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Políticas Públicas em Saúde, Educação e Habitação-

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INSTITUTO EDUCACIONAL MARIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
Políticas Públicas em Saúde, Educação e Habitação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELO HORIZONTE/MG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CARACTERIZAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
Curso: GESTÃO DE PROJETO SOCIAL 
Disciplina: Políticas Públicas em Saúde, Educação e Habitação 
 
EMENTA 
Os Antecedentes Históricos das Políticas Públicas Sociais; Políticas Públicas para 
Saúde; Políticas Públicas para Educação; Políticas Públicas para Habitação; A 
Política Social do Século XXI; A Transferência de Renda. 
 
OBJETIVOS 
 
 Analisar as políticas públicas de saúde no Brasil a partir da história e 
perspectivas do Sistema Único de Saúde; 
 Abordar de forma sucinta o processo histórico das políticas sociais brasileiras, 
dente elas a educação e a habitação; 
 Caracterizar o redirecionamento destes rumo aos programas de transferência 
de renda no século XXI; 
 Discutir a focalização dos programas sociais e as consequentes exclusões 
oriundas de processos seletivos; 
 Destacar as propostas dos anos de 1970 e 1990 em torno dos programas de 
transferência de renda, como instrumento de combate à pobreza com caráter 
universal. 
 
Referência básica 
 
 
ANDRADE, Luis Aureliano G. de. Habitação e poder – da Fundação da Casa 
Popular ao Banco Nacional de Habitação. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1982. 
 
ARANTES, Otília B. F.; MARICATO, Ermínia; VAINER, Carlos B. A Cidade do 
Pensamento Único: desmanchando consensos. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2000. 
 
AZEVEDO, Sérgio. A crise da política habitacional: dilemas e perspectivas para o 
final dos anos 90. In. AZEVEDO, Sérgio de; ANDRADE, Luis Aureliano G. de (orgs.). 
 
 
A crise da moradia nas grandes cidades – da questão da habitação à reforma 
urbana. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.1996. 
 
BEDÊ, Mônica. Trajetória da formulação e implantação da política habitacional 
de Belo Horizonte na gestão da Frente BH Popular: 1993 / 1996. Dissertação 
(Mestrado em Geografia) – Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas 
Gerais, Belo Horizonte, 2005. 
 
BOSCHETTI, Ivanete. Seletividade e Residualidade na Política de Assistência 
Social. In: Novos paradigmas da Política Social. Brasília: UNB, 2001. 
 
BRASIL. Ministério da Saúde. O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municípios - 
Ministério da Saúde, Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde. – 3. 
ed. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2009. 
 
BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito administrativo e políticas públicas. São 
Paulo: Saraiva, 2002. 
 
CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania 
em São Paulo. São Paulo: Edusp, 2000. 
 
COELHO, Ricardo Corrêa. Estado, governo e mercado. Florianópolis: 
Departamento de Ciências da Administração - UFSC; Brasília: CAPES: 2009. 
 
DRAIBE, Sônia Miriam. O Welfare State no Brasil: características e perspectivas. 
Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 3, n. 6. São Paulo, ANPOCS, 1998, p. 
53-78. 
 
ESPING-ANDERSEN, Gosta. O futuro do Welfare State na nova ordem Mundial. 
Revista Lua Nova, nº. 35, São Paulo, CEDEC, 1995, p. 73-112. 
 
FALEIROS, Vicente de Paula. Natureza e desenvolvimento das políticas sociais no 
Brasil. Cadernos de capacitação em Serviço Social e Política Social. Módulo 3. 
Brasília: UNB, 2000. 
 
FERREIRA, Ivanete Boschetti. As políticas brasileiras de seguridade social: 
Assistência Social. Cadernos de capacitação em Serviço Social e Política Social. 
Módulo 3. Brasília: UNB, 2000. 
 
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, disponível em < 
HTTP://www.ibge.gov.br / >acesso em: 05 de Janeiro de 2012 MEKSENAS, Paulo. 
Cidadania, poder e comunicação. 2ª Ed. – São Paulo: Cortez, 2002. 
 
MORAES, Bianca Mota de. Políticas Públicas de Educação /– Rio de Janeiro, RJ: 
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro; Universidade Federal Fluminense, 
2016. 113p. ISBN: 978-85-93489-01-3 Edição: 1º Ano de Edição: 2017 Local de 
Edição: Rio de Janeiro – RJ. 
 
PAIM, Jairnilson Silva. O que é o SUS. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009. 
 
 
 
POSSAS, Cristina de Albuquerque. Saúde e trabalho: a crise da previdência social. 
Rio de Janeiro: Edições Graal, 1981. 
 
RONCALLI, Angelo Giuseppe O. Desenvolvimento das políticas públicas de saúde 
no Brasil e a construção do Sistema Único de Saúde. In: Antonio Carlos Pereira 
(Org.). Odontologia em Saúde Coletiva: planejando ações e promovendo saúde. 
Porto Alegre: ARTMED, 2003. Cap. 2. p. 28-49. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. O FENÔMENO DA SOCIAL DEMOCRACIA: Emergência histórica, 
políticas públicas e globalização econômica. 
07 
 
 
 
2 POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE NO BRASIL: História e Perspectivas 
do Sistema Único de Saúde – SUS 
10 
2.1 RESUMO 10 
2.1. INTRODUÇÃO 10 
2.2. MATERIAL E MÉTODOS 11 
2.3. POLITICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL 12 
2. 4 O SUS COMO POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE: HISTÓRIA E 
PERSPECTIVAS 
14 
2.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 22 
2.6CONCLUSÕES 
REFERÊNCIAS 23 
 
TEXTO 3. O PAPEL DO CONTROLE SOCIAL NA IMPLEMENTAÇÃO DAS 
POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO 
24 
3.1 Introdução 24 
3.2 Dados do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça 
de Tutela Coletiva de Proteção à Educação – CAO Educação/MPRJ 
27 
REFERÊNCIAS 30 
 
4. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA HABITAÇÃO: políticas públicas, 
conflitos urbanos e o direito à cidade. 
32 
4.1 Histórico das políticas nacionais para habitação no Brasil 32 
4.2. Os conflitos urbanos e o direito à cidade 41 
Referências bibliográficas 45 
 
5. RUMOS DA POLÍTICA SOCIAL BRASILEIRA NO SÉCULO XXI: 
FOCALIZAÇÃO E SELETIVIDADE 
47 
5.1 Resumo 47 
5.2 Introdução 47 
5.3 Breve contextualização das Políticas Sociais Brasileiras 48 
5.4A política de transferência de renda: do debate internacional à 
realidade brasileira 
52 
5.5 A mudança no debate: uma nova proposta 57 
5.6 Os critérios de elegibilidade 59 
5.7 O alcance, limites e possibilidades dos programas de transferência 
de renda. 
63 
Referências 67 
 
6. PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA 69 
 
QUESTÕES 71 
 
 
1. O FENÔMENO DA SOCIAL DEMOCRACIA: Emergência histórica, políticas 
públicas e globalização econômica 
 
a) A social democracia e suas origens. 
 
 
 
 
Entre a segunda metade do século XIX e primeira do século XX, a Europa se 
encontrava imersaem constantes crises econômicas e convulsões sociais violentas. 
Por que tais eventos estavam ocorrendo? Porque naquele momento, a Europa 
vivenciou um fenômeno que hoje em dia já se tornou “naturalizado”, mas que na 
época foi uma revolução. Trata-se da ascensão do capitalismo e do avanço do 
processo de industrialização, ou mais precisamente, quando o livre-mercado passou 
a ser política de Estado. A sua expansão teve um impacto violento de transformação 
das relações econômicas e sociais. 
O advento do capitalismo fez com que as necessidades do mercado se 
tornassem os principais determinantes da vida social e limitou o poder político. Sob 
ele, a sociedade se tornou um mero complemento do mercado (Berman, 2006). 
Então, temos como contexto histórico sociopolítico, um ambiente no qual as 
mudanças de uma sociedade tradicional, com base na vida comunal onde o simples 
fato de pertencê-la era razão suficiente para que moralmente o indivíduo tivesse o 
seu sustento ou proteção social garantidos, por um sistema capitalista moderno na 
qual o risco da privação material é uma constante e o interesse individual passou a 
se sobrepor ao comunal devido à lógica da divisão do trabalho e a perda de laços 
tradicionais de identidade e comunidade (Berman, 2006; Kloppenberg, 1986). Em 
suma, eram tempos de um processo de massificação da sociedade sob a égide do 
capital. 
Nesse período de rompimentos violentos do tecido social no continente 
europeu, diversas correntes políticas emergiram no intuito de resolver este 
problema. Partidos comunistas,socialistas, social democratas, trabalhistas, 
organizações sindicais e posteriormente, em torno dos anos 20 daprimeira metade 
do século XX, os fascistas, são respostas práticas mesmo com ampla diferença de 
propostas e resultados almejados entre eles ao mal-estar causado pelo capitalismo 
sem controle. Todavia, uma característica deste período era a presença de 
instituições democráticas e parlamentares em diversos países. Em outras palavras, 
o voto já era realidade. 
No entanto, dentro dos partidos comunistas e socialistas tradicionais, esta 
institucionalidade democrática não importava, uma vez que eram encaradas como 
sendo apenas reflexo de interesses burgueses. A solução para os ideólogos ligados 
ao marxismo mais ortodoxo e demais membros desses partidos era o de esperar o 
 
