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Psicodiagnostico_Clinico pdf ARZENO

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MARIA ESTHER GARCIA AREENO 
Psicodiagnóstico 
Clínico 
:llBLIOTECA ARTES MÉDICAS 
nfAncla e Adolescêncla . 
1BERASTURY - A Criança' seus Jogos 
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Escritos 
,BERASTURY - Adolescência 
,BERASTURY - Psicanálise de Crianças - Teoria e Técnica 
,BERASTURY & KNOBEL-Adolescência Normal 
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Infantil 
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Psicológico à Professora 
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CORDIÉ - Os Atrasados não Existem - Psicanálise de 
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'EBRAY, Rosine - Bebês/Mães em Revolta 
ECHERF - Édipo em Grupo- Psicanálise de Grupo de 
Crianças 
1 LEO- A Interpretação do Desenho Infantil 
UARTE, BORNHOLD & CASTRO - A Prática da Psiéoterapia 
Infantil 
NDERLE - Psicologia da Adolescência - Uma Abordagem 
Pluridimensional 
NDERLE - Psicologia do Desenvolvimento - O Processo 
Evolutivo da Criança 
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Psicanálise de Criança 
URNISS, Tilman - Abuso Sexual da Criança- Uma Abordagem 
Multidisciplinar 
iAP- Group for Advancement of Psychiatry- Distúrbios 
Psicopatológicos na Infância - Téoria e Classificação 
iARFINKEl & Cols. - Transtornos Psiquiátricos na Infância e 
Adolescência 
GLENN, Jules - Psicanálise de Crianças 
iRA~A & Cols. - Técnica Psicoterãpica na Adolescência 
IREENSPAN - Entrevista Clfnica com Crianças 
ERUSALINSKY, Alfredo - Psicanálise e Desenvolvimento 
Infantil 
ERUSALINSKY - Psicanálise do Autismo 
:ERNBERG & CHAZAN - Mn. de Psicoterapia de Crianças com 
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CLEPSCH & LOGIE - Crianças Desenham e Comunicam 
CUSNETZOFF- Psicoterapia Breve na Adolescência 
'LAUFER & LAUFER- Adolescência e Colapso do 
DesenvoMmento - Uma Perspectiva Psicanalítica 
LEBOVICI - O Bebê, A Mãe e o Psicanalista 
Psicodiagnóstico 
Clínico 
A797p ArLeno, Maria Esther García 
Psicodiagnóstico clínico: novas contribuições/ Maria Esther GarcíaArzeno; trad. 
Beatriz Affonso Neves. - Porto Alegre: Artes Mêdicas, 1995. 
1. Psicodiagnóstico 1. Titulo. 
CDU 616.89:616-071 
Catalogação na publicação: MônicaBallejo Canto-CRB 10/1023 
, , 
MARIA ESTHER GARCIA ARZENO 
Psicodiagnóstico 
Clínico 
novas contribuições 
Tradução: 
BEATRIZ A FFONSO NEVES 
Consultoria, Supervisão e Revisão Técnica desta edição: 
MARIA l.ÚCIA TJELLET NUNES 
Psicóloga. Doutora e1n Psicologia Clínica. 
Professor" do /11stit11to de Psicologia da PUC·RS e do Dep(lrfc1111e11to de Psicologia da UFRGS 
Porto Alegre / 1995 
Obra originalmente publicada em espanhol sob o título 
Nuevas aportaciones ai psicodiagnóstico clinico, 1993 
por Ediciones Nueva Visiôn 
tEi Ediciones Nueva Visiôn SAIC 
Capa: 
Mário Rõnhelt 
Preparação do Original: 
FlávioCesa 
Superoisão Editorial: 
Leticia Bispo 
Editoração Eletrônica e Filmes: 
GRAFLINEAssessoria Gráfica e Editorial Ltda. 
Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à 
ARTMED® EDITORA S.A. 
Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 
90040-340 Porto Alegre RS 
Fone (51) 3330-3444 Fax (51) 3330-2378 
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou 
por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem 
permissão expressa da Editora. 
SÃO PAULO 
Av. Rebouças, 1073 - Jardins 
05401-150 São Paulo SP 
Fone (11) 3062-3757 Fax (11) 3062-2487 
SAC 0800 703-3444 
IMPRESSO NO BRASIL 
PRINTED IN BRAZIL 
Sumário 
Prefácio ........................................................................................................ 3 
1 O Psicodiagnóstico Clinico na Atualidade ........................................ . 5 
2 Objetivos e Etapas do Processo Psicodiagnóstico ............................ .. 13 
3 O Enquadre no Processo Psicodiagnóstico ...................................... .. 17 
4 O Primeiro Contato na Consulta ...................................................... . 22 
5 Algumas Contribuições Úteis para a Realização da Primeira 
Entrevista com o Consultante .......................................................... . 36 
6 A Hora de Jogo Diagnóstica Individual. Enfoque Atual e 
Exemplos Clinicas ............................................................................ . 47 
7 Seleção da Bateria de Testes e a sua Seqüência .............................. . 63 
8 Objetivos, Materiais e Instruções utilizadas no Psicodiagnóstico 
Clínico ............................................................................................... . 72 
9 Os Testes Projetivos Gnificos .......................................................... .. 84 
10 Questionário Desiderativo ............................................................... .. 102 
11 O Desiderativo como Instrumento de Exploração do Narcisismo..... 119 
Garcia Arzeno, M. E.; Kleiner, Yolanda e Woscoboinik, Pala R. de 
12 Critérios Atuais para a Interpretação do Teste de Relações Objetais 
de Phillipson ...................................................................................... 127 
13 Indicadores de Analizabilidade no Teste de Relações Objetais de 
Phillipson ......................................................................................... . 
14 Atualização dos Critérios de Interpretação do C.A.T. 
(Children Apperception Test). de L. Bellak, e sua Correlação 
con1 o Desiderativo e o Rorschach ................................ .. 
15 A Entrevista Familiar Diagnóstica. Importãncia da sua 
148 
153 
Inclusão no Psicodiagnóstico de Crianças........................................ 166 
16 O Estudo do Material Coletado ........................................................ . 179 
17 Considerações Atuais sobre a Entrevista de Devolução dos 
Resultados do Psicodiagnóstico ........................................... .. 186 
18 O Informe Psicodiagnóstico ............................................................... 203 
19 Alguns Exemplos de Psicodiagnósticos e os seus Informes.............. 208 
20 O Psicodiagnóstico Clinico e a sua Relação com as Outras Áreas 
de Aplicação....................................................................................... 234 
Prefácio 
Este livro significa para mim a continuação de um trabalho iniciado nos 
anos 70, quando, com Maria Luisa Siquier de Ocampo, Elsa Grassano de Píccolo e 
colaboradores, colocamos nossas idéias em uma obra* que continua sendo livro de 
referência para os interessados no assunto. 
Após quase vinte anos de trabalho ininterrupto, estudo e pesquisas sobre a 
especialidade, senti a necessidade de comunicar minhas idéias atualizadas e ampli-
adas. 
A acumulação de experiência clinica, o aprofundamento na formação teórtca 
e a abertura face a novos enfoques e novas técnicas de estudo da personalidade 
estin1ularan1-me a escrever este livro com a finalidade de transmiti-los aos interes-
sados por esta apaixonante tarefa: o psicodiagnóstico. 
A inclusão de teorias e recursos técnicos como os de M. Mahler, D. W. 
Winnicott, M. Mannoní, F. Dolto, etc., assim como as diferentes escolas de terapia 
familiar, têm introduzido algumas modificações em meu trabalho: enquadre, critéri-
os de interpretação, estratégias para a devolução de informação e elaboração da 
informação final; tudo isso tem sido adaptado e enriquecido com o passar do tempo.Assim, por exemplo, exponho nesta obra que atualmente é impossível fazer 
um psicodíagnóstico correto se não se incluir, pelo menos, uma entrevista familiar 
diagnóstica, mesmo em se tratando de um estudo individual. 
Para atingir minha finalidade incluí a maior quantidade possível de material 
clínico. 
Deixo aqui meu agradecimento a alunos, pacientes, famílias e supervisandos, 
os quais con1 suas consultas, dúvidas, questionamentos e contribuições ajudaram-
me a crescer. 
Maria Esther García Arzeno 
Ocan1po, Maria L. S. de; Grassano, E.; Arzcno, Maria E. Garcia e col. Las técnlcas proyectivas y el 
proceso psicodiagnôslico. Buenos Aires, Nueva Visiôn, 1974. 
3 
Capítulo 1 
O Psicodiagnóstico Clínico 
na Atualidade 
O psicodiagnóstico está recuperando-se de uma época de crise durante a 
qual poderíamos dizer que havia caído no descrédito da maioria dos profissionais da 
saúde mental. 
Considero imprescindível revalorizar a etapa diagnóstica no trabalho clinico 
e sustento que um bon1 diagnóstico clínico está na base da orientação vocacional e 
profissional. do trabalho como peritos forenses ou trabalhistas, etc. 
Se somos consultados é porque existe um problema, alguém sofre ou está 
incomodado e devemos indagar a verdadeira causa disso. 
Fazer um diagnóstico psicológico não significa necessarian1ente o mesn10 
que fazer um psicodiagnóstico. Este termo implica automaticamente a administra-
ção de testes e estes nem sempre são necessários ou convenientes. 
Mas um diagnóstico psicológico tão preciso quanto possível é imprescindível 
por diversas razões: 
1. Para saber o que ocorre e suas causas, de forma a responder ao pedido 
con1 o qual foi iniciada a consulta. 
2. Porque iniciar um tratamento sem o questionamento prévio do que real-
mente ocorre representa um risco muito alto. Significa, para o paciente, 
a certeza de que poderemos "curá-lo" (usando termos clássicos). E o que 
ocorre se logo aparecem patologias ou situações complicadas com as 
quais não sabemos lidar, que vão além daquilo que podemos absorver, 
através de supervisões e análises? Buscaremos a forma de interromper 
(consciente ou inconscientemente) o tratamento com a conseguinte hos-
tilidade ou decepção do paciente, o qual terá muitas dúvidas antes de 
tornar a solicitar ajuda. 
