Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FONÉTICA E FONOLOGIA DO INGLÊS Ubiratã Kickhöfel Alves Andressa Brawerman-Albini Mariza Lacerda Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Revisão técnica: Monica Stefani Bacharela em Letras – habilitação português/inglês Mestra em Letras – Literaturas de língua inglesa/literatura australiana Doutora em Letras – Literaturas de língua inglesa/estudos de tradução A474f Alves, Ubiratã Kickhöfel. Fonética e fonologia do inglês / Ubiratã Kickhöfel Alves, Andressa Brawerman-Albini, Mariza Lacerda ; [revisão técnica: Monica Stefani]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 164 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-162-4 1. Fonética. 2. Fonologia. I. Língua inglesa. II. Brawerman-Albini, Andressa. III. Lacerda, Mariza. IV. Título. CDU 37 Iniciais_Fonética e fonologia do inglês.indd 2 10/09/2017 12:31:37 O sistema consonantal do inglês Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever as propriedades articulatórias das consoantes do inglês. Reconhecer formas variantes dos fonemas consonantais do inglês. Explicar as di� culdades enfrentadas pelos alunos brasileiros na aqui- sição do sistema consonantal do inglês. Introdução Você sabia que, apesar de serem uns dos sons mais ressaltados na língua inglesa, as consoantes [] e [] não correspondem a prioridades no ensino de inglês? De fato, nem todos os dialetos do inglês a produzem. E quais outras possibilidades de diferenças dialetais você conhece no que diz respeito à produção das consoantes? Neste capítulo, você iniciará estudando as consoantes do inglês e suas possibilidades de variação contextual (ou seja, em função da posição que ocupam na sílaba, na palavra e na frase). Em seguida, estudará as possibilidades de variação dialetal referentes às consoantes. Após essa descrição, você aprenderá mais sobre as dificuldades dos aprendizes brasileiros na aquisição do sistema consonantal, de modo a refletir sobre as prioridades de ensino a aprendizes brasileiros de inglês. Descrevendo as consoantes Ao descrever as consoantes por meio de seu ponto de articulação, modo de articulação e vozeamento, você já aprendeu muitíssimo sobre a produção de cada um desses segmentos. Dada a importância dessa caracterização, a Figura 1 apresenta o quadro consonantal do inglês. No caso de duas consoantes com dois segmentos na mesma célula, a primeira consoante é sempre surda, e a U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 68 12/09/2017 08:54:49 segunda, sonora. No caso de células com apenas um segmento, com exceção de //, todos esses segmentos são sonoros. A organização dos segmentos em termos de modo de articulação também permitirá estudar as peculiaridades de cada modo, bem como as suas possibilidades de variação. Figura 1. Quadro de consoantes do inglês. Fonte: Eulenberg (2011). Stop Fricative A�ricate Nasal Lateral Rhotic Glide Li qu id So no ra nt O bs tr ue nt Voiceless Voiced Voiceless Voiced Voiceless Voiced Voiced Voiced Voiced Voiced () () MANNER VOICING Bilabial Labiodental Interdental Alveolar Palatal Velar Glottal PLACE Caso necessite revisar os conceitos sobre ponto de articulação, modo de articulação e vozeamento, veja o vídeo produzido na University of British Columbia sobre a produção de consoantes do inglês: https://goo.gl/MBVvSL A descrição desses três parâmetros é necessária sobretudo para caracterizar a produção individual de cada som. Dentro de uma sílaba, de uma palavra ou de uma frase, as consoantes mostram grande variabilidade. Essa variabilidade também depende das características articulatórias dos elementos sonoros contíguos entre si. Muitas dessas características podem ser previstas com a ajuda do quadro acima. 