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CADERNO 3o - PENAL II - DANIELA PORTUGAL

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CADERNO – 3º semestre – DIREITO PENAL II – DANIELA PORTUGAL
AULA 01 – OBSERVAÇÕES GERAIS E INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL II 
Observações gerais da disciplina:
· Teoria geral do crime. Relações de gênero, raça e classe na crítica à teoria geral do crime. Sujeitos da ação típica. Da tipicidade. Elementos. Nova dimensão da tipicidade penal: tipicidade conglobante, elementos negativos do tipo, imputação objetiva. Processo executivo de infração penal. Da tentativa. Da ilicitude. Causas de exclusão em espécie, legais e supralegais. Da culpabilidade. Teorias. Elementos. Causas de exculpação em espécie, legais e supralegais. Tratamento jurídico penal do erro. Concurso de pessoas. Modalidades de co-delinquência. 
Referências:
· BITTENCOURT. Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral. 25. Ed. Vol. I São Paulo; Saraiva.
· QUEIROZ, Direito penal v.1; parte geral. Salvador: JusPodivm; 
· QUEIROZ, Paulo. Curso de Direito Penal. Parte Geral. Rio de Janeiro: Lumen Juris;
· SANTOS, Juarez Cirino. Direito Penal. Parte Geral. Curitiba: ICPC Edições; 
Avaliações: Cada uma terá 3 questões cujo somatório de pontuações é de 10 e, provavelmente, tratarão de casos práticos. O modelo será diferente em comparação com os semestres anteriores, já que as provas ocorrerão presencialmente (13/04 e 08/06). 
Quarta-feira das 14:00 às 16:00 há o atendimento ao discente pela professora. 
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL II
1. Infração penal: 
Conceito: trata-se de um gênero que engloba duas espécies – os crimes (delitos) e as contravenções penais.
Art. 1º, LICP (Lei de Introdução ao Código Penal): Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa. 
Art 1º, LICP: Considera-se (...) contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 
OBS: Não há diferença ontológica entre crimes e contravenções penais. A diferença – quando se menciona detenção, reclusão e prisão simples – é pautada na forma de privação da liberdade. 
OBS: Nem todo ordenamento jurídico considera como sinônimos crime e delito (nem todos seguem a linha do ordenamento jurídico brasileiro). 
A reclusão (regime inicial) – fechado, semiaberto ou aberto. 
Se um crime é punido com detenção (regime inicial), há uma maior restrição ao juiz – semiaberto ou aberto. Todavia, há, também, a possibilidade de regressão para o regime fechado (questões a serem discutidas em Direito Penal III). 
Art. 121, § 3º do CP: Se o homicídio é culposo: Pena – detenção, de um a três anos. 
No caso das contravenções penais, quando se fala em prisão simples, o regime que compreende a pena pode ser semiaberto ou aberto. Atentemos ao uso do termo “regime” ao invés de “regime”.
O que se quer dizer ao afirmar que não há diferença ontológica entre crimes e contravenções penais trata-se da ideia de que apresentam a mesma essência: são infrações penais – estando desvinculada da distinção de gravidade inserida no senso comum (não podemos afirmar que as contravenções penais são mais leves em comparação com os crimes). A importunação sexual, até 2018, era considerada uma contravenção penal e, consequentemente, punida através de prisão simples. Não foi, todavia, a concepção de gravidade do senso comum que possibilitou a mudança para a categoria de crime, mas a promulgação de uma lei que passou a prever uma reclusão de 1 a 5 anos. 
A Lei Federal nº 13.718/2018, mais conhecida como Lei de Importunação Sexual, introduziu o artigo 215-A no Código Penal Brasileiro, tornando crime “praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”, prevendo pena de reclusão de 1 a 5 anos. 
2. Conceito de crime: 
2.1 – Conceito legal - Art. 1º, LICP (Lei de Introdução ao Código Penal): Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; 
2.2 – Conceito formal: Subsunção (enquadramento, encaixe) de uma conduta a um tipo incriminador definido em lei. Destarte, se um indivíduo furtou um saco de pão, cometeu um crime, uma vez que subtraiu uma coisa móvel e alheia; 
2.3 – Conceito material: Uma conduta significativamente lesiva a um bem jurídico-penal (leva em consideração o princípio penal da insignificância ou da bagatela); 
2.4 – Conceito analítico (estratificado): Herança do pensamento do século XIX, decompõe o crime em partes menores, identificando os seus elementos estruturantes (esse é o conceito que mais será contemplado ao longo do semestre de Direito Penal II). O raciocínio analítico é um desafio constante na contemporaneidade e, inclusive, é o raciocínio consolidado no âmbito acadêmico.
 
3. O conceito analítico (estratificado) de crime: 
Teorias: 
· Bipartida (influenciou o nosso CP): Crime = fato típico + ilicitude (antijuridicidade); 
· Tripartida (majoritária): Crime = fato típico + ilicitude + culpabilidade; 
· Quadripartida: Crime = fato típico + ilicitude + culpabilidade + punibilidade;
A teoria bipartida influenciou o nosso Código Penal, tendo em vista, a título exemplificativo, os Arts 23 e 26. 
Art. 23, CP – Não há crime quando o agente pratica o fato: 
I – em estado de necessidade; 
II – em legítima defesa; 
III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular do direito; 
Art. 26, CP – É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 
Como hoje a doutrina predominante é a tripartida, no artigo mencionado anteriormente, pode-se interpretar “é isento de pena” como “não há crime”. 
A influência bipartida no Código Penal brasileiro ficou conhecida pelos teóricos tripartidos como finalismo dissidente brasileiro.
 
4. A teoria tripartida de crime: 
Em síntese, de acordo com essa teoria, crime é todo fato típico, ilícito e culpável. 
	CONCEITO ANALÍTICO TRIPARTIDO DE CRIME
	FATO TÍPICO (“TIPICIDADE”)
	ILICITUDE/ANTIJURIDICIDADE
	CULPABILIDADE
	· Conduta;
· Resultado;
· Nexo de causalidade;
· Tipicidade; 
	Não estar em:
· Estado de necessidade;
· Legítima defesa;
· Estrito cumprimento de um dever legal; 
· Exercício regular de um direito;
· Consentimento do ofendido (doutrina – extralegal);
	· Imputabilidade;
· Potencial consciência da ilicitude;
· Exigibilidade de conduta diversa; 
OBS: Ao contrário da visão predominante do século XIX – de que o crime é algo patológico -, hoje, majoritariamente, é sustentada a concepção de o crime é algo inerente à sociedade (todos cometem crimes – baixar pdf’s de livros, compartilhar senha da Netflix, dirigir alcoolizado...). Então, a razão para ser preso não é apenas cometer crimes (basta observar o perfil dos internos brasileiros – como o caso do cidadão que foi preso acusado erroneamente de ter furtado uma bicicleta – demonstra um sistema penal bastante seletivo). Surgem debates, portanto, como acerca da imparcialidade do juiz (seria este uma figura política?). 
OBS: O Direito Penal II deve ser estudado com grande criticidade, mesmo que às vezes venha a se distanciar da praticidade em virtude do seu caráter bastante dogmático (parte mais científica do Direito Penal). 
AULA 02 – CONDUTA 
1. Evolução histórica do conceito de conduta:
	SISTEMA CLÁSSICO (CAUSALISMO)
	SISTEMA NEOCLÁSSICO (NEOKANTISMO)
	FINALISMO
	Elaboração pautada na pessoa humana; 
Comportamento humano que modifica o mundo exterior; 
Von Liszt, Beling e Radbruch; 
Século XIX – ascensão do pensamento positivista e a busca por conferir um caráter científico às ciências humanas (tais como o Direito); 
O crime passa a ser analisado sob uma perspectiva analítica; 
Dolo (normativo) e culpa se encontram situados na culpabilidade; 
Teoria psicológica da culpabilidade; 
Não sabem valorar/explicarbem as figuras da tentativa (de um homicídio, por exemplo) e da omissão; 
Perspectiva de conduta marcada pela materialização dos fatos – o que, dificultava, portanto, a punição da omissão (o sujeito não fez nada, logo não tem como ser punido); 
	Elaboração pautada na pessoa humana; 
Retorno do pensamento metafísico no começo do século XX;
Para Kant, a experiência é o ponto de partida para se chegar a verdade, mas esse processo é concretizado pelo processo de racionalização (no plano metafísico, no plano das ideias); 
O neokantismo é uma doutrina de transição, pois não rompe completamente com o paradigma causalista; 
Dolo (normativo) e culpa se encontram situados na culpabilidade; 
Teoria normativo-psicológica da culpabilidade ou teoria normativa culpabilidade; 
Introdução de um terceiro elemento além do dolo e culpa, um elemento normativo: a exigibilidade de conduta diversa; 
O comportamento humano que modifica o mundo exterior sujeito a um desvalor com isso responde à omissão (por exemplo, se uma mãe não alimenta o filho que está com fome e, este vem a falecer, a mãe pode ser punida por um crime omissivo); 
Destaque para Megzer, Mayer e Frank;
Não consegue contemplar a questão da tentativa, uma vez que manteve dolo e culpa na culpabilidade;
	Elaboração pautada na pessoa humana; 
Hans Welzel;
Conduta: comportamento humano voluntário (voluntariedade) voltado a um determinado fim (finalidade); 
Muda para sempre a nossa forma de raciocinar um crime; 
Dolo (natural) e culpa se encontram situados na tipicidade; 
A culpabilidade perde os seus elementos psicológicos e, por isso, passa-se a se falar em teoria normativa pura;
Passa-se a analisar a vontade/a pretensão do indivíduo. Daí, podemos falar em homicídio tentado (quando há a tentativa, mas não a morte) e homicídio consumado (quando há morte); 
Crime doloso: fim ilícito resultado ilícito (quero matar X e matei X);
Crime culposo: fim lícito (quero digitar de volta para casa) resultado ilícito (matei X); 
Os críticos da teoria do finalismo de Welzel afirmam que essa é incompleta uma vez que somente consegue explicar os crimes dolosos – argumento que gera objeções a seu respeito. 