3. Para proteger o psicólogo, que ao iniciar um tratamento contrai auto-
maticamente un1 compromisso em dois sentidos: clínico e ético. Do pon-
to de vista clinico deve estar certo de poder ser idôneo perante o caso 
sem cair em posturas ingénuas nem onipotentes. Do ponto de vista éti-
co, deve proteger-se de situações nas quais está implicitamente com-
prometendo-se a fazer algo que não sabe exatamente o que é. No entanto, 
as conseqüências do não cumprimento de um contrato terapêutico são, 
em alguns países, a cassação da carteira profissional. 
5 
6 García Arzeno 
Por estas razões insisto na importância da etapa diagnóstica, sejam quais 
forem os instrumentos científicos utilizados na mesma. Na obra "A iniciação do 
tratamento"' Freud fala da importância desta etapa, â qual ele dedicava os primei-
ros meses do tratamento. Coloca que ela é vantajosa tanto para o paciente quanto 
para o profissional, que avalia assim se poderá ou não chegar a uma conclusão 
positiva. 
Não sou favorável à idéia de dedicar tanto tempo ao diagnóstico, porque se 
estabelece assim uma relação transferencial muito dificil de dissolver se a decisão 
. for a de não continuar. Além do mais, dispomos na atualidade de todos os recursos 
descritos neste livro (e muitos outros) que permitem solucionar as dúvidas em um 
tempo menor. 
Vej"1 . com que finalidades 
1) Diagnóstico. Conforme o exposto acima é óbvio que a primeira e principal 
finalidade de um estudo psicodiagnóstico é a de estabelecer um diagnóstico. E cabe 
esclarecer que isto não equivale a "colocar um rôtulo~, mas a explicar o que ocorre 
além do que o paciente pode descrever conscientemente. 
Durante a primeira entrevista elaboramos certas hipóteses presuntivas. Mas 
a entrevista projetiva, mesmo sendo imprescindível, não é suficiente para um diag-
nóstico cientificamente fundamentado. 
Lembremos do que diz Karl Meninger, que foi diretor da Meninger Clinic 
(E.U.A.) no prefácio do livro de David Rapaport2 
Durante sêculos o diagnóstico psiquiátrico dependeu funda1ncntalmente da observa-
ção clínica. Todas as grandes obras n1estras da nosologia psiquiátrica( ... ) foram realizadas sen1 
a ajuda das têcnicas de laboratório e de nenhum dos instrumentos de precisão que atualn1ente 
relacionan1os com o desenvolvimento da ciência n1oderna. Tanto a psiquiatria do século XIX 
cmno a da primeira parte do século XX, era uma psiquiatria de impressões clínicas, de in1pres-
sõcs colhidas graças a un1a situação privilegiada: a do n1édico capacitado para submeter o paci-
ente â exan1e. Mas esse cxan1e â sua disposição não era de modo algun1 uniforme ou cstâvel; e 
tan1pouco poderia ter sido padronizado de forma que fosse passivei con1pararos diferentes da-
dos obtidos ( ... ) . Con1 o advento dos n1odernos métodos de exan1e psicológico através de testes. a 
psiquiatria atingiu a idade adulta dentro do n1undo científico{ ... ). Sem n1edo de exagerar pode-se 
afirn1ar que é o campo da ciência n1ental que te1n tido o 1naior progresso relativo nos últimos 
anos. 
Meninger foi durante muitos anos chefe da Clinica que leva seu nome e 
apoiou e animou a criação e o desenvolvimento dos testes tanto projetivos como 
objetivos. Cada paciente que ingressava na clínica era submetido a uma bateria 
completa de testes (T.A.T.. Rorschach, Weschler e outros). 
Eu concordo ainda hoje com este modelo de trabalho, porque acredito que a 
entrevista clínica não é un1a ferramenta infalível, a não ser quando em mãos de 
grandes mestres, e às vezes, nem mesmo nesses casos. 
Os testes tampouco o são. Mas se utilizarmos ambos os instrumentos de 
forma complementar há uma margem de segurança maior para chegar a um diag-
nóstico correto, especialmente se incluirmos testes padronizados. 
Além do mais, a utilização de diferentes instrumentos diagnósticos permite 
estudar o paciente através de todas as vias de comunicação: pode falar livremente, 
dizer o que vé em uma lâmina, desenhar, imaginar o que gostaria de ser, montar 
quebra-cabeças, copiar algo, etc. Se por algum motivo o domínio da linguagem ver-
1. Freud, Sigmund. La iniciación dei tratamiento, t. li, Obras Completas, Madrid: Biblioteca Nueva, 
1948. 
2. Rapaport, David. Testes de diagnóstico psicológico. Buenos Aires: Paidós, 1959. 
Psicodiagnóstico Clínico 7 
bal não foi alcançado (idade. doença, casos de surdos-mudos, etc.) os testes gráficos 
e lúdicos facilitam a comunicação. 
A bateria de testes utilizada deve incluir instrumentos que permitam obter 
ao máximo a projeção de si mesmo. 
Por isso, se pedimos ao paciente que desenhe uma figura humana, sabemos 
que haverá projeção, mas muito mais se lhe pedirmos que desenhe uma casa ou 
uma árvore, já que ele não pode controlar totalmente o que projeta. 
Como disse antes, é importante incluir testes padronizados porque nos dão 
uma margem de segurança diagnóstica maior. 
---b Lembro o caso de uma jovem que foi consultar d_~vido a fracª"-"-~lar, 
impossibilidade de concentração nos estudos e dificuldades de compreensão. Con-
siderava-se de baixo nivel intelectual. Após ter solicitado a ela o Desenho Livre e o 
H.T.P., entreguei-lhe o pequeno caderno do Teste de Matrizes Progressivas de Raven. 
O mesmo dá ao paciente trinta minutos para realizá-lo. Ela o fez em quinze. Eu 
observava as suas anotações e percebi seu excelente resultado. Por isso, quando a 
tarefa foi concluida, entreguei-lhe a grade de avaliação, para que ela mesma fizesse 
a correção. Fizemos o cálculo devido e buscamos.a cifra na tabela mais apropriada. 
O resultado final indicava um Q.I. superior à média. Ela ficou surpresa e incrédula, 
mas os resultados eram irrefutáveis. Voltou à sua casa muito contente. Obviamen-
te, essa não era a soluçãofinal do problema. Haviamas desarticulado um mecanis-
mo através do qual ela brincava de "menina boba". Agora era necessário estudar o 
porquê. Apareceu então (principalmente pela reiteração de respostas de "uma figura 
e a outra é o reflexo em um espelho", no Rorschach) seu enorme narcisismo e seu 
grau de aspiração de ser a número um em tudo. A ferida narcisística por não conse-
gui-lo era tão terrivel que, inconscientemente, preferia ser "a burra" para não se 
expor. 
--- )? Outro elemento importante que nos é dado pelo psicodiagnóstico refere-se à 
relação de transferência-contratransferência. 
Ao longo de um processo que se extende entre três e cinco entrevistas apro-
ximadamente, e observando como o paciente se relaciona diante de cada proposta e 
o que nós sentimos em cada momento, podemos extrair conclusões de grande utili-
dade para prever como será o vinculo terapêutico {se houver terapia futura), quais 
serão os momentos mais difíceis do tratamento, os riscos de deserção, etc. 
Porém, nem todos os psicólogos, psicanalistas e psicólogos clinicas concor-
dam com este ponto de vista. Alguns reservam a utilização do psicodiagnóstico para 
casos nos quais surgem dúvidas diagnósticas ou quando querem obter uma infor-
mação mais precisa, diante, por exemplo, de uma suspeita de risco de suicidio, 
dependência de drogas, desestruturação psicótica, etc. Em outras ocasiões o solici-
tam porque têm dúvidas sobre o tratamento mais aconselhável, se a psicanálise ou 
uma terapia individual ou vincular. Finalmente, existe outro grupo de profissionais 
que não concordam em absoluto com este ponto de vista e prescindem totalmente 
do psicodiagnóstico. Ainda mais, não concedem valor científico algum aos testes 
projetivos. Alguns vão mais longe, dizendo que de forma alguma é importante fazer 
um diagnóstico inicial, que isso chega com o tempo, ao longo do tratamento. Ouvi 
isto de um palestrante estrangeiro durante um congresso internacional, ao que 
outro especialista replicou: "Então o senhor começaria com antibióticos e transfu-
sões de sangue, mesmo antes de saber qual o problema do paciente?" 
Acredito que todas as posições são respeitáveis, porém devem ser funda-
mentadas cientificamente e, até o momento, não tenho encontrado ninguém que me 
demonstre, baseado na teoria da projeção e da psicologia da personalidade, que os 
testes projetivos carecem de validade. 
8 García Arzeno 
2) Avaliação do tratamento. Outra forma de utilizar o psicodiagnóstico é como 
meio para avaliar o andamento do tratamento. É o que se denomina "re-testes" e 
consiste em aplicar novamente a mesma bateria de testes aplicados na primeira 
ocasião. Havendo suspeita de que o paciente lembre perfeitamente o que fez na 
primeira vez e se deseje variar, pode-se criar uma bateria paralela selecionando 
testes equivalentes, como o teste "Z" de Zullliger no lugar do Rorschach. 
Algumas vezes isto é feito para apreciar os avanços terapêuticos de forma 
mais objetiva e também para planejar uma alta. Em outras é para descobrir o moti-
vo de um "impasse" no tratamento e para que tanto o paciente como o terapeuta 
possam falar sobre isso, estabelecendo, talvez, um novo contrato sobre bases 
atualizadas. Em outros casos ainda, é porque existe disparidade de opiniões entre 
eles. Um deles acredita que pode dar fim ao tratamento, enquanto que o outro se 
opõe. 
Estes casos representam um trabalho difícil para o psicólogo, pois passa a 
ocupar o papel de um árbitro que dará a razão a um dos dois. É então conveniente 
esclarecer ao paciente que o psicodiagnóstico não será realizado para demonstrar-
lhe que estava enganado, mas, como um fotógrafo, ele. registrará as situações para 
depois comentá-las. O mesmo esclarecimento deve ser dado ao terapeuta. Obvia-
mente, é conveniente que a entrevista de devolução seja feita por aquele que reali-
zou o estudo, tendo um cuidado muito especial em mostrar uma atitude imparcial e 
fundamentando as afirmações no material dado pelo paciente. 
