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Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / Introdução à Engenharia de Segurança 1 2 3 4 5 A história da Segurança do Trabalho A história da Segurança do Trabalho, assim como tantas outras áreas, começou bem antes do reconhecimento dos conceitos relativos à Segurança e Saúde do Trabalho e sua importância. O homem de neandertal, espécie prima humana extinta, que habitou a Europa e partes do oeste da Ásia há mais de 300 mil anos, já utilizava vestimentas de couro para proteção do seu corpo contra eventuais ameaças a sua integridade física ad- vindas da floresta (BARSANO; BARBOSA, 2014). Os tópicos seguintes se debruçam sobre a origem da segurança e saúde do trabalho, traçando um panorama geral desde os primeiros indícios de uso de medidas de prote- ção e prevenção de danos físicos e psíquicos; percorrendo as contribuições dos pensa- dores e filósofos; chegando à intensificação da discussão dos agravos da precarização dos ambientes e condições de trabalhos industriais, que culminaram na evolução dos princípios de segurança do trabalho no mundo e no Brasil. Primórdios da Segurança do Trabalho Embora sem ainda possuir essa denominação, equipamentos e procedimentos de se- gurança eram adotados desde os primórdios da evolução do homem, visando a prote- ção contra possíveis ataques de animais peçonhentos durante a caça e os efeitos da exposição a intempéries (BARSANO; BARBOSA, 2014). De acordo com Mattos e Másculo (2019, p. 6), na antiguidade, nos papiros egípcios, no Império Babilônico e em escritos da civilização greco-romana, encontram-se conexõesPróxima https://dex.descomplica.com.br/engenharia-de-seguranca-do-trabalho-versao-2/introducao-a-engenharia-de-seguranca-do-trabalho-540d3e/introducao-a-engenharia-de-seguranca-do-trabalho-a-historia-da-seguranca-do-trabalho entre o processo saúde-doença e as atividades laborais. Sobre essa temática, os auto- res afirmam que: Neste estágio predominava inicialmente o paradigma mágico religioso e posteriormente o naturalista. No Egito há registros que datam de 2360 a.C., o Papiro Seler II, relacionando o ambiente de trabalho e os riscos inerentes a eles, e o Papiro Anastasi V, mais conhecido como “Sátira dos Ofícios”, de 1800 a.C., descrevendo os problemas de insa- lubridade, periculosidade e penosidade das profissões. O império ba- bilônico, no seu auge, criou o Código de Hamurabi por volta de 1750 a.C. Dele foram traduzidos 281 artigos a respeito de relações de tra- balho, família, propriedade e escravidão. No artigo que fala sobre a responsabilidade profissional, o imperador Hamurabi [governou entre os anos de 1792 e 1750 a.C.] sentencia com pena de morte um arqui- teto que construir uma casa que se desmorone, causando a morte de seus ocupantes (MATTOS; MÁSCULO, 2019, p. 6). As sociedades gregas e romanas eram fortemente dependentes dos escravos, os quais eram os responsáveis por desempenhar as atividades que geravam riscos de acidentes e doenças ocupacionais. Por essa razão, estudos voltados para esse tema não eram valorizados. Hipócrates foi um dos primeiros a receber destaque na Grécia, no século IV a. C., por volta de 460-375 a.C., e seus estudos ocasionaram a transição do paradigma espiritualista para o paradigma naturalista. Hipócrates publicou um tratado que infor- mava ao médico sobre a relação entre ambiente e saúde (clima, topografia, qualidade da água, organização política). Adicionalmente, descreveu a “intoxicação saturnina” de um funcionário de mineração, embora tenha omitido o ambiente de trabalho e a ocupa- ção deste (MATTOS; MÁSCULO, 2019). Lucrécio foi outro estudioso da Grécia antiga que, no século I a. C. (em torno de 100 a. C.), também fazia menção aos riscos laborais aos quais os trabalhadores das minas es- tavam expostos. Um tempo depois, entre 23 e 79 a.C., Plínio, o Velho, elaborou o “Tra- tado de História Naturalis”, o qual apontava para a exposição dos trabalhadores a chumbo, mercúrio e poeiras. Além disso, também listou os equipamentos de proteção individual que esses trabalhadores