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Página │1 Luma A. Braga Antiinflamatórios não‐ esteroidais As reações inflamatórias fazem parte do mecanismo de defesa, impedindo a entrada de patógenos em nosso organismo. Mas em algumas situações, as reações inflamatórias são muito exageradas, fortes a ponto de prejudicar o funcionamento dos órgãos. Uma reação inflamatória intensa causa dor e perda de função desse órgão. Nessas reações inflamatórias muito intensas, torna-se necessário a intervenção farmacológica na tentativa de controlar essa resposta inflamatória, sem no entanto, fazer com que ela desapareça do organismo, o objetivo é apenas reduzir a intensidade com que ela ocorre. É para isso que existem os fármacos antiinflamatórios, que podem ser de 2 tipos: esteróides e não esteróides. Os esteróides compreendem um grupo de fármacos que possuem semelhança química com o cortisol, que é um hormônio esteroide. Já os não esteróides, são antiinflamatórios que não se assemelham ao cortisol. Existem várias diferenças entre esses grupos, uma delas é a potência farmacológica relacionada ao controle do processo inflamatório. Os esteróides são antiinflamatórios muito potentes, por isso são utilizados apenas em processos inflamatórios potentes, e por causarem muitos efeitos colaterais intensos. Já os não esteróides, são antiinflamatórios fracos, recomendados em processos inflamatórios leves à moderados. Podemos classificar os processos inflamatórios em: Agudo: mais curto, muitas vezes ainda em fase de implantação, mais fácil de controlar, recomendação de uso de AINES; Crônico: duradouro, processo já instalado, mais difícil sua contenção, recomendado uso de corticoides. 1. O tecido é lesado, e o rompimento de células decorrentes dessa lesão, liberam sinais químicos que irão avisar que aquela região está em perigo. Quanto maior o grau da lesão, mais células são rompidas, e maior a quantidade de sinalizadores químicos liberados. Esses sinalizadores químicos (histamina, prostaglandinas) são potentes vaso dilatadores, e servem como agentes quimiotáticos para as células de defesa do organismo, atraindo células brancas. 2. A vasodilatação é necessário para ir um maior volume de sangue no local, e com isso, maior quantidade de células de defesa. No entanto, essa vasodilatação permite maior efluxo de água, conferindo maior volume no local da lesão. O maior volume de sangue deixa o local mais quente e avermelhado, chamado de calor e rugor. Página │2 Luma A. Braga 3. A presença de células de defesa no organismo, além de combater os agentes estranhos que penetram na lesão, são também responsáveis pela reparação da lesão. Processos inflamatórios Mediadores químicos envolvidos ✓ Aminas vasoativas (histamina e bradicinina) ✓ Fator de ativação plaquetária (PAF) ✓ Eicosanóides ✓ Citocinas ✓ Radicais livres ✓ Sistema complemento ✓ Cininas Caso esses mediadores químicos fossem inibidos, a resposta inflamatória não ocorreria. Mas caso somente um deles seja inibido, talvez apenas a intensidade da resposta inflamatória diminuiria, mas continuaria acontecendo. Mediadores Inflamatórios A dinâmica do processo inflamatório depende da formação dos eicosanóides. Existem 4 tipos de eicosanóides no organismo: ✓ Prostaglandinas: PGD2, PGE2 (importante no controle centro térmico regulador, e está relacionada à ocorrência de febre, além de ser responsável pela produção de muco no estômago ➔ sua falta está relacionada ao surgimento de úlceras), PGF2α (responsável pela lise do corpo lúteo ao final de um ciclo reprodutivo, e no final da gestação é responsável pela contração do útero ➔ na falta de prostaglandina em um animal saudável, ocorreria apenas problemas reprodutivos), PGG2, PGH2, PGI2 (vasodilatadora no estômago ➔ sua falta faz a formação de úlceras gástricas e dificulta a filtração renal, culminando no acúmulo de metabólitos tóxicos) ✓ Prostaciclinas: potentes vasodilatadoras, são as principais responsáveis pela vasodilatação que acontece no processo inflamatória. ✓ Tromboxanos: Tx A2 e Tx B2 ➔ relacionados à formação de trombos ✓ Leucotrienos: LTA4, LTB4, LTC4, LTD4 e LTE4 ➔ atração de leucócitos na lesão A formação de todas as prostaglandinas depende da atividade de algumas enzimas: ✓ Cox 1 (formação das prostaglandinas): constitutiva ➔ processos fisiológicos normais ✓ Cox 2 (formação das prostaciclinas e tromboxanos): indutiva ➔ processos inflamatórios ✓ Lipox (formação de leucotrienos) ➔ processos inflamatórios Os AINES vão atuar em processos que ativam a resposta inflamatória, ou seja, atuam impedindo as substâncias responsáveis pela vasodilatação e pela atração de células ao local da lesão. Depois que o processo inflamatório já está instalado, já existe a vasodilatação, as células já estão lá, os AINES não vão mais funcionar. Por isso só funcionam em inflamação aguda, e não crônica. Página │3 Luma A. Braga Dor e Febre A inibição da dor é outro efeito farmacológico importante nos AINES, eles também são analgésicos. • DOR: Bradicinina + Histamina + Prostaglandinas (E2 e I2) ➔ Redução do limiar dos nociceptores Os AINES vão diminuir a produção de prostaglandinas, reduzindo a percepção de dor provocada pela inflamação. • FEBRE: A prostaglandina também está envolvida na febre. A atividade dos leucócitos fazem com que essas células liberem substâncias pirogênicas no organismo, relacionadas ao calor. Substâncias pirogênicas liberadas por leucócitos ➔ Aumentam a produção de PGE2 no hipotálamo ➔ Aumento do limiar térmico Os AINEs são capazes de diminuir a quantidade de PGE2 no organismo, então também são capazes de controlar efeitos febris. Drogas Antiinflamatórias Não Esteroidais Vantagens de utilização Não produzem sedação ou alterações neurológicas Não promovem tolerância ou dependência Permitem redução da dose de anestésicos Cuidados Animais hepatopatas ➔ principal via de eliminação (maior chance de acumulação no organismo) Animais nefropatas ➔ dependem da PGI2 (controle fisiológico) Úlceras gástricas e intestinais Drogas Antiinflamatórias Mais de 50 drogas disponíveis ➔ nenhuma ideal, todas vão causar efeito colateral A maioria é ácido fraco (absorção fácil no estômago ➔ formação de úlceras) Ações farmacológicas: - Efeito antiinflamatório - Efeito analgésico - Efeito antipirético - Efeito antitrombótico (alguns) Mecanismos de ação: - Inibição de Cox ou Cox/Lipox (inibindo as duas = AINE dual) - Cox‐2 seletivos ou não seletivos Seletivos: são mais seguros, pois tem maior ação na Cox indutiva, ou seja, relacionada a inflamação, causando menor efeito colateral. Não seletivos: agem em qualquer tipo de Cox, causando mais efeitos colaterais. Mas são mais eficientes quanto aos efeitos antiinflamatórios, antitérmicos e analgésicos. Página │4 Luma A. Braga Diferenças observadas entre os AINE: - Especificidade enzimática (se é Cox seletivo ou não) - Velocidade de absorção - Capacidade de distribuição - Biotransformação / Eliminação Ser absorvido com rapidez, ter maior capacidade de distribuição e ser mais lentamente eliminado faz com que o AINE seja eficaz em efeitos farmacológicos benéficos, porém são piores quanto aos efeitos colaterais. Absorção: - Rápida (estômago) ➔ formação de úlceras - Podem se ligar a proteínas no TGI e