Nos tratamentos particulares, o terapeuta é quem decide o momento ade-
quado para um novo psicodiagnóstico (ou talvez para o primeiro). No entanto, nos 
tratamentos realizados em instituições públicas ou prtvadas, são elas que fixam os 
critérios que devem ser levados em consideração. Algumas deixam isto a critério dos 
terapeutas. Outras decidem pautá-lo, considerando tanto a necessidade de avaliar 
a eficiência de seus profissionais quanto a de contar com um banco de dados úteis, 
por exemplo, para fins de pesquisa. Assim, é passivei que o prtmeiro psicodiagnóstico 
seja indicado quando o paciente entra na instituição, e o outro de seis a oito meses 
após, dependendo isto do pertodo destinado a cada paciente. 
3) Como meio de comunicação. Existem pacientes com dificuldades para con-
versar espontaneamente sobre sua vida e seus problemas. Outros, como é o caso de 
crianças muito pequenas, não podem fazê-lo. Outros emudecem e só dão respostas 
lacônicas e esporádicas. Com adolescentes e crtanças podemos introduzir algumas 
modificações que muitas vezes despertarão seu entusiasmo. Assim que é sugertdo, 
as crtanças começam a desenhar ou a modelar; o jogo do rabisco de Winnicott entu-
siasma a todos, especialmente porque quebra a assimetria do vínculo. 
Favorecer a comunicação é favorecer a tomada de insight. ou seja, contribuir 
para que aquele que consulta adquira a consciência de sofrimento suficiente para 
aceitar cooperar na consulta. Também provoca a perda de certas inibições, possibi-
litando assim um comportamento mais natural. 
Não se trata de cair em atitudes condescendentes, mas de realizar a tarefa 
dentro de um clima ideal de comunicação, na medida do passivei. Procura-se tam-
bém respeitar o timing do paciente. ou seja, o seu tempo. Alguns estabelecem rapport 
imediatamente, enquanto que para outros isso pode exigir bastante tempo. 
Por isso seria grotesco ficar em silêncio por um longo período, apoiando-se 
no prtncipio de que a entrevista é livre e é o consultante quem deve falar, como seria 
também grotesco interrompê-lo enquanto está relatando algo importante para im-
por-lhe a tarefa de desenhar. 
O psicodiagnóstico possui um fim em si mesmo. mas é também um meio 
para outro fim: conhecer esta pessoa que chega porque precisa de nós. A finalidade 
Psicodiagnóstico Clínico 9 
é conhecê-la da forma mais profunda possível. Para isso o bom rapport é imprescin-
dível. 
4) Na investigação. No que se refere à investigação, devemos distinguir dois 
objetivos: um, é a criação de novos instrumentos de exploração da personalidade 
que podem ser incluídos na tarefa psicodiagnôstica. Outro, o de planejar a investi-
gação para o estudo de uma determinada patologia, algum problema trabalhista, 
educacional ou forense, etc. Neste caso, usa-se o psicodiagnôstico como uma das 
ferramentas úteis para chegar a conclusões confiáveis e, portanto, válidas. 
Um exemplo do primeiro caso é o que fez o próprio Hermann Rorschach 
quando criou as manchas e selecionou entre milhares aquelas que demonstravam 
ser mais estimulantes para os pacientes. 
Para dar validade a este teste mostrou as lâminas a um grupo de pacientes 
selecionados aleatoriamente e, apôs, a outro grupo já diagnosticado com o método 
de entrevista clinica (esquizofrênicos, fóbicos, etc.). Assim pôde estabelecer as res-
postas populares (próprias da maioria estatística selecionada aleatoriamente) e as 
diferentes "síndromes" ou perfil de respostas típico de cada quadro patológico'. 
Da mesma forma procedeu Murray, criador do T.A.T. (Thematic Apperception 
Test). As respostas estatisticamente mais freqüentes foram denominadas "popula-
res". Os desvios dessas respostas populares eram considerados significativos tanto 
no aspecto enriquecedor e criativo como no sentido oposto, ou seja, no aspecto 
patológico, podendo proceder do mesmo modo que Rorschach. 
A criação de um teste não é uma tarefa fácil. Não podem ser colhidos alguns 
registros e deles extraídas conclusões com a pretensão deque sejam válidas para 
todos. É necessário respeitar aquilo que a psicoestatística indica como modelo de 
investigação para que as suas conclusões sejam aceitáveis. Também é necessário 
um conhecimento abrangente e o trabalho em equipe para a correta interpretação 
dos resultados. Assim, por exemplo, se se pretende criar um teste que avalie a 
inteligência em crianças surdas-mudas, será imprescindível a presença de um es-
pecialista dessa área. Se a intenção é criar um teste para pesquisar determinados 
conflitos emocionais em crianças pequenas, é indispensável que alguém conheça 
perfeitamente como é o desenvolvimento normal da criança a cada idade e da crian-
ça do grupo étnico ao qual pertence o pesquisador, já que, não sendo assim, se a 
pesquisa tratasse de estudar o mesmo aspecto, mas em crianças suecas ou japone-
sas, sem a presença de um antropólogo e um psicólogo conhecedores da matéria, 
como integrantes da equipe pesquisadora, poderiam ser tiradas conclusões incorre-
tas. Em relação ao segundo objetivo, trata-se em primeiro lugar de definir clara-
mente o que se deseja pesquisar. Suponhamos que a finalidade é descobrir se existe 
um perfil psicológico típico dos homossexuais, dependentes de drogas ou 
claustrofóbicos. O primeiro passo deve ser selecionar adequadamente os instru-
mentos a serem utilizados, a ordem que será seguida, as ordens que serão dadas, o 
material (tamanho do papel, número do lápis, etc.) e os limites dentro dos quais 
podemos admitir variações individuais (por exemplo, podemos admitir que desenhe 
o Bender em mais de uma folha, que queira usar o verso, que acrescente detalhes às 
figuras, mas não que use borracha, de forma que tudo fique registrado). Isto é o que 
é chamado de padronizar a forma de administração do psicodiagnôstico. Se cada 
examinador trabalhasse à sua maneira, seria impossível comparar os registros co-
lhidos e, portanto, não poderiamas pretender tirar deles conclusões cientificamente 
válidas. 
3. Rorschach, Hermann. Psicodiagnóstico. Buenos Aires: Paidós, 2.ed., 1955. 
10 García Arzeno 
Logo após, administraremos este psicodiagnóstico assim planejado: por um 
lado, a uma amostra de homossexuais, dependentes de drogas, etc., e, por outro 
lado, o mesmo psicodiagnóstico, à outra amostra chamada de controle, que não 
registra a mesma patologia do grupo em estudo. Em uma terceira etapa, serão bus-
cadas as recorrências e convergências em ambos os grupos, para poder-se assim 
chegar a conclusões válidas. Por exemplo, é significativo que os homossexuais dese-
nhem primeiro a figura do sexo oposto, já que na amostra de controle a pessoa 
desenha primeiro a do seu próprio sexo, no Teste das Duas Pessoas. Estou usando 
um exemplo simples com a finalidade de transmitir claramente em que consiste 
essa tarefa. A utilidade destas pesquisas varia muito. As mais interessantes são 
aquelas que permitem identificar indicadores que servirão para detectar precoce-
mente problemas clinicas, trabalhistas, educacionais, etc., com a conseqüente eco-
nomia de sofrimento, problemas e até complicações institucionais. 
Método para que o Consultante Aceite Melhor as Recomendações 
O psicodiagnóstico inclui, além das entrevistas iniciais, os testes, a hora de 
jogo com crianças, entrevistas familiares, vinculares, etc. As conclusões de todo o 
material obtido são discutidas com o interessado, com seus pais, ou com a familia 
completa, conforme o caso e o sistema do profissional. 
Os testes realizados individualmente são reservados, geralmente, para a 
entrevista individual com essa pessoa, para a entrega dos resultados. Porém o que 
tem sido feito e conversado entre todos pode ser mostrado ou assinalado para exem-
_plificar algt.Im conflito que os consultantes minimizam ou negam. 
. · .Par 'exemplo, um rapaz em torno dos 25 anos que consultou por se sentir 
'aniliti'àdli~i!lemais à noiva e a mãe, disse no Questionário Desiderativo que gostaria 
de ·Sêr'á""V'énto porque é livre e também um cão porque é uma companhia fiel. Além 
.. do resfante do registro, estas duas catexias serviram para enfrentá-lo com sua pró-
pria contradição: querer ser livre como o vento e ao mesmo tempo precisar da com-
panhia de alguém que lhe desse afeto. Logo aceitou que isto criava uma situação 
interna dificil e que não podia pensar que o problema seria solucionado trocando de 
noiva ou distanciando-se de sua mãe. 
Em outra ocasião, com os pais de um menino de doze anos que se recusa-
vam a aceitar a seriedade da doença do mesmo, usei outro recurso. Mostrei-lhes a 
lâmina lll do Rorschach dizendo que o teste não estava sendo feito com eles, mas 
que a observassem silenciosamente por um instante e logo cada um dissesse o que 
havia visto. Ambos disseram algo semelhante à resposta popular: "Duas pessoas 
fazendo algo". Então disse-lhes que o menino havia respondido: "Dois esqueletos". 
Ambos ficaram muito impressionados e começaram a levar mais a sério minhas 
advertências. 
Poderia eu ter tido a surpresa de que eles também dessem respostas muito 
patológicas. Nesse caso teria comentado de passagem o que o filho tinha visto e 
desviado a atenção para outro material. Quando as distorções são compartilhadas 
por pais e filhos, a conclusão inevitável é a de que uma terapia familiar é urgente. 