	CAUSALISMO
	FATO TÍPICO
	ILICITUDE
	CULPABILIDADE
	Conduta;
Resultado;
Nexo;
Tipicidade objetiva;
	X
	Imputabilidade; 
Dolo (normativo);
Culpa; 
	NEOKANTISMO
	FATO TÍPICO
	ILICITUDE
	CULPABILIDADE
	Conduta;
Resultado;
Nexo;
Tipicidade objetiva;
	X
	Imputabilidade; 
Dolo (normativo);
Culpa; 
Exigibilidade de conduta diversa; 
	FINALISMO
	FATO TÍPICO
	ILICITUDE
	CULPABILIDADE
	Conduta;
Resultado;
Nexo;
Tipicidade (valoração) objetiva (o que ele causou) e subjetiva – (se queria/o que se queria causar – formado pelo dolo natural/culpa);
	X
	Imputabilidade; 
Exigibilidade de conduta diversa; 
Potencial consciência da ilicitude; 
2. Causas de exclusão da conduta: 
Não há conduta, portanto, não há fato típico, portanto, não há crime. 
· Atos reflexos: impulso do organismo sobre o qual não há absolutamente nenhum tipo de controle – por exemplo, uma pessoa apoia a mão em uma superfície quente, retira-a e, ao realizar esse ato, acaba acertando o cotovelo no rosto de outrem; 
· Atos de inconsciência : como, por exemplo, um indivíduo cometer um homicídio sob efeito da hipnose e outra, por exemplo, durante uma crise de epilepsia, morde e arranca o dedo de outrem; 
· Força irresistível – de natureza (envolvendo eventos como enchentes – no caso de uma pessoa que está sendo levada pela força da água e se chocar com outra) ou física (“coação física irresistível” – distinta da coação moral irresistível); 
Coação moral irresistível x coação física irresistível: 
A (coator – ator mediato) empreende coação moral contra B (coagido – autor imediato – executor), determinando B a praticar um crime. Supondo que A determine B a matar C, ameaçando B de morte em caso não obedecê-lo. A coação moral irresistível será o fundamento da exclusão da conduta e, portanto, A responderá pelo crime e não B.
A colide o carro no fundo do carro de B e B atropela uma pessoa que estava atravessando a rua. B não tinha como escolher o seu veículo ser lançado para frente ou não. A coação física irresistível, portanto, exclui por completo a conduta, e A responderá pelo crime e não B. 
Outro exemplo de força física irresistível trata-se de A apertar um gatilho utilizando a mão de B para matar C. Destarte, B não responderá pelo crime e sim A. 
Em decisão unânime, a sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) considerou que a ameaça de emprego de forças espirituais para constranger alguém a entregar dinheiro é apta a caracterizar o crime de extorsão, ainda que não venha havido violência física ou outro tipo de ameaça. 
Em outro caso concreto, uma garota de 15 anos se sentiu ameaçada após o namorado ameaçar enviar nudes seus nos grupos de whatsapp e, assim, se submeteu ao desejo do rapaz de realizar atos sexuais. Ele alegou que, pelo fato de não ter ocorrido agressões físicas, não houve estupro, tendo em vista o consentimento da vítima. Entretanto, houve, nitidamente, uma coação moral suficiente para a vítima se submeter a uma situação que não queria. 
AULA 03 – CRIMES CONSUMADOS X CRIMES TENTADOS 
1. Iter criminis: 
Não se fala em Iter criminis para crimes culposos, mas somente para crimes dolosos. 
Nem todos os crimes dolosos vão abranger as etapas anteriormente expostas. 
· 1ª etapa – Cogitação: Fase exclusivamente interna/mental, uma vez que o sujeito está cogitando praticar o crime, tomando, nesse cenário, uma decisão (“vou matar fulano”). A premeditação/o planejamento não se confunde com a cogitação, constituindo-se, destarte, um “plus” em relação ao mero ato de cogitar. Por se tratar de uma fase interna, ninguém responde pelo ato de cogitar. Vale relembrar o princípio da transcendência, o qual afirma que o Direito Penal somente atuará quando se transcende a figura do sujeito e há a lesão ou perigo concreto de lesão a um bem jurídico relevante;
· 2ª etapa – Preparação: O agente pensa nos meios que viabilizarão a prática do delito (“quero matar alguém e para isso preciso de uma arma, da senha de segurança do alarme da casa, de um veículo para fuga, de um local para manter a vítima em cativeiro...”). Os atos meramente preparatórios, como regra, não são puníveis, a menos que o legislador identifique a necessidade de criminalizá-los (como, por exemplo, a formação de associação criminosa – a popular “quadrilha” – que tem o propósito de, no futuro, praticar delitos). 
Art. 288 – CP: Associaram-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
O crime de petrechos para falsificação de moeda – expresso no art. 291 do Código Penal – também constitui outro exemplo de criminalização de atos preparatórios. 
Art. 291 – CP: Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação da moeda:
Pena – reclusão de dois a seis anos, e multa. 
A criminalização dos atos preparatórios é vista, por parte de alguns doutrinadores, como inconstitucional sob os argumentos de ferimento aos princípios da intervenção mínima (o Direito Penal como a Ultima ratio) e da presunção de inocência (In dubio pro reo). 
Existem também exemplos na Lei das Contravenções Penais, como o exposto no art. 25 que criminaliza a posse de chaves falsas e outros objetos que podem ser utilizados para a prática de furtos. 
Art. 25 – Lei das Contravenções Penais: Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido como vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na prática de crime de furto, desde que não prove destinação legítima 
· 3ª etapa – Execução: É quando o sujeito, realmente, ingressa na prática punitiva (desconsiderando-se aqui as exceções relacionadas à criminalização de atos preparatórios). A doutrinadiverge bastante acerca do que inicia os atos executórios. Tradicionalmente, o início se daria quando o agente começa a praticar o verbo nuclear do ato incriminador (“matar alguém” – art. 121 do CP). Com base nessa teoria objetivo-formal, o ato de amarrar uma pessoa para possivelmente matá-la depois, pelo fato de não proporcionar a morte propriamente dita, o agente deve ser absolvido.
Aos poucos, a teoria objetivo-material ganhou credibilidade, analisando-se, desse modo, se uma conduta lesa ou gera perigo concreto de lesão a um bem jurídico. Os doutrinadores divergem acerca dessa temática, tendo em vista que alguns afirmam a impossibilidade de se punir atos preparatórios, enquanto que outros defendem já se tratar de atos executórios (uma tentativa criminosa – perigo concreto de lesão); 
· 4ª etapa – Consumação (art. 14, I – CP): 
Art. 14 – CP: Diz-se o crime: 
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; 
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
Quando o agente reúne todos os elementos da definição legal de um determinado delito, fala-se em crime consumado. 
Quando o agente inicia a execução, mas não consuma o delito por circunstâncias alheias à sua vontade (“quero prosseguir, mas não posso”) – tais como chuva, alarme, cão-guarda, polícia, etc (circunstâncias alheias à vontade do agente) – fala-se em crime tentado. 
OBS: Se o agente mudar de ideia acerca de praticar o delito, não se fala em tentativa uma vez que esta somente se vincula às circunstâncias alheias à vontade do agente, ou seja, ele quer prosseguir.
· Exaurimento: Não é uma fase do Iter criminis, ocorrendo posteriormente à consumação do delito. Destarte, o agente já consumou o delito (matou alguém) e continua na prática do ato delituoso (segue disparando tiros em direção à vítima). Há um debate doutrinário acerca da punição do exaurimento, sendo o pensamento majoritário o que considera o exaurimento como um post factum impunível (regra). Entretanto, podem existir casos em que o exaurimento seja punido, uma vez existir disposição expressa do legislador sobre tal conduta. 
Art. 317 – CP: Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze anos), e multa.
Supondo que o agente (um guarda de trânsito), após receber uma propina, pratica outro ato delituoso (permite que o motorista que pagou a quantia siga dirigindo embriagado), infere-se a existência de um exaurimento punível. 
§ 1º A pena é aumenta, de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. 
Observa-se, de acordo com o primeiro parágrafo do artigo mencionado, que o legislador previu um aumento de pena para o exaurimento do crime de corrupção passiva. 
2. Consumação: 
Se verifica de forma diferente entre delitos formais e materiais.
· Os crimes materiais são aqueles que só se consumam com a produção de um resultado naturalístico (resultado que se materializa e altera a natureza das coisas). A título exemplificativo pode-se citar o crime de roubo (art. 157 do CP), o qual a jurisprudência considera consumado quando há a inversão de posse;
· Os crimes formais são aqueles que não dependem de resultado naturalístico para a sua consumação. Os crimes formais se consumam com o resultado jurídico, ou seja, pensado no plano ideal (momento de atingimento do bem jurídico). Se ocorrer resultado naturalístico no que tange aos crimes formais, esse resultado será considerado mero exaurimento. A título exemplificativo pode-se citar o crime de extorsão (art. 158 do CP), relembrando a Súmula 96 do STJ – que determina que no crime de extorsão, a consumação ocorre independentemente do agente obter ou não vantagem econômica. 