 
 
 
momento no qual seria possível realizar a revolução. Ou seja, somente quando 
aspectos econômicos fossem propícios para que a sociedade fosse transformada é 
que o partidocomunista ou socialista deveria agir. 
Podemos entender esta “espera” descrita acima, além de uma leitura da 
sociedade naquele momento na lógica da ortodoxia marxista, também como uma 
opção de abstenção da participação política dentro dos ditames institucionais. E é 
nessa lógica que teóricos como Jean Jaurès, ligado ao Parti Socialiste de France 
(PSF), membros da Sociedade Fabiana como Sidney e Beatrice Webb, ligados ao 
Labour Party (LP) e Eduard Bernstein e Karl Kautsky, ligados ao O Partido Social-
Democrata da Alemanha (em alemão: Sozialdemokratische Partei 
Deutschlands,(SPD) fizeram uma releitura da ortodoxiamarxistae propuseram novas 
estratégias políticas a partir delas) (Kloppenberg, 1986). Certamente, na época, o 
direito a voto ainda era restrito por critérios de renda e gênero em muitos países e 
diversos partidos sofriam repressão política, como o SPD no caso alemão sob o 
governo Bismarck entre na década de 1880. 
Certamente, cada país teve sua particularidade. No entanto o que é algo em 
comum entre todos é a opção pela participação (Bergounioux e Manin, 1989; 
Berman, 2006; Kloppenberg, 1986; Przeworski, 1985). Optar pela participação 
significa que o partido deveria se voltar para ao primado da política (Berman, 2006) 
e aceitar o marco institucional da democracia representativa como o meio de 
conseguir implantar um programa socialista. 
Przeworski (1989: p.23) argumenta que se abster eleitoralmente nunca se 
caracterizou como uma estratégia racional ao membro da classe trabalhadora. 
Segundo o autor, isso ocorre, pois a competição democrática proporciona a 
possibilidade de promover interesses dos diferentes grupos políticos no curto prazo, 
logo, qualquer partido que pretenda mobilizar a classe trabalhadora, deve se 
aproveitar desta oportunidade. Um exemplo empírico interessante que fundamenta 
este argumento de Przeworski (1985) é encontrado no caso inglês, onde, os 
sindicatos apareceram antes do LP3 e posteriormente, o partido buscou apoio 
político sindical e foi bem sucedido. 
Creio que o caso mais emblemático sobre a questão sobre a mudança de 
estratégia política se encontra no caso alemão com o SPD, por se tratar de 
originariamente ser um partido muito fiel à ortodoxia marxista. Já em 1891, Kautsky 
 
 
 
 
sinalizava que buscar o poder político através do voto era necessário para evitar a 
repressão política e consequentemente perseguições violentas como ocorrera 
durante o governo de Bismarck. Além disso, quando observamos o debate teórico e 
sua relação com a empiria, Bernstein se distancia de Marx quanto à questão do 
desaparecimento da classe intermediária e da proletarização da classetrabalhadora 
como um todo enquanto processo irreversível. Bernstein constatou que a classe 
empresarial estava constantemente aumentando o número de trabalhadores white 
collars, ou seja, a classe trabalhadora estava cada vez mais diversificada, o que 
daria poucos incentivos para que, principalmente entre esses trabalhadores de 
nível intermediário na divisão do trabalho, apoiassem um projeto político 
revolucionário. 
Logo, Bernstein constatou que na transição do séc. XIX para o XX, o 
capitalismo estava se revigorando após um longo período de depressão econômica, 
ao contrário das previsões de Marx. Ao lado disso, os Estados estavam começando 
a tomar medidas de proteção social, tendo em vista que a fragmentação social e 
injustiças econômicas persistiam mesmo com a consolidação do capitalismo. Por 
isso, nessa lógica, todas as medidas de proteção trabalhista, deveriam ser apoiadas 
pelo partido. Exemplo disto foi o apoio do SPD à manutenção do sistema 
previdenciário criado pelo governo conservador de Bismarck. Por esta razão, 
Bernstein salientou a importância das classes trabalhadoras em ter um interesse 
ativo na política. É nessa circunstância que a social democracia emerge e começa a 
ganhar força. As limitações do marxismo ortodoxo sobre a questão da ação política 
e a não confirmação de suas previsões incentivou o revisionismo e a mudança de 
tática política dos partidos de base socialista e trabalhista. 
Assim, o SPD passou a adotar a democracia representativa primeiramente 
como tática para chegar ao socialismo. No entanto, como aponta Przeworski (1985), 
não só o SPD, mas os partidos social democratas de uma maneira geral, passaram 
posteriormente a encarar a democracia representativa como um fim em si mesmo, 
uma ação que veio por defaut, com a adoção da competição eleitoral ao invés da 
revolução violenta. Ao lado da adoção da democracia como um fim em si mesmo, 
veio à demanda pela extensão do sufrágio dentro da institucionalidade então 
existente, tornando-se partidos democratas de facto (Manin e Bergounioux, 1989). 
 
 
 
 
 
2 POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE NO BRASIL: História e Perspectivas do 
Sistema Único de Saúde – SUS 
 
Rafael da Cruz Sousa1·, 
Francisco Eduardo Bastos Batista2 
 
2.1 RESUMO: Parte do estudo das políticas públicas de saúde no Brasil, dentro da 
perspectiva da sociedade capitalista, aborda o Sistema Único de Saúde desde sua criação, 
a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, a Constituição Cidadã, 
entendendo porque a Reforma Sanitária Brasileira – RSB influenciou o capítulo “Saúde” da 
Constituição. Trata ainda do funcionamento do sistema, as ações e serviços por ele 
prestados, bem como a situação inicial e atual em que se encontra o sistema, também são 
objetos de estudo. Por fim, apresenta uma análise da gestão e do financiamento deste 
sistema universal de saúde. Analisando o Sistema de Saúde que havia no Brasil antes do 
SUS e o que se tem hoje. Na Conclusão demonstra que o Sistema de Saúde Brasileiro deu 
um grande avanço nas últimas décadas e pode se tornar no futuro um modelo de sistema de 
saúde público universal no mundo. 
 
Palavras–chave: Política pública, Saúde pública, Sistema único de saúde. 
 
 
2.1. INTRODUÇÃO 
 
Considerando as desigualdades e injustiças inerentes ao sistema capitalista, 
as Políticas Públicas de proteção social surgem como forma de minimizar as 
distorções existentes na sociedade, assim como também, em decorrência das 
reinvindicações por melhores condições de trabalho, feitas pelo movimento operário. 
Atualmente, além das demandas trabalhistas, as políticas públicas estão voltadas a 
educação, saúde, segurança, habitacional, transporte, transferência de renda, 
segurança alimentar, entre outros. Entende-se por política pública como o conjunto 
de ações realizadas pelo Estado e seus agentes, com a participação ou não da 
sociedade, visando garantir os direitos sociais previstos em lei. 
Para a Constituição federal de 1988, no Título VIII (Da Ordem Social), 
Capítulo II (Da Seguridade Social), Seção II (Da Saúde), artigo 196 (Brasil, 1988), 
Saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais 
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao 
acessouniversal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e 
 
1Especialista em Gestão Publica- UFMA, Pós - graduando do curso de especialização em 
Gerenciamento de recursos ambientaisIFPI.email: prorcs@hotmail.com 
2 Especialista em Gestão Publica- UFMA. Email: eduardoadm@globo.com 
 
 
 
 
 
recuperação. O Sistema único de Saúde, segundo a lei nº 8.080 de 1990, no Título II 
(Do Sistema Único de Saúde), da “Disposição Preliminar”, artigo 04 (Brasil, 1990), é 
o conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições 
públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das 
fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o sistema Único de Saúde (SUS). 
O presente artigo tem como objetivos compreender conceitos importantes 
sobre o tema, identificar as condições históricas do surgimento e construção das 
políticas públicas desaúde no Brasil, analisar a significação das mudanças ocorridas 
na saúde pública, a partir da criação do SUS e apresentar perspectivas para um 
horizonte futuro. Para tanto, abordar-se-á inicialmente como se dão as políticas 
públicas, de um modo geral, na sociedade capitalista, para num segundo momento 
identificarmos o contexto histórico das políticas públicas de saúde no Brasil. Dentro 
desta abordagem histórica, foram utilizadas além dos estudiosos/teóricos do tema, 
as normas legais. 
Por fim, são abordadas as políticas públicas de saúde a partir da criação do 
Sistema Único de Saúde e identificadas às perspectivas para o futuro deste Sistema 
dentro da concepção de política pública. O trabalho mostra-se importante porque 
através da contextualização histórica tendo como marco referencial a criação do 
Sistema Único de Saúde - SUS buscar-se-á identificar as perspectivas futuras das 
políticas públicas de saúde no Brasil. Dessa forma, espera-se que venha a 
constituir-se uma fonte de pesquisa e consulta para os gestores, políticos, sociedade 
e estudiosos da área, no que se refere às perspectivas para as políticas públicas de 
saúde no Brasil. 
 
2.2. MATERIAL E MÉTODOS 
 
Partiu-se de um levantamento bibliográfico, onde foram utilizados trabalhos 
científicos, revistas científicas, artigos e livros, relacionados às políticas sociais de 
saúde pública. Após o levantamento foi realizada a análise dos conceitos, históricos 
e descrições, para um melhor aprofundamento da temática em estudo. Assim, a 
partir dessa metodologia de pesquisa, buscou-se identificar tanto os antecedentes 
históricos das políticas públicas de proteção social para maior compreensão da 
 
 
 
 
questão como caminhos que possam nortear as perspectivas da Saúde Pública no 
Brasil. 
 
