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1CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR

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CRESCIMENTO E 
DESENVOLVIMENTO MOTOR 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Izabela de Gracia Yabe 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, apresentaremos as características das fases e dos estágios 
do desenvolvimento motor de acordo com o modelo teórico da ampulheta 
heurística, proposto por Gallahue, e examinaremos o decréscimo das 
habilidades motoras na idade adulta. Antes, vamos esclarecer algumas 
particularidades dessa teoria, como seu alcance ou amplitude em para fins 
científicos; a generalização do fenômeno para classes de habilidades motoras; as 
características qualitativas e quantitativas do movimento. 
Em primeiro lugar, as teorias desenvolvimentistas servem de base para o 
conhecimento de uma vertente da ciência do movimento humano e originam 
hipóteses que conduzem a novos fatos. Teorias desenvolvimentistas devem ser 
descritivas e explicativas de fatos e de ações motoras para que possam elevar o 
nível de conhecimento e de compreensão do fenômeno do desenvolvimento 
motor. Dessa forma, o estudo do desenvolvimento motor consiste em analisar a 
progressão sequencial das habilidades ao longo da vida. 
Em segundo lugar, as teorias do desenvolvimento motor devem ser 
generalizáveis para compreender toda a gama de habilidades humanas. As 
habilidades motoras são “processos subjacentes envolvidos na performance de 
uma tarefa de movimento aprendida e orientada para um objetivo ou ação de uma 
ou mais partes do corpo” (Gallahue; Ozmun; Goodway, 2013, p. 32). Segundo 
Magill (2011), as habilidades podem ser classificadas de acordo com a dimensão 
da musculatura envolvida (grossa e fina), a organização da tarefa (discreta, 
contínua e seriada) e a previsibilidade do ambiente (aberto e fechado). 
Em geral, as teorias do desenvolvimento motor referem-se às habilidades 
motoras grossas, porém a teoria da ampulheta heurística de Gallahue também 
pode ser utilizada para explicar os processos para aquisição de habilidades 
motoras finas durante o desenvolvimento motor. As habilidades motoras grossas 
e finas são agrupadas em três categorias funcionais de movimento: estabilidade 
(movimentos cujo foco principal é a manutenção do equilíbrio em atividades 
estáticas ou dinâmicas), locomoção (movimentos relacionados ao 
transporte/deslocamento do corpo no espaço) e manipulação (incluem 
movimentos nos quais indivíduos fazem uso de partes do corpo, geralmente 
membros superiores e inferiores, para controlar objetos). A maioria das 
habilidades motoras inclui combinações dessas categorias. 
 
 
3 
Uma teoria deve identificar mudanças quantitativas e qualitativas no 
movimento ao longo do desenvolvimento humano. As análises de modificações 
no movimento durante dado período são descritas como características do 
processo (característica qualitativa do movimento) ou produto (modificações de 
performance quantitativa) de movimento (Gallahue; Ozmun; Goodway, 2013). As 
modificações observáveis no processo ou no produto fornecem pistas que 
ajudam a explicar o desenvolvimento motor. Tanto o processo quanto o produto 
são retratados na ampulheta heurística, a qual demonstra quantitativa e 
qualitativamente a progressão ou a regressão no comportamento motor de um 
indivíduo. 
TEMA 1 – O DESENVOLVIMENTO MOTOR 
No decorrer do crescimento, as mudanças comportamentais surgem 
como uma série de movimentos adquiridos e rapidamente aprimorados. Essa 
sequência evolutiva de movimentos facilmente observáveis é marcada por uma 
série de marcos motores, por exemplo: sentar-se sem ajuda, rastejar, engatinhar 
ou caminhar pela primeira vez. A teoria da ampulheta heurística vai além da 
descrição desses fenômenos e explica os processos relacionados ao surgimento 
desses movimentos, considerando aspectos maturacionais, fisiológicos, sociais, 
culturais e ambientais. A analogia proposta pela ampulheta é muito utilizada por 
professores e pesquisadores justamente porque explica um processo previsível, 
sequencial e irreversível pertinente às diferentes etapas do desenvolvimento 
motor. Além disso, esse modelo teórico representa um processo dinâmico no 
qual interações entre fatores e restrições ambientais, individuais e da tarefa 
determinam os limites do desenvolvimento motor. 
 
