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POLÍTICA DE SAÚDE E 
PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL
Thalyta Mabel Nobre Barbosa
Thalyta M
abel Nobre Barbosa
Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-65-5821-075-7
9 786558 210757
Código Logístico
I000355
Política de Saúde e 
Proteção Social no 
Brasil
Thalyta Mabel Nobre Barbosa
IESDE BRASIL
2021
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
© 2021 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B213p
Barbosa, Thalyta Mabel Nobre
Política de saúde e proteção social no Brasil / Thalyta Mabel Nobre 
Barbosa. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021.
96 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-075-7
1. Sistema Único de Saúde (Brasil). 2. Política de saúde - Brasil. 3. Saú-
de pública - Brasil. I. Título.
21-74655 CDD: 362.10981
CDU: 614(81)
Thalyta Mabel Nobre 
Barbosa
Mestre e graduada em Serviço Social pela Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Possui 
experiência como docente na graduação e pós-
graduação, tanto em instituições públicas quanto 
privadas, nas disciplinas de Fundamentos Teórico-
Metodológicos do Serviço Social, Pesquisa Social e 
Serviço Social, Previdência Social e Serviço Social e 
Metodologia Científica. Atua como autora de e-books 
nas áreas de Serviço Social, Metodologia Científica 
e Educação a Distância. Desempenha as funções de 
design educacional e de consultoria educacional na 
elaboração, gestão, implementação e validação de 
materiais didáticos para educação a distância. 
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
SUMÁRIO
1 Formulação e implantação de políticas de saúde 9
1.1 Contextualizando a política pública 10
1.2 Etapas para a formulação de uma política pública 18
1.3 Implementação e avaliação de políticas públicas 23
2 História das políticas públicas de saúde no Brasil 29
2.1 Da colonização ao império 29
2.2 A Primeira República (1889-1930) 33
2.3 A Era Vargas (1930-1945) 37
2.4 A República Populista (1945-1964) 40
2.5 A Ditadura Militar (1964-1980) 44
2.6 A década de 1980: o SUS e a Constituição Federal 47
2.7 De 1990 à atualidade 51
3 Modelos assistenciais em saúde 59
3.1 Modelos assistenciais no mundo 59
3.2 Modelos assistenciais em saúde no Brasil 65
3.3 Desafios e perspectivas 71
4 Regulação em saúde 78
4.1 Etapas de regulação 79
4.2 Os instrumentos de regulação em saúde 83
4.3 Níveis de complexidade e formas de liberação dos 
procedimentos 86
Resolução das atividades 92 
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gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
O ato de planejar e de desenvolver um material didático 
consiste em um momento complexo de tomadas de decisões. 
Nessa perspectiva, organizar um conjunto de conhecimentos 
sobre um determinado assunto, especificamente, sobre a política 
de saúde no Brasil, requer de nós a elaboração de conceitos e 
exemplos, de modo a articular tanto saberes empíricos quanto 
teóricos. 
Assim, estabeleceremos significados entre saberes e 
experiências que estão em constante processo de transformação. 
Então, ao organizarmos este livro, vimo-nos diante de uma 
infinidade de conceitos e informações, os quais gostaríamos de 
apresentá-los no decorrer desta obra. 
Dessa forma, fizemos escolhas a fim de lhe apresentar os 
principais pontos sobre a política de saúde com vistas a auxiliar o 
seu aprendizado nessa temática. 
Tendo explicado alguns aspectos importantes, é essencial que 
seja dito que incluímos seções, trechos dialógicos e inquietações 
com a finalidade de aproximar você do conteúdo. 
É válido mencionar que a política de saúde é um assunto 
abordado de maneira corriqueira em nosso cotidiano, e ela se 
torna relevante por ser uma garantia que está presente em nossa 
Constituição Federal de 1988. 
As considerações introdutórias referentes à importância da 
saúde, enquanto política pública, expuseram alguns desafios que 
são enfrentados para a materialização desse direito em nossa 
sociedade. Para que apresentássemos o conteúdo, tivemos o 
amparo da legislação e de obras voltadas a essa temática. 
Visando a elencar os principais pontos abordados, destacaremos, 
no Capítulo 1, os conceitos e a importância da política pública para 
a sociedade, com ênfase na construção da agenda política, da 
formulação e da implementação da política pública. 
No Capítulo 2, apresentaremos a história da saúde pública 
em nosso país, desde a sua fundação, como colônia portuguesa, 
até o século XX, quando ganhou complexidade e, com o passar 
APRESENTAÇÃOVídeo
8 Fundamentos de alfabetização e letramento
das décadas, tornou-se uma política pública e direito de todos. Por último, 
debruçaremo-nos sobre a contemporaneidade e os desafios impostos pela 
Pandemia de Covid-19. 
Já no Capítulo 3, analisaremos as transformações pelas quais passaram 
os modelos assistenciais da área de Saúde no Ocidente, desde a Idade 
Média até a atualidade. Para isso, voltamo-nos aos modelos de saúde que se 
estabeleceram historicamente, com o intuito de compreender as mudanças e 
a evolução do sistema de saúde que temos. 
Por fim, no Capítulo 4, traremos a importância do Sistema Único de Saúde 
(SUS), as suas ações e como se organizam os seus três campos de ação, bem 
como seus instrumentos e níveis de complexidade.
Partindo desses aportes, acreditamos que o estudo da política de saúde no 
Brasil é fundamental para que possamos visualizar os direitos dos cidadãos, 
os quais são garantidos em nossa Constituição Federal, além de compreender 
a área do fazer profissional e o objeto de trabalho do Serviço Social. Dessa 
forma, você perceberá a importância dos profissionais da área, no papel de 
agentes mediadores para o acesso às políticas públicas em nossa sociedade.
Formulação e implantação de políticas de saúde 9
1
Formulação e implantação 
de políticas de saúde
A área de estudo das políticas públicas é de extrema relevância para 
todos os cidadãos brasileiros. Atos cotidianos, como o acesso aos bene-
fícios da previdência social, aos programas de transferência de renda e 
até mesmo a participação nas campanhas de vacinação, são exemplos de 
políticas públicas às quais temos acesso.
Note que as políticas públicas estão presentes em diversos espaços do 
nosso cotidiano. No entanto, embora possa parecer algo simples, falar de 
política pública é uma tarefa difícil, devido, sobretudo, à complexidade de 
estabelecermos uma única definição para esse conceito.
Neste capítulo, apresentaremos a importância das políticas públicas 
para a sociedade, dando ênfase à construção da agenda política, da for-
mulação e da implementação da política pública.
Para tanto, traremos alguns conceitos importantes da área da socio-
logia, como política, Estado e governo, para que possamos entender o 
contexto no qual se encontram inseridas as políticas públicas em nosso 
país. Identificaremos também as diferenças entre as políticas públicas, 
sociais, de Estado e as de governo.Ainda, aprenderemos sobre o exercí-
cio profissional do assistente social na esfera das políticas públicas e nos 
espaços sócio-ocupacionais.
O nosso estudo terá como base a Constituição Federal de 1988, que 
consagra os elementos constitutivos do Estado e apresenta os direitos e 
os deveres fundamentais de cada cidadão.
Neste capítulo, você terá a oportunidade de se debruçar sobre uma 
temática essencial ao fazer profissional e ao objeto de trabalho do 
Serviço Social e compreenderá a importância dos profissionais dessa área 
como agentes mediadores para o acesso às políticas públicas em nossa 
sociedade.
10 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
1.1 Contextualizando a política pública 
Vídeo Ao abordar as políticas públicas em saúde, é necessário compreen-
dermos o significado de política e de políticas públicas. Além disso, pre-
cisamos entender os contextos históricos, políticos e sociais em que 
elas estão inseridas.
Sabemos que as sociedades humanas não são estáticas e que suas 
realidades sempre foram objeto de estudo dos cientistas ao longo do 
tempo. Nesse sentido, é fundamental que percebamos que as ações 
dos indivíduos em sociedade são influenciadas pelos diversos aconte-
cimentos históricos que, por mais que pareçam distantes, no que se 
refere ao tempo, influenciam de maneira decisiva a vida cotidiana.
É nessa esteira que surgem os intelectuais, filósofos, teóricos e cien-
tistas sociais que auxiliam o desenvolvimento da ciência e nos fornecem 
elementos para a interpretação e o entendimento do mundo e da rea-
lidade social. Todavia, no que diz respeito especificamente às políticas 
públicas, quando esses intelectuais e teóricos iniciaram os seus estudos?
No Brasil, os estudos sobre o tema datam apenas do fim dos anos 
1970, com a publicação de trabalhos sobre a formação e a história das 
policies 1 , analisando criticamente a política e as suas relações com a ci-
dadania, a cultura política e o financiamento estatal. Porém, os estudos 
sobre a política e o papel do Estado já existiam.
Tanto política quanto política pública são termos que estão presen-
tes nos telejornais, nas redes sociais e até mesmo nas conversas entre 
amigos. Certamente, você já debateu essas temáticas com alguém. En-
tão, quando falamos em política, qual palavra vem à sua mente?
Alguns mencionam política partidária e governo, outros associam à 
forma pejorativa com que os nossos representantes políticos fazem 
política, associando a palavra política à politicagem, desvirtuando o seu 
conceito. Há também uma tendência de não se interessar por política 
ou de se conversar a respeito apenas em época de eleições.