2.3. POLITICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL 
 
No Brasil, as primeiras leis sociais datam do final do século XIX. Contudo, 
devido ao caráter pontual e isolada das mesmas, considera-se que no Brasil as 
primeiras políticas públicas de proteção social, só viriam a surgir, a partir do 
processo de industrialização, com o movimento operário grevista. 
No início do século, as campanhas sanitárias assumiram especial 
importância na economia agrário-exportadora, pelo controle dos portos e das 
estradas de ferro. As campanhas contra a varíola, com a lei de vacinação obrigatória 
em 1904, contra a febre amarela e a peste bubônica, marcaram as primeiras 
décadas do século, demandando medidas de saúde como respostas momentâneas 
a estes agudos problemas (POSSAS, 1981). 
A Saúde nesta época foi marcada por campanhas sanitárias e reforma dos 
órgãos federais. Houve um movimento pela mudança na organização sanitária que 
resultou na criação em 1921 do Departamento Nacional de Saúde Pública - DNSP, 
que segundo Guimarães (1984) atuava nas áreas do saneamento urbano e rural da 
higiene industrial e dos serviços de higiene materno-infantil muito especialmente. 
Já em 1923, foi promulgada a Lei Eloy Chaves, que instituiu as Caixas de 
aposentadorias e Pensão (CAPs), sendo considerado o início das políticas sociais 
no Brasil. Muito embora, essa política, tenha sido decorrente do movimento operário 
grevista e não da preocupação com o bem estar social. Segundo Roncalli (2003), as 
CAPs eram organizadas por empresas, sendo administradas e financiadas por 
empresários e trabalhadores, os quais eram responsáveis por benefícios 
pecuniários, como serviços de saúde para alguns empregados de empresas 
específicas, em sua maioria de importância estratégica para a economia. A Lei Eloy 
Chaves, além da seguridade social, concedia serviço médico-assistenciais e 
medicamentos aos “segurados”. Antes desta lei, muitas fábricas já forneciam 
serviços médicos aos seus trabalhadores, muito embora parte do custo fosse pago 
pelos próprios trabalhadores através de descontos nos salários. 
 
 
 
 
Neste período, o Brasil passava por várias transformações políticas e 
econômicas. Do ponto de vista histórico, Getúlio Vargas chegava ao poder com a 
Revolução de 30, no qual uma de suas primeiras medidas foi a Criação do Ministério 
da Educação e Saúde Pública – MESP. Dentre as políticas sociais que foram 
criadas por ele, no período do governo provisório (1930-1934), vale destacar a 
criação em 1933 dos Institutos de Aposentadoria e Pensões – IAPs, que na 
realidade foi um novo modelo de organização previdenciária que veio a substituir as 
antigas CAPs. Este novo modelo era organizado por categoria profissional e 
administrado pelo Estado. 
Na década de 40, foram tomadas medidas de reestruturação e ampliação 
dos órgãos de saúde dos Estados. Neste sentido, as ações passavam então a 
serem coordenadas e centralizadas pelo governo federal através do MESP. 
Observa-se também, que durante este período, houve a criação do Serviço Especial 
de Saúde Pública – SESP, o qual na década de 50 teria importante atuação no 
combate à malária, em pesquisas de doenças tropicais e na educação sanitária. 
Somente em 1953 ocorreu a divisão da saúde e educação, através da criação do 
Ministério da Saúde, antes vinculadas em um único ministério. (PAIM, 2009). 
Já sob o Regime Militar (1964 – 1985) os IAPs, com exceção do Instituto de 
Previdência a Assistência dos Servidores dos Estados (IPASE), criado em 1941, 
pelo decreto-lei nº 3.347, foram unificados no Instituto Nacional de Previdência 
Social (INPS) em 1966. Regime militar foi um período da história política brasileira, 
onde os militares deram um golpe de estado, assumiram o poder e adotaram uma 
série de medidas antidemocráticas como dissolver o Congresso Nacional e 
suspenderam as liberdades individuais. 
Apesar de tantos órgãos criados, o sistema de saúde brasileiro passava por 
uma crise, devido ser insuficiente, mal distribuído, descoordenado, inadequado, 
ineficiente e ineficaz. Para mudar esta realidade foi organizado um movimento 
social, formado pela sociedade, pesquisadores, estudantes e profissionais da saúde 
que propôs a resolução destes problemas e a democratização a saúde no país. Este 
movimento foi chamado de Reforma sanitária brasileira – RSB, e é a base para a 
proposta de criação do Sistema único de saúde – SUS. 
 
2. 4 O SUS COMO POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE: HISTÓRIA E PERSPECTIVAS 
 
 
 
 
 
Antes da criação do SUS, o Estado brasileiro era omisso com relação à 
saúde da população. Na realidade o que se pensava era que o próprio indivíduo 
deveria cuidar da sua saúde. Só havia uma intervenção estatal em casos graves que 
não pudesse ser resolvidos pelo próprio cidadão ou que representasse um risco de 
epidemia a população ou a economia. Com o desenvolvimento do país e a 
concentração populacional nas grandes cidades, a saúde então despontava como 
uma questão social. 
 
[...] a organização dos serviços de saúde no Brasil antes do SUS vivia em 
mundos separados: de um lado, as ações voltadas para a prevenção, o 
ambiente e a coletividade, conhecidascomo saúde pública; de outro, a 
saúde do trabalhador, inserida no Ministério do Trabalho; e, ainda, as ações 
curativas e individuais, integrando a medicina previdenciária e as 
modalidades de assistência médica liberal, filantrópica e, progressivamente, 
empresarial (PAIM, 2009). 
 
Como vimos anteriormente, a reforma sanitária foi um movimento social que 
defendia a democratização da saúde e a reestruturação do sistema de serviços. Era 
composta por estudantes, pesquisadores, universidades, profissionais, sindicatos, 
entidades comunitárias e sociedades cientificas, como a Associação Brasileira de 
Pós-graduação saúde coletiva (ABRASCO), Sociedade Brasileira para o Progresso 
da Ciência (SBPC) e o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES). 
É necessário conhecermos um pouco da história da organização sanitária no 
Brasil para compreendermos por que o SUS representa uma conquista do povo 
brasileiro. (PAIM, 2009). A primeira proposta do SUS foi apresentada pelo CEBES 
no I Simpósio de Política Nacional de Saúde da Câmara dos Deputados no ano de 
1979; nove anos depois em 1988 foi promulgada a Constituição Federal, chamada 
constituição cidadão, a qual contemplava os princípios e diretrizes elaboradas pelo 
CEBES. Estava criado o Sistema Único de Saúde. A partir da constituição de 1988 a 
saúde passa a ser direito de todos, dever do Estado. Sendo assim, pode-se afirmar 
que a Reforma sanitária brasileira e o Sistema único de saúde foi criada a partir da 
sociedade, contudo para virar lei ela foi debatida no Congresso Nacional, 
permanecendo seus princípios e diretrizes. 
No tocante ao funcionamento é importante ressaltar que o SUS não possui 
um caráter institucional, ele é um complexo sistema, formado por centros de saúde, 
ambulatórios, laboratórios, hospitais da iniciativa privada e do poder público, bem 
 
 
 
 
como por outros órgãos da União, Estados e Municípios, tendo como gestor central 
o Ministério da Saúde, todavia participam também da sua gestão os estados, 
municípios e a comunidade. Portanto, pode-se definir SUS como um conjunto de 
ações e serviços públicos de saúde, compondo uma rede regionalizada e 
hierarquizada, organizada a partir das diretrizes da descentralização, integralidade e 
participação da comunidade. Sendo assim, uma forma de organizar as ações e os 
serviços de saúde no Brasil, de acordo com princípios, diretrizes e dispositivas 
estabelecidos pela Constituição da República e pelas leis subsequentes (PAIM, 
2009). 
Em outras palavras, o SUS é a formalização da conquista do direito de todos 
à saúde e a única possibilidade de atenção para mais de 140 milhões de brasileiros. 
É uma política pública definida na Constituição Brasileira que estabelece as ações e 
os serviços públicos de saúde formam uma rede e constituem um sistema único. 
Segundo a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90) são objetivos e atribuições 
do SUS: a assistência às pessoas, a vigilância epidemiológica, a vigilância sanitária, 
a saúde do trabalhador e a assistência farmacêutica. Entende-se por assistência às 
pessoas a atenção à saúde em tudo que envolve o ser humano, como as ações de 
promoção, prevenção, tratamento e reabilitação. 
A vigilância epidemiológica é um conjunto de ações que proporcionam o 
conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores 
determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de 
recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças e agravos. 
Vigilância sanitária compreende as ações controle sanitário de medicamentos, 
alimentos, bebidas, cigarros, vacinas, serviços de saúde, portos, aeroportos e 
fronteiras, entre outros no intuito de eliminar e prevenir riscos a saúde, buscando. 
A saúde do trabalhador são as ações que visam à vigilância epidemiológica 
e sanitária para promoção e proteção da saúde dos trabalhadores. Assistência 
farmacêutica envolve conservação, controle, segurança, eficácia, acompanhamento, 
avaliação e obtenção dos medicamentos. 
Além dos objetivos e atribuições, a legislação buscou evidenciar princípios e 
diretrizes a serem seguidos por todos os atores que fazem parte do sistema. 
 O SUS deve ser entendido segundo seus princípios e diretrizes. Vale 
ressaltar que a iniciativa privada participa do SUS, em caráter complementar, 
 
 
 
 
mediante contrato de direito público. Assim, os serviços filantrópicos e privados 
funcionam como públicos. Todas as ações e serviços públicos de saúde e os 
serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de 
Saúde – SUS devem obedecer aos seguintes princípios. (Figura 01) 
Figura 01 - Princípios doutrinários e organizativos do SUS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Autor 2011 
 
• Universalidade: Este princípio simboliza o rompimento com o modelo excludente 
anterior. A partir do SUS todos os brasileiros passam a ter direito à saúde, em todos 
os níveis que se venha a oferecer. 
• Igualdade: A igualdade de assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de 
qualquer espécie. Portanto não deve haver distinção de raça, cor, religião, sexo, 
poder econômico ou qualquer outro. 
• Integralidade: O cidadão que necessitar de atenção a saúde, seja para promoção, 
proteção ou recuperação, deve recebê-lo em sua plenitude. Inclusive nos caso que 
necessite um conjunto continuo de ações em vários níveis de complexidade. 
• Participação popular: Realizada através das seguintes instâncias colegiadas: 
Conferencia de Saúde e Conselho de Saúde. Segundo a Lei 8.142/90 (que trata do 
controle social do SUS), cada esfera de governo contará com estas instâncias sem 
prejuízo para as funções do poder legislativo. 
Universalidade 
Igualdade 
Integralidade 
 
