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DELINEAMENTOS SOBRE A INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO


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Julio Pinheiro Faro
1
 
 
RESUMO 
 
É de fundamental importância entender os conceitos e os institutos básicos de todo o edifício jurídico. 
Cada ramo do Direito, ao trazer suas peculiaridades sempre vai retornar a esses conceitos e 
institutos básicos, quando seu uso lhes for necessário. Assim, iniciar o Curso de Direito com uma 
cadeira ou disciplina dedicada à Introdução ao Direito ou à Ciência do Direito é importante para que 
se possa preparar o terreno para que os novos estudantes possam se familiarizar com as discussões, 
conceitos, institutos e linguagem jurídicos. 
 
Palavras-chave: Introdução ao Estudo do Direito. Ordenamento jurídico. Teoria do Direito. 
 
 
THE OUTLINES ABOUT INTRODUCTION TO THE STUDY OF LAW 
 
ABSTRACT 
 
It is vital to understand the basic concepts and institutions of all legal edifice. Each branch of law, by 
bringing its peculiarities will always return to these basic concepts and institutions when it is 
necessary. So start the study of law with a discipline dedicated to the Introduction to Law and the 
Science of Law is very important. So that we can prepare the ground for the new students to become 
familiar with the discussions, concepts and language of legal institutes. 
 
Keywords: Introduction to the Study of Law. Legal system. Theory of Law. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
É de fundamental importância entender os conceitos e os institutos básicos de todo 
o edifício jurídico. Cada ramo do Direito, ao trazer suas peculiaridades sempre vai 
retornar a esses conceitos e institutos básicos, quando seu uso lhes for necessário. 
Assim, iniciar o Curso de Direito com uma cadeira ou disciplina dedicada à 
Introdução ao Direito ou à Ciência do Direito é importante para que se possa 
preparar o terreno para que os novos estudantes possam se familiarizar com as 
discussões, conceitos, institutos e linguagem jurídicos. 
 
1
 Mestre em Direitos e Garantias Fundamentais pela Faculdade de Direito de Vitória (FDV); Professor 
Pesquisador Convidado nos Grupos de Pesquisa “Estado, Democracia Constitucional e Direitos 
Fundamentais” e “Direito, Sociedade e Cultura” do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da 
FDV; Diretor Segundo Tesoureiro da Academia Brasileira de Direitos Humanos (ABDH); Consultor 
para Publicações e Avaliador ad hoc em diversos periódicos brasileiros; Servidor Público Federal. 
E-mail: julio.pfhs@gmail.com 
 
DELINEAMENTOS SOBRE A INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
ISSN 2179-0167 76 
O domínio da linguagem jurídica é imprescindível para que o estudante ingresse no 
e se familiarize com o mundo jurídico. Tárek Moysés Moussallem ensina que 
compreender que o ser humano habita um mundo cultural que resgata eventos 
físicos por meio de interpretações sobre eles, construindo uma versão sobre 
acontecimentos2, é fundamental para entender a lógica na qual opera o mundo 
jurídico. Quando se questiona, por exemplo, “que é direito”, o que se espera é uma 
única resposta que, depois de séculos de espera e de conjecturas, não foi dada. 
Melhor seria perguntar “quais os possíveis significados da palavra direito”, para o 
que seriam dadas várias respostas que nada mais são que interpretações possíveis 
sobre o mesmo fenômeno. Dentre essas várias respostas, serão aqui retidas duas, 
as quais irão acompanhar o estudante mais frequentemente nos cinco anos do 
Curso. 
 
A primeira representa o direito positivo: um conjunto de normas jurídicas válidas em 
determinado momento e local, formando o que se pode chamar de ordenamento 
jurídico. A segunda representa a ciência do Direito: ciência que tem por objeto o 
ordenamento jurídico e que geralmente é chamada de dogmática jurídica. É muito 
importante ter clara a distinção entre direito positivo e ciência do Direito3. A ciência 
pressupõe a existência de um saber metódico e sistematizado, isto é, um saber que 
requer uma coerência interna, baseado em uma sistematização que pressupõe a 
existência de um método, de um caminho, armado com princípios próprios, regras 
peculiares e técnicas ou instrumentos úteis, que permita melhor conhecer o objeto 
estudado4. No caso da ciência do Direito, o objeto a ser estudado é o ordenamento 
jurídico, que, preliminarmente, nada mais é que um conjunto de normas jurídicas 
válidas em determinado momento e local – a ciência do Direito ocupa-se do direito 
positivo. 
 
A ciência do Direito é a metalinguagem: a linguagem sobre a linguagem do Direito, 
já que fala sobre o seu objeto, possuindo, então, natureza eminentemente descritiva. 
Já o direito positivo é a linguagem, o próprio objeto, possuindo natureza prescritiva. 
 
2
 MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Fontes do direito tributário. São Paulo: Max Limonad, 2001, p. 28. 
3
 REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 62. 
4
 DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do Direito: introdução à teoria geral do 
direito, â filosofia do direito, à sociologia jurídica e lógica jurídica. Norma jurídica e aplicação do 
direito. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 35. 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
ISSN 2179-0167 77 
Daí que o objeto a ser estudado em um Curso de Direito seja o ordenamento 
jurídico: conjunto de normas jurídicas que prescrevem um dever-ser, ou, melhor, 
regras de comportamento elaboradas por agentes credenciados e que ensejam a 
possibilidade de aplicação de uma sanção institucionalizada, isto é, que contará com 
o amparo do Estado para sua possível aplicação. Estuda-se, portanto, a ordem 
jurídica posta, isto é, o Direito positivo. 
 
Assim, esta breves linhas sobre a introdução ao estudo do Direito é uma proposta 
para que se possa fazer a iniciação do estudante do Curso de Direito no mundo 
jurídico. À linguagem por ele comumente utilizada no dia-a-dia será incorporada, 
paulatinamente, a nova linguagem, a jurídica. 
 
 
1 POR QUE É IMPORTANTE ESTUDAR O DIREITO 
 
A primeira questão, dentre as várias que são postas, tem a ver com a importância do 
estudo do Direito. Qual a importância do Direito na sociedade? A importância do 
Direito é trazer ordem, certeza, paz, segurança e justiça, que são, pois, finalidades 
do Direito, não se podendo confundir com o próprio Direito, já que não se pode 
confundir o objeto com a sua finalidade. Portanto, o Direito é um instrumento que 
existe para evitar conflitos e, não sendo possível evitá-los, existe também para 
solucioná-los. Daí se dizer que a função precípua do Direito é trazer segurança 
jurídica, tendo como fim concretizar a justiça, isto é, o que é justo. 
 
Para fazer isso, são firmados enunciados prescritivos; frases que prescrevem 
alguma coisa, que determinam algo. No mundo jurídico, esses enunciados 
prescritivos podem ser transformados em normas jurídicas, isto é, em instrumentos 
que regulamentam as condutas e as relações entre as pessoas – por isso, esses 
enunciados prescritivos podem ser chamados também de enunciados normativos, 
no sentido de que prescrevem normas. 
 
O ato de estabelecer normas jurídicas decorre da necessidade de regulamentar os 
comportamentos humanos, na busca por determinar uma interação intersubjetiva 
mais ordenada e harmônica, mais segura e justa. Portanto, em geral, as normas 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
ISSN 2179-0167 78 
jurídicas são criadas a partir da observação prévia de fatos e atos humanos, o que 
permite afirmar que as normas jurídicas fundam-se na natureza social humana e 
existem para evitar uma situação instável em que impera a lei do mais forte, 
produzindo constante incerteza. 
 
Debelar essa incerteza é a função do Direito,que se baseia, principalmente com o 
advento do Estado de Direito, especialmente com a derrocada do Antigo Regime 
absolutista, no princípio da segurança jurídica, o qual, se devidamente observado, 
produz certeza na aplicação do Direito, tornando segura a vida das pessoas e suas 
relações intersubjetivas estáveis, possibilitando que se tenha confiança em seus 
conceitos, institutos e instituições. Portanto, o propósito da segurança jurídica é 
permitir haver confiança dos cidadãos no Direito ao qual estão submetidos, em seus 
institutos e instituições enquanto instrumentos de manutenção da ordem e da 
harmonia sociais. 
 
Assim, toda sociedade funda-se em normas jurídicas, que regulamentam condutas 
em prol do bem comum. O Direito positivo é um conjunto de normas jurídicas que 
têm como objetivo determinar a vida social, ou, ainda, as relações intersubjetivas, 
resguardando os direitos e as liberdades das pessoas e atribuindo-lhes deveres e 
obrigações. Portanto, embora a ciência do Direito se ocupe do estudo do Direito 
positivo, é dizer, das normas jurídicas consideradas em seu conjunto, é conveniente 
que se esclareça que o Direito é um fenômeno muito mais que simplesmente 
normativo, é um fenômeno social, devendo ser observado, porque é forte a relação, 
de um ponto de vista socioaxiológico – ou seja, Direito é uma tríade (fato, valor e 
norma), e como tal deve ser quotidianamente visto. 
 
2 QUAL O FUNDAMENTO DO DIREITO 
 
Mas onde o Direito encontra o seu fundamento de existência e de validade? Para as 
correntes jusnaturalistas (assim denominadas porque se baseiam na natureza das 
coisas), há um conjunto de primeiros princípios inerentes à natureza humana, 
preexistentes à organização político-social dos seres humanos e independente da 
criação do legislador, ou seja, anteriores ao direito positivo. As correntes 
jusnaturalistas podem ser divididas em duas principais: de um lado, o jusnaturalismo 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
ISSN 2179-0167 79 
teológico, para o qual o Direito decorre da revelação divina e, portanto, 
independente dos próprios seres humanos, assumindo caráter transcendental, o que 
liga os autores dessa corrente ao absolutismo; de outro lado, o jusnaturalismo 
racionalista, para o qual o Direito é inerente à condição humana, anterior às 
organizações político-sociais humanas, as quais apenas o concretizarão. 
 