69O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 69 12/09/2017 08:54:52 Plosivas Ao longo deste curso, você já ouviu falar muito sobre as plosivas. Você sabe que elas são caracterizadas por diferentes etapas de articulação: é preciso movimentar os articuladores para que eles se aproximem e ocasionem a se- gunda etapa, caracterizada pelo bloqueio total de ar. Após este bloqueio de ar, há a soltura, que se dá de modo forte, como uma explosão. As plosivas são caracterizadas, por muitos autores, como os elementos segmentais mais versáteis (YAVAS, 2011). Como você já sabe, faz-se necessária a aspiração das plosivas surdas em posição inicial de palavra e de sílaba tônica. Além Para saber um pouco mais sobre a não soltura (unrele- ase), veja o vídeo do canal Fluent IQ, do YouTube, em: https://goo.gl/7WRsuD disso, você também precisa saber que, na posição de fi nal de sílaba, há a pos- sibilidade de as consoantes plosivas serem produzidas sem soltura audível de ar (“unreleased”), o que é representado com o símbolo [ ] após o segmento plosivo (p. ex.: [], []). A não soltura é um fenômeno variável no inglês, podendo acontecer nos casos em que a consoante em final de sílaba é seguida por silêncio, ou, então, por outra consoante plosiva ou nasal. Tal consoante seguinte pode estar dentro de uma mesma sílaba (act [], apt []), em uma sílaba seguinte (captain [.]) ou, inclusive, em uma palavra seguinte (that day []). É justamente no caso das consoantes sem soltura audível que se faz neces- sário prestar atenção na duração da vogal precedente para diferenciar pares mínimos como cap e cab. De fato, não é necessário (e tampouco natural) produzir essas consoantes finais com uma explosão exagerada, no intento de demonstrar a presença ou ausência de vozeamento; é preciso enfatizar O sistema consonantal do inglês70 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 70 12/09/2017 08:54:52 a duração da vogal, de modo que a duração vocálica da consoante antes do segmento sonoro seja maior. A duração da vogal também se mostra importante em casos em que tanto a plosiva /t/ da palavra writer quanto a consoante /d/ de rider são produzidas com tepe. Nesse caso, a duração do ditongo em rider também será maior. Os contextos em que a plosiva pode ser produzida sem soltura audível possibilitam, também, a realização de uma outra variante: a plosiva glotal []. Trata-se de uma plosiva surda, caracterizada como “o som (ou falta de som) que ocorre quando as pregas vocais estão juntas uma à outra, de modo a fechar a glote” (LADEFOGED; JOHNSON, 2011, p. 61). Para ouvir exemplos de palavras encerradas por plosivas sem soltura audível, com plosivas glotais e até com ambas, visite a página do Professor Peter Ladefoged: https://goo.gl/bNpvN9 A oclusiva glotal geralmente pode ser ocorrer como um alofone de /t/ e pode ser encontrada tanto em final de palavra (rat []) quanto em palavras como button ([.], em que o /t/ vem seguido de /n/, que acaba ocupando o núcleo silábico. 71O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 71 12/09/2017 08:54:53 Se, por um lado, a produção de um /t/ seguido de /n/ pode resultar na realização da plosiva como uma oclusiva glotal [], um /n/ seguido de /t/ átono (sem aspiração), por sua vez, pode resultar em formas variáveis com o apagamento da plosiva. Dessa forma, em international, você pode ter a equivocada impressão de ter ouvido inner national. Fricativas e africadas As fricativas interdentais [] (think) e [] (those) tendem a roubar a cena no contexto de ensino, ainda que a sua substituição não tenda a afetar a inteligi- bilidade em língua estrangeira. No que diz respeito a essas duas consoantes, é importante que você saiba que, ao preceder as fricativas alveolares /s, z/, elas tendem a ser apagadas. A palavra clothes pode ser produzida como []. A duração da vogal é, entretanto, um pouco mais curta do que a de close. Com relação à posição inicial da sílaba, ainda mais importante é a pro- dução de [] como fricativa surdae glotal. Não produza essa consoante com vozeamento. Além disso, a língua deve estar em posição de repouso. O sistema consonantal do inglês72 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 72 12/09/2017 08:54:53 No que diz respeito a fricativas em coda, tais segmentos tendem a ser parcialmente dessonorizados em contextos antes de pausa (final de frase) ou antes de uma plosiva ou fricativa sonora (como em prove to). O vozeamento pleno da fricativa em final de palavra somente será verificado quando tal consoante for seguida de uma vogal (p. ex.: save a girl) ou outra consoante sonora (como em sounds nice). Novamente, em pares mínimos como safe ([] final) e save ([] final) ou lace ([] final) e laze ([] final), assim como nas plosivas, a duração