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SISTEMA DE ENSINO DIREITO CIVIL Responsabilidade Civil – Parte II Livro Eletrônico 2 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL Sumário Apresentação .................................................................................................................................. 3 Responsabilidade Civil – Parte II ................................................................................................. 5 1. Responsabilidade Solidária ....................................................................................................... 5 1.1. Solidariedade Ativa................................................................................................................... 5 1.2. Solidariedade Passiva ............................................................................................................. 5 1.3. Responsabilidade por Fato de Terceiro ............................................................................... 6 1.4. Interface com CDC ................................................................................................................. 10 1.5. Casuísticas ................................................................................................................................ 11 2. Dano Reflexo, por Richochete ou Indireto ............................................................................ 17 2.1. Conceituação ............................................................................................................................ 17 2.2. Legitimados a Pleitear Dano Reflexo e o Problema do Valor ...................................... 18 3. Ilicitude do Ato ...........................................................................................................................21 3.1. Responsabilidade Civil por Ato Ilícito .................................................................................21 3.2. Ilícitos Civis e Excludentes de Ilicitude..............................................................................21 3.3. Responsabilidade Civil por Ato Lícito ................................................................................ 22 3.4. Classificação do Dano Injusto e o Dano Justo ................................................................. 23 3.5. Casuística ................................................................................................................................24 Questões de Concurso ................................................................................................................. 30 Gabarito ...........................................................................................................................................48 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL ApresentAção Pessoal, vamos continuar tratando de responsabilidade civil!! Não deixe de ler a aula. Você terá uma vantagem muito grande em relação aos demais candidatos. Estamos tratando dos principais conceitos de modo direto e com a profundidade de que você necessita para o seu concurso. Vamos lá!!! Resumo Amigos e amigas, quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios. É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu apro- fundar o conteúdo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familia- ridade com a bola. Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir às questões. O resumo desta aula é este: • Há dois casos principais de responsabilidade civil solidária passiva: − Coautoria: todos os autores de um ilícito civil respondem solidariamente pela repara- ção (art. 942, CC); − Os terceiros responsáveis na forma do art. 932 do CC respondem solidariamente com os autores e coautores do ilícito civil (art. 942, parágrafo único, CC); • A responsabilidade civil por fato de terceiro depende de previsão legal; • O art. 932 do CC prevê as principais hipóteses de responsabilidade por fato de terceiro; • Em regra, a responsabilidade por fato de terceiro é objetiva; • O dano por ricochete é aquele que atinge uma vítima indireta; • Em regra, a responsabilidade civil decorre de um ilícito civil (violação de um dever jurídico); • Excepcionalmente, havendo lei, é possível responsabilidade civil por ato lícito; • A responsabilidade direta ou por ato próprio se dá quando o agente é responsabilizado por uma conduta que ele mesmo adotou. É a regra geral da responsabilidade civil e está prevista genericamente no art. 927, caput, do CC; • A responsabilidade indireta ocorre quando alguém responderá por um dano causado por conduta de um terceiro ou por uma coisa ou animal. É exceção e, por isso, depende de lei; • Os principais danos indenizáveis são os danos material, moral, estético e existencial, além da perda de uma chance e da perda do tempo útil; • As excludentes de ilicitude são excludentes de responsabilidade civil; O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL • No caso da responsabilidade objetiva, apenas o fortuito externo é excludente, por se tratar de risco alheio à atividade. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 5 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL RESPONSABILIDADE CIVIL – PARTE II 1. responsAbilidAde solidáriA 1.1. solidAriedAde AtivA Solidariedade ativa Em regra, não haverá, salvo LEI ou CONTRATO Em regra, não há falar em solidariedade ativa em responsabilidade civil, salvo se houver previsão expressa na lei ou no contrato (art. 265, CC). Em caso de responsabilidade civil contratual, vige a regra do art. 265, CC. No caso de responsabilidade civil extracontratual, não há previsão no CC de solidariedade ativa, de maneira que cada pessoa tem direito de exigir a reparação do dano próprio sofrido, mas não o dano sofrido por outrem. Se duas pessoas são concomitantemente ofendidas por um mesmo agressor, não há solidariedade ativa entre as vítimas: cada uma terá de, sozinha, pleitear sua indenização. 1.2. solidAriedAde pAssivA Depende de previsão legal Nunca se presume! De- corre de lei ou da vontade das partes Terceiros responsáveis Coautoria Solidariedade passiva Responsabilidade contratual Responsabilidade extracontratual A solidariedade passiva pode ocorrer na responsabilidade contratual ou na responsabilida- de extracontratual. Na responsabilidade contratual, vige a regra do art. 265 do CC, que preconiza que a solida- riedade não se presume, mas decorre de lei ou da vontade das partes. No caso de contratos de consumo, há solidariedade entre os fornecedores envolvidos na mesma cadeia de forne- cimento de um produto ou serviço (art. 7º, parágrafo único, do CDC). Trata-se do princípio da solidariedade legal nas relações de consumo.Na responsabilidade extracontratual, a solidariedade depende de previsão legal. Há dois casos principais: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL • Coautoria: todos os autores de um ilícito civil respondem solidariamente pela reparação (art. 942, CC); • Os terceiros responsáveis na forma do art. 932 do CC respondem solidariamente com os autores e coautores do ilícito civil (art. 942, parágrafo único, CC). Entendemos que essas hipóteses também se aplicam para a responsabilidade contratual, salvo dispo- sição em contrário, pois o art. 942 do CC não faz discriminação entre as espécies de responsabilidade. O conceito de coautoria costuma ser interpretado extensivamente pela jurisprudência a fim de expandir a solidariedade passiva na responsabilidade extracontratual. Por exemplo, no caso de empréstimo de veículo, o proprietário responde solidariamente pelos danos causados a terceiros pelo comodatário, pois, com base na teoria da guarda da coisa, o proprietário é tido como coautor. 1.3. responsAbilidAde por FAto de terceiro 1.3.1. Definição Teoria da substituição Teoria do risco O responsável substitui o 3º causador do dano Responsabilidade objetiva Responsabilidade por fato de 3º Depende de previsão legal Fundamento Pessoal, veja a questão. 