Essas correntes admitem, em geral, a correlação entre Direito e Justiça, produzindo, 
então, valorações sobre o Direito, considerando apenas como Direito o que é justo e 
negando ao Direito injusto o caráter de Direito5. Ao se fundamentarem sobre a 
existência de princípios inerentes à natureza humana, as correntes jusnaturalistas 
defendem que o Direito é imutável e atemporal, o que se explica tanto em relação às 
correntes teológicas quanto em relação às correntes racionalistas, pois o Direito 
seria independente das (matriz teológica) ou anterior às (matriz racionalista) 
organizações humanas, o que também permite aos seus defensores afirmar que 
existe um direito superior ao direito positivo. 
 
Tradicionalmente, o Direito natural qualifica-se por ser eterno, atemporal, imutável, 
justo, não escrito e universal. Algumas dessas características, no entanto, serviram 
para a formulação de uma pesada crítica ao jusnaturalismo. Critica-se, por exemplo, 
o fato de se pretender um Direito eterno, atemporal, imutável e universal, ou seja, 
válido para todos os seres humanos em todas as épocas, independente do território 
que habitem – afirmar-se que o Direito não muda de acordo com critérios 
espaciotemporais é desconsiderar que os seres humanos se organizam de maneiras 
distintas, que as realidades sociais variam e que os anseios e os interesses 
humanos estão em constantes transformações. Exemplo atual é o da união estável 
entre pessoas do mesmo sexo, se o Direito fosse efetivamente imutável, esse tipo 
de relação familiar não seria possível. Critica-se, também, o fato de o Direito natural 
se pretender justo, já que, sob essa perspectiva, o Direito não se poderia afirmar 
como ciência, já que esta requer neutralidade axiológica, não se podendo dizer que 
seu respectivo objeto é verdadeiro ou falso, bom ou mau, justo ou injusto – diante 
disso, o jusnaturalismo se incompatibiliza com a ciência do Direito. 
 
5
 RADBRUCH, Gustav. Five minutes of philosophy of law. Oxford Journal of Legal Studies, vol. 26, n. 
1, 2006. 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
ISSN 2179-0167 80 
Outro grupo de correntes é o juspositivista, para o qual o Direito é sempre positivo, 
decorrente de atos de vontade, de formulações humanas. O juspositivismo identifica 
o Direito positivo com o Direito estatal, escrito ou não escrito, ou seja, com o Direito 
criado e formulado pelo ente legitimado para isso, o Estado. Esse grupo de 
correntes não contempla juízos de valor sobre o objeto de estudo, garantindo, pois, 
uma neutralidade axiológica. Quem melhor desenvolveu esse isolamento do objeto 
da ciência do Direito foi Kelsen, cuja teoria pode ser enquadrada no racionalismo 
dogmático ou normativismo jurídico. 
 
O que Kelsen propugnava era o estudo do Direito a partir de métodos jurídicos, e 
não a partir de uma metodologia sociológica, filosófica, antropológica, teológica, 
filosófica etc. como se vinha fazendo – não que tais abordagens não fossem 
importantes, como o próprio jurista de Praga deixa claro6. Kelsen lançou a ideia de 
pureza metódica. Para ele, se a ciência do Direito tem como objeto o conjunto de 
normas jurídicas, então o estudo dessas normas tem de obedecer apenas a uma 
metodologia jurídica. A ideia de Kelsen foi, então, a de conferir neutralidade e 
objetividade à ciência do Direito, o que lhe traria autonomia enquanto ciência. 
 
Na Teoria pura do Direito7, Kelsen trabalha com duas categorias originárias do 
conhecimento: o ser (que se localiza no mundo ôntico, isto é, dos fatos, revelando 
aquilo a que se pode chamar de fontes jurídicas materiais) e o dever-ser (que se 
localiza no mundo deôntico, isto é, das normas, revelando aquilo a que se pode 
chamar de fontes jurídicas formais). Enquanto o ser é regido pela lei da causalidade, 
o dever-ser rege-se pela lei da imputação. Pela causalidade, todo efeito tem de ter 
uma causa, de maneira que é impossível o descumprimento de uma lei baseada na 
causalidade, assim, uma maçã cai da árvore porque sobre ela incide a lei 
gravitacional. Pela imputabilidade, não existe a previsibilidade de um efeito para uma 
causa, de maneira que com o descumprimento de uma lei baseada na imputação, 
pode ser que um efeito determinado surja; desde que haja uma imputação, ou seja, 
uma relação de determinação. 
 
6
 KELSEN, Hans. Sobre los límites entre el método sociológico y el jurídico. Revista de la Facultad de 
Derecho de México, n. 75-76, 1969. 
7
 KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. Trad. João Baptista Machado. 6. ed. São Paulo: Martins 
Fontes, 1998. 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
ISSN 2179-0167 81 
O Direito está sujeito à lei da imputação, em que uma norma determina a outra, 
estabelecendo relações normativas, as quais permitem determinar qual o 
fundamento de existência e de validade de cada norma – e para evitar as remissões 
infinitas, Kelsen estabeleceu um marco, uma norma básica pressuposta que 
determina até onde vai o campo do Direito e a partir de quando não se está mais no 
campo estritamente jurídico. Assim, cada norma é determinada por outra norma 
(determinante), buscando aquelas nesta sua validade jurídica, sucessivamente até 
alcançar a norma básica pressuposta, que é lógica (poisfecha o sistema jurídico), 
jurídica (pois determina a validade de outras normas) e não positiva (pois é tão-
somente pensada). 
 
As relações de imputação determinam a existência de um escalonamento de normas 
jurídicas e a existência de uma norma básica pressuposta sugere que o topo desse 
tipo de hierarquia seja um vértice, gerando, portanto, a figura de um triângulo ou 
pirâmide como representação da estrutura lógica da ordem jurídica. O topo da 
pirâmide normativa é ocupado, no nível lógico-jurídico não positivo, pela norma 
básica pressuposta, ao passo que, no nível jurídico-positivo, a Constituição é que 
ocupa a cúspide da pirâmide. Diante disso, tem-se que todas as normas jurídicas de 
um determinado ordenamento jurídico devem buscar sua validade, em última 
instância, na Constituição. 
 
Obviamente, a teoria kelseniana não é perfeita, apresentando inúmeros problemas 
que têm sido apontados por vários teóricos do Direito. No entanto, é de se observar 
que, por outro lado, é a teoria mais aplicada no estudo do Direito – tanto é que 
durante os cinco anos de Curso de Direito o estudante se depara, principal e 
basicamente, com o estudo do ordenamento jurídico, ou seja, da norma jurídica, não 
com o estudo dos fatos que deram origem a essas normas ou com o estudo dos 
valores que sobre ela incidem – não que não os estude ou que eles não tenham 
importância, mas primeiro é necessário conhecer as normas para depois fazer juízos 
de valor sobre elas, imprimindo as suas considerações ideológicas, o que é 
inevitável. 
 
É preciso notar, assim, que Kelsen não defendia que o jurista fosse uma máquina 
que vomitasse normas jurídicas, e sim que para o Direito poder ser considerado uma 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
ISSN 2179-0167 82 
ciência era preciso que seu objeto (as normas jurídicas) fosse estudado a partir de 
um método jurídico, sem que sobre isso fossem injetados juízos de valor, mantendo-
se a objetividade científica e a neutralidade axiológica. Assim, a neutralidade 
proposta por Kelsen é sobre a análise do objeto, não do jurista em si, este deve ser 
imparcial, o que não significa que deva colocar seu posicionamento ideológico entre 
parênteses e analisar o objeto, como, ademais, sugere o reducionismo 
fenomenológico. Kelsen, aliás, não defendia a existência de um Direito imutável, 
eterno e universal, e sim que é preciso um mínimo de acordo sobre qual o seu 
objeto e como se dão as relações internas a esse objeto, a fim de que não se crie 
uma Torre de Babel. 
 
Além dessas duas correntes, há que se fazer menção ao tridimensionalismo jurídico, 
que, proposto por Miguel Reale, enxerga o Direito como uma relação entre norma, 
fato e valor. Para o jurista brasileiro, há “três aspectos básicos, discerníveis em todo 
e qualquer momento da vida jurídica: um aspecto normativo (o Direito como 
ordenamento e sua respectiva ciência); um aspecto fático (o Direito como fato, ou 
em sua efetividade social e histórica) e um aspecto axiológico (o Direito como valor 
de Justiça)8”. A teoria do tridimensionalismo do Direito contrapõe-se à 
kelsenianismo: este enxerga uma contraposição entre fato (ser) e norma (dever-ser); 
aquela, segundo Miguel Reale, defende que a norma jurídica indica um caminho, 
que deve, porém, partir de um determinado ponto, o fato, e ser guiado por certo 
rumo ou direção, o valor9. 
 
