas realizadas no Escritório permitiam um aprendizado profissional que logo seria
levado ao terreno de trabalho nas instituições sociais. As finalidades principais do escritório
eram:
1
Desenvolver e estabelecer o Serviço Social no país (Chile), por meio da aplicabilidade de
novas técnicas do trabalho da ajuda e da educação das classes operárias, abrindo a
oportunidade de aproveitamento de seu serviço especializado às instituições que não
dispunham de um Serviço Social próprio e independente.
Disponibilizar uma formação prática aos estudantes, de acordo com os planos escolares, sob o
rígido controle da escola.
2
3
Estudar, sistematicamente, as condições sociais de diferentes grupos e promover a melhoria
da situação das classes necessitadas, indicando medidas específicas ou gerais, e propondo
leis ou regulamentos.
 RESUMINDO
Com o Escritório, a escola visava contribuir ativamente para a educação da classe operária,
bem como para o desenvolvimento e prestígio do Serviço Social como profissão, articulando o
interesse em ampliar o mercado de trabalho da profissão.
INTERFACE ENTRE A ESCOLA E O ESTADO
A Escola Elvira Matte de Cruchaga se diferencia em relação às formas anteriores de
assistência social, na medida em que reconhece o papel mediador do Estado para normatizar
as relações entre capital e trabalho. Dessa maneira, as visitadoras sociais adquiriram
conhecimento e proximidade com os problemas sociais da época – fator que as legitimava a
sugerir leis e regulamentos no campo assistencial.
Há, na perspectiva dessa escola, um esforço para conquistar uma função no interior das
relações entre as classes, propondo soluções aos problemas, em interface direta com o Estado
e por intermédio privilegiado da atuação das visitadoras sociais.
 VOCÊ SABIA
O governo chileno, em 1935, solicitou à escola que estudasse a situação salarial, a fim de que
fossem introduzidas mudanças pertinentes. O trabalho em questão foi realizado pelas
visitadoras sociais e suas conclusões foram bem acolhidas pelo aparato estatal. As visitadoras,
com isso, adquiriram respeito e credibilidade em seu fazer profissional. Nos anos mais duros
da crise chilena, a escola recebeu do governo a tarefa de organizar a assistência a milhares de
desempregados, sempre contandocom o apoio dos mecanismos da Igreja Católica.
ENCONTROS COM EX-ALUNAS DA ESCOLA
A escola zelava pela realização de encontros periódicos com suas ex-alunas, as chamadas
Semanas, que costumavam ocorrer uma vez ao ano. Eram espaços de compartilhamento de
experiências de trabalho, propostas de novos métodos de ação e reforço do idealismo e
espírito religioso das alunas egressas.
Os conferencistas convidados para essas jornadas, normalmente, eram profissionais que
ocupavam importantes cargos em instituições que demandavam o trabalho das visitadoras. Em
geral, eram convidados que causavam impacto na categoria, fosse pelo notório saber, pela
autoridade ou pelo peso dos cargos.
CENÁRIO INTERNACIONAL
Consolidada a importância, a legitimação e o prestígio das visitadoras sociais no país de
origem, a Escola Elvira Matte de Cruchaga também se dedicou a investir em sua influência
internacional. Desde seus primeiros anos de funcionamento, a escola já contava com a filiação
junto à União Católica Internacional de Serviço Social (UCISS), com sede em Bruxelas.
A UCISS TINHA COMO OBJETIVO DIFUNDIR O
SERVIÇO SOCIAL CATÓLICO, E A ESCOLA ELVIRA
MATTE DE CRUCHAGA ERA UM CENTRO
PRIVILEGIADO DE SUAS OPERAÇÕES.
A UCISS deu à escola a missão de fomentar o Serviço Social católico na América Latina.
Inicialmente, isso se seu com o envio de cartas e prospectos aos países sobre a instituição de
ensino.
 SAIBA MAIS
“Na Europa, a atenção social tornou-se mais urgente, com o término da Primeira Guerra
Mundial (1914-1917), pois o volume de vítimas do conflito estimulou a abertura de escolas e
técnicas de socorro adequadas. A primeira organização internacional privada de Serviço Social
foi a União Católica Internacional de Serviço Social (UCISS), com sede em Bruxelas (1925),
cujos programas educacionais tiveram notável influência nas Escolas de Serviço Social”
(CARILLO; SANCHEZ, 2018, p. 325).