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• Compreender o conceito 
de políticas públicas.
• Conhecer a estrutura de 
uma política pública.
Objetivos de aprendizagem
Políticas no sentido con-
creto do termo e exem-
plificado pelos programas 
políticos.
1
Formulação e implantação de políticas de saúde 11
A verdade é que a maioria das pessoas tem uma interpretação equi-
vocada sobre o significado de política. No entanto, ela está em nosso 
cotidiano quando, por exemplo, é necessária uma organização para a 
resolução de um problema político para o bem comum, ou seja, para o 
bem da sociedade.
Já ao ouvirem o termo políticas públicas, as pessoas relacionam 
imediatamente com o governo. Ao falarmos em políticas públicas, 
devemos pensar no governo e no Estado em ação. Isso significa que 
todas as atividades partem do Estado e são executadas pelo governo. 
A Figura 1 sistematiza a relação existente entre o Estado, o governo e 
as políticas públicas.
Figura 1
Relação entre o Estado, o governo e as políticas públicas
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Estado Governo Políticas públicas
Administrado por 
um grupo político 
Ações e decisões 
tomadas pelo governo 
Fonte: Elaborada pela autora.
Política, Estado, governo, políticas públicas; afinal, qual o significado 
desses termos e como eles se inter-relacionam? Vamos lá!
A palavra política é originada de pólis (politikós), que significa cidade 
(urbano, civil, público). O termo política tem origem na Grécia Antiga e 
expandiu-se por meio da obra de Aristóteles, intitulada Política. Confor-
me Dias e Matos (2012, p. 1), “na perspectiva clássica, o termo política 
é habitualmente empregado para indicar a atividade ou conjunto de 
atividades que tem de algum modo, como referência, o Estado”.
É importante ressaltarmos que definir política em um único concei-
to é muito difícil, pois envolve variações de perspectiva, cultura e in-
tenções. A política, compreendida como atividade ou práxis humana, 
relaciona-se de maneira direta ao poder. Nessa perspectiva, o poder 
político se refere ao poder de um ser humano sobre outro, que pode ser 
expresso na relação entre governantes e governados, soberano e súdi-
tos, Estado e cidadãos, entre autoridade e obediência (BOBBIO, 1998).
A sua finalidade ou o seu fim não pode ser resumido em um úni-
co aspecto, já que os fins da política são tantos quantas forem as me-
E você, como se posiciona 
a esse respeito? Qual a 
importância da política? 
Você já parou para pensar 
como as políticas públicas 
afetam a sua vida?
Para refletir
12 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
tas e os objetivos que um grupo se propõe a atingir em determinado 
momento histórico (BOBBIO, 1998). Dessa forma, as relações políticas 
nunca são neutras, por expressarem concepções diferentes sobre a 
ideia de indivíduo, mundo e sociedade.
É na relação entre o Estado e a sociedade que encontramos a ma-
terialização da política. Assim, quando buscamos entender a política, 
é essencial compreendermos essa relação. Nela, duas categorias que 
mencionamos anteriormente são importantes – Estado e governo –, as 
quais estudaremos a partir de agora.
A palavra Estado deriva do grego polis, que significa cidade-Estado. 
Ao longo da história, a instituição Estado passou por várias modifica-
ções e adquiriu diversos conceitos, apenas na Modernidade tendo ob-
tido o conceito que conhecemos na atualidade.
Há uma infinidade de conceitos para Estado; de modo geral, pode-
mos dizer que consiste na organização política e jurídica de uma so-
ciedade, e que é constituído pelo povo, território e por um governo 
soberano. São esses os elementos essenciais para a existência do Esta-
do, conforme ilustrado na figura a seguir.
Figura 2
Elementos constitutivos do Estado 
Estado
Povo Território Soberania Governo
Conjunto 
humano de 
uma ordem 
estatal sujeito 
às mesmas 
leis.
Área 
pertencente ao 
Estado onde sua 
ordem jurídica 
é validada e 
exercida.
Poder do 
Estado 
manifestado 
por meio das 
leis.
Grupo ou indivíduo 
que assume o 
controle do Estado 
por determinado 
período.
Am
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Fonte: Elaborada pela autora. 
No caso brasileiro, esses elementos, a organização e a estrutura do 
Estado estão presentes na Constituição Federal de 1988, mais preci-
samente no seu artigo 1º: “a República Federativa do Brasil, formada 
Formulação e implantação de políticas de saúde 13
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, 
constitui-se em Estado Democrático de Direito” (BRASIL, 1988).
No que se refere aos fins imediatos do Estado, podemos listar a 
segurança, a justiça e o bem-estar social e econômico do grupo social 
que representa. A garantia desses fins ocorre por meio de suas funções 
legislativa, executiva e judiciária. 
 • Função legislativa: corresponde à elaboração de leis.
 • Função executiva ou administrativa: responsável pela execu-
ção das leis e satisfação das necessidades coletivas.
 • Função judiciária: garante a resolução de conflitos e a punição 
da violação das leis.
Conforme as funções apresentadas, percebemos que o Estado é 
composto de instituições e poderes que têm por finalidade regular e or-
ganizar o funcionamento de uma sociedade (órgãos legislativos, tribu-
nais, exército etc.). Essa finalidade é refletida em leis, projetos e ações.
O grupo ouindivíduo que assume o controle do Estado por determi-
nado período com um conjunto de programas e projetos que parte da 
sociedade (políticos, técnicos, organismos da sociedade civil e outros) 
propõe é denominado governo. Esse conjunto de programas e projetos 
configura a sua orientação política (HÖFLING, 2001).
No Brasil, atualmente, o Estado é governado de maneira democrá-
tica. Vejamos na figura a seguir a representação do processo democrá-
tico em nosso país.
Figura 3
Processo democrático no Brasil
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Fonte: Elaborada pela autora. 
Democracia
 Conjunto mínimo 
de regras, leis e 
instituições para 
governantes e 
governados.
É um regime político e 
um modo de convivência. 
Por isso, envolve atitudes, 
comportamentos e uma 
concepção moral.
Envolve participação da 
sociedade civil.
Os governantes devem 
representar efetivamente 
os eleitores.
Princípios 
Igualdade e liberdade.
Procedimentos 
Império da lei, divisão de poderes, participação 
popular, obrigação dos governantes de prestar 
contas de sua ação etc.
Resultados 
Extensão da cidadania, objetivo dos gastos 
públicos, diminuição das desigualdades etc.
14 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
Na esfera desse processo democrático e com a participação dos 
mais diversos atores sociais, é fundamental que você saiba que o 
Estado tem como princípio e primeira de suas ações promover a digni-
dade para as pessoas por meio do acesso às suas necessidades bási-
cas. Para isso, tem-se as três esferas de poder, relacionadas às funções 
que já mencionamos.
Afinal, como as políticas públicas estão inseridas nesse contexto?
É no interior do Estado que as políticas públicas são criadas, pen-
sadas e estruturadas. O Estado nem sempre existiu, seu nascimento é 
produto da divisão social do trabalho. No interior de uma democracia, 
a definição das políticas públicas está relacionada a um processo deci-
sório que envolve conflitos de interesse.
Em outras palavras, a sociedade é composta de diversos grupos e 
segmentos políticos; cada um com as suas ideias, ideologias e visões de 
mundo. São esses grupos que estão a todo momento debatendo como 
o Estado e o governo devem agir no que se refere às políticas públicas. 
Podemos dizer, então, que a política pública é originária de um conflito 
de interesse.
Qual é o conceito de políticas públicas?
Como vimos, o conceito de política é bastante amplo. Para abordar 
as ações de organização e administração da nossa sociedade, é neces-
sário utilizarmos o termo políticas públicas. Portanto, nesse aspecto, 
relacionamos políticas públicas a uma concepção mais administrativa 
da política.
Podemos dizer que a política pública diz respeito a um conjunto 
de projetos e programas de atividades governamentais que “passam, 
assim, a serem constituídas a partir das contribuições e da interação 
entre diversos atores num espaço sociopolítico, com regras e dinâmi-
cas próprias” (AMORIN; BOULLOSA, 2013, p. 62).
Perceba que as políticas públicas correspondem às soluções espe-
cíficas que têm por finalidade atender às necessidades da sociedade. 
A política pública, portanto, é aquilo que o governo decide executar; 
materializada em um programa que beneficia um bairro ou na parti-
cipação de um indivíduo em um programa de redistribuição de renda, 
por exemplo. Por isso, é extremamente importante para nós, cidadãos, 
uma vez que interfere diretamente em nossas vidas.
A legislação brasileira não 
apresenta um conceito 
estabelecido de política 
pública. Também na 
esfera governamental, que 
é responsável pela for-
mulação, implementação, 
monitoramento e execu-
ção, há uma imprecisão 
conceitual a respeito da 
expressão políticas públi-
cas (HERINGER, 2018).
Importante
Formulação e implantação de políticas de saúde 15
Na literatura, a assertiva que melhor sintetiza o conceito das polí-
ticas públicas é o de Teixeira (2002, p. 2), que afirma que as políticas 
públicas consistem em diferentes
diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; re-
gras e procedimentos para as relações entre poder público e so-
ciedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, 
nesse caso, explicitadas, sistematizadas ou formuladas em do-
cumentos (leis, programas, linhas de financiamento), orientam 
ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públi-
cos. Nem sempre, porém, há compatibilidade entre as interven-
ções e declarações de vontade e as ações desenvolvidas.