Para a teoria tridimensional, o Direito não é só norma nem só fato, muito menos tão-
somente valor, mas uma integração dos três. Ao que explica o falecido professor: 
“onde quer que haja um fenômeno jurídico, há, sempre e necessariamente, um fato 
subjacente (fato econômico, geográfico, demográfico, de ordem técnica etc.); um 
valor, que confere determinada significação a esse fato, inclinando ou determinando 
a ação dos homens no sentido de atingir ou preservar certa finalidade ou objetivo; e, 
finalmente, uma regra ou norma, que representa a relação ou medida que integra 
 
8
 REALE, Miguel. Obra citada, 2005, pp. 64-65. 
9
 REALE, Miguel. Teoria tridimensional do Direito: situação atual. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1994, pp. 
118-119. 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
ISSN 2179-0167 83 
um daqueles elementos ao outro, o fato ao valor10”. Daí que se possa dizer que para 
a teoria tridimensional do Direito, a norma incide sobre o fato conforme uma 
determinada ordem de valores, ou seja, o valor é o que dá sentido ao fato, 
consubstanciando-se no elemento moral do Direito. 
 
Assim, ao menos três respostas são aceitáveis para a questão anteriormente posta: 
“onde o Direito encontra o seu fundamento de existência e de validade?”. Por uma 
resposta jusnaturalista, o fundamento está em Deus ou na natureza humana. Por 
uma resposta kelseniana, o fundamento está em outra norma estabelecendo uma 
relação de imputação ou de determinação, que vai chegar sempre em uma norma 
básica pressuposta (também conhecida como norma hipotética fundamental). Por 
uma resposta realiana, ou, de maneira mais abrangente, culturalista, o fundamento 
do Direito está nas normas jurídicas que visam proteger valores. 
 
 
3 QUAL A DISTINÇÃO ENTRE DIREITO E MORAL 
 
Mas o Direito se distingue de outras formas de controle social, como, por exemplo, a 
Moral. Embora se possam indicar outras, a nota distintiva essencial é a 
coercibilidade, que é atributo do Direito, não da Moral, ou seja, o Direito tem a 
possibilidade de coagir a observância das normas jurídicas, impingindo, em caso de 
seu descumprimento, sanções legítimas, inclusive com o uso legitimado da força 
física, aos indivíduos, enquanto que a Moral não possui tal característica, sendo, 
pois, incoercível, já que incompatível com o uso da força. Apesar de haver consenso 
sobre a distinção entre Direito e Moral, foram criadas teorias para explicar as 
relações entre esses dois tipos de controle social. 
 
Uma dessas teorias é a teoria dos círculos, pela qual a relação entre Direito e Moral 
pode ser representada por: círculos concêntricos, em que o campo de abrangência 
da Moral é maior que o do Direito, inscrevendo-se este naquela, ou a ela se 
subordinando (a teoria é defendida, dentre outros, por Bentham); círculos secantes, 
pelo que os campos do Direito e da Moral possuiriam uma área de interseção (a 
 
10
 REALE, Miguel. Obra citada, 2005, p. 65. 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
ISSN 2179-0167 84 
teoria é defendida, dentre outros, por Du Pasquier); círculos independentes, em que 
Direito e Moral não se misturam, ou seja, o Direito não busca seu fundamento na 
Moral (a teoria é defendida, dentre outros, por Kelsen). 
 
Outra teoria é a teoria do mínimo ético, pela qual o Direito representa um mínimo de 
preceitos morais declarados obrigatórios, podendo-se dizer que, para os defensores 
dessa teoria (Jellinek), o Direito se inscreve completamente no campo da Moral, de 
maneira que são círculos concêntricos. Essa teoria, assim como a teoria dos círculos 
concêntricos está sujeita a diversas críticas. Dentre elas, uma se direciona ao fato 
de que existem normas jurídicas que não são morais (amorais), ou seja, que são 
indiferentes à Moral, que não influem na vida moral, bem como condutas lícitas 
juridicamente que são moralmente reprováveis (imorais), de modo que não há como 
dizer que os círculos do Direito e da Moral são concêntricos11. 
 
Talvez, o mais sensato seja, afirmar-se que o Direito tem uma moral que lhe é 
inerente e, ao mesmo tempo, possui questões em comum com o campo da Moral. 
 
 
4 COMO SE CLASSIFICA O DIREITO POSITIVO 
 
Superado esse ponto, há que reafirmar que o que se estudadurante o Curso de 
graduação em Direito é o Direito positivo, o ordenamento jurídico, o conjunto de 
normas jurídicas – não que o estudante não possa emitir juízos de valor sobre 
normas jurídicas, quando as interpreta, mas para que possa fazê-lo da melhor 
forma, é preciso que as conheça para que possam sobre elas registrar seu 
posicionamento. Daí que o que o estudante de Direito passa os seus cinco anos de 
graduação estudando é o que se convencionou chamar de Dogmática Jurídica, onde 
dogma “não significa verdade que não se discute, mas significa apenas o Direito 
posto12”, como aponta Miguel Reale. 
 
 
11
 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 43. 
12
 REALE, Miguel. Obra citada, 1994, p. 120. 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
ISSN 2179-0167 85 
O que se introduz, a partir de agora, são elementos-chave para entender melhor 
como o Direito se desenvolve e se exprime. Nisso, apresentam-se as dicotomias 
mais comuns do Direito positivo, a seguir resumidas. 
 
A primeira dicotomia classifica o Direito positivo em: a) Direito objetivo, em que se 
enxerga o Direito como uma realidade objetiva, ou seja, um conjunto de normas 
jurídicas regulamentadoras de condutas – trata-se, pois, da ordem normativa; b) 
Direito subjetivo, em que se enxerga o Direito como uma realidade subjetiva, 
referindo-se, portanto, a um sujeito, significando que ele detém uma determinada 
posição favorável – trata-se, pois, de um conjunto de direitos13. Pode-se dizer que no 
primeiro caso o que se tem é um ramo do Direito que regulamenta comportamentos, 
como, por exemplo, o Direito de Sucessões e o Direito das Coisas, enquanto no 
segundo caso o que se tem é algo que se pode exercer, ou seja, um direito, assim, 
direito de suceder e direito de propriedade, por exemplo. 
 
A segunda dicotomia classifica o Direito positivo (objetivo) em: a) Direito público: 
consiste no Direito positivo que regulamenta as relações em que o Estado é parte, 
atuando em razão de sua soberania e de sua função enquanto garantidor do 
interesse público; b) Direito privado: é o Direito positivo que disciplina as relações 
entre particulares, em que há o predomínio imediato de interesses de ordem privada. 
 
A partir dessa dicotomia, pode-se dividir o Direito nos ramos a seguir: 
1) Direito positivo público interno: Direito constitucional (regulamenta a estrutura 
e a organização do Estado, além de estabelecer uma carta de direitos), Direito 
administrativo (regulamenta a organização e o funcionamento da Administração 
Pública), Direito penal (tipifica e estabelece sanções a atos considerados como 
delitos), Direito financeiro (regulamenta a atividade financeira do Estado), Direito 
tributário (regulamenta as relações entre a Fazenda Pública e os contribuintes), 
Direito processual (regulamenta a organização judiciária e o processo judicial), 
Direito previdenciário (regulamenta as contribuições e os benefícios da seguridade 
social), Direito eleitoral (regulamenta as questões referentes ao sufrágio, escrutínio e 
voto); 
 
13
 ASCENSÃO, José de Oliveira. O Direito: introdução e teoria geral: uma perspectiva luso-brasileira. 
10. ed. Coimbra: Almedina, 1999, pp. 40-41. 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
ISSN 2179-0167 86 
2) Direito positivo público externo: Direito internacional público (regulamenta as 
relações entre Estados soberanos), Direito internacional privado (regulamenta os 
conflitos das leis no espaço), Direito dos tratados (disciplina a questão referente aos 
tratados e convenções internacionais); 
3) Direito positivo privado: Direito civil (regulamenta as relações entre as 
pessoas, suas obrigações e das pessoas com as coisas), Direito comercial ou 
empresarial (regulamenta relações atinentes ao comércio e às atividades 
empresariais), Direito do trabalho (regulamenta as relações trabalhistas), Direito do 
consumidor (regulamenta as relações de consumo). 
 
A terceira dicotomia classifica o Direito positivo em substancial, que é aquele que se 
refere ao Direito positivo material, e em adjetivo, que é aquele que se refere ao 
Direito positivo processual. 
 
 
5 QUAIS SÃO AS FONTES DO DIREITO 
 
Antes de se passar ao que se pode chamar de teoria geral do direito, cumpre 
discorrer sobre as fontes do Direito. Com o termo “fonte” não se quer dizer 
propriamente aquele lugar no qual se origina o Direito, e sim aqueles lugares dos 
quais é possível extrair normas jurídicas, ou nos quais se pode buscar o fundamento 
de validade dessas normas, ou, ainda, indicando, segundo Miguel Reale, “os 
processos de produção de normas jurídicas14”. Quando se fala em fontes do Direito, 
refere-se a fontes do Direito objetivo. Costuma-se classificar as fontes em materiais 
(fundamentos éticos e sociais das normas jurídicas) e formais (mecanismos de 
introdução de normas jurídicas na ordem jurídica), subdividindo-se as formais em 
estatais (processo legislativo, jurisprudência e convenções e tratados internacionais) 
e em não estatais (prática costumeira, doutrina, convenções e negócios jurídicos). 
 