 
Imagem: Shutterstock.com
Com a continuação, a ação de fomento do Serviço Social católico na América Latina rendeu os
frutos esperados, e a formação em rede influenciou a constituição de escolas de Serviço Social
em vários países, como Uruguai, Peru, Argentina, Cuba, Brasil e Venezuela. De dez escolas
latino-americanas de Serviço Social, oito eram escolas católicas, o que apontava o êxito do
projeto da Igreja.
CONTRIBUIÇÃO DA ESCOLA ELVIRA
MATTE DE CRUCHAGA
Sem dúvida, a Escola Elvira Matte de Cruchaga foi uma instituição pioneira, que serviu como
modelo a outros centros de formação, com destaque para a experiência das visitadoras sociais.
Nesse sentido, contribuiu em larga escala para oferecer um campo propício para o Serviço
Social, mesmo que se moldando às exigências históricas impostas pela sua vinculação com os
poderes estatal e religioso.
A atividade da escola pôs em jogo duas frentes:
Uma frente abnegada e de incondicional entrega para reduzir as resultantes sociais do
capitalismo.
Outra frente relativa à sua sistemática dedicação para servir à gama de estratégias para a
qual fora criada – operar seu plano de estudos, as práticas profissionais, o Escritório
Central de Serviço Social, as relações internacionais e a instrumentalização de sua
ideologia.
A escola, em si, não pode ser considerada um paradigma para a profissão. No entanto,
indiscutivelmente, ela contribuiu para respostas ao seu tempo e marcou o processo de
profissionalização do Serviço Social na América Latina.
Vamos entender um pouco mais por que o Chile é tão importante para a formação do Serviço
Social.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SOBRE O CONTEXTO HISTÓRICO EM QUE SE DEU A FORMAÇÃO DAS
DUAS PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL NO CHILE, PODEMOS
AFIRMAR QUE:
A) Era de um cenário pós-guerra, fato que justificava a emergência do Serviço Social para
atuação junto à população pauperizada.
B) Era de grandes mudanças decorrentes da adaptação ao novo modo de produção capitalista,
sob os aspectos sociais, econômicos e políticos, gerando demandas sociais relacionadas a
esse novo modo de produzir.
C) Era de forte influência da Igreja Católica, que era a responsável sozinha por toda a malha
assistencial que atendia à população desassistida.
D) Era de regime autoritário e ditatorial, o que fez com que o Serviço Social fosse instituído
como profissão para atender à massa pauperizada da população, com objetivo de conter
revoltas sociais.
E) Dizia respeito a uma intenção de mudança de regime de governo, na transição de
capitalismo para socialismo – fato que possibilitou a criação de políticas sociais voltadas à
preservação da qualidade de vida da população e a ampliação do mercado de trabalho dos
assistentes sociais.
2. QUAL ASSERTIVA EXPRESSA A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA
FORMATIVA DAS VISITADORAS SOCIAIS?
A) As visitadoras sociais realizavam práticas de caridade junto à população chilena e, por essa
razão, angariaram a simpatia da população, do governo chileno e da Igreja Católica.
B) As visitadoras sociais desenvolveram métodos de trabalho e pesquisa em seu campo de
atuação profissional, aprofundando o conhecimento sobre a realidade social na qual
intervinham, o que lhes conferiu legitimidade e prestígio perante a população e o aparato
religioso e estatal.
C) As visitadoras sociais desenvolveram métodos de trabalho e pesquisa em seu campo de
atuação profissional, pautadas em inovações teóricas norte-americanas, impressionando o
governo chileno.
D) As visitadoras sociais desenvolveram métodos de trabalho e pesquisa em seu campo de
atuação profissional, promovendo a organização da classe trabalhadora e canalizando as
reivindicações da sociedade para o aparato estatal.
E) As visitadoras sociais desenvolveram métodos de trabalho e pesquisa em seu campo de
atuação profissional, que resultaram no rompimento definitivo com a doutrina social da Igreja e
com os fundamentos da Escola Elvira Matte de Cruchaga, agradando sobremaneira o então
governo chileno.
GABARITO
1. Sobre o contexto histórico em que se deu a formação das duas primeiras escolas de
Serviço Social no Chile, podemos afirmar que:
A alternativa "B " está correta.
 
A realidade social chilena daquele contexto histórico se configurou como um campo fecundo,
para que as demandas geradas como espécies de sequelas do capitalismo sobre a classe
trabalhadora pudessem servir como matéria-prima, a fim de que as escolas de Serviço Social
trabalhassem seu conteúdo teórico e prático.
2. Qual assertiva expressa a importância da experiência formativa das visitadoras
sociais?
A alternativa "B " está correta.