Como exemplo de política pública na área da saúde, temos o Siste-
ma Único de Saúde (SUS), que tem a finalidade de oferecer cuidados de 
saúde à população brasileira. A Constituição Federal de 1988, mais pre-
cisamente no artigo 196, afirma que “a saúde é direito de todos e de-
ver do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que 
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso 
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção 
e recuperação” (BRASIL, 1988).
Como podemos observar, a saúde torna-se um direito de toda a po-
pulação, sendo dever do Estado garantir o acesso ao sistema de saúde 
por meio de um sistema de saúde público, organizado, gerenciado e 
financiado com recursos públicos.
O artigo Sistema Único de Saúde (SUS) aos 30 anos, de autoria de Jairnilson 
Silva Paim, apresenta estudos e perguntas sobre o SUS e seus 30 anos. O 
autor nos fornece uma análise dos aspectos positivos, dos obstáculos e das 
ameaças, entre outros pontos importantes, no decorrer desses anos de 
instituição. Vale muito a pena a leitura na íntegra e uma boa reflexão.
Acesso em: 20 out. 2021.
https://www.scielo.br/j/csc/a/Qg7SJFjWPjvdQjvnRzxS6Mg/?lang=pt&format=pdf
Artigo
Ao longo da existência do SUS, foram elaboradas diversas políticas 
nacionais, entre elas a de Atenção Básica e o Programa Saúde da Família.
Embora possamos nos referir à saúde como política pública, pode-
mos considerar que o direito à saúde, expresso na Constituição Fede-
ral, e o SUS compreendem um conjunto integrado de políticas públicas 
específicas que objetivam a promoção da saúde. Dessa forma, são de-
16 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
senvolvidas políticas de saúde destinadas aos diversos grupos popula-
cionais, como indígenas, crianças, mulheres e homens.
No fim do século XX, tivemos uma forte desregulamentação do pa-
pel do Estado, o que ocasionou grande vulnerabilidade do país diante 
do capital e o esgotamento do Estado de bem-estar social apoiados na 
ideologia neoliberal. Nesse cenário, tivemos modificações das políticas 
públicas e políticas sociais.
Afinal, o que são as políticas sociais e qual a sua relação com as 
políticas públicas? Vamos iniciar o debate sobre as políticas sociais e 
as políticas públicas, que são termos confundidos não só pelo senso 
comum, mas também por acadêmicos e profissionais.
Ao longo desta seção, já conceituamos políticas públicas e vi-
mos que não há uma uniformidade referente ao seu conceito. Para 
Clementino (2011), as pessoas têm dificuldade em diferenciar essas po-
líticas, sendo tema de estudo de vários estudiosos das ciências sociais.
As políticas sociais emergem das relações sociais ou da sociedade, 
mas ainda não têm um significado preciso. Já o termo políticas públicas 
é mais utilizado em todas as esferas – pública, privada ou terceiro setor 
–, e é facilmente confundido com políticas sociais. Note que as políticas 
públicas são muito mais amplas, enquanto as sociais são uma área im-
portante das políticas públicas.
A política social é uma modalidade de política 
pública. As políticas públicas estão asseguradas 
na Constituição Federal de 1988, como dever do 
Estado e direito assegurado a todos os cidadãos 
brasileiros, e se materializam em programas de 
Estado.
Figura 4
Exemplos de políticas sociais 
Fonte: Elaborada pela autora.
Políticas 
sociais
Saúde
Previdência 
Social
Educação
Assistência 
Social
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Entre essas políticas, temos a saúde, a edu-
cação, aAssistência Social e a Previdência Social, 
conforme apresentamos na Figura 4.
Portanto, na Constituição Federal, foi regula-
mentada e instruída a participação popular re-
presentando organizações na criação de políticas 
sociais, monitorando as ações realizadas relati-
vas à participação popular nos vários níveis de 
proteção social.
Formulação e implantação de políticas de saúde 17
Para finalizar essa discussão sobre os conceitos das políticas públi-
cas e políticas sociais, apresentamos uma citação de Souza (2006, p. 25), 
que afirma que as políticas públicas e as sociais “são campos multidis-
ciplinares, e seu foco está nas explicações sobre a natureza da política 
pública e seus processos”.
Agora, temos o seguinte questionamento: de que forma as políticas 
sociais se estabelecem como políticas públicas?
Elas se estabelecem como políticas públicas por meio das pensões 
de governo, dos benefícios sociais, do seguro-desemprego, da Lei de 
Cotas, dos programas de transferência de renda etc. Contudo, como 
ocorre a participação popular?
Saiba que a participação popular é de total relevância para 
que possamos ter a afirmação da democracia. Dessa forma, os cida-
dãos estão aptos para avaliar as execuções e ações dos poderes públi-
co e privado. A gestão dessa política deve ser ágil e flexível de modo a 
permitir a participação social no âmbito do controle social. Assim, se 
coloca à disposição da sociedade ações democráticas e descentraliza-
das que fortalecem a participação popular.
Podemos exemplificar a participação popular com a política pública de 
Assistência Social, que tem os conselhos como controle social. Os conse-
lhos são instâncias deliberativas de caráter permanente e são paritários, 
constituídos por 50% de representantes do governo e 50% pela socie-
dade civil organizada, usuários do Sistema Único de Assistência Social 
(SUAS), organização dos serviços dos trabalhadores da área. A finalidade 
dos conselhos é fiscalizar e deliberar a execução dos serviços que são 
prestados à população por meio das políticas públicas. Logo, as políticas 
públicas devem permanecer na agenda do governo, e não apenas com o 
propósito de finalidade de oportunidade política.
Nesse cenário apresentado, temos a profissão de Serviço Social, que 
se debruça nos estudos das políticas sociais em uma perspectiva micro, 
dando ênfase aos programas de governo. Nessa esfera, a particularida-
de do Serviço Social ocorre no enfrentamento às múltiplas expressões 
da questão social.
O Serviço Social é uma das profissões mais relacionadas às políti-
cas públicas, pois é aquela que tem a competência de gerenciamento 
das políticas públicas e sociais com o objetivo de solucionar e amenizar 
as situações de vulnerabilidade social. Ou seja, a profissão de Serviço 
As políticas sociais nos re-
metem aos direitos sociais 
assegurados na Constitui-
ção de 1988. Sugerimos 
a leitura do Capítulo II da 
Constituição, que trata 
especificamente dos di-
reitos sociais. No entanto, 
é importante termos em 
mente que eles permeiam 
diversos artigos do texto 
constitucional.
Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. 
Acesso em: 21 out. 2021.
Leitura
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
18 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
Social atua no desenvolvimento das ações das políticas sociais, tendo 
como responsabilidade compreender a sua aplicabilidade como possi-
bilidade de enfrentamento aos desafios contemporâneos no contexto 
no qual estamos inseridos.
Assim, estudar e compreender a importância das políticas públicas 
e políticas sociais é de suma relevância para a sua formação profissio-
nal, pois lhe dará a oportunidade de refletir, identificar as compe-
tências profissionais e mergulhar nos desafios impostos ao exercício 
profissional.
1.2 Etapas para a formulação de 
uma política pública Vídeo
Políticas públicas é termo multidisciplinar e está estruturado na so-
ciedade de diferentes formas. Então, ao abordar as políticas públicas, 
é importante compreendermos o que significa público e, consequen-
temente, as relações e diferenças entre o público e privado. Vamos lá!
De acordo com Santos (2012, p. 4), “público é tudo aquilo que não 
pertence a um indivíduo ou grupo em particular, mas, antes, é pro-
priedade de toda a coletividade”. Ainda segundo o autor, é importante 
diferenciar o que são políticas de Estado e políticas de governo. Estas 
referem-se a planos, programas e ações elaboradas e desenvolvidas 
para vigorar durante o mandato de determinado governo ou represen-
tante político de um partido; muitas vezes, estão associadas aos proje-
tos eleitorais como instrumentos de propaganda política.
Já as políticas de Estado são planos, programas e ações que não se 
limitam a determinado governo ou mandato político. Elas apresentam 
objetivos a longo prazo, iniciam-se sempre como política de governo, 
porém são incorporadas à estrutura do Estado, ultrapassando as tran-
sições entre governos.
No âmbito governamental, são caracterizadas pelas áreas de atua-
ção, como a política de educação, saúde, assistência social, entre outras. 
Devem ser geradas na esfera do Estado e ter como objetivo atender às 
necessidades de toda a sociedade ou parte dela, sempre com foco no 
bem comum.
Identificar as etapas para 
a formulação de uma 
política pública.
Objetivo de aprendizagem
Formulação e implantação de políticas de saúde 19
Nosso foco será o conteúdo das políticas públicas de saúde, a forma 
com que elas têm sido desenhadas nas últimas décadas, seus avan-
ços e desafios. No entanto, sem deixar de contextualizá-las para com-
preensão dos meandros que as permeiam.