Fontes materiais são os fatores sociais e os valores de determinada sociedade em 
uma determinada época que inspiram e influenciam a produção do Direito positivo, 
determinando tanto o surgimento quanto as mudanças e a extinção das normas 
 
14
 REALE, Miguel. Obra citada, 2011, p. 139. 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
ISSN 2179-0167 87 
jurídicas. Logo, fontes materiais, como aponta Paulo Dourado de Gusmão, “são as 
constituídas por fenômenos sociais e por dados extraídos da realidade social, das 
tradições e dos ideais dominantes, com as quais o legislador, resolvendo questões 
que dele exigem solução, dá conteúdo ou matéria às regras jurídicas15”, às fontes 
formais do Direito. Assim, as fontes materiais são pré-jurídicas, de modo que, como 
aponta Miguel Reale, a expressão “fonte material” indica “o estudo filosófico ou 
sociológico dos motivos éticos ou dos fatos econômicos que condicionam o 
aparecimento e as transformações das regras de direito. Fácil é perceber que se 
trata do problema do fundamento ético ou do fundamento social das normas 
jurídicas, situando-se, por conseguinte, fora do campo da Ciência do Direito16”. 
Portanto, as fontes materiais não são objeto de estudo da ciência do Direito, e sim 
de ciências afins ao Direito, dentre elas a Sociologia e a Filosofia. Influenciam, 
portanto, nos atos de vontade que criam fontes formais, sejam elas estatais ou não 
estatais, bem como nos atos de vontade do operador jurídico ao interpretar e ao 
aplicar as normas jurídicas. 
 
O objeto de estudo da ciência do Direito são, portanto, as fontes formais, que podem 
ser estatais ou não estatais. As fontes formais podem ser entendidas como a forma 
pela qual o Direito positivo, escrito ou não escrito, pode ser conhecido. As fontes 
formais não estatais englobam os costumes, a doutrina e os negócios jurídicos. 
 
Os costumes, resultado da prática consuetudinária, são talvez a forma mais antiga 
de expressar o Direito, pois este é um fato social. Atualmente, os costumes se 
apresentam como fonte subsidiária para a aplicação e para a interpretação do 
Direito. Pode-se definir o costume como uma prática social reiterada, uniforme e 
contínua, isto é, como um uso social que determina, de maneira razoável, moral, 
sociável e justa, comportamentos tornando-se, com o tempo, obrigatório e exigível, 
adquirindo, pois, natureza jurídica, de norma jurídica. A fonte é, assim, a prática 
consuetudinária, e o costume éo seu resultado, adquirindo foro jurídico, ou seja, de 
costume jurídico, com força de norma jurídica. 
 
 
15
 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do Direito. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
1997, p. 98. 
16
 REALE, Miguel. Obra citada, 2011, p. 140. 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
ISSN 2179-0167 88 
Há que se observar, no entanto, que a prática consuetudinária, quando legislada, 
deixa de ser costume e passa a se apresentar como norma jurídica que decorre de 
lei. Assim, o costume difere da lei não só pelo primeiro ser uma fonte não estatal e a 
segunda uma fonte estatal, mas principalmente porque o costume é uma fonte não 
escrita de normas jurídicas enquanto a lei é uma fonte escrita de normas jurídicas. 
Ronaldo Poletti traz algumas distinções básicas importantes entre a lei e o costume: 
(a) quanto à origem, as leis têm origem certa, sendo, por isso, predeterminadas, ao 
passo que os costumes têm origem incerta, não sendo, por isso, predeterminados; 
(b) quanto à forma de elaboração, as leis contam com um processo previamente 
estabelecido, enquanto os costumes são criados de maneira imprevista; (c) quanto 
ao âmbito de eficácia, a lei é geral, abrangendo maior número de situações e 
pessoas, ao passo que o costume é particular, abrangendo situações e pessoas 
específicas; (d) quanto à forma, as leis são escritas e os costumes não são escritos; 
(e) quanto à vigência, as leis pode simplesmente deixar de produzir efeitos ou ser 
revogada por outra lei, enquanto os costumes simplesmente deixam de viger por 
terem perdido sua coercibilidade natural; (f) quanto à razão de sua existência, as leis 
são fruto de uma ação racional, de um ato de vontade pensado, e os costumes 
decorrem de uma ação espontânea, normalmente impensada; (g) quanto à 
execução, as leis têm uma execução imediata e geral, de maneira que a sua prova 
de existência se dá com a sua publicação, além de terem presunção de vigência, ao 
passo que os costumes precisam ser provados e admitem prova em contrário 
quanto à sua vigência17. 
 
Diante de sua posição no ordenamento jurídico de fonte subsidiária da legislação 
(das leis em sentido amplo), o costume pode se apresentar de três maneiras: (a) 
secundum legem, que é o “costume interpretativo, que dá a usual interpretação de 
uma lei18”, e que se confunde com a própria legislação, que o reconhece 
expressamente; (b) praeter legem, que é o costume com nítido caráter supletivo, ou 
seja, que preenche eventuais lacunas legais; (c) contra legem, que é o costume 
contrário à lei, comum quando a lei cai em desuso ou quando não é observada. 
 
 
17
 POLETTI, Ronaldo. Introdução ao Direito. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1996, pp. 206-208. 
18
 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Obra citada, 1997, p. 117. 
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ISSN 2179-0167 89 
A rigor, o costume contra legem não pode ser admitido, já que apenas uma lei pode 
modificar ou revogar (parcial ou integralmente) outra (art. 2º, LINDB). No entanto, há 
que se abrandar tal rigor para permitir, em casos excepcionais e fundados na justiça, 
que o costume contra legem seja aceito, notadamente quando a realidade fática e a 
realidade jurídica estão desajustadas. Fala-se, então, em consuetudo abrogatoria, 
que, de acordo com Paulo Nader, “se caracteriza pelo fato de a prática social 
contrariar as normas de Direito escrito19”. Essa questão se confunde com o 
problema das leis em desuso, que é chamado de desuetudo, em que, para Paulo 
Nader, “a caracterização do desuso não se dá apenas com a não aplicação da lei 
pelos órgãos competentes. É imperioso que o descaso da autoridade seja à vista da 
ocorrência dos fatos que servem de suporte à lei. Quando esta cai em desuso20, 
realizam-se os fatos descritos no suposto ou hipótese da norma jurídica, sem haver, 
contudo, a aplicação da consequência ou disposição prevista21”. Para tanto, “o 
desuso deve estar generalizado na área de alcance da lei por um prazo de tempo 
suficiente para gerar, no povo, o esquecimento da lei22”. As causas do desuso 
podem ser as mais variadas, as quais são passíveis de reunião em dois grandes 
grupos: um em que o desuso decorre da própria lei, outro em que o desuso advém 
de interesses que são externos à lei, embora sobre ela tenham influência23. Dentre 
as causas internas, isto é, decorrentes da própria lei, pode-se falar em leis 
anacrônicas – que, sem eficácia social, porque não acompanharam o 
desenvolvimento da sociedade, permaneceram no sistema jurídico, porque o 
legislador dele não as retirou –; em leis artificiais – quando a norma jurídica não 
corresponde à prática social, ou seja, quando é fruto de elucubração teórica que não 
encontra na sociedade prática que lhe corresponda e permita sua incidência; em leis 
injustas; e em leis defectivas – quando à lei faltam recursos de aplicabilidade, ou 
seja, quando a norma jurídica depende de um complemento que ainda não existe no 
mundo jurídico, seja pela inexistência de lei regulamentadora, seja pela inexistência 
de outro tipo de fonte jurídica que contribua para sua aplicação prática. 
 
 
19
 NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1986, p. 192. 
20
 CRUET, Jean. La vie du Droit et l’impuissance des lois. Paris: Ernest Flammarion, 1908. 
21
 NADER, Paulo. Obra citada, 1986, pp. 195-196. 
22
 NADER, Paulo. Obra citada, 1986, pp. 196. 
23
 A classificação é de: NADER, Paulo. Obra citada, 1986, pp. 197-199. 
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ISSN 2179-0167 90 
Além do costume, também se perfilha como fonte formal não estatal, a doutrina. 
Trata-se do resultado da atividade científica dos juristas, isto é, de especialistas no 
estudo do Direito. A doutrina sistematiza normas, fornece conceitos, interpreta a 
legislação, cria classificações, emite juízos de valor, aponta a necessidade de 
reformas do ordenamento jurídico. A doutrina tal qual o costume é uma fonte 
subsidiária, servindo tanto para a aplicação quanto para a interpretação do Direito, 
especialmente a partir dos princípios gerais do direito, que são, em sua grande 
maioria, criações de juristas, e que dependem, para se tornarem fontes jurídicas, da 
sedimentação costumeira ou de seu uso pelos magistrados. 
 
Por fim, quanto às fontes formais não estatais, há os negócios jurídicos enquanto 
fontes jurídicas. O negócio jurídico típico é o contrato, que faz lei entre as partes, ou 
seja, estabelece entre os contraentes um conjunto de normas jurídicas individuais, 
que, no entanto, devem estar de acordo com as normas jurídicas abstratas e gerais 
decorrentes das fontes jurídicas formais estatais. Excepcionalmente um negócio 
jurídico ensejará a criação de normas jurídicas gerais, como acontece, por exemplo, 
no Direito brasileiro, com as convenções e os acordos coletivos de trabalho. 
 
As fontes formais estatais englobam o processo legislativo, a jurisprudência e os 
tratados e convenções internacionais. O processo legislativo é a principal fonte 
formal dos ordenamentos jurídicos modernos e seu o produto são as leis, que em 
sentido amplo se referem às diversas espécies normativas (ou legislação) e, em 
sentido estrito ou técnico, têm a ver com a produção decorrente da atividade do 
poder legislativo. O resultado do processo legislativo pode ser primário, se tem a 
aptidão para inovar na ordem jurídica, criando, assim, direitos e obrigações, e pode 
ser secundário, se não possui tal aptidão, servindo para dar eficácia ou 
executividade às leis. Assim, a legislação pode ser primária ou secundária. 
 