sofrem um retardo em sua absorção ➔ Uma das formas de evitar o aparecimento de úlceras, é oferecer os AINES junto com alimentos, nunca dar para o animal com estômago vazio. Distribuição: - Ligação a proteínas plasmáticas (competir com outras drogas) - Maior concentração em locais inflamados (pHácido do LEC em locais onde estão ocorrendo os processos inflamatórios) - Facilmente excretadas em urina alcalina (herbívoros) Eliminação: - Metabolismo hepático - Eliminação renal e bile ☣ Atenção com animais jovens, idosos, hepatopatas e nefropatas – não possuem fígado íntegro, ou seja, maior dificuldade de eliminar as drogas Cuidados especiais : - Cães: eliminação pela bile ➔ circulação êntero‐hepática (maior chance de úlceras intestinais com o uso prolongado) - Gatos: falta glicuroniltransferase (faz metabolização das drogas no organismo) - Jovens e idosos ➔ maior T½ = maior dificuldade em eliminar devido ao fígado imaturo ou desgastados - Degenerações articulares ➔ AAS, fenilbutazona, indometacina, ibuprofeno e naproxeno (potentes degenerados articulares) Finalidades de uso dos AINES ✓ Ação antiinflamatória, analgésica (dores leves e moderadas) ou antitérmica ✓ Ex: Tratamento de artrites, processos inflamatórios, mialgias, febres, pós‐ operatório etc. Podem ser divididos em grupos dependendo das características químicas das moléculas, mas essa divisão não é importante, pois não estão relacionadas com os efeitos farmacológicos (não cai na prova). Derivados carboxílicos (R‐COOH) 1. Salicilatos (ácido acetilsalicílico) 2. Derivados do ácido acético (diclofenaco e indometacina) 3. Derivados do ácido propiônico (ibuprofeno, carprofeno, cetoprofeno, flurbiprofeno e naproxeno) Página │5 Luma A. Braga 4. Derivados aminonicotínico (flunixina meglumina) 5. Fenamatos (ácido meclofenâmico) Derivados enólicos (R‐COH) 1. Derivados pirazolônicos (fenilbutazona e dipirona) 2. Oxicans (piroxicam e meloxicam) Inibidor Cox com fraca ação antiinflamatória (paracetamol) Principais AINES Ácido acetilsalicílico ✓ AAS, Aspirina, Buferin, Coristina, Doril, Melhoral ✓ Analgésico, antiinflamatório e antipirético ➔ inibe irreversivelmente Cox 1 e 2 e Lipox (altas doses) ✓ AINE dual com intensidade e variedade farmacológica grande, carregado de efeitos colaterais ✓ Inibição de plaquetas (efeito hemorrágico) ➔ tromboembolismo ✓ Atuação sobre dor induzida por prostaglandina (todos os AINES) Farmacocinética: ✓ Bem absorvido no TGI (exceto ruminantes devido à presença do rúmen que tem o pH mais básico em relação ao estômago verdadeiro) ✓ 70% liga‐se a proteínas plasmáticas ➔ interações com outras drogas (como competição, a competição faz com que a potência farmacológica seja aumentada) ✓ T ½ = 1 hora (equinos), 8 horas (cães ‐ variável) e 38 horas (gatos) Recomendações de uso: ✓ Dores leves a moderadas devido à inflamações (dentes, pele e músculo) ✓ Pouco efeito em equinos ➔ rapidamente eliminado ✓ Prevenção de trombose ➔ observar tempo de sangramento Cuidados: ✓ Acidose metabólica ✓ Aumento do tempo de coagulação ➔ predispõe o animal a hemorragias ✓ Hemorragia gástrica ➔ vômito, anemia, anorexia ✓ Hepatite ➔ depressão, coma e morte Doses recomendadas: Cães: 10 a 20 mg/kg VO, SC, IM, IV cad a 12 horas ✓ Gatos: 10 mg/kg VO, SC, IM, IV cada 48 horas ✓ Bovinos: 100 mg/kg VO + 30 mg/kg cada 12 horas ✓ Equinos: 75 mg/kg VO + 25 mg/kg cada 1 2 horas ✓ Suínos: 10 mg/kg VO cada 6 horas Diclofenaco ✓ Ana‐Flex, Artren, Cataflan, Diclofen, Flotac, Voltaflex, Voltaren ✓ Inibe Cox e Lipox (dual) ➔ Alta potência AI e analgésico ➔ sangramento gástrico em cães ✓ Bovinos: miosites e artrites não infecciosas (1 mg/kg) Indometacina ✓ Agilisin, Indocid ✓ Potente AI e antipirético ✓ Pré-operatório ➔ inibe preferencialmente Cox 1 (efeitos colaterais) Página │6 Luma A. Braga ✓ Muito tóxica para cães ➔ grande circulação êntero-hepática ✓ Ação condrodegenerativa Ibuprofeno ✓ Advil, Alivium, Artril, Doretrin, Motrin ✓ Inibição reversível em Cox 1 e 2 ✓ Longo T½ em cães e gatos ➔ problemas gastrintestinais e nefrotoxicidade ✓ Ação condrodegenerativa ➔ não indicado no tratamento de osteoartroses ✓ Bovinos: mastites e miosites Carprofeno ✓ Carproflan, Rimadyl, Zenecarp ✓ Mais seguro ➔ Cox 2 ➔ menor efeito ulcerativo ✓ Altas doses ➔ hepatotoxicidade (gatos) ✓ Indicações: Cães ➔ efeitos analgésicos no pré‐operatório e tratamento de osteoartrite Gatos ➔ pré‐operatório ✓ T ½ ➔ 12 horas Flunixina meglumina ✓ Banamine, Banoxine, Finadyne, Flunamine, Flumegan ✓ Potente AI e analgésico com pouco efeito antitérmico (devido sua dificuldade em atravessar a barreira hematoencefálica) ✓ Equinos: cólicas e problemas musculares ➔ falsa recuperação ✓ Bovinos: mastites, gastroenterites, pneu monias (associada a antibióticos) e artro patias ✓ Cães: septicemia ➔ pode haver comprometimento renal nessa espécie ✓ Gatos: estimula indução enzimática Ácido meclofenâmico ✓ Arquel, Meclomen ✓ Preparado granular para bovinos e equinos ➔ laminites ✓ Inibidor irreversível Cox 1 e 2 ✓ Analgésico, AI e antitérmico ➔ maior tempo de latência (2 a 4 dias) Fenilbutazona ✓ Algess, Butazonil, Equipazolone, Phenylarthrite ✓ Droga eficaz e de baixo custo ➔ inibidor irreversível de Cox ✓ Grande capacidade de se ligar a proteínas ➔ TGI, músculo (dor) e plasma (93% ligado a proteínas) ✓ Uso oral ➔ liga‐se aos alimentos; úlceras associadas ✓ Oxifenbutazona ➔ metabólito ativo ✓ T ½: cães e equinos (3 a 8 horas), bovinos (37 horas) ✓ Alcalinização da urina não afeta excreção (fármaco neutro) Fenilbutazona ✓ Equinos: inflamações ósseas, articulações, dores musculares e cólicas ✓ Cães: osteoartrites e dores musculares (cuidado: ação condrodegenerativa) ✓ ↑ concentração de Na+ e Cl‐ ➔ cardiopatas e nefropatas Piroxicam ✓ Anartrit, Feldene, Inflamene, Peralgin Rapidamente eliminada (indicado mais em idosos e nefropatas) ✓ Inibe mais Cox 1 que 2 ➔ não usar em gatos ✓ Longo efeito antiinflamatório (24 – 48 horas) ➔ inibição da formação de Página │7 Luma A. Braga superóxidos, ativação de neutrófilos e liberação de enzimas lisossomais Meloxicam ✓ Flamatec, Loxiflan, Maxican, Meloxivet, Metacan ✓ Inibe mais Cox 2 que 1 ➔ segura ✓ Potente antipirético e analgésico ➔ febre e dores musculares ✓ Ação condroprotetora ✓ T½ longa em cães e gatos (12 a 36 horas) ➔ 0,1 mg/kg VO cada 24 horas Dipirona (metamizol) ✓ Algivet, Baralgin, D‐500, Dipirona, Novalgina, Novin ✓ Antipirético e analgésico com fraca ação AI ➔ cães, gatos e equinos ✓ Dores leves e moderadas (efeito de 5 a 6 horas) ✓ Poucos efeitos colaterais ➔ rapidamente metabolizada ✓ Hipersensibilidade (adm intravenosa) ✓ Discrasias sanguíneas (em humanos) Paracetamol (acetaminofeno) ✓ Acetofen, Excedrin, Naldecon, Paracetamol, Parador, Tylenol ✓ Elevado pKa (9,5) e baixa capacidade de se ligar a proteínas plasmáticas ✓ Analgésico e antitérmica ➔ ação central ✓ Metabolismo ➔ hepático ✓ Gatos: dificuldade em eliminar ➔ salivação, vômito, anorexia, edema facial (após 3 dias), coma e morte ✓ Responsável por 50% dos casos de intoxicação por AINES ✓ Dose adequada para cada espécie ✓ Intervalo de administração ✓ Uso de medicamentos testados e aprovados para uso em veterinária ✓ Monitorar sempre os efeitos indesejáveis
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