Outro caso é o de uma moça de uns 20 anos que chega a um Serviço de 
Psicopatologia de um Hospital pedindo um estudo vocacional. Toda a sua conduta 
na sala de espera e ao pedir a entrevista deixava clara uma grave patologia. A ansi-
edade era enorme, apertava nervosamente as mãos, sentava-se e levantava-se in-
cessantemente, etc. Queria que fosse feito exclusivamente o "teste" vocacional. Com 
muita relutância, aceitou responder o Desiderativo. Suas respostas foram: 1 +, "Gos-
taria de ser uma pomba, que é graciosa e alegre", e no 1-. "Não gostaria de ser uma 
Psicodiagnóstico Clínico 11 
hiena porque vive se alimentando de desperdicios"; 2- "Um gladiolo porque me lem-
bra velórios"; 3- "Algo mineral. o carvão. Não me pergunte por quê". 
Entre a aparência alegre e inocente da pomba, inevitavelmente associada à 
vida e à paz, e a hiena que vive de cadáveres há uma dissociação abismal. As três 
colocações negativas estão relacionadas com a morte: o gladiolo com velórios, e o 
carvão é um vegetal sepultado sob a terra durante milênios. Isto facilitou o inicio da 
conversa com ela, sobre o quanto a preocupava a idéia da morte e como isso a 
deixava ansiosa. Ela deixou de insistir com o teste vocacional e começou a relatar 
fatos da sua vida, especialmente sobre a perda de vários seres queridos. Mesmo 
assim, recebeu algumas sugestões vocacionais, mas aceitou ir ao Serviço uma vez 
por semana para continuar falando sobre essas coisas que tanto perturbavam o seu 
dia-a-dia. 
Escolha da Estratégia Terapêutica Mais Adequada 
Um psicodiagnóstico completo e corretamente administrado permite-nos es-
timar o prognóstico do caso e a estratégia mais adequada para ajudar o consultante: 
entrevistas de esclarecimento, de apoio, terapia breve, psicanálise, terapia de grupo, 
familiar ou vincular, sistêmica ou estrutural; análise transacional, gestáltica, etc. 
Assim, por exemplo, um paciente trabalhará muito bem na psicanálise se 
aceitar a sua responsabilidade no conflito, se mostrar colaboração para fazer asso-
ciações, contar lembranças, entrar em sua vida particular, em seu passado. Diante 
da tarefa do Desenho Livre, aceita com prazer e responde com um bom nivel de 
simbolização e riqueza em suas associações. As lâminas menos estruturadas como 
as do Rorschach não lhe causam impacto. A lãmina em branco do Phillipson o 
estimula favoravelmente. A entrevista final torna-se agradável devido à escassez de 
resistência. O diálogo é fluido. Aparece a necessidade de se preocupar, chorar, ou ao 
menos ficar deprimido na medida certa para empreender a tarefa psicanalitica com 
uma boa motivação. 
Muito diferente seria o caso de outra pessoa que não tolera a entrevista 
aberta e prefere um inquérito pautado,que se bloqueia no Desenho Livre, no 
Rorschach e na lâmina branca do Phillipson. Pergunta "O que faço, que desenho?" 
e sente alívio quando nós damos uma ordem mais precisa, por exemplo "Bem, dese-
nhe uma casa, uma árvore e uma pessoa". A série A do Phillipson o deixa muito 
ansioso e gosta mais da B que é mais definida e menos difusa. Esta pessoa trabalha-
rá melhor com uma terapia cara a cara. na qual se combinem interpretações caute-
losas com sugestões e alguns direcionamentos. A situação de solidão e de regressão 
do divã seria para ele, por enquanto, insuportável, e só poderia aceitá-la após uma 
primeira etapa com as características descritas. 
As entrevistas diagnósticas vinculares e familiares são de grande utilidade 
para decidir entre a recomendação de um tratamento individual, vincular ou fami-
liar. 
Existem algumas técnicas projetivas idealizadas para serem aplicadas si-
multaneamente a um casal ou a um grupo [filial, familiar, de trabalho, etc.) 
Entre elas posso citar o Teste do Casal em Interação [TPI) do psicólogo de 
Rasaria, Luis Juri, o Teste Cinético da Familia de Renata Frank de Verthelyi [adap-
tação) em suas formas atual e prospectiva; também o teste de Rorschach com a 
técnica de consenso. 
Estes testes são muito úteis para decidir a capacidade de agrupamento ou 
não de um indivíduo, ou para fazer um diagnóstico sobre como irá funcionar um 
grupo em formação. Os terapeutas de grupo têm usado muito, para isto, o teste das 
12 García Arzeno 
bolitas do Dr. Usandivaras. Ester Romano apresentou seu MEP (Modelo Experimen-
tal Perceptivo) à Associação Argentina de Psicanálise, idealizado sobre a base de 
estimulas gráficos ao estilo do Wariegg e não estruturados ao estilo do Rorschach. 
No psicodiagnóstico individual, o motivo da consulta manifesto e latente dá-
nos uma pauta para recomendar ou não a terapia de grupo. Quando as dificuldades 
situam-se na relação do indivíduo com os demais (pares, superiores ou subalternos) 
o mais indicado é recomendar a terapia grupal. Se, no entanto, o conflito está mais 
centralizado no intrapsiquico, o mais adequado seria terapia individual. 
O teste de Phillipson (especialmente as lãminas grupais AG, BG e CG) nos dá 
uma informação muito útil a respeito, já que, se nelas a produção for boa, compro-
varia a nossa suspeita de que .uma terapia em grupo seria adequada, enquanto que 
se nelas o paciente se desarticula, sofre impactos, as nega ou distorce a produção, 
haveria que pensar que, longe de ser uma ajuda, a terapia de grupo aumentaria a 
sua angústia. De forma que, independentemente do motivo da consulta, isto seria 
um elemento para contra-indicá-la. 
Em síntese, tentei resumir as diferentes aplicações que pode ter o 
psicodiagnôstico, e certamente serão abertos outros novos caminhos ainda não ex-
plorados. 
Capítulo 2 
Objetivos e Etapas do 
Processo Psicodiagnóstico 
O psicodiagnóstico é um estudo profundo da .personalidade, do ponto de 
vista fundamentalmente clínico. 
Quando o objetivo do estudo é outro (trabalhista, educacional, forense, etc.) 
o psicodiagnôstico clínico é anterior e serve de base para as conclusões necessárias 
nessas outras âreas. 
A concepção usada da personalidade parte da base de que a personalidade 
possui um aspecto consciente e outro inconsciente; que tem uma dinâmica interna 
que foi descrita muito bem pela psicanálise; que existem ansiedades básicas que 
mobilizam defesas mais primitivas e outras mais evoluídas (como colocaram Melanie 
Klein e Anna Freud, respectivamente); que cada indivíduo possui uma configuração 
de personalidade única e inconfundível, algo assim como uma gesta!! pessoal; que 
tem um nível e um tipo de inteligência que pode manifestar-se ou não segundo 
existam ou não interferências en10cionais, que há emoções e impulsos mais inten-
sos ou mais moderados que o individuo pode controlar adequada ou inadequada-
mente; que existem desejos, inveja e ciúmes entrelaçados constantemente com todo 
o resto da personalidade; que os impulsos libidinosos e tanáticos lutam para ganhar 
primazia ao longo da vida; que o sadismo e o masoquismo estão sempre presentes 
em maior ou menor escala: que o nível de narcisismo pode ser baixo demais, ade-
quado ou alto demais e isto incide no grau de submissão, maturidade ou onipotên-
cia que demonstre; que as qualidades depressivas ou esquizóides que predominarem 
como base da personalidade podem ser razoáveis ou sofrer um aumento até trans-
formarem-se em um conflito que atrapalha ou altera o desenvolvimento do indiví-
duo; que as defesas que o mesmo tem usado ao longo da vida podem ou não ser 
benéficas dependendo do contexto, sem que o sejam em si mesmas; que sobre a 
estrutura de base de predomínio esquizóide ou depressivo instalam-se outras estru-
turas defensivas de tipo obsessivo, fóbico ou histérico; que os futores hereditários e 
constitutivos desempenham um papel muito importante, razão pela qual não é re-
comendável trabalhar exclusivamente com a história do indivíduo e o fato 
desencadeante da consulta, mas estar aberto à possibilidade de incluir outros estu-
dos complementares (médico-clínicos, neurológicos, endocrinológicos, etc.). lsto sig-
nifica levar em consideração a hipótese das séries complementares de Freud. 
Além do mais, conforme as últimas pesquisas, o contexto sócio-cultural e 
familiar deve ocupar um lugar importante no estudo da personalidade de um i:1di-
víduo, já que é de ondé ele provém. Portanto, o estudo da personalidade é, na reali-
13 
14 Garcia Arzeno 
dade, um estudo de pelo menos três gerações, que se desenvolveram em um deter-
minado contexto étnico-sócio-cultural. 
Até pouco tempo atrás este enfoque era dado quase exclusivamente ao estu-
do da psicose. Atualmente é usado para o estudo de todas as patologias, pois senão 
estaríamos fazendo um recorte artificial da história do indivíduo. 
É muito importante saber claramente qual é o objetivo do psicodiagnóstico 
que vamos realizar. 
Quando o consultante chega dizendo: "Me mandaram ... " "Minha noiva diz 
que vai me fazer bem ... " "É por curiosidade, para ver o que aparece ... " sabemos em 
primeiro lugar que o que está sendo dito não é verdade, pois ninguém consulta 
exclusivamente por estes motivos. Em algum recanto de si mesmo existe o desejo de 
fazer a consulta. Em segundo lugar, a motivação é muito inconsciente e não a per-
cebe, por isso a colocação soa muito superficial. 
De forma que, antes de iniciar a tarefa, o psicólogo deve esclarecer com o 
consultante qual é o motivo manifesto e mais consciente do estudo e intuir qual 
seria o motivo latente1 e inconsciente do mesmo. É importante dedicar a isto todo o 
tempo que for necessário e não iniciar a tarefa se o consultante insistir na idéia de 
que o faz por mera curiosidade, já que isso se refletirá negativamente no momento 
da devolução de informação. 
'Í0\ Vejamos agora algo so. bre .. a.s etapas do processo p. sic .. odiagno_· stic. 02. 
