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PÓS – GRADUAÇÃO “LATU SENSU” EM CIÊNCIAS CRIMINAIS TEMA: INTRODUÇÃO À TEORIA DAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO CRIME MARCELO YUKIO MISAKA Mestre em Ciências Jurídicas pela UENP/PR Professor de Prática Penal- 2ª Fase da OAB Juiz de Direito do Estado de São Paulo Ex- Juiz de Direito do Estado do Paraná Ex- Professor da Escola da Magistratura- PR Ex- Advogado INTRODUÇÃO À TEORIA DAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO CRIME TEORIA DA PENA: Discutir os fundamentos que explicam e justificam a existência da pena. “QUANDO” E “POR QUE” PUNIR? FATORES EXTRAJURÍDICOS QUE INFLUENCIAM A TEORIA DA PENA: Para compreender a sanção penal é preciso levar em conta “o modelo socioeconômico e a forma de Estado” em que se desenvolve esse sistema sancionador. Teoria da pena sofreu, ao longo do tempo, forte influência do contexto político, ideológico e sociocultural nos quais se desenvolveu; (BITTENCOURT) TEORIAS ABSOLUTAS OU RETRIBUTIVAS DA PENA Castigo pelo mal causado. Justifica a incidência não em algo futuro e sim passado (crime praticado); CONTEXTO SOCIOPOLÍTICO QUE PROPICIOU O SURGIMENTO DESSAS TEORIAS: Estado absolutista; Confusão entre Estado e soberano; Unidade entre moral e Direito; Estado e religião: o poder do soberano foi concedido por Deus. Pena era um castigo que servia para espiar o mal (pecado) cometido; Pena não tem “utilidade” para o réu ou sociedade. KANT: ela é um “fim em si mesma”, aplica-se porque delinquiu. HEGEL: Pena serve para restabelecer a ordem jurídica violada com a infração penal; Modelos: teoria da vingança; da expiação; da justificação moral; da retribuição para restabelecimento do direito; Mérito das teorias retribucionistas: estabeleceu limites à imposição da pena, como garantia do indivíduo frente ao arbítrio estatal (homem como fim em si; pena na medida da culpabilidade) Equívoco das teorias retribuicionistas: explica “quando castigar” (quando um crime é cometido), mas não explica “por que castigar”(prevenir novos delitos). Isso facilita o surgimento de sistemas autoritários de direito penal máximo. cheque em branco ao legislador para criminalizar e sancionar; PENSAMENTO DE FERRAJOLI: pena tem função retributiva: impede a vingança de sangue, do mais forte (proposta de um garantismo penal). É uma teoria preventiva geral “mascarada” (disfarçada). TEORIAS RELATIVAS, UTILITARISTAS OU PREVENTIVAS DA PENA: A pena não é um fim em si mesmo (castiga porque cometeu crime) como na teoria retributiva. Ela serve para prevenir novos crimes CLASSIFICAÇÃO: de acordo com o destinatário da prevenção: PREVENÇÃO GERAL: coletivo social ESPECIAL: delinquente. Objetivo é corrigir, ressocializar ou inocuizar PREVENÇÃO GERAL NEGATIVA: coação psicológica Criar temor no inconsciente coletivo (igual se faz com crianças); Premissas: livre arbítrio e do medo (apodera-se da alma das pessoas e não dos corpos) ELOGIOS: fundamenta o princípio da legalidade penal: se o Direito Penal se destina a prevenir delitos, estes devem mesmo ter previsão legal anterior ao fato; serve de base ao direito penal do fato, pois só condutas exteriores são passíveis de controle (pensamentos, estados de ânimo etc não são); fundamenta o princípio da culpabilidade e de responsabilidade individual: pois só comportamentos conscientes, voluntários e culpáveis é que podem ser punidos PREVENÇÃO GERAL POSITIVA: pena tem “finalidade pedagógica” (reafirmação do sistema normativo, com o objetivo de oferecer estabilidade ao ordenamento jurídico) Fundamentadora: a pena serve para demonstrar que a norma penal continua vigente, mesmo que infringida. Crítica: então não precisava punir, apenas declarar a vigência Limitadora: ?? PREVENÇÃO ESPECIAL: delinquente. Objetivo é corrigir, ressocializar ou inocuizar Positiva: reeducação do autor do fato; Negativa: eliminação ou neutralização do delinquente perigoso. ELOGIO: ao trazer a necessidade de ressocialização do agente, deu um norte para a fase de cumprimento da pena. Não que se busque a ressocialização a todo custo, mas sim que ao menos se evitem os efeitos dessocializadores do cárcere. CRÍTICAS: abandona a proporcionalidade entre a gravidade do fato e a pena; facilita o direito penal do autor; torna impune o agente que praticou crime grave mas não reincidiria; Esquece que a sociedade é altamente criminógena (combate o efeito e não a causa); Como ressocializar alguém com o cárcere (ambiente adverso a isso)? Cárcere serve apenas para esconder o criminoso? Estado tem que criar condições mínimas para que o condenado, espontaneamente, opte por mudar. pena quer impedir reincidência específica ou em qualquer crime? Por que então há crimes em países que adotam a pena capital? Eficácia da sanção está ligada