001. (CESPE/PROCURADOR/PGE-PE/2018) Em razão da premente necessidade da entrega das mercadorias que transportava, o motorista contratado pela empresa de transporte con- duziu o veículo de carga em alta velocidade, vindo a colidir com outro veículo, o que causou a morte do condutor desse veículo. Nesse caso, a responsabilidade do empregador é objetiva, a) desde que provado que o empregado estava em horário de trabalho. b) mas depende da prova da culpa in elegendo. c) mas depende da prova da culpa in vigilando. d) estando de acordo com a teoria da substituição. e) independentemente de prova da conduta culposa do empregado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL A teoria da substituição justifica a responsabilidade por fato de terceiro. Vamos explicar isso melhor. Seja como for, antecipo que, no caso de responsabilidade do empregador por ato do empregado, não há necessidade de este estar no horário de trabalho; basta que o dano causa- do pelo empregado tenha ocorrido “em razão” do seu trabalho, conforme o texto do inciso III do art. 932 do CC. Letra d. 002. (FCC/ANALISTA/TRT-6ª/2018) Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descen- dente seu, absoluta ou relativamente incapaz. No caso da responsabilidade por ato de terceiro, cabe direito de regresso (art. 934, CC). Certo. Vamos falar mais sobre esse tema. O patrão responde civilmente pelos danos causados por um funcionário a um terceiro. Tra- ta-se de uma responsabilidade por fato de terceiro. A responsabilidade por fato de terceiro também é chamada de responsabilidade indireta, em contraste à responsabilidade por fato próprio (que é batizada de responsabilidade direta). Pelo princípio da legalidade, ninguém pode ser obrigado a fazer algo senão em virtude de lei. Daí decorre que ninguém pode ser obrigado a indenizar danos causados por terceiros, salvo se houver lei. Portanto, a responsabilidade por fato de terceiro depende necessariamente de previsão legal específica. Esses casos legais são justificados pela teoria do risco, imputando-se o risco a terceiros que, de algum modo, deveriam ter o controle do agente. Por conta disso, a responsabilidade do terceiro costuma ser objetiva, com a advertência de que, embora seja irrelevante a culpa do terceiro, há necessidade de comprovação de culpa do agente, salvo lei em sentido contrário (art. 933, CC). A responsabilidade por fato de terceiro é justificada pela teoria da substituição, segundo a qual o responsável (pais, empregador, dono de hotel etc.) está a substituir o terceiro, que foi o causador do dano (filhos, empregado, hóspede etc.). Isso ocorrerá nos casos em que a lei expressamente determinar. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL 1.3.2. Casos do Art. 932 do CC Exceção: responsabilidade dos representantes legais por atos dos incapazes Responsabilida- de por fato de 3º (art. 932) É solidária Direito de regresso O art. 932 do CC prevê cinco casos de responsabilidade por ato de terceiro. Em regra, essa responsabilidade é objetiva (art. 933, CC), porque não há necessidade de perquirir culpa do responsável, embora se pressuponha a existência de culpa do terceiro ao causar o dano com base no caput do art. 927 do CC. Essa responsabilidade é solidária: o res- ponsável responde solidariamente com o terceiro (art. 942, parágrafo único, CC). Todavia, é assegurado o direito de regresso (art. 934, CC). Há, porém, exceção para o caso de responsabilidade dos representantes legais por atos de incapazes (incisos I e II do referido artigo), para os quais se aplica o regime diferenciado do art. 928 do CC e em relação ao qual não se admite o direito de regresso na forma do art. 933 do CC. Reportamos ao quanto já escrevemos aqui sobre responsabilidade do incapaz. Representantes Legais por Ato do Incapaz Conforme art. 932, I e II, do CC, os representantes legais (pais com poder familiar, tutor ou curador) respondem por atos dos incapazes. Essa hipótese foge à regra dos demais casos de responsabilidade por ato de terceiro do art. 932 do CC, especialmente por conta dos arts. 928 e 934 do CC. Já falamos sobre esse caso na aula passada. Empregador ou Comitente por Ato do Preposto, Serviçais ou Empregado (Art. 932, III, CC) Conexão entre a conduta e a ativida- de para a qual foi contratado Vínculo trabalhista ou contratual É objetiva Não precisa entar em horário de trabalho Pessoa sujeita à diretriz do contratante Responsabilidade por fato de 3º (art. 932) Empregador ou comitente por ato do preposto, serviçais ou empregado O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 9 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL 003. (CESPE/DELEGADO/PC-MA/2018) De acordo com o Código Civil, responderá, em caso de reparação civil, o patrão por ato de seu empregado, desde que fique provada a culpa in vigi- lando ou in eligendo. O gabarito é “errado”, pois a responsabilidade do patrão é objetiva; não depende de prova de qualquer tipo de culpa (art. 933, CC). Errado. Vamos explicar um pouco mais o tema. Quem, para exercer uma atividade econômica, contrata pessoas assume os riscos de da- nos causadospelo contratado. Não importa se há vínculo trabalhista (empregado ou serviçal) ou se o vínculo é meramente contratual (preposto). O que importa é que a pessoa contratada esteja sujeita à diretriz do contratante. Basta haver uma relação de pressuposição. Nesses casos, há responsabilidade objetiva do terceiro (quem contratou) por ato do seu preposto no desempenho da atividade. É preciso haver conexão da conduta do preposto com a atividade para qual foi contratado. Um hospital responde por atos dos seus funcionários no exercício do trabalho hospitalar, e não por atos particulares realizados sem nenhuma conexão com o trabalho. Mesmo se o empregado tiver causado o dano fora do seu horário de trabalho, o empre- gador responderá pelo dano, se o dano tiver sido causado “em razão” da atividade, conforme expõe o inciso III do art. 932 do CC. Hotéis, Escolas, Estabelecimentos por Hóspedes, Moradores e Educandos e Similares (Art. 932, IV, CC) Quem, com fins eco- nômicos, hospeda ou custodia Assegurado direito de regresso contra o causador do dano Risco proveito Responsabilidade OBJETIVA Responsabilida- de por fato de 3º (art. 932, CC) Hoteis, escolas e similares O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL Quem, com fins econômicos, hospeda ou custodia pessoas em um lugar assume o ris- co pelos danos que estas causarem. Trata-se de uma aplicação da teoria do risco-proveito. Por isso, hotéis, pousadas e escolas respondem objetivamente pelos danos causados pelos hóspedes, moradores e educandos. Não importa se estes são incapazes. O risco do negócio justifica a responsabilidade por fato de terceiro. Será, porém, assegurado o direito de regresso contra o causador do dano, na forma do art. 933, CC. Participação Gratuita em Produto do Crime (Art. 932, V, CC) Será responsabilizado pelo proveito indevido (até o limite de sua participação) Vedação ao enriquecimento sem causaResponsabilidade por fato de 3º (art. 932, CC) Participação gratuita em produto do crime Não se trata propriamente de responsabilidade por fato de 3º Não se trata propriamente de uma responsabilidade por ato de terceiro, pois o participante do produto do crime será responsabilizado pelo proveito indevido que teve até o limite de sua participação, tudo em nome da vedação ao enriquecimento sem causa. O dispositivo, pois, não deveria estar no art. 932, CC. 1.4. interFAce com cdc Solidariedade entre os fornecedores na responsabilidade por fato do um produto Exceção: comerciante (arts. 12 e 13, CDC) Relação de consumo Responsabilidade objetiva do prestador de serviço Art. 932, CC + art. 7º, 12 e 14, CDC Exceção: profissional liberal (responsabilidade subjetiva) Se houver relação de consumo envolvido, o art. 932 do CC deve ser lido em sintonia com: • o parágrafo único do art. 7º do CDC, que estabelece a solidariedade entre todos os for- necedores de um produto; • o art. 12 do CDC, que excepciona essa solidariedade ao restringir a responsabilidade por fato do produto ao fabricante e ao excluir o comerciante (salvo se fabricante for desco- nhecido ou comerciante ter contribuído para o dano, conforme art. 13, CDC); • o art. 14 do CDC, que fixa a responsabilidade objetiva do prestador do serviço e a respon- sabilidade subjetiva do profissional liberal. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 11 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL 1.5. cAsuísticAs Responsabilidade objetiva e solidária Responde solidariamente pelos danos causados pelo hospital ou profissional de sua rede credenciada Empréstimo gratuito Responsabilidade SOLIDÁRIA por se tratar de coautoria Falha no serviço: responsabilidade objetiva Dano por ato técnico- -profissional Responsabilidade objetiva e solidária Relação de consumo ou locação? Médico preposto Responsabilidade objetiva e solidária do hospital Médico não preposto Não há responsabilidade do hospital Proprietário responde objetivamente pelos danos causados pelo motorista Teoria da guarda da coisa Hospital e médico Agência de turismo e serviço turístico Plano de saúde e médico Empréstimo de veículo Causadores de danos ambientais Escola e empresa de transporte escolar vinculada Hospedagem “Airbnb” Casuísticas 1.5.1. Causadores de Dano Ambiental Há responsabilidade solidária entre todos aqueles que causaram um dano ambiental por se tratar de uma coautoria, conforme art. 942, parágrafo único, do CC. Leia este julgado: AMBIENTAL. DESMATAMENTO. CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER (REPARAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA) E DE PAGAR QUANTIA CERTA (INDENIZAÇÃO). POSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO DA NORMA AMBIENTAL. 