OBS: Todo crime que se consuma produz, pelo menos, um resultado jurídico (lesão de um bem jurídico) – no caso dos crimes materiais, há, além do resultado jurídico, a produção de um resultado naturalístico. 
	CRIMES MATERIAIS, CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS E CRIMES CULPOSOS
	Só se consumam quando houver resultado naturalístico, ou seja, modificação do mundo exterior.
	Art. 157 – CP (Furto): Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: 
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
	CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS
	Se consumam com a simples prática da abstenção do tipo incriminador.
	Art. 135 – CP (Crime de omissão de socorro): Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: 
Pena – detenção, de um a seis meses, e multa
	CRIME DE MERA CONDUTA
	A simples prática da conduta descrita no tipo incriminador é suficiente para consumar o delito.
	Art. 150 – CP (Invasão de domicílio): Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
	CRIMES FORMAIS
	Se consumam com a produção do resultado jurídico e se houver resultado naturalístico, este será mero exaurimento. 
	Art. 158  – CP (Crime de extorsão): Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
	CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO
	Crimes que preveem uma qualificadora de pena associada à produção de um resultado x. A consumação se dá, portanto, quando se produz o resultado qualificador.
	Art. 129 – CP (Lesão corporal seguida de morte):
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
	CRIMES PERMANENTES 
	A consumação dura o tempo que durar a sua permanência. 
	Art. 148 – CP (Sequestro e cárcere privado): Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado: 
Pena - reclusão, de um a três anos.
3. Crimes de tentativa/crimes tentados:
	TENTATIVA
	· Início da execução;
· Não consumação;
· Circunstâncias alheias à vontade do agente (“quero prosseguir, mas não posso”) – o agente é impedido, por algo ou alguém, de prosseguir com a execução criminosa;
Só cabe falar em crimes de tentativa no caso de crimes dolosos (que envolvem a vontade do agente). Portanto, não se fala de tentativa para crimes culposos. 
A tentativa, no caso das contravenções penais, não é punível. 
Art. 4º - Lei das Contravenções Penais: Não é punível a tentativa de contravenção.
Na tentativa, sempre se estará diante de uma incongruência, em virtude da existência de uma norma que discorre sobre um resultado e, ao mesmo tempo, não ocorrer a concretização do resultado – a vontade do agente é menor do que efetivamente foi causado e menor do que se encontra descrito no tipo penal. A subsunção (o encaixe) entre o fato e a norma não é perfeita. 
Art. 129 – CP: Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Todavia, existem exceções, pois algumas normas tipificam a tentativa como crime – tais como o art. 352 do CP (evasão mediante violência contra a pessoa).
Art. 352 – CP: Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência.
Consoante o parágrafo único do art. 14 do CP, percebe-se a possibilidade de redução de pena – de um a dois terços – para os crimesde tentativa. Essa redução de pena somente se vincula à regra geral, visto que algumas normas – como o art. 352 do CP – já trazem a pena para o crime de tentativa como a mesma do crime consumado. 
Art. 14 – CP: Diz-se o crime: 
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; 
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
4. Espécies de tentativa:
· Tentativa perfeita/acabada/crime falho: O agente executa todo o seu plano de ação sem sofrer nenhum tipo de interrupção, mas ainda assim, contra a sua vontade, o crime não se consuma. Por exemplo, um indivíduo disparou várias vezes contra outro e saiu de cena após considerar que a vítima havia falecido, embora esta não tenha.
· Tentativa imperfeita/inacabada: O agente não consegue executar todo o seu plano de autor pois foi obstado por algo ou alguém. Por exemplo, um alarme disparar ou um policial intervir durante a execução da ação delituosa. 
· Tentativa vermelha (cruenta): O agente consegue lesionar parcialmente o bem jurídico. Por exemplo, um indivíduo dispara e atinge o ombro de outro indivíduo;
· Tentativa branca: O agente não consegue lesionar o bem jurídico pretendido. Por exemplo: Um indivíduo dispara várias vezes e não consegue atingir outrem; 
· Tentativa idônea: É toda tentativa punível e que atrai, portanto, a atenção do Direito Penal;
· Tentativa inidônea: É um crime impossível, um não-crime, ou seja, um indiferente penal em virtude da inexistência de perigo concreto de lesão. Por exemplo, um indivíduo queria envenenar outrem, mas se confundiu e forneceu uma taça contendo água, o que não causou perigo concreto, muito menos lesionou o bem jurídico em questão: a saúde. 
OBS: É possível combinar as espécies de tentativa. Por exemplo – gastar todas as munições e nenhum disparo atingiu a vítima (tentativa perfeita e branca); esfaquear uma pessoa repetidas vezes mas ser interrompido por uma ação policial antes de matá-la (tentativa imperfeita e vermelha). 
OBS: Tentativa branca (é punível, ou seja, há perigo concreto/demonstrável de lesão) x tentativa inidônea (não há perigo concreto de lesão – não há risco real e, portanto, não é punível). 
Para a próxima aula – crimes que não admitem tentativa (arts. 15 e 16) + pesquisa: é possível em falar em tentativa nos crimes com dolo eventual? 
Referências:
· https://silvimar.jusbrasil.com.br/artigos/566726614/iter-criminis-tentativa-o-que-e-e-quais-crimes-nao-admitem-tentativa
· https://jus.com.br/artigos/73125/o-crime-de-extorsao-e-a-tentativa
AULA 06 – FLAGRANTE PREPARADO E INTRODUÇÃO AO NEXO CAUSAL
Art. 17 – CP: Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. 
1. Tentativa branca x crime impossível:
Supondo que Daniela dispara, várias vezes, contra Luca, mas que nenhum desses disparos o atinge. Tem-se uma tentativa branca em virtude da existência de um perigo concreto de lesão (podia um ou mais disparos acertar Luca e provocado a sua morte). 
	TENTATIVA BRANCA
	CRIME IMPOSSÍVEL
	Perigo concreto;
Punível; 
	Não há perigo real de consumação; 
Impunível (tentativa inidônea – inócua, inofensiva); 
	TENTATIVA IDÔNEA
	TENTATIVA INIDÔNEA
	Expressão que se refere a todas as modalidades de tentativa que oferecem um risco concreto de consumação; 
Punível;
	Sinônimo de “crime impossível”, ou seja, abrange as situações nas quais é impossível consumar o crime; 
Impunível, desde que a ineficácia do meio e a impropriedade do objeto sejam absolutas;
2. Crime impossível x flagrante preparado: 
Flagar vem do latim Flagare e significa “Pegar fogo; estar em chamas; incendiar, arder, deflagrar”. 
Art. 301 – CPP: Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.
Observa que qualquer um, tendo coragem para isso, pode prender outrem em flagrante. Ademais essa prisão em flagrante deve ocorrer imediatamente após a consumação do delito ou durante a sua execução.
Art. 302 – CPP: Considera-se em flagrante delito quem:
I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Art. 303 – CPP: Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a permanência.
Se um indivíduo está mantendo outro em cativeiro, este por se tratar de um crime permanente (a consumação se dá no tempo em que durar a privação da liberdade da vítima), pode ser preso em flagrante mesmo que saia do local, mas mantenha lá a vítima. 
Flagrante preparado/provocado: Verifica-se quando a autoridade policial induz/fomenta a prática do crime (“crime de ensaio”, espécie de crime impossível caracterizada pela preparação do flagrante) e, ao mesmo tempo, empreende meios para impedir a consumação. Conceito referido na súmula 145, STF e aplicável a outros casos de preparação, para além da autoridade policial. 
Daí a nomenclatura “crime de ensaio” pelo fato de ser um mero teatro. 
Súmula 145, STF: “Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”. 
 MEIO ABSOLUTAMENTE INEFICAZ para a consumação do delito objeto de imputação. Isto porque, ao mesmo tempo em que a própria autoridade policial induz a prática de execução, ela torna impossível a consumação ao preparar o flagrante. Portanto, os casos de flagrante preparado são hipóteses de crime impossível de acordo com o STF. 
De acordo com Pacceli, a preparação do flagrante não impacta no êxito da prisão. Por exemplo, se Daniela desconfia que Amanda é uma matadora de aluguel e resolve dialogar com ela. Daniela pede para que Amanda mate Matheus a partir de uma compensação financeira. Daniela, no dia em que Amanda dispara contra Matheus (mas não chega a consumar o delito – a matá-lo), prende Amanda em flagrante. Por mais que a consumação não tenha se verificado, esta poderia ter sido verificada – não se podendo afirmar que as possibilidades do agente são sempre nulas. A preparação, segundo Pacceli, não é suficiente para afastar a responsabilidade pelo cometimento de infração penal. Contudo, esse é um entendimento minoritário. 
No meio dessa seara ainda ascende um debate jurisprudencial relevante acerca da impossibilidade de configuração do crime de furto devido à presença de um sistema de monitoramento eletrônico. 
Súmula 567, STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto. 
Supondo que Leonardo, ao entrar em um supermercado, coloca uma garrafa de cerveja dentro da sua mochila e é visto pelas câmeras de segurança e, posteriormente, contido. No dia seguinte, Thiago faz a mesma coisa, entretanto não é visto cometendo o delito. Logo, é nítido que esse sistema de vigilância não é sinônimo de garantia de não prática de delitos.
