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RESENHA CRÍTICA FILME BICHO DE 7 CABEÇAS E A CONCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE GESTÃO DO CUIDADO

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FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA PARAÍBA 
ATENÇÃO EM SAÚDE VI- GESTÃO DO CUIDADO 
PROF. LUCINEIDE BRAGA 
ALUNA: PATRÍCIA GONÇALVES C. F. DE MEDEIROS 
RESENHA CRÍTICA FILME BICHO DE 7 CABEÇAS E A CONCEPÇÃO DOS DISCENTES 
SOBRE GESTÃO DO CUIDADO 
O filme ‘'Bicho de 7 cabeças’’, após assistirmos em sala a discussão primeva foi: tudo que foi 
mostrado como meio, alternativa de tratamento durante toda a obra é o oposto de Cuidado. Na 
minha opinião especificamente o filme resume de um forma excelente como a falha no sistema 
de tratamento, seja área mental, seja outra área se não bem estruturada, com diretrizes e 
organizadas estruturadas nos princípios do SUS que estudamos desde ao adentrar a 
faculdade, pode ter um caráter punitivo em vez de reconstrutor e que não só ‘’pune’' o doente, 
mas quem convive à sua volta. E essa era a dura realidade até certo tempo atrás, antes da lei 
Antimanicomial (dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos 
mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental). O filme também frisa a falta de 
uma linha ideal de cuidado com o paciente psquiátrico ao mostrar que o médico ouvia os pais 
de Neto, mas não o ouvia, e aqui entra o questionamento, mas como não parar para ouvir o 
próprio paciente? E como considerar só a opinião dos pais, que no caso do personagem tinha 
um relacionamento conturbado? 
Em termos de mais reflexão, o filme é de 2001, teoricamente a realidade exposta no roteiro 
dele não deveria nos causar tanto espanto, porque na nossa cabeça a humanização sempre 
esteve intrinsecamente ligado ao atendimento médico-psiquiátrico mas fica claro que a 
mudança veio depois da Lei Antimanicomial e da Portaria da rede de Atenção Psicossocial 
(PORTARIA Nº 3.088, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2011). Em certa cena do filme ao chegar ao 
hospital, dois enfermeiros vão ao encontro de Neto e o agarram pelo braço. Ele fica assustado 
e começa a gritar, questionando o que estava acontecendo. Seu pai pede para ele ficar calmo, 
informando-lhe que tudo o que estava acontecendo era para o bem dele, analisando com as 
diretrizes e cabeça que temos hoje, qual o momento que algo foi feito pensando no bem dele? 
Na cura? Outra parte que causa certa surpresa ao assistí-lo é por exemplo, não ser realizado 
uma anamnese, uma ferramenta indispensável e talvez a chave principal para o sucesso de um 
tratamento, pois ela que nos guia para o tratamento ideal a partir de um diagnóstico. Deve-se 
registrar a partir disso, o quão importante é uma escuta ativa, bem feita, que hoje é tão frisada, 
por ser um caminho da boa terapêutica. 
Em contrapartida ao filme, o texto utilizado como base para esta reflexão, traz um conceito de 
cuidado mais palpável e próximo do que a gente como aluno vem aprendendo durante a 
faculdade. O tratamento humano, holístico, universal, com a escuta de qualidade, ativa e 
focada no paciente, no que ele tem a nos falar, suas queixas físicas, suas dores psicológicas… 
sob as novas diretrizes do SUS, assim que devemos tratar o usuário da rede. 
Um trecho que me chamou atenção, foi o relato inicial sobre uma consulta, sobre o cansaço 
dos dois lados, do profissional e do paciente, no trecho: 
'‘Assim que a chamei, D. Violeta veio, uma vez mais, reclamando da longa espera, do desconforto, do 
atraso de vida que era esperar tanto tempo. Eu, que usualmente nesse momento, sempre repetido, 
buscava compreender a situação da paciente, acolher sua impaciência e responder com uma 
planejada serenidade, por alguma razão nesse dia meu sentimento foi outro. Num lapso de segundo tive 
vontade de revidar, nesse primeiro contato, o tom rude e agressivo de que sempre era alvo. Quase no 
mesmo lapso, senti-me surpreso e decepcionado com esse impulso, que me pareceu a antítese do que 
sempre acreditei ser a atitude de um verdadeiro terapeuta, seja lá de que profissão ou 
especialidade for. Essa vertigem produziu em mim muitos efeitos. Um deles, porém, foi o que marcou 
a cena. Ao invés da calculada e técnica paciência habitual, fui invadido por uma produtiva inquietude, 
um inconformismo cheio de uma energia construtora. Após entrar no consultório com D. Violeta, me 
sentar e esperar que ela também se acomodasse, fechei o prontuário sobre a mesa, que pouco 
antes estivera consultando, e pensei: ‘Isto não vai ser muito útil. Hoje farei com D. Violeta um contacto 
inteiramente diferente’. Sim, porque me espantava como podíamos ter repetido tantas vezes aquela 
mesma cena de encontro (encontro?), com os mesmos desdobramentos, sem nunca conseguir dar um 
passo além. Inclusive do ponto de vista terapêutico, pois era sempre a mesma hipertensa 
descompensada, aquela que, não importa quais drogas, dietas ou exercícios prescrevesse, surgia 
diante de mim a intervalos regulares. Sempre a mesma hipertensão, o mesmo risco cardiovascular, 
sempre o mesmo mau humor..’’ 
Para mim, este trecho resume minha percepção sobre cuidado e sobre como nós, 
enquanto profissionais de saúde devemos agir, independente da situação pois o 
paciente que está a nossa frente possivelmente está em uma situação pior que a 
minha e porque não dar o meu melhor? Mesmo que o meu melhor naquele dia seja 
falar uma palavra de conforto, um aperto de mão, um abraço ou até mesmo um 
simples encaminhamento de exame que ele tanto pede e ainda não foi atendido na 
rede e é isso que o médico do texto resolveu fazer, ‘'sair da caixinha’'e fazer diferente 
com d. Violeta que mesmo com diversas comorbidades, talvez só precisasse há um 
tempinho de acolhimento, de ser ouvida e não de mais uma lista de remédios 
novamente. Por fim, o que fica é que tudo é uma questão de flexibilidade pautada na 
humanização, seja como no caso do Neto (personagem) no filme, que requer 
atenções mais estruturadas e integradas do sistema de saúde, seja no caso da D. 
Violeta que demanda ‘’apenas’' de uma escuta qualificada. É ter sempre em mente 
que o Cuidado ultrapassa o técnico do diagnóstico e tratamento, ele se expande nas 
relações interpessoais. 
 Cabedelo- PB, 9 de fevereiro de 2022

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