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CADERNO 3o - DIR ADM I GEOVANE PEIXOTO

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CADERNO – 3º semestre – DIREITO ADMINISTRATIVO I/ GEOVANE PEIXOTO 
AULAS 01 E 02 – PLANEJAMENTO DA DISICIPLINA E INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
Referências:
· Curso de Direito Administrativo – Celso Antônio Bandeira de Mello/Ed: Malheiros (social-democrata);
· Curso de Direito Administrativo – Marçal Justen Filho/Ed: Revista dos tribunais (liberal); 
· Direito administrativo para céticos – Carlos Ari Sunfeld/ Ed: Malheiros; 
Tópicos a serem estudados:
AV1 (11/04/2022): 
· O que é administração pública? 
· Evolução da Administração Pública – texto do Luís Carlos Bresser Pereira 
· Governança Pública, Administração Pública e Políticas Públicas - Leandro Zannoni Apolinário de Alencar e Cristina Tolentino Barbosa;
· Direito Administrativo: conceito, evolução histórica e sedimentação no Brasil – Odete Medauar, Carlos Ari Sunfeld e Gustavo Binenbojm; 
· Regime jurídico administrativo. Redefinindo o interesse público – Alexandre Santos Aragão e Luasses Gonçalves dos Santos;
· O Direito Administrativo e seus princípios – Carlos Ari Sunfeld e Gustavo Binenbojm; 
· Princípios constitucionais da administração – Lei da Improbidade Administrativa; 
· Princípios legais do Direito Administrativo e os novos paradigmas hermenêuticos do Direito Administrativo (LINDB) – Celso Antônio Bandeira de Mello e Juliana Bonacorsi de Paiva;
AV2 (06/06/2022): 
· Poderes e deveres da Administração Pública – ênfase no poder de polícia (ex: caso do reboque de veículos) – Ricardo Marcondes Martins;
· Atos administrativos: origens e características – Odete Medauar, Floriano de Azevedo Marques Neto, Alexandre Santos de Aragão e Vitor Rhein Schirato; 
· Classificação e espécies dos atos administrativos – Marçal Justen Filho; 
· Estrutura e organização da Administração Pública – Marçal Justen Filho;
· Administração Pública direta e indireta – Marçal Justen Filho; 
OBS: As avaliações serão individuais, em sala, e que unirão teoria e prática.
OBS: É importante dar atenção aos textos de apoio disponibilizados no Ágata, uma vez que as avaliações serão baseadas neles! 
OBS: Não se encontra descartada a possibilidade de serem realizados trabalhos individuais e/ou em grupo – ocorrendo, nesse cenário, um reajuste na pontuação das avaliações fixas. 
OBS: O Direito Administrativo se vincula às outras áreas da ciência jurídica, como, por exemplo, ao Direito Penal, vide a existência dos crimes contra a Administração Pública. Destarte, trata-se de uma matéria extremamente importante. 
INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
1. Etimologia
Administração vem do latim ad (direção para, tendência) e minister (subordinação ou obediência).
2. Conceito
“Administração é um processo de planejar, organizar, dirigir e controlar o uso de recursos a fim de alcançar objetivos (...) a tarefa básica da Administração é de fazer as coisas por meio de pessoas de maneira eficiente e eficaz.” (CHIAVENATO, Idalberto) 
“A administração é o veículo pelo qual as organizações são alinhadas e conduzidas para alcançar existência em suas ações e operações para chegar ao êxito no alcance de resultados.” (CHIAVENATO, Idalberto). 
É importante determinamos qual seria esse resultado. Nesse sentido, o resultado/objetivo de empresas privadas é o lucro, o que se difere do setor público, o qual se encontra vinculado aos interesses do Estado. 
Destarte, a administração se encontra relacionada ao planejamento, à organização, à direção e ao controle em prol de um fim/objetivo de forma eficiente e eficaz. 
O caput do Art. 37 da Constituição Federal de 1988 explicita a eficiência como um dos princípios que regem a administração pública. 
Art. 37 A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, e também ao seguinte (...)
3. O Estado e o seu papel 
O Estado é compreendido pela Ciência Política (vide a doutrina de Dalmo de Abreu Dallari) como a forma de organização política constituída por quatro elementos: povo, soberania, território e finalidade. Mas qual seria a finalidade/o papel do Estado? 
“O Estado existe fundamentalmente para realizar o bem comum. Os teóricos que cuidam da análise desta finalidade do Estado desdobram-na em três vertentes: o bem-estar, a segurança e a justiça. A interdependência dos fins do Estado assume particular importância em relação à grande e última finalidade do Estado: a promoção do bem comum. O Estado, nesse sentido, enquanto forma de organização política por excelência da sociedade, pode ser aceito como o espaço natural de desenvolvimento do poder político.” (Administração pública: foco nas instituições e ações governamentais / José Matias-Pereira. – 5. ed. rev. e atual. – São Paulo: Atlas, 2018.)
A administração pública, embora tenha uma dimensão tecnocrata (jurídico-legal), também possui uma dimensão política, uma vez que esta influencia, significativamente, a administração pública, constituindo uma atitude ingênua negligenciar esse fato. 
OBS: Foi somente no século XIX, na França, que se passou a responsabilizar o Estado - a partir do caso marcante envolvendo Agnès Blanco. Recordando... em 1871, a garota Agnès Blanco, de apenas cinco anos, foi atropelada por um vagão da Companhia Nacional da Manufatura do Tabaco, uma empresa pública, em Bordéus (FRA). 
4. A administração pública
“No estudo da Administração Pública, o objetivo final é melhorar as práticas administrativas do governo, para, assim, melhor servir aos interesses públicos, aos ideais e às necessidades do povo.” (AMATO, Pedro Muñoz, 1954). 
Observa-se, portanto, o uso da expressão “interesses públicos” em virtude de se levar em consideração o seu caráter plural. 
(i) Administração pública são a organização e a gerência de homens e materiais para a consecução dos propósitos de um governo; (ii) Administração pública são a arte e a ciência das gerências aplicadas aos negócios de Estado.” (WALDO, Dwight, 1971) 
A Administração Pública, para De Plácido e Silva (2000), em seu sentido amplo, é uma das manifestações do Poder Público na gestão ou execução de atos ou de negócios políticos. Isto se daria de forma tal que a Administração Pública se confundiria com a própria função política do poder público, expressando um sentido de governo que se entrelaçaria com o da Administração. 
Neste conceito anterior, é posta em análise um dos principais desafios da administração pública. 
OBS: Um dos tópicos mais complexos desse semestre é a discricionariedade, a liberdade de ação administrativa, ou seja, o estudo acerca de quais são os limites da atuação estatal. 
“(...) a Administração Pública, num sentido amplo, designa o conjunto de serviços e entidades incumbidos de concretizar as atividades administrativas, ou seja, da execução das decisões políticas e legislativas. Assim, a Administração Pública tem como propósito a gestão de bens e interesses qualificados da comunidade no âmbito dos três níveis de governo: federal, estadual ou municipal, segundo preceitos de Direito e da Moral, visando o bem comum.” (Administração pública: foco nas instituições e ações governamentais / José Matias-Pereira. – 5. ed. rev. e atual. – São Paulo: Atlas, 2018). 
Aqui, a moral se encontra vinculada à esfera política e novamente é afirmado o objetivo do Estado de garantir o bem comum. 
Pode-se incluir, ainda, um quarto nível: o Distrito Federal.
Muitos manuais, entretanto, falham ao seguir o modelo tradicional e, consequentemente, atribuir um caráter singular (homogêneo) aos interesses públicos – o que não procede. Quando se trabalha com o Direito Administrativo, deve-se, portanto, levar em consideração a pluralidade dos interesses voltados para o bem comum, isto é, dos interesses públicos. 
5. Atos de gestão dos serviços públicos x decisões políticas sempre permeadas pelos interesses econômicos em uma sociedade capitalista:
A complexidade dessa pluralidade de interesses anteriormente mencionada gera uma complexidade que torna mais difícil aindaa ação estatal (a ação da Administração Pública) no que tange à harmonia entre os interesses de particulares e coletivos. 
A Administração Pública, portanto, requer uma inter-relação entre: o político, o moral, o social, o econômico e o jurídico. 
De acordo com a Escola de Chicago, em eventuais ocasiões, o Direito deve ser colocado em segundo plano em busca de se tomar decisões pautadas, sobretudo, no economicamente viável (Law in economics - análise econômica do direito). Richard Posner trata-se de um jurista que caminha nessa direção – autor de Para Além do Direito. 