Em determinadas circunstâncias/peculiaridades, a luz do caso concreto, pode ser que esse sistema de vigilância torne impossível o crime de furto. Sabemos que o sistema de vigilância do nosso país é extremamente racista e classicista. Supondo que um negro entre em determinada loja e, imediatamente, toda atenção dos seguranças e das câmeras se volte para ele. A consumação de um furto torna-se impossível diante desse cenário. 
HC 144.851: https://www.anadep.org.br/wtk/pagina/materia?id=36523
De acordo com Daniela Portugal, quando uma autoridade policial induz a prática delitiva de alguém venderuma droga, estamos diante de um crime impossível. 
Art. 33 – Lei de Drogas: Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente (...)” 
Todavia, de acordo com o STJ, tal preparação somente ocorre no que tange ao fornecimento da droga e não contempla os outros verbos que compõem o suporte fático do tipo incriminador – como, por exemplo, “ter em depósito”. 
Consideremos a seguinte situação: Se Daniela, sabendo que Beatriz vende drogas na faculdade, entra em contato com ela para uma venda no dia seguinte. No dia seguinte, com Beatriz carregando as drogas ilícitas na mochila para vender para Daniela, Daniela prende Beatriz em flagrante (flagrante preparado/provocado). 
Art. 157 – CPP: São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. 
§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. 
§ 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente.
§ 4o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão. 
Supondo que Daniela, em outra situação hipotética, torture Luca para que ele diga onde está o corpo da vítima e, em seguida, Daniela faça busca apreensão e exame pericial do corpo. Todavia, como a base da primeira prova foi ilícita – confissão mediante emprego de violência -, todas as provas subsequentes são ilícitas. 
Logo, se a preparação do flagrante para o modo vender no caso citado envolvendo Daniela e Beatriz constitui uma prova ilícita, não se pode punir o agente (Beatriz) pelo armazenamento de drogas, uma vez que tal descoberta só se deu a partir da preparação do flagrante. Assim, Daniela Portugal sustenta sua tese contrária à visão do STJ. 
3. Nexo de causalidade: 
Art. 13 – CP: O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
O nexo causal é o intermédio entre a conduta e o resultado. Só se pode imputar a uma determinada lesão corporal aquele que causou tal lesão. 
Vale relembrar a distinção entre resultado naturalístico e resultado jurídico. O resultado naturalístico pressupõe uma alteração no mundo real; já o resultado jurídico, uma lesão ou perigo de lesão a bem jurídico tutelado pela lei penal.
Portanto, não há crime que se consume sem produzir um resultado. Todo crime produz, pelo menos, um resultado jurídico. 
4. Teorias sobre o nexo causal (“o que é causa para fins penais?”):
	TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA
	TEORIA DA RELEVÂNCIA JURÍDICA (MEZGER)
	TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES CAUSAIS
	Define causa como a condição necessária e adequada a determinar a produção de um evento. A conduta é adequada quando é idônea, suficiente, a gerar o resultado.
	Define causa como a condição relevante para o resultado. Exame feito com base em juízo de valor do magistrado, englobando, inclusive, o exame do que se espera do “homem prudente”. 
Esse juízo de valor impacta em insegurança jurídica em virtude do seu caráter subjetivo.
	Também chamada de Teoria da conditio sine qua non – “condição sem a qual não”. Define causa como ação ou omissão sem os quais o resultado não teria ocorrido tal qual ocorreu. Significa dizer que todos os fatos anteriores ao resultado se equivalem ao status de “causa” desde que indispensáveis à sua ocorrência. Essa é a teoria adotada no Brasil. 
Teoria vinculada a um “juízo hipotético de eliminação” (Thryén): (I) pensar no fato que entendemos influenciador do resultado; (II) suprimir mentalmente esse fato da cadeia causal; (III) se dessa supressão o resultado se modifica, significa que o resultado suprimido deve ser considerado como causa do resultado. 
Trabalha com um conceito extremamente amplo de causa – o que conduz a um regresso ao infinito. Esse problema do regresso ao infinito passou a ser solucionado fora do estudo da relação de causalidade: 
 
De acordo com a teoria da equivalência dos antecedentes causais, o problema do regresso ao infinito é solucionado fora do estudo da relação de causalidade. 
· B: é causador, mas não agiu com dolo ou culpa. 
· O superintendente de Transalvador: é causador, mas não agiu com dolo ou culpa. 
· C: é causador e agiu como dolo eventual ou culpa, podendo, portanto, ser punido. 
OBS: A teoria da imputação objetiva oferece outras formas de resolução por resolver melhor os impasses relacionados ao nexo de causalidade em comparação com a teoria adotada pelo Código Penal brasileiro. 
Para a próxima aula: Pesquisa “Qual a diferença entre crime impossível e delito putativo?” + concausas 
AULA 07 – CONCAUSAS E TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA 
· Concausas:
Mais de um evento causal relacionado a um mesmo resultado. A grande questão é compreender até onde vai a imputação do resultado final. 
A doutrina divide as concausas em duas espécies: 
	ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES
	RELATIVAMENTE INDEPENDENTES
	São concausas que independem uma da outra, não possuindo, desse modo, um vínculo de origem;
É necessário identificar a concausa responsável pelo resultado, imputando-se a ela a consumação;
As demais concausas respondem, no máximo, à tentativa, ou seja, será imputada às demais concausas, no máximo, a tentativa;
	Concausas relacionadas entre si, possuindo um vínculo desde a origem, de modo que o resultado deriva de uma soma de esforços (conjunto);
Soma-se as concausas para imputar a todas, conjuntamente, a consumação; 
Quanto ao momento, as concausas, sejam as absolutamente independentes, sejam as relativamente independentes, podem ser: 
	
	ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES
	RELATIVAMENTE INDEPENDENTES
	PREEXISTENTES
	A atira em B com a intenção de matar. B morre, mas não em razão do tiro, e sim por envenenamento pois, coincidentemente, havia ingerido veneno minutos antes.
O veneno é uma concausa absolutamente independente, preexistente ao tiro e foi a efetiva causa mortis (o evento efetivo para a consumação);
A não pode ser considerado causador da morte de B. A responde pelo crime de tentativa de homicídio. 
	A planeja matar B. Sabendo que B é hemofílico, A desfere uma facada na perna da vítima, que morre em decorrência da hemorragia. A perícia, ao constatar a morte, afirma que o golpe não mataria uma pessoa não hemofílica. 
A, desde o começo, já sabia da hemofilia. O fato de A saber da hemofilia é crucial para essa questão. Existe uma fusão entre o tiro e o fato da vítima ser hemofílica. A responde por homicídio doloso consumado.
	CONCOMITANTES
	A e B atiram em C, sem combinar previamente entre si, com a intenção de matar. O tiro de B atinge a vítima na cabeça, causando-lhe a morte. O tiro de A lesiona, de raspão, o dedo do pé da vítima. 
O tiro de B é uma concausa absolutamente independente e concominante em relação ao tiro de A e foi a efetiva causa mortis. B responde por homicídio doloso consumado.
A atirou em C com a intenção de matá-lo e o resultado foi a morte, entretanto, o tiro de A não foi a causa da morte de C. A responde por tentativa de homicídio.
	A e B, combinam entre si, matar C, ministrando, cada um, 2mg de veneno. A perícia constata morte por envenenamento com dose mínima letal de 3mg. 
Ambos respondem por homicídio doloso consumado.
	SUPERVENIENTES
	A atira em B com o objetivo dematar. Logo em seguida, repentinamente, e com B ainda em vida, ocorre um terremoto que leva ao desabamento do prédio, causando a morte de B por traumatismo craniano. 
O terremoto foi uma mera coincidência. Ademais, foi uma concausa absolutamente independente, superveniente (posterior) e foi a efetiva causa mortis. A responde por tentativa de homicídio.
	Única hipótese na qual o legislador fez questão de expressar (art. 13, § 1º - CP*). A forma (“por si só”) pela qual é enunciada ascende um debate doutrinário. 
	
	
	ROMPEU O NEXO (“sim”)
A atira em B com a intenção de matar. B sobrevive ao tiro e é levado, em ambulância, e, a caminho do hospital, se envolve em um acidente, ocasionando a morte de todos que estavam no veículo, inclusive de B. 
B só foi parar naquela ambulância em decorrência do tiro disparado por A (existe um vínculo inegável). Ademais, é necessário saber se o acidente da ambulância rompe ou não rompe o nexo da causalidade. 
Esse caso é algo inusitado e, rompendo o nexo de causalidade, A responde pela tentativa. 
	NÃO ROMPEU (“não”)
A, com o objetivo de matar, dispara um tiro contra B. B é levado ao hospital e na tentativa de retirada do projétil, alojado em região cerebral, acaba tendo área vital atingida e morre. 
A responde por homicídio doloso consumado (responde pela regra geral). Infecções hospitalares e erros de procedimentos (a não ser que sejam grosseiros – como a não esterilização de equipamentos), consoante a jurisprudência, não rompem o nexo de causalidade.
*Art. 13 – CP: O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.  
Superveniência de causa independente  
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
Portanto, uma concausa superveniente relativamente independente poderá romper o nexo de causalidade (“quando, por si só, produziu o resultado”). 