da vogal precedente é a pista acústica que contribui para a distinção. Não há a necessidade, portanto, de forçar um vozeamento exagerado para o segmento fricativo sonoro, uma vez que a vogal já serve como indicador do status de sonoridade. A questão da duração das vogais também é válida para as africadas: a vogal tende a ser mais longa antes de badge [] do que de batch []. Veja este vídeo sobre a pronúncia da fricativa [] no canal English Pronunciation Roadmap, do https://goo.gl/5aNHAz Veja este vídeo do canal Rachael´s English, do You- Tube, em que é explicado o desvozeamento das fricativas finais e a duração da vogal precedente: https://goo.gl/tS8ugz 73O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 73 12/09/2017 08:54:54 Nasais É na posição fi nal de sílaba, sobretudo, que as consoantes nasais do inglês se diferenciam das do português. Muitos aprendizes pronunciam a palavra him do inglês como se estivessem realizando a nasal da palavra “rim” do português brasileiro. Você consegue notas as diferenças das duas línguas, no que diz respeito à vogal e à nasal? Primeiramente, em português brasileiro, a vogal é muito mais nasalizada, pois ela sofre o efeito da nasalização da consoante seguinte. Em função disso, tampouco a consoante é plenamente articulada, uma vez que a vogal já carregou grande parte da nasalidade. Em inglês, ainda que haja uma certa nasalização da vogal, ela é muito menor do que em nossa língua, dado que a consoante é plenamente articulada. Em outras palavras, a consoante [], em fi nal de sílaba, é realmente realizada com uma articulação bilabial, de modo que você tenha que realmente realizar a obstrução total dos articuladores, ao contrário do que existe em inglês. Veja o vídeo da Professora Karina Fragozo no canal En- glish in Brazil, do Youtube, para aprender a diferença entre o /m/ final no português brasileiro e no inglês: https://goo.gl/zvAfv1 Além disso, brasileiros tendem a ditongar a vogal nasalizada. Uma pala- vra como “tem”, em português, é produzida com um ditongo nasalizado. A nasalidade cai tanto sobre a vogal, que o ponto de articulação da consoante nasal é pouco identificável. Em inglês, ao pronunciar uma palavra como ten, é preciso, por sua vez, realizar a consoante final com a produção alveolar completa. Em outras palavras, em inglês, tanto o [m] quanto o [n] devem ser produzidos de forma igual em início e final de sílaba. O sistema consonantal do inglês74 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 74 12/09/2017 08:54:54 Em pares mínimos como them e then, saber articular plenamente a consoante final faz toda a diferença! Ainda no que diz respeito às nasais, é preciso prestar atenção na distribuição da nasal velar. Lembre-se de que a articulação dessa consoante é semelhante à de uma plosiva velar ([] ou []), porém o ar deve ser liberado pelo nariz. Essa nasal, na língua inglesa, pode ocorrer seguida ou não de uma plosiva velar (p. ex.: sing [], sink []). Ainda que possamos encontrar tal con- soante como um alofone em português, em palavras como “cinco” (em que a nasal é também seguida por uma plosiva velar na sílaba seguinte), aprender a pronunciá-la com articulação plena (sem demasiada nasalização da vogal) em palavras como sink é um desafio. Além disso, saber produzi-la com plena articulação em posição final de sílaba, sem uma consoante plosiva de apoio, é uma das grandes dificuldades do aprendiz brasileiro. Na sequência ortográfica <ng> em final de palavras, podemos encontrar uma produção variável, com ou sem a plosiva []. Nos dialetos em que tal sequência ortográfica é produzida como [] em vez de [], é preciso prestar atenção, também, nas palavras derivadas dessa palavra. Em tais dialetos, em singer, por exemplo, tampouco será produzida a plosiva [] (p. ex.: [.]), o que pode tornar a compreensão auditiva dessa palavra um pouco mais difícil. Agora preste atenção às palavras finger e longer. Você vai ver que, nessas duas palavras, a plosiva [] é pronunciada inclusive nos dialetos que não rea- lizam tal consoante final em sing ou rang. Por que isso acontece? Em finger, a plosiva é produzida porque a sequência <ng> faz parte da raiz da palavra. Por sua vez, em longer temos um caso excepcional – ainda que, na variedade padrão do inglês, não se produza a vogal em sing, singer e no próprio adjetivo long, a plosiva deve ser sempre produzida em formas com o sufixo comparativo –er e o superlativo –est. Dessa forma, em stronger, strongest, longer e longest, por exemplo, a plosiva [] será sempre explodida. Esse é um excelente exemplo da interação da morfologia com a fonologia na língua inglesa. 