Como mencionamos, há alguns modelos explicativos de formulação 
e análise de políticas públicas, desenvolvidos para possibilitar o melhor 
entendimento do porquê e como os governos fazem ou deixam de fa-
zer determinadas políticas públicas. Apresentaremos aqui apenas os 
principais, de acordo com o quadro a seguir.
Quadro 1
Modelos de formulação e análise de políticas públicas 
Tipo da política pública Cada tipo de política pública encontra diferentes for-mas de apoio e rejeição (LOWI, 1972).
Incrementalismo
Os recursos governamentais para um programa ou po-
lítica pública não partem do zero, mas de decisões in-
crementais que desconsideram mudanças políticas nos 
programas governamentais (LINDBLOM, 1979; CAIDEN; 
WILDAVSKY, 1980; WILDAVSKY, 1992).
Ciclo da política pública Política pública como um ciclo deliberativo formado por vários estágios.
Modelo garbage can 
(lata de lixo)
Escolhas de políticas públicas são feitas como se as al-
ternativas estivessem na lata de lixo.
Coalizão de defesa
A política pública deve ser concebida como um conjun-
to de subsistemas relativamente estáveis que se articu-
lam em prol dos recursos de cada política pública.
Arenas sociais Política pública como uma iniciativa dos empreendedo-res políticos.
Modelo do equilíbrio 
interrompido
Política pública caracterizada pela alternância entre lon-
gos períodos de estabilidade e instabilidade que geram 
mudanças nas políticas anteriores.
Modelos influenciados 
pelo gerencialismo públi-
co e pelo ajuste fiscal
A eficiência passou a ser vista como o principal objetivo 
de qualquer política pública.
Fonte: Adaptado de Souza, 2007.
Com base no Quadro 1 e de acordo com Souza (2007, p. 80) sobre as 
políticas públicas, podemos afirmar:
20 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
 • A política pública permite distinguir entre o que o governo pre-
tende fazer e o que, de fato, faz.
 • A política pública é abrangente e não se limita a leis e regras.
 • A política pública é uma ação intencional, com objetivos a serem 
alcançados.
 • A política pública, embora tenha impactos a curto prazo, é uma 
política de longo prazo.
 • A política pública envolveprocessos subsequentes após sua deci-
são e proposição, ou seja, implica também implementação, exe-
cução e avaliação.
 • Estudos sobre política pública propriamente dita focalizam pro-
cessos, atores e a construção de regras, distinguindo-se dos estu-
dos sobre política social, cujo foco está nas consequências e nos 
resultados da política.
 • A política pública envolve vários atores e níveis de decisão, em-
bora seja materializada nos governos, e não necessariamente se 
restringe a participantes formais, já que os informais são tam-
bém importantes. 
Ademais, de acordo com a citação anterior, podemos inferir que as 
políticas públicas integram a própria política, a sociedade e as institui-
ções. Dessa forma, concluímos que a política pública visa corrigir o pro-
blema identificado por meio das instituições que irão implementá-la.
Já Capella (2007) apresenta e discute modelos teóricos que au-
xiliam na compreensão do processo de formulação de políticas 
públicas, privilegiando em suas análises a formação da agenda de 
políticas governamentais. Em seus estudos, avalia como um proble-
ma é levado para a agenda governamental e, assim, transformado 
em política pública. No entanto, em virtude da complexidade de 
questões que se apresentam, nem todas elas se transformarão em 
políticas públicas. Ou seja, apenas alguns desses problemas farão 
parte da agenda governamental em um momento.
É válido ressaltarmos que nem todas as questões percebidas são 
identificadas como problemas e entram na agenda governamental para 
serem políticas públicas. Entretanto, quando essas questões têm da-
dos quantitativos atrelados a elas, demonstrando a existência de uma 
situação concreta, passam a demandar a atenção do Poder Público.
Por que alguns problemas que vemos em nossa sociedade recebem 
maior atenção do que outros?
Formulação e implantação de políticas de saúde 21
A resposta é a seguinte: alguns atores sociais são influentes na defi-
nição da agenda governamental. Um deles é o presidente da república 
e os indivíduos nomeados por ele como ministros e secretários. Outro 
grupo é o Poder Legislativo, uma vez que, além de exercer grande in-
fluência sobre a agenda, dispõe de recursos e autoridade legal para a 
produção de leis. Atrelado ao legislativo, temos os partidos políticos, 
por meio dos seus programas de governo. Não esquecendo também 
da mídia, que é considerada um instrumento na formulação da agenda, 
da opinião pública e dos atores invisíveis, como acadêmicos, pesquisa-
dores e consultores da temática.
A elaboração das políticas se dá em três etapas, são elas: formula-
ção, implementação e avaliação, ilustradas na figura a seguir.
Figura 5
Etapas do processo de elaboração de políticas públicas
Fonte: Dagnino et al., 2002, p. 203.
Identificação do problema e 
conversão
Avaliação
Implementação
Formulação Descrição dos objetivos 
e estratégias da ação 
governamental
Formulação da ação, alternativas 
e resultados esperados
Uma política pública exige um ciclo que se inicia com o problema e 
termina com a sua avaliação e, se não mais necessária, sua extinção. O 
ciclo de políticas públicas é composto das etapas a seguir.
22 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
Figura 6
Ciclo de políticas públicas
Problema
Agenda
Formulação
Tomada de 
decisão
ImplementaçãoMonitoramento
Avaliação
Abert/Shutterstock
Fonte: Elaborada pela autora.
Note que toda política pública parte de um problema ou neces-
sidade pública que afeta o bem comum ou de um grupo. Os pro-
blemas que demandam políticas públicas são originários de crises 
ou de indicadores de necessidades de ações. A partir daí, temos 
o surgimento da agenda. Mas como uma ideia entra no processo 
político?
A agenda está ligada ao que o governo e a sociedade estão or-
ganizados para enfrentar e faz parte de um planejamento. Ela é 
constituída por temáticas que chamam a atenção do governo e 
da sociedade civil. Essa agenda é classificada em três tipos: não 
governamental (temáticas relevantes para a opinião pública, mas 
que não são para o governo), governamental (problemas e te-
máticas que chamam a atenção do governo e de autoridades) e 
Formulação e implantação de políticas de saúde 23
agenda de decisão (lista dos problemas a serem decididos) (SILVA; 
MELO, 2000).
Após a apresentação dessas demandas, o governo, criador das 
políticas, selecionará o que será atendido. Ou seja, esses interesses 
da sociedade precisam ser reconhecidos por autoridades dos três 
poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário.
Essa ideia se transforma em uma política pública em um pro-
cesso chamado de formulação, etapa da definição dos objetivos e 
das estratégias de ação governamental com a finalidade de tornar 
uma temática em política pública. A formulação envolve, portanto, 
o processo decisório e as relações entre o executivo e o legislativo; 
este tem um papel fundamental na formulação de políticas públi-
cas, sobretudo dentro da produção da base legal da produção de 
leis que sairão do papel e entrarão em execução.
Na sequência, temos a implementação das políticas públicas 
que, já formuladas e com recurso orçamentário, são executadas. 
Vamos estudar sobre a implementação na seção a seguir.
1.3 Implementação e avaliação 
de políticas públicas Vídeo
As políticas públicas são implementadas na sociedade de di-
ferentes formas, de acordo com os objetivos e as necessidades. 
Vários autores estudaram os conceitos das políticas públicas e 
identificaram os impactos, os atores sociais envolvidos, as soluções 
e para quem elas se destinam. Esses estudos deram origem à tipo-
logia das políticas públicas, que foram agrupadas conforme as suas 
características semelhantes.
Essa tipologia serve como guia para embasar as análises sobre 
a política pública, para realizar comparações, refletir sobre a rea-
lidade, analisá-la e, dessa forma, ter elementos para interferir na 
realidade.
Os tipos de políticas públicas são: distributivas, redistributivas, 
regulatórias e constitutivas. Vejamos as definições no Quadro 2.
Compreender como as 
políticas públicas são 
implementadas.
Objetivo de aprendizagem
24 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
Quadro 2
Tipologia das políticas públicas
Tipo Característica Exemplo
Políticas 
distributivas
Políticas públicas que visam distri-
buir recursos e serviços que privile-
giam determinados grupos sociais 
ou regiões em detrimento do todo.
Políticas de afirmação
(cotas raciais ou bolsas 
estudantis destinadas a 
grupos específicos).
Políticas 
redistributivas
Políticas públicas que privilegiam 
maior número de pessoas, que re-
distribui bens, serviços ou recursos 
à população. As chamadas políticas 
sociais universais.
Sistema tributário, siste-
ma previdenciário, política 
de financiamento educa-
cional.
Políticas 
regulatórias
Políticas públicas que estabelecem 
regras para padrões de comporta-
mento e tomam a forma de leis.
Regulações do trânsito,
Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação (LDB).
Políticas 
constitutivas
Políticas públicas que estabelecem 
as “regras do jogo”, por quem e 
quando as políticas públicas podem 
ser criadas.
A distribuição de respon-
sabilidade entre municí-
pios, estados e governo 
federal.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Teixeira, 2002.
O estudo das políticas públicas existentes no Brasil proporciona a 
compreensão das ações governamentais e da estrutura das políticas pú-
blicas e como elas atingem a vida cotidiana dos cidadãos e da sociedade.
Figura 7
Tipos de políticas públicas 
Fonte: Elaborada pela autora.