A legislaçãoprimária comporta as seguintes espécies: a) lei constitucional, que é 
aquela que se sobrepõe a todas as demais normas do ordenamento jurídico, 
refletindo suas regras e princípios, sendo exemplos a Constituição e as emendas 
constitucionais; b) a lei complementar, utilizada para certas matérias 
constitucionalmente especificadas, em virtude de exigir um quórum de aprovação 
qualificado; c) a lei ordinária, que é o ato legislativo típico; d) a lei delegada, que é 
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ISSN 2179-0167 91 
elaborada pelo Presidente da República ou por comissão ou Casa do Congresso, 
devendo haver permissão (ou delegação) pelo poder legislativo, obedecendo-se 
determinados limites; e) as medidas provisórias, que não são leis, mas têm força de 
lei, consistindo em normas expedidas pelo Presidente da República no exercício de 
competências constitucionais, devendo observar os critérios da urgência e da 
relevância, além de serem imediatamente submetidas ao Congresso para 
apreciação e, se for o caso, conversão em lei; f) o decreto legislativo, que é editado 
pelo Congresso sobre matéria de sua exclusiva competência e promulgado pelo 
presidente do Senado, sem necessidade de submissão ao Presidente da República; 
g) as resoluções do Senado Federal, que têm força de lei ordinária e que dizem 
respeito a assuntos de seu interesse peculiar. 
 
Por sua vez, a legislação secundária abrange, por exemplo, as seguintes espécies: 
a) os decretos regulamentares, que são normas jurídicas expedidas pelo poder 
executivo para regulamentar uma lei, facilitando sua execução ou sua aplicação; b) 
as instruções ministeriais, que são expedidas pelos Ministros de Estado, para 
executar leis, decretos ou regulamentos sobre temas específicos de sua pasta 
ministerial; c) as circulares, que são normas jurídicas que ordenam a realização de 
serviços administrativos; d) as portarias, que são normas gerais expedidas por órgão 
superior para observância de órgãos inferiores a ele subordinados; e) as ordens de 
serviço, que determinam a execução de serviços determinados. 
 
Vistas quais as fontes formais estatais primárias e secundárias, é necessário tratar 
sobre o processo legislativo, que é a verdadeira fonte formal estatal24, podendo ser 
definido, segundo Maria Helena Diniz, como “um conjunto de fases 
constitucionalmente estabelecidas, pelas quais há de passar o projeto de lei, até sua 
transformação em lei vigente25”. Em regra, as espécies normativas seguirão o 
seguinte procedimento: a) iniciativa: ato que desencadeia o início do trâmite de um 
projeto de lei; b) discussão: quando as comissões se pronunciam sobre o projeto, 
podendo ser apresentadas emendas; c) deliberação ou votação: quando o poder 
legislativo se manifesta favorável ou desfavorável ao projeto; d) sanção ou veto: 
quando o chefe do executivo recusa o projeto, submetendo-o a uma nova 
 
24
 REALE, Miguel. Obra citada, 2011, p. 165. 
25
 DINIZ, Maria Helena. Obra citada, 2012, p. 312. 
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ISSN 2179-0167 92 
apreciação pelo legislativo, ou concorda com o projeto, quando se dará a: e) 
promulgação do projeto: quando este se transforma em lei, passando a existir 
juridicamente, de modo que se pode exigir sua aplicação e seu cumprimento; f) 
publicação: quando a lei se torna pública, isto é, de conhecimento da comunidade. 
Além do processo legislativo, há que se observar a devida técnica legislativa, que 
consiste no conjunto de procedimentos e de normas específicas para a elaboração, 
para a redação e para a alteração das leis em sentido amplo. 
 
Outra fonte formal estatal é a jurisprudência, que pode ser conceituada como um 
conjunto de decisões uniformes e reiteradas dos tribunais sobre determinadas 
matérias, ou seja, decisões sobre interpretação e aplicação de normas jurídicas. 
Além de ementários de jurisprudência, os tribunais têm uma súmula de 
jurisprudência que contém enunciados, vinculantes ou não. Esses enunciados são 
chamados, normalmente, na prática jurídica, embora sem muita técnica, de súmulas, 
que podem ter duas naturezas, ou ser orientadoras ou ser vinculantes, a depender 
do tribunal que as edita e de seu processo de aprovação; além das súmulas, há 
tribunais que editam orientações jurisprudenciais. 
 
Como resultado do modo como os tribunais interpretam os institutos jurídicos, as 
decisões judiciais (e o conjunto delas, a jurisprudência) são uma importante fonte 
formal estatal do Direito, já que elas promovem uma atualização da legislação de 
acordo com as configurações sociais atuais, além de preencherem eventuais 
lacunas deixadas pelo legislador. Assim, pode-ser ver a jurisprudência como um 
suplemento da legislação. 
 
Sob esse aspecto, pode-se afirmar que os juízes detêm poder normativo, já que 
criam normas jurídicas, tanto quando integram (preenchendo lacunas) ou corrigem 
antinomias (conflitos de normas) quanto quando realizam a subsunção do fato à 
norma. Ou seja, eles, os magistrados, têm o poder de criar normas jurídicas gerais e 
abstratas (normalmente quando lhes são submetidos processos objetivos, isto é, 
para decidirem sobre normas), bem como de criar normas jurídicas individuais e 
concretas (quando lhes são submetidos processos subjetivos, nos quais decidem 
casos concretos, com base na realidade social que lhes é apresentada pelas partes 
interessadas). 
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Por fim, dentre as fontes formais estatais figuram também tratados e convenções 
internacionais, que são, “incontestavelmente, a principal e mais concreta fonte do 
Direito Internacional Público na atualidade, não apenas em relação à segurança e 
estabilidade que trazem nas relações internacionais, mas também porque tornam o 
direito das gentes mais representativo e autêntico, na medida em que se 
consubstanciam na vontade livre e conjugada dos Estados e das Organizações 
Internacional, sem a qual não subsistiriam. Além de serem elaborados com a 
participação direta dos Estados, de forma democrática, os tratados internacionais 
trazem consigo a especial força normativa de regularem matérias das mais variadas 
e das mais importantes26”. “Os tratados internacionais são superiores às leis 
internas27”, devendo-se observar que os tratados e as convenções internacionais 
sobre direitos humanos que forem aprovados com quórum e procedimento de 
emenda constitucional, terão a mesma força dessas emendas, enquanto aqueles 
que não forem, serão considerados como fontes supralegais, isto é, possuindo uma 
hierarquia intermediária entre a Constituição e as leis; os demais tratados e 
convenções entram no sistema jurídico nacional com força de lei. 
 
 
6 QUE SÃO NORMAS JURÍDICAS 
 
Vistas as fontes de normas jurídicas, convém discorrer sobre as normas jurídicas. Se 
o Direito tem a função de contribuir para a paz, a harmonia e a ordem sociais, então 
tais finalidades devem ser atingidas de alguma maneira – por meio das normas 
jurídicas. Daí se afirmar que as normas jurídicas são instrumentos que dispõem 
sobre o comportamento dos membros de uma sociedade; são elas que determinam 
(ou ajudam a determinar) as condutas humanas. Diante disso é que se pode dizer 
que as normas jurídicas são normas de conduta porque regulamentam 
comportamentos humanos. Mas não apenas isso, além de regulamentarem 
condutas humanas, as normas jurídicas determinam a organização das instituições e 
dos institutos sociais. Nesse sentido, pode-se conceituar uma norma jurídica como o 
instrumento que serve à regulamentação de comportamentos, condutas humanas, e 
 
26
 MAZZUOLI,Valerio de Oliveira. Curso de Direito internacional público. 3. ed. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2008, pp. 99-100. 
27
 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Obra citada, 2008, p. 100. 
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ISSN 2179-0167 94 
de organização da sociedade; fala-se, portanto, em normas de conduta, no primeiro 
caso, e em normas de estrutura, no segundo caso. 
 
Pelo fato de servirem à regulamentação de comportamentos humanos, isto é, pelo 
fato de o seu sentido revelar a expressão de um valor, as normas jurídicas podem 
ser referidas como decorrentes de valores: “a norma jurídica nasce de uma decisão 
do homem entre múltiplas possibilidades, porque normas implica eleger baseando-
se num juízo de valor28”. Consubstanciando os valores previamente considerados 
para a sua formação, as normas jurídicas prescrevem condutas de acordo com a 
finalidade do Direito. Dizer que uma norma jurídica prescreve é o mesmo que dizer 
que ela determina, ou seja, que ela “é imperativa como toda norma destinada a 
regular o agir do homem e a orientá-lo para suas finalidades. É imperativa porque 
impõe um dever, um determinado comportamento29”. 
 
Mas a norma jurídica não é apenas imperativa, é, também, atributiva, no sentido de 
que atribui ao lesado pela violação da conduta prescrita na norma a faculdade de 
exigir do violador o cumprimento da norma ou a reparação pelo dano sofrido30. 
Alguns autores entendem que a norma não é essencialmente atributiva, e sim 
autorizativa, “porque o que compete a ela é autorizar ou não o uso dessa faculdade 
de reação do lesado31”. Assim, pode-se dizer que “a norma jurídica é imperativa 
porque prescreve as condutas devidas e os comportamentos proibidos e, por outro 
lado, é autorizante, uma vez que permite ao lesado pela sua violação exigir o seu 
cumprimento, a reparação do dano causado ou ainda a reposição das coisas ao 
estado anterior32”. 
 