75O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 75 12/09/2017 08:54:55 No caso em que –er não é um sufixo comparativo, a plosiva [] não é realizada nos dialetos que não a realizam em posição final na sequência <ng>. Por exemplo: hang – hanger ([] – [.]; sing – singer ([] – [.]). Dessa forma, o sufixo –er exige a produção da oclusiva quando corresponde à forma comparativa. Aproximantes Com relação às aproximantes, além da produção da líquida retrofl exa em rat e car (lembre-se de que, na variedade britânica, tal consoante não é produzida em fi nal de sílaba), é preciso chamar a atenção para a articulação do /l/ escuro (dark /l/), que ocorre em fi nal de sílaba. Sua tendência, como falante de por- tuguês brasileiro, é de produzir tal consoante como um glide (como se você estivesse produzindo a palavra “fi o” em português). Com essa realização, não é produzida uma distinção entre few e feel. Atente para o fato de que, quando o fonema /l/ se encontra em posição de início de sílaba, a tendência é produzi- -lo como um /l/ claro (alveolar), assim como o da palavra “lá” em português. A produção do /l/ claro também tende a acontecer quando tal consoante em fi nal de palavras for seguida, sem pausas, por uma vogal, como em doń t kill it. Por sua vez, o segmento /l/ mantém-se como velarizado (escuro) antes de consoantes, como em doń t kill dogs (LADEFOGED; JOHNSON, 2011, p. 69). Ouça os exemplos do parágrafo anterior na página do professor Peter Ladefoged e pratique sua produção de /l/. https://goo.gl/FXdfV8 O sistema consonantal do inglês76 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 76 12/09/2017 08:54:55 Por sua vez, os glides não tendem a causar dificuldades ao aprendiz bra- sileiro. Note que, na Figura 1, o glide /w/ se encontra em duas células (pontos de articulação bilabial e velar) por apresentar dois pontos de articulação: ele é labial e velar ao mesmo tempo. Caso ainda haja dificuldades com a produção do sistema consonantal do inglês, treine com exercícios de três manuais de pronúncia de inglês específicos para o público brasileiro: Godoy, Gontow e Marcelino (2006), Silveira, Zimmer e Alves (2009) e Cristófaro-Silva (2012). Variação das consoantes em função do dialeto As consoantes apresentam muitíssima diversidade dialetal. Nesta seção, você se concentrará naqueles aspectos que já se mostram mais bem documentados na literatura ou que apresentam maior difi culdade, em termos de percepção, ao aprendizbrasileiro de inglês. Ao começar pelos segmentos plosivos, você já sabe sobre a possibilidade de realização da plosiva glotal em final de palavra ou em palavras como bitten, em que o /t/ é seguido pela nasal de mesmo ponto. Entretanto, no dialeto do Cockney English (região do East End de Londres), há, também, a realização da plosiva glotal entre vogais, como em butter [], kitty [], fatter [] ou até mesmo antes de uma vogal substituindo /h/, como em how []. Para ouvir a produção da plosiva glotal nesses con- textos, veja o vídeo do canal British English Pro, do YouTube: https://goo.gl/Whkx8A 77O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 77 12/09/2017 08:54:56 Palavras como kitty e fatter tenderiam a ser produzidas por um falante norte-americano como um tepe. Você já sabe que o tepe corresponde a um alofone de /t/ ou /d/ quando essa consoante se encontra entre sílabas e não se encontra no início de uma sílaba tônica. É importante que você ainda saiba que o tepe pode ocorrer, também, em palavras como bottle [] e little [], em que a consoante lateral /l/ é produzida como núcleo de sílaba. Em dialetos que não produzem o tepe, este [t] pode, ainda, ser aspirado (YAVAS, 2011). Os segmentos fricativos, por sua vez, já não apresentam tantas variações quanto as plosivas, com exceção das interdentais [] e [] e das palatoalveo- lares. No que diz respeito às interdentais, é preciso