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Ensaio 1: Cultura popular, cultura de massas e cultura erudita – a importância da produção cultural e uma sociedade digital. A arte é uma representação subjetiva da realidade e da cultura, que surge através da forma como o autor da produção artística vê, interpreta e vive a realidade, no entanto, parece não existir espaço para o artista simplesmente como criador, não compreendido como um “espírito livre e criativo”, mas como um indivíduo num determinado contexto social e histórico e dependente de condições externas a si. A produção artística tende a ser influenciada por uma multiplicidade de fatores sociais como a tecnologia, as instituições sociais, a capacidade económica, o suporte familiar, o nível de competitividade ou a rede de contactos, independentemente do seu efeito direto ou indireto na obra de arte. O caracter ideológico do produto cultural é imensamente complexo, constituindo-se por fatores materiais e económicos, assim como pela existência e constituição dos grupos sociais, e pela natureza e reciprocidade das suas ideologias. Embora não se comprove uma relação direta entre os efeitos do capitalismo ou a situação económica e a ideologia artística, as ideologias e crenças das pessoas parecem estar programadas para se restringir às suas condições reais e materiais. Quando falamos, por exemplo, de cultura popular, falamos da cultura do povo, das suas práticas tradicionais e diárias, produzidas e reproduzidas especificamente pelos estratos menos abastados da sociedade, muitas das vezes com conteúdos relacionados com os seus tempos de lazer e com o trabalho, como o folclore. A produção cultural popular está destinada a alcançar grandes grupos de pessoas e por norma consegue concretizar esse objetivo, pois as atividades de cariz popular envolvem um grande sentimento de identidade nacional e acaba por ser um elo de ligação entre amigos, familiares e até mesmo estratos sociais, que vêm as festividades populares como um pretexto para se reunirem com os demais. Apesar de ter como base sobretudo o estilo de vida popular, pode também constituir-se de alguma erudição. A cultura popular é oriunda da tradicionalidade e autenticidade do povo, mas também pertence a uma cultura massificada, pela sua facilidade de acesso e simplicidade linguística. Este “tipo” de cultura tem como característica uma linguagem mais comum, do dia-a-dia, e repetitivamente codificada de forma a criar um padrão, utilizando sempre as mesmas característica, de forma a que sejam mais facilmente reconhecidas pela população, como por exemplo, o tipo de roupa atribuído à personagem de um filme ou novela, que transmite automaticamente ao recetor, a que classe social pertente aquela personagem. A cultura de massas tem como principal objetivo a comercialização do seu conteúdo, por vezes mais pela sua retribuição comercial do que pela manifestação artística em si. A cultura erudita necessita de um conhecimento mais formal e exige o aprofundamento de estudos além da cultura e da arte, como nas ciências sociais ou exatas, por exemplo os recitais de música compostos por orquestras de variados e complexos instrumentos. Como a produção deste tipo de cultura envolve, por norma, altos custos de produção, é consumida particularmente pelas elites sociais. Segundo Bourdieu, a cultura erudita constitui um mecanismo de diferenciação e demarcação simbólica, isto é, através do capital económico, social, cultural e político, permite manter uma certa distância e lógica classificativa e hierárquica, dos restantes grupos sociais. Então, a cultura constitui um meio de expressão como ferramenta de diferenciação social, relativizando as desigualdades socioeconómicas. Sobrepondo a cultura erudita á cultura popular e massificada, esta é proclamada como a cultura legítima. Contudo, não existem culturas legítimas ou ilegítimas, mas sim lutas simbólicas pela exclusividade e distinção cultural e social. Usualmente, a interpretação do produto cultural é definida pela cultura erudita e pelos “consagrados” antes de ser massificado e parte do capital cultural. A massificação da cultura, através da evolução dos novos meios tecnológico, como o cinema, a televisão e o YouTube, têm também, para além de benefícios, consequências negativas, como a alienação cultural, pelo consumo repetitivo dos mesmos conteúdos ou conteúdos pouco educativos, e a degradação do pensamento crítico e criativo da população, independentemente da classe social. Apesar de a cultura de massas ter naturalmente um maior potencial para atingir um maior número de pessoas, em relação à cultura popular ou erudita, com o acesso generalizado à internet, atualmente, transitar entre produtos eruditos, massivos ou populares torna-se fácil. A evolução da produção cultural faz-se acompanhar de uma reflexividade em torno dos “tipos” de cultura, questionando-se a cerca dos seus princípios e pressupostos. O conhecimento histórico da produção cultural, isto é, as obras passadas que se encontram conservadas por parte dos historiadores da arte e analistas, tornam o indivíduo parte de um campo restritivo. Para se ser capaz de compreender a produção cultural e a obra, seja enquanto produtor, espectador ou artista, é necessário ser portador de um conhecimento histórico e espacial. Bibliografia (2018), “Cultura erudita x cultura popular x cultura de massa” em SABRA, em https://www.sabra.org.br/site/cultura-erudita-x-popular-x-de-massa/ , consultado a 21/04/2022. Becker, Howard S. (1984), Art Worlds, Berkeley, CA, University California Press. Bourdieu, Pierre, AS REGRAS DA ARTE - Genese e estrutura do campo literdrio, Companhia Das Letras. Ribeiro, Rita, “CULTURA POPULAR: UMA REVISITAÇÃO CONCEPTUAL”, repositório da Universidade do Minho, em https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/63087/1/2019_Ribeiro_CulturaPopul ar.pdf pp. 107-115, consultado a 20/04/2022. Wolf, Janet (1981), The social production of art, Houndmills, Basingstoke, Hampshire and London, MACMILLAN EDUCATION LTD.
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