A título exemplificativo, no que tange a essa interpelação entre o Direito e Economia, pode-se citar o caso da jurisdição do fornecimento de medicamentos à população, que coloca em conflito duas vertentes de pensamento: a teoria da reserva do possível e a máxima efetividade dos direitos fundamentais. Nesse sentido, os adeptos da primeira corrente de pensamento defendem a importância de priorizar a gestão financeira dos recursos estatais (compreendendo-se, portanto, que os recursos financeiros públicos são limitados); já os adeptos da segunda perspectiva sustentam a necessidade de, acima de tudo, efetivar ao máximo os direitos fundamentais previstos constitucionalmente. Essa problemática foi contemplada ao longo da disciplina “Direitos Fundamentais” através do trabalhado vinculado às insulinas análogas no 2º semestre. 
A ponderação de bens e interesses deve ocorrer a partir da análise de um caso concreto – não existindo, portanto, uma regra pré-estabelecida acerca do que prevalece (não há uma imposição: os interesses públicos devem prevalecer ou os privados devem prevalecer). 
6. A Administração Pública e o papel do Estado:
A realização dos direitos sociais, na concepção de Marshall (1992), depende de um Estado dotado de infraestrutura administrativa a fim de propiciar políticas sociais que garantam o acesso universal a um mínimo de bem-estar e segurança material.
Marshall aponta a evolução de instituições que contribuíram para o surgimento dos direitos, quais sejam:
· Tribunais: para garantir os direitos civis e proteção dos membros do Estado-nação em geral;
· Instâncias representativas locais e nacionais: para garantir o acesso à participação na legislação e tomada de decisões políticas (o incremento do modelo democrático – falha na prática);
· Serviços sociais/políticas de Estado: para garantir a proteção contra a pobreza, doença e, ainda, escolas para o cidadão receber pelo menos os elementos básicos de uma educação. 
Art. 193 da CF/88. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. 
Art. 170 da CF/88. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observando os seguintes princípios: 
A Constituição não está morta, porém deve-se ressaltar a quantidade de mudanças já ocorridas ao longo desses 33 anos de vigência visando à adequação às transformações das relações sociais (vide, por exemplo, a modificação inerente ao conceito de família – presente, principalmente, nos capítulos destinados aos direitos sociais). Nesse momento há uma busca muito mais pela resistência dos direitos fundamentais em torno da dignidade da pessoa humana. Luiz Carlos Bresser Pereira, ministro da fazenda do governo FHC, no seu texto sobre a reforma da Administração Pública, tece duras críticas em relação ao Estado de bem-estar social e o papel intervencionista em demasia do Estado.
Tendo como base o texto de Bresser Pereira, podemos fragmentar a trajetória da Administração Pública brasileira em quatro períodos: 
· 1º momento: atrelado ao fim do Império e o início de um período republicano, transição caracterizada por um golpe e uma extrema desordem; 
· 2º momento: golpe de Getúlio Vargas e a instalação de uma administração burocrática. Com o fim do governo Vargas, há uma nova desorganização/crise, uma falta de perspectiva do Brasil. Ocorre, portanto, um novo golpe; 
· 3º momento: Estado mais próximo de uma tecnocracia do que aspectos burocráticos, tendo destaque para o Decreto-Lei 200/67;
· 4º momento: Redemocratização do país pós-Ditadura Militar e uma “volta ao passado” através da instalação de uma administração burocrática. No governo FHC, é proposta uma reforma administrativa que mescle aspectos burocráticos e gerenciais, pautada em modificações em três esferas – dimensão institucional-legal (modificação das leis e da Constituição); dimensão cultural (objetivo de sepultar de vez o patrimonialismo); e uma dimensão-gestão (oferecer à sociedade um serviço público efetivamente mais barato, mais controlado e mais qualificado); 
A Constituição Federal, através de seu caráter dirigente/programático, proporciona aos direitos o ganho, cada vez mais, de uma conotação coletiva. No que tange ao direito de saúde, este se encontra vinculado à saúde pública – evidente na campanha nacional de vacinação contra a covid-19. A vacinação contra a covid-19 não é obrigatória/compulsória, mas, conforme ratificado em decisão do STF em 18/02/2022, universidades e demais entidades podem exigir o certificado de vacinação para o ingresso, uma vez se tratar de uma questão de saúde pública (medida constitucional). 
7. Distinção entre funções de Estado e funções de Governo:
A Administração Pública é detentora de mecanismos próprios para o cumprimento de funções de Estado que estão pautadas em lei e o controle das leis é feito dentro de uma lógica democrática. 
“Os princípios e fundamentos do Estado contemplados pela Constituição Federal são bastante distintos dos objetivos de Governo. Isso está evidenciado, por exemplo, nos arts. 1º, 3º e 170 da CF. Quanto aos principais dispositivos constitucionais que envolvem as políticas de Estado, podemos citar o art. 194, ao tratar a seguridade social como um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos; o art. 196, que estabelece a promoção de políticas de saúde como dever do Estado; o art. 205, que define a promoção do direito à Educação como um dever do Estado; o art. 217, no qual o fomento ao desporto é definido como uma política de Estado. 
Nesse sentido, quem elabora pautas políticas são os poderes públicos. O Estado tem instituições que, apoiadas no princípio republicano, deverão obedecer à Constituição, à Lei e às políticas públicas. Registre-se que as políticas de Governo devem ser estabelecidas no ambiente institucional para que possam ser implementadas sem sobressaltos ou restituições.” (Administração pública: foco nas instituições e ações governamentais/ José Matias-Pereira – 5. ed. rev. e atual – São Paulo: Atlas, 2018) 
As decisões de governo não permitem ações pautadas no patrimonialismo, clientelismo, privilégios, sobressaltos ou restituições. 
Nem tudo são decisões de fins executivos pautadas na constituição, na lei e nas políticas públicas. 
Um gestor, realizando decisões de governo, não pode colocar em risco a estrutura do Estado. Para se bloquear uma decisão de governo, é fundamental a demonstração e o detalhamento dos fatores que colocam em risco o Estado. 
Durante a pandemia, foram tomadas diversas ações de governo, uma vez que se tornou necessária uma luta mundial de combate ao vírus, gabinetes de crise para se discutir medidas sanitárias, negociações internacionais em prol da compra de vacinas, etc. 
8. Síntese sobre a Administração Pública e o seu estudo:
I – a temática da Administração Pública situa-se no campo da reflexão interdisciplinar que busca investigar a relação entre o poder político, o poder econômico e o poder social, instâncias paralelas de mando que, em geral, cristalizam-se em sínteses instáveis (MATIAS-PREREIRA, 2016a);
II – Nesse contexto, é preciso abordar e debater alguns temas sensíveis no mundo contemporâneo: a) os aspectos que envolvem as crescentes demandas dos cidadãos por serviços públicos de qualidade; b) a transparência e controle; c) a amplificação da participação social; d) as interfaces dasquestões socioeconômico-ambientais que estão afetas ao interesse da coletividade; e) os mecanismos de prevenção e controle da probidade e corrupção; e outros. 
III – Diante deste quadro, a complexidade e a amplitude dos temas abordados no conteúdo do componente curricular exigem uma análise mais aprofundada dos sistemas político, social e econômico, bem como das suas interações e dinâmicas. 
Assim, partiremos do pressuposto de que esses sistemas interagem de forma permanente, e que nenhum deles funciona de forma independente, ou seja, as estruturas constitutivas de cada um interferem na forma de funcionamento dos demais. Os temas que serão debatidos estão baseados em diversas áreas do conhecimento, em especial na Ciência Política, na Administração Pública, na Economia, na Sociologia e no Direito; numa perspectiva interdisciplinar. 
É entender como o avanço democrático de metas públicas amplas está ligado à administração democrática destas organizações e às aspirações pessoais daqueles que trabalham nelas. Constitui meta deste curso, portanto, debater o necessário aprimoramento e implementação de mecanismos para uma Administração Pública Democrática. 
9. Principais desafios da Administração Pública:
“(...) em muitas arenas políticas nem governo nem mercados conseguem dar conta plenamente dos problemas que a sociedade enfrenta hoje. Nem o controle top-down* associado à hierarquia governamental nem a relativa anarquia associada aos mercados proporcionam um modelo adequado para a solução dos complexos problemas atuais. Como assinalam Sorensen e Torfing (2006), a sociedade atual está marcada por uma crescente fragmentação em subgrupos relativamente autônomos, por uma complexidade na natureza dos problemas públicos e por uma nova dinâmica societária criada, em parte, por uma multiplicação e interconexão de horizontes de ação espaciais e temporais e, em parte, por uma imprecisão e contestação das fronteiras entre as instituições, setores e níveis regulatórios (p. 5).” (Teorias da administração pública / Robert B. Denhardt e Thomas J. Catlaw ; tradução: Noveritis do Brasil ; revisão técnica: Luiz Fernando Abrucio. – 2. ed. – São Paulo, SP : Cengage Learning, 2017, p. 292)
OBS: A metodologia top down é um processo sistemático que se baseia na decomposição de um todo para poder entender os seus subsistemas e componentes.