Políticas 
públicas
Políticas 
educacionais 
Políticas 
ambientais
Políticas de 
saúde
Políticas de 
segurança 
pública
ss
Am
mu
s/S
hu
tte
rsto
ck
Formulação e implantação de políticas de saúde 25
Os atores presentes nas políticas públicas, como mostra 
Caldas (2008), podem ser divididos em públicos e privados. Os públicos 
podem ser de caráter estatal ou não estatal, enquanto os privados es-
tão ligados às organizaçõessociais, à imprensa e às empresas privadas, 
entre outros setores.
Inicialmente, na fase de percepção e definição do problema, este 
pode ser identificado por qualquer um dos atores das políticas pú-
blicas. Após a sua identificação e definição, tem-se a sua inserção na 
agenda política. A partir daí é que, possivelmente, ele será definido 
como assunto de teor político e público.
A fase de agenda configura-se por uma análise preliminar, como já 
explicamos, que definirá a inserção do problema como pauta política e 
administrativa ou o deslocamento para data posterior (FREY, 2000). No 
que tange à fase de elaboração de programas e decisão, há a escolha 
da melhor alternativa para a solução do problema (FREY, 2000; SARAVIA, 
2006).
A implementação pode ser definida como “aquela em que regras, 
rotinas e processos sociais são convertidos de intenções em ações.” 
(SECCHI, 2013, p. 55). Nessa fase, há a concretização e a análise dos 
aspectos e das alternativas implantadas.
Já para Menicucci e Gontijo (2017), o sucesso da implementação 
está associado à convergência entre os agentes implementadores em 
torno dos objetivos da política.
As políticas públicas são dinâmicas e se alteram de acordo com os 
contextos históricos, a agenda governamental e a pressão da socie-
dade. Com relação à implementação da reforma da política de saúde 
no Brasil, é válido mencionarmos que ela foi definida na Constituição 
Federal de 1988, e ainda hoje está em processo de formulação. Um 
exemplo evidente dessa dinâmica são os programas de saúde relacio-
nados ao SUS, que são criados, extintos e reformulados.
Podemos inferir que os processos de política de saúde vigentes se 
distanciam da concepção de implementação dos seus formuladores 
iniciais. Ainda, é importante mencionarmos que temos, nessa imple-
mentação e formulação, a lógica pública e a privada. A primeira viabili-
zada pelo SUS; e a segunda na perspectiva de ampliação da cobertura 
dos planos e seguros saúde. Temos, portanto, um sistema de saúde 
dual em nossa sociedade.
26 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
Todo plano e projeto devem ser monitorados e avaliados. Monitora-
dos com relação aos objetivos e às metas a serem alcançados, ou seja, 
tudo o que foi planejado está sendo desenvolvido como previsto? Esse 
é o momento de identificar imprevistos e corrigi-los para que os resul-
tados esperados sejam alcançados.
A etapa da avaliação deve ser um processo durante todas as fases 
do ciclo, analisando todas as mudanças e impactos na sociedade pelas 
ações e posturas adotadas e os resultados alcançados.
A fase de avaliação e eventual correção é descrita por Raeder (2014, 
p. 135) como aquela que pode estar “embasada por diagnósticos que 
verifiquem os impactos das ações empreendidas, fornecendo aos exe-
cutores das ações recursos informacionais preciosos para formação de 
quadros ou ajustes de rotas nos projetos”.
É importante sabermos que essa fase fornece elementos essenciais 
para avaliar a eficácia da política na sociedade. Ademais, cabe a esta a 
responsabilidade de dar início a um novo ciclo, o qual estará voltado para 
a resolução de problemas que ainda não foram resolvidos. A expectativa 
é que essa fase indique uma solução para as questões ou pendências 
persistentes que a política pública almejava resolver.
Por fim, as políticas públicas não devem ser pensadas e planeja-
das apenas por um governo, mas serem construídas em um processo 
democrático, garantindo as necessidades da grande maioria, principal-
mente dos que mais precisam, garantindo o bem comum.
Assim, compreendermos o que é política e políticas públicas é ne-
cessário para uma atuação cidadã crítica, ativa e participativa em todos 
os setores da sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, realizamos uma apresentação dos mais diversos con-
ceitos sobre política pública. Vimos que não há uma conformidade entre 
os estudiosos no que se refere às políticas públicas.
Para o entendimento do significado e da importância das políticas pú-
blicas, fez-se necessário relembrarmos alguns conceitos das ciências so-
ciais, como política, governo e Estado.
Você deve ter percebido que as políticas públicas e as sociais são dis-
tintas, mas se entrecruzam em alguns momentos. Para isso, identifica-
Formulação e implantação de políticas de saúde 27
mos artigos na Constituição Federal que tratam dos direitos sociais e dos 
elementos constitutivos do Estado. Para concluir, abordamos os mais di-
versos aspectos relativos à formulação e à implementação das políticas 
públicas.
É válido mencionarmos que apresentamos a relação do Serviço Social 
com as políticas públicas e as sociais. Por fim, saiba que você adquiriu co-
nhecimentos sobre uma temática essencial para a sua formação de modo 
a desenvolver as suas competências profissionais.
Esperamos que você tenha compreendido a importância das políticas 
públicas para a sociedade brasileira.
ATIVIDADES
Atividade 1
Os conceitos de Estado e de governo são diferentes, assim como 
as formas de se fazer política de cada uma dessas esferas. Com 
base nas informações anteriores, diferencie política de Estado e 
política de governo.
Atividade 2
Vários autores estudam os conceitos de políticas públicas, os 
atores sociais envolvidos e as soluções para a sua materialização. 
Diante disso, pontue a importância de estudarmos as políticas 
públicas brasileiras.
Atividade 3
Ao longo deste capítulo, vimos que conceituar política pública é 
uma tarefa difícil, pois vários autores a conceituaram e a estu-
daram ao longo dos anos. Além disso, há diversos modelos de 
análise, formulação e tipologias. Diante do que foi estudado neste 
capítulo, conceitue política pública e relacione a importância de 
termos informações sobre ela como profissionais do Serviço 
Social.
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http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/aatr2/a_pdf/03_aatr_pp_papel.pdf
http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/aatr2/a_pdf/03_aatr_pp_papel.pdf
História das políticas públicas de saúde no Brasil 29
2
História das políticas 
públicas de saúde no Brasil
Para compreender a questão da saúde na sociedade brasileira atual, 
é necessário que façamos um percurso histórico pelas transformações 
culturais, políticas e sociais em nosso país. Construção histórica essa 
marcada por profundas desigualdades sociais e econômicas e por ra-
cismo estrutural, que se perpetuam até a atualidade. Além disso, não 
podemos dissociar a evolução da saúde enquanto política pública das 
determinações do capitalismo a nível mundial.
Em contraponto a essa herança e contexto, surge, na época da rede-
mocratização do país, o Movimento da Reforma Sanitária, que contribuiu 
de maneira bastante significativa para que tivéssemos a efetivação do 
Sistema Único de Saúde (SUS), tão conhecido por nós.
Nas páginas seguintes, apresentaremos, de maneira linear, a história 
da saúde pública em nosso país, desde a sua fundação, como Colônia 
portuguesa, passando pelo seu desenvolvimento, com a instauração da 
República, e avançando sobre o século XX, quando a saúde brasileira 
ganhou complexidade e, com o passar das décadas, tornou-se política 
pública e direito de todos. Por fim, nos debruçaremos sobre a contempo-
raneidade e os desafios impostos pela Pandemia de Covid-19.
2.1 Da colonização ao império 
Vídeo Para que possamos caracterizar as atividades de saúde pública no 
período compreendido entre a colonização e o império, é essencial que 
façamos um resgate histórico da chegada dos portugueses em terras 
brasileiras. Porém, esse resgate partirá de uma perspectiva crítica e de 
uma análise dos acontecimentos, já que somos todos conhecedores da 
nossa história.
Sabemos que a efetiva colonização do atual território brasileiro 
por parte da Coroa portuguesa foi uma tanto quanto tardia, levando 
em consideração que a esquadra de Cabral aportou na costa da atual 
Conhecer as atividades de 
saúde pública da coloniza-
ção ao império.
Objetivo de aprendizagem
30 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
Bahia, em 1500, e que a real ocupação das terras ocorreu somente 
após a criação da vila de São Vicente, em 1532.
Os historiadores nos contam que esse hiato se deve aos outros inte-
resses imediatos de Portugal, que estariam direcionados ao comércio 
de especiarias com as Índias – que englobava os territórios ultramari-
nos portugueses no sul da Ásia – e ao fato de não ter encontrado o tão 
esperado ouro nas terras brasileiras.
De qualquer maneira, mesmo antes de um estabelecimento mais 
estruturado, diversas expedições lusitanas percorreram a costa bra-
sileira entre 1500 e 1632, praticando a conhecida exploração de 
pau-brasil. Essa árvore, tão cobiçada pela qualidade da sua madeira e 
da sua tinta, representou o primeiro grande assalto ao bioma da então 
enorme Mata Atlântica e aos corpos dos povos originários, chamados 
pelos europeus, equivocadamente, de índios.