 
A partir da criação do Escritório Central de Serviço Social e com o sólido investimento
acadêmico da Escola Elvira Matte de Cruchaga, a estratégia proposta para as visitadoras
sociais obteve grande êxito, servindo como modelo para outras localidades e constituindo uma
forma anterior ao formato institucionalizado de assistentes sociais, como se tem após a
inserção da profissão na divisão social e técnica do trabalho.
MÓDULO 3
 Identificar influência dos Estados Unidos na profissionalização do Serviço Social no
Brasil pela via da atuação profissional pautada no viés psicossocial
CONTEXTO DO SERVIÇO SOCIAL
BRASILEIRO
O processo de desenvolvimento da profissão, que se deu entre 1947 e 1961, recebeu uma
forte influência do Serviço Social norte-americano. Esse período foi denominado de
metodologismo e desenvolvimentismo.
Para analisar essa parte da história do Serviço Social, não podemos deixar de considerar o
contexto social e econômico, sobre os quais os acontecimentos relacionados à profissão se
deram.
ERA VARGAS
A partir da década de 1940, o capitalismo industrial no Brasil se sedimenta com bases mais
definidas. Por meio da adoção de políticas econômicas e financeiras, o Estado fomenta os
polos industriais, com objetivo de organizar o mercado interno e tornar o mercado internacional
um campo sólido e rentável.
O BRASIL VIVIA A ERA VARGAS.
Devemos destacar, portanto, a neutralização das reivindicações popularese sindicais, na
medida em que o Estado Novo incorporava demandas de diversos setores da sociedade e lhes
“concedia”, sob forma de leis e políticas sociais, combinadas à repressão da ditadura varguista.
A POLÍTICA DO ESTADO NOVO
Foi claramente gestada para responder às necessidades do processo de industrialização e de
enquadramento da população urbana. A expansão desse setor é diretamente proporcional à
intensificação da exploração da força de trabalho. Considerando a realidade brasileira, por
tratar-se de um país populoso e de grandes dimensões territoriais, a massa de trabalhadores
disponíveis favorece a exploração intensa na qual o modo de produção capitalista precisa para
se reproduzir.
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Dito de outra maneira:
TRATA-SE DE ENFRENTAR O PROCESSO DE
PAUPERIZAÇÃO DO CONTINGENTE DA CLASSE
TRABALHADORA URBANA, COMO FORMA
INDISPENSÁVEL À GARANTIA DOS NÍVEIS DE
PRODUTIVIDADE DO TRABALHO (REPRODUÇÃO DA
FORÇA DE TRABALHO), NECESSÁRIOS À EXPANSÃO
DO CAPITAL NAQUELE MOMENTO.
(ANDRADE, 2008, p. 270)
 
Foto: Yan Victor de Brito / Wikimedia Commons / CC 4.0
O Estado Novo se apoia, portanto, na classe trabalhadora, a fim de se legitimar e garantir o
controle social, por meio das políticas sociais de massa, que protegem e reprimem, ao mesmo
tempo, os movimentos reivindicatórios. Como exemplos, temos as legislações sociais, sindicais
e as instituições assistenciais – todas ações decorrentes de estabelecimento de alianças entre
Estado e empresariado.
Como resultado dessas alianças, foram criados a LBA (Legião Brasileira da Assistência) e o
SENAI (Serviço Social de Aprendizagem Industrial), em 1942, e o SESI (Serviço Social da
Indústria) e o SENAC (Serviço Social de Aprendizagem Comercial), em 1946.
 ATENÇÃO
Importante conferir o Decreto-Lei nº 4.830, de 15 de outubro de 1942 acerca dessa
Associação.
ROMPIMENTO COM O APOSTOLADO
VOCACIONAL CATÓLICO
As grandes instituições assistenciais brasileiras e a profissionalização do Serviço Social
ocorrem simultaneamente na década de 1940. Sob o ponto de vista da profissão, foi um marco
no qual o Serviço Social pode romper o estreito quadro de sua origem no bloco católico.
Como efeito, instaurou-se como categoria assalariada, inserida no mercado de trabalho, aberto
a partir das grandes instituições assistenciais, em sua maioria advindas do aparato estatal ou
paraestatal. Para responder às novas demandas, no entanto, foi necessário que a categoria
profissional buscasse conhecimentos teóricos e técnicos considerados mais adequados às
requisições colocadas ao Serviço Social.
Para tanto, era necessário romper com a forma anterior da atuação profissional, própria das
pioneiras do Serviço Social e oriunda do apostolado social. Naquele momento, atuação
profissional passava pela centralidade do mandado institucional, respaldado pelo que estava
preconizado nas leis, regulações e políticas sociais.