10. Distinção teleológica da administração: 
O objetivo central da Administração Pública não é a geração de lucro, o atendimento dos fins sociais se sobrepõe, o que não deve ser entendido com a admissibilidade de uma administração ineficiente e desequilibrada. 
Para a próxima aula: 
Ler os textos do Bresser Pereira e do Leandro Zanoni. 
AULA 03 – TEXTO DO LUÍS CARLOS BRESSER PEREIRA 
1. Contextualização do governo FHC: 
O governo FHC marcou significativamente a história brasileira, sobretudo, no que tange ao âmbito social.
O período anterior ao governo FHC foi marcado por uma inflação inercial severa, agravada pelo fracasso dos planos econômicos passados. 
O Plano Real, implementado durante o governo Itamar Franco, solucionou a crise econômica que o país vivia. Entretanto, era necessário se pensar em como acabar uma outra crise, esta muito mais severa: a crise de Estado. 
Na década de 1990, com a queda do Muro de Berlim e a posterior fragmentação da União Soviética, não se falava mais em países desenvolvidos e subdesenvolvidos, mas de países capitalistas centrais e países capitalistas periféricos – tendo em vista o colapso do Socialismo (a Rússia, na década de 1990, já não era mais socialista e sim capitalista de estado). 
A partir desse momento, houve um debate acerca da adesão ou não do Brasil à reforma da administração pública discutida pelos países capitalistas centrais. 
FHC promoveu reforma tributária e previdenciária (porém não chegou a concluí-las – somente no governo Lula). 
Bresser - Ministro da Administração Federal e da Reforma do Estado do governo FHC - propôs o MARE (Modelo administrativo e reforma do Estado)– a transição da Administração Pública burocrática à gerencial. 
2. A evolução histórica da Administração Pública brasileira: 
Na época do Império, em virtude do forte caráter centralizador do poder, não era possível falar tanto em uma Administração Pública. O poder moderador, carregado de uma conotação autoritária, possibilitava a concentração de fortes privilégios nas mãos do imperador e, por conseguinte, marcou a consolidação de uma trinca: patrimonialismo, fisiologismo e clientelismo. Essa desorganização do modelo imperial permanece com a 1ª República até o Governo Vargas. 
Getúlio Vargas – que assumiu o poder através de um golpe de Estado em 1930 – promove a primeira grande reforma/alteração da Administração Pública brasileira. A administração burocrática varguista foi pautada em uma lógica centralizadora, hierárquica, de disciplina e no legalismo das corporações militares. Essa administração burocrática foi extremamente tecnocrática com o fito de impedir a influência de fatores políticos no seu exercício. Em alguma medida a administração burocrática tem uma preocupação válida pois é necessária uma procedimentalização de legalidade (a obediência a uma série de procedimentos legais) das ações da Administração Pública, proporcionando uma maior segurança jurídica (nada é feito sem um parecer jurídico). 
Gera-se, nesse sentido, uma relação da dependência entre a administração pública e a legalidade, o que, embora traga segurança jurídica e tenha a sua importância, é também prejudicial devido à insuficiência dos dispositivos normativo-legais no que concerne a acompanhar os fenômenos da dinâmica célere da sociedade (o legislador não é dotado de extrema perfeição ao ponto de conseguir prever e dar conta de todas as questões sociais). Evidencia-se, cada vez mais, a importância de uma administração pública mais flexível e menos burocrática. 
Os princípios são utilizados nessa flexibilização a fim de se suprir as lacunas normativo-legais no que tange à Administração Pública. Em 2018, com Lei 13.655 que alterou a LINDB, foi acrescido o Art. 20 na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: “Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos, sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão”. A flexibilização gerada pelo principiologismo já obteve resposta. 
Com a Teoria dos princípios, cada vez mais, passa a se questionar o modelo de administração pública burocrática dando lugar a uma administração pública gerencial.
3. A administração pública gerencial: 
A Administração Pública gerencial é pautada na eficiência – incluída como um dos princípios que rege a Administração Pública através da EC 19/98 no caput do art. 37 da CF/88.
Art. 37 – CF: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Há a busca, nesse sentido, de tornar a Administração Pública mais eficiente a partir do desapego às bases de uma administração burocrática, tecnocrática e legalista – sobretudo com foco no conceito de eficiência econômica (aqui ascende debates como o conflito entre a máxima efetivação dos direitos fundamentais e a teoria da reserva do possível no que concerne à execução de políticas públicas – já trabalhado na disciplina “Direitos Fundamentais”). 
O modelo gerencial implementado no Brasil basicamente representou uma cópia do modelo de gestão administrativa dos Estados Unidos, carecendo, destarte, de um maior aprofundamento. 
OBS: Vitaliciedade x estabilidade – os cargos vitalícios (garantidos apenas com base na CF) somente admitem afastamento mediante processo judicial, enquanto que os cargos estáveis admitem, além dos via processo judicial, afastamentos mediante processo administrativo disciplinar. 
O modelo gerencial é pautadoem uma menor hierarquia, estabelecendo agências regulatórias capazes de realizar a Administração Pública sem interferência política. 
Dentro do modelo privado, passa-se a defender o modelo de governança.
Soluções mais ágeis, eficientes e aceitáveis são exigidas, além do pleito por instrumentos mais inteligentes. A governança aponta um caminho: um bom governo exige a aquiescência das pessoas por meio de formas menos autoritárias, hierarquizadas e formalizadas, que ofereçam mais legitimidade e eficácia, além de impor mais responsabilidade aos atores, com partilha de encargos e exigência de coerência nas ações (ARAGÃO, 2005).
O modelo clássico de atividade pública, sob a forma de decisão de cima para baixo, limita as possibilidades de ação. Pode atrapalhar a governabilidade na sociedade em rede, que demanda maior coordenação entre os diferentes atores e sistemas. A Administração Pública deve promover a boa relação entre os atores públicos e privados. É importante que exista uma relação mutuamente reforçável entre eles. Cidadãos, empresários, grupos sociais e Estado não devem ser colocados em jogos de soma zero (ZANNONI, 2018).
Em síntese, busca-se compreender a complexidade da rede envolvendo todos os agentes sociais (os interesses privados e os interesses públicos). Trata-se, desse modo, de uma tarefa bastante difícil. Porém, o modelo gerencial tem se mostrado mais próximo da nossa realidade em comparação com o modelo burocrático - que já demonstrou a sua ineficiência. 
	ADMINISTRAÇÃO BUROCRÁTICA
	ADMINISTRAÇÃO GERENCIAL
	· ARCAICA; 
· BUROCRÁTICA AO EXTREMO;
· CENTRALIZADA; 
· HIERÁRQUICA; 
· RÍGIDA; 
· PRIORIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DIRETA EM DETRIMENTO DA INDIRETA; 
· INEFICIENTE; 
· POUCO QUALIFICADA;
· FORTE TENDÊNCIA DE MANUTENÇÃO E/OU CRIAÇÃO DE PRIVILÉGIOS (COORPORATIVISMO;) 
· ESTADO EXECUTOR DE RECURSOS; 
· DIFICULTA O EMPREGUISMO PÚBLICO;
	· VIVENCIADA NO BRASIL PELA PRIMEIRA VEZ COM O DECRETO-LEI 200/67;
· MODERNA; 
· MENOS BUROCRÁTICA;
· PAUTADA NA DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA;
· PEQUENA QUANTIDADE DE NÍVEIS HIERÁRQUICOS;
· MAIS EFICIENTE;
· BASTANTE QUALIFICADA;
· PRIORIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO INDIRETA (AUTONOMIA DAS AGÊNCIAS E DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS);
· ESTADO TRANSFERIDOR DE RECURSOS;
· CONTROLE POR RESULTADOS;
· ADMINISTRAÇÃO VOLTADA PARA O ATENDIMENTO AO CIDADÃO;
4. A reforma administrativa do governo FHC: 
· Dimensão institucional-legal: modificação das leis e da Constituição Federal;
· Dimensão cultural: sepultamento, de vez, do patrimonialismo (estabelecimento de fronteiras claras entre o público e o privado); 
· Dimensão-gestão: oferecimento à sociedade um serviço público efetivamente mais barato, mais controlado e mais qualificado; 
GOVERNANÇA PÚBLICA:
1. Definição legal:
Decreto Nº 9.203/2017 
Art. 2º - I
Governança pública: conjunto de mecanismos de liderança, estratégia e controle postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a gestão, com vistas à condução de políticas públicas e à prestação de serviços de interesse da sociedade. 