As normas jurídicas assim como as normas morais são imperativas, de maneira que 
o que distingue umas das outras é o caráter autorizante das normas jurídicas. Além 
disso, as normas jurídicas são bilaterais (por um lado, impõem um dever a uma 
pessoa; por outro lado, autorizando a exigência pelo lesado de seu cumprimento) e 
as demais normas, incluídas as morais, são unilaterais (só estabelecem o dever) – 
 
28
 DINIZ, Maria Helena. Obra citada, 2012, p. 372. 
29
 DINIZ, Maria Helena. Obra citada, 2012, p. 381. 
30
 DINIZ, Maria Helena. Obra citada, 2012, p. 404. 
31
 DINIZ, Maria Helena. Obra citada, 2012, p. 405. 
32
 DINIZ, Maria Helena. Obra citada, 2012, p. 406. 
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daí que “o cumprimento das obrigações morais deve ser voluntário; a obrigação 
jurídica pode ser satisfeita inclusive mediante o uso de medidas repressivas33”. Há 
que se considerar, também, que as normas jurídicas são heterônomas, ou seja, 
postas por terceiros e que, enquanto vigentes, obrigam e se impõem, ainda que 
contra a vontade dos obrigados, ou seja, por mais iníquas que sejam, devem ser 
respeitadas e obedecidas; ao contrário, as normas morais são autônomas, só 
obrigando se o próprio indivíduo as aceita como obrigatórias. Além disso, as normas 
jurídicas são gerais, porque regulamentam condutas de maneira universal, ou seja, 
sem se dirigir a um indivíduo ou a um grupo específico de pessoas, e abstratas, já 
que sua previsão não se encontra no mundo dos fatos (mundo ôntico), e sim no 
mundo das ideias, no mundo hipotético (mundo deôntico). 
 
Portanto, as normas jurídicas enquanto instrumentos de regulamentação de 
condutas humanas e de estruturas sociais são imperativas, atributivas ou 
autorizantes, bilaterais, heterônomas, abstratas e gerais. Some-se a isso a 
coercibilidade, que não é propriamente uma característica das normas jurídicas, mas 
uma consequência provável para quando elas forem descumpridas, significando a 
possibilidade de que uma norma seja cumprida mediante o uso de medidas 
coercíveis (repressivas), seja a violência física ou psicológica, desde que legítimas. 
Vertendo-se isso em conceito, pode-se dizer que normas jurídicas são instrumentos 
impositivos, gerais e abstratos, estabelecidos pelo Estado, e que se orientam para 
uma determinada finalidade, determinam comportamentos ou prescrevem uma 
organização, atribuindo ou autorizando as pessoas a exigirem seu cumprimento, 
inclusive mediante o uso de medidas coercitivas. 
 
As normas jurídicas podem ser classificadas de variadas formas, aqui estão as que 
se reputam, aqui, mais úteis para o Curso de Direito: 1) Quanto à imperatividade: a) 
cogentes, impositivas ou de ordem pública, revelam imperatividade absoluta, 
ordenando ou proibindo algo de maneira absoluta, ou seja, sem que o particular 
possa intervir, a fim de que não sejam trazidos prejuízos à sociedade – são normas 
que tutelam interesses fundamentais, o bem comum; b) dispositivas ou de ordem 
privada, revelam imperatividade relativa, podendo ser permissivas (quando 
 
33
 DINIZ, Maria Helena. Obra citada, 2012, p. 407. 
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consentem abstenções ou ações) ou ser supletivas (quando suprem a falta de 
manifestação das partes); 2) Quando ao autorizamento: a) mais que perfeitas, 
quando violadas ensejam nulidade do ato com restabelecimento ou não da situação 
anterior (statu quo ante) e aplicação de pena; b) perfeitas, quando violadas ensejam 
a nulidade ou a anulação do ato; c) menos que perfeitas, quando violadas 
determinam a aplicação de pena; d) imperfeitas, quando violadas não proporcionam 
qualquer consequência jurídica; 3) Quanto à hierarquia: a) internacionais; b) 
supraconstitucionais; c) constitucionais; d) supralegais; e) legais; f) infralegais; g) 
individuais; 4) Quanto à natureza das disposições: a) substantivas ou materiais, 
quando criam direitos e impõem deveres; b) adjetivas ou processuais, quando 
regulam a maneira como efetivar as relações jurídicas ou fazer valer direitos e 
deveres; 5) Quanto à aplicação: a) normas de eficácia absoluta, quando não podem 
ser alteradas senão por uma nova ordem constitucional – são as cláusulas pétreas; 
b) normas de eficácia plena, quando suficientes para regulamentar as relações 
jurídicas; c) normas de eficácia restringível ou contida, quando têm aplicabilidade 
imediata, mas sua eficácia pode ser reduzida por lei; d) normas de eficácia relativa 
complementável ou de eficácia limitada, quando dependem, para produzir efeitos, de 
norma posterior que lhe dê eficácia; 6) Quanto ao poder de autonomia legislativa: a) 
nacionais, quando criadas pela União, sendo válidas para toda a nação; b) federais, 
quando criadas pela União, sendo válidas em todo o território federal; c) estaduais, 
quando criadas pelos Estados, sendo válidas em todo o território do respectivo 
Estado; d) municipais, quando criadas pelos Municípios, sendo válidas em todo o 
território do respectivo Município; 7) Quanto à sistematização: a) esparsas ou 
extravagantes, quando regulamentam uma determinada matéria de maneira isolada; 
b) codificadas, quando regulamentam uma determinada matéria, organizando-se em 
um corpo orgânico; c) consolidadas, quando, sendo sobre um determinado assunto, 
encontram-se reunidas várias leis esparsas. 
 
As normas jurídicas têm três planos de validade. O primeiro é o plano formal (ou 
jurídico), do que se extrai a vigência da norma jurídica, ou seja, que tenha sido 
criada pelo poder competente e com a obediência dos procedimentos legais. O 
segundo é o plano social, que é também referido como de validade fática ou, ainda, 
de eficácia, do quese extrai se a norma pode ser aplicada pela autoridade (contém 
os elementos normativos que permitem sua atuação concreta) e é obedecida pelos 
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seus destinatários (produz efeitos por estar adequada à realidade). O terceiro é o 
plano ético, pelo que a norma jurídica consiste na realização de valores socialmente 
exigíveis, embora, em si, ela não valore fatos. 
 
Vistas essas questões preliminares (conceito, características, classificações e planos 
de validade) sobre as normas jurídicas, cumpre discorrer sobre a sua estrutura 
lógica. O entendimento acerca da estrutura lógica das normas jurídicas é 
fundamental para que se possa entender como o Direito se comporta. 
 
Foi dito que as normas jurídicas regulamentam os comportamentos humanos e a 
organização das instituições. Todavia, as normas jurídicas não são pré-fabricadas, 
nem se encontram determinadas no ordenamento jurídico. Assim, as fontes formais 
jurídicas não introduzem, necessariamente, normas jurídicas num determinado 
ordenamento, e sim enunciados prescritivos (normativos), sobre os quais incidirá a 
linguagem especializada, transformando-os em normas jurídicas. Portanto, há que 
se ter em mente isso: enunciados prescritivos são introduzidos num ordenamento 
jurídico mediante um veículo introdutor específico (fontes formais), de maneira que o 
operador do Direito, isto é, o especialista em Direito, irá ler e interpretar esse 
enunciado prescritivo, relacionando-o com outros, presentes no mesmo 
ordenamento jurídico, extraindo daí normas jurídicas. 
 
A importância da estrutura lógica das normas jurídicas está exatamente no modo de 
entender como elas são compostas, sobre o que elas se aplicam e o que elas 
podem gerar. Assim, simplificadamente, uma norma jurídica é formada por uma 
hipótese (um fato ou ato jurídico abstratamente previsto em enunciados prescritivos) 
que se ocorrer no mundo concreto e for observada por um agente competente irá 
incidir sobre o fato ou o ato concreto, que será subsumido àquela hipótese, gerando, 
assim, uma consequência jurídica – que será a formação de uma obrigação jurídica 
intersubjetiva. Essa obrigação jurídica relaciona dois sujeitos, um ativo (dono de um 
direito subjetivo) e um passivo (dono de um dever jurídico), ligados por um mesmo 
objeto (bem da vida) que é devido por um ao outro mediante uma prestação (dar, 
pagar, fazer ou não fazer). Se for descumprida essa prestação, poderá ser aplicada 
uma sanção, responsabilizando-se o sujeito inadimplente. 
 
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A partir daqui se estudam tanto a aplicação quanto a interpretação das normas 
jurídicas. Assim, na próxima seção, será estudado o ordenamento jurídico, ou seja, a 
dinâmica das normas jurídicas, o que se pode chamar de nomodinâmica, 
distinguindo os elementos constituintes desse ordenamento (normas, regras e 
princípios), compreendendo a importância da estrutura escalonada (o que se 
convencionou denominar de pirâmide normativa) e identificando as características 
do ordenamento jurídico (unidade, coerência e completude). O estudo dessas 
questões tem como objetivo abrir o caminho para se entender os métodos e 
espécies de interpretação, as formas de integração do ordenamento e a solução de 
antinomias entre normas, bem como para introduzir conceitos relacionados com a 
obrigatoriedade, a vigência e a extinção das normas, e com o que diz respeito ao 
seu cumprimento. 
 
 
7 QUE É O ORDENAMENTO JURÍDICO 
 
As normas jurídicas não existem isoladamente, elas fazem parte de um conjunto: o 
ordenamento jurídico. O estudo singular e isolado das normas jurídicas denomina-se 
nomostática, enquanto o estudo de suas relações entre si, enquanto pertencentes a 
um ordenamento jurídico, é chamado de nomodinâmica. A partir do estudo do 
conjunto de normas jurídicas, isto é, do ordenamento jurídico, extrai-se que este é 
complexo, não só porque composto por várias normas jurídicas, mas também 
porque a relação entre elas não se dá de maneira linear. Em virtude dessa 
complexidade é que surgem problemas sobre o comportamento de um ordenamento 
jurídico, isto é, sobre a sua dinâmica. Eis aí a relevância de se estudar a 
nomodinâmica, em primeiro lugar, como se faz neste tópico, a partir do 
entendimento de alguns conceitos básicos, em segundo lugar, como se faz nos 
tópicos subsequentes, a partir do aprofundamento desses conceitos e das questões 
a eles atinentes. 
 