1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública proposta com o fito de obter responsabilização por danos ambientais causados pelo desmatamento de área de mata nativa. A instância ordinária considerou provado o dano ambiental e condenou o degradador a repará-lo; porém, julgou improcedente o pedido indenizatório. 2. A jurisprudência do STJ está firmada no sentido de que a necessidade de reparação integral da lesão causada ao meio ambiente permite a cumulação de obrigações de fazer e indenizar. Precedentes da Primeira e Segunda Turmas do STJ. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL 3. A restauração in natura nem sempre é suficiente para reverter ou recompor integral- mente, no terreno da responsabilidade civil, o dano ambiental causado, daí não exaurir o universo dos deveres associados aos princípios do poluidor-pagador e da reparação in integrum. 4. A reparação ambiental deve ser feita da forma mais completa possível, de modo que a condenação a recuperar a área lesionada não exclui o dever de indenizar, sobretudo pelo dano que permanece entre a sua ocorrência e o pleno restabelecimento do meio ambiente afetado (= dano interino ou intermediário), bem como pelo dano moral coletivo e pelo dano residual (= degradação ambiental que subsiste, não obstante todos os esfor- ços de restauração). 5. A cumulação de obrigação de fazer, não fazer e pagar não configura bis in idem, por- quanto a indenização não é para o dano especificamente já reparado, mas para os seus efeitos remanescentes, reflexos ou transitórios, com destaque para a privação tempo- rária da fruição do bem de uso comum do povo, até sua efetiva e completa recomposi- ção, assim como o retorno ao patrimônio público dos benefícios econômicos ilegalmente auferidos. 6. Recurso Especial parcialmente provido para reconhecer a possibilidade, em tese, de cumulação de indenização pecuniária com as obrigações de fazer voltadas à recomposi- ção in natura do bem lesado, com a devolução dos autos ao Tribunal de origem para que verifique se, na hipótese, há dano indenizável e para fixar eventual quantum debeatur. (STJ, REsp 1180078/MG, 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 28/02/2012). 1.5.2. Coautoria e Empréstimo de Veículo Em caso de comodatode veículo (empréstimo gratuito), o proprietário de veículo responde objetiva pelos danos causados pelo motorista em razão da aplicação da teoria da guarda da coisa, segundo a qual o dono de uma coisa perigosa responde objetivamente pelos danos cau- sados pelo manuseio dessa coisa por terceiros. Leia este julgado: ACIDENTE DE TRÂNSITO. TRANSPORTE BENÉVOLO. VEÍCULO CONDUZIDO POR UM DOS COMPANHEIROS DE VIAGEM DA VÍTIMA, DEVIDAMENTE HABILITADO. RESPONSABILI- DADE SOLIDÁRIA DO PROPRIETÁRIO DO AUTOMÓVEL. RESPONSABILIDADE PELO FATO DA COISA. - Em matéria de acidente automobilístico, o proprietário do veículo responde objetiva e solidariamente pelos atos culposos de terceiro que o conduz e que provoca o acidente, pouco importando que o motorista não seja seu empregado ou preposto, ou que o trans- porte seja gratuito ou oneroso, uma vez que sendo o automóvel um veículo perigoso, o seu mau uso cria a responsabilidade pelos danos causados a terceiros. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 13 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL - Provada a responsabilidade do condutor, o proprietário do veículo fica solidariamente responsável pela reparação do dano, como criador do risco para os seus semelhantes. Recurso especial provido. (STJ, REsp 577.902/DF, 3ª T., Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, DJ 28/08/2006). 1.5.3. Operadora de Plano de Saúde e Médico da Rede Credenciada Com fundamento no art. 7º, parágrafo único, do CDC e no art. 932 do CC, a operadora de plano de saúde responde solidariamente pelos danos causados por hospital ou profissional de sua rede credenciada, pois, ao restringir o campo de opções do consumidor, assume dever de responder pelos danos causados. Não haveria, porém, essa responsabilidade da operadora do plano de saúde se não oferecesse rede credenciada e deixasse o consumidor livre para esco- lher o profissional. Leia este julgado: RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. CIVIL. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DAS OPERADORAS DE PLANO DE SAÚDE. ERRO MÉDICO. DEFEITO NA PRES- TAÇÃO DO SERVIÇO. DANO MORAL RECONHECIDO. VALOR DA INDENIZAÇÃO. MAJORA- ÇÃO. RECURSO PROVIDO. 1. Se o contrato for fundado na livre escolha pelo beneficiário/segurado de médicos e hospitais com reembolso das despesas no limite da apólice, conforme ocorre, em regra, nos chamados seguros-saúde, não se poderá falar em responsabilidade da seguradora pela má prestação do serviço, na medida em que a eleição dos médicos ou hospitais aqui é feita pelo próprio paciente ou por pessoa de sua confiança, sem indicação de profissio- nais credenciados ou diretamente vinculados à referida seguradora. A responsabilidade será direta do médico e/ou hospital, se for o caso. 2. Se o contrato é fundado na prestação de serviços médicos e hospitalares próprios e/ou credenciados, no qual a operadora de plano de saúde mantém hospitais e emprega médi- cos ou indica um rol de conveniados, não há como afastar sua responsabilidade solidária pela má prestação do serviço. 3. A operadora do plano de saúde, na condição de fornecedora de serviço, responde perante o consumidor pelos defeitos em sua prestação, seja quando os fornece por meio de hospital próprio e médicos contratados ou por meio de médicos e hospitais credencia- dos, nos termos dos arts. 2º, 3º, 14 e 34 do Código de Defesa do Consumidor, art. 1.521, III, do Código Civil de 1916 e art. 932, III, do Código Civil de 2002. Essa responsabilidade é objetiva e solidária em relação ao consumidor, mas, na relação interna, respondem o hospital, o médico e a operadora do plano de saúde nos limites da sua culpa. 4. Tendo em vista as peculiaridades do caso, entende-se devida a alteração do montante indenizatório, com a devida incidência de correção monetária e juros moratórios. 5. Recurso especial provido. (STJ, REsp 866.371/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Raul Araújo, DJe 20/08/2012) O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 14 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL 1.5.4. Agência de Turismo e Serviços Turísticos Com fundamento no art. 7º do CDC, a agência de turismo é objetiva e solidariamente res- ponsável pelos danos causados ao consumidor por prestadores de serviços turísticos que fo- ram contratados por intermediação da agência, como danos decorrentes de falta de segurança no hotel, de atrasos de voos, de negativa indevida de seguradora contratada para fornecer seguro-saúde durante a viagem do consumidor etc. (STJ, REsp 1102849/RS, 3ª Turma, Rel. Ministro Sidnei Beneti, DJe 26/04/2012; REsp 888.751/BA, 4ª Turma, Rel. Min. Raul Araújo, DJe 27/10/2011; REsp 291.384/RJ, 4ª Turma, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 17/09/2001; REsp 287849/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 13/08/2001; AgRg no REsp 850.768/SC, 3ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti, DJe 23/11/2009). 1.5.5. Hospital e Médico Pessoal, veja a questão. 