Os acordos entre os portugueses e os povos que viviam no litoral 
da Terra de Santa Cruz se deram na forma de escambo: um “contrato”, 
em que os europeus pagavam pelo trabalho dos nativos com objetos, 
geralmente feitos de metais. Para os povos como os Tupinambás, que 
não manipulavam o ferro, eram ferramentas valiosas um facão, um 
machado e uma faca.
Por outro lado, se o contato entre europeus e indígenas, por muitas 
vezes, foi pacífico e profícuo para ambas as partes, expôs, por outro 
lado, as comunidades nativas da América a uma série de enfermida-
des desconhecidas. Entretanto, nem por isso os conquistadores fica-
ram imunes a doenças inéditas no Velho Mundo. Como bem destacou 
Oliveira (2012, p. 32),
com a chegada dos portugueses à Terra de Santa Cruz, um 
mundo novo e desafiante se formava em relação às enfermi-
dades. Aqui, juntaram-se à malária, doença tropical, até então 
desconhecida para os europeus, aquelas trazidas pelos coloniza-
dores, como peste bubônica, cólera e varíola e, posteriormente, 
com a chegada dos africanos, a filariose e a febre amarela. Um 
cenário preocupante foi-se desenhando, pois era frágil o conhe-
cimento acerca da transmissão e do controle ou tratamento 
dessas novas doenças.
Não foi somente a diversidade de doenças que resultou do conta-
to entre esses povos desconhecidos. Uma infinidade de tratamentos, 
decorrente tanto da cultura indígena quanto da cultura conquistadora, 
História das políticas públicas de saúde no Brasil 31
emerge como possibilidade de salvação para as chagas inusitadas a 
que todos estavam expostos.
Como agentes de saúde não oficiais, podemos destacar os padres 
jesuítas, membros da Companhia de Jesus. Com o claro objetivo de ca-
tequizar os nativos do Novo Mundo, criaram diversas missões jesuíti-
cas, que se espalharam pela região amazônica, pelo Pantanal e pelos 
Campos do Sul. Nas missões – verdadeiros centros doutrinadores –, a 
atenção à saúde, pela parte dos jesuítas, foi intensa, bem como o seu 
aprendizado de ervas e de plantas medicinais com os indígenas.
A única política do Estado ultramarino português voltada à saúde foi a 
criação do cargo de cirurgião-mor das províncias – o que parece ter surti-
do pouco efeito. Os povos que aqui viviam estabeleceram as suas pró-
prias alternativas e estratégias de sobrevivência, lançando-se aosfeitiços, 
às rezas e às ervas medicinais dos pajés, e, ainda, às sangrias dos práti-
cos e dos barbeiros que vinham da metrópole, os quais, normalmente, 
faziam as vezes dos inexistentes dentistas (OLIVEIRA, 2012).
Após o início do cultivo da cana-de-açúcar, foi introduzida a mão de 
obra dos nativos de origem africana, arrancados de seus países e de 
suas famílias, obrigados a mudar de nome, de religião e de língua na 
frente dos feitores, e subjugados a um regime de trabalho extenuante, 
a um terrível regime alimentar e a duros castigos corporais. Além de 
todas as penas físicas e psicológicas, os africanos escravizados costu-
mavam ser acometidos por sérios problemas respiratórios, devido à 
manutenção de fogueiras acesas no interior de suas moradias – as 
senzalas –, que eram desprovidas de janelas.
É válido mencionar que, ainda no período colonial, tivemos a cria-
ção das Santas Casas de Misericórdia, em 1543, as quais foram imple-
mentadas em diversos estados do Brasil, com a missão de tratar e 
dar sustento aos enfermos e inválidos, como também de cuidar dos 
recém-nascidos que passaram a ser abandonados na instituição. Elas 
tinham um caráter beneficente e podem ser consideradas as primeiras 
formas de proteção social em nosso país.
Já no século XVII, uma grave epidemia de sarampo assustou os mo-
radores da Colônia, que teve sua população reduzida drasticamente. 
Nesse sentido, o Governo-Geral estabeleceu uma série de medidas, 
nas vilas litorâneas, na tentativa de conter a doença. As cidades portuá-
rias passaram por alguns cuidados de saneamento e de proteção: os 
32 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
viajantes eram submetidos a quarentenas, e a qualidade dos gêneros 
alimentícios passou a ter certo tipo de controle, a fim de mitigar as mo-
léstias (BAPTISTA, 2007).
A situação da saúde no Brasil era tão precária que, no ano em que 
estourou a Revolução Francesa (1789), existiam, na capital da Colônia 
– o Rio de Janeiro –, apenas quatro médicos profissionais, os quais 
atendiam a pacientes de diversas cidades da região e de outras pro-
víncias, como São Paulo. Nesse contexto, os boticários acabavam por 
prescrever medicamentos e receitar tratamentos, como acontece até 
os dias de hoje em alguns recantos do país, em que muitos farmacêuti-
cos suprem a demanda por médicos (POLIGNANO, 2015).
Esse cenário de escassez de médicos era fruto da ausência de polí-
ticas educacionais, o que obrigava os filhos das elites a rumarem para 
a Europa, a fim de realizarem seus estudos, geralmente em Coimbra 
e Paris. Esse contexto só foi alterado com os abalos da revolução que 
assolava o Velho Mundo e, sobretudo, após a invasão napoleônica a 
Portugal, que fez com que a família real se refugiasse na Colônia. Assim, 
em 1808, ao chegar ao Brasil, acompanhado de mais 
de 10 mil súditos, Dom João VI promoveu uma série 
de transformações, para que a Colônia se parecesse 
mais com Lisboa.
Nesse sentido, o Rio de Janeiro, que passou a 
ser a primeira capital de um reino europeu fora da 
Europa, sofreu uma profunda reconfiguração urba-
nística e cultural. Um jardim botânico foi criado 
para compilar a natureza de diversos continentes, 
ao passo que uma missão artística francesa, lidera-
da por Jean-Baptiste Debret, foi incumbida de de-
senvolver as artes em solo brasileiro.
As ruas do centro da capital foram calçadas e re-
ceberam iluminação a gás. Começou a se desenhar 
alguma preocupação mais concreta com o sanea-
mento e a limpeza das ruas, que sofriam com um 
grave problema: os dejetos das famílias. Por costume 
ancestral, os excrementos familiares eram lançados 
dos penicos pelas janelas, o que gerava, inclusive, 
inúmeras brigas entre os vizinhos. Diversas vilas 
Figura 1
Retrato de Dom João VI, de Jean-Baptiste Debret.
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História das políticas públicas de saúde no Brasil 33
se preocuparam em regular esse costume, exigindo que as dejeções 
fossem armazenadas em potes grandes – conhecidos como onças –, 
para, posteriormente, serem esvaziados nos córregos e nas praias. Não 
sem razão, houve um grande desinteresse pelas praias até os anos 
1920, visto que esses espaços eram tidos como verdadeiros lixões.
Em 1808, foram fundados, na Bahia, o Colégio Médico-Cirúrgico, no 
Real Hospital Militar da Cidade de Salvador e, no Rio de Janeiro, a Escola 
de Cirurgia do Rio de Janeiro, anexa ao Real Hospital, e a Faculdade de 
Medicina do Rio de Janeiro, por intervenção do médico pernambucano 
Correia Picanço (POLIGNANO, 2015).
Certamente, o impacto da vinda da família real foi percebido na 
saúde dos fluminenses, além de transformar a cultura, a economia 
e o cenário urbanístico local. Era uma modernização há muito alme-
jada e tornava mais concreto o acesso a bens que a humanidade 
vinha desenvolvendo.
As primeiras iniciativas em saúde pública em nosso país datam da 
chegada da família real, como a criação da Junta Central de Higiene 
Pública e a Inspetoria de Saúde dos Portos, em que a assistência em 
saúde estava relacionada ao desenvolvimento de medidas de atenção 
aos doentes graves, como as internações.
É importante ressaltar que as medidas para a melhoria da saúde da 
população nessa época não eram vistas exatamente como um direito, 
mas como atenção às exigências internacionais, já que a disseminação de 
doenças, em território brasileiro, prejudicava as relações de exportação.
2.2 A Primeira República (1889-1930) 
Vídeo O fim do século XIX trouxe ventos de mudança ao Brasil. O acordo 
das elites com o Império terminou com a assinatura da Lei Áurea, em 
1888, contrariando o interesse das classes dominantes, que exigiam 
uma indenização pelos “bens” perdidos do Estado. Não por menos, um 
ano depois, D. Pedro II seguia rumo ao seu exílio na França, e o país 
ingressava, pelas mãos dos militares, no moderno regime republicano.
Os ideais dos grupos políticos que encabeçaram a República 
vislumbravam a ordem e o progresso, lema da corrente filosófica 
positivista de Augusto Comte. Para os positivistas locais, como Rui 
Conhecer as principais ati-
vidades de saúde ocorri-
das na Primeira República.
Objetivo de aprendizagem
34 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
Barbosa, que desenharam o novo modelo político do país, os bacha-
réis e os intelectuais deveriam conduzir a vida pública, já que possuíam 
as ferramentas necessárias para modernizar o país de acordo com os 
moldes da ciência.