deixar claro que alguns dialetos do inglês, tais como o da cidade de Nova York e do Sul da Irlanda, não produzem esses sons, sendo possível realizá-los como [] e [] dentalizados. Uma vez que [] e [] não são produzidos em alguns dialetos (e que, além disso, não implicam problemas para a inteligibilidade – cf. JENKINS, 2000), tais segmentos não correspondem a prioridades de ensino de pronúncia, apesar de serem bastante ressaltados em qualquer aula de inglês. No que diz respeito às fricativas palatoalveolares, podemos encontrar diferenças no vozeamento em função do dialeto. Enquanto palavras como Asia, Persia e version são produzidas com a consoante sonora [] no inglês norte-americano, tais palavras podem ser produzidas com [] ou [] no inglês britânico. Por sua vez, as fricativas de issue e sensual são categoricamente produzidas como [] na variedade norte-americana, mas tanto como [] ou [] no inglês britânico (YAVAS, 2011). Por fim, ainda a respeito das fricativas, cabe mencionar a variação encontrada na palavra schedule: enquanto na variedade britânica ela é produzida como [], na variedade norte-americana, é produzida como []. Diferenças em certas palavras também são en- contradas em relação às africadas: enquanto statue e virtue são produzidas invariavelmente como [] na variedade norte-americana, na britânica tais palavras podem ser pronunciadas com [] ou []. O sistema consonantal do inglês78 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 78 12/09/2017 08:54:56 O mesmo acontece com a contraparte sonora da africada, em palavras como individual e education, produzidas como [] no inglês norte-americano e como [] e [] no inglês britânico. No que diz respeito às nasais, o segmento velar é sujeito a bastante variação. Lembre-se de que a sequência ortográfica <ng> final de sing e rung pode ser produzida como [] em alguns dialetos – tais como o da cidade de Nova York (PENNINGTON 1996 e o do Norte da Inglaterra (YAVAS, 2011). Além disso, na variedade norte-americana, // pode vir a ser produzida como [n] em posições átonas, sobretudo no presente contínuo, como em He is talking. No que diz respeito às líquidas, lembre-se da produção variável da consoante // em coda. Ainda que se tenda a generalizar a presença/ausência de /r/ em função das variedades norte-americana e britânica, há de se considerar que, no Leste dos Estados Unidos, há variedades que tampouco produzem essa consoante. Quanto à produção do fonema /l/, algumas variedades, tais como a de Wales, produzem o /l/ final como alveolar (clear /l/); outras variedades, por sua vez, podem produzir o /l/ final como uma semivogal. Por fim, no que diz respeito ao glide, ao passo que tune, nude e news são produzidas como [], [] e [] na variedade norte-americana, há a produção de um ditongo ([]) na variedade britânica. Isso acontece porque, na variedade norte-americana, [] não pode seguir uma obstruinte alveolar. Entretanto, após segmentos bilabiais (music, pure), velares (cure, cute) ou soantes (tenure, failure), há a produção de um ditongo em ambos os dialetos. Dificuldades do aprendiz brasileiro Muitas das difi culdades com consoantes resultam em problemas de inteligi- bilidade. Com relação ao aprendizado das consoantes do inglês, exemplos de prioridades de ensino são listados a seguir: Aspiração das plosivas: /p/, /t/, /k/ em posição inicial de palavra e sí- laba tônica precisam ser aspiradas. Do contrário, podem-se confundir produções como pit e bit; 79O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 79 12/09/2017 08:54:56 Diferenciação da duração vocálica de diferenças funcionais entre pares mínimos terminados por consoantes surdas e sonoras (lit – lid e hiss – his): é importante que o aluno tenha clara essa distinção – não somente para tornar sua fala mais inteligível, mas também para melhorar sua compreensão oral. Articulação plena das nasais finais: além de denotar grande sotaque estrangeiro, a não articulação plena da consoante pode ter consequências para a inteligibilidade. Além dessas dificuldades, ressaltam-se aqui substituições consonantais realizadas pelo aprendiz de inglês. Muitas dessas substituições são simples- mente resultado da transferência dos padrões grafo–fônico–fonológicos do português ao