004. (CESPE/DELEGADO/PC-MA/2018) De acordo com o Código Civil, responderá, em caso de reparação civil, o hospital, objetivamente, pela morte de paciente aos cuidados de médico- -empregado, independentemente de culpa deste. Hospital só responde por médico-empregado no caso de o dano decorrer de ato-médico se houver culpa do médico. Errado. Precisamos aprofundar um pouco mais. Vamos lá! Com base nos art. 7º, parágrafo único, 14, caput e § 4º, do CDC e no art. 932, III, do CC, a responsabilidade do hospital por ato de médico deve levar em conta as seguintes situações. Se o dano causado ao paciente decorrer de serviços ou produtos do próprio estabeleci- mento em si (internação, enfermagem, exames, radiologia etc.), sem envolver ato técnico-pro- fissional do médico, a responsabilidade do hospital é objetiva e direta (por ato próprio) pelos danos sofridos pelo consumidor. Afinal de contas, trata-se de defeito no serviço fornecido pelo hospital. É o que acontece, por exemplo, no caso de dano decorrente de uma infecção hospita- lar, que resulta de problemas de assepsia do hospital. Se, porém, o dano decorre de ato técnico-profissional do médico (o popular “erro médico”), o hospital só responde se o médico era seu preposto. E, por preposto, entende-se qualquer mé- dico vinculado ao hospital de algum modo, ainda que não seja propriamente por uma relação O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 15 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL trabalhista. Nesse caso, o hospital, ao manter esse médico nos seus quadros de profissionais, torna-se um dos fornecedores do serviço e, por isso, será solidariamente responsável. Obvia- mente, porém, é necessário haver culpa do médico para que o hospital seja responsabilizado em respeito à responsabilidade subjetiva dos profissionais liberais na forma do § 4º do art. 14 do CDC (STJ, REsp 908359/SC, 2ª Seção, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Ministro João Otávio de Noronha, DJe 17/12/2008). Se, na hipótese acima (dano por ato técnico-profissional do médico), o médico não for em- pregado nem preposto do hospital, como na hipótese de médicoque não possui vínculo com o hospital, mas que apenas utiliza suas dependências para procedimento cirúrgico, o hospital não responde pelo dano, pois não pode ser considerada um fornecedor desse serviço (STJ, REsp 764.001/PR, 4ª Turma, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, DJe 15/03/2010). 1.5.6. Escola e Empresa de Transporte Escolar Vinculada Se a escola contrata empresa para transporte escolar dos alunos e oferece esse serviço aos pais, há responsabilidade solidária e objetiva dela com a transportadora por acidentes de trânsito que cause dano aos alunos. Não há necessidade de prova de culpa da transportadora, pois a sua responsabilidade também é objetiva por força do art. 12 do CDC e arts. 734 e 735 do CC. Com base nisso, o STJ manteve a condenação de uma escola e uma empresa trans- portadora a objetiva e solidariamente pagar indenização aos pais de uma criança morta em acidente de trânsito envolvendo o ônibus escolar que se deslocava a um estabelecimento da escola. A indenização envolveu dano moral de 500 salários mínimos para cada um dos pais, além de uma pensão alimentícia indenizativa de dois terços do salário mínimo até a data em que a criança completaria 25 anos e de um terço do salário mínimo para o período posterior até a data em que a criança completaria 65 anos. Leia este julgado: RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. TRANS- PORTE ESCOLAR. MORTE DE CRIANÇA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO TRANS- PORTADOR E DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO CONTRATANTE. PENSIONAMENTO. DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. CRITÉRIOS DE ARBI- TRAMENTO EQUITATIVO PELO JUIZ. MÉTODO BIFÁSICO. VALORIZAÇÃO DO INTERESSE JURÍDICO LESADO E DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO. JUROS LEGAIS MORATÓRIOS. TAXA SELIC. 1. Ação de indenização por danos materiais e morais movida pelos pais de adolescente morto em acidente de trânsito com ônibus escolar na qual trafegava, contando com 14 anos de idade. 2. Responsabilidade solidária da empresa transportadora e da fundação contratante do serviço de transporte escolar dos alunos de suas casas para a instituição de ensino. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 16 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL 3. Afastamento da alegação de força maior diante do reconhecimento da culpa do moto- rista do ônibus pelas instâncias de origem. 4. Discussão em torno do valor da indenização por dano moral, do montante da pensão e da taxa dos juros legais moratórios. Dissídio jurisprudencial caracterizado com os prece- dentes das duas turmas integrantes da Segunda Secção do STJ. 5. Redução do valor da indenização por dano moral na linha dos precedentes desta Corte, considerando as duas etapas que devem ser percorridas para esse arbitramento, para o montante correspondente a 500 salários mínimos. Aplicação analógica do enunciado normativo do parágrafo único do art. 953 do CC/2002. 6. Fixação do valor da pensão por morte em favor dos pais no valor de dois terços do salário mínimo a partir da data do óbito, pois a vítima já completara 14 anos de idade, até a data em que ela completaria 65 anos idade, reduzindo-se para um terço do salário mínimo a partir do momento em faria 25 anos de idade. Aplicação da Súmula 491 do STF na linha da jurisprudência do STJ. 7. Fixação do índice dos juros legais moratórios com base na taxa Selic, seguindo os pre- cedentes da Corte Especial do STJ (REsp 1.102.552/CE, Rel. Min. Teori Albino Zavascki). 8. RECURSOS ESPECIAIS PARCIALMENTE PROVIDOS. (STJ, REsp 1197284/AM, 3ª Turma, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 30/10/2012). 1.5.7. Responsabilidade Civil em Hospedagem do Tipo “Airbnb” Popularizou-se, no mundo, a locação por temporada por meio de empresas de aproxima- ção de locadores com locatários, como o “airbnb”. Ao fazer uma viagem por lazer, o turista, no lugar de hospedar-se em um hotel, pode acessar o site do “airbnb” e fazer a reserva de um apar- tamento mobiliado que está disponibilizado por um locador. Como se trata de questão nova na realidade, muitas questões jurídicas ainda serão amadurecidas na doutrina e na jurisprudência, como a própria definição da natureza jurídica desses negócios (locação ou hospedagem?) e o regime de responsabilidade civil. Antecipamos algumas reflexões sobre esse último tema. Há casos de turistas que sofrem danos materiais e morais por condutas do locador, como casos de divergências da qualidade do imóvel em relação ao anúncio feito no site do “airbnb” (ex.: falta de móveis, menor quantidade de quartos, recusa inesperada de entrega das chaves etc.), de inabitabilidade do imóvel ou até casos de filmagens de momentos íntimos do turista por meio de câmeras ocultas no quarto1. Nesses casos, entendemos haver relação de consu- mo em que o locador e o “airbnb” são fornecedores, o que atrairia a incidência não apenas da 1 A imprensa já noticiou caso assim em São Vicente/SP, e Airbnb descrendenciou o bisbilhoteiro proprietário do imóvel e ressarciu as vítimas quanto ao valor do aluguel. O Airbnb admite câmeras for a do banheiro ou dos quartos, desde que haja expressa divulgação desse fato no anúncio (vide este site: https://oglobo.globo.com/brasil/casal-encontra-camera-escon- dida-em-apartamento-alugado-pelo-airbnb-22340070). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br https://oglobo.globo.com/brasil/casal-encontra-camera-escondida-em-apartamento-alugado-pelo-airbnb-22340070 https://oglobo.globo.com/brasil/casal-encontra-camera-escondida-em-apartamento-alugado-pelo-airbnb-22340070 17 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL Lei de Inquilinato (Lei n. 8.245/91), mas também do CDC. Por essa razão, temos que o locador e o “airbnb” respondem objetiva e solidariamente pelos danos sofridos pelo turista (arts. 7º, parágrafo único, e 14 do CDC e art. 932, III, do CDC), assegurado, porém, o direito de regresso do “airbnb” contra o locador no caso de culpa deste. A jurisprudência ainda está a consolidar-se. Merece registro sentença da justiça estadual de São Paulo a condenar o Airbnb (nome empresarial: “Ache um lugar para ficar Airbnb Brasil Serviços e Cadastro de Hospedagem Ltda) pelo fato de os turistas, logo depois de desembar- carem, terem recebido a notícia do cancelamento unilateral, imotivado e de última hora da sua reserva no apartamento situado na Cidade do Cabo, na África do Sul. A condenação envolveu indenização por dano material correspondente à diferença de dinheiro desembolsada pelos turistas para hospedar-se em um hotel, o que correspondeu a cerca de mil reais, e por dano moral no valor de R$ 16.000,00. O Airbnb não recorreu (25ª Vara Cível da Comarca de SP – TJSP, Processo n. 1006260-77.2017.8.26.0100, Juíza Dra. Maria Fernanda Belli, j. 02/05/2017). 2. dAno reFlexo, por richochete ou indireto 2.1. conceituAção Sofre diretamente o DANO Sofre o dano de forma indireta (=reflexa) Todas as espécies de dano podem ocorrer de forma reflexa Vítima Direta Indireta O direito à indenização é da vítima, que pode ser direta ou indireta. Vítima direta é quem sofreu diretamente a conduta lesiva e sofreu o dano. Já vítima indireta é aquela que, embora não tenha sido diretamente atingida pela conduta, sofre, por reflexo (por ricochete), um dano causado à vítima direta. O dano reflexo, indireto ou por ricochete é o dano causado a uma ví- tima indireta.Todas as espécies de danos indenizáveis (material, moral, estético etc.) podem ser danos reflexos, a depender do caso concreto. Os casos mais comuns são os de dano moral reflexo sofridos por familiares em razão da morte da vítima direta. Ex.: o filho sofre dano moral em razão do assassinato do seu pai. Outro caso comum é o dano material reflexo (na moda- lidade de lucros cessantes) sofrido pelo dependente econômico de alguém que faleceu por conduta culposa de outro. Ex.: filho menor pode pedir pensão alimentícia indenizativa para su- prir a perda do sustento financeiro que o pai assassinado provia-lhe de forma direta ou indireta (como no caso da morte de um genitor que, com base no Direito de Família, pagava alimentos mensais ao filho que havia ficado com a guarda do outro genitor). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL 2.2. legitimAdos A pleiteAr dAno reFlexo e o problemA do vAlor Independe do regime de bens 1º lugar 2º lugar Divisão leva em conta o vínculo afetivo Demais parentes Dano extrapatrimonial Ascendentes e irmãos Cônjuge e descendentes Omissão da lei. STJ aplica a ordem de vocação hereditária, com flexibilizações Cônjuge Indenização arbitrada em valor único a ser dividi- do entre as vítimas Legitimados a pleitear o dano reflexo A cadeia de vítimas indiretas pode chegar ao infinito. Com a morte de alguém, poderiam reivindicar dano moral reflexo não apenas os parentes mais próximos do falecido (filhos, as- cendentes, cônjuge), mas também parentes distantes, amigos e até mesmo conhecidos. Diante da omissão da lei, o STJ aplica, por analogia, a ordem de vocação hereditária previs- ta no art. 1.829 do CC, com flexibilizações a serem identificadas no caso concreto, para limitar essa rede infinita de vítimas indiretas. Assim, no caso de morte de alguém, poderão pleitear indenização por dano moral reflexo, em primeiro lugar, os herdeiros da primeira classe prevista no inciso I do art. 1.829 do CC (des- cendentes e cônjuge) e também os ascendentes e os irmãos. Em relação ao cônjuge, é irrelevante o regime de bens, pois o foco aí é a reparação de um dano extrapatrimonial. Quanto aos ascendentes, embora estes não compõem a primeira classe da ordem de vo- cação hereditária, eles, em regra, sofrerão dano moral reflexo pela perda do filho em igual in- tensidade dos descendentes e do cônjuge, independentemente da idade do filho. Mãe é mãe; pai é pai; diz a sabedoria popular. É preciso, no entanto, o juiz analisar o caso concreto para identificar quais pessoas realmente teriam sofrido o dano reflexo, de modo que até mesmo um sobrinho poderia reconhecido como titular da indenização por ricochete a depender do caso O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 19 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL concreto. Há diferentes arranjos familiares. No STJ, já houve casos em que sobrinhos foram tidos como dignos do receber a indenização. Os irmãos também costumam ser admitidos como legitimados a pedir indenização por dano moral reflexo diante da presumida relação de afeto com a vítima no caso de morte des- ta. A propósito, por seu didatismo, vale muito a pena ler inteiramente a ementa deste acór- dão do STJ: RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL REFLEXO OU POR RICO- CHETE. MORTE DA VÍTIMA. PRESCINDIBILIDADE PARA A CONFIGURAÇÃO DO DANO. LEGITIMIDADE ATIVA PARA AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. NÚCLEO FAMILIAR. IRMÃOS. AVÓS. ILEGITIMIDADE PASSIVA DOS GENITORES DE FILHOS MAIORES DE IDADE. 1. O dano moral por ricochete é aquele sofrido por um terceiro (vítima indireta) em con- sequência de um dano inicial sofrido por outrem (vítima direta), podendo ser de natureza patrimonial ou extrapatrimonial. Trata-se de relação triangular em que o agente prejudica uma vítima direta que, em sua esfera jurídica própria, sofre um prejuízo que resultará em um segundo dano, próprio e independente, observado na esfera jurídica da vítima reflexa. 2. São características do dano moral por ricochete a pessoalidade e a autonomia em relação ao dano sofrido pela vítima direta do evento danoso, assim como a independên- cia quanto à natureza do incidente, conferindo, desse modo, aos sujeitos prejudicados reflexamente o direito à indenização por terem sido atingidos em um de seus direitos fundamentais. 3. O evento morte não é exclusivamente o que dá ensejo ao dano por ricochete. Tendo em vista a existência da cláusula geral de responsabilidade civil, todo aquele que tem seu direito violado por dano causado por outrem, de forma direta ou reflexa, ainda que exclu- sivamente moral, titulariza interesse juridicamente tutelado (art. 186, CC/2002). 4. O dano moral reflexo pode se caracterizar ainda que a vítima direta do evento danoso sobreviva. É que o dano moral em ricochete não significa o pagamento da indenização aos indiretamente lesados por não ser mais possível, devido ao falecimento, indenizar a vítima direta. É indenização autônoma, por isso devida independentemente do faleci- mento da vítima direta. 5. À vista de uma leitura sistemática dos diversos dispositivos de lei que se assemelham com a questão da legitimidade para propositura de ação indenizatória em razão de morte, penso que o espírito do ordenamento jurídico rechaça a legitimação daqueles que não fazem parte da “família” direta da vítima (REsp 1076160/AM, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, DJe 21/06/2012). 6. A jurisprudência desta Casa, quanto à legitimidade dos irmãos da vítima direta, já deci- diu que o liame existente entre os envolvidos é presumidamente estreito no tocante ao afeto que os legitima à propositura de ação objetivando a indenização pelo dano sofrido. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL Interposta a ação, caberá ao julgador, por meio da instrução, com análise cautelosa do dano, o arbitramento da indenização devida a cada um dos titulares. 7. A legitimidade dos avós para a propositura da ação indenizatória se justifica pela alta probabilidade de existência do vínculo afetivo, que será confirmado após instrução proba- tória, com consequente arbitramento do valor adequado da indenização. 8. A responsabilidade dos pais só ocorre em consequência de ato ilícito de filho menor. O pai não responde, a esse título, por nenhuma obrigação do filho maior, ainda que viva em sua companhia, nos termos do inciso I do art. 932 do Código Civil. 9. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 1734536/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 06/08/2019, DJe 24/09/2019) Ademais, para evitar que o responsável seja exposto a um inferno de severidade2 com inde- nizações elevadíssimas diante da multidão de vítimas indiretas, o arbitramento da indenização reflexa deve ser feita em um valor único a ser repartido entre as vítimas indiretas que forem reconhecidas como legítimas a pleitear a indenização. Essa repartição da indenizaçãopode ser feita a depender do grau de ligação afetiva com a vítima indireta, de modo que não neces- sariamente as vítimas indiretas receberão valores iguais. Punir o agente a indenizar ampla e irrestritamente todas as vítimas indiretas seria um ônus muito excessivo e desproporcional, contrariando, por analogia, o parágrafo único do art. 944 do CC. Por isso, é razoável o enten- dimento do STJ em limitar a quantidade de vítimas indiretas indenizáveis com base na ordem de vocação hereditária do art. 1.829 do CC com flexibilizações dadas pelo caso concreto e em restringir o valor total de indenização a ser repartido entre as vítimas indiretas indenizáveis. Nesse sentido, incluir não familiares como vítimas indiretas indenizáveis seria, em regra, no- civo, pois iria reduzir a fatia do valor total de indenização que seria outorgado aos familiares próximos da vítima. Foi nesse contexto que o STJ já rejeitou a pretensão de um ex-noivo pedir a indenização por dano moral reflexo em razão da morte da vítima direta, especialmente em razão de os pais já terem obtido essa indenização em uma ação autônoma. O STJ segue o entendimento acima (STJ, REsp 1734536/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 24/09/2019; REsp 1076160/AM, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 21/06/2012; REsp 1095762/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 11/03/2013; AgRg no Ag 1.413.281/RJ, 3ª Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 19/03/2012). O exposto acima focou no dano moral reflexo por ser mais comum no quotidiano, mas ele é válido também para outras espécies de danos indenizáveis por ricochete no que couber. 2 Enfer de severité, expressão de Geneviève Viney, citado pelo Ministro Paulo de Tarso Sanseverino (2010, p. 84). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL 3. ilicitude do Ato 3.1. responsAbilidAde civil por Ato ilícito Dever de indenizar atos lícitos Dano extrapatrimonial Em regra, será por atos ilícitos Responsabilidade civil Como regra, a responsabilidade civil pressupõe um ato ilícito. Por isso, consideramos que a ilicitude do ato é um pressuposto da responsabilidade civil. A exceção corre à conta de si- tuações excepcionais acobertadas por lei específica que cria dever de indenizar mesmo para atos lícitos. 3.2. ilícitos civis e excludentes de ilicitude Violar direito alheio e causar dano com culpa Independe de culpa Basta a violação da boa-fé objetiva Princípio do neminem laedere Abuso de direito Há dois atos ilícitos no Direito Civil. O primeiro é o consistente no princípio do neminem laedere, também batizado de princípio da incolumidade das esferas jurídicas, a qual está prevista no art. 186 do CC. Trata-se do ato consistente em alguém violar um direito alheio e causar dano com culpa. Há três requisitos para esse ato ilícito: violação de direito, dano e culpa. A “violação de direito” é requisito funda- mental para haver ato ilícito. Se, por exemplo, alguém é contratado para demolir uma casa, ele causa um dano (a demolição), mas não comete ato ilícito, pois se baseou em um contrato (não violou direito). O segundo ato ilícito é o abuso de direito, previsto no art. 187 do CC e para cuja configura- ção é dispensável a existência de culpa. Basta-lhe o exercício de um direito além dos limites impostos pela boa-fé, pelos bons costumes e pelos fins sociais e econômicos. Há, porém, excludentes de ilicitudes no art. 188 do CC, a saber: a legítima defesa, o estado de necessidade (remoção de dano iminente), o exercício regular do direito (de que é espécie O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL o estrito cumprimento do dever legal). Situações putativas dessas excludentes não são ex- cludentes. Quem age em legítima defesa putativa, por exemplo, não está isento do dever de indenizar, apesar de não cometer crime no Direito Penal. O fato é que, havendo algum dos ilícitos civis acima, poder-se-á falar em dever de indenizar, conforme texto expresso do art. 927 do CC, desde que obviamente haja outros pressupostos da responsabilidade civil, como o dano, o nexo causal etc. Há, porém, casos excepcionais de responsabilidade civil por ato lícito, mas isso dependeria de previsão legal expressa nes- se sentido. 3.3. responsAbilidAde civil por Ato lícito Danos decorrentes de legítima defesa estado de necessidade Direito de passagem forçada Responsabilidade objetiva (art. 927, § único, CC) Direito de regresso contra o responsável Impõe o dever de indenizar É exceção respaldada em LEI Responsabilidade civil por ato lícito Veja a questão. 005. (FCC/DEFENSOR/DPE-AP/2018) O sujeito que, em estado de necessidade, causa pre- juízo a terceiro, é isento de responsabilidade pelo dano, em virtude da excludente de ilicitude. O gabarito é “errado”, porque se trata de um caso de responsabilidade por ato lícito prevista nos arts. 929 e 930 do CC. Errado. Vamos explicar. Em regra, só há responsabilidade se houver ato ilícito. Todavia, excepcionalmente, há res- ponsabilidade civil por ato lícito, desde que haja lei específica. Só lei própria pode obrigar al- guém a indenizar outrem por atos lícitos praticados. Parece-nos arriscado admitir responsabili- dade civil por ato lícito com base em outras fontes de direito diversas da lei, como os princípios, em razão da insegurança jurídica a que estão expostos os particulares que adotam condutas O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL amparados em texto expresso de lei, mas que são surpreendidos por uma censura baseada no uso de princípios. No mínimo, se for utilizado princípio para responsabilizar alguém por ato lícito, é fundamental considerar o quanto já expuséssemos mais acima sobre a dúvida jurídica razoável como excludente ou atenuante de responsabilidade civil. A responsabilidade por ato lícito ocorre em duas situações principais. A primeira é de fatos permitidos em lei, a exemplo: (1) do direito à passagem forçada, cujo exercício impõe o dever de indenizar os danos sofridos pelo vizinho titular do imóvel atravessa- do, conforme art. 1.275 do CC; (2) do dever de indenizar terceiros atingidos por danos causa- dos em situações de legítima defesa e de estado de necessidade, assegurado, no entanto, di- reito de regresso contra o causador da situação emergencial, conforme arts. 929 e 930 do CC. A segunda é de responsabilidade objetiva, que é fundamentada em lei (parágrafo único do art. 927, CC). 3.4. clAssiFicAção do dAno injusto e o dAno justo Pode ser reparado de modo excepcional É indenizável Havendo previsão em lei Decorre de ato lícito Decorre de um ilícito civil Dano justo Dano injusto O dano injusto é aquele que decorre de um ilícito civil, ou seja, da violação de um dever jurídico. Ele sempre é indenizável, pois a regra geral é a de que a responsabilidade decorre de atoilícito (arts. 186, 187 e 927, CC). Dano justo é o que decorre de um ato lícito. Podem ser reparáveis de modo excepcional, quando houver lei específica nesse sentido. Trata-se dos casos de responsabilidade civil por ato lícito, de que é exemplo a indenização a ser paga pelo beneficiário da passagem forçada (art. 1.285 do CC). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL 3.5. cAsuísticA Amante NÃO tem dever jurídico Dever de fidelidade é obrigação jurídica Não há violação de direito,pois não há obrigação jurídica Só é indenizável se a conduta for considerada ato ilícito 2 correntes É cabível indenização Não há responsabilidade, salvo expressa previsão na convenção Incabível indenização 1º) Não há dever jurídico de amar 2º) Descaso afetivo gravíssimo STJ - caso antigo: NÃO Casos mais novos: controvérsia Cabe dano moral? Não gera dever de indenizar Não responde solidariamente Traição sem agravantes: em regra, NÃO Abandono afetivo do filho Adultério e amante Rompimento ou traição no namoro Caracteriza DANO? Repreensão enérgica de aluno por professor Abandono material do filho Condomínios por furto ou agressão nas aréas comuns Casos controvertidos Prévio reconhecimento de paternidade indenizavel Há diversos casos que geram controvérsias acerca da configuração da ilicitude do ato (casos de responsabilidade civil por ato ilícito) e também da existência ou não lei específica admitindo a responsabilidade por ato lícito. Cuidaremos de alguns. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 25 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL 3.5.1. Repreensão de Aluno por Professora ou Aluno Diretora de escola repreendeu casal de alunos, afirmando que a aluna era “petulante, mal educada, agressiva, provocante e até mesmo escandalosa em seu namoro” e, na frente dos demais alunos de classe, advertiu ambos os alunos: “Desgruda, desgruda, senão eu despacho vocês dois!”. O STJ entendeu que não havia ato ilícito no fato ocorrido em 1997, pois, naquela época, a concepção de educação era mais conservadora do que hoje. Destacou o STJ ainda que a conduta enérgica da diretora também se justifica diante da postura conhecidamente co- mum dos adolescentes de agir com pirraça, ironia, grosserias, irreverência e desafios. Assim, à falta de ato ilícito, a diretora não foi condenada a indenizar eventual dano moral. Todavia, ficou implícito no julgado que, se o mesmo episódio ocorre atualmente, quando a concepção de edu- cação se tornou mais liberal, o mesmo fato poderia ser considerado ilícito (STJ, REsp 705.870/ MA, 4ª Turma, Rel. Min. Raul Araújo, DJe 23/04/2013). Ao nosso aviso, mesmo nos dias atuais, a solução dada pelo STJ deveria ser a mesma e deixando a punição de diretores e professores para situações excepcionais em que realmente haja abuso. Repreensão, ainda que seja mais enérgica como resposta a uma postura irreve- rente e desafiadora do aluno, não pode ser considerado ato ilícito, sob pena de neutralizar os educadores de adolescentes. Receamos, porém, que o STJ poderia adotar solução diferente diante da mudança de paradigmas que houve na educação nos últimos anos. 3.5.2. Rompimento de Namoro ou Traição nessa Fase O rompimento de um namoro bem como uma traição nessa fase de relacionamento podem gerar severos danos morais no namorado ou na namorada, mas isso não significa que esse dano moral é indenizável. Para sê-lo, é preciso que haja um requisito essencial da responsabi- lidade civil: a violação de um direito (arts. 186 e 927, CC). Como inexiste obrigação jurídica de fidelidade no namoro – essa obrigação é meramente moral, e não jurídica –, não há ato ilícito e, portanto, não há responsabilidade civil. A dano moral sofrido pelo namorado traído não é indenizável. É evidente que, se houver alguma agressão do namorado traidor como um xingamento ou algum outro ato de humilhação pública, haverá responsabilidade civil, pois o ato ilícito aí passa a ser esse ato de injúria ou de vexame público. A indenização será para reparar esse ato ilícito, e não propriamente a traição (que é irrelevante juridicamente). 