(:;y O _I'rj_meirQ_Qasso oco!fe_ge_s_c!_e_o moment()_ern_.gue 9. çun_sultante.faz a solici-
tação a con3ulta at~_o_enco11tro_pessoal com o profissio!l'11_,___ 
0 O segundo passo ocorre na ou nas primeiras entrevistas nas quais tenta-se 
e ·vo latente e o motivo rnanjfesto da consulta. as ansiedades e defe-
sas que a pessoa que consulta mostra (e seus pais ou o resto da familia). a fantasia 
de doença, cura e análise que cada um traz' e a construção da história do indivíduo 
e da familia em questão. · 
Foi totalmente deixado de lado o tipo de inquérito exaustivo e entediante, 
tanto para o profissional como para os consultantes, e como veremos no desenvolvi-
mento detalhado deste passo mais adiante, nos guiamos mais pelo que vai surgindo 
c~rme o motivo central da consulta. 
1 O terceiro moment<LLcLqu_uie_dJçamos -ª-tdleJir_sobre_o_ mati:_Jj_a)_colhido a~eriormente e sobre nossas hipóteses iniciais para planejar os passos "-ªerem 
seguidos e os instrumentos diagnósticos a serem utilizados: ho_ra do jo_gQJndiyj_dual_ 
com criançase_1iúberes,entrevistas familiares diagnósticas, testes g@fLç_q_s~ verbais, 
!ilciicJi.§~~-,,lc.-Em alguns casos é imprescindível íncluir entrevistas vinculares com os 
mbros mais implicados na patologia do grupo familiar. 
O quarto momento consiste na realização....da estratégia.diJlgnóstlc.a_pJan.ej.ao.... 
Muitas vezes age-se de acordo com este plano em outras, no entanto, são neces-
sárias modificações durante o percurso. Por isso, insistimos em que não pode haver 
um modelo rígido de psicodiagnóstico que possa ser usado em todos os casos, sendo 
que a melhor orientação para cada caso virá da experiência clínica e nivel de análise 
soai do profissional. 
O quinto m_omento é aquele dedicado ao estudo do material colhido para ob-
@um quadro o -mais claro passivei sobre o caso em questão. É um trabalho árduo 
1. Motivo manifesto e latente ê uma terminologia introduzida por Ocampo, Maria S. L. de; Arzeno, Maria 
E. Garcia; Grassano, E. e col., em O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas, ob.cit.. cap. II. 
2. Reforn1ulação e atualização do colocado em: Ocampo, GarcíaArzeno, Grassano e col., ob.cít, cap 1. 
3. Fantasia de doença e cura é um termo introduzido por A. Aberastury em Teoria y técnica dei psicoonálisis 
de nir1os. Buenos Aires, Paidós, e Fantasia de análisis, por Baranger, M. en1 Fantasia de enfermedad 
y desarrollo del insighten el anô.lisis de tm nifto, Revista Uruguaya de psicoanãlisis, t 1, nº 2, 1956. 
Psicodiagnóstico Clínico 15 
que freqüentemente desperta resistências, mesmo em profissionais de boa forma-
ção e que trabalham com seriedade. É necessário buscar recorrências e convergênci-
as dentro do material, encontrar o significado de pontos obscuros ou produções 
estranhas, correlacionar os diferentes instrumentos utilizados, entre si e com a 
história do indivíduo e da familia. Se foram aplicados testes, eles devem ser tabula-
dos corretamente e deve-se interpretar estes resultados para integrá-los ao restante 
do material. 
Não se trata de um trabalho mecãnico de montar um quebra-cabeça, mesmo 
tendo alguma semelhança com essa tarefa. É mais uma busca semelhante à do 
antropólogo e do arqueólogo (como muito bem foi comparada a tarefa do psicanalis-
ta por Freud) ou à de um intérprete de uma língua desconhecida pelo paciente e sua 
família cuja tradução ajuda a desvendar um n1istério e reconstruir uma parte da 
história que desconhecem a nível consciente, mas que se refere a quando foi gerada 
a patologia. 
O mais difícil nesse 1nomento do estudo é compreender o sentido da presen-
ça de algumas incongruências ou contradições e aceitá-las como tais, ou seja, re-
nunciará onipoténcia de poder entender tudo. É justamente a presença de elementos 
ininteligíveis que vai nos alertar acerca de algo que será entendido muito mais adi-
ante, no decorrer do tratamento, quando a comunicação entre o sistema consciente 
e inconsciente tenha-se tornado 1nais porosa e o indivíduo estiver, então, em melho-
res condições para suportar os conteúdos que vierem à tona. Estes elementos não 
deverão ser desprezados, pelo contrário, deverão ser colocados no laudo que enviar-
mos a quem solicitou o estudo para deixá-lo de sobreaviso. No entanto, pode ser 
imprudente incluí-los na devolução ao paciente, pois isso poderá angustiá-lo muito 
e Jrovocar uma crise, um ataque ao psicólogo ou uma deserção. 
6 ':;:.. Chegamos assim ao /sexto moíTíêritõ? do processo psicodiagnóstico: a entre-
vista de devolucão de jnforr~ocresef somente uma ou várias. Geralmente é 
leita de forma separada: uma com o indivíduo que foi trazido como protagonista 
principal da consulta e outra com os pais e o restante da família. Se a consulta foi 
iniciada como familiar, a devolução e nossas conclusões também será feita a toda a 
família. 
Esta última entrevista está impregnada pela ansiedade do paciente, da sua 
fanülia e, por que não dizê-lo, n1uitas vezes tan1bém pela nossa, especialn1ente nos 
casos mais complexos. 
Em primeiro lugar, cabe destacar que se mantém em vigor tudo o que foi 
exposto à respeito no livro já citado de Ocampo, Garcia Arzeno, Grassano e colabo-
radores. 
Mas desejo acrescentar algo, e sublinhar outros pontos. Antes, desejo enfatizar 
que o psicólogo não deve assumir a posição do que "sabe" diante dos que "não 
sabem". 
Primeiro, porque isso não é verdade. Segundo, porque essa posição contém 
muita onipotência e dá lugar a reações que atrapalham o trabalho. É insustentável 
afirmar que em umas quantas entrevistas tenhamos esgotado o conhecimento de 
um indivíduo e, ainda mais, de un1 casal ou família. Mas é possível dizer que conse-
guimos desvendar, com a maior certeza possível, o motivo que provoca o sintoma 
que dá origem à consulta. 
Às vezes o próprio indivíduo ou seus pais podem assumir o papel daquele 
que pergunta e esperar que todas as suas dúvidas sejam respondidas, como se o 
profissional tivesse uma "bola de cristal". Nesse caso é necessário reformular os 
respectivos papéis, especialmente o do profissional, que não é propriamente um 
vidente. 
O profissional irá gradualmente aventando suas conclusões e observando as 
reações que estas produzem nele ou nos entrevistados. A dinân1ica usada deve favo-
16 García Arzeno 
recer o surgimento de novos materiais. Assim como evitamos o tédio no inquérito da 
primeira entrevista, evitaremos também agora transformar a transmissão de nos-
sas conclusões em um discurso que não dê espaço para que o interlocutor inclua 
suas reações. Ao contrário, as mesmas serão de grande utilidade para validar ou 
não nossas conclusões diagnósticas 
O sujeito ou seus pais podem não ter mencionado algo que surge no material 
registrado, e aproveitaremos essa entrevista para perguntar: um parente falecido, 
uma operação séria em um dos integrantes do grupo, uma mudança ocorrida em 
um momento-chave, uma crise depressiva de algum parente significativo, um abor-
to, etc. Muitas vezes esta informação pode mudar radicalmente as hipóteses levan-
tadas pelo profissional, e sua presença é um bom sinal porque aumenta o grau de 
sinceridade e confiança do consultante. 
Além do mais, em alguns casos específicos, especialmente em uma familia 
com crianças, dependendo do que tenhamos percebido na ou nas entrevistas fami-
liares diagnósticas, pode ser adequado realizar a entrevista de devolução com uma 
técnica lúdica que se alterne com a verbal, especialmente naqueles casos nos quais 
o individuo ou a familia são movidos mais por códigos de ação que de verbalização. 
Em relação a isso, lembro a utilidade que mantém o conceito de "interpreta-
ção lúdica" colocado por Emilio Rodrigué em seu valioso livro "El contexto del proceso 
psicoanalítico" [O contexto do processo psicoanalitico). Com algumas modificações, 
foi o capitulo "La interpretación lúdrica: una actitud hacia eljuego" [A interpretação 
lúdica: uma atitude diante do jogo) que me deu meios para passar a transmitir 
conclusões, não somente ao nivel verbal mas fazendo dramatizações de forma a 
serem melhor assimiladas pelos interessados. 
No capítulo dedicado a essa etapa do processo psicodiagnóstico serão dados 
mais detalhes. 
Finalmente, o sétimo passo do processo consiste nuJ~ do -informe_ 
__ ps!c'!l.ó_!Qco, ~-~olicit~C[o, e para isso remeto o leitor ao capitulo correspondente. 
Capítulo 3 
O Enquadre no Processo 
Psicodiagnóstico 
Em todas as atividades clinicas, e entre elas se inclui o psicodiagnóstico, é 
necessário partir de um enquadre. 
O enquadre pode ser mais estrito, mais amplo, mais permeável ou mais 
plástico, conforme as diferentes modalidades do trabalho individual ou conforme as 
normas da instituição na qual se trabalhe. Varia de acordo com o enfoque teórico 
que serve como marco referencial predominante para o profissional, conforme a sua 
formação (seus antecedentes genealógicos, dizia Heinrich Racker), suas caracterís-
ticas pessoais e também conforme as características do consultante. 
Alguns profissionais afirmam que trabalham sem enquadre. Esta afirma-
ção, no entanto,encerra uma falácia, pois essa posição de não-enquadre já é por si 
mesma uma forma de enquadre, em todo caso do tipo laissezjaire. 
Cada profissional assume um sistema de trabalho que o caracteriza, além 
das variáveis que possa introduzir no caso. 