utilizavam, tais como máscaras, feitas de panos e bexigas de carneiros, para evitar a inalação de poeiras e fumos (BARSANO; BAR- BOSA, 2014). Próxima Na realidade, as civilizações greco-romanas foram pioneiras na criação de comunidades solidárias, na Grécia chamadas “erans” e em Roma de “collegia”, as quais absorviam os cidadãos gregos, seus filhos, enquanto membros e seus escravos, cadastrados como capital de trabalho. Essas cooperativas eram abertas a qualquer cidadão, incluindo os escravos libertos e tinham o propósito de proteger os participantes de determinados ris- cos. Portanto, elas constituíram as primeiras caixas de auxílio às doenças e acidentes (MATTOS; MÁSCULO, 2019). Segurança e saúde do trabalho no mundo Por volta de 1700 foi publicada na Itália a obra “As Doenças do Trabalho” (originalmente denominada “De Morbis Arficum Diatriba”), de autoria do médico italiano Bernardino Ra- mazzini e consiste no primeiro livro escrito especificamente sobre doenças ocupacionais e prevenção de riscos relacionados ao trabalho. Na prática, descrevia 50 ocupações profissionais e as medidas de proteção e neutralização dos efeitos à saúde do trabalha- dor. De acordo com Chirmici e Oliveira (2016, p. 2), esse livro acabou se tornando “a base para o desenvolvimento da medicina ocupacional, por isso Bernardino Ramazzini é visto até os dias atuais como o ‘pai da medicina ocupacional’. É importante perceber que desde essa época as pessoas já haviam atentado para o fato de que havia uma relação entre o desempenho das atividades laborais e o desen- volvimento de enfermidades, resultando na perda de produtividade e, em última instân- cia, na redução dos rendimentos financeiros recebidos (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016). Anos depois, em 1776, foi publicada em Londres a primeira parte da obra “Riqueza das Nações”, escrita pelo economista britânico Adam Smith. A segunda edição foi lançada em 1778 e três novas edições se sucederam nos anos de 1780, 1784 e 1786. Esse livro trouxe reflexões acerca da necessidade de priorização da saúde e integridade do trabalhador, como meio de garantir o alcance do seu potencial máximo de produtivi- dade e o alcance de melhores resultados econômicos para os empregadores. Além disso, Adam discute a relação do trabalho com o ganho financeiro, preceituando a ne- cessidade de estabelecimento de um equilíbrio entre carga de trabalho e retorno finan-Próxima ceiro, ao afirmar que “os empregados, quando bem pagos por peça, facilmente fazem horas extraordinárias e arruínam sua saúde e sua constituição em poucos anos” (SMITH, 1776). Revolução Industrial Uma nova concepção de trabalho que provocou mudanças rápidas e profundas na or- dem política, econômica e social na Europa, transformando para sempre a estrutural so- cial e comercial, surgiu a partir da invenção da máquina a vapor por James Watt (1736- 1819). Foi o pontapé inicial da Revolução Industrial na Inglaterra, que pode ser dividida em duas etapas: 1ª revolução industrial (1780- 1860), também chamada de revolução do carvão e do ferro; 2ª revolução industrial (1860- 1914) ou revolução do aço e da ele- tricidade (CHIAVENATO, 2003). A Revolução Industrial inseriu uma série de avanços tecnológicos e que incrementaram a produtividade nas organizações, tais como: mecanização, aplicação da força motriz e desenvolvimento do sistema fabril; aceleramento dos transportes e das comunicações. Com isso, elevou-se a quantidade de bens manufaturados produzidos, com melhor qua- lidade de acabamento e menor tempo de produção. (CHIAVENATO, 2003; CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016). Porém, Chimirci e Oliveira (2016, p. 3) destacam que: Concomitantemente ao bônus, surge o ônus, ou seja, as consequên- cias negativas dessa evolução na indústria. Em resposta ao processo acelerado de produção em condições cada vez mais desumanas, co- meçaram a surgir doenças ocupacionais, e as taxas de acidentes rela- cionados ao trabalho aumentaram a níveis alarmantes – não só ho- mens,mas também idosos, mulheres e crianças eram designados