3.5.3. Adultério e Amante Adultério de pessoa casada é ato ilícito, pois o dever de fidelidade recíproca é jurídico e está no art. 1.566, I, do CC. Esse dever não decorre apenas de questões morais incorporadas pelo legislador, mas especialmente de motivos de saúde para prevenir transmissão de doenças. Há controvérsia sobre o cabimento de indenização por dano moral. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL Quando se trata de um adultério acompanhado de alguma outra circunstância agravante, como um flagrante, pelo traído, do ato de traição na casa do casal, ou como no caso de oculta- ção, pela esposa adúltera, da origem extraconjugal do filho assumido pelo marido, a doutrina e a jurisprudência são pacíficas em admitir a indenização por dano moral contra a esposa traidora. O STJ, por exemplo, já condenou uma esposa adúltera a pagar indenização por dano moral no valor de R$ 200.000,00 por ter, com o seu silêncio, iludido o ex-marido acerca da sua paternidade sobre um filho que, na verdade, foi fruto de um caso extraconjugal da mulher (STJ, REsp 922.462/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 13/05/2013). Havendo, porém, um mero adultério sem circunstância agravante, a tendência dos tribu- nais é rejeitar a indenização por dano moral, ao argumento de que, embora se trate de um ilícito civil (violação do art. 1.566, I, do CC), não há dano moral. O STJ ainda não se manifestou sobre o tema. Quanto ao dever de o amante de indenizar o dano moral sofrido pelo cônjuge traído em solidariedade com o consorte adúltero, o STJ pacificou-se no sentido de que o amante não tem dever jurídico – embora possa ter dever moral – de respeitar casamento alheio e, portanto, a sua conduta de cúmplice não poderia ser responsabilizado civilmente (STJ, REsp 922.462/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 13/05/2013). Ao nossos sentir, o mero adultério deveria ser hábil a gerar dever de indenização por dano moral, pois, além de se tratar da violação de um dever jurídico (art. 1.566, I, do CC), haveria dano moral que poderia ser presumido em razão das máximas da experiência (art. 375, CC) diante do fato de a experiência ensinar que pessoas traídas costumam sofrer não apenas for- te abalo em sua individualidade, mas também transtornos com o receio de ter sido infectado por alguma doença sexualmente transmissível, o que as leva a fazer exames médicos. O dano moral aí parece-nos claro, mais claro de outros casos menos graves acatados pela jurispru- dência (como os de negativação indevida do nome do devedor em cadastro de inadimplentes). O cônjuge adúltero poderia facilmente livrar-se do seu dever de fidelidade recíproca se, antes de cometer o ato perfidioso, comunicasse, por qualquer meio, aoseu consorte o rompimento de fato do casamento, caso em que haveria uma separação de fato a afastar o dever jurídico de fidelidade recíproca. A boa-fé dos indivíduos tem de ser prestigiada e, ao se falar em busca da felicidade como um direito – há quem defenda a legalidade do adultério com base nesse argumento –, não se pode esquecer da felicidade de quem foi traído. O STJ ainda haverá de pacificar esse tema. Em relação ao amante, também entendemos que ele deveria ser responsabilizado civilmen- te pelo dano moral pela sua coautoria com o cônjuge traidor, desde que ele soubesse do casa- mento. Isso, porque, em nome da boa-fé objetiva, terceiros devem respeitar relações jurídicas alheias das quais tenha ciência, sob pena de praticar ato ilícito (doutrina do terceiro cúmplice). Nosso entendimento, todavia, já foi rejeitado pelo STJ, mas nos parece que o mais adequado seria haver uma futura mutação jurisprudencial com base na doutrina do terceiro cúmplice. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 27 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL O exposto acima não diz respeito às situações excepcionais de casais que, por inequívoco consenso entre si, desobrigam-se do dever de fidelidade recíproca. Nessas hipóteses, apesar de o art. 1.566 do CC não prever textualmente a possibilidade de afastamento do dever de fide- lidade recíproca, não há como admitir que um cônjuge pleiteie indenização contra o outro por adultério se o casal, de antemão, expressamente liberaram o outro do dever de exclusividade sexual. Isso seria uma violação ao princípio da proibição de comportamentos contraditórios (venire contra factum proprium). A jurisprudência, porém, tem de adotar extrema cautela nes- ses casos, pois há situações em que o cônjuge traído, apenas por dependência financeira ou psicológica, tolera a conduta adúltera do outro. Essas hipóteses, que geralmente mulheres, representam formas de violência psíquica e material contra a mulher traída não podem ser coonestadas pelo Judiciário e, portanto, devem ser consideradas como atos ilícitos hábeis a autorizar a responsabilização civil do cônjuge adúltero por dano moral. 3.5.4. Abandono Afetivo de Filho O abandono afetivo do filho por qualquer dos genitores gera inequívoco dano moral, dei- xando marcas profundas na sua individualidade. Todavia, isso não significa que esse dano moral é indenizável. Só o será se a conduta do genitor puder ser considerada um ilícito civil. Há ilícito civil se o genitor tiver descumprido uma obrigação jurídica. Há duas correntes sobre o cabimento da indenização por dano moral no caso de dano afetivo. A primeira considera que não há dever jurídico do genitor de dar carinho, amor e afeto ao filho menor e, portanto, é indevida a responsabilização civil do genitor omisso, ainda que se trate de um gravíssimo descaso afetivo. Pode haver dever moral, mas não há dever jurídico nesse caso. A 4ª Turma do STJ caminha nesse sentido (STJ, REsp 1579021/RS, 4ª Turma, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, DJe 29/11/2017). A propósito, vale a pena a leitura do excelente voto-vista da Ministra Maria Isabel Gallotti, em excelente voto, que, como obiter dictum, defen- de que não há dever jurídico de afeto e, portanto, não pode haver responsabilidade civil (voto- -vista neste julgado: REsp 1087561/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 13/06/2017, DJe 18/08/2017). A segunda corrente admite a indenização por dano moral se o abandono afetivo ocorrer em casos excepcionais de gravíssimo descaso afetivo em relação ao filho, pois, nesse caso, a conduta do genitor estaria a violar o dever jurídico de cuidado que os devem ter com os pais. Todavia, para haver o ato ilícito, é preciso que haver paternidade reconhecida previamente; antes desse reconhecimento, não há dano moral. A 3º Turma do STJ caminha nesse sentido (STJ, AgRg no AREsp 766.159/MS, 3ª Turma, Rel. Min. Moura Ribeiro, DJe 09/06/2016; REsp 1493125/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 01/03/2016; REsp 1557978/ DF, 3ª Turma, Rel. Min. Moura Ribeiro, DJe 17/11/2015; REsp 1374778/RS, 3ª Turma, Rel. Min. Moura Ribeiro, DJe 01/07/2015). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 28 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL A divergência entre as 3ª e 4ª Turmas do STJ é suave: esta última não admite indenização por dano moral por abandono afetivo ainda que haja descaso afetivo gravíssimo. Esse impas- se deve ser futuramente resolvido. Entendemos que o melhor entendimento é da 4ª Turma do STJ não admitindo a indenização em hipótese alguma de abandono afetivo, pois, por mais dolorosa que seja a situação, não se pode defender que há dever jurídico de amar. Dois alertas são importantes. Em primeiro lugar, é evidente que, se o pai omisso praticar algum ato de injúria ou de ve- xame contra o filho afetivamente abandonado (como humilhá-lo publicamente xingando-o), será cabível a sua responsabilização civil pela prática de um ato ilícito: o ato de ofensa, e não propriamente pelo ato de abandono afetivo. Em segundo lugar, a discussão acima restringe às hipóteses de abandono afetivo, e não de abandono material, sobre o qual trataremos a seguir. 