De acordo com Geovane Peixoto, pode-se incluir “decisão” no conceito anteriormente apresentado. 
Cabe ao gestor público decidir em que será investido para evitar decisões que possam colocar em risco os recursos estatais, uma vez que o Estado se encontra incluído na cadeira econômica e não fora desta. 
2. Princípios regentes da governança pública (art. 3º do Decreto Nº 9.203/2017): 
· Capacidade de resposta: representa a competência de uma instituição pública de atender de forma eficiente e eficaz às necessidades dos cidadãos, inclusive antevendo interesses e antecipando aspirações (antecipar problemas – o que, muitas vezes, é possível);
· Integridade: tradicionalmente representa a busca pela prevenção da corrupção e pelo fortalecimento dos padrões morais de conduta (a corrupção se encontra enraizada na cultura da sociedade, o que evidencia a necessidade de se priorizar, cada vez mais, medidas preventivas a punitivas);
· Confiabilidade: representa a capacidade das instituições de minimizar as incertezas para os cidadãos nos ambientes econômico, social e político. Por isso, uma instituição confiável tem que se manter o mais fiel possível aos objetivos e diretrizes previamente definidos, passar segurança à sociedade em relação à sua atuação e, por fim, manter ações consistentes com a sua missão institucional (identifica as incertezas e busca ações com maior confiabilidade);
· Melhoria regulatória: representa o desenvolvimento e a avaliação de políticas e de atos normativos em um processo transparente, baseado em evidências e orientado pela visão de cidadãos e partes diretamente interessadas. Não se restringe, portanto, à regulação econômica de setores específicos realizada pelas agências reguladoras (não somente a melhoria da condição de marcos normativos, mas também uma maior democratização da administração pública, admitindo a participação popular e ampliando a capacidade de comunicação dos gestores com a sociedade); 
Art. 174 – CF: Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
· Prestação de contas e responsabilidade (no inglês, accountability): representa a vinculação necessária, notadamente na administração de recursos públicos, entre decisões, condutas e competências e seus respectivos responsáveis. Trata-se de manter uma linha clara e objetiva entre as justificativas e os resultados da atuação administrativa, de um lado, e os agentes públicos que dela tomarem parte, de outro (há, assim, dois aspectos – endógeno [controle interno da Administração Pública] e exógeno [controle externo da Administração Pública] positivados constitucionalmente); 
Art. 74 – CF: Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de: 
Art. 71 – CF: O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
· Transparência: representa o compromisso da administração pública com a divulgação das suas atividades, prestando informações confiáveis, relevantes e tempestivas à sociedade. Inserida em um conjunto de princípios centrais que orienta a atividade pública, a transparência é um dos pilares para a construção de um governo aberto (open government). 
“Governo aberto é uma cultura de governança centrada no cidadão que utiliza ferramentas, políticas e práticas inovadoras e sustentáveis para promover transparência, capacidade de resposta e responsabilização do governo, de forma a incentivar a participação das partes interessadas no apoio à democracia e ao crescimento inclusivo” (OCDE, 2017d, tradução nossa).” 
Resgatando novamente o caput do art. 37 da Constituição Federal, infere-se que a publicidade – um dos princípios que rege a administração pública – corresponde, justamente, a essa transparência. 
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
3. Diretrizes da governança pública:
· Editar e revisar atos normativos, pautando-se pelas boas práticas regulatórias e pela legitimidade, estabilidade e coerência do ordenamento jurídico e realizando consultas públicas sempre que conveniente; 
· Definir formalmente as funções, as competências e as responsabilidades das estruturas e dos arranjos institucionais; e 
· Promover a comunicação aberta, voluntária e transparente das atividades e dos resultados da organização, de maneira a fortalecer o acesso público à informação; 
4. Mecanismos de governança pública (art. 5º do Decreto Nº 9.203/2017): 
I – liderança, que compreende conjunto de práticas de natureza humana ou comportamental exercidanos principais cargos das organizações, para assegurar a existência das condições mínimas para o exercício da boa governança, quais sejam:
a) Integridade;
b) Competência;
c) Responsabilidade; e 
d) Motivação; 
Cada servidor público, desse modo, deve entender o seu papel e compreender onde atuar (a sua competência). Em síntese, somente deve realizar aquilo que lhe compete. 
II – estratégia, que compreende a definição de diretrizes, objetivos, planos e ações, além de critérios de priorização e alinhamento entre organizações e partes interessadas, para que os serviços e produtos de responsabilidade da organização alcancem o resultado pretendido; e 
III – controle, que compreende processos estruturados para mitigar os possíveis riscos com vistas ao alcance dos objetivos institucionais e para garantir a execução ordenada, ética, econômica, eficiente e eficaz das atividades da organização, com preservação da legalidade e da economicidade no dispêndio de recursos públicos. 
5. Desafios para a governança pública:
1) Corrupção: Talvez o problema crucial na governança seja a disjunção entre interesses privados e públicos. Indivíduos do setor público têm suas próprias preocupações e interesses – econômicos ou não – e podem persegui-los por meio de sua posição no setor público. A manifestação óbvia desse interesse próprio é a corrupção. Quando os indivíduos utilizam uma posição neste setor para ganhos pessoais, eles solapam qualquer conceito significativo de interesse público e desviam fundos e esforços para longe de objetivos públicos;
2) Ausência de um quadro pessoal adequado: Outra barreira potencial para a governança é a ausência de um quadro de pessoal adequado. Os servidores públicos são talvez o maior recurso de um governo, mas eles precisam ser treinados para a tarefa, recompensados adequadamente e supervisionados de forma eficaz. Isso nem sempre ocorre e a boa governança requer a formação de servidores educados, treinados e motivados para atuar no serviço público. Carreiras qualificadas são essenciais na prestação de serviços públicos, mas estes também podem ser aprimorados por pessoas nomeadas, sem vínculo efetivo com a administração pública (estes podem contribuir mas não devem ser maioria), para atividades de curto prazo para as quais são selecionadas por suas habilidades – e não apenas por suas filiações políticas.
3) Falhas na coordenação: são uma fonte de disfunção no fornecimento de boa governança. O setor público é um conjunto complexo de organizações e programas, e tem interações igualmente complexas com o setor privado. A estrutura do governo geralmente mantém os programas isolados uns dos outros, de modo que tê-los trabalhando juntos em nome dos cidadãos pode ser um desafio. No entanto, para que o setor público trabalhe efetivamente, é preciso dar mais atenção à coerência da ação pública e à garantia de que os cidadãos recebam bons programas sem sobreposições e sem lacunas. 
Referências:
· Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de Hollanda; 
· Requim para um sonho americano – Documentário; 
· O novo direito administrativo e governança pública – Leandro Zannoni; 
· Da administração pública burocrática à gerencial – Bresser Pereira; 
AULA 04 – POLÍTICAS PÚBLICAS E INTRODUÇÃO AO DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Conceito:
Políticas públicas são ações coordenadas do governo na implementação de direitos. Sai-se, assim, do campo abstrato para concretizar direitos no âmbito social. Em outras palavras, políticas públicas são ações estatais ou praticadas em nome do Estado (como através das “ONG’S” – termo não jurídico) que têm como finalidade a concretização de direitos sociais e econômicos.
Se tivemos a oportunidade de nos vacinarmos contra a covid-19, significa que houve a definição de uma política pública para isso. Também pode ser evidenciada a eficácia das políticas públicas no que tange ao Bolsa Família e ao Auxílio Brasil – que buscam auxiliar às famílias mais desfavorecidas economicamente.
Não são ações aleatórias. São ações projetadas e coordenadas dentro de um padrão de racionalidade, tendo-se de antemão, consciência do que será feito.