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FOI NO PROCESSO DE EMERGÊNCIA DAS CLASSES
SOCIAIS – PROLETARIADO E BURGUESIA NACIONAL
– QUE O SERVIÇO SOCIAL SE DESENVOLVEU E
LEGITIMOU COMO PROFISSÃO. OS ASSISTENTES
SOCIAIS APARECERAM COMO UMA CATEGORIA DE
ASSALARIADOS, DIRETA OU INDIRETAMENTE,
VINCULADOS AO ESTADO, DEVIDO À
IMPLEMENTAÇÃO DE SUAS POLÍTICAS SOCIAIS, VIA
ENTIDADES SINDICAIS E ASSISTENCIAIS.
(ANDRADE, 2008, p. 271)
Vemos que os padrões de eficácia do Serviço Social do período doutrinário, baseado em
parâmetros morais e conservadores, tornam-se pouco eficiente frente aos novos tempos e às
novas requisições.
SER UM BOM CRISTÃO, COM INTENÇÕES DE
SOLIDARIEDADE E AMOR AO PRÓXIMO, TORNAVA A
AÇÃO PROFISSIONAL PRECÁRIA DIANTE DO NOVO
CONTEXTO SOCIAL EXPERIMENTADO.
No contraponto, a expectativa em relação à atuação de assistentes sociais era pautada em
rentabilidade e investimentos, apoiados em conhecimentos mais sistematizados sobre a
realidade e os procedimentos adequados à intervenção profissional. A isso equivale a grande
preocupação com os métodos e as técnicas, administrativos e burocráticos, da forma exigida
pelas entidades assistenciais.
SERVIÇO SOCIAL E A INFLUÊNCIA NORTE-
AMERICANA
Vamos relembrar alguns fatos históricos mundiais para compreender a passagem da atuação
profissional orientada pela doutrina social da Igreja Católica para a fase desenvolvimentista.
Tais fatos explicam muitos dos rebatimentos sofridos no Brasil e, mais especificamente, no
Serviço Social.
GUERRA FRIA
No Brasil, o então presidente Getúlio Vargas estreitou relações econômicas e políticas com os
EUA, com uma bandeira comum – a expansão mundial do capitalismo e o combate ao
comunismo.
No cenário mundial, com o fim da Segunda Guerra, a luta travada entre grandes potências –
como a Alemanha, França, Inglaterra, Japão e EUA – provocou o enfraquecimento de
algumas delas. Isso garantiu a supremacia norte-americana, que passou a ter a expansão
colonial dos países latino-americanos como área de interesse.
 
Foto: CPDOC/ GV / Wikimedia Commons / Domínio Público
 Getúlio Vargas (esquerda) e Franklin Delano Roosevelt (direita), Rio de Janeiro, 1936.
O único país forte o suficiente para se lançar em uma ofensiva pós-guerra era os Estados
Unidos, visto que Inglaterra, Alemanha e França sofriam duros reflexos em suas economias e
vidas humanas, decorrentes das perdas econômicas e dos conflitos armados. O mesmo
panorama se deu com a União Soviética, que sofreu um enorme abalo em suas cidades e na
economia, além das perdas populacionais decorrentes da guerra.
Apesar desse cenário, o embate entre capitalismo e comunismo seguia firme, até que os EUA
desencadearam a chamada Guerra Fria, compreendida como luta ideológica entre o
comunismo e capitalismo, reacendendo a questão armamentista.
A Guerra Fria viabilizou, para os EUA, a reabertura de grandes indústrias, aquecendo o
mercado de trabalho e a economia americana. Além disso, criou-se um campo propício para o
Plano Marshall consolidar o capitalismo, a partir da política de empréstimos aos países
europeus, como França e Itália.
 
Imagem: Shutterstock.com
Definida a questão perante a Europa, os EUA se voltaram para a América Latina. Até 1945, a
situação internacional brasileira não estava definida por completo. Contudo, o final da Segunda
Guerra foi decisivo para conduzir nações no sentido da redemocratização, com a vitória dos
países aliados e a derrota do nazifascismo.
 
Foto: Governo do Brasil / Wikimedia Commons / Domínio Público
LEGITIMAÇÃO DO CAPITALISMO
Não era mais possível sustentar a ditadura varguista com esse ambiente, o que culminou com
novas eleições e a chegada do Presidente Dutra ao poder, em 1946. No mesmo ano, uma nova
constituição foi promulgada, deixando de fora a questão terra e, por conseguinte, a
necessidade de uma reforma agrária foi totalmente desconsiderada.
