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SISTEMA DE ENSINO DIREITO CIVIL Parte Geral – I Livro Eletrônico 2 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL Sumário Apresentação ................................................................................................................................... 3 Parte Geral – I .................................................................................................................................. 5 1. Constitucionalização do Direito Civil ...................................................................................... 5 2. Diretrizes Teóricas do Código Civil .......................................................................................... 6 3. Corolários da Boa-Fé Objetiva ................................................................................................. 7 3.1. Proibição da Venire contra Factum Proprium .................................................................... 7 3.2. Supressio ................................................................................................................................... 8 3.3. Surrectio .................................................................................................................................... 9 3.4. Tu Quoque ................................................................................................................................. 9 4. Teoria do Inadimplemento Mínimo ....................................................................................... 10 5. Duty to Mitigate the Loss ou Dever de Mitigar as Próprias Perdas ................................12 6. Alguns Princípios Gerais de Direito .......................................................................................13 6.1. Princípio do Aviso Prévio a uma Sanção.............................................................................13 6.2. Princípio da Proteção Simplificada do Agraciado ...........................................................15 6.3. Princípio da Proteção Simplificada do Luxo ..................................................................... 17 Questões de Concurso ..................................................................................................................19 Gabarito ........................................................................................................................................... 35 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL ApresentAção Olá, meus amigos e minhas amigas! O foco da aula de hoje é tratar de alguns pressupostos essenciais do Direito Civil. Isso não é cobrado com tanta frequência nos concursos. Todavia, quando esse tema é exigido em prova, a maior parte dos candidatos deixa de responder, o que fará você ficar em vantagens no concurso. Lembre-se de que não basta passar no concurso; é necessário você também ser nomeado. Isso significa que acertar questões que os demais candidatos deixam em branco é uma vantagem significativa. Resumo Amigos e amigas, quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios. É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu apro- fundar o conteúdo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familia- ridade com a bola. Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir às questões. O resumo desta aula é este: • A Constitucionalização do Direito Civil é um movimento que estabelece que o Direito Civil deve ser submetido ao Direito Constitucional, o que implica a despatrimonialização (a pessoa humana é mais importante do que o patrimônio no Direito Civil), a repersona- lização (pessoa não é mero agente econômico, e sim algum com direito à dignidade) e a eficácia horizontal dos direitos fundamentais (a possibilidade de aplicação de normas e princípios constitucionais diretamente em relações de Direito Civil); • O Código Civil foi elaborado com base em três diretrizes teóricas: eticidade (valorização da boa-fé objetiva), socialidade (valorização da função social) e operabilidade (o Código foi redigido de modo a ser didático e com texto aberto a diversas interpretações); • São corolários da boa-fé objetiva: (1) a proibição da venire contra factum proprium; (2) a supressio; (3) a surrectio; (4) o tu quoque; • Se o devedor cumpriu parcela substancial da dívida, não cabe a resolução do contrato em nome da teoria do adimplemento substancial (= teoria do inadimplemento mínimo); • O credor não pode adotar conduta oportunista que aumente o valor da dívida em razão da duty to mitigate the loss; • Princípio do aviso prévio a uma sanção: é necessário notificar a pessoa previamente a uma sanção. Ex.: − Prisão civil de alimentos; − Busca e apreensão em alienação fiduciária ou leasing; O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL − Consolidação de imóvel alienado fiduciariamente; − Cancelamento de seguro ou plano de saúde por inadimplência; − Negativação no Serasa, ainda que seja a partir de negativação feita no CCF, que é um cadastro de acesso restrito; − outros casos; • Princípio da proteção simplificada do agraciado: direito civil não dá prestígio ao agracia- do. Ex.: − dispensa de consilium fraudis na fraude contra credores; − interpretação restritiva; − formalismo; − inaplicabilidade de vício rebiditório e de evicção; − transportador só responde por culpa grave ou dolo no caso de carona; − outros; • Princípio da proteção simplificada do luxo: direito civil não dá prestígio a luxo. Ex.: − possuidor de boa-fé não pode exigir indenização por benfeitorias voluptuárias; − quorum é mais rigoroso no condomínio edilício para a realização de benfeitorias voluptu- árias; − móveis suntuosos que guarnecem bem de família podem ser penhorados; − benfeitorias voluptuárias não são indenizáveis em desapropriação − outros. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 5 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL PARTE GERAL – I 1. ConstituCionAlizAção do direito Civil Todos os institutos devem ser lidos à luz dos princípios e regras constitucionais Despatrimonialização Dignidade da pessoa humana > patrimônio Indivíduo (e não o patrimônio) = CENTRO da tutela jurídica Aplicação entre particulares Repersonalização Eficácia horizontal dos direitos fundamentais Constitucionalização do Direito Civil Amigos e amigas, o Direito Civil atual mudou bastante. Falamos muito de um Direito Civil Constitucional na atualidade. A ideia é a de que todas as instituições de Direito Civil devem ser lidas à luz dos princípios e das regras constitucionais, conforme metodologia doutrinária conhecida como Constitucio- nalização do Direito Civil ou como “Direito Civil Constitucional”. Essa metodologia (ou movimento) encontra berço no pensamento do jurista italiano Pietro Perlingierie se insurge contra os fundamentos antigos do direito civil clássico para, nas pa- lavras do professor da UERJ Carlos Nelson Konder, defender um direito civil capaz de ser um verdadeiro instrumento de “emancipação das pessoas e de transformação social, rumo a uma comunidade mais justa e solidária”. O professor da UERJ Gustavo Tepedino e a professora Ma- ria Celina Bodin de Moraes foram os principais responsáveis por trazer essa metodologia para a doutrina brasileira, que conta atualmente com a adesão de autores do porte do professor Paulo Luiz Neto Lôbo e Luiz Edson Fachin. Por essa metodologia, condena-se a visão individualista em que se assentava o Código Civil de 1916. Miguel Reale costumava afirmar que havia duas leis fundamentais no País: o Código Ci- vil, que era a “constituição do homem comum”, e a Constituição Federal, que estrutura o Estado. Essa concepção não retrata, porém, a perspectiva constitucional do Direito Civil, que fixa a Cons- tituição Federal como a única lei fundamental, à qual deve estar subordinado todo o direito civil. A propósito, conforme destaca o professor Paulo Lôbo, a Constitucionalização do Direito Civil implica colocar o indivíduo, e não o patrimônio, no centro da tutela jurídica e a não mais enxergar o indivíduo como um mero homos economicus, perspectiva essa que é conhecida O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL como Repersonalização e Despatrimonialização do Direito Civil. Enaltece-se, assim, a dignida- de da pessoa humana como vetor de condução do Direito Civil. Em suma, pode-se atribuir ao movimento da constitucionalização do Direito Civil as prin- cipais diretrizes: (1) despatrimonialização: o centro da tutela jurídica é a dignidade da pessoa humana, e não o patrimônio; (2) repersonalização: a pessoa não é mais vista como um mero