O primeiro conceito básico que deve ser apreendido é o de unidade do ordenamento 
jurídico, pelo que, apesar de as normas jurídicas emanarem de fontes variadas, 
todas elas se reportam, no fim das contas, a uma única norma ou regra fundamental 
que identifica o ordenamento jurídico e “que orienta e dirige a interpretação e 
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aplicação das normas singulares que o integram34”. É a unidade que determina a 
validade, isto é, a pertinência da norma ao ordenamento, além de estabelecer, 
também, uma necessária hierarquia normativa. Pode-se dizer que, pela unidade, o 
ordenamento jurídico é um conjunto de normas jurídicas de diferentes níveis 
hierárquicos que formariam uma pirâmide, ou melhor, uma estrutura escalonada. 
 
Ao discorrer sobre a nomodinâmica, Kelsen35 trata sobre o que ele chama de norma 
hipotética fundamental, a qual seria o fundamento de validade de toda e qualquer 
ordem normativa. Com ela, o autor estabeleceu um ponto além do qual o que se 
estuda não são as normas jurídicas e suas relações, mas algo distinto; e também, 
ao mesmo tempo, um ponto que fundamenta a validade das normas jurídicas, 
evitando regressões infinitas na busca pelo fundamento de validade das normas 
jurídicas de um ordenamento. Pode-se, assim, definir a norma hipotética 
fundamental como a fonte comum de validade de todas as normas pertencentes a 
um mesmo ordenamento jurídico; por conta dela é que se pode afirmar que o 
ordenamento jurídico é um sistema, isto é, uma totalidade ordenada. 
 
A funcionalidade, portanto, de uma norma hipotética fundamental é estabelecer a 
nota da unidade de um ordenamento jurídico, pois, como escreve Joseph Raz, o 
ordenamento jurídico não é um conjunto de normas escolhidas ao acaso36. É 
importante observar que a norma hipotética fundamental não é jurídica, mas lógica, 
estabelecendo, abaixo de si, uma estrutura escalonada, que os autores costumam 
chamar de pirâmide normativa. Dela decorrem dois axiomas: o primeiro é o de que 
sempre haverá uma norma determinante (superior) e uma norma determinada 
(inferior), pertencendo, ambas, a um mesmo sistema jurídico37; o segundo é de que 
todas as normas dum ordenamento jurídico são autorizadas (determinadas) direta 
ou indiretamente por outra38. Esses dois axiomas resumem bem o modo pelo qual 
se relacionam as normas que compõem um ordenamento jurídico. 
 
34
 PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Perspectivas e tendências atuais do Estado constitucional. Trad. 
Jose Luis Bolzan de Morais e Valéria Ribas do Nascimento. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 
2012, p. 20. 
35
 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Trad. João Baptista Machado. 6. ed. São Paulo: Martins 
Fontes, 1998. 
36
 RAZ, Joseph. Kelsen’s theory of the basic norm. American Journal of Jurisprudence, vol. 19, 1974, 
pp. 94-95. 
37
 RAZ, Joseph. Obra citada, 1974, p. 95. 
38
 RAZ, Joseph. Obra citada, 1974, p. 95. 
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ISSN 2179-0167 100 
 
Considerando-se a pirâmide normativa, tem-se, em ordem decrescente a seguinte 
ordem de normas: no primeiro escalão, as normas constitucionais; no segundo,as 
normas legais; no terceiro escalão, as normas infralegais. Com base nisso, tem-se 
que as normas constitucionais determinam ou autorizam as normas legais e estas as 
normas infralegais. Noutras palavras, as normas infralegais buscam seu fundamento 
de validade nas normas legais, diretamente, e nas normas constitucionais, 
indiretamente; as normas legais buscam seu fundamento de validade nas normas 
constitucionais. E as normas constitucionais, em que normas elas buscam seu 
fundamento de validade? A resposta é: na norma hipotética fundamental. Ou seja, 
enquanto a norma hipotética fundamental é o fundamento lógico de validade de todo 
o ordenamento jurídico, as normas constitucionais são o fundamento jurídico desse 
ordenamento. Entender isso é essencial para que se possa compreender uma série 
de relacionamentos normativos durante o Curso de Direito. 
 
Diretamente ligada a essa questão está o segundo conceito básico, o de coerência 
do ordenamento jurídico, que significa a compatibilidade entre as normas 
pertencentes a um mesmo sistema. De acordo com Antonio Enrique Pérez Luño, a 
coerência é “a tendência de todo ordenamento jurídico a conformar-se como um 
todo ordenado: um conjunto de elementos entre os quais se dá uma ordem 
sistematizada39”. Isso significa que é preciso que as normas jurídicas que fazem 
parte de um sistema não conflitem entre si, não sejam incompatíveis. Se houver 
incompatibilidade normativa, o resultado será a existência de antinomias, as quais 
deverão ser resolvidas, a partir do uso de determinados critérios e procedimentos, a 
fim de se manter a integridade, a unidade e a coerência do ordenamento jurídico. 
 
Por fim, o terceiro conceito básico é o de completude ou da plenitude do 
ordenamento jurídico, o que significa que o sistema é completo, ou seja, a falta de 
normas jurídicas que regulamentem determinadas condutas, isto é, que a existência 
de omissões ou de lacunas é apenas algo aparente, já que o próprio ordenamento 
estabelece regras para resolver os casos omissos ou lacunosos, mediante 
procedimentos e técnicas de integração. 
 
39
 PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Obra citada, 2012, p. 21. 
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Esses três conceitos (unidade, coerência e completude), ao lado de outros que com 
eles têm alguma relação, serão mais bem discutidos na sequência, quando se passa 
a estudar os arts. 1º a 6º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 
(LINDB). Os tópicos a seguir são organizados de acordo com a matéria constante 
dos artigos da LINDB. Em primeiro lugar, discorre-se sobre a obrigatoriedade das 
leis (arts. 1º e 3º da LINDB). Em segundo lugar, discorre-se sobre a revogação e a 
modificação das leis, as possíveis antinomias que podem daí advir, abordando os 
critérios para solucioná-las, e a questão sobre direito intertemporal (arts. 2º e 6º da 
LINDB). Em terceiro lugar, discorre-se sobre a interpretação das leis e sobre o 
problema das lacunas e os mecanismos de sua integração (arts. 4º e 5º da LINDB). 
 
Antes de adentrar no estudo do que vem disposto na Lei de Introdução (LINDB), é 
preciso que se entenda a sua natureza dentro do ordenamento jurídico brasileiro. 
Trata-se de um conjunto de normas jurídicas sobre como as normas jurídicas se 
comportam, isto é, cuida-se de um código de normas que “descreve as linhas 
básicas da ordem jurídica, exercendo a função de lei geral, por orientar a 
obrigatoriedade, a interpretação, a integração e a vigência da lei no tempo e por 
traçar as diretrizes das relações de direito internacional privado40”. Assim, a Lei de 
Introdução é composta por duas partes, uma que vai do art. 1º ao 6º sobre a 
vigência e a aplicabilidade das normas jurídicas; outra que vai do art. 7º a 17 sobre 
Direito internacional privado. Sob a epígrafe de obrigatoriedade das normas jurídicas 
tem-se a análise de dois dispositivos da Lei de Introdução: arts. 1º e 3º. 
 
É preciso fazer uma ponderação prévia, no entanto. É que os autores e os 
legisladores se utilizam de nomenclaturas sem muita técnica, o que pode prejudicar 
o aprendizado, já que pode conduzir a confusões. Assim, cabe tomar algumas 
pequenas notas. No início do Curso falou-se em fontes formais estatais do Direito, 
da qual a principal é a legislação, resultado de um processo legislativo. Falou-se que 
a legislação pode ser primária (quando tem aptidão para estabelecer direitos e criar 
deveres) e secundária (quando não tem tal aptidão, servindo apenas para dar 
executoriedade à legislação primária). Dentro dessa legislação primária, 
 
40
 DINIZ, Maria Helena. Lei de introdução às normas do Direito brasileiro interpretada. 17. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2012a, p. 24. 
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destacaram-se, em conformidade com o art. 59 da Constituição de 1988, quais as 
espécies: Constituição, Emenda à Constituição, Lei Complementar, Lei Ordinária, 
Lei Delegada, Medida Provisória, Decreto Legislativo e Resolução do Senado. Essas 
espécies de legislação primária são, no entanto, referidas normalmente como leis – 
devendo-se levar em consideração que essa referência diz respeito a leis em 
sentido amplo. 
Tecnicamente, o que se tem é que cada espécie de legislação primária consiste num 
veículo introdutor de normas no ordenamento jurídico diferente. Ou, ainda, de 
maneira mais específica, cada espécie é um veículo introdutor de enunciados 
prescritivos dos quais é possível extrair normas jurídicas. Então, o que se tem é que 
aquilo que na prática se denomina de leis é, dentro de uma técnica mais apurada, 
veículo introdutor. Fala-se em leis, portanto, num sentido genérico, o que não é 
equivocado, embora não seja exato. Faz-se essa observação porque quando o 
legislador se refere à lei ele poderá estar se referindo a: 1) quaisquer daquelas 
espécies normativas denominadas legislação primária (leis em sentido amplo); 2) 
leis em sentido próprio ou estrito; 3) enunciados prescritivos (normalmente 
confundidos com normas jurídicas). 
 