inglês (ZIMMER; SILVEIRA; ALVES, 2009). A pronúncia da consoante retroflexa [] é um bom exemplo disso. Os aprendizes tendem a produzir rat e real, por exemplo, com a mesma pronúncia com que produzem a letra <r> das palavras “rato” e “real” do português. Por sua vez, a fricativa [] de hat também é produzida com essa mesma consoante. Dessa forma, o aprendiz brasileiro tende a produzir, de maneira homófona, pares mínimos como rat – hat e hose – rose. Atente para o fato de que nem rat, tampouco hat, são produzidas com a consoante inicial da palavra “rato”. Na palavra rat do inglês, é preciso realizar um segmento líquido retroflexo. Em hat, a consoante é uma fricativa glotal surda que você produz como se estivesse sem fôlego. Trata-se de sons diferentes entre si, sendo ambos diferentes do que você encontra no início de sílaba do português. Uma grande confusão diz respeito aos fonemas /t/, //, /t/, ou suas con- trapartes sonoras //, //, //. Uma das primeiras dificuldades é quanto à distinção entre [] e [], ou [] e [], nos dialetos de português brasileiro que palatalizam a oclusiva alveolar inicial. Entretanto, mesmo nos dialetos em que não haja tal efeito da L1, ainda há dificuldade em função dos padrões grafo–fônico–fonológicos da língua materna. Em função da grafia de <ch> em português e em inglês, no que diz respeito à consoante surda, a africada O sistema consonantal do inglês80 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 80 12/09/2017 08:54:57 // tende a ser produzida como [], de modo que muitos aprendizes podem vir a não fazer a distinção entre chair [] e share []. Os correlatos ortográficos de [] são <sh> (share), <c>, (ocean), <s> (sure), <t> (station) e <ss> (mission). Dessa forma, <ch>, em inglês, não é um correlato ortográfico de []. Os correlatos ortográficos de [] são <ch> (chair), <t> (nature), <c> (cello) e <tch> (watch). Já no que diz respeito às consoantes sonoras, a situação se mostra ainda mais complexa, uma vez que o grafema <g>, quando seguido do grafema <e>, serve como como correlato ortográfico tanto de [] (massage) quanto de [] (message). Dessa forma, produçõesequivocadas de massage com [] final não são incomuns entre os aprendizes brasileiros. Os grafemas <z> (azure) e <s> (pleasure) podem ser correlatos de [], mas não de []. Os grafemas <j> (Jack), <dj> (adjective), <gg> (suggest), <dge> (edge) podem ser correlatos de [], mas não de []. Por sua vez, o grafema <g> pode representar tanto [] (garage) quanto [] (massage). Ainda com relação aos efeitos da transferência grafo–fônico–fonológica do português ao inglês, podemos mencionar a produção de palavras como think e that como [t]ink e [t]at, demonstrando, dessa forma, influência da ortografia. Essas produções ocorrem nas primeiras etapas de aquisição do aluno brasileiro. Após algum tempo, palavras como think e thought, que apresentam a consoante surda inicial, passam a ser produzidas como [f] ou [s], e palavras como them e that, que apresentam a fricativa sonora, passam a ser produzidas com [d]. Note que, ainda que não produza os sons da língua-alvo, o aprendiz acaba preservando o vozeamento da consoante estrangeira, uma vez que substitui [] por consoantes surdas e [] por sonoras. Essas substituições, 81O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 81 12/09/2017 08:54:57 dessa forma, servem como um bom preditor para que professores saibam se o <th> está representando a consoante surda ou a sonora. Pense em como os alunos de inglês produzem: a produção do aprendiz, ainda que não venha a ser a fricativa interdental, terá a sonoridade da consoante-alvo. É preciso deixar claro, além disso, que substituições desse tipo são realizadas pelos próprios falantes nativos de inglês, conforme já afirmado. Cabe, ainda, mencionar novamente a dificuldade de realização de /l/ final. Ao produzir o /l/ final como [], o aprendiz poderá levar à confusão de pares mínimos. Entretanto, ainda são necessários estudos que demonstrem se tal alteração exerce efeitos sobre inteligibilidade. É importante levar em conta que tais substituições são realizadas, inclusive, por algumas variedades da língua inglesa. Em suma, ao trabalhar a produção de consoantes, o professor deve ter em mente a necessidade de