 
 
4 
Figura 1 – Ampulheta heurística de Gallahue 
 
Fonte: Gallahue; Ozmun; Goodway, 2013. 
Na representação da ampulheta, a areia acumula-se no fundo em formato 
piramidal, indicando que as habilidades são desenvolvidas de forma progressiva 
e sequencial e que um indivíduo pode estar em diferentes níveis, fases ou 
estágios de desenvolvimento quando consideramos movimentos ou atividades 
distintas. Também deve-se considerar que as habilidades motoras se acumulam 
de forma sequencial e irreversível, ou seja, a areia que cai pelo funil é despejada 
sobre uma base de areia já existente e não pode retornar para a parte superior. 
Portanto, a partir do momento em que uma fase é atingida, não ocorrem 
regressões de desenvolvimento para as habilidades em questão. 
A ampulheta representa a visão descritiva dos movimentos adquiridos, ao 
passo que o triângulo invertido retrata a visão explicativa do desenvolvimento. 
As mudanças observáveis no comportamento motor nos primeiros meses de vida 
seguem uma ordem de aquisição de habilidades previsível, do simples para o 
complexo. Nessa sequência de desenvolvimento, os movimentos reflexos 
 
 
5 
precedem os voluntários, assim como os movimentos voluntários rudimentares 
precedem os fundamentais, os quais, por sua vez, antecedem os especializados. 
A ampulheta heurística de Gallahue, considerada sob a perspectiva de 
fases e estágios de desenvolvimento, atribui referências cronológicas a cada 
fase de desenvolvimento. Essa subdivisão em faixas etárias é uma tentativa de 
divisão de um processo contínuo que não acontece de forma estanque, mas 
progressiva e fluida. 
A seguir, serão apresentadas as quatro fases propostas por Gallahue do 
desenvolvimento ao longo da infância e da adolescência: movimentos reflexo, 
rudimentar, fundamental e especializado. 
TEMA 2 – FASE DO MOVIMENTO REFLEXO 
Os movimentos reflexos são involuntários por serem realizados sem a 
consciência do indivíduo. O cérebro do recém-nascido é pré-programado para 
responder de forma específica a determinados estímulos sensoriais. Os reflexos 
são movimentos gerados em centros inferiores do cérebro, sem a participação 
de regiões do córtex frontal, uma das estruturas principais no processamento de 
informações e na tomada de decisões para gerar movimentos voluntários. 
A fase do movimento reflexo ocorre desde a vida intrauterina até 
aproximadamente um ano de idade e tem por objetivos a busca de alimento, a 
proteção por meio do movimento e a obtenção de informações sensoriais a fim 
de estimular o desenvolvimento cortical e preparar os diferentes sistemas para 
realizar os movimentos voluntários. Dessa forma, os estágios da fase do 
movimento reflexo são a base do desenvolvimento motor infantil: 
• Estágio de codificação – passa pelo processo de coleta de informações 
sensoriais pelas vias aferentes. Essas informações preparam os centros 
corticais para responder conscientemente a estímulos futuros. 
• Estágio de decodificação – estágio de reprogramação. Caracteriza-se 
pela capacidade de processamento de informações e pela progressiva 
substituição de movimentos involuntários por voluntários. 
Os reflexos primitivos garantiram a sobrevivência de nossos ancestrais 
distantes e permitiram que eles se alimentassem e se defendessem. O 
surgimento e a inibição dos reflexos que acompanham o primeiro ano de 
desenvolvimento motor do ser humano estão diretamente relacionados à 
 