O momento (quando rompe o nexo de causalidade) deve ser analisado a luz do caso concreto. Primeiramente, é necessário o questionamento “essa concausa rompe ou não rompe o nexo de causalidade?”. 
· Rompe o nexo: Quando se estiver diante de situações incomuns, completamente fora de um desdobramento causal normal. A concausa pré-existente imputa-se, no máximo, a tentativa, já que a superveniente rompeu o nexo. 
· Não rompe o nexo: Quando se estiver diante de desdobramentos comuns, realmente possíveis. Já que não houve ruptura, imputa-se a todas as concausas a consumação.
Essa expressão “por si só” deve ser abandonada na interpretação do Direito, a não ser em questões objetivas de vestibulares e concursos, uma vez que a compreensão de tal dispositivo normativo é distinta do que se encontra expresso. 
2. Teoria da imputação objetiva: 
A teoria da equivalência dos antecedentes causais gera um regresso ao infinito que não é resolvido no âmbito do nexo de causalidade, mas somente quando se analisa dolo e culpa. 
A teoria da imputação objetiva tem como objetivo restringir o âmbito da imputação objetiva, corrigindo os erros da teoria anteriormente citada. 
A teoria da imputação objetiva trata-se da sistematização de uma série de teorias relacionadas à imputação, normalmente se atribuindo autoria a Claus Roxin. 
Na verdade, o seu objetivo é excluir a imputação. 
O Direito Penal trabalha com o princípio da responsabilidade subjetiva, demandando a análise do elemento subjetivo na ocorrência do delito. 
Dentro dos aspectos objetivos, analisa-se o que o indivíduo causou; no plano subjetivo, analisa-se o que o indivíduo quis causar e se quis causar (dolo/culpa). A teoria da imputação objetiva não contradiz o princípio da responsabilidade subjetiva. 
Sociedade do risco: todos, ao mesmo tempo, estão criando riscos. Passa-se a compreender quais riscos são passíveis de responsabilização criminal e quais não são. Destarte, identifica-se os riscos permitidos e os riscos proibidos. Se compararmos os riscos experimentados pela sociedade pós-Revolução Industrial com os riscos experimentados pela nossa sociedade contemporânea, infere-se que a dinâmica dos riscos nos séculos passados é totalmente diferente. Quando foram criadas as indústrias, houve um grande boom de empreendedorismo de risco (o desempenho das atividades passa a ser muito mais arriscado). Era possível traçar uma linha direta e muito precisa entre causa e consequência (ex: um instrumento industrial, em um manuseio desatento, causou a morte de um operário). A nossa sociedade é uma sociedade que convive com riscos (como o uso constante do celular), daí a necessidade de criminalmente se analisar até que ponto se pode responsabilizar um indivíduo (na hipótese de um celular utilizado ininterruptamente gerou um tumor em certo indivíduo – até que ponto o criador pode responder?). 
Fala-se, nessa perspectiva, em: 
· Risco permitido;
· Risco proibido;
Trabalha-se com uma prognose póstuma objetiva, a qual analisa, a luz de um caso do presente, se no passado já se conseguia antever os riscos do uso prolongado de determinado bem (os riscos do futuro). 
3. Filtros de imputação:
De acordo com Claus Roxin, existem 30 filtros de imputação, sendo os mais importantes:
· Diminuição de risco: Não sofrerá imputação delitiva, aquele que agiu para diminuir risco maior. Supondo que uma equipe médica cortou o membro de uma vítima de um acidente de trânsito em prol de evitar que a vítima permanecesse no local com um risco iminente de explosão. Tem-se, portanto, uma ação em prol da diminuição de um risco e não há responsabilização penal. Uma pessoa que tenta evitar que outra se suicide e, neste ato, acaba provocando lesões corporais, não responderá por crime algum. 
· Risco juridicamente irrelevante: Não sofrerá imputação delitiva aquele cujo “risco” criado tenha sido juridicamente irrelevante. Esse filtro se refere às situações cujo resultado não era passível de domínio pela vontade do agente. Por exemplo, uma pessoa que compra a passagem para outra e torce para que o avião caia e este de fato vem a cair. O ato de comprar uma passagem é um risco juridicamente irrelevante (completamente fora do domínio da vontade do agente). O ato de um indivíduo preparar um “trabalho religioso” para prejudicar outro seria outra hipótese de risco juridicamente irrelevante; 
· Aumento do risco permitido: Não sofrerá imputação delitiva aquele cuja ação apenas aumentou o risco que já era, na época, permitido. Este filtro refere-se às situações em que se demonstra a inevitabilidade do resultado. Uma empresa de pincéis na Alemanha fabricava tais produtos com pelos de animais – admitindo-se uma possibilidade de infecção (risco), mas este risco é autorizado em determinadas circunstâncias. O pelo do animal tinha que passar por um processo de esterilização (colocar o pelo em uma temperatura T para depois ele seguir para a linha de montagem). Esse protocolo, entretanto, não é uma blindagem infalível, o que há, é um gerenciamento de risco. Alguns funcionários da fábrica morreram ao tocar nos produtos antes da esterilização do pelo, comprovando-se que a bactéria que matou os funcionários era proveniente dos pelos. Após perícia, foi constada a existência de uma hiperbactéria resistente à esterilização. O fabricante, destarte, conseguiu se livrar da responsabilidade penal pelo fato deste apenas aumentar o risco permitido, uma vez que a bactéria resistiria ao protocolo de segurança caso este fosse realizado (esterilização). O resultado, desse modo, seria inevitável, independentemente de se adotar ou não medida de segurança;
· Âmbito de proteção da norma: Não sofrerá imputação delitiva a situação que estiver fora do âmbito de proteção da norma. O tipo incriminador gera a incidência normativa do suporte fático. Se a situação da vida não caracteriza suporte fático de uma norma, trata-se de um indiferente penal. O debate em questão é bastante polêmico. Uma mulher queria queo marido fosse responsabilizado por furto pelo fato deste ter saído de casa com um álbum do filho (valor puramente sentimental e fora do tipo incriminador de furto). Ainda hoje, algumas pessoas defendem que prostituta não podem sofrer estupro (visto que a legislação antiga protegia somente as “mulheres honestas”). 
Pessoas com doença mental podem ou não sofrer crime contra a honra? (parece ter uma resposta óbvia, contudo, é outro debate ainda vivo na atualidade pelo fato de alguns argumentarem que o indivíduo não tem consciência de estar sofrendo tal injúria). 
Se uma vítima de delitos, como furto, se comporta de forma arriscada (como, por exemplo, esquecer uma chave dentro do veículo) também ascende debates interessantes. 
Referências:
· O preço da verdade – filme 
AULA 08 – CRIMES OMISSIVOS: OMISSÃO COMO CAUSA + INTRODUÇÃO À TIPICIDADE 
1. Os crimes omissivos: 
Os crimes omissivos se subdividem em:
	CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS (“PUROS”)
	CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS (“COMISSIVOS POR OMISSÃO”)
	Tipo omissivo conduta omissiva (há um encaixe perfeito – o próprio tipo incriminador tem como núcleo o não fazer).
Ex – Crime de omissão de socorro (art. 135 – CP); Crime de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A – CP); Crime de prevaricação (art. 319 – CP).
Art. 135, CP – Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Art. 168-A, CP – Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
Art. 319, CP: Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa
	Tipo comissivo (?) Conduta omissiva
 
O art. 13, § 2º - CP, excepcionalmente autoriza a imputação se o sujeito ativo for um garantidor que, podendo agir, omitiu-se, descumprindo o seu dever de garantidor (“omissão penalmente relevante”). 
A conduta é punida mesmo sem ter uma tipificação para ela. 
Quem é esse garantidor? (aquele que PODIA AGIR e DEVIA AGIR) 
Art. 13, § 2º, CP: A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
2. Os crimes omissivos impróprios (“comissivos por omissão”): 
DEVIA AGIR: 
· Garantidores legais: Quem tem, por lei, obrigação de cuidado, proteção e vigilância. Ex: policiais, salva-vidas, bombeiros, médicos, pais...; 
· Garantidores que assumiram responsabilidade: São também garantidores aqueles que assumiram a responsabilidade de impedir o resultado. Ex: seguranças contratados, cuidadores, babás e outros que assumiram tal responsabilidade (uma tia que cuida do sobrinho por um lapso temporal...);
· Criadores do risco: São também garantidores aqueles que, com comportamento anterior, criaram o risco de ocorrência do resultado. Por exemplo, ficou famoso o caso do filho de uma empregada doméstica que morreu, após cair do 9º andar de um prédio enquanto estava longe da mãe e com a patroa. A patroa não é garantidora legal nem assumiu responsabilidade, entretanto, criou um risco ao deixar a criança entrar no elevador sozinha. A outro título exemplificativo pode-se citar um estádio de futebol que, em uma partida, admite a entrada de 60 mil pessoas quando, na verdade, a sua capacidade é de 40 mil torcedores. Um exemplo trazido por livros, porém incomum, é o caso de A deixar a jaula de um leão aberta em um zoológico e o animal vir a matar alguém. 
PODIA AGIR: 
Princípio da razoabilidade: os garantidores têm o dever de agir ainda que a ação envolva risco pessoal. Entretanto, desaparece a posição de garante se nada pudesse ser feito. 