O Brasil ingressava, simultaneamente, em uma fase de crescimento industrial, estimulado
pelos EUA e favorecido pela privação do abastecimento e pelo mercado externo. Esses fatos
colaboraram para o surgimento de uma nova burguesia industrial no Brasil.
A INDUSTRIALIZAÇÃO FORA FAVORECIDA COM A
POLARIZAÇÃO ENTRE SOCIALISMO E CAPITALISMO,
TENDO SIDO O CAPITALISMO COROADO COMO
POSIÇÃO IDEOLÓGICA PREDOMINANTE.
Com o sucesso e a pujança propiciados pela industrialização no Brasil, o capitalismo foi visto
como algo necessário para o desenvolvimento e modernização da sociedade. Como
consequência, eclodiu o agravamento da questão social em suas múltiplas expressões.
A via socialista, na época, era enxergada apenas como restrição às liberdades humanas e aos
direitos individuais, além de parecer atentar contra o “direito da Igreja da família”. Esse fato
assumia um vulto de rejeição ainda maior no interior de uma profissão ainda muito marcada
pela doutrina social da Igreja. A estratégia foi, então, a de aproximar os princípios democráticos
com o pensamento cristão.
 
Imagem: Shutterstock.com
Desse modo, o Serviço Social compatibilizou a ideologia católica com a legitimação do
capitalismo, aproveitandoas condições propícias à institucionalização da profissão.
BUSCA POR BASE TEÓRICO-CIENTÍFICA
A partir de 1945, é registrada a preocupação da categoria profissional com a elaboração de
uma teoria própria, centrada em critérios científicos e técnicos, capaz de imprimir ações
eficazes na execução do fazer profissional.
 
Foto: loc / Wikimedia Commons / CC0 1.0
Outro fator relevante, decorrente da relação próxima e amistosa entre Brasil e EUA, foi o
sistema de bolsas de estudo para assistentes sociais brasileiros, cujo marco se deu no
Congresso Interamericano de Serviço Social, realizado em 1941, em Atlantic City (EUA).
O evento aproximou as principais escolas de Serviço Social do Brasil aos grandes centros de
formação em Serviço Social norte-americanos. A partir do sistema de bolsas, ficou marcado o
período de influência norte-americana sobre a profissão e sobre a formação profissional,
devido à alteração nos currículos de nossas escolas.
 COMENTÁRIO
É importante lembrar que a supremacia norte-americana não se refletia apenas no cenário
econômico e político, mas também no cultural, constituindo-se como fonte de referência de
modelos e ações de sucesso, inclusive no campo do bem-estar social. Tal situação contribuiu
muito para que o Serviço Social brasileiro buscasse seu suporte teórico-científico em bases
norte-americanas.
SERVIÇO SOCIAL DE CASO, GRUPO E
COMUNIDADE
O Serviço Social, atualmente, faz a crítica ao conservadorismo e a suas fragilidades teóricas,
constitutivas daquele momento de profissionalização. No entanto, não podemos negar a
importância do esforço relativo à teorização e atribuição de caráter mais científico e
sistematizado, tanto à formação quanto às ações profissionais.
O reconhecimento às pioneiras do Serviço Social e às primeiras autoras vem desse esforço,
pela contribuição prestada no avanço da profissão, embora devamos analisar criticamente esse
legado.
Mary Richmond, por exemplo, foi a primeira a escrever e tematizar sobre assistência social,
caridade, filantropia e Serviço Social. Em sua obra, datada de 1917, a autora buscou, entre
outros objetivos, secularizar a profissão e oferecer bases técnicas e métodos de trabalho que
possibilitassem que a categoria profissional reconhecesse como válida e própria.
 
Foto: May Wright Sewall / Wikimedia Commons / Domínio Público
MARY RICHMOND
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Mary Richmond (1861-1928) foi uma das pioneiras no serviço social norte-americano. Ela
teve a ideia de transformar esse trabalho em um trabalho formal. Criou técnicas,
sistemas, conteúdos e teorias de serviço social inclinados para a formação de uma
disciplina.
Por outro lado, revolucionou completamente a ideia de fazer serviço social e a maneira
como os mais necessitados eram ajudados. Ela tentou aplicar uma estratégia que
atacasse o problema na raiz, procurando as causas da pobreza para eliminá-la.