A qualidade e grau da patologia do consultante nos obrigam a adaptar o 
enquadre a cada caso. Não é possível trabalhar da mesma forma com um paciente 
neurótico, com um psicótico ou com um psicopata grave. Cada caso implica diferen-
tes graus de plasticidade. Uma pessoa absolutamente dependente exigirá esclareci-
mentos permanentes do que deve ou não fazer, enquanto que outros sentirão nossas 
intervenções como interferências desagradáveis. Um psicopata precisa ser limitado 
constantemente. O psicótico exige de nossa parte uma total concentração, precisa 
ser limitado, mas também cuidado, protegido ... e precisamos também proteger-nos. 
A idade do paciente também influi no enquadre escolhido. Com uma criança 
pequena, sentaremos para brincar no chão se ela assim o solicitar: mas não com um 
adulto. Com adolescentes, sabemos que precisamos ser mais tolerantes quanto á 
sua freqüência, sua pontualidade e suas resistências para realizar certos testes dos 
quais "não gostam". Talvez queiram antes acabar de escutar uma música em seu 
toca-fitas. A escutaremos até ele dizer que podemos começar. Talvez fizéssemos o 
mesmo com uma criança ou com um adulto psicótico. 
Conclusão: é impossível trabalhar sem um enquadre, mas não existe um 
único enquadre. 
Quando questionados sobre o enquadre que usamos, muitas vezes aconte-
cerá que a reflexão vem a posteriori da· prática clínica. Em primeiro lugar, agimos, e 
depois refletimos sobre como e por que trabalhamos daquela forma. Bion recomen-
da trabalhar com absoluta atenção flutuante e liberdade, e após terminada a ses-
17 
18 García Arzeno 
são, então sim, é aconselhável tomar notas e pensar sobre o ocorrido. No 
psicodiagnóstico isto aplica-se principalmente à entrevista inicial. Nas seguintes já 
é necessárto agir de outra forma para atingir nosso objetivo. 
Seja com um adolescente, um adulto ou com os pais de uma criança, a 
primeira entrevista nos dará subsídios que facilitarão o enquadre a ser escolhido. 
Seu comportamento. seu discurso, suas reações, são indicadores que nos ajudam a 
resolver que tipo de enquadre usaremos, se mais estrito ou mais permissivo. 
O enquadre inclui não somente o modo de formulação do trabalho mas tam-
bém o objetivo do mesmo, a freqüência dos encontros, o lugar, os horários, os hono-
rártos e, principalmente, o papel que cabe a cada um. 
O papel do psicólogo não é o do que sabe enquanto que o do paciente é o do 
que não sabe. Ambos sabem algo e ambos desconhecem muitas coisas que irão 
descobrindo juntos. O que marca a assimetria de papéis é que o psicólogo dispõe de 
conhecimentos e instrumentos de trabalho para ajudar o paciente a decifrar os seus 
problemas, a encontrar uma explicação para os seus conflitos e para aconselhá-lo 
sobre a maneira mais eficiente de resolvê-los. 
Quando alguém chega pela primeira vez, eu pergunto: "Em que posso ajudá-
lo?" e com a resposta obtenho a primeira chave sobre a forma de encarar o caso. Se 
a resposta for: "Venho porque estou preocupado, estou muito nervoso, não consigo 
dormir, não me concentro no trabalho e não sei por que isso acontece", não provoca 
a mesma reação do que se responde: "Não sei, foi o médico que me mandou porque 
estou com úlcera e ele diz que é psicológico". Perguntaríamos: "Mas você, o que 
pensa. Acha que o médico está certo?" Sua resposta pode ser afirmativa, o que abre 
uma perspectiva mais favorável, ou pode responder: "Não, eu não acredito nessas 
coisas". Essa resposta deixa pouquissima margem para encarar qualquer tipo de 
trabalho. Se o médico nos enviou seu paciente e espera receber um informe psicoló-
gico, devemos explicar-lhe que mesmo que ele não acredite faremos alguns testes 
para poder enviar ao médico uma resposta conforme o que ele espera de nós. 
Não sendo assim, é muito dificil realizar o psicodiagnóstico e quase é conve-
niente colocar que o prorrogaremos até que ele sinta a necessidade de fazê-lo, até 
que esteja mais convencido de que seu médico está com a razão. Do contrário, 
mesmo que ele faça de boa vontade o que lhe pedirmos, as conclusões que obtiver-
mos não terão valor nenhum para ele, e a entrevista de devolução poderia tornar-se 
uma espécie de desafio no qual nós queremos convencê-lo de algo que ele se nega a 
aceitar. 
Sobre o assunto do enquadre cabe lembrar José Bleger, respeitado e 
prestigiado psicanalista argentino, que em seu artigo "El psicoanálisis dei encuadre 
psicoanalítico" {A psicanálise do enquadre psicanalítico) publicada na "Revista Ar-
gentina de Psicoanálisis" comenta que existem certos aspectos do enquadre que 
permanecem "mudos" até que alguma circunstância nos obriga a rompê-los, e en-
tão aparecem com clareza. 
Suponhamos que o terapeuta tenha sido sempre pontual. até que um dia 
um problema no trânsito o obriga a chegar vinte minutos mais tarde. O paciente 
está esperando furioso, quase o insulta e grita "porque o senhor deve estar aqui 
quando eu chego". Se não houvesse surgido esta "ruptura" do enquadre, essa rea-
ção teria permanecido sempre encoberta pela seriedade do comportamento do 
terapeuta. 
Tanto Bleger como Donald Meltzer, em sua obra "El proceso psicoanalítico" 
{Paidós) {O processo psicanalitico), concordam em que tanto o profissional como o 
paciente trazem para o encontro um aspecto mais infantil e outro mais maduro. Se 
o contrato analitico {e o do psicodiagnóstico também) é feito sobre a base dos aspec-
tos infantis de ambos, os resultados serão negativos e perigosos. Assim, por exem-
plo, a avareza de um profissional pode levá-lo a aceitar um enquadre fixado pelos 
Psicodiagnóstico Clínico 19 
pais, que podem ser horários exóticos, ou menos vezes por semana do que seria 
aconselhável em troca de poder receber ótimos honorários. O mesmo pode ocorrer 
entre a criança ou o adolescente e o profissional, se este aceitar condições de traba-
lho que eles impõem por um capricho. Suponhamos que a criança propõe brincar 
de quem escreve mais rapidamente o maior número de palavras que começam com 
uma letra determinada. É óbvio que o terapeuta será o vencedor. A não ser em casos 
nos quais seja terapêutico fazer a criança passar por esta prova de realidade, aceitar 
o desafio é colocar-se à altura da criança onipotente que pode vencer o adulto em 
tudo. 
Em La entrevista psicológica (publicação interna da Faculdade de Filosofia e 
Letras da Universidade de Buenos Aires), coloca Bleger: 
Para obter o campo particular da entrevista que descrevemos, devemos contar com um 
enquadre fixo que consiste na transformação de certo conjunto de variãveis em constantes. 
Dentro deste enquadre inclui-se não somente a atitude técnica e o papel do entrevistador corno o 
ten1os descrito mas tan1bém os objetivos, o lugar e a duração da entrevista. O enquadre funciona 
como um tipo de padronização da situação estimulo que oferecemos ao entrevistado, e com isso 
não pretendemos que deixe de agir como estimulo para ele mas que deixe de oscilar como variá-
vel para o entrevistador. Se o enquadre sofre alguma modificação {por exemplo, porque a entre-
vista é realizada em um lugar diferente) essa modificação deve ser considerada como uma variã.vel 
sujeita à observação, tanto como o próprio entrevistado. Cada entrevista possui um contexto 
definido {conjunto de constantes e variáveis) devido ao qual ocorrem os emergentes e estes só 
fazem sentido e são significativos em relação e devido a esse contexto. O can1po da entrevista 
também não é fixo, ntas dinãn1ico, o que significa que está sujeito a uma mudança permanente, 
e a observação deve se estender do can1po específico existente a cada momento á continuidade e 
sentido dessas mudanças ... Cada situação humana é sempre única e original, sendo assim tam-
bém o serã. a entrevista, mas isto não se aplicasomente aos fenômenos humanos mas também 
aos fenômenos da natureza, o que já era do conhecimento de Herã.clito. Esta originalidade de 
cada acontecimento não impede o estabelecimento de constantes gerais, ou seja, das condições 
em que os fatos se repetem com maior freqüência. O individual não exclui o geral nem a possibi-
lidade de introduzir a abstração e categorias de análise ... a forma de observar bem é ir formulan-
do hipóteses enquanto se observa, e no transcurso da entrevista verificar e retificar as hipóteses 
durante seu próprio transcurso em função das observações subseqüentes que, por sua vez, vão 
ser enriquecidas pelas hipóteses prévias. Observar, pensar e in1aginar coincidem totalmente e 
fazem parte de um único processo dialético. 
Como vemos, Bleger enfatiza a importância do enquadre para manter o cam-
po da entrevista de uma forma tal que uma série de variáveis (aquelas que depen-
dem do entrevistador) se mantenham constantes. Isto contribui para uma melhor 
observação. 
Meltzer, de formação puramente kleiniana, enfatizou a importância do res-
peito ao enquadre, mas a sua idéia de enquadre defendia a atitude do terapeuta 
como a de uma tela de projeção (conceito de Paula Heimann) ou um espelho mudo, 
o que o conduziu a exageros ridículos, suprimidos na atualidade. 
Segundo Bleger, o enquadre seria o fundo ou a base, e o processo analítico 
(nós o chamariamos de processo psicodiagnóstico). a imagem do que, unindo ambos 
os conceitos (enquadre e processo) configuraria a situação analítica. O enquadre 
seria o fator constante, o que não é processo. o processo seria aquilo que é variável, 
o que se modifica. Isto é o que explica de que forma vai se desenvolvendo o processo 
terapêutico. No caso de um psicodiagnóstico podemos fazer uso destes conceitos. A 
situação não é a analítica. Mas, da mesma forma, precisamos observar o indivíduo 
para fazer um diagnóstico correto. Devemos ter certeza de que aquilo que surgir 
será material do paciente (variáveis por ele introduzidas) e não nosso. 