Ex 1: Supondo que Daniela é uma policial, entretanto, infiltrada dentro de uma organização criminosa. Essa organização criminosa pratica um ato de execução contra um civil e o crime é presenciado por Daniela. Todavia, naquele momento, Daniela estava desarmada e no meio de uma organização criminosa, o que a levou a argumentar que não podia agir naquele momento. 
Ex 2: Esse “poder agir” é bastante apreciado por médicos que se recusam a realizar procedimentos invasivos no paciente pelo fato deste estar em estado terminal. 
Ex: 3 Um bombeiro que se depara com um prédio desmoronando antes de que ele pudesse salvar alguma vítima – consiste em outro caso de impossibilidade de atuação. 
Em síntese, esse “poder agir” é, simplesmente, valor de juízo. 
3. Responsabilidade do garantidor:
· O sujeito ativo era garantidor;
· Podia e devia agir;
· Mas se omitiu injustificadamente;
Tem-se uma “omissão penalmente relevante”, ou seja, o garantidor responderá como se comissivamente tivesse causado o resultado que ele, injustificadamente, não impediu (omissão como causa; nexo de não impedimento).
Ex: Mãe deixa filha menor morrer por inanição (“de fome”), mesmo possuindo perfeitas condições de alimentá-la. A mãe responde por homicídio doloso omissivo impróprio (art. 121 c/c art. 13, §2º, CP). 
4. Questões: 
Legenda: S (salva-vidas); B1 (banhista 1); B2 (banhista 2); B3 (banhista 3).
1) S e B1 observam B2 se afogar e, podendo agir, nada fazem. B2 morre.
S é garantidor legal de B2 e, por isso, responde por homicídio doloso omissivo impróprio (art. 121 c/c 13, § 2º, CP).
B1 responde pelo crime de omissão de socorro (art. 135, CP) por ter deixado de prestar assistência a um indivíduo que estava em iminente perigo.
2) S e B1 conversam distraídos e não notam B2 se afogando. B2 morre. 
S é garantidor legal de B2 e, por isso, responde por homicídio doloso omissivo impróprio (art. 121 c/c art. 13, § 2º, CP). Ele deveria estar executando a sua função de forma atenta. 
B1 não cometeu crime algum (conduta atípica – atipicidade subjetiva). Não há dolo e, portanto, não se pode falar em omissão de socorro.
3) Partindo da situação 1, considere que B3 salva a vida de B2.
S responde pelo crime de tentativa de homicídio omissivo impróprio (art. 14, II c/c art. 13, § 2º, CP). 
B1 responde pelo crime de omissão de socorro (art. 135, CP), pelo fato de não ter prestado assistência a um indivíduo que se encontra em uma situação de perigo iminente. 
4) Na situação 2, considere que somente B1 notou o afogamento, mas não avisou S porque B1 era seu inimigo e, por isso, desejava a sua morte de B2. 
S responde pelo crime de homicídio culposo omissivo impróprio (art. 121, § 3º c/c art. 13, § 2º, CP) em virtude da ausência do dolo. 
B1 responde pelo crime de omissão de socorro (art. 135, CP), já que não solicitou auxílio de autoridade pública para tal, nesse caso específico, o salva-vidas (S). 
5. Tipicidade:
	TIPICIDADE OBJETIVA
	TIPICIDADE SUBJETIVA
	Conduta objetivamente típica é aquela correspondente aos elementos descritivos do tipo incriminador. 
Ex: X, sem perceber, pisou no celular de Y, danificando por completo o aparelho. 
Art. 163, CP – Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Constata-se um encaixe perfeito no âmbito objetivo. 
	O elemento subjetivo da conduta corresponde ao elemento subjetivo do tipo incriminador:
Tipos dolosos – só se aplicam a condutas igualmente dolosas 
Tipos culposos só se aplicam a condutas igualmente culposas
Tipos preterdolosos só se aplicam a condutas preterdolosas; 
OBS: Passamos a falar em “tipicidade subjetiva” a partir do finalismo penal (Welzel). 
Ex: X, sem perceber, pisou no celular de Y, danificando por completo o aparelho. 
Conduta subjetivamente atípica, uma vez que o art. 163, CP nos traz um tipo incriminador doloso, uma vez que a palavra “culpa” não aparece expressamente. 
Todos os tipos incriminadores são dolosos (regra-geral).O legislador precisa prever, expressamente, a conduta culposa. 
Art. 121, § 3º, CP – Se o homicídio é culposo: 
Pena – detenção, de um a três anos
6. Tipicidade formal:
A partir do finalismo (Welzel), conduta formalmente típica é aquela que corresponde, objetiva e subjetivamente, ao tipo incriminador, independente da magnitude da lesão. 
Ex: João subtraiu, uma lata de leite, avaliada em R$ 16,00, de um supermercado em sua cidade.
Furto
Art. 155, CP – Subtrair para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
Perfeita subsunção do fato à norma
7. Tipicidade material (Claus Roxin) – princípio da insignificância/bagatela: 
É aquela que lesiona, de forma significativa, um bem jurídico tutelado pelo Direito Penal.
A conduta de João de roubar uma lata de leite é atípica materialmente, para Roxin, em virtude da incidência do princípio da insignificância/bagatela, já que uma lata de leite é desprezível em comparação à dimensão do estoque do supermercado.
Doutrina e jurisprudência majoritárias hoje:
TIPICIDADE = TIPICIDADE FORMAL (subsunção objetiva/subjetiva) + TIPICIDADE MATERIAL
8. Teoria da tipicidade conglobante (Zaffaroni): 
Busca uma análise ampla de tipicidade, observando-se o ordenamento jurídico como um todo – daí a expressão “conglobante”.
Um ordenamento jurídico não pode ser contraditório - não pode classificar como “típica”, a conduta que ele próprio obriga ou estimula. 
	Crime = Fato típico, antijurídico e culpável
Ex: X, policial, prendeu Y, que estava em flagrante delito fato típico (privou Y de sua liberdade), porém lícito (doutrina tradicional) – já que o policial agiu em cumprimento de dever legal. 
	Para a Teoria da tipicidade conglobante, a conduta do policial X (exemplificada à esquerda) é atípica, pois o policial está, na verdade, realizando o que a norma jurídica manda-o fazer (ausência de tipicidade conglobante). 
 
Zaffaroni propõe um novo juízo de tipicidade. 
TIPICIDADE = TIPICIDADE FORMAL (subsunção objetiva/subjetiva) + TIPICIDADE CONGLOBANTE (tipicidade material – Roxin + antinormatividade) 
Para ser considerada típica num sentido conglobante, a conduta precisa ser antinormativa (é a conduta não estar obrigada ou estimulada em nenhum outro ramo do Direito). Destarte, o exercício regular do direito estimula as pessoas a exercerem um determinado direito. O estrito cumprimento de um dever legal, o exercício regular de um direito (vide o policial X) e qualquer outra situação estimulada são excludentes de tipicidade. 
Pesquisa para a próxima aula: Existe diferença entre antijuridicidade e antinormatividade? + lembrar que a prova permite consulta à legislação, vade mecum... 
Referências: 
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2020/06/04/interna-brasil,860958/patroa-e-presa-apos-filho-da-empregada-morrer-ao-cair-de-predio-recife.shtml 
EXTRA: PESQUISAS 1ª UNIDADE
ANTINORMATIVIDADE X ANTIJURIDICIDADE 
A verificação da tipicidade não é a análise da contradição da conduta com o ordenamento jurídico (antijuridicidade), mas a contradição da norma proibitiva, isto é, a antinormatividade.
Não se deve confundir a antinormatividade da conduta com a antijuridicidade, que é outra questão. Destarte, uma conduta pode ser antinormativa, por violar o imperativo de comportamento extraído do tipo, mas não ser antijurídica, por ter o agente atuado sob um preceito do ordenamento jurídico que autoriza a ação típica, excluindo a antijuridicidade da conduta (como agir em estado de necessidade ou em legítima defesa). 
Assim, deve ser analisado se a conduta antinormativa é também antijurídica, ou seja, é necessário analisar se existiu uma autorização dada por outro preceito para a realização da antinormatividade, isto é, da conduta típica.
	CRIME IMPOSSÍVEL
	CRIME PUTATIVO
	Ato não consumado devido à ineficácia absoluta do meio ou impropriedade absoluta do objeto;
“Muitas vezes, após a prática do fato, constata-se que o agente jamais conseguiria consumar o crime, quer pela ineficácia absoluta do meio empregado, quer pela absoluta impropriedade do objeto visado pela ação executiva” (BITTENCOURT, Cezar Roberto)
Art. 17, caput – CP; 
Não se consuma;
 
Observa-se a necessidade da ineficácia e impropriedade serem absolutas, uma vez que caso forem relativas, a conduta é punível. Exemplo: A aponta uma arma de brinquedo para B que, por conta disso, se assusta e morre;
Exemplo 1: A tentou envenenar B com um copo de água (crime impossível pela ineficácia absoluta do meio);
Exemplo 2: A encontrou B morto na rua e efetuou disparos em sua direção (impropriedade absoluta do objeto – o indivíduo já estava morto); 
	“Só existe na imaginação do agente, podendo-se afirmar que se trata de um crime subjetivo” (BITTENCOURT, Cezar Roberto); 
O indivíduo acha que sua conduta é típica, quando, na verdade, é atípica; 
Crime putativo por erro de tipo = crime impossível por absoluta impropriedade do objeto. Exemplo: Um indivíduo compra maconha, acidentalmente, achando que era açúcar; 
Não se consuma; 
Crime putativo por obra do agente provocador = crime de flagrante ou crime de ensaio (crime impossível por absoluta ineficácia do meio – súmula 145 do STF). Ex: Um indivíduo pede para outro vender-lhe droga e, quando este vem trazer a mercadoria, aquele o prende em flagrante; 
Crime putativo por erro de proibição: o agente pratica um fato achando que é lícita, quando na verdade não é. Ex: Um agente comete furto pensando que uma norma não proíbe tal conduta; 
Exemplo: Uma mulher, que acha que está grávida, toma um remédio abortivo. Ela acha que está cometendo um delito quando na verdade não está pelo fato de não existir gravidez alguma; 
https://www.youtube.com/watch?v=hMSU5L3DXwA 
https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1490798/existe-diferenca-entre-crime-impossivel-e-delito-putativo-joaquim-leitao-junior  
https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/crime-impossivel-x-delito-putativo/15968#:~:text=Para%20voc%C3%AA%20fixar%20a%20diferen%C3%A7a,e%20a%20impropriedade%20do%20objeto.