 
Descentralização 
e comando único 
Participação 
popular 
Regionalização 
e 
Hierarquização 
 
 
 
 
• Descentralização e Comando único: Entendida como uma redistribuição das 
responsabilidades quanto às ações e serviços de saúde entre os vários níveis de 
governo. A descentralização parte do princípio de que a realidade local é a 
determinante principal para o estabelecimento de políticas de saúde. Desta forma, a 
estratégia fundamental do processo de descentralização é a municipalização da 
assistência à saúde. 
• Regionalização e Hierarquização: As ações e serviços públicos que compõem o 
SUS são realizados por estabelecimentos públicos e privados, formando uma rede 
regionalizada e hierarquizada que fornecem ações e serviços de saúde de forma 
coordenada e descentralizada no território brasileiro. 
Após a promulgação da Constituição de 1988, parecia que finalmente as 
políticas de saúde pública teriam um caráter universal no Brasil, entretanto o Estado 
realizou um corte no orçamento da “pasta” e em consequência disso faltam recursos 
para investimento, pessoal, ciências e tecnologia, custeio e manutenção. Desta 
forma, os recursos para a universalização e integralização das ações serviços de 
saúde tornaram-se insuficientes. Diante disso, o Sistema de Assistência Médica 
Supletiva (SAMS), que comercializam os planos de saúde cresceu. 
A Implantação do Sistema único de saúde, na prática, encontrou diversas 
dificuldades, principalmente porque sua proposta era de descentralizar suas ações. 
Esta descentralização não pode ser realizada plenamente, pois Estados e 
municípios não possuíam recursos para fazê-la e os repasse fundo a fundo do 
governo federal eram insuficientes. Criou-se então um impasse, e a solução 
encontrada foi a adoção de portarias, chamadas de normas operacionais básicas, 
que estabeleciam responsabilidades sanitárias com metas, atribuições e prazos. 
Atualmente o SUS, é um dos maiores programas de saúde pública do 
mundo e possui um dos maiores sistemas de atenção primária a saúde, que é o 
Programa de Saúde da Família (PSF). Este programa é constituído por uma equipe 
multidisciplinar formada por médico,enfermeira, auxiliar de enfermagem e agentes 
comunitários de saúde. O PSF propõe-se a reorganizar a prática assistencial a partir 
de ações preventivas e curativas em substituição ao modelo tradicional de 
assistência, orientado para a cura das doenças. 
O Brasil, através do SUS, possui hoje o maior conjunto de procedimentos 
executados em hospital pagos por um único financiador. Na questão da saúde 
 
 
 
 
mental, até 2009, o SUS dispunha de mais de 1.326 Centros de Atenção 
Psicossocial (CAPS), que realizam acompanhamento de pessoas portadoras de 
transtornos mentais, próximo a sua residência e do convívio familiar, apagando 
aquela imagem dos manicômios tão comum no passado. Mais de 1.100 ex-internos 
passaram a conviver com seus familiares. Desta forma, os pacientes têm uma maior 
possibilidade de reinserção social, por meio de programas de reinserção no trabalho, 
de estímulo à formação de associações de usuários, familiares e voluntários, entre 
outros.(Quadro 01e tabela 2) 
Quadro 01 - Número de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) – 31 de 
Janeiro de 2011. 
 
Série histórica de expansão do CAPS (BRASIL 1999 a 2011) 
 
 
 
 
 
FONTE: Área Técnica de Saúde Mental/DAPES/SAS/MS e Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística/IBGE – Estimativa Populacional 2011. 
 
 
 
 
No que se refere à vigilância epidemiológica de doenças imunopreveníveis, 
o SUS, por meio da Secretária de Vigilância em Saúde, é o responsável pelo 
Programa Nacional de Imunizações (PNI), considerado pela Organização Mundial de 
Saúde (OMS) um dos melhores programas deste tipo no mundo. Embora este 
programa seja anterior a criação do SUS, desde a criação do Sistema Único de 
Saúde ele tem sido melhorado e ampliado. 
Outros projetos/programas do SUS que merecem destaque são: 
 
• Bancos de sangue: Através da HEMOBRÁS e dos hemocentros produz 
hemoderivados (derivados sanguíneos) que são utilizados em vários casos, desde o 
tratamento de queimados até pacientes com AIDS. Constituem uma rede em todo o 
país. 
• Sistema de Informações Hospitalares: Através do DATASUS disponibiliza 
informações que podem servir para subsidiar análises objetivas da situação 
sanitária, tomadas de decisão baseadas em evidências e elaboração de programas 
de ações de saúde. Estes são só alguns exemplos das centenas de 
ações/serviços/programas que o SUS possui. Para se terideia da quantidade, 
somente a assistência farmacêutica possui como atribuição adquirir medicamentos e 
insumos farmacêuticos para os seguintes programas: Hipertensão e Diabetes, Asma 
e Rinite, Saúde Mental, Saúde da Mulher, Alimentação e Nutrição e Combate ao 
Tabagismo, Hipertensão e Diabetes, Asma e Rinite. 
O financiamento do SUS é um dos problemas que o sistema enfrenta. 
Porém não é o único. A gestão e consequentemente a qualidade no atendimento 
também são aspectos que denigrem a imagem do Sistema. 
Quanto ao financiamento, com o fim da Contribuição Provisória sobre 
Movimentação Financeira ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de 
Natureza Financeira (CPMF), em 2011, o setor da saúde perdeu muitos recursos. 
Desde sua criação em 1996 a CPMF arrecadou o montante de R$ 201,2 bilhões, 
entretanto parte deste recurso, mais de R$ 33 bilhões, foi desviado da função da 
saúde. A União tentou recriar a CPMF no ano de 2010, entretanto a oposição no 
Congresso Nacional conseguiu que ela não fosse aprovada. Apesar disso, foi 
aprovada a Emenda Constitucional nº 29 que assegurou os recursos mínimos para o 
financiamento das ações e serviços públicos de saúde. 
 
 
 
 
É importante ressaltar que desde o Pacto pela Saúde em 2006, 
aperfeiçoaram-se as formas de financiamento. Antes os repasses federais eram 
feitos através de mais de 100 formas diferentes, porem foram simplificados com a 
redução para cinco blocos de financiamento. Esta medida facilitou o controle, 
controle este que é executado, no caso do SUS, pelos Tribunais de Contas, da 
União, estados e municípios, poder legislativo, auditorias e outros órgãos de controle 
interno do executivo. 
 
 
 
A Gestão do SUS, dentro do conceito administrativo, ainda apresenta muitas 
deficiências. As falhas vão desde a forma de contratação de pessoal até falta de 
planos de cargos e salários. Vale citar também a corrupção, o desperdício, a 
ineficácia e ineficiência na gestão do Sistema. 
 
2.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
Diante do exposto, pode ser constatado que as Políticas Públicas de Saúde 
no Brasil foram realizadas ao longo dos anos, na sua maioria, de forma imediatista e 
não planejada. O que se pode notar na realidade é que as mesmas até a 
 
 
 
 
Constituição Federal de 1988, nunca tiveram como objetivo proporcionar ao cidadão 
um bem estar amplo e irrestrito. As políticas adotadas até então, sempre tiveram o 
intuito de dar uma resposta àsreinvindicações populares, no sentido de cessar os 
protestos e greves. O Movimento Sanitário Brasileiro, influenciado pelo sentimento 
de redemocratização no final da ditadura militar, foi essencial para a criação do 
Sistema Único de Saúde. O princípio de universalização do acesso aos serviços de 
saúde encontrou ótima receptividade na Assembleia Constituinte que viera a se 
forma, pois a nova constituição, Constituição Cidadã, tinha o mesmo principio de 
democracia. Apesar dos percalços por que passou a implementação do SUS, se 
comparado ao que havia antes dele, representa uma vitória do povo brasileiro. 
Diferentemente do que é exposto na mídia, o SUS é sim um grande patrimônio dos 
brasileiros; o que falta neste momento são recursos financeiros, quer por meio de 
nova contribuição para saúde, redução do superávit primário ou outra medida que 
venha a suprir a demanda do Sistema. Outra questão importante é a gestão do SUS; 
a descentralização provocou, apesar dos benefícios, o “apadrinhamento” político, 
principalmente nos municípios, o que provoca o descontinuísmo e inviabiliza a 
criação de planos de cargos e salários. Analisando o histórico das políticas públicas 
de saúde a partir do Sistema Único de Saúde, verificam-se as perspectivas de 
crescimento, melhoria e ampliação do sistema são ótimas. Porém, deve-se ter 
cuidado com o lobby das indústrias farmacêuticas e dos planos de saúde, pois as 
mesmas têm interesses antagônicos ao da população. Diante do quadro de exclusão 
que havia no passado é possível concluir que o sistema de saúde brasileiro deu um 
grande avanço nas últimas décadas e pode se tornar no futuro um modelo de 
sistema de saúde público universal no mundo. 
 
2.6 CONCLUSÕES 
 
Analisando neste artigo relevantes conceitos que possibilitaram entender o 
que é políticas públicas, o que é saúde pública e o que é o Sistema único de saúde, 
identificando-se historicamente, como se deu o surgimento e a construção das 
políticas públicas de saúde no Brasil, assim como também com a analise das 
mudanças de saúde pública brasileira, principalmente, a partir da criação do SUS, 
seu funcionamento e situação atual, conclui-se que o Sistema Único de Saúde- 
 
 
 
 
SUSapresenta-se juridicamente como um modelo mundial no que se diz respeito à 
universalização da saúde, porem, devido à falta de fiscalização, corrupção 
governamental, embates políticos, assim como também a falta de uma gestão mais 
técnica, o mesmo tornou-se uma entidade cheia de problemas, embora em alguns 
lugares do país o mesmo funcione com um padrão de qualidade bastante elevado. 
Por fim, espera-se que suas perspectivas para um horizonte futuro sejam postas em 
prática o mais rápido possível, pois só desta maneira haverá possiblidade dizer que 
o SUS é na pratica um sistema único de saúde universal. 
 
