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Aula 3) Farmaco Nefro - Tto das ITUs (Thaís Garcia) 1 Aula 3) Farmaco Nefro - Tto das ITUs (Thaís Garcia) TTO DA CISTITE Classificação: As ITU são comumente classificadas quanto à localização e a presença de complicações, além da presença e multiplicação de microrganismos patogênicos em algum segmento do trato urinário. ITU baixa → infecções da bexiga (cistite), da uretra (uretrite) e da próstata (prostatite). São as infecções que acontecem abaixo dos ureteres. ITU alta → pielonefrite aguda e crônica. Acometem tanto o trato baixo, quanto alto. São mais graves e geralmente são associadas a ambiente nosocomial e à internação em UTI. Complicações são identificadas pelas alterações funcionais, estruturais e anatômicas do TU (e acontecem quando há manipulação urológica, como cateterismo vesical ou quando há alterações anátomo-funcionais do próprio paciente, como nefrolitíase), bem como, antecedentes de infecções prévias (com antibioticoterapia recente) e comorbidades que afetam o sistema imunológico do indivíduo. Vias dos microrganismos: Existem 3 principais vias pelas os microrganismos ascendem e chegam ao trato urinário, onde passam a se proliferar: (1) Ascendente; (2) Hematogênica e (3) Linfática (em menor quantidade). COMO DAR O DIAGNÓSTICO DE CISTITE É mais prevalente em mulheres e caracteriza-se por queixas de urgência miccional, disúria, polaciúria, nictúria e dor localizada na região suprapúbica. Pode estar associada ou não a um quadro febril. Diagnóstico em mulheres jovens é meramente clínico (disúria + polaciúria). Em homens, é necessário a cultura de urina quantitativa (≥ 100 UFC/ml = cistite) para a determinação da cistite. Indica-se o tto empírico. Exames laboratoriais: Leucograma e proteína C reativa - geralmente não apresentam alterações nas cistites e uretrites. Aula 3) Farmaco Nefro - Tto das ITUs (Thaís Garcia) 2 EAS - faz parte do dx, mas ele não pode ser considerado de maneira isolada para determinar ITU, uma vez que o ↑ piócitos (leucocitúria) pode indicar outras condições, como nefrite interstiticial aguda. Teste de nitrito (na urina) → esse exame pode ser utilizado, mas não são todas as bactérias que convertem nitrato em nitrito (precisam da enzima nitrito redutase, as que fazem isso são as gram negativas). A sensibilidade do exame é baixa, pois sua positividade indica apenas a presença de bactérias Gram negativas, com exceção da Pseudomonas (não produz nitrito redutase). Não identifica infecções por bactérias Gram-positivas, nem por fungos. Hematúria microscópica (e algumas vezes macroscópica) → pode estar associada a ITUs, especialmente à cistite. CULTURA DA URINA ⇒ PADRÃO-OURO para dx de cistite. Coloração de Gram - pode auxiliar no diagnóstico e na orientação terapêutica da ITU. Principal agente é a E. coli, com prevalência de até 90% dos casos. Outros uropatógenos, como Proteus mirabilis e Staphylococcus saprophytieus apresentam prevalência significativa (esse último é mais comum no verão). Também podem acontecer ITUs por Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa. COMO TRATAR CISTITE Definição do tratamento com um antimicrobiano adequado é considerado um desafio para os profissionais de saúde, devido o crescente número de cepas resistentes e da falta de resposta ao tratamento empírico. Antibiograma certamente é uma ferramenta essencial na verificação do perfil de resistência / suscetibilidade dos microrganismos acusadores de ITUs. Porém, na maioria das vezes o tto é feito de forma empírica, principalmente nas UBS. Nos hospitais, são realizados exames a fim de acompanhar a evolução do quadro, já que a ITU pode evoluir com complicações. Resposta adequada, seja na ITU baixa ou alta, é a melhora significativa dos sintomas nas primeiras 24-48h após a instituição da terapia. Se não houver melhora, é importante reavaliar, trocar a terapia e, em alguns cenários, é necessário solicitar antibiograma e cultura. BETA-LACTÂMICOS: AMOXICILINA Aula 3) Farmaco Nefro - Tto das ITUs (Thaís Garcia) 3 A ampicilina também pode ser utilizada. Mecanismo de ação: inibe a enzima transpeptidase (essa enzima participa da formação das reações cruzadas entre os polímeros de peptideoglicanos, o que é essencial para a estabilidade da parede celular bacteriana). Com essa enzima inibida, há desorganização da parede celular, com o