2. Etapas: 
· Elaboração: A política pública é pensada e entabulada (fase do estabelecimento de informações como: o que é, quais os objetivos, como será...). Vale ressaltar que pensar em fazer uma política pública não se trata de uma decisão jurídica, mas política;
· Implementação: Para se pensar em como fazer, é necessário compreender quais os recursos (institucionais, humanos, materiais e financeiros) necessários para realizar a política pública. Vale ressaltar que, no que tange ao aspecto financeiro, o sistema financeiro público é estabelecido por um conjunto de leis: PPA (Plano Plurianual), LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e LOA (Lei Orçamentária Anual) – existindo matérias no curso específicas para tratar sobre tal temática – Direito Financeiro, Direito Tributário I e Direito Tributário II; 
· Execução: Transformação do projeto em realidade na concepção das funções estatais (o Estado agindo). Não significa o final, uma vez que há uma importante fase na sequência (embora seja negligenciada);
· Avaliação das políticas públicas/verificação dos resultados: Fase negligenciada, porém de extrema importância. Há, nesse período, uma análise pragmática de todo o ciclo da política pública por meio de determinados métodos (se houve superfaturamento, se a politica pública teve eficácia, etc.). Essa etapa é negligenciada muito em virtude da influência política nesse âmbito, uma vez que os políticos somente manifestam interesse em avaliar as políticas públicas da sua gestão quando é para enaltecê-las (e não, obviamente, para apontar políticas públicas defeituosas); 
Essa última etapa permite a compreensão da eficácia, caso existente, da política pública – que pode ser linear (o que é bastante raro) ou circular. A seguir, tem-se as hipóteses de resultados da avaliação de políticas públicas: 
I – A política pública não vai ser renovada pois é defeituosa em sua integralidade (não tem eficácia); 
II – A política pública vai ser renovada porque atendeu a todas às suas finalidades (eficácia linear); 
III – Caso mais comum, em que alguns aspectos da política pública defeituosos são aprimorados para atingir, de maneira mais significativa, às finalidades pretendidas (eficácia circular); 
A eficácia das políticas públicas tende, portanto, a ser circular (a partir da avaliação é possível constatar o que presta e o que não presta, retroalimentando a política pública através dos reparos necessários para a obtenção de melhores resultados).
Toda política pública deve ter um sistema de controle interno (exercido pelos três poderes) e externo (exercido pelo Congresso Nacional em parceria com o Tribunal de Contas da União) que avalie todas as suas fases. 
O Poder Executivo é aquele que concentra a maior parte das atividades estatais que caracterizam a atuação da Administração Pública, mas não está restrito tão somente a este – vide o art. 37, caput – CF. 
Art. 37 – CF: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: 
O Poder Executivo passa a compreender os recursos institucionais das políticas públicas através da organização dos seus ministérios (podendo o número de ministérios variar a depender da maior ou menor acumulação de funções de execução – entra a questão organizacional – e prioridades na agenda de cada governo). 
A execução de políticas públicas deve, também, ter colaboração dos setores privados (OS – Organizações Sociais, OSCIP – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público ou OSC – Organizações da Sociedade Civil). São estas, portanto, entidades privadas sem fins lucrativos, que ocupam o terceiro setor (terceirização) e que executam políticas públicas. 
Observa-se que o termo “ONG’s” não é empregado na comunidade jurídica e sim as outras três nomenclaturascitadas anteriormente (OS, OSCIP e OSC). 
O REDA (Regime Especial da Administração Pública) permite a ocupação de cargos públicos, por tempo determinado, sem a necessidade de concursos públicos (a maioria dos servidores públicos são concursados). Durante os governos FHC, Lula e Dilma, o setor da educação constituiu no que mais contratou mão-de-obra terceirizada (muito em virtude da democratização do ensino superior por meio de programas sociais e do aumento da demanda – como, por exemplo, a avaliação de cursos do ensino superior, a emissão de diplomas de instituições privadas, etc.). 
3. A origem do Direito Administrativo: 
A doutrina europeia majoritária considera como o momento do surgimento do Direito Administrativo a publicação de uma lei estruturando a Administração Pública francesa que foi editada no dia 17 de fevereiro de 1800 (início do século XIX). 
Há críticas a essa concepção ao se questionar a negligência com as leis e as formas de Estado anteriores a 1800. Entretanto, nomes como Odete Medauar respondem, de maneira brilhante, a tais indagações. 
De acordo com Odete Medauar, não é necessário um rompimento para o nascimento de algo novo. Destarte, é possível afirmar a existência de três diferentes Estados ao longo da história: o Estado patrimonial (Idade Média – confusão entre os bens públicos e os do monarca), Estado de Polícia (Idade Moderna – apogeu das monarquias absolutistas, extremamente arbitrárias e discricionárias: o absolutista determinava o que era o bem comum, vide “O Estado sou eu” de Luís XIV) e o Estado de Direito (Idade Contemporânea). Com o fim do Antigo Regime surge o Estado de Direito cuja ideia é garantir ao indivíduo a liberdade. A legalidade ao mesmo tempo em que preza pela garantia das liberdades dos indivíduos, impõe limites ao exercício do poder estatal. 
4. O estado burguês: 
Em 1790, havia sido editada uma lei na França dizendo que não caberia ao Judiciário julgar os atos do Executivo. Constrói, desse modo, um direito francês vinculado a uma jurisdição administrativa (o Executivo legislava, executa e julgava). Surge, também, naquela época, um Conselho Administrativo voltado para julgar, especificamente, os atos da Administração Pública (um autojulgamento dos governantes). 
O Poder Executivo era, nessa perspectiva, a Administração Pública que age de acordo com a legalidade (sendo o Poder Legislativo ocupado, significativamente, pela burguesia). 
Esse Estado de Direito, mais particularmente analisando o cenário francês, era, portanto, um Estado burguês criado pela burguesia e apoiado em leis burguesas para atender aos interesses da própria burguesia. Destarte, essa classe social fazia do Estado o lugar de proteção dos seus interesses e dos seus privilégios, camuflando-os como interesses públicos. 
O Pandectismo vai recuperar a base legislativa romana e fazer uma apologia à aplicação das leis, excluindo da compreensão do fenômeno jurídico qualquer tipo de interferência social, política e econômica. Ademais, para o pandectistas, não cabia a aplicação do Direito Privado.
5. O Estado Constitucional de Direito: 
Não havia até então, responsabilidade civil do Estado. Em 1872, no julgamento do caso Agnès Blanco tem-se um marco importante que quebra a perspectiva anterior. Uma empresa estatal de tabaco foi condenada pelo atropelamento de uma jovem de cinco anos (que resultou na perda de sua perna) durante o transporte de tabaco. Admite-se então a lógica de que “o rei erra” e da necessidade de se proteger os cidadãos (esta necessidade vista como o objeto mais importante – em oposição à linha de raciocínio que preza que o Direito Administrativo foi criado para proteger o Estado). 
Dentro de um Estado Constitucional de Direito, surge uma nova teoria do Direito Administrativo. A lei de 17 de fevereiro de 1800 traz, dentro de um paradigma de Estado Constitucional, o estudo da legalidade. 
Rompe com a ideia tradicional de um sistema hierárquico do Estado acima do governado. Agora, esse governado é o cidadão que tem direitos e deveres. A Administração Pública não pode e não deve impor sua vontade ao administrado, que é o cidadão, pois este é o titular dos direitos fundamentais. Há uma mudança significativa na lógica governamental: antes, tinha-se governante mandando em governado; agora, governado mandando em governante (os agentes públicos como “empregados” da sociedade). 
6. O Direito Administrativo no Brasil: 
Cria-se um Direito Administrativo no nosso plano ocidental a partir daquilo que se comungou em três países: França, Itália e Alemanha (criação da jurisdição administrativa) e também sob influência de outros três países: Portugal, Espanha e Bélgica. 
O Brasil copiou o modelo europeu consagrado na França e na Alemanha, com toques ibéricos, para cá sem nenhum tipo de preocupação com a realidade social do nosso país e, ademais, a base da jurisdição é inspirada em um sistema que não admite o Direito Administrativo. 
O nosso Direito Administrativo, de acordo com Geovane Peixoto, é extremamente autoritário e a lógica de sopesamento coloca o poder estatal sempre em vantagem (um direito especial para proteger o Estado no qual este sempre tem razão sobre o particular). 
7. Premissas centrais do Direito Administrativo atual: 
· Criação de limites ao exercício do poder na concepção das funções administrativas do Estado: Era necessário superar a velha teoria da divisão dos poderes (Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão – 1789), uma vez que, na prática, não existia foco no indivíduo, a exemplo do ocorrido no Brasil Imperial (concentração de privilégios nas mãos do imperador através do Poder Moderador). Essa teoria da divisão dos poderes é discutida, atualmente, a partir das funções estatais típicas ou atípicas (a maioria dos atos da Administração Pública é praticada pelo Poder Executivo, entretanto, atipicamente, os outros dois poderes podem realizar tais funções da administração – vide o art. 37 da CF já estudado). 