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/06/28/qual-diferenca-entre-erro-de-tipo-e-delito-putativo-por-erro-de-tipo/
BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral 
É possível em falar em tentativa nos crimes com dolo eventual?
Primeiramente, é importante termos noção do que é dolo. O conceito de crime doloso encontra-se expresso no inciso I do art. 18 do Código Penal.
Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo
Nesse sentido, podemos concluir que DOLO = VONTADE + ASSENTIMENTO/CONSENTIMENTO, o que possibilita a divisão em dolo direto (quis o resultado) e dolo eventual (assumiu o risco de produzi-lo – resultado é previsto e aceito pelo sujeito). 
Convém ainda, diferenciarmos dolo eventual e culpa consciente. De uma maneira bem simples e direta:
· No dolo eventual, “sei o que pode acontecer, mas não me importo se acontecer”;
· Na culpa consciente, “ok, pode acontecer, mas sinceramente não acredito que vá”; 
Agora, a reflexão em questão é a seguinte: é possível falar em tentativa no dolo eventual? Antes de tentarmos responder a essa pergunta, é importante relembrarmos o art. 14, II, do Código Penal, o qual considera o crime: 
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
Assim, há duas perspectivas que entram em conflito para tentar acabar com a dúvida se podemos ou não falar de tentativa no dolo eventual. 
	NÃO É POSSÍVEL
	É POSSÍVEL
	Defendido por nomes como Rogério Grecco;
Pautado na incompatibilidade gramatical e lógica, pois o art. 14, II é claro ao dizer que o crime é dito tentado quando circunstâncias alheias à vontade do agente impedem a consumação do crime cuja execução já foi iniciada (Agente: “quero prosseguir, quero alcançar determinada finalidade, mas não posso”); 
 
Comoé possível tentar algo que não se deseja (já que no dolo eventual não se tem vontade e não se deseja nada, senão se aceita o resultado)? Ora, se não há vontade, não se deve falar em tentativa; 
Defesa de uma contradição entre a disposição legal (art. 14, II) e o entendimento do STJ: “malabarismo jurídico para justificar o injustificável”; 
Se A dirige em alta velocidade e passa por 100 pessoas ao longo do trajeto e, posteriormente, colide com uma 101ª e mata-a, ora, pela lógica da admissão da tentativa em dolo eventual, teríamos que falar em 100 tentativas de homicídio? (pensamento de Grecco) 
	Aceitar o risco de uma conduta é equiparado à vontade; 
Visão majoritária e admita pelo STJ; 
REFERÊNCIAS: 
https://conccepar.grupointegrado.br/resumo/tentativa-e-dolo-eventual-entendimento-do-stj/480/1096#:~:text=A%20possibilidade%20de%20se%20admitir,do%20Supremo%20Tribunal%20de%20Justi%C3%A7a. 
https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/544811227/tentativa-em-dolo-eventual 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10638135/artigo-14-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 
AULA 09 – CRIMES DOLOSOS
1. Retomada:
Para Claus Roxin, o Direito Penal apresenta a função exclusiva de proteção de bens jurídicos (funcionalismo teleológico). 
A perspectiva de Roxin ao abordar o conceito de tipicidade material (vinculado ao princípio da insignificância/bagatela) é bastante contemplada atualmente, inclusive no âmbito dos tribunais superiores. Conceitos como atipicidade material e a aplicação do princípio da bagatela (mesmo que este não tenha previsão legal) são evidenciados nos nossos tribunais. 
A Teoria da tipicidade conglobante de Raúl Zaffaroni inova ao apontar que são excludentes de tipicidade todas aquelas condutas estimuladas pelo ordenamento jurídico. Passa a se considerar desse modo, o estrito cumprimento de um dever legal e o exercício regular de um direito como excludentes de tipicidade – para além das excludentes de tipicidade já estudadas (ato reflexo, atos inconscientes...). 
Por exemplo, se um policial prendeu outrem em flagrante, para Zaffaroni, não faz sentido afirmar que o policial em questão praticou um fato típico e lícito. Destarte, para Zaffaroni (doutrina minoritária), a conduta do policial foi atípica, uma vez que a conduta realizada é estimulada pelo ordenamento jurídico.
A legítima defesa para Zaffaroni não seria uma conduta estimulada pelo ordenamento jurídico (não se pode afirmar que é atípica), mas é uma conduta que se justifica. 
2. Teoria dos elementos negativos do tipo:
A tipicidade é formada por dois polos – um positivo e um negativo. 
O que hoje chamamos de excludentes de ilicitude, para essa teoria seriam excludentes de tipicidade.
Pensamento construído no âmbito do neokantismo, a partir da Teoria da ratio essendi antijuridicidade/ilicitude como essência da tipicidade. 
Observa-se que o neokantismo trouxe a debate a necessidade de se levar em consideração fatores valorativos na noção de tipicidade. Entretanto, essa consideração acaba sendo extrema, em virtude de inserir excludentes de ilicitude nas excludentes de tipicidade. 
O finalismo (Welzel) trabalha com a Teoria da ratio cognoscendi A tipicidade é como um indício de ilicitude/antijuridicidade. Destarte, todos os fatos típicos são, em princípio, ilícitos, a menos que se prove o contrário. Por exemplo, se A matou B, em princípio, esse “matar alguém” é ilícito, a não ser que A tenha agido em legítima defesa ou em estado de necessidade, etc. 
3. Conceito de dolo:
Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Crime doloso 
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; 
Crime culposo 
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 
Constata-se que o legislador prescreveu o dolo como regra geral, ou seja, todos os tipos incriminadores são dolosos a não ser que se refiram diretamente à culpa. Dessa forma, nem todo crime doloso tem seu correspondente culposo (ex: aborto, estupro, etc...) – ou o fato é doloso ou é atípico. 
O nosso legislador contempla duas teorias no que concerne à noção de dolo: a teoria da vontade (“quis”) e a teoria do assentimento (“ou assumiu o risco”). 
	Teoria da vontade
	Dolo = querer;
	Teoria do assentimento
	Dolo = assumir o risco (prever a possibilidade do resultado e, mesmo assim, ir adiante) – o indivíduo prevê o resultado e o aceita;
	Teoria da representação
	Dolo = prever a possibilidade do resultado – o indivíduo prevê o resultado, pouco importa se aceitou; 
O nosso Código Penal contempla as duas primeiras teorias – a Teoria da vontade (querer) e a Teoria do assentimento (assumir o risco). Dessa maneira, diferenciamos dolo eventual de culpa consciente. 
4. Elementos do dolo: 
Finalismo (Welzel): “dolo natural” (Dolus bonus) DOLO = VONTADE (elemento volitivo) + CONSCIÊNCIA DO FATO (elemento cognitivo). 
O causalismo e o neokantismo trabalhavam com o conceito de dolo normativo (Dolos mallus) DOLO = VONTADE + CONSCIÊNCIA DO FATO + CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE DESSE FATO (quero causar esse resultado, sei o que estou fazendo e sei que o que estou fazendo é ilícito). 
Caso prático: Um holandês vem para o Brasil e vê alguém fumando maconha. O holandês pede para fumar também e, nesse momento, é surpreendido por policiais. O holandês afirma que não sabia que tal ação é considerada delituosa. Ele agiu com dolo? 
· Para Welzel, sim, mas afastaria a responsabilidade penal do holandês na culpabilidade (fato típico, mas não é culpável);
· Para os neokantistas e causalistas, não, em virtude da falta de consciência da ilicitude do fato (fato típico, mas não é culpável); 
5. Espécies de dolo:
Dentre os tipos incriminadores dolosos, existem os tipos de dolo: dolo genérico (regra geral) e de dolo específico. 
	DOLO GENÉRICO
	DOLO ESPECÍFICO
	Ex: Sequestro e cárcere privado.
Art. 148 – CP: Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado:
Pena – reclusão, de um a três anos. 
Privar = vontade + consciência 
	Ex: Extorsão mediante sequestro.
Art. 159 – CP: Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena – reclusão, de oito a quinze anos. 
Sequestrar = vontade + especial fim + consciência.
Observa-se expressões textuais que marcam os crimes de dolo específico (com o fito de, com a finalidade de, para, com o objetivo de, para o fim de...).
Tipo incriminador de furto
Art 155 – CP: Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
Especial fim de agir: fim de apropriação;
“Furto de uso” (tese defensiva e aceita pelos nossos tribunais): Não havia a finalidade de apropriação, mas de usar momentaneamente e devolver em seguida. O furto de uso, portanto, trata-se de uma conduta atípica (carece de tipicidade subjetiva). 