A questão da secularização aqui tratada consiste em tornar leigo aquilo que tem caráter
religioso. No caso do Serviço Social, isso significava romper com o viés central do apostolado
vocacional católico do fazer profissional para encaminhar outro tipo de prática, dotada de
conceitos técnicos e científicos.
SOCIOLOGIA NORTE-AMERICANA
As ideias de Richmond eram baseadas em uma concepção funcional de sociedade, elaborada
pela Sociologia norte-americana. No Serviço Social brasileiro, isso é absorvido pela categoria,
O SERVIÇO SOCIAL MANTÉM SEU CARÁTER
TÉCNICO-INSTRUMENTAL VOLTADO PARA UMA AÇÃO
EDUCATIVA E ORGANIZATIVA ENTRE O
PROLETARIADO URBANO, ARTICULANDO – NA
JUSTIFICATIVA DESTA AÇÃO – O DISCURSO
HUMANISTA, CALCADO NA FILOSOFIA
ARISTOTÉLICO-TOMISTA, AOS PRINCÍPIOS DA
TEORIA DA MODERNIZAÇÃO PRESENTE NAS
CIÊNCIAS SOCIAIS. ESSE ARRANJO TEÓRICO-
DOUTRINÁRIO OFERECE AO PROFISSIONAL UM
SUPORTE TÉCNICO-CIENTÍFICO, AO MESMO TEMPO
EM QUE PRESERVA O CARÁTER DE UMA PROFISSÃO
“ESPECIAL”, VOLTADA PARA OS ELEVADOS IDEAIS
DE “SERVIÇO AO HOMEM”.
(IAMAMOTO, 1994, p. 21)
A Sociologia figurava, portanto, como um dos suportes teóricos para o Serviço Social,
explicando a desigualdade social a partir da estratificação social. Essa visão desconsiderava os
problemas sociais imbrincados na lógica do sistema capitalista de produção.
A sociologia americana se ocupa de abordar, naquele contexto, o âmbito dos indivíduos,
grupos ou instituições em desajuste, a partir das desigualdades existentes, em uma clara
perspectiva de adequação dos sujeitos e de individualização dos problemas.
Para efetivar esse intento, à luz dos novos tempos que a categoria profissional vivia, foi preciso
adequar não só procedimentos metodológicos, mas também referenciais teóricos que os
sustentassem.
INDIVIDUALIZAÇÃO DOS PROBLEMAS
Para adequação e não para resolução efetiva das questões trazidas pelos sujeitos, visto
que tal resolução era de responsabilidade deles, causadores de tais disfunções. No
âmbito institucional, o agente profissional, no caso o assistente social, será responsável
pelo trabalho junto aos sujeitos sociais para que eles, em uma situação conflituosa,
voltem à sua posição no sistema definido.
De acordo com a perspectiva funcionalista, “a proposta institucional é colocar o conflito no
conjunto da estrutura social aceitável, adequando o usuário aos seus recursos”
(ANDRADE, 2008, p. 276).
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 RESUMINDO
A teoria diz respeito, portanto, a uma construção intelectual que proporciona explicações
aproximadas da realidade e supõe um padrão de elaboração, chamado de método. Dessa
forma, no caso teoria social, cada teoria é um método de abordar o real; é o caminho teórico
que se utiliza para explicar o ser social.
NATURALIZAÇÃO DOS FENÔMENOS SOCIAIS
Trazendo esses conceitos para o Serviço Social daquele momento, de primeiro suporte teórico
e metodológico, fundamentado na matriz positivista, temos uma apreensão da realidade
manipuladora, instrumental e imediata do ser social.
Trata-se de abordar as relações sociais dos indivíduos no plano de suas vivências imediatas,
como fatos que se apresentam em sua objetividade e no seu caráter imediatista, uma espécie
de “é assim porque é assim e pronto”. Muito superficialmente, trata-se da naturalização dos
fenômenos sociais.
 ATENÇÃO
Essa perspectiva restringe a visão teórica ao âmbito do verificável, da experimentação e da
fragmentação. As mudanças são, na verdade, reformas da realidade, com intuito de preservar
a ordem estabelecida, de ajustar.
A partir de 1945, o Serviço Social latino-americano se apoiou nas técnicas funcionalistas
advindas da Sociologia norte-americana para instrumentalizar sua intervenção profissional,
sendo essa a principal influência da hegemonia dos EUA sobre a profissão.
A EXPRESSÃO MÁXIMA DE TAL
INSTRUMENTALIZAÇÃO SE DEU PELAS TEORIAS DE
CASO, GRUPO E COMUNIDADE.