a fiscalização da lei e não a punição. Estado poderia majorar arbitrariamente a pena com vistas a atingir as finalidades preventivas. Irracionalidade: impõe-se um mal a alguém para que outrem também não pratique um mal (homem como meio e não fim). TEORIAS MISTAS OU UNIFICADORAS: aglutina as teorias retribucionistas e utilitaristas, distinguindo o que é “fim da pena” do “fundamento da pena”; Fundamento da pena (quando se punir?): o delito praticado; Fim da pena (por que punir?): prevenção geral e especial. Princípio da culpabilidade e retribuição funcionam como “critérios limitadores da intervenção da pena” (ou seja, são os limites máximos da pena. A pena não pode ir além da responsabilidade decorrente do fato praticado). TEORIA UNIFICADORA DIALÉTICA DE ROXIN: Finalidade da pena: preventiva. Única compatível com o fim do Direito Penal (proteção de bens jurídicos); Rejeita a finalidade preventiva especial negativa: inocuização do agente. Conflito entre as finalidades preventivas: prevalece a preventiva especial positiva (ressocializaçao) como garantia de redução da pena, mas esta não pode ser ínfima a ponto de não atingir a preventiva geral. Nega a finalidade retributiva: princípio da culpabilidade serve apenas como limite máximo de aplicação da pena. “A pena serve aos fins de prevenção especial e geral. Limita-se em sua magnitude pela medida da culpabilidade, mas pode ser fixada abaixo deste limite quando seja necessário por exigências preventivo-especiais, e a isso não se oponham as exigências mínimas preventivo-gerais” (ROXIN). CRÍTICA: Menosprezo ao princípio da culpabilidade; TEORIA PREVENTIVA GERAL POSITIVA LIMITADORA: prevenção geral deve se expressar com ‘sentido limitador do poder punitivo do Estado’: como uma ‘afirmação razoável do direito’ em um Estado constitucional e democrático de Direito. Direito penal é mais um instrumento de controle social, mas ele é marcado pela sua “formalização” (exercício do ‘jus puniendi’ é limitado pelos princípios e garantias reconhecidos democraticamente pela sociedade sobre a qual opera). Apesar de ser uma teoria preventista (voltada ao futuro), não ignora o princípio da culpabilidade (um dos princípios limitadores) como um pressuposto lógico da finalidade preventiva dos delitos. “Por que castigar”?: em razão da prevenção geral positiva, mas desde que respeitados os valores e princípios do Estado democrático de Direito. EVOLUÇÃO DOGMÁTICA DAS LIMITAÇÕES DO PODER PUNITIVO História demonstra que o Estado de Direito, sem limites, torna-se Estado de Polícia (arbitrariedades). Zaffaroni. Primeiras limitações ao poder de punir: Meramente formais (legalidade formal); Posteriormente, evolui para limites materiais: princípios limitadores do direito de punir. PRINCÍPIOS LIMITADORES DO “JUS PUNIENDI” Princípio basilar: dignidade humana 4 GRUPOS (Ferrajoli) A) MISSÃO DO DIREITO PENAL 1- Exclusiva proteção de bens jurídicos; 2- Intervenção mínima; B) FATO DO AGENTE (FATO CRIMINOSO) 1- Exteriorização ou materialização do fato; 2- Legalidade do fato; 3- Ofensividade C) AGENTE DO FATO (AUTOR DO FATO) 1- Responsabilidade pessoal; 2- Responsabilidade subjetiva; 3- Culpabilidade; 4- Igualdade D) PENA 1) proibição de pena indigna; 2) humanização da pena;3) Proporcionalidade A) Necessidade concreta da pena; B) Individualização da pena; C) personalidade da pena; D) proporcionalidade em sentido estrito Princípio da legalidade (art. 5º, XXXIX, CF; art. 1º, do CP; Art. 9º, CIDH); Fundamentos: 1- Político: impedir arbitrariedade do poder punitivo; 2- Democrático: povo, pelo seus representantes, elege o crime; 3- Jurídico: lei prévia e clara tem efeitos intimidativos; SUBPRINCÍPIOS: A) Reserva legal: infração penal só por lei em sentido estrito (ordinária ou complementar); Medida provisória? Apenas para direito penal benéfico (excludentes, dirimentes, causas de extinção da punibilidade, etc). STF. 2ª T. HC 88594- Rel. Min. Eros Grau- DJ 02/06/2006. B) Princípio da anterioridade: proibição da retroatividade maléfica Combinação de leis? “É cabível a aplicação retroativa da Lei nº 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da lei nº 6.368/76, sendo vedada a combinação de leis”. Súmula 501, do STJ Crimes permanentes e lei posterior? Súmula 711, do STF. “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. Lei em vacatio legis pode ser aplicada? 