 
6 
maturação do sistema nervoso central. Nesse sentido, o modelo teórico da 
ampulheta heurística incorpora características de teorias maturacionais, mas 
amplia sua interpretação sobre o desenvolvimento motor. 
TEMA3 – FASE DO MOVIMENTO RUDIMENTAR 
Essa fase estende-se de um a dois anos de idade. A sequência de 
aquisição de habilidades motoras na fase rudimentar é fixa, porém, o ritmo é 
variável. A partir desse momento, a variabilidade de movimentos observáveis 
entre indivíduos tende a aumentar em razão das restrições individuais e do 
ambiente. As mudanças observáveis no desempenho motor parecem aceleradas 
em relação ao ano anterior. A fase motora rudimentar inclui os estágios de 
inibição de reflexos e de pré-controle: 
• Estágio de inibição de reflexos – inicia-se logo nos primeiros meses de 
vida e, em geral, estende-se durante o primeiro ano, quando a maioria dos 
reflexos passa a não ser mais percebida. 
• Estágio de pré-controle – inclui movimentos imprecisos que se tornam 
rapidamente coordenados, pois o aparato neuromotor está em fase de 
aprimoramento e evolução. O desenvolvimento cortical acelerado nessa 
fase encoraja rápidos ganhos nas habilidades motoras de equilíbrio, 
locomoção e manipulação de objetos. 
Os principais marcos motores dessa fase demonstram as capacidades 
desenvolvidas de lidar com a força da gravidade, de permitir o deslocamento 
pelos ambientes e de lidar ativamente com objetos. Nessa etapa, são adquiridas 
habilidades estabilizadoras (controle do tronco e da cabeça, sentar e ficar em 
pé), locomotoras (arrastar-se, engatinhar e caminhar) e manipulativas (alcançar, 
segurar e soltar de maneira controlada). 
O modelo da ampulheta heurística explica o desenvolvimento pela 
interação da complexidade da tarefa e das restrições individuais e ambientais. O 
surgimento das habilidades na fase rudimentar ainda é bastante dependente da 
maturação, mas, a partir do momento em que a criança está apta 
neurologicamente para realizar as atividades, ela se beneficia das oportunidades 
de prática. 
As crianças realizam atividades motoras com tentativas grosseiras, as 
quais devem ser estimuladas. A estimulação positiva incentiva e acelera o 
 
 
7 
desenvolvimento de habilidades motoras. Quanto maior a capacidade motora do 
bebê, maior a possibilidade de interação com o ambiente, que cria um processo 
de retroalimentação para o desenvolvimento, desde que condições adequadas 
sejam proporcionadas à criança. 
Assim, pode-se afirmar que a precocidade e o atraso na realização das 
tarefas motoras e, consequentemente, no desenvolvimento das crianças, são 
resultado da interação entre restrições do indivíduo e do ambiente. Quanto mais 
estimulados em ambientes ricos e variados, mais os seres humanos têm 
oportunidades de ampliar o acervo motor e melhorar a coordenação de 
movimentos. 
Os estudos na área da neurociência confirmam a importância do 
profissional de educação física como um agente mediador do ambiente para a 
estimulação saudável do desenvolvimento motor infantil na primeira infância. 
A proficiência nas habilidades motoras características dessa fase prepara a 
criança para a próxima etapa de desenvolvimento de habilidades motoras 
fundamentais. 
TEMA 4 – FASE DO MOVIMENTO FUNDAMENTAL 
A transição da fase rudimentar para a fundamental é um processo 
cumulativo, não linear e específico para diferentes habilidades. Em geral, 
a referência cronológica para a fase do movimento fundamental estende-se dos 
dois aos sete anos, no entanto, na prática, crianças de idade cronológica muito 
superior e até mesmo adultos apresentam deficiências nos padrões de 
movimentos fundamentais. 
As habilidades motoras fundamentais são geralmente aplicadas em jogos 
e brincadeiras, em atividades pré-desportivas e em atividades rítmicas ou 
ginásticas, podendo ser classificadas como estabilizadoras (equilibrar em um pé 
só, rolamento e giro sobre o eixo vertical), locomotoras (correr e pular) e 
manipulativas (arremessar e pegar uma bola). A ampulheta heurística de 
Gallahue apresenta uma subdivisão em três níveis qualitativos: 
• Estágio inicial – representa as primeiras tentativas de realizar movimentos 
mais complexos (entre dois e três anos), os quais normalmente carecem 
de fluxo rítmico, de noção espaço-temporal e de coordenação. Muitas 
vezes, a sequência dos movimentos é insatisfatória. Os movimentos no 
 