explorar, prioritariamente, aqueles aspectos que podem ter efeitos na compreensão da fala do aluno por parte de ouvintes que não compartilham a sua língua materna. Trabalhar a percepção dos sons, explorar a variação linguística e as possibilidades de previsibilidade fornecidas pelas correspondências entre letra e som podem representar estratégias importantes para desenvolver o sistema fonológico do inglês entre brasileiros. Para exemplos de atividades de sala de aula com consoantes, veja Kelly (2000). O sistema consonantal do inglês82 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 82 12/09/2017 08:54:57 1. Em qual destas palavras deve ser produzida uma nasal velar? a) bench b) drunk c) pants d) camp e) lend 2. Em qual das alternativas o segundo membro dos pares mínimos apresentados tem uma vogal mais longa do que a do primeiro? a) phase – face b) lag – lack c) leaf – leave d) his – hiss e) badge – batch 3. Assinale a alternativa em que pode ser produzido um /l/ claro: a) I cań t fall behind. b) All I want is you. c) Why doń t you answer my call? d) Yoú re a fool to everyone. e) Is that all? 4. Assinale a alternativa cujas palavras sejam produzidas com o ditongo [] tanto na variedade norte- americana quanto na britânica: a) pure, nude b) cute, lute c) news, music d) pure, cute e) lute, news 5. Assinale a alternativa que apresenta correlatos ortográficos de []: a) <sh>, <tch>, <ch> b) <sh>, <t>, <ch> c) <ss>, <tch>, <c> d) <c>, <tch>, <sh> e) <t>, <tch>, <ch> BRITISH ENGLISH PRO. What is a glottal stop? Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=_4MJUi03GHM>. Acesso em: 22 ago. 2017. CRISTÓFARO-SILVA, T. Pronúncia do inglês: para falantes do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2012. ENGLISH IN BRAZIL – by Karina Fragozo. Pronúncia do inglês: /m/ final. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YDiChZWYqfc>. Acesso em: 22 ago. 2017. ENGLISH PRONUNCIATION ROADMAP. How to Pronounce H. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=kv6EAPVGCNU>. Acesso em: 22 ago. 2017. EULENBERG, J. Descriptive Phonetics. 2011. Disponível em: <https://msu.edu/course/ asc/232/index.html#Special>. Acesso em: 26 ago. 2017. 83O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 83 12/09/2017 08:54:58 FLUENT IQ. Real English # 24: Voiceless stops – end of words. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=2Q7FhlCDApQ<. Acesso em: 22 ago. 2017. GODOY, S. M. B.; GONTOW, C.; MARCELINO, M. English Pronunciation for Brazilians: the Sounds of American English. São Paulo: Disal, 2006. JENKINGS, J. The Phonology of English as an International Language. Oxford: Oxford University Press, 2000. KELLY, G. How to Teach Pronunciation. Essex: Pearson Longman, 2000. LADEFOGED, P.; JOHNSON, K. A Course in Phonetics. 6. ed. Boston: Wadsworth – Cen- gage Learning, 2011. Áudios e material suplementar disponível em: <http://www. phonetics.ucla.edu/course/contents.html>. Acesso em: 15 ago. 2017. PENNINGTON, M. C. Phonology in English Language Teaching: an International Appro- ach. London: Longman, 2006. RACHEĹ S ENGLISH. Ending Voiced vs. Unvoiced Consonants – American Accents. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IG95Nc_KV5g>. Acesso em: 22 ago. 2017. SILVEIRA, R.; ZIMMER, M.; ALVES, U. K.. Pronunciation Instruction for Brazilians: student´s book. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2009. UNIVERSITY OF BRITISH COLUMBIA. Introduction to Articulatory Phonetics (Conso- nants). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=dfoRdKuPF9I&t=246s>. Acesso em: 15 ago. 2017. YAVAS, M. Applied English Phonology. 2. ed. West Sussex: Wiley-Blackwell, 2011. ZIMMER, M. C.; SILVEIRA, R.; ALVES, U. K. Pronunciation Instruction for Brazilians: brin- ging Theory and Practice Together. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2009. Leituras recomendadas CELCE-MURCIA, M.; BRINTON, D. M.; GOODWIN, J. M; GRINER, B. Teaching Pronunciation: a Course Book and Reference Guide. Cambridge: Cambridge University Press, 2010. KREIDLER, C. The Pronunciation of English: a Course Book. 2. ed. Oxford: Blackwell Publishing, 2004. O sistema consonantal do inglês84 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 84 12/09/2017 08:54:58
Compartilhar