REFERÊNCIAS 
 
Brasil. Ministério da Saúde. O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municípios - 
Ministério da Saúde, Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde. – 3. 
ed. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2009.BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito administrativo e políticas públicas. São 
Paulo: Saraiva, 2002. 
 
COELHO, Ricardo Corrêa. Estado, governo e mercado. Florianópolis: 
Departamento de Ciências da Administração - UFSC; Brasília: CAPES: 2009. 
 
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, disponível em < 
HTTP://www.ibge.gov.br / >acesso em: 05 de Janeiro de 2012 MEKSENAS, Paulo. 
Cidadania, poder e comunicação. 2ª Ed. – São Paulo: Cortez, 2002. 
 
PAIM, Jairnilson Silva. O que é o SUS. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009. 
 
POSSAS, Cristina de Albuquerque. Saúde e trabalho: a crise da previdência social. 
Rio de Janeiro: Edições Graal, 1981. 
 
RONCALLI, Angelo Giuseppe O. Desenvolvimento das políticas públicas de saúde 
no Brasil e a construção do Sistema Único de Saúde. In: Antonio Carlos Pereira 
(Org.). Odontologia em Saúde Coletiva: planejando ações e promovendo saúde. 
Porto Alegre: ARTMED, 2003. Cap. 2. p. 28-49. 
 
Wikipédia, a encicoplédia livre, disponível em:www.pt.wikipedia.org/ > acesso em: 
03 de Janeiro de 2012 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEXTO 3. O PAPEL DO CONTROLE SOCIAL NA IMPLEMENTAÇÃO DAS 
POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO 
Bianca Mota de Moraes 
3.1 Introdução 
 
A perspectiva do controle social de que ora se cuida é a do olhar da 
sociedade para as escolhas administrativas do Estado, intensificando a relação entre 
governantes e governados, com envolvimento participativo, transparência e 
responsividade. O Estado Democrático de Direito insculpido no art. 1º da 
Constituição da República Federativa do Brasil, em 1988, tem como um de seus 
fundamentos a cidadania e assenta o exercício do poder pelo povo de forma 
representativa ou direta. Projetou-se o início de tempos de soberania popular, 
rompendo-se antigas barreiras de participação política dos cidadãos. 
Especificamente para a área educacional, a Constituição Brasileira conferiu à gestão 
democrática o status de princípio regente do ensino público, no inciso VI do seu art. 
206. Assim, a vivência dos processos de escolha, com toda a reflexividade que 
carrega por seus ganhos, perdas e responsabilidades, deve, segundo a Carta 
Magna, se iniciar nas escolas, o que, diga-se, está em perfeita sintonia com os 
objetivos da educação alinhados no seu art. 205: 
 
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida 
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando Políticas Públicas 
de Educação ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o 
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
 
No mesmo sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 53, 
garantiu a crianças e adolescentes o direito de organização e participação em 
entidades estudantis, bem como o de contestar critérios avaliativos, a demonstrar a 
abertura legislativa às proposições dos educandos no contexto escolar. 
O Constituinte apontou para uma democracia cuja dimensão inclusiva não 
se contenta com o aspecto delegatório do voto. Tanto assim é que previu tanto a 
forma representativa como a direta no exercício do poder pelo povo, viabilizando que 
leis ordinárias disciplinassem formas de participação social que envolvessem 
também os que ainda não possuem direito ao voto, como crianças e adolescentes 
de até quinze anos de idade. 
 
 
 
 
No entanto, certo é que os textos normativos não promovem 
automaticamente as transformações que anunciam e o Brasil tem experimentado a 
conturbada marcha de construção da sua democracia com alguma resiliência. Como 
o público ao qual se dirigiu o curso supramencionado, constituiu-se primordialmente 
de conselheiros municipais de educação, força motriz da engrenagem juridicamente 
prevista para controlar socialmente a elaboração, a execução e a avaliação de 
políticas públicas educacionais, o percurso da exposição aproximou-se do ponto de 
vista desses atores, suas possibilidades e limites, teóricos e práticos. 
Em relação à matéria ora analisada, os vinte e oito anos da nova ordem 
constitucional não foram suficientes para o amadurecimento do princípio acima 
elencado de modo a projetar efeitos para muito além de sua afirmação textual no 
que se refere tanto à autonomia dos sistemas de ensino quanto dos Conselhos de 
Educação e Escolares, estes verdadeira sementeira daqueles. 
Após ser espelhada no art. 3º, VIII c/c 14 da Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação e pinçada como objetivo no Plano Nacional de Educação de 200142, a 
democratização do ensino público não se fez acompanhar, por exemplo, sequer de 
lei regulamentadora que consubstanciasse a diretriz então fincada no item 11.2 do 
segundo documento: 
 
(...) cada sistema de ensino há de implantar gestão democrática. Em nível 
de gestão de sistema na forma de Conselhos de Educação que reúnam 
competência técnica e representatividade dos diversos setores 
educacionais; em nível das unidades escolares, por meio da formação de 
conselhos escolares de que participe a comunidade educacional e formas 
de escolha da direção escolar que associem a garantia da competência ao 
compromisso com a proposta pedagógica emanada dos conselhos 
escolares e a representatividade e liderança dos gestores escolares. 
 
Assim, diferentemente dos Conselhos de Acompanhamento e Controle 
Social do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de 
Valorização do Magistério – FUNDEF e do Fundo de Manutenção e 
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da 
Educação – FUNDEB (Leis Federais nº 9.424/96 e nº 11.494/07) e de Alimentação 
Escolar (Lei Federal nº 11. 947/07), os Conselhos Escolares e os de Educação não 
receberam disciplinamento normativo federal específico que lhes pavimentasse o 
caminho. 
 
 
 
 
São escassas as referências legais no âmbito nacional que aludam aos 
Conselhos de Educação e Escolares, o que imprimiria clareza à maneira pela qual 
se compõem e funciona, o que lhes é permitido e exigível, bem como sobre a 
desvinculação das suas atividades em relação ao Poder Executivo. 
Dispositivos como os do caput e do §2º do art. 37 da Lei Federal nº 
11.494/07, que fazem incidir parágrafos do art. 24 daquela mesma norma ao 
Conselho Municipal de Educação43, é dos poucos que podem ser aqui trazidos 
como exemplo do tratamento sobre a matéria. 
Esta contenção poderia ter sido uma boa opção se já estivéssemos com a 
autonomia dos sistemas estaduais e municipais consolidada, pois certamente estes 
buscariam o formato mais apropriado à sua realidade para organizar seus sistemas 
democráticos de ensino, aprofundando-se em temas como os aqui em tela. Esta era, 
inclusive, a proposta da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, no inciso VIII do art. 
3º44. Porém, não foi o que aconteceu. 
Emergiu, então, em 2014, por intermédio da Lei Federal nº 13.005/14, o 
Plano Nacional de Educação, atualmente em vigência, que renovou em seu artigo 
2º, VI45 e na meta 19, o compromisso com a gestão democrática do ensino público. 
Desta vez, o objetivo veio acompanhado de dois diferenciais no Plano: (a) a 
previsão de um prazo, no artigo 9º46, especificamente para a elaboração de leis 
estaduais e municipais sobre a gestão democrática do ensino público e (b) 
estratégias mais claras para a sua consecução, como as dos itens 19.1 e 19.5 a 
19.747. 
Cabe salientar que, conforme proposto no Relatório do 1º Ciclo de 
Monitoramento das Metas do PNE Biênio 2014-2016 apresentado pelo INEP-MEC: 
 
(...) o conceito de gestão democrática da escola está ancorado no fato de: a 
escolha de diretores ocorrerem a partir de critérios técnicos de mérito e 
desempenho, associados à participação da comunidade escolar; a escola 
possuir autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira; a 
elaboração de projeto pedagógico, currículos escolares, planos de gestão 
escolar, regimentos escolares e constituição deconselhos escolares ou 
equivalentes envolverem a participaçãoe consulta às comunidades escolar 
(contando com alunos e seus familiares) e local, assegurando a participação 
dos pais na avaliação de docentes e gestores escolares. 
 
A contribuição trouxe nitidez à conceituação de gestão democrática e, uma 
vez que vinculou sua caracterização ao cumprimento do que está disposto no PNE, 
assentou contornos para sua exigibilidade. 
 
 
 
 
É até mesmo esperado que os segmentos que compõem a comunidade 
escolar reivindiquem seus espaços de voz e de ingerência na gestão, 
nomeadamente os destinatários do serviço educacional, quais sejam os estudantes 
e suas famílias. 
Realce-se que a importância da cooperação entre os usuários e a 
administração pública foi expressamente reconhecida também no §3º, do art. 37 da 
Carta Magna, conforme abaixo transcrito: 
 
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes 
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos 
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e 
eficiência e, também, ao seguinte: (...) §3º A lei disciplinará as formas de 
participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando 
especialmente: I - as reclamações relativas à prestação dos serviços 
públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento 
ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos 
serviços; II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a 
informações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e 
XXXIII; III - a disciplina da representação contra o exercício negligente ou 
abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública. 
 
Resta claro que as conquistas cristalizadas na Constituição Federal foram 
fruto dos reclamos da sociedade por alterações estruturais na forma de 
governabilidade do país, para a efetiva inserção das necessidades populares na 
agenda política. Tal intento só poderia ser exitoso mediante a abertura de canais 
para a ingerência direta do povo. 
A escola é o alicerce desse processo ao fomentar o aprendizado 
democrático, por exemplo, com a escolha de diretores, a realização de assembleias, 
o compartilhamento de decisões administrativas e pedagógicas, a convivência 
comPolíticas Públicas de Educação a pluralidade, o desenvolvimento de atividades 
culturais e de engajamento dos estudantes48 e de seus responsáveis. 
 