para as mais diversas tarefas, em condições laborais e de vida muitas vezes deploráveis. Não havia qualquer controle sobre a segurança no desempenho das atividades ou a carga horária de trabalho e des- canso, que, extenuando o trabalhador, levavam ao alcoolismo, à pros-Próxima tituição e à criminalidade. A mortalidade em alguns segmentos indus- triais atinge, nesse período, níveis assombrosos. Para além da precarização das condições de trabalho, difundiu-se uma insegurança ge- ral mediante a possibilidade de substituição total da mão de obra humana por máquinas. Assim, emergiu o primeiro movimento de luta operária, movido pelos trabalhadores. Com finalidade de reivindicar os seus direitos, esses trabalhadores associaram-se a sin- dicatos e pressionaram os empresários capitalistas a reorganizarem o trabalho, medi- ante a recusa e realizar as atividades laborais e a resistência ao controle dos gerentes (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016). Em consequência dessa atmosfera de resistência, movimentos sociais e trabalhistas ga- nharam destaque e, de forma lenta e gradual, impulsionaram o surgimento das legisla- ções e normativas visando a proteção dos trabalhadores, regulamentando as atividades. Assim, surgiu o Direito do Trabalho, regulação jurídica dos direitos trabalhistas que obje- tiva proteger a integridade dos trabalhadores, o estabelecimento de limites para jornada de trabalho nas horas laborais e a criação de garantias mínimas contra demissões arbi- trárias (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016). Segurança e saúde do trabalho no Brasil Não há basicamente registro algum de doenças associadas ao trabalho antes do fim do regime de escravidão no Brasil. De forma semelhante às sociedades gregas e romanas, as atividades laborais manuais que exigiam maior esforço, promovendo maior desgaste físico e psíquico eram destinadas aos escravos e, por esse motivo, recebiam pouca im- portância entre os seus senhores e demais cidadãos. Os primeiros registros de doenças relacionadas ao trabalho ocorreram a partir de 1920, mediante estudos desenvolvidos por Oswaldo Cruz, durante a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, que se estendeu de 1907 e 1912, tendo se verificado a contaminação de empregados por doenças infecciosas. Desde então, diferentes pesquisas relativas aPróxima indústrias europeias que foram transferidas para o Brasil e “demonstraram a relação di- reta entre as más condições laborais e a ocorrência de doenças e acidentes no trabalho [...] desencadeando aqui um reflexo do que houvera na Europa um século antes” (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016, p. 4). Logo, por intermédio dos movimentos sociais e trabalhistas, ganharam força as denún- cias de trabalhadores sobre más condições de trabalho, abrindo portas para a criação de legislações voltadas à proteção do trabalhador (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016). Atividade Extra Assista ao filme “Germinal” (1993), de Émile Zola, cujo título faz menção ao amadureci- mento de movimentos grevistas de trabalhadores de minas de carvão no século XIX. O filme aborda a complexidade das relações de trabalho e a luta de classes durante o pro- cesso de desenvolvimento do capitalismo e mudanças na organização do trabalho. O filme retrata as severas transformações sociais que foram impostas pelo modo de pro- dução capitalista. Referências Bibliográficas BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Higiene e segurança do trabalho. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. CHIRMICI, A.; OLIVEIRA, E. A. R. Introdução à segurança e saúde no trabalho. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Próxima MATTOS, U. A.; MÁSCULO, F. S. Higiene e segurança do trabalho. 2. ed. Rio de Ja- neiro: Elsevier, 2019. SMITH, A. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. 1776. Versão comentada por Winston Fritsch. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1996. Estranhou essa explicação? Próxima
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