agente econômico, e sim como o centro da tutela do direito; (3) eficácia horizontal dos direitos fundamentais: os direitos fundamentais, que tradicionalmente eram aplicados apenas nas rela- ções entre Estado e indivíduo (vertical), devem também ser aplicados a relações entre particu- lares (horizontal), a exemplo do princípio do contraditório antes de excluir associado por justa causa (art. 57, CC) ou de infligir uma sanção a condômino (art. 1.337, CC). Uma outra consequência é a de que o Direito Civil Constitucional prestigia normas com cláusulas abertas e conceitos jurídicos indeterminados, os quais dão liberdade ao civilista para acoplar os casos concretos aos princípios constitucionais. Os contornos do Direito Civil Constitucional foram bem resumidos no documento conheci- do como “Carta de Curitiba”, no qual os Grupos de Pesquisa de Direito Civil dos Programas de Pós-Graduação das Faculdades de Direito da Universidade Federal do Paraná e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro editaram seis proposições que, em suma, realçam a aplicação dos direitos fundamentais entre particulares, a rejeição do método de subsunção, a supremacia do paradigma principiológico, a mudança do ensino jurídico e a sobrevalorização da dignidade da pessoa humana (FACHIN e TEPEDINO, 2006). 2. diretrizes teóriCAs do Código Civil Socialidade Prestigia a FUNÇÃO SOCIAL do direito em oposição ao INDIVIDUALISMO Boa-fé objetiva Fácil manuseio pelo operador do direito Eticidade Operabilidade Diretrizes teóricas do CC/2002 Alinhada à perspectiva constitucional do Direito Civil, é preciso recordar que o novo Código Civil foi elaborado pela comissão de juristas coordenada por Miguel Reale sob três Diretrizes Teóricas, que também são conhecidas como baldrames axiológicos do Código Civil. A primeira foi a Socialidade, segundo a qual o novo diploma prestigia a função social do Direito em oposição ao individualismo marcante do anterior Código. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL A segunda é a Eticidade, de acordo com a qual a boa-fé objetiva foi prestigiada pelo novo Código, ao exigir condutas éticas dos indivíduos. A terceira é a Operabilidade, à luz da qual o novo Código buscou ser facilmente manuseá- vel pelos operadores do Direito, do que dá exemplo tanto a reunião dos prazos prescricionais nos arts. 205 e 206 do Código quanto a utilização de conceitos jurídicos indeterminados e de cláusulas abertas para permitir que o texto normativo satisfaça às necessidades advindas das transformações sociais futuras. 3. Corolários dA BoA-Fé oBjetivA Como ensina o professor lusitano Menezes Cordeiro, a boa-fé objetiva condena o exercício de posições jurídicas contraditórias, do que podem ser extraídas várias figuras parcelares da boa-fé objetiva, dos quais trataremos de quatro mais abaixo, a saber: a proibição da venire con- tra factum proprium, supressio, surrectio e tu quoque. Trata-se de uma decorrência do princípio da confiança. 3.1. proiBição dA Venire contra Factum ProPrium Proibição de conduta contraditória São ilícitas as condutas que frustem a LEGÍTIMA EXPECTATIVA criada pela conduta anterior Proibição de venire contra factum proprium Boa-fé objetiva De acordo com a venire contra factum proprium, também batizada como princípio da proi- bição do comportamento contraditório, em nome da boa-fé objetiva, devem ser consideradas ilícitas condutas que frustrem a legítima expectativa criada por uma conduta anterior. Para ilustrar, o STJ não admitiu o pedido, feito pela esposa, de anulação de uma promessa de com- pra e venda de imóvel feito pelo marido sem a outorga uxória, pois a esposa, em ação judicial anterior proposta por terceiro em busca do imóvel, havia denunciado a lide ao promitente com- prador, a fim de que este integrasse a lide como litisdenunciado (STJ, REsp 277.284, 4ª T., Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 12/03/2001). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL 3.2. SuPreSSio Perda de um direito em razão da INÉRCIA Cria LEGÍTIMA EXPECTATIVA em terceiro Supressivo Supressivo e prescrição coexistem Boa-fé objetiva É DIFERENTE da prescrição A supressio consiste na perda de um direito em razão de inércia capaz de criar uma legítima expectativa em terceiro. Um dos primeiros casos em que se aplicou a supressio foi na Alemanha, no início do século XX, quando a Corte alemã decidiu que um credor perdeu o direito à correção monetária por ter-se mantido inerte em exigi-la durante o período de dois meses em uma época de vertiginosa espiral inflacionária. O STJ, entre outros casos, já aplicou a supressio para condenar um proprietário de uma padaria a pagar indenização de R$ 15.000,00 a uma moradora do mesmo prédio em razão dos barulhos provocados pelos maquinários durante a madrugada. Nesse caso, a padaria havia alegado que a convenção do condomínio previa apenas a destinação comercial das unidades autônomas. Todavia, o STJ entendeu que o condomínio e, consequentemente, os demais condôminos perderam o direito de exigir essa destinação exclusivamentecomercial, por terem sido omissos durante muitos anos diante da ostensiva ocupação residencial de uma mo- radora (STJ, REsp 1096639/DF, 3ª T., Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 12/02/2009). Outro caso de supressio ocorre quando, em um contrato de compra e venda de combustí- vel, há cláusula exigindo um volume mínimo de aquisição mensal. Suponha que, nesse caso, o comprador realize, sem qualquer insurreição do comprador, pedidos mensais em volume inferior ao mínimo contratual durante todo o tempo de vigência contratual. Ao final do contrato, o vendedor não poderá posteriormente pleitear a multa contratual estabelecida pelo descum- primento do consumo mínimo em nome da supressio, conforme decidiu o STJ (REsp 1374830/ SP, 3ª T., Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 03/08/2015). A supressio nada tem a ver com a prescrição. Os institutos coexistem. No exemplo acima, ainda que não esteja prescrita a pretensão de cobrança da multa pelo descumprimento do consumo mínimo, operou-se a supressio contra o vendedor. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 9 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL 3.3. Surrectio Aquisição de um direito em razão de condutas antijurídicas reiteradas É o contrário da supressio Legítima expectativa no autor dessas condutas SurrectioBoa-fé objetiva A surrectio consiste na aquisição de um direito em razão de condutas antijurídicas reitera- das com a capacidade de criar a legítima expectativa no autor dessas condutas. É o contrário da supressio. Maria Helena Diniz afirma que surrectio e supressio são faces da mesma moeda. Por exemplo, no caso acima do condomínio, pode-se afirmar que, sob a ótica da moradora, houve surrectio, pois ela adquiriu o direito de imprimir destinação residencial à sua unidade autônoma em razão de sua conduta reiterada de descumprir a convenção condominial. Igual- mente, no caso acima de compra de combustível, a conduta reiterada do comprador de violar a cláusula de consumo mínimo rendeu-lhe a surrectio. 3.4. tu QuoQue Veda que alguém se beneficie da própria torpeza, baseado em norma que ele mesmo violou Ex: exceptio non adimpleti contractus (art. 476, CC/2002) Tu quoqueBoa-fé objetiva O tu quoque, a seu turno, veda que alguém se aproveite da própria torpeza, exigindo direitos com base em uma norma que ele violou. A exceptio non adimpleti contractus, prevista no art. 476 do Código Civil, é um exemplo. Ainda a título de exemplo, Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves citam interessante caso julgado por tribunal português. Nesse caso, a corte lusitana entendeu que era incabível a alegação de inexistência de um contrato de compra e venda de veículo por parte do comprador, pois este, anteriormente, havia retido dolosamente o contrato que lhe fora enviado para assinatura. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL 4. teoriA do inAdimplemento mínimo Teoria do INADIMPLEMENTO MÍNIMO ou adimplemento substancial Função social Vedação ao enriquecimento sem causa Vedação ao abuso de direito Boa-fé Fundamentos Afasta a medida drástica da resolução contratual Meus caros e minhas caras, ainda há outra teoria que vocês precisam conhecer. Trata-se da teoria do inadimplemento mínimo. Com fundamento na função social (arts. 421 e 2.035, parágrafo único, CC), na vedação ao abuso de direito (art. 187, CC), na boa-fé (arts. 113 e 422, CC) e na vedação ao enriquecimento sem causa (art. 884, CC), o Direito brasileiro acolhe a teoria do adimplemento substancial, tam- bém batizada de teoria do inadimplemento mínimo ou da substantial performance. Em suma, a referida teoria condena a medida drástica da resolução1 do negócio jurídico quando a parte tiver descumprido apenas uma parcela pequena (daí o nome “inadimplemento mínimo”) do contrato após já ter honrado com uma parcela substancial da dívida. A aferição da expressividade do adimplemento deve levar em conta aspectos não apenas quantitativos, mas também qualitativos (conforme enunciado n. 586/CJF). E, nesse juízo, deve-se atentar para a dimensão da consequência do inadimplemento no caso concreto e para o grau de importân- cia da parte inadimplida, como lembra o Ministro Sidnei Beneti2. A aferição da dimensão do inadimplemento – se é mínimo ou não – sempre dependerá da análise dos casos concretos diante da inexistência de um critério prévio e fixo para tanto. O objetivo é a manutenção do negócio jurídico nesses casos em que o devedor adimpliu substancialmente a dívida, ou seja, teve uma performance substancial na execução do contra- to, de modo que o seu inadimplemento foi mínimo. Alerte-se que essa teoria não implica extinção da dívida, mas apenas afasta a adoção de medidas desproporcionais pelo credor, como a resolução do contrato. Isso significa que o cre- dor poderá servir-se dos meios ordinários de cobrança da dívida, seja os extrajudiciais – como o protesto ou a inscrição do nome do devedor em cadastros de inadimplentes (como o Serasa) –, seja os judiciais, como uma ação de cobrança. 1 Resolução é uma hipótese de extinção do contrato por inadimplemento. O verbete “resolver” também significa “acabar”. Por isso, é usual a frase “vamos resolver o problema” com o significado acabar com o problema. Resolver o contrato é extinguir o contrato. 2 REsp 1215289/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/02/2013, DJe 21/02/2013. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 11 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL Se, por exemplo, alguém vende um imóvel por preço a ser pago em 100 prestações, não é razoável que o vendedor pleiteie a resolução do contrato se o comprador, após ter pago, por exemplo, 99 prestações, descumpriu apenas a última. O adimplemento foi substancial. Interessante exemplo é dado pelo notável professor da USP Otávio Luiz Rodrigues Junior, que, com apoio em Edwart Errante3, lembra que uma empreiteira tem o direito de receber o valor dos seus serviços se, diante de um projeto arquitetônico apresentado pelo dono da obra para a construção de uma casa, somente cometeu uma falha: deixou de instalar as maçanetas de duas portas na forma indicada no projeto. Dada a insignificância desse inadimplemento diante de toda a obra, a teoria do inadimplemento mínimo impedirá a resolução do contrato, mas permitirá que seja cobrado apenas a indenização por perdas e danos cabíveis (o valor das maçanetas e o custo da instalação por terceiros). O dono da obra terá de pagar o preço pactu- ado, do qual se poderá deduzir apenas o valor dessa indenização. O STJ analisou outro caso interessante e entendeu que o não pagamento da última parce- la do prêmio de um seguro de dano não teria implicado a extinção do contrato de seguro, de modo que o segurado tinha o direito de cobrar o pagamento da cobertura securitária diante de um acidente ocorrido com o seu veículo. A seguradora só poderá cobrar o valor dessa parcela inadimplida (REsp 76.362/MT, 4ª Turma, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 01/04/1996). Ressalva-seque esse julgado antigo não retrata exatamente a orientação mais atual do STJ, que tende a admitir a resolução do contrato sempre que o segurador tiver notificado previa- mente o segurado para purgar a mora, ou seja, para pagar a prestação atrasada, independente- mente da dimensão do inadimplemento (REsp 318.408/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, DJ 10/10/2005). Há controvérsia acerca da aptidão da teoria para, além de impedir a extinção do contrato, coibir a adoção de meios de cobrança que sejam considerados excessivos. Por exemplo, a jurisprudência oscilou bastante em definir se, nos casos de financiamento de veículos com alienação fiduciária em garantia, a teoria do adimplemento substancial seria ou não admissível a execução de uma garantia fiduciária por meio da busca e apreensão do bem e da consequente consolidação da propriedade fiduciária. O STJ, após um considerável período de precedentes estendendo a teoria para inibir esse meio executivo, pacificou o entendimento em sentido contrário, definindo que a teoria não obsta a execução da busca e apreensão e da consolidação do bem. O fundamento principal foi o de que a boa-fé e a função social do con- trato seriam desvirtuadas se o credor perdesse o direito de executar uma garantia essencial ao seu crédito com fundamento em autorização legal expressa (o Decreto-Lei n. 911/67), o que comprometeria o “desenvolvimento da economia nacional” (STJ, REsp 1622555/MG, 2ª Seção, Rel. Ministro Marco Buzzi, Rel. p/ Acórdão Ministro Marco Aurélio Belizze, DJe 16/03/2017). Sob essa perspectiva, a teoria do inadimplemento substancial não pode infertilizar nenhu- ma garantia das obrigações, como propriedades fiduciárias, hipotecas, penhores etc. A teoria 3 O caso é lembrado pelo Ministro Antonio Carlos Ferreira no seu voto proferido neste julgado: REsp 1581505/SC, 4ª Turma, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, DJe 28/09/2016. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL apenas impede a resolução do contrato, mas não a cobrança da dívida por todos os meios coercitivos disponíveis, com execução das garantias da dívida. Temos por acertada a opção do STJ sob a ótica do Direito Civil Constitucional, cujos con- tornos já definimos ao tratarmos da Parte Geral. Impedir a execução de garantias da dívida geraria diversos efeitos indesejados, como o aumento dos preços dos produtos como forma de compensar a inadimplência (de modo que os bons pagadores pagarão pelas extravagância dos maus pagadores) e a insegurança no mercado de investimentos diante da lembrança de que é extremamente comum haver venda de títulos mobiliários lastreados em créditos com garantia (a exemplo do Certificado de Recebível Imobiliário, que é vendido na Bolsa de Valores e que geralmente se lastreiam em créditos garantidos por alienação fiduciária em garantia de imóveis). 5. Duty to mitigate the LoSS ou dever de mitigAr As própriAs perdAs Duty mitigate the loss Boa-fé objetiva Credor tem o dever de mitigar as próprias perdas Vedação a comportamento oportunista por parte do CREDOR, às custas do DEVEDOR Amigos e amigas, tenho por importante que você conheça algumas outras teorias relevan- tes. A primeira delas é a teoria da substantial performance. Não é apenas o devedor, mas também o credor quem deve observar a boa-fé objetiva. O duty to mitigate the loss, também chamado de dever de mitigar as próprias perdas, estabe- lece que o credor não pode adotar conduta oportunista que estimule o aumento da dívida com o objetivo de obter proveitos. Compete, pois, ao credor adotar comportamentos que colabore para que a dívida não se avoluma demasiadamente. Nas palavras do enunciado n.169/CJF, “o princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do pró- prio prejuízo”. Assim, por exemplo, viola o duty to mitigate the loss quem, esperando obter um proveito econômico considerável, aguarda dois anos para executar uma multa diária de R$ 1.000,00 fixada por um juiz para que o órgão de cadastro de inadimplentes (como o Serasa) apasse uma negativação indevida. O credor da multa diária (astreintes) agrediu a boa-fé ao manter uma omissão oportunista ao longo de dois anos, com o objetivo de conseguir um proveito eco- nômico de mais de R$ 730.000,00 por um lapso do órgão cadastral. O juiz, diante disso, pode reduzir o valor total das astreintes diante da sua exorbitância por força da boa-fé objetiva e do art. 814, parágrafo único, CPC. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 13 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL Temos que, em nome do duty to mitigate the loss, é cabível a redução dos juros excessivos cobrados por uma instituição financeira por uma dívida de cheque especial, especialmente quando essa instituição manteve silêncio por longo período a fim de cobrar um montante exor- bitante. Em nome da boa-fé objetiva, competia à instituição financeira, ao menos, contatar o devedor, informando-lhe dos juros estratosféricos a que ele estava exposto. Como se sabe, os juros do cheque especial são vertiginosamente superiores aos de um empréstimo pessoal. Enquanto aqueles chegam a mais de 500% a.a., estes últimos ficam na casa dos 60% a.a. Se o banco houvesse comunicado o devedor, é provável que ele tivesse tentado obter um emprésti- mo pessoal, ainda que em outro banco, para estancar essa sangria mortal. Temos que, nessas hipóteses, seria cabível a redução da dívida para o montante equivalente ao da taxa de juros de um empréstimo pessoal, tudo em nome do duty to mitigate the loss. É evidente que, em outras situações de mútuos bancários, como naqueles em que alguém contrai um empréstimo e posteriormente incorre em inadimplência, não se pode invocar o duty to mitigate the loss para reduzir o valor dos encargos decorrentes da mora, pois, como alertou o Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, “o estado de inadimplência e o crescimento da dívida é de responsabilidade exclusiva do mutuário e não de um comportamento omissivo do mutuante” (STJ, REsp 1489784/DF, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 03/02/2016). 6. Alguns prinCípios gerAis de direito Entre os vários princípios gerais de direito, destacamos três aqui que são extremamente úteis para “decorar” inúmeras regras do Direito Civil. Esses três princípios estão na base da elaboração de várias regras do Código Civil e das leis extravagantes, além de serem o suporte de vários precedentes do STJ mesmo quando inexistia lei. Sobre esses princípios, tivemos a oportunidade de escrever três artigos, que, aqui, serão resumidos de forma sistemática. Se você tiver mais tempo, leia o artigo completo para apro- fundamento. Estes são os artigos, todos disponíveis no site www.flaviotartuce.adv.br/artigos_ convidados: • “O Princípio do Aviso Prévio a uma Sanção”; • “O princípio da proteção simplificada do luxo, o princípio da proteção simplificada do agraciado e a responsabilidade civil do generoso”. 6.1. prinCípio do Aviso prévio A umA sAnção Princípio do AVISO PRÉVIO a uma sanção Dever de notificar antes de aplicar uma SANÇÃO Deriva dos princípios do CONTRADITÓRIO e da BOA-FÉ OBJETIVA Permitir a pessoa possa defender-se, justificar-se ou preparar-se O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada,por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br http://www.flaviotartuce.adv.br/artigos_convidados http://www.flaviotartuce.adv.br/artigos_convidados 14 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL Em regra, antes de infligir qualquer sanção a um pessoa, deve-se notifica-la previamente a fim de que ela possa se defender, se justificar ou simplesmente se preparar. Por sanção, deve-se entender qualquer restrição de direito imposta a uma pessoa. Esse é o princípio do aviso prévio a uma sanção, que decorre do princípio do contraditório (que se aplica a relações entre particu- lares) e da boa-fé objetiva. São vários os exemplos de aplicação desse princípio (e é importante você gravar esses exemplos): • Prisão civil do devedor de alimentos: é necessário citar pessoalmente o devedor previa- mente para, em três dias, pagar a dívida ou justificar sua inadimplência (art. 528, CPC); • Busca e apreensão de veículo alienado fiduciariamente ou objeto de leasing: a ação de busca e apreensão só pode ser ajuizado se, antes, o devedor tiver sido notificado mediante envio de carta registrada com aviso de recebimento (AR) sem necessidade de que o próprio devedor tenha sido quem assinou o AR (art. 2º, § 2º, DL 911/1969); • Consolidação da propriedade no procedimento de execução extrajudicial de dívida ga- rantida por alienação fiduciária em garantia sobre imóvel: é necessária notificação pré- via do devedor para, em 15 dias, purgar a mora (pagar a dívida atrasada), notificação essa que é feita pelo Cartório de Imóveis (art. 26, Lei n. 9.514/97); • Cancelamento de plano de saúde por inadimplemento do cliente: é necessária notifica- ção prévia (art. 13, II, da Lei n. 9.656/1998); • Cancelamento do seguro de vida por inadimplemento do segurado: é necessária noti- ficação prévia. Não há lei, mas jurisprudência do STJ (STJ, REsp 316.552/SP, 2ª Seção, Rel. Ministro Aldir Passarinho Júnior, DJ 12/04/2004); • Negativação do nome do devedor em cadastro de inadimplentes: é forçosa a notifica- ção prévia por parte do órgão cadastral, sob pena de causar dano moral (art. 43, § 2º, do CDC; STJ REsp 1061134/RS, 2ª Seção, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 01/04/2009); • Negativação do nome do devedor em cadastro de inadimplentes de consulta ampla (como o Serasa) a partir de informações extraídas de negativação feita no Cadastro de Emitentes de Cheques sem fundos (CCF): é necessária notificação prévia do devedor para comunicar que o seu nome, que estava negativado em um cadastro de inadimplen- tes de consulta bem restrita (como o CCF) irá ser lançado em um cadastro de inadimple- mentos de consulta ampla (como o SERASA), sob pena de causar dano moral (STJ, REsp 1578448/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 12/04/2019); • Ação de despejo: O procedimento do despejo prevê que, antes da ordem judicial de despejo, o inquilino inadimplente tem o direito de, após ser citado, purgar a mora: trata-se do chamado depósito elisivo (art. 61, 8 § 3º, e art. 62, II, da Lei n. 8.245/91). • Corte de energia ou de água por inadimplência: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 15 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL a medida drástica do corte do fornecimento de energia elétrica ou de água só poderá ser feito me- diante notificação prévia, conforme art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/1995 (STJ, REsp 1342608/SP, 2ª Turma, Rel. Ministro Og Fernandes, DJe 27/09/2017). Se, porém, houver situação de emergência, a suspensão da energia elétrica é permitida sem prévio aviso, pois há urgência a justificar esse ato (art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/1995. • Suspensão do cartão de crédito em razão da negativação do nome do cliente em ca- dastro de inadimplentes por outras dívidas: a administradora do cartão de crédito não pode automaticamente, sem prévia notificação, suspender o cartão de crédito de um consumidor em razão de algum outro credor ter inscrito o nome do consumidor em cadastro de inadimplentes. O aviso prévio é essencial. Trata-se de conduta abusiva que causa dano moral ao consumidor (STJ, REsp 592.908/MG, 4ª Turma, Rel. Ministro Barros Monteiro, DJ 20/02/2006). • Aplicação da multa de 10% contra o devedor na fase de cumprimento de sentença com base no art. 523 do CPC: a aplicação da multa do art. 523 do CPC depende de prévia in- timação do devedor para pagar a dívida em 15 dias na fase de cumprimento de sentença (art. 523, CPC); • Pedido de falência: depende de prévio protesto, que pode ser o protesto especial para fins falimentar ou até mesmo o protesto comum, desde que este tenha cumprido todos os requisitos do protesto especial com inclusão da identificação de quem recebeu a notificação (Súnula n. 361/STJ; STJ, REsp 1052495/RS, 3ª Turma, Rel. Ministro Massami Uyeda, DJe 18/11/2009). 6.2. prinCípio dA proteção simpliFiCAdA do AgrACiAdo Princípio da proteção SIMPLIFICADA do agraciado Agraciado = benefício de negócio jurídico negócio jurídico GRATUITO O direito protege o agraciado, mas não lhe dá prestígio Prevalece a função social do negócio O Direito Civil protege o agraciado (aquele que é beneficiado por um negócio jurídico gra- tuito), mas sem lhe dar prestígio. Vejam os exemplos práticos: • Fraude contra credores: Na caracterização da fraude contra credores, o consilium fraudis é dispensado diante de negócios gratuitos, pois, entre prestigiar o beneficiário de uma liberalidade e os credores, o direito prefere prestigiar estes últimos diante da função social (art. 158, CC). Se, porém, se tratar de um negócio oneroso, o consilium fraudis é requisito essencial. • Interpretação restritiva: “Negócios gratuitos devem ser interpretados restritivamente (art. 114, CC). De fato, seria injusto permitir que o beneficiário de uma liberalidade ado- tasse interpretações extensivas e, com isso, prejudicasse o generoso”; O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 16 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL • Formalidades para negócios gratuitos: O fato de a liberalidade somente trazer ônus ao generoso exige que ela se exteriorize por uma forma que assegure, ao máximo, certeza do seu ânimo. O beneficiário da liberalidade não é pres- tigiado do ponto de vista formal, razão por que a legislação se inclina – há exceções! – a consi- derar os negócios jurídicos gratuitos como solenes, a exemplo da fiança e da doação, que