Como colocamos anteriormente, Bleger e Meltzer concordam ao afirmar que 
tanto o terapeuta como o paciente trazem um lado infantil e outro mais maduro. O 
enquadre, ponto de partida de importância decisiva para o processo psicodiagnóstico, 
20 García Arzeno 
tanto como para o terapêutico, se torna ainda mais complicado quando considera-
mos que cada um dos pais e de seus filhos também trazem ambos aspectos. Por 
isso, advertimos sobre o risco de que se estabeleçam situações nas quais são coloca-
das em jogo as partes infantis (primitivas e onipotentes) de cada um, inclusive do 
próprio profissional. 
Vejamos um exemplo. Uma senhora marcou uma consulta para uma meni-
na de seis anos. Chamou minha atenção o fato de que me chamara de você desde o 
início. Atualmente, este é um fato comum, mas não há quinze anos. Eu mantive a 
postura de chamá-la de senhora e disse-lhe que deveria comparecer com seu esposo 
à primeira entrevista. Ela negou-se terminantemente, alegando que ele viajava cons-
tantemente e não dava atenção à menina. Acrescentou ainda que ele "não acredita-
va nessas coisas" e que a deixava resolver esses assuntos. Esta senhora colocou-se 
no papel de "dona de casa" e colocou-me num papel tipo o de uma professorinha 
para a menina que estava com problemas na escola. Sua forma autoritária de dis-
por o contrário daquilo que eu solicitava jã me fazia pensar em outros problemas 
além daqueles que ela colocava. Expliquei-lhe, sempre ao telefone, que eu tinha 
interesse em escutar a opinião do pai e que tudo o que fosse resolvido devia ser 
responsabilidade do pai e não somente da mãe. Mesmo assim, na hora marcada 
chegou sozinha e tentou constantemente estabelecer comigo uma aliança contra o 
marido, a quem ao mesmo tempo usava, dispondo, em seu lugar, das suas decisões 
e da sua situação financeira. Isto poderia ser produto do despeito de uma esposa 
abandonada, mas de fato impunha a mim a exclusão do marido. 
Além do mais, esclareceu que a menina era filha adotiva e que não devia 
sabê-lo nunca. Isto criou dificuldades intransponíveis para trabalhar, pois não só 
excluía o marido como também a própria filha. Devido à minha insistência, o mari-
do assistiu à segunda entrevista e foi possível falar sobre a relação dos problemas de 
aprendizagem com os desentendimentos do casal e o fato de ocultarem da menina a 
verdade sobre a sua origen1. O n1arido era, de fato, evasivo e resistente, mas não 
tanto quanto ela o fazia parecer, devido ao seu rancor de esposa e mãe frustrada. Eu 
insisti quanto à necessidade de contar à menina sobre a adoção e não aceitei vê-la 
enquanto eles não decidissem encarar a situação sem mais mentiras. Nunca mais 
ouvi sobre eles. 
Em outro caso semelhante, o resultado foi positivo, pois a consulta ficou 
centralizada na necessidade que eles tinham de uma ajuda externa para encarar a 
dificuldade do momento de dizer a verdade. 
Perto do final da primeira entrevista, costumamos explicar ao paciente (ou a 
seus pais) que deverá fazer alguns desenhos, inventar algumas estórias, etc. e que 
logo após nos reuniremos para conversar sobre os resultados. Quando está prevista 
uma entrevista familiar, devemos também adverti-lo com tempo. Geralmente não há 
resistência quando é dito que desejamos conhecer como é a família quando estão 
todos juntos. 
·-t> Durante a hora do jogo diagnóstico e das entrevistas familiares diagnósticas, 
nosso papel será o de um observador não participante. O mesmo acontece no mo-
mento de aplicar os testes. Somente após colher a produção espontãnea do indivi-
duo deveremos intervir mais ao fazer algum inquérito (como no Rorschach, TAT, 
CAT ou Phillipson) e inclusive algum exame de limites. 
Nosso papel é muito mais ativo durante a entrevista final, na qual o espera-
do é justamente que demos a nossa opinião sobre o que ocorre. A recomendação da 
estratégia terapêutica mais adequada deve ser formulada e devidamente fundamen-
tada pelo profissional, dada a autoridade que o seu papel lhe confere. Quando, para 
o paciente, é muito difícil assimilar toda a informação que temos para dar-lhe, é 
aconselhável marcar 1nais uma ou duas entrevistas. 
Psicodiagnóstíco Clínico 21 
É muito difícil definir o papel do psicólogo no momento da devolução de 
informação. Com alguns adultos ou adolescentes poderemos trabalhar com elastici-
dade e plasticidade, enquanto que com outros deveremos ser mais drásticos. 
Lembro um caso bem sério, de uma menina de quatorze anos que já havia 
passado por um aborto e duas fugas de seu lar com seus namorados. Toda vez que 
eu tentava mostrar a gravidade destes fatos, os pais, principalmente a mãe, 
desconsideravam n1inha opinião, dizendo que esses eram fatos habituais entre os 
adolescentes. Precisei então adotar um papel mais fechado e definido. Essa senhora 
era uma executiva importante e não soltou sua pasta durante toda a entrevista, 
como se isso definisse o seu papel: o de uma executiva. Usando essa linha de pensa-
mento estabelecida por ela, coloquei: "Bem, a senhora sabe mais do que eu sobre 
como administrar uma empresa. 1nas eu sei mais do que a senhora sobre o que é 
um adolescente, e posso afirmar que o caso da sua filha não é algo habitual nem 
inconseqüente. Mas ela é sua filha e não minha. Portanto, pode acreditar ou não em 
mim. Faça de conta que eu fiz nela um exame de sangue e lhe disse que está anêmi-
ca e a senhora me responde que é habitual na adolescência. O que acha? Quem está 
n1ais próxima da verdade? 
Este não é o meu modo habitual de trabalhar, mas a ética profissional orien-
ta-nos a dizer a verdade, porque para isso somos consultados, e se em determina-
dos casos precisamos fazer intervenções mais drásticas, é imprescindível fazê-lo, 
pelos pais, pela filha e por nós mesmos. 
Muitas vezes o processo psicodiagnóstico não acaba com a aceitação fácil de 
nossas conclusões. Os consultantes precisam tempo para pensar, para assimilar o 
que lhes foi dito. Muitas vezes também nós precisamosde tempo para ratificar e 
retificar as nossas hipóteses. De modo que algumas vezes é necessário modificar o 
enquadre inicial no que se refere ao número de entrevistas e deixar mais espaço 
para concluir o processo con1 maior clareza. 
Até aqui tenho feito uma descrição de meu trabalho particular. Quero agora 
dedicar um breve espaço ao enquadre no ãmbito institucional. 
Cada instituição pode (e deve) fixar os limites dentro dos quais vai se desen-
volver o trabalho do psicólogo. Por exemplo, a duração de cada entrevista, o tipo de 
diagnóstico que se espera, o modo de deixar registrado e arquivado o material, o tipo 
de informe final, etc. 
Mas o tipo de bateria que será usada e a sua seqüência é de responsabilida-
de exclusiva dos psicólogos. Eles decidirão de comum acordo o modus operandi. Do 
contrário, podem ocorrer situações ridiculas, iatrogênicas e até legalmente objetáveis. 
Lembro como exemplo o caso de um grupo de psicólogos que me solicitou 
uma supervisão. No caso, o Questionârio Desiderativo era indispensâvel para con-
cluir o diagnóstico, mas os psicólogos n1e responderam que esse teste não era apli-
cado nessa instituição: assim fora estabelecido pelo Chefe de Serviço, médico 
psiquiatra. Em outra ocasião, tomei conhecimento de que em outro Serviço de 
Psicopatologia era proibido fazer testes porque "isso já passou de moda e é uma 
perda de tempo". 
Como pode-se pretender que o profissional arrisque um diagnóstico e 'realize 
uma psicoterapia se ao mesmo tempo não lhe é dada a liberdade para usar os 
instrumentos científicos dos quais precisa para esse fim? 
Os jovens psicólogos, ávidos por experiência clínica, não percebem essas 
ar1nadilhas e tornam-se suas vítimas quando devem recorrer à supervisão para 
satisfazer as exigências da instituição. 
Capítulo 4 
O Primeiro Contato na 
Consulta 
Mesmo havendo afirmado que o processo psicodiagnóstico consta de vários 
passos (e estes de fato ocorrem). nunca se pode afirmar que um vem antes e outro 
vem depois de uma forma mecânica, fixa e estática. Tudo depende de diversas ra-
zões. 
Esses diferentes passos já foram anteriormente abordados. 
O primeiro consiste na primeira tomada de contato. Isto significa que nessa 
primeira etapa teremos recebido o telefonema do paciente ou o pedido de uma pro-
fissional para realizar o estudo de um paciente determinado. Se quem nos solicita o 
estudo é o terapeuta que vai se encarregar do tratamento, nosso papel ficará restrito 
basicamente â aplicação dos testes pertinentes. Nestes casos é necessário tomar 
cuidado para não interferir demais na relação transferencial que o paciente já tenha 
estabelecido com seu terapeuta. Numa consulta desta natureza tentaremos reduzir 
a entrevista inicial ao mínimo possível. Em alguns casos, prefiro trabalhar pratica-
mente às cegas com os dados mínimos de identidade do grupo familiar, motivo da 
consulta, e muito especificamente o motivo que levou o terapeuta a solicitar o estu-
do. Seria preferivel que a devolução (que é um dos passos finais do processo) fosse 
feita pelo próprio terapeuta na medida e no momento que considerasse adequados, 
e somente seria feita pelo profissional que realizou o psicodiagnóstico se aquele o 
considera mais conveniente, explicitando a razão. O informe que enviaremos a esse 
profissional tem uma relevância especial, pois ali deve estar contida toda a informa-
ção que ele necessita. Devemos então realizá-lo com dedicação especial para poder 
cumprir com a finalidade a que se destina o estudo. 
Se não foi possível atingir nossos objetivos, será importante continuar com 
mais uma entrevista. Isto acontece freqüentemente com os pais de uma criança, 
pois cinqüenta minutos podem ser insuficientes para todo esse trabalho. Podemos 
então prolongá-la ou fazer mais de uma entrevista inicial. 