3.5.5. Abandono Material de Filho Os pais possuem dever jurídico de dar suporte material ao filho, de modo que omissões em desincumbir-se dessa obrigação configura ato ilícito e, portanto, autoriza a responsabilização civil. Não se pode confundir esse caso (abandono material) com o de abandono afetivo, que foi tratado mais acima. Há um caso interessante que não se confunde com o de indenização por mero abando- no afetivo. Focando na falta de assistência material ao filho, e não na ausência de afeto, o STJ condenou pai a pagar indenização por dano moral a filho por ter-se omitido em dar-lhe condições dignas de sobrevivência. Nesse caso concreto, a criança propôs a ação enquanto era menor e vivia em condições bem sofrida, “muitas vezes sem alimentação nem vestuário adequados”, vivendo em “um cubículo” sem cama, dormindo em um pedaço de esponja no chão. O pai, porém, possuía uma fazenda de 1.440 hectares, onde explora plantação de arroz, além de ser dono de várias cabeças de gado e de terrenos. O valor da indenização por dano moral ficou em R$ 35.000,00. O juiz de primeiro grau também condenou o pai a comprar um imóvel no nome da criança com cláusula de inalienabilidade, a comprar mobiliários para a casa e a comprar computador e impressora. O pai, depois de perder a guarda em razão de ordem judicial quando a criança tinha 6 anos de idade, nunca a visitou. A visita deveria ocorrer na presença do Conselho Tutelar diante da suspeita de que o pai teria cometido abusos sexuais contra a criança. O pagamento da pensão alimentícia costumava acontecer somente após o ajuizamento de ação judicial diante da ameaça de prisão civil. O pai só dá atenção aos demais filhos; dá, pois, tratamento diferenciado entre os filhos (STJ, REsp 1087561/RS, 4ª Turma, Rel. Min. Raul Araújo, DJe 18/08/2017). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.brhttps://www.grancursosonline.com.br 29 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL 3.5.6. Condomínio por Furtos ou Agressões Físicas nas Áreas Comuns Condomínio não responde por furtos nas áreas comuns, salvo se houver previsão explícita em convenção ou em assembleia de condomínio. É que, como não há dever jurídico (nem legal, nem estatutário) de o condomínio velar pela segurança das áreas comuns, não se pode falar em responsabilidade civil, a qual decorre de um ato ilícito, ou seja, da violação de um dever jurídico. Se os condôminos, porém, deliberarem por obrigarem o condomínio a indenizar esses furtos, é certo que eles haverão de pagar contribuições condominiais maiores para fazer frente a esses custos adicionais. Condomínio não é seguradora (STJ, EREsp 268.669/SP, 2ª Seção, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ 26/04/2006). Esse entendimento vale para também para agressões físicas sofridas por condômino nas áreas comuns: condomínio não é vigia, salvo previsão expressa na convenção ou em assem- bleia. A propósito, leia este julgado: Civil. Recursos Especiais. Ação de compensação por danos morais. Agressões físicas entre condôminos. Ausência de responsabilidade do condomínio. Dis- sídio jurisprudencial. Cotejo analítico e similitude fática. Ausência. - Hipótese em que foi ajuizada ação de compensação por danos morais por condômino, em face do condomínio, decorrente de agressão física praticada na garagem do prédio. - O condomínio não responde pelos danos morais sofridos por condômino, em virtude de lesão corporal provocada por outro condômino, em suas áreas comuns, salvo se o dever jurídico de agir e impedir a ocorrência do resultado estiver previsto na respectiva conven- ção condominial. - O dissídio jurisprudencial deve ser comprovado mediante o cotejo analítico entre acór- dãos que versem sobre situações fáticas idênticas. Recurso especial do condomínio conhecido e provido, e negado provimento ao recurso especial do condômino. (STJ, REsp 1036917/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 02/12/2009). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 30 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL QUESTÕES DE CONCURSO 006. (VUNESP/ADVOGADO/PREFEITURA DE SÃO ROQUE-SP/2020/ADAPTADA) São civil- mente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, o autor do escrito e subsidiariamente o proprietário do veículo de divulgação, caso demonstrada a existência de dolo ou culpa deste. A responsabilidade não é subsidiária, e sim solidária. Ademais, não importa se houve ou não dolo ou culpa do veículo de divulgação. É a Súmula n. 221/STJ: “São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação”. Esses dois fatos tornam errada a questão. Veja, ademais, este julgado: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. IMAGEM. IMPRENSA. PROGRAMA JORNALÍSTICO. DEVER DE INFORMAÇÃO. LIBERDADE DE IMPRENSA. LIMITES. ATO ILÍCITO. COMPROVAÇÃO. REPORTAGEM COM CONTEÚDO OFENSIVO. REGULAR EXERCÍCIO DE DIREITO. NÃO CONFIGURAÇÃO. RES- PONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA EMISSORA E DOS JORNALISTAS. SÚMULA N. 221/STJ. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. MAGISTRADO COMO DESTINATÁRIO DAS PROVAS. INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS CÍVEL E CRIMINAL. QUANTIFICAÇÃO DO DANO EXTRAPATRIMONIAL. DESPROPORCIONALIDADE. NÃO CONFIGURAÇÃO. REE- XAME DE PROVAS. INADMISSIBILIDADE. SÚMULA N. 7/STJ. 1. Enquanto projeção da liberdade de manifestação de pensamento, a liberdade de imprensa não se restringe aos direitos de informar e de buscar informação, mas abarca outros que lhes são correlatos, tais como os direitos à crítica e à opinião. Por não possuir caráter absoluto, encontra limitação no interesse público e nos direitos da personalidade, notadamente à imagem e à honra, das pessoas sobre as quais se noticia. 2. Diferentemente da imprensa escrita, a radiodifusão consiste em concessão de serviço público, sujeito a regime constitucional específico, que determina que a produção e a pro- gramação das emissoras de rádio e televisão devem observar, entre outros princípios, o respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família (art. 221, IV, da CF). 3. A liberdade de radiodifusão não impede a punição por abusos no seu exercício, como previsto no Código Brasileiro de Telecomunicações, em disposição recepcionada pela nova ordem constitucional (art. 52 da Lei n. 4.117/1962). 4. Em se tratando de matéria veiculada pela imprensa, a responsabilidade civil por danos morais exsurge quando fica evidenciada a intenção de injuriar, difamar ou caluniar ter- ceiro. 5. No caso vertente, a confirmação do entendimento das instâncias ordinárias quanto ao dever de indenizar não demanda o reexame do conjunto probatório, mas apenas a sua valoração jurídica, pois os fatos não são controvertidos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 31 de 49www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte II Carlos Elias DIREITO CIVIL 6. Não configura regular exercício de direito de imprensa, para os fins do art. 188, I, do CC/2002, reportagem televisiva que contém comentários ofensivos e desnecessários ao dever de informar, apresenta julgamento de conduta de cunho sensacionalista, além de explorar abusivamente dado inverídico relativo à embriaguez na condução de veículo automotor, em manifesta violação da honra e da imagem pessoal das recorridas. 7. Na hipótese de danos decorrentes de publicação pela imprensa, são civilmente res- ponsáveis tanto o autor da matéria jornalística quanto o proprietário do veículo de divul- gação (Súmula n. 221/STJ). Tal enunciado não se restringe a casos que envolvam a imprensa escrita, sendo aplicável a outros veículos de comunicação, como rádio e tele- visão. Precedentes. (...) 14. Indenização arbitrada em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada vítima, que não se revela desproporcional ante a abrangência do dano decorrente de reportagem televisionada e disponibilizada na internet. 15. Recursos especiais não providos. (REsp 1652588/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, jul- gado em 26/09/2017, DJe 02/10/2017) Errado. 007. (MPE-GO/PROMOTOR/MPE-GO/2019/ADAPTADA) Em uma pequena comunidade, Alí- rio, ali residente, soltou, em plena época de festejos juninos, um balão que caiu sobre a casa de Antônio, incendiando-a por completo. Entre as casas de Antônio e de João, ficava a de Pedro, que foi alcançada pelo fogo. João, para evitar o alastramento das chamas e o eventual aco- metimento da morada de sua família, derrubou, a machadadas, a porta da casa de Pedro e, ali dentro, conseguiu debelar o incêndio e evitou maiores prejuízos, removendo perigo iminente. Restou constatado que, pelas circunstâncias, a conduta de João foi necessária e não excedeu os limites do indispensável para a remoção do perigo. Diante de tal cenário, com relação aos estragos ocasionados à porta da casa de Pedro, este: a) poderá obter indenização de João, apesar de este não ter praticado ato ilícito, ou de Alírio, cabendo a João ação regressiva contra este. b) poderá obter indenização de Antônio, com fundamento no direito de vizinhança, ou de Alírio, por culpa deste; c) não fará jus à indenização de João, pois este agiu em estado de necessidade,
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