SERVIÇO SOCIAL DE CASO
O Serviço Social de Caso ou Casework centrava sua ação e preocupação na personalidade
do cliente, buscando conseguir mudanças no indivíduo. Tais mudanças se dariam a partir de
novas atividades e novos comportamentos que o ajustassem ao meio social e fizessem com
que ele cumprisse o seu papel no sistema vigente.
As autoras de destaque nesse campo eram Mary Richmond, Gordon Hamilton e Porter Lee. O
Serviço Social de Casos se caracteriza pelo objetivo de fornecer serviços básicos práticos e de
aconselhamento, de tal modo que seja desenvolvida a capacidade psicológica do cliente, e ele
seja levado a se utilizar dos serviços existentes para atender a seus problemas (HAMILTON,
1958, p. 38).
 
Foto: Shutterstock.com
O Serviço Social, a fim de racionalizar a ação profissional, buscava na:
Sociologia
O apoio necessário à questão do meio social e da personalidade, com conceitos de família e
estrutura socioeconômica.

Psicologia
Os insumos teóricos que pudessem explicar melhor o comportamento dos indivíduos e
contribuir na implementação de um plano de tratamento, que passava pelas etapas de
sugestão, treinamento, aconselhamento, educação e reeducação.Para isso, a informação e a observação eram superestimadas. O método clínico é centrado no
indivíduo e apresentava, como etapas de processo de trabalho, o estudo, o diagnóstico e os
tratamentos. Acreditava-se que isso possibilitava um olhar e uma intervenção de cunho
psicossocial.
SERVIÇO SOCIAL DE GRUPO
O Serviço Social de Grupo passou a ser incorporado à grade curricular das escolas de
Serviço Social brasileiras em 1947. Um dos nomes de maior expressão no Serviço Social de
Grupos era o de Gisela Konopka, além de outros, como Grace Coyle, Gertrude Wilson,
Gladys Ryland.
GISELA KONOPKA
Um método que ajuda os indivíduos a aumentarem o seu funcionamento social, por meio
de objetivas experiências de grupo, e a enfrentarem, de modo mais eficaz, os seus
problemas pessoais, de grupo ou de comunidade.
Trata-se de uma prática que visa diminuir o sofrimento e melhorar o funcionamento
pessoal e social de seus membros, por meio de uma específica e controlada intervenção
de grupo, com a ajuda de um profissional (KONOPKA, 1979, p. 33-45).
Konopka definia o Serviço Social de Grupo como um método do Serviço Social que ajuda os
sujeitos a aumentarem seu funcionamento social por meio de experiências de grupo,
constituindo-se em uma prática que visa minimizar o sofrimento, melhorar o funcionamento
social por meio de uma intervenção grupal específica e controlada pela ajuda profissional
especializada.
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O Serviço Social de Grupo tem uma base forte assentada nos movimentos de autoajuda norte-
americanos. O enfoque dado ao trabalho desenvolvido com os grupos era terapêutico e
disciplinador, usando a força do grupo no sentido do ajuste do indivíduo disfuncional,
adequando-o. Isso era feito, no entanto, sem rever questões sociais mais profundas,
reafirmando que o problema está no homem, e não na ordem social vigente.
DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADE
O Desenvolvimento de Comunidade também figurava como um método com características
semelhantes aos dois processos anteriormente citados. Mantinha o objetivo do ajustamento
social do sujeito, ao mesmo tempo em que realizava um trabalho assistencial.
 VOCÊ SABIA
Durante as décadas de 1950 e o início de 1960, o Serviço Social incorpora, por influência
norte-americana, a política desenvolvimentista no ensino. Essa política enfatizava a aceleração
econômica, incentivada pela industrialização e modernização em curso no mundo e
capitaneada pelos EUA.
Era destinada, ao Serviço Social, a missão de contribuir para o aprimoramento do ser humano,
apesar de o país conviver com o subdesenvolvimento, o que representava uma contradição.
O Desenvolvimento de Comunidade foi, dessa forma, uma estratégia lançada para garantir a
prosperidade, o progresso social e a hegemonia ideológica norte-americana, intimamente
ligada ao capitalismo e à sua busca por preservar o mundo livre de ideologias não
democráticas. Partindo do pressuposto de que as populações subdesenvolvidas teriam maior
propensão ao comunismo, urgia a pauta desenvolvimentista nos países latino-americanos.
Durante a década de 1950, a ONU (Organização das Nações Unidas) empenha-se em
sistematizar e divulgar o Desenvolvimento de Comunidade, como medida para solucionar o
complexo problema da integração de esforços da população aos planos nacionais e regionais
de desenvolvimento.