3.2 Dados do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de 
Tutela Coletiva de Proteção à Educação – CAO Educação/MPRJ 
 
À luz do princípio constitucional da gestão democrática do ensino público, o 
trabalho iniciado pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de 
Tutela Coletiva de Proteção à Educação do Ministério (CAO Educação – MPRJ), em 
2013, direcionou-se ao fortalecimento dos conselhos atuantes na área da educação. 
 
 
 
 
Resultou, até o presente momento, na realização de quatro encontros estaduais, 
uma publicação (Controle Social na Educação – Gestão Democrática e Conselhos) e 
visitas pela equipe técnica a todos os Conselhos de Educação fluminenses. Tais 
iniciativas viabilizaram a compilação dos dados a seguir: 
 
Tabela 1: Presidência dos Conselhos Visitados 
 
Presidência Quantitativo Porcentagem 
Eleito pelos pares 47 51% 
Secretário Municipal de Educação 29 31% 
Indicado Sete 8% 
Não foi possível apurar 10 11% 
 
TOTAL 93 100% 
 
Tabela 2: Composição dos Conselhos Visitados 
 
Assentos Representativos Quantitativo Porcentagem 
Pais ou responsáveis de alunos 40 conselhos 43% 
Estudantes 04 conselhos 04% 
Conselho Tutelar 14 conselhos 15% 
Sindicato de Professores 18 conselhos 19% 
Conselhos Municipais 09 conselhos 10% 
Conselhos Escolares 05 conselhos 05% 
Sociedade Civil Organizada 23 conselhos 25% 
Comunidade 03 conselhos 03% 
Ausência de assento específico para as categorias 
indicadas acima 
20 conselhos 22% 
Não foi possível apurar 11 conselhos 12% 
 
Tabela 3: Sede dos Conselhos Visitados 
 
SEDE Quantitativo Porcentagem 
Própria 11 12% 
Na Secretaria Municipal de Educação 65 70% 
Não encontrado Três 03% 
Em Associação local Um 1% 
Na prefeitura Municipal Cinco 05% 
Não possui local específico Cinco 05% 
Espaço cedido pela prefeitura Um 01% 
Em outras Secretarias Municipais Dois 02% 
 
TOTAL 93 100% 
 
Tabela 4: Homologação dos atos normativos 
 
Homologação dos atos normativos Quantitativo Porcentagem 
Dependem de órgãos externos 50 54% 
 
 
 
 
Não dependem da Secretaria Municipal de Educação 23 25% 
Não foi possível apurar 10 11% 
Não informado 10 11% 
 
TOTAL 93 100% 
 
Como se depreende dos dados apresentados, ainda é diminuta a 
participação de estudantes, conselhos escolares e representantes das comunidades 
nos Conselhos de Educação fluminenses (em apenas 4%, 5% e 3% deles, 
respectivamente, ela foi prevista). Também é muito baixo o índice de conselhos com 
sede própria, ou seja, que não estão alojados em outros órgãos do município (12%). 
Por outro lado, apenas 25% dos Conselhos de Educação não dependem de 
homologação de outras instâncias para que seus atos normativos tenham validade. 
Desta forma, evidencia-se que os vínculos de dependência dos Conselhos 
de Educação com o Poder Executivo no Estado do Rio de Janeiro ainda são muito 
fortes, o que deixa patente o longo percurso para que de fato representem com 
propriedade o controle social local na temática. 
Há intensa mobilização do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro no 
acompanhamento das metas do Plano Nacional de Educação, especialmente a 19. 
O reconhecimento de que a efetivação do princípio constitucional da gestão 
democrática do ensino público possui intrínseca relação com a genuína qualidade da 
educação impulsiona a empreitada pela consolidação e reconhecimento do papel 
dos órgãos de controle social. Pela via de conselhos fortes, que precisam operar 
com articulação entre si e com órgãos como os Tribunais de Contas e o Ministério 
Público, as políticas públicas podem se tornar respostas mais perenes e legítimas às 
postulações populares; mais protegidas, portanto, dos denominados “interesses de 
ocasião”. 
Cabe aqui relembrar as lições de Belaz (2013) sobre o caráter político e 
jurídico dos conselhos sociais: 
 
No aspecto político, trata-se da localização dos conselhos sociais na visão 
ampliada de Estado, apontam-se as possibilidades de estes renovarem a 
democracia, constituírem novas formas de hegemonia e mostrarem-se 
como instrumentos de prevenção e repressão à corrupção política. No que 
tange ao âmbito jurídico, indicam-se os conselhos sociais como sujeitos 
coletivos portadores de juridicidade para controle social, espaços produtores 
de novos direitos, instâncias deliberativas de redução do poder 
discricionário do Executivo, correlacionando-se o funcionamento adequado 
dessas instâncias com o papel constitucional a ser desenvolvido pelo 
Ministério Público brasileiro como instituição. 
 
 
 
 
 
Fica claro que esses colegiados têm potencial para se tornarem esferas 
privilegiadas de comunicação, deliberação e fiscalização da sociedade em relação 
ao poder público, experiência que não deve nem pode ser desperdiçada no Brasil 
contemporâneo. 
A aproximação e as atividades entre conselhos são promissoras, por 
exemplo, de prevenção à jurisdicionalização excessiva que se vive hoje por 
ausência de planejamento e de execução transparente de políticas intersetoriais que 
tenham sido idealizadas através da coletividade. 
Sem dúvida que a edificação da cultura emancipatória em todas as searas 
pressupõe um despertar para a potência inerente a esse caminho e um desejar 
desbravá-lo, ainda e principalmente quando surgirem os obstáculos, assumindo as 
responsabilidades que lhes são inerentes. 
Na área educacional, essa trajetória se torna tanto mais autêntica quanto 
mais seja fundamentada em demanda nascida nas escolas. A necessidade de umfazer educativo próprio cresce com mais força em ambientes nos quais a informação 
é partilhada e onde se nutre a confiança na colaboração de cada um no atuar 
coletivo. 
Essa tem sido a escolha de vários educadores, estudantes, famílias, 
integrantes do controle social e do sistema jurídico. Suas transformações positivas já 
fazem parte de algumas das novas linhas que estão sendo escritas a muitas mãos 
na história da educação brasileira. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BERCLAZ, Márcio Soares. A dimensão político-jurídica dos Conselhos Sociais no 
Brasil: uma leitura a partir da Política da Libertação e do Pluralismo Jurídico. Rio de 
Janeiro: Lúmen Juris, 2013. 315p. 
 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. 
 
_______. Lei nº 8.069, 13 de julho de 1990 – Dispõe sobre o Estatuto da Criança 
e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União [da] República 
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 de jul. 1990 e retificado em 27 de set. 1990. 
 
_______. Lei nº 9.394, 20 de dezembro de 1996 – Estabelece as diretrizes e 
bases da educação nacional. Diário Oficial da União [da] República Federativa do 
Brasil, Brasília, DF, Seção I – 23 de dez. 1996. 
 
 
 
 
 
_______. Lei nº 9.424, 24 de dezembro de 1996 - Dispõe sobre o Fundo de 
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do 
Magistério, na forma prevista no art. 60, § 7º, do Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias, e dá outras providências. Diário Oficial da União da 
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 26 de dez. 1996. 88 Políticas Públicas 
de Educação 
 
_______. Lei nº 10.172, 09 de janeiro de 2001 - Aprova o Plano Nacional de 
Educação e dá outras providências. Diário Oficial da União [da] República 
Federativa do Brasil, Brasília, DF, Seção 1 - 10 de jan. 2001. 
 
_______. Lei nº 11.494, 20 de junho de 2007 - Regulamenta o Fundo de 
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos 
Profissionais da Educação - FUNDEB, de que trata o art. 60 do Ato das 
Disposições Constitucionais Transitórias; altera a Lei no 10.195, de 14 de 
fevereiro de 2001; revoga dispositivos das Leis nos 9.424, de 24 de dezembro de 
1996, 10.880, de nove de junho de 2004, e 10.845, de cinco de março de 2004; e dá 
outras providências. Diário Oficial da União da República Federativa do Brasil, 
Brasília, DF, Seção 1 - 21 de jun. 2007. 
 
_______. Lei nº 11.947, 16 de junho de 2009 - Dispõe sobre o atendimento da 
alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da 
educação básica; altera as Leis nos 10.880, de nove de junho de 2004, 11.273, de 
seis de fevereiro de 2006, 11.507, de 20 de julho de 2007; revoga dispositivos da 
Medida Provisória no 2.178-36, de 24 de agosto de 2001, e a Lei no 8.913, de 12 de 
julho de 1994; e dá outras providências. Diário Oficial da União da República 
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 de jun. 2009. 
 
_______. Lei nº 12.852, 05 de agosto de 2013 - Institui o Estatuto da Juventude e 
dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas 
públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE. Diário 
Oficial da União [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Seção 1 – 6 ago. 
2013. 
 
_______. Lei nº 13.005, 25 de junho de 2014 - Aprova o Plano Nacional de 
Educação - PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União [da] República 
Federativa do Brasil, Brasília, DF, Seção 1 - Edição Extra – 26 jun. 2014. 
 
_______. Lei nº 13.146, 06 de julho de 2015 - Institui a Lei Brasileira de Inclusão 
da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da 
União [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, sete jul. 2015. 
 