 
8 
estágio inicial são caracterizados por serem exagerados e pouco eficazes. 
O rápido desenvolvimento cognitivo promove experiências positivas às 
crianças, já que o avanço na capacidade coordenativa é observável pela 
constante superação de obstáculos com o avanço da idade. Dessa forma, 
o desenvolvimento maturacional e as oportunidades de prática 
impulsionam a criança para o estágio elementar emergente. 
• Estágio elementar emergente – caracteriza-se pelo controle de elementos 
espaciais e temporais do movimento. Nessa fase, a melhor coordenação 
dos movimentos fica evidente, principalmente, em atividades rítmicas por 
volta dos três aos cinco anos. Crianças dessa faixa etária comumente 
apresentam algumas habilidades subdesenvolvidas com os padrões de 
movimento ineficientes, característicos do estágio inicial, ao mesmo 
tempo em que demonstram maior nível de proficiência em outras 
habilidades. A evolução superior em diferentes domínios de habilidades 
motoras é, normalmente, fruto das experiências das crianças nos anos 
iniciais de desenvolvimento. 
• Estágio proficiente – caracteriza-se pelo desempenho mecanicamente 
eficiente, controlado e coordenado. Seu alto nível de proficiência está 
associado às características qualitativas do processo do movimento. 
Os componentes do produto ainda podem evoluir conforme as condições 
adequadas de prática, estímulo e instrução. O estágio proficiente em 
habilidades locomotoras e manipulativas pode ser atingido quando são 
superadas barreiras individuais, como a maturação de sistemas sensório-
motores, principalmente aqueles relacionados ao acompanhamento 
visual e à interceptação de objetos (entre cinco e sete anos). 
Há uma noção equivocada de que o processo de desenvolvimento de 
habilidades fundamentais ocorre paralelamente ao processo de maturação 
biológica, em que, independentemente do atraso, em determinado momento, 
todos alcançam os níveis finais de funcionamento. Mesmo que algumas crianças 
consigam desenvolver as habilidades para níveis maduros, com pouca influência 
do ambiente, a grande maioria só atingirá esse nível de performance em cenários 
propícios para o desenvolvimento envolvendo todos os componentes ora 
listados. 
Uma das formas de compreender o desenvolvimento de padrões de 
habilidades fundamentais é por meio da identificação de sequências de 
 