· Proteger e garantir os direitos fundamentais das pessoas: Essa entabulação de limites à atuação da Administração Pública tem como principal finalidade a proteção e a garantia de direitos fundamentais aos cidadãos dentro de uma perspectiva democrática. Por exemplo, para que a desapropriação (a imposição a um proprietário a perda de um bem) ocorra, a Administração Pública deve respeitar a lei, fazendo a justa e prévia indenização em dinheiro.
Referências:
· O Direito Administrativo em evolução (capts. 1 e 2) – Odete Medauar 
· Direito Administrativo para céticos (capt. 1) – Carlos Ari Sunfeld 
· Uma Teoria do Direito Administrativo (capt. 1): Direitos Fundamentais, Democracia e Constitucionalização – Gustavo Binenbojm 
AULAS 05, 06 E 07 – O REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO E OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
1. O regime jurídico administrativo:
A nossa tradição é uma tradição civilista, ou seja, pautada nas relações do Direito Privado. Quando o Direito Administrativo surge, ele surge como um campo especial do Direito. Especial no sentido de ser detentor de uma especialização por ser voltado para uma relação jurídica própria. Desenvolve-se, nesse cenário, um regime jurídico administrativo. 
Busca-se, desse modo, diferenciar o Direito Administrativo de outros ramos do Direito, em especial dos ramos do Direito Privado. 
Os administrativistas clássicos vão apontar as relações jurídicas que envolvem a supremacia dos interesses públicos. Nas relações públicas em que Administração Pública se encontra envolvida, esta deve levar em conta os interesses públicos. Isso representou um grande artifício criado para defender uma primazia do Estado em relação aos particulares. 
Quando se fala na supremacia do Direito Público, na lógica burguesa da transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea, o Estado sempre será superior, entretanto, não porque sempre defende os interesses da coletividade, mas porque a classe dominante aproveita a condição de hegemonia para consolidar os seus próprios interesses (que são interesses particulares). Infere-se,portanto, a existência de um Estado burguês de autoafirmação. 
Teóricos como Carl Schmitt defenderam o campo político como um palco de rivalidade entre antagonistas (“amigos x inimigos”). 
A nossa Constituição em vigência aponta logo no inciso V do art. 5º o pluralismo político como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. 
Art. 1º - CF: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
V - o pluralismo político.
O termo “pluralismo” adverte sobre a pluralidade da sociedade e o que impacta na denominação correta ser “interesses públicos” e não “interesse público”, justamente em virtude de ser equívoca a atribuição de uma homogeneidade dos interesses da sociedade. 
Quando falamos em Estado não há uma classificação uniforme de Estado. Quando falamos dentro da nossa perspectiva, estamos falando do Estado Moderno do Ocidente, um conceito criado por seres humanos e que, portanto, não surgiu naturalmente. Essa noção de Estado surge a partir da lógica burguesa que torna uniforme o conceito de interesse público. Torna-se difícil a emancipação prometida pela Idade Moderna e que, de fato, não se concretizou – razão pela qual doutrinadores criticam o uso do termo “pós-modernidade” justamente pelo fato de alguns pilares da modernidade não terem sido alcançados (logo, não se pode superar – “pós” – o que não se concretizou). 
O Congresso de Washington corroborou a tese de que Estado que ampliou as suas funções estruturais precisava diminuir, retornando-se à lógica do Estado liberal, só que reformulada (o Neoliberalismo). Dentro dessa perspectiva, o Brasil adota esse receituário e dentro desse receituário, existem alguns deveres que o Estado precisa cumprir, tais como: diminuir o seu tamanho (daí o surgimento da noção de privatização vinculada a de eficiência – a atribuição de funções estatais a particulares). 
A Lei 8.987/95, embora facilite o processo de privatização (exploração de serviços públicos por particulares), ainda se encontra pautada, majoritariamente, numa lógica de defesa dos interesses públicos. 
Dentro dessa lógica de contestação do interesse público, foi editada uma nova lei que genericamente ficou conhecida como PPP (Parceria público-privada). São concessões que perpassam pela perspectiva de parceria entre as esferas pública e privada. Passa-se a olhar os interesses econômicos do setor privado e a buscar mecanismos de flexibilização do modelo clássico. 
Gustavo Binenbojm parte da concepção de que o Direito Administrativo deve ser entendido a partir dentro de uma perspectiva de um constitucionalismo liberal que impõe limites à arbitrariedade estatal.
Art. 5º, XXIV – CF: a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;
Observa-se que no artigo mencionado, para a ocorrência da desapropriação por necessidade ou utilidade pública, deve-se ocorrer uma indenização prévia ao particular prejudicado no caso concreto. 
2. Soluções para a criação de um novo Direito Administrativo: 
Devemos reconhecer a pluralidade da sociedade e, destarte, reivindicar uma Administração Pública mais democrática visando a compreender quais são os reais interesses públicos. Tal compreensão pode ser realizada mediante votação, audiência pública, consulta pública, entre outros mecanismos utilizados para se tomar decisões dialogando com a sociedade. Carlos Ari Sundfeld fala que um processo administrativo deve utilizar, de forma mais efetiva, mecanismos democráticos. Floriano Neto, professor de Direito Administrativo da USP, defende que, na realidade vigente, existe uma “Administração Pública autista”, ou seja, fechada no seu gabinete e distante da conexão com a sociedade. 
Ademais, deve-se deixar de trabalhar com esse Direito Administrativo abstrato e distante da realidade. Foi feita uma alteração na LINDB com a introdução de alguns artigos fundamentais nesse processo de repensar o Direito Administrativo para além desse modelo hipotético-abstrato. 
Art. 20 – LINDB: Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão. 
Impõe-se, portanto, ao juiz e à esfera administrativa que “parem de jogar” com valores abstratos. Dentro do Pós-Positivismo e do Neoconstitucionalismo, há críticas veementes à aplicação excessiva de princípios – que são abstratos (juízes com opiniões diferentes e, geralmente, desvinculadas do caso concreto). 
Art. 21 – LINDB: A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e administrativas.
Art. 22 – LINDB: Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados. 
Na interpretação da gestão, é necessário levar em consideração os obstáculos existentes para implementação das políticas públicas. A rescisão contratual de um professor que falta frequentemente, em determinadas ocasiões, pode servir a um interesse público: a continuação da prestação do serviço. Em síntese, é a saída do Direito Administrativo do campo da mera abstração para um pensamento pautado na realidade em que nós lidamos. 
3. Princípios da Administração Pública: 
Com a ascensão de críticas, cada vez mais contundentes, ao Positivismo Jurídico, surge a Teoria dos Princípios. 
O Pós-Positivismo não tem uma “marca própria”, reunindo as correntes de críticas ao Positivismo Jurídico. Esse Pós-Positivismo introduz uma grande mudança no que tange ao conceito de normas jurídicas. Para além das regras, passa-se a considerar a existência dos princípios. 
No Brasil, se polarizou duas correntes de pensamento no que concerne aos princípios. De um lado, a doutrina alemã representada por Robert Alexy e do outro, a doutrina estadunidense representada por Ronald Dworkin. 
Na sua crítica ao uso abusivo dos princípios no Direito Administrativo, Carlos Ari Sundfeld defendeu que a polarização dos princípios é um problema dos preguiçosos (o juiz se apoia nos princípios para solucionar casos concretos a partir de pressupostos abstratos) e dos mal-intencionados (conscientemente o juiz, ou seja, através de interesses privados, se vale dos princípios para solucionar o caso concreto).
Conforme já mencionado anteriormente, há um abuso excessivo no uso de princípios no Direito – não sendo diferente no Direito Administrativo.
A construção de um Estado Moderno na lógica do liberalismo traz, no seu interior, a necessidade de se limitar o poder arbitrário do Estado, atribuindo-se direitos e deveres à sociedade. Diante desse quadro, os princípios positivam na ordem jurídica quais são os marcos definidores dos limites de atuação estatal para que o exercício do poder na consecução das funções administrativas do Estado se dê dentro desses limites. Os princípios, ao invés de abrirem o sistema, neste caso do Direito Administrativo, são importantes para “fechar”, isto é, impor os limites valorativos que circunscrevem o mundo jurídico. 