 _______. Lei nº 13.257, 08 de março de 2016 - Dispõe sobre as políticas 
públicas para a primeira infância e altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 
(Estatuto da Criança e do Adolescente), o Decreto-Lei no 3.689, de três de 
outubro de 1941 (Código de Processo Penal), a Consolidação das Leis do Trabalho 
(CLT), aprovada pelo DecretoLei no 5.452, de 1o de maio de 1943, a Lei no 11.770, 
de nove de setembro de 2008, e a Lei no 12.662, de cinco de junho de 2012. 
 
 
 
 
 
_______. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio 
Teixeira. Relatório do 1º ciclo de monitoramento das metas do PNE: biênio 2014-
2016. – Brasília, DF: Inep, 2016. 
 
 
4. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA HABITAÇÃO: políticas públicas, conflitos 
urbanos e o direito à cidade. 
 
Luana Dias Motta3 
 
A questão da habitação pode ser considerada, na atualidade, um dos 
principais problemas sociais urbanos do Brasil. Numa perspectiva que concebe o 
problema da moradia integrado à questão do direito à cidade, é possível perceber 
que as reivindicações em relação à habitação emergem sob várias facetas: solução 
para os graves problemas de infraestrutura (saneamento, asfaltamento, etc.), 
construção de moradias para atender ao número alarmante de famílias sem casa 
própria e questionamento das obras de urbanização em áreas periféricas e favelas. 
É importante perceber como os atuais problemas urbanos, em especial 
aqueles relacionados à habitação, refletem um século de políticas que não 
consideraram a população mais pobre ou, em alguns períodos, nem existiram. 
Nesse sentido, torna-se pertinente uma retomada histórica da questão da habitação 
urbana no Brasil, com destaque para algumas políticas e projetos do Estado para 
tentar enfrentar essa questão social. 
 
4.1 Histórico das políticas nacionais para habitação no Brasil 
 
No fim do século XIX, no Brasil, há uma conjunção de acontecimentos que 
influenciaram decisivamente a ampliação e a formação dos espaços urbanos no 
país. O fim da escravidão fez com que milhares de negros fossem expulsos do 
campo e migrassem para a cidade. Concomitantemente, imigrantes europeus 
chegaram ao Brasil para trabalhar no campo e também na nascente indústria 
brasileira. Esses fatores provocaram o aumento da população nas cidades, 
especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, fato que acarretou uma demanda 
 
3Cientista Social, mestranda em Sociologia na UFMG e integrante do Grupo de Estudos em 
Temáticas Ambientais (GESTA/UFMG). 
 
 
 
 
por moradia, transporte e demais serviços urbanos, até então inédita (MARICATO, 
1997) 4. 
Inicialmente, a primeira medida do governo brasileiro foi oferecer crédito às 
empresas privadas para que elas produzissem habitações. Todavia, os empresários 
não obtiveram lucros com a construção de habitações individuais, devido à grande 
diferença entre os preços delas e das moradias informais; alguns passaram a 
investir em loteamentos para as classes altas, enquanto outros edificaram prédios 
para habitações coletivas5·, que passaram a figurar como a principal alternativa para 
que a população urbana pobre pudesse permanecer na cidade, especificamente no 
centro, onde estariam próximos das indústrias e de outras possibilidades de trabalho 
(PECHMAN & RIBEIRO, 1983). 
Apesar de financiar a construção das habitações coletivas, o poder público 
considerava os cortiços degradantes, imorais e uma ameaça à ordem pública. 
Assim, tendo como referência os ideais positivistas, o novo poder republicano 
realiza, no início do século XX, uma reforma urbana no Rio de Janeiro para melhorar 
a circulação de mercadorias, serviços e pessoas na cidade. Foram demolidos 590 
prédios velhos para construção de 120 novos edifícios, o que significou a expulsão 
de diversas famílias pobres de suas moradias, a ocupação dos subúrbios e a 
formação das primeiras favelas do Rio de Janeiro (MARICATO, 1997). Também 
nesse período, outras cidades seguiram o modelo de planejamento de Paris, que 
combinava saneamento, embelezamento, circulação e segregação territorial. Esse 
foi o caso de Belo Horizonte, que, segundo Le Ven (1977), adotou um projeto 
segregacionista,buscando determinar quais espaços poderia ser ocupados por 
quais grupos sociais. Assim, antes mesmo da inauguração, a cidade já tinha duas 
áreas ocupadas irregularmente - a do Córrego do Leitão e a do Alto da Estação -, 
que abrigavam três mil pessoas ao todo (GUIMARÃES, 1992). 
Dessa forma, do início do século XX até a década de 1930, diversas cidades 
brasileiras tiveram o problema da habitação agravado, com o poder público atuando 
de maneira pontual e ineficiente. Somente a partir do fim da década de 1930, 
 
4Dentro dessa categoria podem ser incluídos os cortiços, as estalagens, as avenidas, as casas de 
cômodos, as vilas operárias e as vilas populares (PECHMAN; RIBEIRO, 1983). 
4 Além dos estímulos públicos para solucionar o problema da habitação das camadas pobres, outra 
iniciativa foi a das Vilas Operárias, que eram construídas por industriais e oferecidas a seus 
empregados, que ficavam sob a vigilância e controle dos patrões. 
5 
 
 
 
 
quando a industrialização e a urbanização do país ganham novo impulso com a 
Revolução de 30, é que começa a se esboçar uma política para a habitação. É 
nesse momento, também, que a ciência e a técnica ganham maior relevância que os 
conceitos de embelezamento e os problemas urbanos em geral são colocados na 
chave do social. 
Fica evidente, então, que o setor privado não seria capaz de resolver o 
problema da habitação para as camadas populares e que tal tarefa teria que ser 
assumida pelo Estado, que passou a sofrer pressões dos trabalhadores e do 
empresariado (o constante aumento dos aluguéis fazia com os trabalhadores 
reivindicassem melhores salários). Como resposta, o governo propôs o 
financiamento, por meio dos Institutos de Aposentadoria e Pensão, de casas a 
serem destinadas ao aluguel. Tal medida, além de insuficiente para modificar a 
situação da moradia no Brasil, atendia apenas aos associados dos institutos. 
Paralelamente à construção de novas unidades habitacionais, o Estado, sobretudo a 
partir de 1937 com o Estado Novo, passa a tratar os assuntos relativos às favelas e 
seus moradores como uma questão de polícia, o que levou à realização de diversas 
remoções, com a adoção de uma política de erradicação de favelas. 
Mas a principal marca da política habitacional do período populista foi a 
criação da Fundação da Casa Popular (FCP), que, apesar dos resultados modestos, 
foi o primeiro órgão nacional criado para prover residências para a população pobre. 
A FCP foi criada em 1946 para funcionar como uma resposta social a um contexto 
de fortes pressões dos trabalhadores e de crescimento do Partido Comunista. 
Apesar de ter recebido diversas funções relacionadas à política urbana em geral, 
essa fundação se tornou inoperável, devido ao acúmulo de atribuições, à falta de 
recursos e de força política, somadas à ausência de respaldo legal; assim, em 1952, 
o governo federal reduziu as atribuições da FCP. 
Na década de 1950 houve um grande avanço da indústria brasileira, com 
intenso crescimento urbano e intervenções do Estado para adequar o espaço 
urbano à circulação de automóveis. No entanto, a expansão urbana foi marcada por 
grande desigualdade: a classe média crescia e tinha acesso a financiamentos de 
apartamentos e a bens duráveis, ao passo que às classes pobres restavam 
 
 
 
 
àsfavelas e os loteamentos ilegais na periferia6. Nesse contexto, o governo JK tenta, 
no final da década de 1950, fortalecer a FCP, que vive seu período mais dinâmico, 
com mais investimentos e maior número de unidades habitacionais construídas. 
Todavia, o problema da escassez de moradia e a inconstância de recursos 
sempre persistiram, uma vez que o Estado era o principal financiador e a verba para 
esse órgão dependia da distribuição interna dos recursos e da situação econômica 
do país (AZEVEDO & ANDRADE, 1982). Outro grave problema eram as relações 
clientelistas e o autoritarismo, combinação característica do período populista, que 
determinavam as regiões onde seriam construídos os conjuntos e os critérios de 
seleção dos candidatos. A postura autoritária também se fazia presente após a 
entrega dos apartamentos nos conjuntos: técnicos da FCP visitavam os 
apartamentos para avaliar e orientar o comportamento social e individual dos 
moradores, que poderiam ter seus contratos rescindidos caso tivessem conduta 
nociva ‘‘à ordem ou à moral do Núcleo Residencial, ou criarem embaraço à sua 
Administração” (AZEVEDO & ANDRADE, 1982, p. 31). 
Apesar das tentativas de reformulação, a FCP, em quase 20 anos de 
existência, produziu apenas cerca de 17.000 moradias, não tendo sido, como era a 
proposta inicial, o carro chefe da política habitacional do país. Para Azevedo e 
Andrade (1982), o fracasso da FCP pode ser explicado pelo caráter emergencial e 
pontual das ações, uma vez que o principal objetivo não era atacar a estrutura do 
problema da habitação, mas sim “derivar dividendos políticos, quer sob a forma de 
votos, quer de prestígio” (IDEM, p. 54). Com o golpe militar, em 1964, a FCP foi 
extinta, sendo criado o Plano Nacional de Habitação, o primeiro grande plano de o 
governo militar. Para além das ações diretamente relacionadas à habitação, o Plano 
buscava a dinamização da economia, o desenvolvimento do país (geração de 
 
6As favelas são áreas ocupadas sem pagamento pelos lotes e, de modo geral, estão localizadas nas 
áreas centrais das cidades, próximas a serviços públicos de transporte, de escolas, de postos de 
saúde, etc. Já os loteamentos ilegais são empreendimentos privados, geralmente nas periferias e em 
cidade de Regiões Metropolitanas, sendo classificados pelo poder público em duas categorias: os 
loteamentos clandestinos, nos quais os moradores não possuem titulação da propriedade da terra, e 
os loteamentos irregulares, aqueles onde há irregularidades com relação às normas urbanísticas, 
especialmente no que tange a infraestrutura. Apesar de terem pagado pelos terrenos, muitas vezes 
os moradores são ameaçados de serem removidos, devidos às irregularidades dos loteamentos. 
Tanto nos loteamentos clandestinos como nos irregulares houve a compra do lote, que devido às 
ilegalidades têm preços abaixo do mercado. Cabe destacar que as favelas e os loteamentos existem 
em diversas cidades brasileiras, mas os loteamentos ocorreram em maior proporção na cidade de 
São Paulo e na sua Região Metropolitana (LAGO; RIBEIRO, 1982). 
 