 
8 COMO SE COMPORTA O ORDENAMENTO JURÍDICO 
 
O art. 1º, caput, da LINDB, dispõe que não existindo previsão em sentido contrário, a 
lei terá vigência em todo o território brasileiro 45 dias depois de oficialmente 
publicada. A referência, nesse caso, é à lei em sentido amplo. Para entender esse 
dispositivo cumpre recordar que o processo legislativo, isto é, o processo de criação 
de leis em sentido amplo (lato sensu), tem, em regra, o seguinte trâmite: 1) iniciativa, 
quando alguém que tenha competência propõe um projeto de lei; 2) discussão, 
quando o corpo legislativo discute e propõe emendas ao projeto; 3) deliberação ou 
votação, quando o corpo legislativo aprova ou rejeita o projeto; 4) sanção ou veto, 
quando o chefe do Executivo aprecia o projeto, concordando com ele (sanção) ou 
fazendo-o retornar ao corpo legislativo para uma nova deliberação (veto); 5) 
promulgação, quando o Executivo autentica a lei, tornando-a existente; 6) 
publicação, quando a lei publicada no Diário Oficial passa a ser conhecida pela 
comunidade e por seus destinatários. 
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Observando-se esse processo legislativo, tem-se que a lei só deixa de ser um 
projeto quando se dá sua promulgação: existência depende do preenchimento das 
formalidades necessárias, isto é, ter o projeto de lei sido proposto pelo órgão 
competente e tramitado corretamente. Assim, atestada, ainda que equivocadamente, 
que o projeto foi proposto por quem tinha competência e que o trâmite do projeto foi 
o correto, tem-se a existênciada lei, o que confirmará sua executoriedade, dada, 
anteriormente, pela sanção. Todavia, para que possa ser aplicada e possa produzir 
seus efeitos, a lei deve ser obrigatória, e a obrigatoriedade depende da publicação 
oficial da lei. Mas não só, para que possa obrigar seus destinatários não é suficiente 
apenas que tenha ocorrido sua publicação, é preciso ainda que a lei esteja em vigor, 
ou seja, que a lei possua vigência. 
 
Portanto, o que se tem é que antes mesmo de ser publicada, uma lei já é executável 
e existente. No entanto, ainda que exista e que se possa cobrar sua produção de 
efeitos, só isso não basta. É preciso, também, que se tenha dado conhecimento aos 
destinatários da lei, o que ocorre mediante sua publicação em veículo oficial, tornada 
pública, isto é, dada a devida publicidade da lei, pode-se falar que ela é obrigatória. 
Mas, mesmo assim, para que possa produzir seus efeitos ela precisa estar vigente. 
Assim, é necessário que se diga o que significa vigência: trata-se da aptidão de uma 
lei para produzir seus efeitos. Daí que quando a lei está apta a produzir efeitos, diz-
se que ela está em vigor. 
 
A norma que se pode extrair do caput do art. 1º da LINDB determina: se a lei tiver 
sido oficialmente publicada para vigência no território brasileiro e não houver 
previsão em sentido contrário sobre sua vacância, então deverá ter vigência em todo 
o território brasileiro depois de decorridos 45 dias. Assim, publicada a lei no Diário 
Oficial e sendo uma lei brasileira para viger em território brasileiro, deve-se aguardar 
45 dias a partir da publicação para que essa lei tenha aptidão para produzir seus 
efeitos e possa ser invocada como obrigatória. A esse prazo de 45 dias em que a lei 
fica em estado de espera denomina-se vacatio legis, que significa: vacância da lei – 
o que equivale a dizer que a lei existe, mas está “vaga”, já que não é obrigatória, não 
podendo vincular a conduta de seus destinatários. Daí que a vacância consista na 
inaptidão para produzir efeitos. 
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É preciso observar, por fim, duas cláusulas exceptivas contidas na norma jurídica 
que foi acima enunciada. A primeira se refere à cláusula “se não houver previsão em 
sentido contrário”, isto é, não tendo o legislador, no texto da nova lei, explicitado em 
quanto tempo a partir da publicação oficial essa lei entrará em vigor, o prazo será de 
45 dias, os quais serão contados computando-se o dia do início (dies a quo) e o dia 
do fim (dies ad quem), passando a lei a ter vigência no dia seguinte. Assim, a regra 
geral é o silêncio e, com o silêncio, serão computados 45 dias. Mas e se o termo, 
isto é, o último dia do prazo cair em feriado ou em domingo, tem-se que “não se 
considerará prorrogado o prazo até o dia útil seguinte por não se tratar de 
cumprimento de obrigação, mas de início de vigência da lei, que deve ser obedecida 
mesmo nos domingos e feriados41”. Havendo previsão na lei nova de prazo ou não 
havendo (hipótese em que a lei entra em vigor na data de sua publicação), valerá o 
que vier expresso na lei. Portanto, a regra é que haja vacatio legis, mas o legislador 
autoriza que o próprio legislador estabeleça de maneira distinta. 
 
A segunda cláusula diz respeito a “território brasileiro”, ou seja, se a lei tiver sido 
produzida para viger dentro do território brasileiro, valerá o disposto no caput do art. 
1º da LINDB. Tendo sido produzida para viger em país estrangeiro, o prazo de 
vacância, que não admite exceção, é de três meses depois da publicação oficial. A 
norma jurídica, neste caso, é assim trabalhada: se a lei tiver sido oficialmente 
publicada e se destinada à vigência em país estrangeiro, então deverá ter vigência 
no estrangeiro, depois de decorridos três meses. É preciso ter atenção, pois o 
legislador estabeleceu um prazo de três meses, que é diferente de um prazo de 90 
dias. 
 
Por fim, o art. 1º da LINDB, em seus §§3º e 4º, dispõe que se o texto da lei vier a ser 
republicado em virtude de correção, se o prazo de vacância não tiver terminado, 
será recontado, se tiver findado, as correções serão consideradas lei nova. Tem-se, 
portanto, a confirmação de que durante a vacatio legis a lei não é obrigatória, ou 
seja, não vincula o comportamento de seus destinatários, de maneira que a lei 
anterior ainda continua em vigor, e, assim, válida. Identificada alguma incorreção em 
seu texto, se ainda estiver em curso a vacatio legis a correção será feita no bojo da 
 
41
 DINIZ, Maria Helena. Obra citada, 2012a, p. 75. 
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própria lei, que, modificada, contará com um novo prazo de vacância, republicando-
se a lei; do contrário, se não houve vacatio legis ou se o prazo desta já se extinguiu, 
o texto corrigido será considerado como nova lei, publicando-se nova lei. 
 
Vistas as normas jurídicas que se extraem dos enunciados prescritivos contidos no 
art. 1º, caput e §§1º, 3º e 4º, da LINDB, passa-se ao exame do art. 3º do mesmo 
diploma. De acordo com este dispositivo, tem-se que, depois de publicada 
oficialmente a lei, não se pode, alegando desconhecimento, descumprir a lei. Nisso 
se tem nova norma jurídica, que pode ser assim enunciada: se tiver sido publicada 
oficialmente, então a lei deverá ser cumprida, não se podendo alegar, para o seu 
descumprimento, seu desconhecimento. 
 
Com essa norma jurídica firma-se a necessidade da publicação para tornar uma lei 
obrigatória, e isso tem uma razão de ser: “como as leis limitam as atividades 
humanas, elas precisam ser conhecidas por seus destinatários, para que saibam o 
que é permitido ou obrigado, aplicando-as com segurança42”. Assim, publicada 
oficialmente determinada lei, o seu destinatário não poderá descumpri-la, alegando 
desconhecê-la. Assim, estando uma lei em plena vigência, não poderá seu 
destinatário, desde que ela tenha sido devidamente publicada, alegar que não sabia 
que ela estava vigendo, ou, ainda, alegar que não sabia que a lei anterior não estava 
mais vigendo. 
 
Diante disso há que se cuidar da questão relativa à revogação das leis, 
regulamentada no art. 2º da LINDB. Trata-se de tema que diz respeito à vigência das 
leis no tempo, de maneira que se pode assim formular uma regra geral: uma lei vige 
até que outra lei a modifique ou revogue. A exceção fica por conta de leis de 
vigência temporária. Disso decorre que as leis poderão ter vigência temporária, se 
pré-fixarem o tempo de sua duração ou a ocorrência de uma determinada condição 
fática, ou ter vigência permanente, se não houver pré-fixação do tempo de sua 
duração nem de condição fática. 
 
 
42
 DINIZ, Maria Helena. Obra citada, 2012a, p. 106-107. 
REVISTA JurES - v.5, n.8 (2013) 
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Assim, normalmente, as leis que são modificadas e revogadas são as que possuem 
vigência permanente. Por modificação há que se entender que as leis são alteradas, 
tanto podendo ser melhoradas quanto pioradas, seja integralmente, seja 
parcialmente, o que é mais comum. Por revogação há que se entender que as leis 
são extintas, perdendo sua vigência, não estando mais aptas a produzirem efeitos, 
e, por isso, não se podendo mais falar que são obrigatórias. A revogação pode ser 
total, quando receberá o nome de ab-rogação, ou ser parcial, quando receberá o 
nome de derrogação. Ademais, pode-se classificar a revogação em expressa, 
quando a lei revogadora declarar que a lei anterior está extinta, parcial ou 
integralmente, e em tácita, quando a lei revogadora não trouxer tal declaração, mas 
ficar clara a incompatibilidade