Art. 37 – CF: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: 
· Legalidade: 
No plano do Direito Administrativo, só se age se tiver na lei, de forma que todo ato da Administração Pública para ser executado, precisa apontar o marco legal que o justifica. O professor português Paulo Otero escreve um livro no qual descreve a evolução da “legalidade à juridicidade”. Quem melhor trabalha isso no Brasil é Gustavo Binenbojm.Para além dessa lógica de conjunto de leis, deve-se entender a lógica da juridicidade a partir de um sistema jurídico e esse sistema abrange, inclusive, os precedentes do Poder Judiciário (não obrigado a seguir caso a Administração Pública tenha embasamento nas suas decisões, mas deve-se buscar, preferencialmente, aderir às decisões já consolidadas do Judiciário, principalmente no que diz respeito às súmulas vinculantes). 
Art. 103-A – CF: O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. 
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.
Súmula não é lei, o que corrobora a tese de que não devemos restringir o princípio da legalidade à lei no seu sentido estrito, mas interpretá-lo dentro da lógica de um sistema (leis + atos administrativos + decisões judiciais + súmulas...) – conforme a doutrina de Marcelo Neves.
Toda interpretação do Direito Administrativo – e, por conseguinte, a atuação da Administração Pública – deve respeitar os limites impostos pela Constituição na regência desse sistema. 
· Moralidade:
Dentro de um estado laico, não se justifica a tomada de decisões pautada na moral de determinada religião, como, por exemplo, a moral cristã.
A noção de “moral” se encontra vinculada a um excesso de valores. 
Leonardo Boff discute a diferença entre a ética e a moral. A ética, oriunda do grego ethos, se encontra no campo de decisão individual do ser humano sobre os valores que ele compreende relevante. A moral, do latim moris, é o conjunto de valores compartilhados socialmente. 
Nesse sentido, o princípio consagrado no texto constitucional (art. 37, caput) não é eticidade, mas moralidade, compreendendo-a como um conjunto de valores compartilhados pela sociedade. Valores, desse modo, que são considerados fundamentais/essenciais para o desempenho da Administração Pública, tendo em vista a sua finalidade de atender aos interesses públicos. 
Esse princípio é extremamente amplo, o que possibilita interpretações equivocadas e exageradas (e, inclusive, não justificadas). Dessa forma, no âmbito prático, o princípio da moralidade acaba servindo de suporte para uma “guerra” entre “amigos e inimigos” por causa da subjetividade – muitas vezes perigosa – a ele associada. 
A própria noção de moralidade é perigosa pelo fato de gerar exclusões pautadas em ideais subjetivos. 
Historicamente se construiu uma distinção entre Direito e Moral. Na visão kelseniana, o que diferencia Direito e Moral seria a existência de normas jurídicas vinculadas a sanções organizadas, pré-estabelecidas e pautadas no poder coercitivo do Estado. 
Dentro dessa perspectiva, qualquer tipo de sanção por violações morais precisa estar no campo da legalidade, ainda mais quando esta legalidade se apresenta como um dos pilares centrais da Administração Pública.
A Lei nº 8.429/92, que sofreu alterações pela Lei nº 14.230/21, é uma importante lei da defesa da moralidade administrativa, ou seja, a discussão da juridicização da moralidade em prol da imposição de sanções a violações morais. 
A Lei nº 8.429/92 foi promulgada no ano do impeachment de Collor – do homem que foi eleito para combater a corrupção e que foi descoberto no âmbito que pretendia combater. 
O Art. 37, § 4º - CF/88 expressa que: 
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
Tanto na aplicação do Direito Penal quanto na aplicação do Direito Administrativo Sancionador, o Estado, para Nelson Hungria, aplica sanções (punições) semelhantes. Diante de similitude, é de suma importância resgatar o pensamento de Fábio Medina Osório, o qual nas suas obras “Direito Administrativo Sancionador” e “Sobre a improbidade administrativa”, aponta o dever de que as condutas que podem gerar a aplicação do Direito Administrativo Sancionador estejam tipificadas na legalidade. 
Três tipos de condutas tipificadas e caracterizadas como improbidade administrativa: 
· O enriquecimento ilícito (art. 9 – LIA): 
Art. 9º - Lei de Improbidade Administrativa: Constitui ato de improbidade administrativa importando em enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato doloso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, de mandato, de função, de emprego ou de atividade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: 
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público; 
(...)
OBS: Caso não seja comprovada a vantagem indevida no episódio recente envolvendo o Min. Milton Ribeiro, este não cometeu improbidade administrativa. 
O crime de corrupção passiva se encontra expresso no art. 317, caput, do Código Penal. O verbo “solicitar” já configura, por si só, tal delito, independentemente de ocorrer ou não o recebimento da vantagem indevida. 
Art. 317 – CP: Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa
Art. 37, § 4º - CF: Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
Observa-se a permissão da aplicação da improbidade com o Direito Penal (aplicação em conjunto), não se falando, portanto, em bis in idem (dupla punição pelo mesmo fato). O servidor público pode responder, simultaneamente, a um processo administrativo disciplinar, a um processo de improbidade administrativa e a um processo criminal.
Entretanto, há um conceito sociológico de corrupção que abrange muito mais do que se encontra juridicizado. Por exemplo, furar uma fila consiste em um ato de corrupção (em virtude da obtenção de uma vantagem indevida – ser atendido mais rápido). Todavia, essa ação não é relevante para o Direito – uma vez que este contempla, somente, as questões de improbidade e criminais. 
Não importa quem aplicou a sanção, mas a sanção aplicada por conta da prática de um ilícito administrativo. Se parte, assim, de uma noção específica de dolo, na qual o agente busca realizar o ato em prol (consciência) da obtenção do enriquecimento ilícito. 
· Causar prejuízo ao erário (cofres públicos) 
Art. 10 – Lei de Improbidade Administrativa: Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) 
Mesmo na omissão, deve ocorrer a consciência de estar gerando prejuízo ao erário. Tal determinação facilita bastante a defesa do réu. 
O art. 10 apresenta a mesma estrutura do art. 9: geral (caput) + especificidades (incisos).
OBS: É possívelque um servidor público seja punido por um ato que gere prejuízos ao erário sem ocorrer tal vantagem indevida. 
Art. 12, § 7º - Lei de Improbidade Administrativa: As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão observar o princípio constitucional do non bis in idem.   (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021) 
Essa disposição se estende, também, às pessoas físicas. Destarte, o juiz deve levar em consideração a maior lesividade do ato com o fito de evitar a dupla punição pelo mesmo fato. 
Art. 12 – Lei de Improbidade Administrativa: Independentemente do ressarcimento integral do dano patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de responsabilidade, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) 
A lesividade segue a seguinte lógica: (I) enriquecimento ilícito; (II) prejuízo ao erário; e (III) violação de princípios. Respeita-se, assim, outro princípio: o princípio da proporcionalidade (a sanção/a reprimenda deve ser proporcional ao ato cometido) – conforme o art. 12, caput, da Lei de Improbidade Administrativa. 
Abre-se espaço para certa arbitrariedade do juiz na tomada de decisões e na produção de Direito. 
· A violação de princípios:
Art. 11 – Lei de Improbidade Administrativa: Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas:         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Percebe-se uma diferença na redação do art. 11 em comparação com os arts. 9 e 10, uma vez que somente é considerada violação de princípios nos casos expressos pelos incisos. 
I - (revogado);         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - (revogado);        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando beneficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco a segurança da sociedade e do Estado;        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou de outras hipóteses instituídas em lei;        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial de concurso público, de chamamento ou de procedimento licitatório, com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, ou de terceiros;       (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar irregularidades;        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas.    (Vide Medida Provisória nº 2.088-35, de 2000)       (Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014)       (Vigência)
IX - (revogado);        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
X - (revogado);         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas;          (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
XII - praticar, no âmbito da administração pública e com recursos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto no § 1º do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover inequívoco enaltecimento do agente público e personalização de atos, de programas, de obras, de serviços ou de campanhas dos órgãos públicos.        (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
Os princípios se encontram interconectados, entretanto, isso não significa que todos sejam violados simultaneamente em um caso concreto. 
A negativa da publicidade (inciso IV) viola, indiretamente, o princípio da impessoalidade para além do princípio da publicidade. 
O inciso IX discorre sobre o nepotismo como improbidade administrativa (A nomeia o filho de B para que B nomeie o filho de A para ocupar um cargo). 
§ 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplicação deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para si ou para outra pessoa ou entidade.         (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021) 
O § 1º evidencia a participação do dolo na prática ilícita. 
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo a quaisquer atos de improbidade administrativa tipificados nesta Lei e em leis especiais e a quaisquer outros tipos especiais de improbidade administrativa instituídos por lei.     (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021) 
Há a definição da consciência do proveito ou benefício para caracterizar o dolo (consciência do resultado). 