devem ser escritas (arts. 541 e 819, CC). • Vícios redibitórios e evicção: O princípio da garantia, que estabelece que o adquirente de um bem tem direito à higidez da coisa (garantia em caso de vício redibitório) e do direito sobre a coisa (garantia em caso de evicção), somente é aplicável para contratos onerosos, conforme arts. 441 e 447 do CC. Beneficiários de gratuidade não podem exigir juridicamente essa garantia de qualidade da coisa ou do direito sobre a coisa. O generoso, porém, deve responder por indenização apenas no caso de dolo por força do art. 392 do CC. • Concessão generosa de prorrogação de prazo de pagamento: À luz do art. 372 do CC, a concessão obsequiosa de um prazo adicional para o pagamento de uma dívida (prazo de favor) não implica renúncia ao direito do credorde utilizar essa dívida para, por meio da compensação, extinguir outra. Seria realmente injusto que o beneficiário da benes- se pudesse executar judicialmente o generoso por uma outra dívida, sem que este último, em defesa, pudesse opor a compensação. A concessão de um prazo de favor afasta a mora (juros moratórios, multas etc.), mas jamais o direito de o credor valer-se da obrigação dilatada para invocar a compensação. • Responsabilidade do cedente na cessão de crédito gratuita: Conforme art. 295 do CC, o cedente responde pela existência do crédito na cessão onerosa, independentemente de culpa ou dolo. Se, porém, a cessão for gratuita, o cedente generoso só responde por dolo. Essa regra harmoniza-se com a lógica de justiça da tutela da gratuidade e se afina com as disposições relativas à evicção (art. 447, CC) e à responsabilidade civil do generoso (art. 392, CC). • Pagamento indevido por meio de transferência gratuita de um imóvel: “quem adquire gratuitamente imóvel de quem o havia obtido como fruto de pagamento indevido não é protegido prestigiosamente: poderá perder o bem (art. 879, parágrafo único, CC)”; • Carona (transporte gratuito de pessoas): generoso só responde por culpa grave ou dolo (Súmula n. 145/STJ). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 17 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL 6.3. prinCípio dA proteção simpliFiCAdA do luxo Princípio da proteção SIMPLIFICADA do agraciado O direito protege situações de luxo, mas não lhe dá prestígio Padrão de luxo: homem médio O Direito Civil protege situações de luxo (aquelas que estão acima da média), mas sem lhe dar prestígio. Vejam os exemplos práticos: • Benfeitorias voluptuárias e posse: O possuidor de boa-fé não pode exigir que elas sejam indenizadas, embora possa levantá-las se for possível, ao contrário que se dá com as benfeitorias necessárias e úteis (art. 1.219, CC). Em outras palavras, se um possuidor de boa-fé despende R$ 1.000,00 com a troca da fiação elétrica (benfeitoria necessária), R$ 4.000,00 com a ampliação do quarto (benfeitoria útil) e R$ 500.000,00 com a contrata- ção de um famoso pintor para colorir o teto da sala ao estilo da Capela Sistina (benfeitoria voluptuária), ele – ao ser desapossado do bem por um terceiro com melhor direito – poderá reivindicar a indeniza- ção pelas benfeitorias necessárias e úteis com direito de retenção, mas não poderá exigir que o reivin- dicante indenize-lhe as benfeitorias voluptuárias (“o luxo”), ou seja, as obras que excedem o padrão do homo medius. Esse possuidor poderá apenas, se possível, “levantar” essa benfeitoria luxuosa, como levar a lâmina do teto contendo a pintura e rebocando o teto para restituir-lhe a normalidade. O Direito protege o luxo, mas não o prestigia, conforme o princípio da proteção simplificada do luxo. • Quorum mais rigoroso em condomínio edilício: Para a realização de benfeitorias voluptuárias em condomínios, não basta o consentimento da maio- ria dos condôminos, ao contrário do que sucede com benfeitorias úteis – que se satisfazem com essa maioria absoluta (art. 1.341, inciso I, CC) – e com as benfeitorias necessárias – que sequer reclamam autorização dos condôminos se não importarem em despesas excessivas (art. 1.341, §§ 1º ao 4º, CC). Benfeitorias voluptuárias, por serem “luxos”, reivindicam um quorum mais rigoroso de dois terços dos condôminos (art. 1.341, inciso I, do CC). Em outras palavras, benfeitorias que repre- sentam “luxos” não são prestigiadas como as demais benfeitorias, o que reflete mais uma aplicação do princípio da proteção simplificada do luxo. • Redução equitativa indenização (art. 944, parágrafo único, CC): Quando há manifesta desproporção entre o grau de culpa e o dano, o juiz pode reduzir o valor da indenização equitativamente. Assim, se um indivíduo abalroa o seu veículo contra um carro de luxo cujo conserto custará cinquenta vezes mais o valor que corresponderia à reparação de um carro comum, é viável aplicar o art. 944, parágrafo único, do CC para permitir o valor da indenização seja reduzido para um patamar mediano. Isso, porque o luxo ostentado pelo titular do veículo acaba por expor os demais a um risco acima da média. Se, porém, a colisão tivesse sido provocada dolosa- mente por inveja do condutor do veículo comum, a indenização deveria ser o elevadíssimo valor do orçamento, pois o grau de culpa será proporcional ao dano. É nesse sentido que o direito protege o luxo, mas não lhe dá prestígio, conforme o princípio em pauta. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL • Móveis suntuosos em imóvel protegido pela impenhorabilidade do bem de família: Em regra, os móveis que guarnecem o imóvel residencial do devedor são impenhoráveis por serem bem de família. Excepciona-se essa blindagem de impenhorabilidade se esses móveis forem “obras de arte e adornos suntuosos” (art. 2º, Lei n. 8.009/1990). É que esses bens representam “luxos”, ou seja, excedem o limite do padrão do homo medius e, portanto, não podem receber a mesma defe- rência jurídica que repousa sobre os demais móveis. Trata-se de mais um exemplo de aplicação do princípio da proteção simplificada do luxo. • Benfeitorias volupturárias em desapropriação: Na desapropriação por utilidade pública ou para reforma agrária, as benfeitorias voluptuárias não são indenizadas em dinheiro, ao contrário do que sucede com as benfeitorias necessárias e úteis (art. 26, Decreto-Lei n. 3.365/41; arts. 5º, XXIV, 184, § 1º, CF; art. 5º, § 1º, da Lei n. 8.629/1993). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 19 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL QUESTÕES DE CONCURSO 001. (VUNESP/AUXILIAR JUDICIÁRIO/TJ-PA/2014) É correto afirmar que o direito civil disci- plina, objetivamente, as relações jurídicas. a) de índole constitucional, que norteiam e limitam outras leis esparsas, hierarquicamente inferiores. b) entre as pessoas e a Administração Pública, inexistindo codificação específica no direito brasileiro. c) entre os diversos órgãos da Administração Pública, inclusive entre os órgãos do Poder Exe- cutivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário. d) relativas às pessoas, aos bens e a suas relações, havendo codificação específica no direito brasileiro. e) concernentes às pessoas, bens, fatos jurídicos, obrigações, empresas e relações familiares e de direito sucessório, inexistindo codificação específica no direito brasileiro. a) Errada. Item define o Direito Constitucional. b) Errada. Item define o Direito Administrativo e, além disso, erra ao afirmar que não existe uma codificação específica para o Direito Civil. c) Errada. Item define o Direito Administrativo. d) Certa. O Direito Civil é o ramo do direito destinado a regular as relações privadas em geral, o que abrange pessoas, bens, relações jurídicas, família e sucessões. No Código Civil, há um capítulo dedicado a “empresas”, pois o Código Civil unificou as obrigações civis com as obri- gações empresariais. No Brasil, o Código Civil concentraas principais regras de Direito Civil. O item “d” é o mais compatível com isso e, por isso, é o gabarito. e) Errada. Questão erra ao afirmar que não existe uma codificação específica para o Direito Civil. Letra d. 002. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil de 2002 promoveu a unificação do Direito Privado, com exceção do direito das obrigações, onde manteve a autonomia do Direito Civil e do Direito Empresarial. O direito das obrigações foi unificado, de modo que relações obrigacionais civis e empresariais se sujeitam às mesmas regras. Errado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL 003. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se ca- racteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão mo- bilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa: O legislador brasileiro de 2002, ao optar pela grande codificação, unificou o direito das obriga- ções, bem como revogou totalmente o Código Civil de 1916 e parcialmente o Código Comercial. Realmente houve unificação do direito obrigacional, de maneira que as obrigações civis e co- merciais sujeitam-se às mesmas regras gerais. Por exemplo, a regra de limite da cláusula penal a 100% prevista no art. 412 do Código Civil se aplica tanto para obrigações de particulares não empresários quanto para obrigações contraídas entre empresários. Ademais, o art. 2.045 do CC/2002 revogou totalmente o CC/1916 (Lei n. 3.017/1916) e apenas uma parte do Código Comercial (Parte Primeira do Código Comercial, Lei n. 556/1850). Confira-se o dispositivo: Art. 2.045. Revogam-se a Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916 – Código Civil e a Parte Primeira do Código Comercial, Lei n. 556, de 25 de junho de 1850. Certo. 004. (AOCP/FESF-SUS/ADVOGADO/2010) Os princípios norteadores do atual Código Civil Brasileiro são a) Boa-fé, Eticidade e Operabilidade. b) Socialidade, Legalidade e Operabilidade. c) Socialidade, Eticidade e Operabilidade. d) Eticidade, Legalidade e Morabilidade. e) Efetividade, Adequação e Boa-fé. As diretrizes teóricas (= os princípios norteadores) do Código Civil Brasileiro de 2002 são a socialidade, a eticidade e a operabilidade, conforme doutrina. Letra c. 005. (FCC/DEFENSOR/DPE-ES/2016) Darei apenas um exemplo. Quem é que, no Direito Civil brasileiro ou estrangeiro, até hoje, soube fazer uma distinção, nítida e fora de dúvida, entre pres- crição e decadência? Há as teorias mais cerebrinas e bizantinas para se distinguir uma coisa de outra. Devido a esse contraste de ideias, assisti, uma vez, perplexo, num mesmo mês, a um Tribunal de São Paulo negar uma apelação interposta por mim e outros advogados, porque en- tendia que o nosso direito estava extinto por força de decadência; e, poucas semanas depois, ganhávamos, numa outra Câmara, por entender-se que o prazo era de prescrição, que havia sido O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L0556-1850.htm#parte primeira http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L0556-1850.htm#parte primeira 21 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL interrompido! Por isso, o homem comum olha o Tribunal e fica perplexo. Ora, quisemos pôr termo a essa perplexidade, de maneira prática, porque o simples é o sinal da verdade, e não o bizantino e o complicado. Preferimos, por tais motivos, reunir as normas prescricionais, todas elas, enume- rando-as na Parte Geral do Código. Não haverá dúvida nenhuma: ou figura no artigo que rege as prescrições, ou então se trata de decadência. Casos de decadência não figuram na Parte Geral, a não ser em cinco ou seis hipóteses em que cabia prevê-la, logo após, ou melhor, como com- plemento do artigo em que era, especificamente, aplicável. (REALE, Miguel. O projeto de Código Civil: situação atual e seus problemas fundamentais. São Paulo: Saraiva, 1986. p. 11-12). Essa solução adotada no Código Civil de 2002 se vincula: a) à diretriz fundamental da socialidade. b) à abolição da distinção entre prescrição e decadência. c) à diretriz fundamental da eticidade, evitando soluções juridicamente conflitantes. d) ao princípio da boa-fé objetiva, que garante a obtenção do julgamento esperado pelo ju- risdicionado. e) à diretriz fundamental da operabilidade, evitando dificuldades interpretativas. Entre as diretrizes teóricas do Código Civil de 2002 (eticidade, socialidade e operabilidade), a operabilidade é aquela que levou a Comissão de Juristas coordenada pelo professor Miguel Reale a redigir um Código Civil que fosse facilmente manuseável (operável) pelos juristas (ope- radores do Direito). Em decorrência disso, o Código Civil adotou uma sistematicidade, de que é exemplo a reunião de todos os prazos prescricionais no art. 205 e 206 do Código Civil com o objetivo de livrar os juristas de debates para definir qual o prazo é prescricional ou decaden- cial. Ressalva-se que houve apenas uma falha nessa sistematização: o art. 1.032 do CC prevê um prazo de prescrição de 2 anos durante o qual o sócio retirante ainda responde por dívidas sociais. A questão em pauta trata da operabilidade, o que atrai o item “E” como resposta. Letra e. 006. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta como nor- ma de conduta leal e ética aplicável às obrigações contratuais, sentido idêntico ao utilizado, em matéria de direitos reais, na classificação da posse como sendo de boa-fé ou de má-fé. O erro está na última parte: a posse de boa-fé ou de má-fé no direito das coisas segue o princí- pio da boa-fé subjetiva, assim entendida aquela que verifica se a intenção da pessoa é moral- mente boa ou não. É o art. 1.201 do CC: Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em con- trário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL Já a boa-fé objetiva não foca na intenção da pessoa, e sim na análise da compatibilidade da conduta dela com os padrões éticos da sociedade. O fato de o CC ter valorizado a boa-fé objetiva não significa que ele tenha desprezado a boa-fé subjetiva, que ainda segue aplicável em vários casos, como na definição de posse de boa-fé ou de má-fé em matéria de direito das coisas. Errado. 007. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta como um estado psicológico pelo qual o agente, de forma crédula, desconhece as reais circunstâncias do ato praticado. A questão aí trata da boa-fé subjetiva, e não da objetiva. Errado. 008. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-féobjetiva se apresenta como nor- ma de conduta de acordo com os ideais de honestidade e lealdade, devendo as partes con- tratuais agir conforme um modelo de conduta social, sempre respeitando a confiança e os interesses do outro. Trata-se da definição da boa-fé objetiva, que é aquela que afere a compatibilidade da conduta da pessoa (independentemente de seu estado anímico) com os padrões éticos da sociedade. Certo. 009. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta ausên- cia de má-fé. É incompleto definir a boa-fé objetiva como a mera ausência de má-fé, pois a boa-fé subjetiva também decorre da falta de má-fé. Por isso, errado o item. Errado. 010. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta tendo con- teúdo idêntico ao da boa-fé subjetiva. O conteúdo é diferente: boa-fé objetiva avalia a conduta, e não a intenção do agente. Errado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL 011. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se ca- racteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão mo- bilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa: O Código Civil de 2002 contém várias cláusulas gerais, das quais são exemplos a função social do contrato, a boa-fé objetiva e a probidade que devem reger os contratantes, a função social da propriedade e a ordem pública. O uso de palavras com campo semântico aberto, que permite diversas interpretações por con- ter certo grau de indeterminação, é a característica marcada dos conceitos jurídicos indetermi- nadas e das cláusulas gerais (ou cláusulas abertas). Essas duas técnicas de redação legisla- tiva são bem parecidas. A distinção é a que, no conceito jurídico indeterminado, a indeterminação está apenas definição da norma (= o conceito é indeterminado), e não na consequência de sua violação, a exemplo da expressão “atividade de risco” prevista no parágrafo único do art. 927 do CC. Definir o que seja “atividade de risco” envolve certo grau de indeterminação, mas a consequência jurídica é certa: a responsabilidade objetiva. A indefinição está apenas no pressuposto da norma (conteúdo, a definição), e não no seu consequente (consequência prática). Já na cláusula geral, a indeterminação está tanto na definição quanto na consequência prática. É o caso, por exemplo, da expressões “função social”, “boa-fé objetiva”, “probidade”, “devido processo legal”. Tanto a definição desses conceitos quanto as suas consequências são aber- tas, o que dá grande margem de manobra ao jurista. A indefinição está tanto no pressuposto da norma quanto no consequente4. Na prática, porém, é comum haver mistura entre as duas técnicas de redação legislativa acima, especialmente porque ambas têm em comum o objetivo de dar maior liberdade à atividade interpretativa do jurista. Certo. 