 
 
 
empregos, fortalecimento do setor da construção civil etc.) e, sobretudo, controlar as 
massas, garantindo a estabilidade social. 
No que tange à concepção de política urbana do governo militar, o 
planejamento era a solução para o “caos” urbano e para controlar o crescimento das 
favelas e ocupações irregulares. Prolifera-se, então, a elaboração e a 
implementação de planos diretores, que, todavia, ignoravam as necessidades e 
problemas da cidade real (que incluía a cidade informal). Portanto, a política da 
habitação desse período centrou-se na produção de moradias e obras de 
infraestrutura na cidade legal (formal) (MARICATO, 2000). Assim, a partir de 1964, 
as ações públicas voltadas para as vilas e favelas são sufocadas; os movimentos 
sociais e as associações são reprimidos, lançados na ilegalidade e impedidos de 
atuar; os favelados, bem como suas ocupações e associações, passam novamente 
a ser tratados como problema de polícia. 
Para concretizar essa concepção de cidade e de política para habitação, o 
Banco Nacional de Habitação (BNH) se torna o principal órgão da política 
habitacional e urbana do país7·. Prioritariamente, ele deveria “orientar, disciplinar e 
controlar o SFH, para promover a construção e a aquisição de casa própria, 
especialmente pelas classes de menor renda”. (AZEVEDO & ANDRADE, 1982, p. 
61). A trajetória do SFH e do BNH não foi linear e pode ser divididaem três fases. A 
primeira delas, de 1964 a 1969, foi a de implantação e expansão do BNH e das 
COHABs8·.com um considerável financiamento de moradias para o “mercado 
popular” (40% dos investimentos), convergindo com o objetivo do governo de se 
legitimar junto às massas. A segunda fase, de 1970 a 1974, consistiu em um 
esvaziamento e uma crise do SFH, sobretudo devido à perda do dinamismo das 
COHABs, que se tornavam financeiramente frágeis devido à inadimplência causada, 
principalmente, pela perda do poder de compra do salário mínimo, situação que 
atingia seus principais mutuários, oriundos das camadas pobres. Isso fez com que 
 
7O BNH também financiou materiais de construção, empresas de transporte, produção e distribuição 
ligadas à construção civil, programas de saneamento e de intervenção na organização do espaço 
urbano. 
 
8Entre 1964 e 1965 são criadas, em diversas cidades do país, as Companhias de Habitação Popular 
(COHABs), empresas públicas ou de capital misto que tinham como objetivo principal atuar na 
concepção e execução de políticas para redução do déficit habitacional, sobretudo através de 
recursos oriundos do BNH. Esse formato de empresa pública convergia com o ideal do governo da 
época de realizar uma política que tivesse uma gestão baseada em modelos empresariais. 
 
 
 
 
 
 
os financiamentos passassem a ser, cada vez mais, destinados às famílias de 
classe média, uma vez que os juros para essa camada eram mais altos e o índice de 
inadimplência, se comparado com o das classes mais pobres, era menor. Inicia-se, 
então, a terceira fase do SFH (1975 a 1980), caracterizada pela reestruturação e 
pelo revigoramento das COHABs, com aumento do número de moradias produzidas, 
a grande maioria destinada à classe média. 
Desse modo, as alternativas encontradas pelas famílias pobres eram as 
favelas e os loteamentos clandestinos das periferias das capitais e das cidades das 
regiões metropolitanas. Consequentemente, houve, na década de 1970, um grande 
crescimento dos loteamentos clandestinos nas periferias, pois a possibilidade de 
acesso à moradia na cidade consistia na combinação entre compra de lotes ilegais 
ou irregulares (que eram mais baratos) e autoconstrução. O quadro de flexibilização 
das leis e ausência de fiscalização dos loteadores das áreas não centrais, que 
permanecia desde a década de 1940, começou a se modificar no final da década de 
1970, fazendo com que os lotes na periferia encarecessem. A isso, somou-se a 
inflação crescente e a consequente perda do poder de compra do salário, situação 
que levou, na década de 1980, à queda da produção e da compra de lotes nas 
periferias e, concomitantemente, ao crescimento do número de favelas e ao 
aumento das já existentes (LAGO; RIBEIRO, 1996). 
Na tentativa de conter esses processos e compensar a distorção das 
COHABs, o governo federal criou programas para “oferecer uma alternativa 
habitacional dentro do Sistema Financeiro de Habitação àquelas pessoas 
marginalizadas dos programas habitacionais das COHABs” (AZEVEDO & 
ANDRADE, 1982, p. 104) e, consequentemente, tentar conter o crescimento das 
favelas. Esse é o caso do Programa de Financiamento de Lotes Urbanizados 
(PROFILURB), criado em 1975 com o objetivo de “fornecer condições de 
saneamento e infraestrutura básica, reservando ao mutuário a responsabilidade de 
construir sua habitação de acordo com suas disponibilidades financeiras e 
prioridades pessoais” (Idem, p. 104). Todavia, houve forte rejeição a esse Programa, 
pois os lotes eram muito afastados dos centros urbanos, o que dificultava e/ou 
impedia o acesso à cidade e aos seus serviços. 
Na década de 1980 a crise financeira compromete mais gravemente os 
investimentos do SFH, culminando na extinção do BNH em 1986, que transfere para 
 
 
 
 
a Caixa Econômica Federal suas funções. Entre 1964 e 1986 (ano de sua extinção), 
o SNH financiou cerca de quatro milhões de moradias, número bastante expressivo 
para a realidade do país. Porém, os investimentos atingiram predominantemente a 
classe média emergente, alijando da política de financiamento da casa própria os 
trabalhadores que recebiam menos de um salário mínimo. Do total de moradias 
produzidas, 35% foram destinadas ao “mercado popular”, com comprometimento de 
apenas 13% de todos os recursos investidos pelo BNH. 
Dois anos após a extinção do BNH houve uma queda drástica nos recursos 
destinados às COHABs e os financiamentos se concentraram ainda mais na classe 
média. Para tentar minimizar essa situação, o governo federal lançou, em 1987, o 
Programa Nacional de Mutirões Habitacionais, da Secretaria especial de Ação 
Comunitária (SEAC), que tinha como objetivo financiar habitações para famílias com 
renda inferior a três salários mínimos. Apesar de sua grande importância 
(comparando ao baixo número de unidades financiadas pelas COHABs), o 
Programa não alcançou suas metas, pois, além da alta inflação do período, não 
tinha uma política e uma gestão bem definidas. 
É importante destacar o processo de mobilização do movimento pela 
reforma urbana por ocasião da Assembleia Nacional Constituinte. Apesar das 
tímidas conquistas (BEDÊ, 2005), tal mobilização fortaleceu a concepção de que as 
questões da cidade devem ser tratadas de maneira integrada. Além disso, a 
Constituição Brasileira de 1988 consolidou o processo de descentralização das 
políticas públicas de planejamento urbano, que ficou a cargo dos municípios. Por um 
lado, esse processo possibilitaria à gestão local ampliar a eficácia, a eficiência e a 
democratização das políticas. Mas por outro, “pesquisas recentes apontam para 
efeitos perversos, em que, sem uma definição institucional de competências e de 
redistribuição de recursos, os municípios mais pobres tendem a ficar alijados do 
acesso às ofertas de financiamento.” (CARDOSO, s/d, p. 9). 
Na década de 1990, as políticas para habitação não tiveram grande 
efetividade e não cumpriram as metas propostas. Segundo Denaldi (2003), as ações 
governamentais nessa década tiveram forte relação com a agenda das agências 
internacionais. 
 
É sabido que a agenda das agências multilaterais de cooperação 
internacional para países em desenvolvimento, por meio de sua ‘ajuda 
internacional’, influenciam em algum grau e periodicidade o desenho das 
 
 
 
 
políticas públicas sociais dos países apoiados. Percebe-se, nesse período 
recente (década de 1990), uma convergência entre as diretrizes das 
agências internacionais para a elaboração de políticas habitacionais [...] 
(DENALDI, 2003, p. 31). 
 
No Governo Collor (1990-1992), o mais importante programa habitacional 
lançado foi o PAIH (Plano de Ação Imediata para a Habitação), que propunha o 
financiamento de 245 mil habitações em 180 dias, mas não cumpriu suas metas. O 
governo Itamar (1992 a 1994) criou os Programas Habitar Brasil e Morar Município, 
que tinham como objetivo financiar a construção de moradias para população de 
baixa renda, a serem construídas em regime de “ajuda mútua”. Todavia, esses 
Programas tinham uma padronização excessiva e muitas exigências legais, o que 
impedia muitos municípios de captarem os recursos disponibilizados. Porém, nesse 
mesmo governo, temos dois avanços: o primeiro (ainda que associado às exigências 
das agências internacionais) foi uma mudança conceitual, com incentivo à formação 
de conselhos e à criação de fundos para habitação; o segundo foi à constituição, em 
1992, do Fórum Nacional de Habitação, composto por entidades da sociedade civil, 
setores do Estado e empresários da construção civil, cujo objetivo era construir uma 
aliança entre os interesses envolvidos no financiamento, na produção e no uso da 
moradia. O período FHC (1995-2002) avançou no reconhecimento da necessidade 
de regularização fundiária, da ampliação da participação e de uma visão integrada 
da questão

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