1- sim (Paulo José da Costa Jr.); 2- Não (Nucci); C) Princípio da lei escrita: Não há infração penal, nem pena, sem lei escrita. Costume? Não cria delitos, mas é vetor de interpretação (adequação social) ou de integração da norma (“repouso noturno” no furto majorado); D) Princípio da lei estrita: vedação de analogia contra o réu. Ex. furto de sinal de TV a cabo (STF. 2ª T. HC 97261- Rel. Min. Joaquim Barbosa. Dje 02/5/2011- Informativo 623). E) Princípio da taxatividade ou da determinação: tipos penais claros, sem dúvidas. De nada adiantar ser anterior a lei se for incompreensível quanto ao alcance; Ex. “atividades criminosas” (art. 33,§4º, Lei de Drogas). F) Princípio da lei necessária: manifestação da intervenção mínima. Só criminalizar quanto não existir solução eficiente; Enfim, não se admite crime: Sem lei Anterior Escrita Estrita Certa Necessária PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS O que é bem jurídico? Bem existencial + valoração positiva + tutela por norma penal. Importância do bem jurídico? Compreender o real conteúdo de proteção da norma Finalidade da teoria do bem jurídico-penal? A) INDICATIVA: proteção apenas de bens importantes para a existência e desenvolvimento humano; B) NEGATIVA: já se sabe quais não merecem proteção penal. PROBLEMA: Quais são os bens jurídico-penais? O que era para limitar, fundamentou (expansão do Direito Penal); O bem jurídico-penal deveria ter dupla virtualidade: 1- Limitativo: orientar atuação legiferante; 2- Dogmático: servir como diretriz interpretativa; ALGUNS PROBLEMAS SOBRE O BEM JURÍDICO-PENAL. A) Onde estão os bens jurídicos? Como achá-los? Na Constituição Federal. B) Quais bens da CF/88 podem se tornar penais? 1- Aqueles previstos expressamente na CF; 2- Qualquer um, desde que não contrarie o sentido axiológico da CF; C) Há bens passíveis de proteção fora da CF? Sim, pois a CF é apenas um limite negativo (não precisa estar na CF, basta não contrariá-la; D) Há proibição de criminalizar na CF? Sim. Ex. discriminação sexual, liberdade de associação etc; E) Há dever de criminalizar? 1- Sim. Mandados expressos de criminalização; Princípio da proteção deficiente. 2- Não, pois o legislador não é sancionado pela omissão. Ademais, se criminalizar depois não pode revogar? LIMITES MATERIAIS DO BEM JURÍDICO FRENTE AO LEGISLADOR; 1- Bem jurídico não deve contrariar a CF; 2- O bem jurídico deve ser útil, direta ou indiretamente, ao indivíduo; 3- Bem jurídico deve ter repercussão social (danosidade social com a violação); PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA A) Fragmentariedade: apenas as lesões mais graves (sentidos negativo e positivo); B) Subsidiariedade: “Quem usa uma espada afiada em todo o momento, inclusive para o combate de infrações insignificantes, deve saber que ela poderá falhar quanto tiver que ser usada para um golpe realmente necessário (LFG); Da soma dos dois, surge: princípio do merecimento/necessidade da pena; Dirigido: A) legislador (criminalização primária); B) Judicial (aplicação e execução da lei); PRINCÍPIO DA MATERIALIZAÇÃO DO FATO: Direito penal do autor X DP do fato; Significados: A) Não se pune exclusivamente em razão de pensamentos e desejos; B) Modo de vida, ideologia, convicções pessoais não fundamentam um absolvição apenas por aqueles dados; Nesse sentido: art. 2º, do CP: diz “fato”; A CF fala em “crime” Princípio da ofensividade ou lesividade: Não há crime sem lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado; Constitucionalidade dos crimes de perigo abstrato? Insignificância ou bagatela; Vetores: mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada (STF. HC nº 84.412, rel. Min. Celso de Mello, Dj nº 222, de 19.11.2004) PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM O AGENTE DO FATO (AUTOR DO FATO): Princípio da responsabilidade pessoal: Não há responsabilidade coletiva ou por fato de outrem no Direito Penal; Desdobramentos: a) proibição de denúncia genérica; b) obrigação de individualizar a pena; Princípio da responsabilidade subjetiva: apenas responsabilizado por dolo ou culpa. Princípio da culpabilidade: pena apenas se o agente era imputável, agiu com potencial consciência de ilicitude e lhe era exigível conduta diversa; Princípio da igualdade (formal e material) Fundamenta as ações afirmativas (ex. Maria da Penha); Princípio da presunção de inocência (ou da não culpa): Art. 5º, LVII, CF. Ônus da prova; Regra de tratamento. PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM A PENA: Princípio da dignidade humana: proibição de penas indignas, cruéis, desumanas ou degradantes; Princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI, da CF). Atuação em 3 níveis: a) criação do crime e pena; b) aplicação da sanção penal; c) execução da reprimenda (art. 5º, LEP) Princípio da proporcionalidade: Criação de leis penais; aplicação e execução; Princípio da pessoalidade (art. 5º, XLV, da CF); Princípio da vedação do “bis in idem” Significados: a) processual: veda dois processos; B) material: ninguém pode ser condenado pela segunda vez pelo mesmo fato; C) Execucional: proibição de duas ou mais execuções pelo mesmo fato.
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