aparecimento de microfraturas nessa parede e consequente exposição da membrana celular para o espaço extracelular, formando o esferoplasto. No final do processo a bactéria passa por um processo de turgência e, posteriormente sofre lise → inibição da síntese da parede celular → efeito bactericida. Penicilinas de espectro aumentado / ampliado: amoxicilina → espectro aumentado para bactérias Gram negativas, que são as principais causadoras de cistite. Alimentos não interferem na absorção da amoxicilina – pode ser usada por via oral Principais indicações: cistite não complicada, rinossinusite, tonsilites, otite média aguda, infecções respiratórias, faringite bacteriana, profilaxia da endocardite bacteriana (procedimentos dentários), gastrite e úlceras. É indicada para cistite na GESTAÇÃO (cistite não complicada) ⇒ sempre pensar nos beta-lactâmicos, já que possuem baixos riscos de teratogenicidade. Aula 3) Farmaco Nefro - Tto das ITUs (Thaís Garcia) 4 A associação amoxicilina + clavulanato de potássio é indicada para cistite (especialmente se for recorrente ou complicada) - benefício adicional, já que algumas bactérias Gram negativas possuem beta-lactamase, que dificulta a ação da amoxicilina isolada. Efeitos colaterais: diarreia (afeta microbiota intestinal), nefrite (as penicilinas são excretadas quase que exclusivamente pela via renal), rash cutâneo e reações de hipersensibilidade sistêmica mais graves, como as reações anafilactoides (essas reações são mais comuns em pacientes que já tem histórico de reação anafilática ou em pacientes atópicos que polarizam para Th2). Interações medicamentosas: CONTRACEPTIVOS ORAIS ⇒ amoxicilina ↓ microbiota intestinal, prejudicando a absorção de alguns contraceptivos orais (as bactérias da microbiota quebram os conjugados de alguns contraceptivos). Posologia: amoxicilina 250 mg 12/12h por 5-7 dias. CEFALOSPORINAS 1ªG: CEFALEXINA* OU CEFADROXIL Mecanismo de ação: mesmo mecanismo de ação da amoxicilina. Inibe a síntese de parede celular através do bloqueio da transpeptidação das cadeias de peptideoglicanos, tendo um efeito bactericida. As cefalosporinas são opções aos pacientes que não aderem à amoxicilina ou que já tiveram alguma reação alérgica com o uso das amoxicilina (porém, nesse caso, há um pequeno risco de ter reações com o uso de cefalosporinas em virtude de uma reação cruzada de hipersensibilidade após sensibilização prévia com amoxicilina - risco de anafilaxia). Aula 3) Farmaco Nefro - Tto das ITUs (Thaís Garcia) 5 Principais indicações: pneumonias, ITU (cistite não complicada na gestação), infecções de pele e tecidos moles e infecções nas vias aéreas superiores. Reações adversas: diarreia (a mais frequente), dispepsia, dor abdominal, urticária, trombocitopenia e elevações moderadas das transaminases. Obs: os eventos hepáticos e hematológicos acontecem à longo prazo, então normalmente não acontecem durante o tto de cistites (5- 7 dias). Posologia: Cefalexina 500 mg 6/6h (+ usada) → é a cefalosporina mais utilizada, podendo utilizar até mesmo para gestantes. Cefadroxil 500 mg 12/12h → comodidade posológica. QUINOLONAS: NORFLOXACINO E CIPROFLOXACINO* Mecanismo de ação: inibição de topoisomerase II (DNA girase) (em bactérias Gram negativas) e topoisomerase IV (em bactérias Gram positivas) → efeitos bactericidas. Essas enzimas participam da descondensação do DNA, uma reação favorável para a duplicação do DNA bacteriano. Ao inibir essas enzimas, o DNA da bactéria fica espiralizado (condensado), bloqueando toda a ativação dos mecanismos de duplicação do DNA. Assim, não ocorre a multiplicação bacteriana. Aula3) Farmaco Nefro - Tto das ITUs (Thaís Garcia) 6 Indicações: infecções urogenitais, respiratórias e gastrintestinais causadas por Gram-negativas e Gram-positivas. Incluem infecções urinárias altas, gonorreia, pneumonias por gram-negativos, infecções de pele, tecidos moles e osteomielite. 