Pelo lado político, não foi bem isso que se sucedeu: o país caiu em 
disputas políticas alimentadas pelo coronelismo, como foi o caso da 
Revolução Federalista (1893-1895), verdadeira guerra civil no sul do 
país, que culminou em banhos de sangue e expôs as tensões entre 
os grupos políticos que disputavam o poder. Serviu, ainda, para de-
monstrar o profundo abismo entre as elites urbanas do Sudeste e os 
povos excluídos e esquecidos, massacrados nos vergonhosos e desu-
manos ataques da Guerra de Canudos (1896-1897) no Nordeste e da 
Guerra do Contestado (1912-1916) no Sul. Nesses conflitos, milhares 
de brasileiros descendentes de indígenas e de africanos, que não eram 
reconhecidos como parte da nação, foram exterminados.
Nesse mesmo contexto, entre 1880 e 1920, o Estado brasileiro fi-
nanciou a vinda de italianos, alemães, chineses e japoneses, que rece-
biam terras e alguma estrutura para iniciar suas vidas nos trópicos – o 
que nunca aconteceu com indígenas e africanos, nutrindo o claro 
interesse de branqueamento da população. Consequentemente, o 
fluxo migratório de europeus e de asiáticos acelerou a difusão de 
doenças como varíola, malária, febre amarela, peste bubônica e, até 
mesmo, gripe espanhola.
Como forma de combater esse cenário epidêmico, que assolou di-
versas cidades litorâneas do país no início do século XX, Oswaldo Cruz 
foi alçado à função de diretor do Departamento Federal de Saúde Pú-
blica, nomeado pelo Presidente Rodrigues Alves, no ano de 1903. 
Essa indicação foi uma formade reconhecimento das ações de 
Cruz no Instituto Soroterápico Federal, o qual, em 1918, foi re-
batizado de Instituto Oswaldo Cruz.
À frente do departamento federal, Oswaldo Cruz foi o 
idealizador do modelo de intervenções conhecido como 
campanhista ou sanitarista 1 de combate à febre amarela, 
executado por um exército de 1.500 agentes, e da vacinação 
compulsória contra a varíola, em 1904, que, em conjunto com 
uma Reforma Sanitária no centro do Rio de Janeiro, arrancou os 
Auguste Comte 
(1798-1857), filósofo 
francês fundador do po-
sitivismo, acreditava que 
é importante o conheci-
mento da realidade para 
entender o resultado das 
nossas ações e, a partir 
daí, melhorar a realidade.
Saiba mais
Figura 2
Oswaldo Cruz
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Modelo assistencial em 
saúde caracterizado por 
campanhas sanitárias 
para combater epide-
mias, implementação de 
programas de vacinação 
obrigatórias, desinfecção 
de espaços públicos e 
outras ações.
1
História das políticas públicas de saúde no Brasil 35
cortiços das áreas centrais e invadiu as casas da população mais pobre, 
vacinando os cariocas à força com ajuda policial.
A reação popular tomou a forma da conhecida Revolta da Vacina, 
quando a capital federal ficou em estado de motim, entre 10 e 16 de 
novembro de 1904, com diversas ações do povo contra os aparelhos 
do Estado.
Figura 3
Bonde tombado pela população no Rio de Janeiro, em 12 de novembro de 1904.
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De acordo com Polignano (2015, p. 5),
apesar das arbitrariedades e dos abusos cometidos, o modelo 
campanhista obteve importantes vitórias no controle das doenças 
epidêmicas, conseguindo inclusive erradicar a febre amarela da 
cidade do Rio de Janeiro, o que fortaleceu o modelo proposto e o 
tornou hegemônico como proposta de intervenção na área da 
saúde coletiva durante décadas.
Nesse sentido, podemos dizer que esse modelo marca o 
nascimento da saúde pública no Brasil.
Nos anos 1920, Carlos Chagas se apresentou como su-
cessor de Oswaldo Cruz, aprimorando o modelo campa-
nhista a ponto de romper o seu caráter fiscal e policial, de 
modo a empreender ações publicitárias e de educação sa-
nitária. Essas ações foram estendidas para regiões do inte-
rior do país, com a promoção de ações de saneamento rural 
e a formação de profissionais para atuar em saúde pública.
O documentário Oswaldo 
Cruz: Projeto Memória 
2003, especialmente 
produzido para o Projeto 
Memória, conta a história 
do sanitarista Oswaldo 
Cruz e da sua luta por 
melhores condições 
de saúde para todos. 
O documentário é uma 
junção de recursos grá-
ficos modernos e cenas 
com atores e imagens da 
época. É uma obra que 
prende a nossa atenção 
tanto pelo conteúdo 
quanto pela quantidade 
de recursos utilizada.
Direção: Silvio Tendler. Brasil: 
Caradecão Filmes; Caliban 
Produções Cinematográficas, 2003.
Disponível em: http://oswaldocruz.
fiocruz.br/index.php/videos/
oswaldo-cruz-projeto-
memoria-2003. Acesso em: 
16 nov. 2021.
Documentário
Figura 4
Carlos Chagas
J. Pinto/Wikimedia Com
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http://oswaldocruz.fiocruz.br/index.php/videos/oswaldo-cruz-projeto-memoria-2003
http://oswaldocruz.fiocruz.br/index.php/videos/oswaldo-cruz-projeto-memoria-2003
http://oswaldocruz.fiocruz.br/index.php/videos/oswaldo-cruz-projeto-memoria-2003
http://oswaldocruz.fiocruz.br/index.php/videos/oswaldo-cruz-projeto-memoria-2003
36 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
Para Carlos Chagas, a pesquisa era importante para a formação 
profissional dos médicos e a ciência tinha o papel essencial de reve-
lar os problemas de saúde pública e os caminhos para enfrentá-los. 
Além disso, ele descobriu uma doença tropical que carrega o seu nome, 
chamada de doença de chagas, da qual também identificou o vetor de 
transmissão – marcos importantíssimos para a história da ciência e da 
saúde em nosso país. 
Outra importante ação do período aconteceu em março de 1926, 
quando o governo do Rio de Janeiro atribuiu a denominação Ana Neri 
à Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública, 
que passou a pertencer à Universidade do Brasil de Ensino Superior.
Todas essas estratégias tiveram um caráter efetivo e cumpriram a 
parte da saúde na política de um Estado capitalista agroexportador, 
que passava a contar com um corpo de exigências sanitárias interna-
cionais. Vale dizer que, até o início dos anos 1960, predominou o mode-
lo campanhista/sanitarista no país.
Durante a República Velha, houve, ainda, a aprovação do 
Decreto n. 4.682/1923, conhecido como Lei Eloy Chaves e considerado o 
marco inicial da Previdência Social no país. Inicialmente, instituiu caixas 
de aposentadoria e de pensão (CAP) aos ferroviários – categoria com 
forte respaldo social, uma vez que era responsável por 95% do trans-
porte terrestre no país (BRASIL, 1923).
De acordo com Oliveira e Teixeira (1985), em 1930, o sistema 
abrangia 47 caixas, com 142.464 segurados ativos, 8.006 aposentados 
e 7.013 pensionistas. No artigo 9° da Lei Eloy Chaves, estavam previstos 
os seguintes benefícios (BRASIL, 1923):
 • socorros médicos em caso de doença do segurado e/ou de 
membro de sua família com o qual coabitasse e compartilhasse 
as despesas;
 • medicamentos obtidos por preço controlado pelo conselho 
de administração;
 • aposentadoria;
 • pensão para herdeiros no caso de morte de titular do seguro 
previdenciário.
No seu artigo 2º, o decreto destaca que:
são considerados empregados, para os fins da presente lei, 
não só os que prestarem os seus serviços mediante ordena-
do mensal, como os operários diaristas, de qualquer natureza, 
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Ana Neri é considerada a 
pioneira da enfermagem 
no Brasil. Suas ações 
se deram na Guerra do 
Paraguai, em hospitais 
nos quais, por vezes, falta-
vam materiais e não havia 
higiene. Mesmo assim, o 
seu trabalho era dedicado 
e reconhecido por todos. 
Além disso, com recursos 
próprios, montou uma 
enfermaria modelo na 
capital do Paraguai para 
atender aos doentes. 
Condecorada por Dom 
Pedro II, faleceu em 20 de 
maio de 1880. Em sua ho-
menagem, comemora-se 
o dia do enfermeiro em 
20 de maio.
Biografia
História das políticas públicas de saúde no Brasil 37
que executem serviço de caráter permanente. Parágrafo único. 
Consideram-se empregados ou operários permanentes os que 
tenham mais de seis meses de serviços contínuos em uma 
mesma empresa. (BRASIL, 1923)
O decreto obrigava, no artigo 27, as CAP a arcar com a assistência 
aos acidentados no trabalho, o que era um grande avanço em um país 
que desconhecia direitos trabalhistas universais e que expunha a clas-
se trabalhadora aos mandos e aos desmandos dos patrões, com jor-
nadas laborais de mais de 12 horas diárias, regimes que não previam 
férias e ausência de garantias de licenças de tratamento de saúde.
Dada a exposição sobre a importância dessa lei, é válido ressaltar 
um aspecto importante: alguns estudiosos da área afirmam que as pri-
meiras políticas de proteção social no Brasil foram as CAP constituídas 
pela Lei Eloy Chaves de 1923, mas não é bem assim, afinal tivemos as 
Santas Casas de Misericórdia. Esse é um erro que vem sendo reprodu-
zido ao longo dos anos. 