A OEA (Organização dos Estados Americanos), aderindo às recomendações da ONU, define
uma política de assistência técnica e cooperação norte-americana para as Américas, e cria
uma unidade responsável pela divulgação e pelo impulso desses programas na América
Latina.
Com relação ao Serviço Social, a ONU se ocupa em realizar três pesquisas de caráter
internacional sobre a formação dos assistentes sociais, nos níveis auxiliar, de graduação e pós-
graduação.
DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADE NO
BRASIL
A preocupação do Serviço Social brasileiro com o Desenvolvimento de Comunidade reside em
se incorporar a um movimento de âmbito internacional, deflagrado oficialmente pelas Nações
Unidas e validado por diversos órgãos interessados na disseminação da ideologia e do modo
de produção capitalista, em especial o Estado.
Aos poucos, a ação do Serviço Social vai incorporando essas concepções e ações, ao passo
que o próprio Estado brasileiro reconhece, no método de Serviço Social de Comunidade, uma
significativa potencialidade para o desenvolvimento nacional, conforme fora discutido no II
Congresso de Serviço Social Brasileiro. O assistente social passa a figurar como uma espécie
de líder indireto da comunidade, estimulador da mudança social, promovida com uma
pseudoparticipação popular.
Observando a categoria profissional em períodos, compreendemos que, apesar da forte
influência teórica norte-americana, os profissionais começaram a procurar uma literatura que
privilegiasse a análise dos fatos sociais da realidade brasileira. Empreenderam esses esforços
já um pouco mais apartados dos objetivos propostos pela primeira geração de profissionais,
que se articulava em torno do ideário social cristão.
 ATENÇÃO
O foco dessa segunda geração profissional era buscar formas de responder à realidade social
latino-americana. Na década de 1960, essa parcela da profissão irá viver um período da
história nacional marcada pela ditadura militar. Ao mesmo tempo, há uma primeira
aproximação com uma revisão crítica no interior da categoria profissional, que se constituirá,
mais tarde, no Movimento de Reconceituação.
Agora, iremos aprofundar na influência das técnicas funcionalistas na formação do assistente
social.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. EM RELAÇÃO À SECULARIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL EM
SERVIÇO SOCIAL, É CORRETO AFIRMAR QUE:
A) O esforço norte-americano em teorizar sobre o Serviço Social, cujo nome de maior
expressão foi de Gisela Konopka, contribuiu significativamente para desvinculação, em certa
medida, da prática apostolar de influência católica para uma prática mais profissional e
assentada em pressupostos teóricos e metodológicos.
B) O esforço franco-belga em teorizar sobre o Serviço Social, cujo nome de maior expressão
foi de Mary Richmond, contribuiu significativamente para desvinculação, em certa medida, da
prática apostolar de influência católica para uma prática mais profissional e assentada em
pressupostos teórico e metodológicos.
C) O esforço norte-americano em teorizar sobre o Serviço Social, cujo nome de maior
expressão foi de Mary Richmond, contribuiu significativamente para desvinculação, em certa
medida, da prática apostolar de influência católica para uma prática mais profissional e
assentada em pressupostos teóricos e metodológicos.
D) Na verdade, não houve uma tentativa de secularização da profissão efetivamente, tanto
que, desde o processo de profissionalização do Serviço Social até a contemporaneidade, a
influência católica se mantém inalterada e presente no cotidiano dos assistentes sociais.
E) Foram os autores nacionais em Serviço Social os responsáveis pela secularização da
profissão – como Marilda Iamamoto, Raul de Carvalho e José Paulo Netto –, na medida em
que dedicaram estudos que pudessem discutir com a categoria profissional a necessidade de
romper com as práticas voluntaristas de assistência social, fomentadas pela Igreja Católica.
2. QUAL A IMPORTÂNCIA DOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS NA
DIFUSÃO DO DISCURSO HEGEMÔNICO NORTE-AMERICANO?
A) Organismos como a ONU e OEA atuaram na sistematização e divulgação de estratégias de
consolidação do capitalismo, industrialização e desenvolvimento na América Latina.
B) Não houve registro de atuação de organismos internacionais, como a ONU e OEA, no
sentido de empreender estratégias de consolidação do capitalismo na América Latina.
C) O discurso hegemônico norte-americano não apontava no sentido da consolidação do
capitalismo na América Latina, e os organismos internacionais, portanto, não serviram a essa
finalidade.
D) ONU e OEA difundiram o discurso hegemônico norte-americano apenas no que dizia

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