💡 QUINOLONAS: indicadas em ITUs COMPLICADAS, em pctes que tem DM, HAS, alguma doença associada à imunossupressão ou outras comorbidades que ↑ incidência de cistite. Porém, alguns profissionais ainda prescrevem empiricamente as quinolonas para cistites não complicadas (o que NÃO deve ser feito). Resumindo... Devemos prescrever quinolonas somente p/ ITUs complicadas (ex.: cistite + comorbidade associada). Interações: ANTIÁCIDOS interferem significativamente na absorção (tomar quinolona 1h antes ou 2h depois dos antiácidos). Os alimentos (principalmente em dietas hipercalóricas) não alteram a absorção, mas podem retardar o início do pico plasmático (lentifica o início de ação). Reações adversas: erupção cutânea, arritmias cardíacas, leucopenia e eosinofilia, ↑ TGO e/ou TGP (alteração da função hepática), vômito, dispepsia, aumento da fosfatase alcalina, anorexia, flatulência. Posologia: Ciprofloxacino (mais usado) 250-500 mg 1x ao dia, de 3-5 dias. Comprimidos de 250 e 500 mg. Aula 3) Farmaco Nefro - Tto das ITUs (Thaís Garcia) 7 Norfloxacino 400 mg 12/12h, por 7 dias. Comprimidos de 400 mg. COMPOSTOS NITROFURÂNICOS: NITROFURANTOÍNA Mecanismo de ação: desconhecido. Contudo, existem sugestões que a nitrofurantoína interfira em vários sistemas enzimáticos da bactéria sem ocasionar resistência bacteriana ⇒ Relatos de que a nitrofurantoína passa por uma reação de redução dentro da célula bacteriana, por ação de flavoproteínas, produzindo substâncias reativas que desestruturam os ribossomos, lesam o DNA bacteriano, impedem a respiração celular e interferem em diversas reações enzimáticas bacterianas. Indicações: tto de infecções urinárias não complicadas e tto supressivo de infecções urinárias recorrentes. Infecções urinárias recorrentes= 2 quadros (ou mais) em um intervalo de 6 meses ou 3 quadros (ou mais) em 12 meses. Recomenda-se que seja adm com alimentos, bebidas (até mesmo leite) para minimizar a irritação gastrintestinal e ↑ absorção oral. Reações adversas: anorexia, náuseas e vômitos poderão ocorrer, além da dor abdominal e diarreia. Além disso, mudança na coloração da urina (fica amarronzada/ acastanhada) e em menor incidência, anemia hemolítica e reação de hipersensibilidade. Posologia: Comprimido de 100 mg, suspensão oral de 5 mg/mL. Infecções urinárias não complicadas (ADULTOS): nitrofurantoína de 50- 100 mg, por via oral, 6/6h, por 7 dias. Supressão de infecções urinárias recorrentes: nitrofurantoína de 50-100 mg, por via oral, ao deitar, por 6-12 meses ⇒ O medicamento deve ser utilizado ao deitar, pois é o momento em que a pessoa fica muito tempo sem urinar, permitindo o acúmulo do fármaco na urina. Ao urinar no outro dia, o fármaco passa pela uretra, elimina as bactérias e reveste a mucosa da uretra. FENAZOPIRIDINA (analgésico das vias urinárias) Mecanismo de ação: desconhecido. É considerada um analgésico das vias urinárias. Pode ser associada aos antibióticos citados acima. Aula 3) Farmaco Nefro - Tto das ITUs (Thaís Garcia) 8 Indicações: indicado para alívio da disúria, da dor, ardor, desconforto para urinar e outros sintomas decorrentes da irritação da mucosa do trato urinário inferior (geralmente causados por infecções, traumas, cirurgias, procedimentos endoscópicos, passagem de sondas ou cateteres). A FENAZOPIRIDINA PODE SER USADA NO MÁXIMO POR 2 DIAS QUANDO ASSOCIADA AOS ANTIBACTERIANOS. Isso porque após as 48 horas iniciais, caso o antibacteriano tenha funcionado, os sintomas já irão ter reduzido. Portanto, após os 2 dias, suspende a fenazopiridina e mantém o antibiótico. Se usar a fenazopiridina por mais de 2 dias, os seus efeitos analgésicos podem mascarar os efeitos dos antibacterianos e não terá como saber se o paciente está tendo uma resposta ao antibacteriano ou não. Reações adversas: rash, prurido, descoloração anormal de tecidos e fluidos corpóreos (urina pode ficar alaranjada/ avermelhada), náusea, vômito, diarreia e icterícia. 💡 Pacientes com deficiência da glicose-6-fosfato-desidrogenase tendem a apresentar quadros oxidativos aumentados em comparação aos pacientes que não tem essa deficiência (lembrar que a glicose-6-fosfato- desidrogenase é uma enzima antioxidante eritrocitária e a falta dela potencializa a oxidação induzida pela fenazopiridina nos eritrócitos, podendo induzir quadros de anemia hemolítica ⇒ Por isso, fazer com CAUTELA!!). Pode ser usada na gestação (risco B), mas não na amamentação (considerar risco-beneficio). Contraindicação: pacientes com IR ou disfunção hepática grave (em virtude da metabolização hepática e da excreção renal). Posologia: a dose recomendada da fenazopiridina (USAR POR 2 DIAS) para adultos é de 200 mg de 8/8h, preferencialmente, após as refeições (minimiza efeitos dispépticos, assim como a nitrofurantoína). Drágeas de 100 e 200 mg.
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