012. (CESPE/DEFENSOR/DPE-TO/2013/ADAPTADA) Cláusulas gerais, princípios e concei- tos jurídicos indeterminados são expressões que designam o mesmo instituto jurídico. Embora as duas expressões sejam parecidas por representarem técnicas de redação legislativa que dão maior liberdade ao jurista, elas não são iguais: a cláusula geral é que envolve indeterminação no pressuposto e no consequente da norma, ao passo que o conceito jurídico indeterminado só tem indeterminação no pressuposto. Reportamo-nos ao exposto nos comentários da questão anterior. Errado. 4 Para aprofundamento, recomendamos obra do jurista Rodrigo Reis MAZZEI (2005) e da jurista Sabrina Dourado FRANÇA ANDRADE (2011). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL 013. (CESPE/DEFENSOR/DPE-TO/2013/ADAPTADA) O princípio da eticidade, paradig- ma do atual direito civil constitucional, funda-se no valor da pessoa humana como fonte de todos os demais valores, tendo por base a equidade, boa-fé, justa causa e demais critérios éticos, o que possibilita, por exemplo, a relativização do princípio do pacta sunt servanda, quando o contrato estabelecer vantagens exageradas para um contratante em detrimento do outro. A eticidade é exigir que, nas relações de direito civil, as partes adotem comportamento compa- tível com a ética. Isso permite que contratos com cláusulas abusivas sejam invalidados, o que representa uma flexibilização do pacta sunt servanda. A questão está, pois, correta. Certo. 014. (MPE-MG/PROMOTOR/MPE-MG) Assinale a alternativa CORRETA: É possível afirmar que a adoção do sistema de cláusulas gerais no Código Civil de 2002 reverencia: a) O princípio da boa-fé objetiva. b) O princípio da eticidade. c) O princípio da sociabilidade. d) O princípio da operabilidade. A operabilidade é a diretriz teórica que estabelece que o CC/2002 deveria ser redigido de modo a ser de fácil manuseio pelo operador do Direito. Dela decorre, de um lado, a sistematicidade (de que é exemplo a concentração dos prazos prescricionais nos arts. 205 e 206 do CC) e, de outro lado, o emprego de técnicas de redação aberta das normas por meio das cláusulas ge- rais e dos conceitos jurídicos indeterminados. Por isso, a resposta é letra “D”. Letra d. 015. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se ca- racteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão mo- bilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa: Os conceitos jurídicos indeterminados não estão indicados na lei, decorrendo, apenas, de valo- res éticos, morais, sociais, econômicos e jurídicos. Os conceitos jurídicos indeterminados estão no texto da lei também, pois representam uma técnica de redação legislativa: a lei é escrita usando palavras de definição aberta (indetermina- da) para dar margem de manobra ao jurista. Errado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 25 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL 016. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se ca- racteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão mo- bilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa: O Código Civil de 2002 divide-se em Parte Geral, Parte Especial e Livro Complementar. A divisão do CC/2002 é esta: Parte Geral (arts. 1 a 232), Parte Especial (arts. 233 a 2027) e Livro Complementar (arts. 2028 a 2046). Certo. 017. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se ca- racteriza pela presença de conceitosjurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão mo- bilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa: Os vetores estruturantes do Código Civil de 2002 são os da socialidade, da eticidade, da siste- maticidade e da operabilidade. As diretrizes teóricas do CC/2002 são a eticidade, a socialidade e a operabilidade. Dentro des- ta última, está a sistematicidade. A questão cita as três diretrizes e, ainda que não houvesse necessidade, especifica a sistematicidade, de modo que ela está correta. Certo. 018. (CESPE/DEFENSOR/DPE-TO/2013/ADAPTADA) A operacionalidade do direito civil está relacionada à solução de problemas abstratamente previstos, independentemente de sua ex- pressão concreta e simplificada. A operabilidade do direito civil foca entregar ao jurista a aptidão de resolver casos concretos, de acordo com suas particularidades, de uma maneira mais justa e compatível com a digni- dade da pessoa humana. Não se busca, portanto, dar uma solução abstrata a todos os casos concretos de forma indistinta, ao contrário do afirmado na questão. Errado. 019. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil de 2002 utilizou a técnica legislativa das normas abertas, razão pela qual o processo de aplica- ção do Direito depende exclusivamente do raciocínio dedutivo e silogístico. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL O uso de normas abertas (por meio das técnicas de redação legislativa do “conceito jurídico indeterminado” e das “cláusulas abertas”) reduz o raciocínio dedutivo e silogístico (os quais são mais usuais para normas fechadas) e amplia o espaço para o raciocínio da razoabilidade e da ponderação de princípios. Errado. 020. (MPT/PROCURADOR/MPT/2017/ADAPTADA) O Código Civil de 2002 positivou em seus artigos valores inerentes à pessoa humana, que passaram a orientar a interpretação de institutos do Direito Civil, como, por exemplo, a boa-fé objetiva como elemento das relações contratuais. Essa mudança de paradigma decorre do que se tem chamado de constitucionali- zação do Direito Civil. A questão trata adequadamente da constitucionalização do Direito Civil, que preconiza a sub- missão desse ramo do Direito à Constituição Federal e da qual decorre a eficácia horizontal dos direitos fundamentais (aplicação destes em relações entre particulares), a repersonaliza- ção (pessoa humana não é mais um mero agente econômico, e sim o titular de dignidade) e a despatrimonialização (a dignidade da pessoa humana é mais importante do que a tutela do patrimônio). Certo. 021. (LEGALLE/PROCURADOR/PREFEITURA DE SILVEIRA MARTINS-RS/2014) Atual- mente é possível se falar em um novo Direito Civil, marcado, especialmente, pelos seguintes elementos, EXCETO: a) Privatização do Direito Civil. b) Constitucionalização do Direito Civil. c) Humanização do Direito Civil. d) Normatização da biotecnologia. e) Unificação no plano obrigacional entre o Direito Civil e o Direito Comercial. Não há falar em privatização do Direito Civil, e sim na sua publicização, assim entendida a ten- dência de serem editadas normas de ordem pública para proteger pessoas vulneráveis em con- tratos civis. Por isso, o gabarito é a letra “A”. No mais, acresça-se que o novo Direito Civil é mar- cado pela sua constitucionalização (movimento que o subordina à Constituição Federal), pela sua humanização (há uma valorização da dignidade da pessoa humana), pela normatização da bio- tecnologia (a legislação tende a regulamentar a biotecnologia, de que são exemplos a presunção O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 27 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL de paternidade no caso de reprodução assistida nos termos do art. 1.597, III a V, do CC, a Lei de Biossegurança e a Resolução n. 63/2017 – CNJ, que trata da paternidade no caso de reprodução assistida) e pela unificação no plano obrigacional entre o Direito Civil e o Direito Comercial (as regras de obrigações do Livro das Obrigações se aplicam para relações civis ou empresariais). Letra a. 022. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil de 2002 resguardou a igualdade por meio da visão abstrata do sujeito de direitos, considerado em razão das normas jurídicas, e não em face de suas circunstâncias concretas. Não tem uma visão abstrata do sujeito, e sim concreta, pois busca adequar-se às particularida- des de cada pessoa na garantia dos seus direitos. O próprio uso de cláusulas abertas e conceitos jurídicos indeterminados como técnicas de redação legislativa se destinam a dar maior mobili- dade ao jurista para, diante de cada caso concreto, dar uma solução mais justa, humana e digna. Errado. 023. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil de 2002 adotou a concepção de sistema fechado, uma vez que permitido o diálogo apenas com a Constituição Federal e com as normas especiais de direito privado. O sistema é aberto: o diálogo do direito civil é com todos os ramos do Direito e com todas as normas (até com tratados internacionais), e não apenas com a Constituição Federal, ao con- trário do dito na questão. Errado. 024. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil de 2002 estabeleceu a visão antropocêntrica ao Direito Privado, da qual é exemplo a previsão normativa dos direitos da personalidade. O Código Civil colocou a dignidade da pessoa humana no centro de sua tutela, o que retrata uma visão antropocêntrica, conforme letra “D”. O homem é o centro, e não mais o patrimônio (visão patrimonialista). Certo. 