Todavia, os tribunais não admitem a tese do “roubo de uso”. 
Ademais, o dolo pode ser classificado em: 
	DIRETO (“querer”)
	INDIRETO (“tanto faz”)
	Primeiro Grau
	Segundo Grau (“dolo necessário”)
	Eventual
	Alternativo
	O agente deseja o resultado que produziu contra quem produziu.
Ex: Quero matar x e mato x. 
	O querer existe porque o agente compreende aquele resultado como etapa necessária para alcançar o seu verdadeiro intento (objetivo). 
Ex: Quero matar x (dolo direto de 1º grau), mas para isso, preciso, também, matar y (dolo necessário). 
	O agente não quer diretamente o resultado, mas assume o risco de produzir (assentimento). 
A doutrina afirma que o sujeito prevê o resultado e o aceita (“sei que pode acontecer, mas não me importo se acontecer”). 
	Se subdivide em objetivo (alternatividade quanto ao bem jurídico – “quero matar ou lesionar x, tanto faz”) e subjetivo (alternatividade direcionada à vítima – “quero matar x ou y, tanto faz”. 
6. Dolo eventualx culpa consciente: 
	DOLO EVENTUAL
	CULPA CONSCIENTE
	O agente prevê o resultado;
O agente, ao praticar a conduta, sabe que é possível que o resultado ocorra; 
O agente prevê o resultado e o aceita;
“Sei que pode acontecer, mas não me importo que aconteça”; 
Sentimento de indiferença (“f***-se”);
	O agente prevê o resultado;
O agente, ao praticar a conduta, sabe que é possível que o resultado ocorra; 
O agente prevê o resultado e o afasta; 
“Sei que pode acontecer, mas, sinceramente, não acredito que ocorra”; 
Sentimento de superconfiança (“f***u”); 
Por exemplo, um atirador de elite, que deseja abater o criminoso, acaba atingindo a refém (vide o caso do Ônibus 174); 
Observa-se que essa superconfiança é interpretada na crença somada a fundamentos concretos que amparam essa noção de superconfiança (um atirador de elite tentando resgatar uma vítima, um motorista de ambulância realizando ultrapassagens perigosas, um atirador de facas em circos exercendo o seu trabalho); 
OBS: O caso Kátia Vargas gera polêmicas até os dias atuais. 
AULA 10 – CRIMES CULPOSOS
1. Conceito: 
Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Crime culposo 
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 
Vamos analisar, de forma mais profunda, o dispositivo anteriormente transcrito.
II - culposo, quando o agente deu causa (NEXO) ao resultado (RESULTADO) por imprudência, negligência ou imperícia (INOBSERVÂNCIA DE UM DEVER DE CUIDADO)
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei (TIPO CULPOSO: EXCEÇÃO LEGAL), ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 
Diferentemente dos crimes dolosos, para se constatar um crime culposo não se analisa a vontade do agente, mas o resultado obtido. 
O crime culposo não se limita a um crime causado sem intenção. O senso comum simplifica o crime culposo a esse raciocínio, entretanto o crime culposo precisa mais do que causar sem intenção. 
2. Elementos do crime culposo:
· Tipo culposo: exceção legal;
· Resultado: não cabe falar em tentativa de crimes culposos*;
· Nexo de causalidade: há uma relação direta entre a inobservância do cuidado e o respectivo resultado lesivo;Imprudência ou
Negligência ou
Imperícia 
· Previsibilidade (objetiva) do resultado;
· Inobservância de um dever de cuidado
3. Tipo doloso x tipo culposo:
	TIPO DOLOSO
	TIPO CULPOSO
	Tipifica-se com base no que o agente quis causar; 
	Tipifica-se com base no que o agente efetivamente causou;
Entendimento majoritário: Não admite tentativa, uma vez que se materializa através de um resultado;
OBS: Não deve ser criada uma linha direta (um raciocínio cartesiano) entre erro médico e resultado – nem sempre o erro médico implica em um crime culposo. Todavia, condutas como a não ministração de medicamentos, a não verificação do quadro vital, a demora para a efetuação de uma transferência hospitalar são situações passíveis de denúncia por crime culposo. 
4. A previsibilidade objetiva do resultado:
	PREVISIBILIDADE OBJETIVA
	PREVISIBILIDADE SUBJETIVA
	O resultado, em si, precisa ser previsível, pouco importando se havia ou não previsibilidade subjetiva;
É requisito indispensável do crime culposo; 
“Homem médio”: Não é a pessoa mais atenta do mundo, mas também não é a pessoa mais desatenta do mundo;
	Há previsibilidade subjetiva quando o agente previu que o resultado poderia acontecer;
Dispensável, pode estar presente ou não no crime culposo; 
Análise de um caso concreto: Um motorista de ônibus resolveu deixar uns passageiros no acostamento, trecho o qual permitia a velocidade de, no máximo, 40 km/h. Precisando retornar à via principal, o motorista do ônibus, obviamente, precisou acelerar. Ainda no trecho da via secundária, um ciclista, que já havia sido alertado pelos amigos a não fazer isso, atravessou repentinamente a pista com o objetivo de chegar ao outro lado. Momento em que houve a colisão no local identificado por x (o ônibus estava a 60 km/h). Os advogados consideram evitar que o motorista de ônibus fosse responsabilizado por homicídio culposo em virtude da carência de previsibilidade objetiva do resultado.
 
5. Inobservância de um dever de cuidado:
O dever aqui não se vincula a uma posição de garantidor, mas abrange todo e qualquer cidadão. 
· Imprudência (fazer): O agente faz o que não devia – ex: utilizar o celular no trânsito, avançar o sinal vermelho, ultrapassar uma faixa de pedestre, dirigir com uma velocidade acima da permitida...;
· Negligência (não fazer): O agente não faz o que deveria fazer caso fosse atento e cuidadoso – ex: não sinalizar para mudar de faixa, não checar as partilhas de freios em uma viagem, não colocar cadeirinha para as crianças, não afivelar o cinto de segurança...; 
· Imperícia: Somente se aplica o conceito de imperícia para quem é perito (pessoa com habilidades especiais para o desenvolvimento de uma determinada técnica – ex: mergulhador - não necessariamente se vincula a um diploma). O sujeito imperito é aquele que age com imperícia. A doutrina considera dois os critérios para se constatar imperícia: 
· Inaptidão momentânea para o desenvolvimento da técnica (um indivíduo que dirige com sono, um profissional de saúde no final de um plantão tem mais chances de cometer erros, etc...);
· Mal emprego/domínio da técnica (um médico recém formado que fere, acidentalmente, um paciente Esse ponto é questionado (se possui mal emprego da técnica, é realmente perito?)
6. Espécies de crime culposo:
	CRIME INCONSCIENTE
	CULPA CONSCIENTE
	Muito mais comum;
O agente não previu a possibilidade do ocorrido; 
Encontra-se ausente a previsibilidade subjetiva;
Ex: Daniela colocou uma pipoca no micro-ondas e foi tomar banho. Acabou ocorrendo um incêndio na casa;
	Culpa com previsão, ou seja, com previsibilidade subjetiva;
O agente prevê o resultado, mas acredita, sinceramente, que o resultado não vá acontecer (sentimento de superconfiança, desde que fundamentada/justificada – “sei que pode acontecer, mas, sinceramente, acredito que não vá”); 
Não se confunde com o dolo eventual, ou seja, quando o agente prevê e assume o risco (sentimento de indiferença – “não me importo que aconteça”);
	CULPA PRÓPRIA
	CULPA IMPRÓPRIA
	Sem vontade/intenção;
O agente não quis causar o resultado;
	Com vontade/intenção;
Essa vontade/intenção deriva de um erro/de uma má interpretação da realidade;
Ex: Daniela, caminhando em uma rua, avista o seu inimigo e o observa retirando um objeto metálico do bolso. Daniela, achando que seria assassinada, dispara contra o inimigo. Entretanto, o objeto no bolso do inimigo não era uma arma como Daniela imaginara, mas um celular que ele utilizaria para atender uma ligação. Logo, Daniela teve uma falsa noção da realidade e agiu com culpa imprópria (com vontade/intenção);
	CULPA TEMERÁRIA
	É a culpa gravíssima; 
Há um excesso na inobservância do dever de cuidado; 
Ex: Um veículo que cabe 5 pessoas, é ocupado por 10 pessoas durante uma corrida; 
O nosso Código Penal não especifica nenhum tipo de culpa; 
No Brasil, a obra “Culpa temerária”, da professora Selma Santana, merece destaque;
O grande debate gira em torno dos limites entre a culpa temerária e o dolo eventual; 
Para a próxima aula: Crimes preterdolosos. 
AULA 11 – TIPOS PENAIS PRETEDORLOSOS E ERRO DE TIPO 
1. Crimes qualificados pelo resultado – noções introdutórias:
São espécies do gênero “crimes qualificados pelo resultado”.
OBS: Crimes qualificados – pelos meios, pelos motivos, pelo contexto, (...) pelo resultado. 
Nesses crimes qualificados pelo resultado, o fundamento que vai justificar a qualificação do delito é, justamente, o resultado que foi produzido. Exemplos: roubo qualificado pelo resultado morte, estupro qualificado pelo resultado morte, lesão corporal qualificada pelo resultado morte. Existem tipos

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