É fundamental que você compreenda que, durante todo o período 
tratado nesta seção, as ações governamentais em saúde eram princi-
palmente voltadas para as epidemias e iniciativas de saneamento. 
Não havia programas de saúde pública em nosso país. As iniciativas 
governamentais relacionadas à saúde não eram vistas como direito e 
bem-estar, e sim como exigências internacionais. Então, a história da 
política de saúde, como também de outras políticas de proteção social, 
é marcada pelos interesses do mercado em detrimento dos interesses 
da população.
A divulgação intitulada 70 
anos de Previdência Social: 
Lei Eloy Chaves, publica-
do pelo Ministério do 
Trabalho e da Previdência 
Social em 1965, retrata 
quem foi Eloy Chaves e 
como era formadaa Lei 
de Caixas de Aposentado-
rias e Pensões, trazendo 
na íntegra o Decreto n. 
4.682, de 1923.
Disponível em: http://www2.anfip.
org.br/publicacoes/livros/includes/
livros/arqs-pdfs/70_anos_de_
previdencia_socal.PDF. Acesso em: 
18 set. 2021.
Livro
2.3 A Era Vargas (1930-1945) 
Vídeo Getúlio Vargas assume o poder, de assalto, em 1930, com a ajuda 
dos militares, expondo a crise que se estabelecia entre as diferentes 
elites regionais do país – as quais, até então, equilibravam-se sobre 
um modelo político conhecido como política dos governadores. Nesse 
grande acordo, as elites regionais se conectavam com o eleitorado 
dos sertões por intermédio dos coronéis, que submetiam as popula-
ções ao voto de cabresto, engendrando um modelo eleitoral autori-
tário e corrompido.
Conhecer as atividades 
de saúde ocorridas 
na Era Vargas com a 
CLT e o nascimento da 
Previdência Social.
Objetivo de aprendizagem
38 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
Figura 5
Getúlio Vargas, ao centro, vestido como militar, durante os eventos da Revolução de 1930.
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No contexto internacional, o conflito ideológico aflorado pela 
Revolução Russa (1917), o grave desastre humanitário instalado 
pela Grande Guerra (1914-1918) e o colapso econômico decorrente da 
Crise de 1929 foram fatores externos que obrigaram o país a realizar 
rearranjos políticos e econômicos, que se afloraram na figura de Vargas.
Assim, os cafeicultores paulistas, que detinham grande capital 
econômico, foram obrigados a redirecionar seus investimentos para 
a indústria interna, que apresentava alguma demanda devido à que-
da na produção externa nos tempos de guerra. Com isso, fábricas de 
roupas, chapéus, bengalas, velas, lampiões e louças nasceram nas 
maiores cidades do Sudeste.
No pós-guerra, um novo fluxo de imigrantes chegou ao país, os 
quais foram empregados, muitas vezes, pelas fábricas que surgiram 
no Rio de Janeiro e na capital paulista. É importante destacar que os 
povos afro-brasileiros não foram escolhidos como empregados ideais 
da indústria que se desenvolvia, sendo direcionados à informalidade e 
à favelização – esta que dava seus primeiros sinais nos anos 1930, fruto 
das políticas higienistas 2 em curso desde meados de 1920.
Por outro lado, os imigrantes trouxeram, na bagagem, os ideais 
revolucionários que se difundiam entre os trabalhadores europeus. 
Dessa maneira, em 1917, o Rio de Janeiro assistiu à primeira grande 
greve de industriais, que expunha maus tratos, jornadas extenuantes, 
baixos salários e ausência de direitos.
O movimento higienista ti-
nha por objetivo a defesa 
da saúde pública e o ensi-
no de novos hábitos de 
higiene. Seus defensores 
afirmavam que não ha-
veria progresso da nação 
sem indivíduos saudáveis 
e produtivos.
2
História das políticas públicas de saúde no Brasil 39
Nesse sentido, como forma de afastar a sombra do comunismo, 
Getúlio Vargas implementou uma forte campanha nacionalista e antico-
munista, com o objetivo de afastar o risco de insurreições revolucioná-
rias. Conjuntamente, aproximou-se dos trabalhadores, com a criação do 
Ministério do Trabalho, em 1930, de modo a atrair os principais líderes 
sindicais, em uma clara estratégia de controlar o movimento sindical.
Na esteira do estado de bem-estar social, foi criado, ainda, em 1930, 
o Ministério da Educação e Saúde Pública, desintegrando as atividades 
do Departamento Nacional de Saúde Pública (vinculado ao Ministério 
da Justiça), pulverizando as ações de saúde e concedendo maiores 
orçamento e pessoal dedicado ao novo órgão (POLIGNANO, 2015).
Em 1932, foi criada a Carteira de Trabalho e Previdência Social, um 
marco na questão dos direitos trabalhistas. Apesar de estar restrito aos 
trabalhadores urbanos, o documento passou a registrar os contratos 
entre funcionários e patrões, garantindo direitos que até então eram 
desconhecidos no Brasil, a saber: salário mínimo, férias e 13° salário. Fo-
ram criadas, também, a Justiça do Trabalho, em 1939, durante o Estado 
Novo, e a Consolidação das Leis, aprovada simbolicamente em 1° de 
maio de 1943. Não à toa, Vargas se tornou conhecido pelos brasileiros 
como pai dos pobres.
Vejamos alguns investimentos realizados na saúde pública, em 
1941, com a instituição da reforma Barros Barreto:
 • instituição de órgãos normativos e supletivos destinados a 
orientar a assistência sanitária e hospitalar;
 • criação de órgãos executivos de ação direta contra as endemias 
mais importantes (malária, febre amarela, peste);
 • fortalecimento do Instituto Oswaldo Cruz, como referência na-
cional; descentralização das atividades normativas e executivas 
por 8 regiões sanitárias;
 • destaque aos programas de abastecimento de água e construção 
de esgotos, no âmbito da saúde pública;
 • atenção aos problemas das doenças degenerativas e mentais 
com a criação de serviços especializados de âmbito nacional 
(Instituto Nacional do Câncer). (POLIGNANO, 2015, p. 11-12)
Ainda, nesse período, tivemos a criação do Sistema S, composto por 
várias instituições que realizavam ações voltadas à educação profissio-
nal e à oferta de serviços de saúde para os trabalhadores e seus fami-
liares. Note que havia uma relação entre trabalho, saúde e previdência.
O filme Olga retrata 
a vida da alemã Olga 
Benário, companheira 
de Luís Carlos Prestes, 
um dos principais líderes 
do Partido Comunista 
Brasileiro (PCB). Também 
apresenta o período da 
Intentona Comunista, 
movimento liderado 
pela Aliança Nacional 
Libertadora e contrário 
ao governo Vargas. É um 
bom filme para explorar 
um pouco mais o período.
Direção: Jayme Monjardim. Brasil: 
Globo Filmes, 2004.
Filme
40 Política de Saúde e Proteção Social no Brasil
Por fim, é importante perceber que a estrutura do Estado não ga-
rantia a saúde como direito para o cidadão brasileiro.
2.4 A República Populista (1945-1964) 
Vídeo Entre os anos 1937 e 1945, esteve em curso o Estado Novo, período 
caracterizado pela ditadura varguista, pela suspensão de direitos e 
por muita perseguição política, sobretudo a comunistas. Os delírios de 
ameaça comunista de Vargas, que levaram à ditadura, foram expostos, 
mais tarde, pelo Plano Cohen, que era uma farsa criada dentro do 
exército brasileiro a respeito de um suposto projeto comunista para 
tomar o poder no Brasil (ALBUQUERQUE JR., 2021).
Nesse período, podemos considerar que tivemos uma ampliação 
do Estado brasileiro, com a ideologia desenvolvimentista de Vargas, 
que propunha a intervenção do Estado na sociedade e na eco-
nomia, objetivando uma melhoria nos indicadores sociais e um 
crescimento econômico.
Em 1945, novamente, o cenário político externo influenciou a histó-
ria brasileira. Com a derrota do eixo nazifascista, tornou-se insustentá-
vel a manutenção de um regime autoritário que flertava com o 
movimento integralista brasileiro de forte orientação fascista.
Assim, em 1945, foi eleito presidente da República, pelo Partido So-
cial Democrático (PSD), o general Eurico Gaspar Dutra, antigo ministro 
de guerra de Vargas, que teve papel decisivo na sua deposição. As mar-
cas do governo Dutra foram a aproximação política com os Estados 
Unidos, em um contexto internacional no qual se desenhava a Guerra 
Fria – conflito ideológico entre EUA e URSS –, e o plano Salte, que visava 
desenvolver as áreas de saúde, alimentação, transporte e energia.
Objetivamente, na área da saúde, Dutra criou o Serviço de 
Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU) – mantido por 
todos os institutos e por todas as caixas remanescentes 3 –, que, na 
prática, foi um protótipo do atual Samu. Por influência de sua espo-
sa, fundou a reconhecida Maternidade Carmela Dutra, na cidade de 
Florianópolis, ativa até a atualidade.
Em 1946, o governo publicou uma nova Constituição. De acordo 
com Castro e Lazzari (2020), essa nova norma prescrevia sobre a Previ-
dência no capítulo referente aos direitos sociais, o qual apresentava a 
Conhecer as atividades

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