025. (CESPE/CONCILIADOR/TJ-BA/2019) Assinale a opção que indica o princípio segundo o qual o que estiver estipulado entre as partes tem força de lei, uma vez que o contrato vincula os envolvidos no seu devido cumprimento. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 28 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL a) princípio da função social do contrato b) princípio da força obrigatória do contrato c) princípio da boa-fé subjetiva d) princípio da proibição de comportamento contraditório e) princípio da boa-fé objetiva O princípio da força obrigatório do contrato estabelece que as partes estão obrigadas a cum- prir aquilo que pactuaram e é conhecido pela expressão latina pacta sunt servanda (que po- deria ser traduzida como “pacto tem de ser cumpridos” ou “o pacto faz lei entre as partes”). O item “b” é o correto, portanto. Letra b. 026. (MPE-MT/PROMOTOR/MPE-MT/2012/ADAPTADA) Os efeitos do princípio nemo venire contra factum próprio podem ser identificados no Código Civil brasileiro de 2002 e no Código Civil de 1916 por meio de interpretação de algumas regras específicas, entre outras regulado- ras dos contratos e dos negócios jurídicos. O princípio da proibição do comportamento contraditório (princípio do nemo venirecontra fac- tum proprium) não está positivada expressamente, mas decorre da conjugação de vários dis- positivos do Código Civil que exige a observância da boa-fé e da função social, como os arts. 187, 421 e 422. Certo. 027. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A operabilidade determinou a adoção de soluções normativas para a facilitação da interpretação, aplicação e adaptação do Direito, o que se verifica na adoção das normas abertas como técnica legislativa. A adoção de normas abertas como técnica de redação legislativa se destina a facilitar o manuseio do Código Civil pelo jurista, o que representa uma das ideias da diretriz teórica da operabilidade. Certo. 028. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A socialidade implicou a funcionaliza- ção dos modelos jurídicos, fazendo prevalecer os valores coletivos sobre os individuais, sem que sejam desconsiderados os valores inerentes à pessoa, o que se verifica na previsão do instituto do abuso de direito. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 29 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL A socialidade é o prestígio dado à função social do direito, afastando o individualismo exa- cerbado e exigindo compromissos com os valores coletivos. A questão segue essa linha e, por isso, está correta. Certo. 029. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A eticidade provocou a opção antropo- cêntrica da codificação civil, implicando a prevalência de critérios éticos sobre os de nature- za formal, o que se verifica nos institutos da lesão e do estado de perigo. A eticidade exige condutas éticas dos indivíduos, fazendo a valorização da pessoa (antro- centrismo) prevalecer sobre o mero interesse patrimonial (patrimonialismo). A lesão (art. 157, CC) e o estado de perigo (art. 156, CC) exemplificam isso, pois permitem anular negó- cios jurídicos quando uma pessoa assumiu prestação manifestamente desproporcional por uma situação de vulnerabilidade. Certo. 030. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A igualdade formal determinou o trata- mento igualitário dos sujeitos de direitos e o afastamento de regimes tutelares, o que se verifica no afastamento de um regime de proteção dos incapazes, presentes na anterior co- dificação civil. Errado. O CC prestigia uma igualdade material, que busca dar proteção a quem está em situa- ção de vulnerabilidade. Os incapazes, por exemplo, seguem sob a proteção do regime de poder familiar, tutela ou curatela. Errado, pois, o item. Errado. 031. (FCC/TRE-PR/2017/ADAPTADA) A teoria do adimplemento substancial foi expressa- mente prevista na legislação civil e sua adoção evita a resolução do contrato, quando ocorrer inadimplemento mínimo. A teoria do adimplemento substancial não tem previsão textual na legislação, mas decorre da vedação ao abuso de direito (art. 187, CC), da boa-fé objetiva (arts. 113 e 422, CC) e da função social (art. 421, CC). Errado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 30 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL 032. (VUNESP/PROCURADOR/PREF. MOGI DAS CRUZES-SP/2016/ADAPTADA) Sobre a su- pressio ou o comportamento contraditório, é possível afirmar que pode ser considerado como abuso de direito por omissão reiterada. A supressio é a perda de um direito em razão de uma inércia prolongada (omissão reiterada) que, no caso concreto, gere uma legítima expectativa em outrem. A ruptura dessa legítima ex- pectativa configura um abuso de direito. Por isso, é correto dizer que a supressio é um abuso de direito por omissão reiterada. Certo. 033. (CESPE/DEFENSOR/DPU/2010/ADAPTADA) O pagamento realizado reiteradamente pelo devedor em local diverso do ajustado em contrato é um exemplo do que se denomina supressio. O art. 330 do CC prevê que o pagamento reiterado em lugar diverso do pactuado faz presumir re- núncia ao direito de exigir o pagamento no lugar pactuado. Isso é um exemplo de supressio, pois a omissão reiterada do credor em exigir a observância do pagamento no lugar contratado cria uma legítima expectativa no devedor de que este poderá continuar pagando no mesmo lugar. Certo. 034. (CESPE/ANALISTA/ADVOCACIA/EBC/2011/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva contratual tem, entre outras funções, a de limitar o exercício de direitos subjetivos, sobre a qual incidem a teoria do adimplemento substancial das obrigações e a teoria dos atos próprios, daí derivando os seguintes institutos: tu quoque, venire contra facutm proprium, surrectio e supressio. Este último assegura a possibilidade de redução do conteúdo obrigacional pactuado, pela inércia qualificada de uma das partes, ao longo da execução do contrato, ao exercer direito ou faculda- de, criando para a outra a legítima expectativa de ter havido a renúncia àquela prerrogativa. A questão arrola os quatro corolários da boa-fé objetiva, que são decorrência da teoria dos atos próprios (segunda a qual é ilícito contrariar um ato próprio). Ela também define adequada- mente a supressio, que implica a perda de um direito pelo seu não exercício prolongado com a capacidade de criar uma legítima expectativa na outra parte. Certo. 035. (FCC/DEFENSOR/DPE-MA/2015) Bruno adquiriu um veículo mediante contrato de alie- nação fiduciária, em 300 parcelas no valor de R$ 200,00 (duzentos reais) cada. Bruno pagou O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 31 de 36www.grancursosonline.com.br Parte Geral – I Carlos Elias DIREITO CIVIL pontualmente as parcelas até que, faltando apenas seis prestações para o adimplemento, não teve condições de realizar o pagamento. Diante da impontualidade de Bruno, a instituição fi- nanceira ajuizou ação de busca e apreensão do veículo. Na condição de defensor público atu- ando em favor de Bruno, para defendê-lo neste pedido de busca e apreensão, é correta a alega- ção de abuso do direito por parte da instituição financeira por aplicação da a) autonomia da vontade. b) vedação de cláusula comissória. c) exceção do contrato não cumprido. d) vedação legal de busca e apreensão em alienação fiduciária. e) teoria do adimplemento substancial. A questão é antiga. O gabarito dela à época foi letra “E”. Todavia, atualmente, essa questão se- ria anulada. Trazemos essa questão aqui para chamar a atenção para o entendimento atual do STJ. O STJ, nos casos de financiamento de veículos com alienação fiduciária em garantia, não mais admite a aplicação da teoria do adimplemento substancial para impedir a execução de uma garantia fiduciária por meio da busca e apreensão do bem e da consequente consolidação da propriedade fiduciária. O fundamento principal é o de que a boa-fé e a função social do con- trato seriam desvirtuadas se o credor perdesse o direito de executar uma garantia essencial ao seu crédito com fundamento em autorização legal expressa (o Decreto-Lei n. 911/67), o que comprometeria o “desenvolvimento da economia nacional” (STJ, REsp 1622555/MG, 2ª Seção, Rel. Ministro Marco Buzzi, Rel. p/ Acórdão Ministro Marco Aurélio Belizze, DJe 16/03/2017). Letra e. 036. (BANPARÁ/ADVOGADO/BANPARÁ/2017/ADAPTADA) A surrectio refere-se a um di- reito que não exercido durante determinado lapso
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