 
9 
desenvolvimento. Essa abordagem dá ênfase ao processo do movimento. Para 
tal, pesquisadores descrevem sequências de movimentos ordenados, desde 
padrões ineficientes até formas de movimentos considerados maduros e 
eficientes. Cada etapa na evolução qualitativa descreve padrões comuns 
executados por crianças em determinado ponto temporal de desenvolvimento. 
TEMA 5 – FASE DO MOVIMENTO ESPECIALIZADO 
A coordenação conjunta de diferentes habilidades fundamentais 
caracteriza a progressão para a fase do movimento especializado. O crescente 
refinamento do controle motor permite que atividades combinadas (como correr 
e chutar) sejam executadas com precisão desde que as restrições do indivíduo, 
do ambiente e da tarefa não sejam impeditivas para a realização das habilidades. 
A fase do movimento especializado contém três estágios de 
desenvolvimento, que compreendem a terceira infância, a adolescência e a vida 
adulta jovem: 
• Estágio de transição – caracteriza-se pela combinação de habilidades 
motoras fundamentais do estágio proficiente para realizar atividades 
recreativas e competitivas da cultura do indivíduo (por volta dos sete aos 
dez anos). As mesmas habilidades utilizadas no estágio proficiente da 
fase do movimento fundamental “são agora realizadas com maior 
precisão e controle, substituindo o foco para a melhora do produto domovimento” (Gallahue; Ozmun; Goodway, 2013, p. 73). Esse é o 
momento propício para a experimentação esportiva diversificada, visando 
ampliar o repertório motor. Deve-se evitar a especialização precoce, 
porque isso pode restringir o desenvolvimento de habilidades para uma 
pequena quantidade limitada de movimentos e diminuir a possibilidade de 
participação em atividades físicas futuras. Embora a proficiência e a 
performance sejam limitadas, a percepção de competência começa a 
fazer sentido nesse estágio, uma vez que a criança também desenvolve 
capacidades cognitivas que oportunizam a autoavaliação. É importante 
observar como a criança se percebe em relação aos seus pares, pois a 
percepção de competência motora é um importante componente para a 
aderência a um esporte. 
 
 
10 
• Estágio de aplicação – caracteriza-se pelo aumento da capacidade 
cognitiva, pela experiência acumulada ao longo dos anos de prática e pela 
oportunidade de desenvolvimento de capacidades físicas e performance 
atlética em atividades específicas de cunho competitivo ou recreativo (por 
volta dos 11 aos 13 anos). A prática das habilidades é o principal objetivo 
desse estágio, que prioriza a lapidação de movimentos específicos de 
determinadas modalidades esportivas ou atividades específicas. Os 
longos e exaustivos períodos de prática em ambientes adequados 
preparam os aprendizes para, após o refinamento, aplicar as habilidades 
no contexto competitivo. Padrões táticos e técnicos de diversos esportes 
são enfatizados e consolidados, e as tentativas de domínio são 
intensificadas. Gallahue (2005) define esse como o estágio de treinar a 
treinar. Nessa fase, a maioria dos indivíduos está na puberdade. Assim, 
efeitos fisiológicos do treinamento nas capacidades físicas de força, 
resistência muscular e capacidade cardiorrespiratória são aparentes e, 
consequentemente, a performance é rapidamente aprimorada com 
intensidade de treinamento. É dada maior importância a resultados 
quantitativos de performance e, por conta disso, as atividades são 
escolhidas de acordo com os potenciais e os interesses. Entende-se que 
o indivíduo, nessa fase da vida, já tenha consciência de suas qualidades 
e limitações e, normalmente, dirige seu foco para determinados tipos de 
atividades nas quais tem mais chances de sucesso. Dessa maneira, esse 
estágio é marcado pelas restrições nas escolhas de atividades físicas. 
• Estágio de utilização ao longo da vida – representa “o ápice do processo 
de desenvolvimento motor e é caracterizado pelo uso do repertório de 
movimento adquirido pelo indivíduo ao longo da vida” (Gallahue; Ozmun; 
Goodway, 2013, p. 74). A faixa etária de referência nessa fase inicia-se 
aos 14 anos e não tem idade para acabar. As escolhas e os interesses 
transferidos dos estágios anteriores definirão a aplicação das habilidades 
em atividades físicas da vida diária durante a vida adulta, ou seja, esse 
estágio representa os sucessos acumulados nas fases e nos estágios 
precedentes. A maximização da performance é o principal objetivo desse 
estágio. Tal estágio é marcado pelas oportunidades, pela motivação e 
pela melhora das capacidades físicas do indivíduo. 
 