O STF, interpretando a própria súmula redigida, desconsiderou a aplicação do nepotismo para cargos políticos (secretário municipal, por exemplo). 
O problema do nepotismo, de acordo com Geovane Peixoto, está na pessoalidade, ou seja, na nomeação de pessoas que não estão preparadas para desempenhar determinadas funções (independentemente do grau de parentesco). 
§ 3º O enquadramento de conduta funcional na categoria de que trata este artigo pressupõe a demonstração objetiva da prática de ilegalidade no exercício da função pública, com a indicação das normas constitucionais, legais ou infralegais violadas.         (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º Os atos de improbidade de que trata este artigo exigem lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis de sancionamento e independem do reconhecimento da produção de danos ao erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos.          (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 5º Não se configurará improbidade a mera nomeação ou indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sendo necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do agente.       (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
· Publicidade: 
Está relacionado à necessidade de que os atos da Administração Pública sejam dotados de transparência. 
Os mecanismos de transparência englobam sites (como Diário Oficial on-line) com o intuito de transmitir as informações ao público. 
É importante dizer que a Lei de Acesso à Informação representou uma fundamental conquista para a efetivação do princípio da publicidade. 
Alguns contratos e licitações não devem ser publicizados – como, por exemplo, o contrato que envolve a compra de armamentos. 
· Impessoalidade: 
O princípio da impessoalidade corrobora a concepção de que as ações da Administração Pública devem ser executadas levando em consideração o seu status republicano – pensando-se, portanto, na coisa pública e não na vontade do gestor (embora isso não seja uma regra). 
A imparcialidade e a igualdade são subprincípios derivados do princípio da impessoalidade. 
A impessoalidade contempla, também, a necessidade de imparcialidade e igualdadepois no momento em que a Administração Pública é impessoal, esta precisa ser imparcial e para isso precisa aplicar a igualdade de condição e oportunidade a todos. Numa perspectiva para além da impessoalidade, é importante que se compreenda que a atividade do gestor público demanda imparcialidade e igualdade. 
· Eficiência: 
Princípio adicionado posteriormente no caput do art. 37 da CF através da EC 19/98.
O princípio da eficiência gera um debate: em algum momento, a Administração Pública foi ou é ineficaz? 
Desestatização x privatização: Desestatizar significa admitir que determinados serviços que a priori deveriam ser prestados pelo Estado, passem a ser prestados por particulares; Privatizar significa vender órgãos ou empresas estatais para a iniciativa privada visto que o Estado precisa arrecadar recursos. 
A lógica da eficiência, hoje, é vista a partir da imposição de um modelo neoliberal de que a aferição das atividades do Estado fosse feita sob uma perspectiva econômica, importando da Administração Privada a lógica de eficiência associada ao lucro. 
A UFBA vai abrir um curso específico, com 40 vagas semestrais, de Administração Pública e Gestão de Políticas Públicas, distinguindo-se, portanto, do curso de Administração de Empresas. Há, portanto, a corroboração da tese de que existe uma distinção teleológica entre as administrações pública (os interesses coletivos) e privada (obter lucro). 
Na lei de desburocratização do Estado, caso a Administração Pública seja ineficiente, pode-se admitir a concessão de determinadas atividades ao setor privado. Isso não significa que o setor privado seja melhor, mas que o nosso sistema de gestão pública precisa ser revisto em prol da desburocratização, ou seja, buscar uma racionalização/uma eficiência de tal sistema burocrático unida a uma dinamicidade na obtenção de soluções.
Deve-se buscar que a Administração Pública alcance os objetivos previstos na lei (não no sentido estrito, mas no sistema jurídico – leis + Constituição + jurisprudência + súmulas + atos administrativos...).
Existe, também, a eficiência econômica, embora não seja o foco principal. Se, por exemplo, uma política pública pode ser executada por R$ 100.000,00, por que executá-la por R$ 200.000,00? 
A lógica do Socialismo (“a ameaça de um modelo que defende a derrubada do Capitalismo”) faz com que o Capitalismo passe a incorporar o bem-estar-social, entretanto, sem deixar de gerar lucro. 
 
4. Os outros princípios da Administração Pública (Lei nº 9784/99 – Lei de processos administrativos)
Art. 2o – Lei nº 9784/99: A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Observa-se que há a repetição de princípios constitucionais de forma desnecessária – legalidade, moralidade e interesse público. 
Princípios do processo (“coluna vertebral do direito processual”): devido processo legal, contraditório (possibilidade de se contraditar o que foi dito no processo) e ampla defesa (produção de tudo aquilo que for necessário para proteger um direito – não se limitando ao réu, uma vez se tratar da defesa do direito). Esses princípios serão detalhados na matéria de Teoria do Processo. 
Dedicaremos-nos à abordagem somente dos princípios da Administração Pública não repetidos pela Constituição. 
· Segurança jurídica:
Algumas vezes a segurança jurídica é maltratada na aplicação do Direito pois não se pensa segurança jurídica como segurança jurídica, mas como segurança econômica... 
O Estado Moderno, a partir de uma perspectiva contratualista, se transforma em um Estado de Direito. Não há um “grande contrato assinado pela sociedade”, mas uma grande metáfora, ou seja, um pacto de vontades legitimando um conjunto de regras que se aplicam à sociedade (o Estado de Direito).
Busca-se, desse modo, garantir a segurança das relações. O Direito passa a ser compreendido como um mecanismo de estabilização das expectativas sociais. Não haveria sentido, a título exemplificativo, A dever a B e B não possuir mecanismos para obrigar o devedor a efetuar o pagamento. 
Tem-se segurança jurídica quando o ordenamento jurídico é aplicado. Tem-se insegurança jurídica quando o ordenamento jurídico não é aplicado. 
Não é a segurança jurídica uma interpretação literal do positivismo, mas uma interpretação literal em consonância com a coerência e integridade do ordenamento jurídico (vide as alterações realizadas na LINDB – [...] “levando-se em consideração as consequências práticas da decisão”). 
Todas as vezes que as regras são afastadas ou aplicadas sem fundamento em prol do uso de valores abstratos tem-se insegurança jurídica. 
· Razoabilidade e proporcionalidade: 
A razoabilidade se vincula à aplicação de um Direito que trabalha sempre em um padrão de normalidade, o que significa dizer que não se deve interpretar, de forma excepcional, aquilo que não exige excepcionalidade. 
Só se admite a excepcionalidade em casos excepcionais – como no contexto da pandemia da covid-19.
A proporcionalidade nos dará condições de aferição das medidas mais adequadas a serem tomadas em uma decisão. 
Art. 2º, VI – Lei nº 9784/99: adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público; 
É necessário buscar a adequação entre meios e fins, o que evidencia uma relação entre os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 
Os arts. 20, 21 e 22 da LINDB apontam para a importância de se levar em consideração os efeitos práticos da decisão, almejando a justificativas que mostrem o alcance dos interesses públicos. 
A partir de uma análise de razoabilidade, precisamos transcender um padrão de normalidade de um sistema jurídico em prol de uma adequação entre meios e fins (se os meios são adequados a se alcançar determinados fins) – daí ser crucial levar em consideração a noção de proporcionalidade. 
Art. 21 – LINDB: A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e administrativas.                        (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) 
Encontra-se, ainda, na legalidade, o suporte para se tomar decisão. 
Art. 4º  - Decreto 9830/19: A decisão que decretar invalidação de atos, contratos, ajustes, processos ou normas administrativos observará o disposto no art. 2º e indicará, de modo expresso, as suas consequências jurídicas e administrativas. 
· Motivação:
Art. 2º, VII – Lei nº 9784/99: indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão; 
Capítulo XII – da motivação 
Art. 50 – Lei nº 9784/99: Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
A motivação surge a partir do momento em que o ato administrativo está justificado pela correlação entre fatos e direitos. 
Almeja-se assim uma relação entre o suporte fático e o suporte jurídico da decisão (conforme o art. 2º, VII e o art. 50, caput da Lei nº 9784/99). 
A motivação, portanto, é contemplada a partir da lógica de razoabilidade e proporcionalidade. 
· Finalidade: 
Art. 2º, II – Lei nº 9784/99: atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização em lei;
A Administração Pública foi criada com o intuito de atingir fins entabulados. O princípio da finalidade diz que a ação do agente deve ser sempre permeada por esses fins previstos em lei. 
Caso ocorra um desvio desses fins, se tem atos administrativos inválidos.
Quais seriam esses fins? Esses são expressos no sistema jurídico, uma vez que a justificativa de “interesses públicos” é muito vaga e ampla. 
Art. 37, XXI – CF: ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante

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