 
11 
Em determinado momento da vida adulta, a ampulheta se inverte, e a 
areia acumulada ao longo dos anos de desenvolvimento começa a escorrer e cai 
por dois filtros diferentes: o filtro hereditário e o filtro do estilo de vida. O indivíduo 
pode ter predisposição a uma vida longa e saudável, mas também a uma vida 
encurtada por problemas de cunho hereditário, como alto risco cardiovascular. 
Desse modo, o filtro hereditário pode ser denso e de lento escoamento ou 
espaçado e de rápido escoamento, fazendo com que a areia desça em passo 
acelerado e aumente a velocidade de degeneração dos sistemas corporais e, 
consequentemente, da capacidade motora. Com relação a esse aspecto, não há 
muito o que se possa fazer. Por outro lado, o filtro do estilo de vida é suscetível 
às escolhas que fazemos durante a vida. 
O filtro do estilo de vida é determinado pelos hábitos de atividade física, 
nutrição, bem-estar social, capacidade de lidar com estresse e domínio afetivo, 
entre outros fatores. É sempre possível inserir mais areia na ampulheta e criar 
oportunidades de aprendizagem ou de manutenção de funções motoras. Novas 
oportunidades de prática possibilitam o aprendizado de novas habilidades que 
serão incorporadas ao acervo motor. Porém, independentemente da quantidade 
e da qualidade de novas experiências durante a vida adulta, nessa etapa da vida, 
o escoamento é sempre maior que o preenchimento, e a morte é representada 
pelo escoamento de toda a areia acumulada pelo indivíduo. 
Por fim, o modelo da ampulheta heurística de Gallahue explica o processo 
do desenvolvimento motor ao longo de todos os períodos da vida. O 
desenvolvimento tem seu período de progressão e regressão e, como discutimos 
nesta aula, é um processo multifatorial. Os profissionais de educação física estão 
entre os principais responsáveis pela orientação das pessoas com o propósito 
de um desenvolvimento motor adequado, visando à prevenção de doenças e à 
manutenção de bons índices de qualidade de vida. 
O sucesso dessa tarefa depende da compreensão das teorias de 
desenvolvimento, que preconizam formas de atuação mais eficazes para facilitar 
o desenvolvimento de habilidades com o intuito de formarmos indivíduos 
corporalmente conscientes e saudáveis. 
 
 
 
12 
NA PRÁTICA 
Um aluno de oito anos procura você para que o auxilie na prática do 
esporte ginástica artística. Ele lhe pede dicas e ajuda para ver se escolhe esse 
ou outro esporte. Qual habilidade seria interessante observar no aluno para 
saber se ele está apto a começar a vida esportiva nesse esporte? 
FINALIZANDO 
Nesta aula, você conheceu o modelo teórico da ampulheta heurística de 
Gallahue, que descreve toda a sequência de desenvolvimento motor desde o 
nascimento até a morte. Apesar de o modelo ser descrito em termos de fases e 
estágios, entendemos o desenvolvimento motor como um processo dinâmico e 
contínuo, pois sobreposições de estágios e fases são frequentes quando 
avaliamos o desenvolvimento de indivíduos. 
A fase do movimento reflexo baseia-se, prioritariamente, na maturação do 
sistema nervoso, sempre considerando as restrições individuais e ambientais. 
As fases subsequentes têm cada vez mais influência do ambiente, mas o 
triângulo invertido nos lembra da interação entre as restrições da tarefa, do 
indivíduo e do ambiente durante todo o processo de desenvolvimento motor. Por 
fim, esse modelo heurístico de desenvolvimento motor explica o processo de 
perda/limitação de movimentos associado à progressão para a idade adulta mais 
velha. 
 
 
 
 
 
13 
REFERÊNCIAS 
GALLAHUE, D. L. Conceitos para maximizar o desenvolvimento da habilidade 
de movimento especializado. R. da Educação Física, Maringá, v. 16, n. 2, p. 
197-202, 2. sem. 2005. 
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento 
motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3. ed. São Paulo: Phorte, 2005. 
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o 
desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 7. ed. Porto 
Alegre: AMGH, 2013. 
MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: 
Edgard Blücher, 2011.

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