Se o nível de ansiedade (persecutória, depressiva ou confusional) dos pais· 
tornar difícil manter um clima adequado, torna-se aconselhável chamá-los nova-
mente, pois geralmente na segunda entrevista estão mais tranqüilos, menos tensos, 
menos na defensiva, mais recuperados e melhor situados. 
No caso contrário, a situação é pouco promissora e seria aconselhável pen-
sar que a terapia individual do filho exclusivamente não é o mais adequado. Deve 
ser complementada com orientação aos pais, ou indicação de terapia de casal, fami-
liar, vincular, etc. 
22 
Psicodiagnóstico Clínico 23 
Concluímos então que a "primeira entrevista" é um conceito referente à pri-
meira etapa diagnóstica, que tem um objetivo especifico, mas não significa que deve 
ser só uma nem que deve ser realizada obrigatoriamente no inicio do processo diag-
nóstico. Em circunstâncias especiais podemos obter dados após a aplicação dos 
testes, e não no inicio da consulta. 
Motivo da Consulta 
Durante a primeira entrevista o paciente deve expor o que acontece com ele 
(ou seus pais ou familiares), esclarecer por que deseja consultar. O motivo apresen-
tado é o que chamamos de motivo manifesto, uma vez que o n1esmo ou os motivos 
que afloram na primeira entrevista não são os mais autênticos. No entanto, nem 
sempre é assim, e ao longo do processo podem ser descobertos outros motivos 
subjacentes, latentes e geralmente inconscientes, sobre os quais se deverá falar da 
forma mais ampla passivei e aconselhável. 
As vezes são somente comunicados ao terapeuta desse paciente, no informe 
correspondente, explicitando a conveniência de não falar sobre isso com o paciente 
até que aflorem em seu próprio tratamento. É este um dos aspectos mais valiosos de 
um psicodiagnóstico, pois alerta o terapeuta a não agir de uma forma abrupta, ou 
seja, que não obrigue o paciente a fazer "insight" fora do "timing". Por outro lado, 
também adverte o terapeuta sobre o tipo de conflitos que pode encontrar ao longo 
da terapia de um paciente, que, talvez, tenha solicitado tratamento por um motivo 
muito menos transcendente do que aquele que perceberemos existindo em camadas 
mais profundas. 
O Sintoma 
Chamaremos provisoriamente "sintoma" aquilo que o consultante traz como 
motivo manifesto da consulta. 
A medida que a primeira entrevista se desenvolve poderemos perceber se é 
realmente um sintoma, do ponto de vista clínico, ou se está somente encobrindo 
outros. O que ocorre comumente é que o motivo latente não aflora no início porque, 
geralmente, angustia muito e permanece no inconsciente. 
Quando o motivo manifesto parecer trivial demais para justificar uma con-
sulta é que suspeitaremos com maior segurança da presença de um motivo latente 
de maior envergadura e deveremos prolongar a entrevista inicial ou realizar outra 
atê obter maior esclarecimento sobre o caso. Da forma possível devemos aproximar-
nos do motivo latente ou "sintoma" real da consulta, principalmente considerando 
que deveremos retomar o diálogo desse ponto na entrevista final. 
Suponhamos que uma mulher de trinta anos consulta porque está muito 
deprimida e se sente muito só. Certas perguntas sobre o seu modo de vida, suas 
amizades, suas experiências amorosas, nos levarão até hipóteses de um 
homossexualismo descompensado pelo abandono de sua parceira. O verdadeiro 
problema é a homossexualidade. Será necessário ver até que ponto a paciente aceita 
falar francamente sobre isso ou prefere manter-nos à margem do problema para 
que possamos ajudâ-la a ser uma homossexual feliz. 
Para falar sobre sintoma devemos levar em consideração a etapa de desen-
volvimento em que se encontra a pessoa que nos consulta. 
24 García Arzeno 
Alma Freud, 1 em seu trabalho "Neurose e Sintomatologia na Infância", clas-
sifica os motivos de consulta começando com as reações absolutamente apropria-
das à idade cronológica, continuando com condutas reativas à condutas inadequadas 
dos pais, prosseguindo com crises evolutivas e regressões ao serviço do desenvolvi-
mento, interrupções do desenvolvimento, para depois chegar às neuroses, psicoses, 
etc. Isto é importante porque algumas vezes a consulta acaba com uma breve orien-tação para os pais sem necessidade de tratamento para o filho. 
Outro elemento a ser levado em consideração é a razão pela qual esse sinto-
ma preocupa o paciente ou a seus pais, ou a ambos, ou então que sintomatologia 
preocupa a cada um dos interessados na consulta. E possível que a professora se 
preocupe com a sua má conduta, o que para a mãe não é motivo de preocupação, 
mas sim o fato de que a criança não seja caprichosa e organizada. O pai não gosta 
que a criança não reaja quando agredida. A professora diz que incomoda aos outros 
sem mostrar a sua agressão, ê o provocador de reações agressivas nas outras crian-
ças. A criança em questão, por sua vez, pode vir preocupada porque tem pesadelos. 
Teríamos assim diferentes motivos de consulta manifestos dentro de um 
mesmo caso. A sintomatologia descrita por cada um dos interessados no processo 
de estudo psicológico pode diferir enormemente, mas essa contradição é apenas 
aparente. Neste caso, digamos que cada parte interessada esta preocupada com um 
aspecto da problemática, que a não ser que seja creditada a projeções pessoais de 
cada um dos interessados, pode ser a descrição de uma faceta dos conflitos da 
criança. 
E possível que cada um tenha se detido mais a observar o aspecto da condu-
ta do individuo, que coincide mais com a que ê mais conflituosa para si próprio. 
Então, entre a professora, os pais e a criança teríamos a descrição de uma conduta 
realmente não contraditória mas coerente. Será nossa tarefa integrar essa imagens 
de uma única personalidade, definir o que realmente ocorre com a criança, entre 
todas aquelas projeções feitas pelos outros envolvidos, e decidir a ordem de relevãn-
cia de tão rica sintomatologia. 
Outra pergunta a ser formulada é por que o sintoma preocupa agora, em 
casos em que existe sintomatologia bastante antiga. Por exemplo, enurese perma-
nente em um menino de sete ou oito anos. tiques que vêm sendo apresentados há 
dois ou trés anos ou problemas crõnicos de aprendizagem em um menino que jã 
está na terceira sêiie e rodou váiias vezes. Quanto maior o tempo transconido entre 
o aparecimento da sintomatologia até o momento em que se concretiza a consulta, 
maior a nossa suspeita de que exista outro motivo latente, que foi o desencadeante 
para realizar a consulta. Certamente, o problema foi ignorado até esse momento, 
mas algo ocorreu que os fez tomar a decisão de consultar. E provável que fosse 
"egossintõnico" para a familia, mas que algo tenha provocado a ruptura desse "equi-
líbrio". Por exemplo, agora o menino pode ter começado a roubar ou não quer co-
mer, ou aos dez anos começou novamente a chupar o polegar. 
Fantasias de Doença e Cura 
Outro conceito importante a ser levado em consideração, do ponto de vista 
teórico, é que em uma consulta na qual o interessado deve expor a sua preocupa-
ção, o motivo que o leva a consultar, o que ele considera o sintoma preocupante, 
está implícita uma fantasia de doença e de cura que guarda uma estreita relação 
com o motivo latente da consulta. 
1. Freud, A. Neurosis y sintomatologia en !a injancia. Buenos Aires: Paidós, 1977. 
Psicodiagnóstico Clínico 25 
Há uma fantasia de doença em cada um dos pais, no paciente e no profissi-
onal que escuta o que é relatado. Estas fantasias nem sempre coincidem. Assim, às 
vezes, para a mãe toda a patologia do filho é devido a que ela tem sido condescen-
dente demais na educação do menino desde o inicio. O pai pode pensar da mesma 
forma e dizer-nos que na realidade para ele tudo vai se resolver quando o menino 
tiver mais experiência na rua ou à medida que for crescendo, porque tudo pode ser 
corrigido exclusivamente com a experiência; ou seja, a vida ensina a .cada um como 
resolver os seus problemas. O menino, por sua vez, pode ter a fantasia de que o seu 
problema seja incurável e tem muito medo de não poder ser ajudado. De~ectar isto 
é in1portante porque nos informa que as resistências são n1uitas. A fantasia de cura 
na mãe é o rigor vindo de fora, e deixa pouca margem para a reparação de um dano 
causado em uma época passada que não pode ser modificada. O que pode haver por 
trás desta atitude? Poderia ser algo assin1: "Eu sou con1 meu filho como a minha 
mãe foi comigo". A fantasia do pai é que o homem se faz a pancadas, descarta a 
possibilidade de ajudar o filho e, ainda mais, desqualifica qualquer intervenção 
reparadora. A fantasia do menino é a de que tem uma doença incurável e essa 
fantasia pode ter surgido na hora do jogo. 
Suponhamos que diz que não pode brincar porque ali não tem o que ele 
quer, que o que está à sua frente não lhe serve, e finalmente escolhe estragar algu-
ma coisa que nem ele nem o psicólogo podem consertar, por exemplo, um lápis. Está 
transmitindo o seu drama de não poder aproveitar o que ele tem de positivo nen1 a 
ajuda que lhe é oferecida, ficando à mercê de circunstâncias tão adversas sem re-
cursos para repará-las. 
Tudo isto alertará ao terapeuta em relação ao enquadre de sua tarefa, e a ser 
muito cauteloso na entrevista final para ajudar aos pais de forma que revejam a sua 
concepção da vida, da doença e da cura. 
É provável que a mãe reconheça que não é justo fazer com seu filho o mesmo 
que fizeram com ela, e que o pai "descubra" sua rivalidade diante desse filho com 
quem sua mulher tanto se preocupa, e que isso tem relação com um sentimento de 
ficar relegado (virar-se sozinho) devido a um irmão mais moço asmático que atraía 
toda a atenção materna. Trabalhando sobre isso, provavelmente poderemos modifi-
car as suas fantasias em relação à necessidade de ajuda e de que tipo. A fantasia 
subjacente neste caso seria a necessidade dos pais de refazer antigos acertos da 
infância, com suas respectivas famílias para perceber mais corretamente o que ocorre 
com seu filho. Partindo desta perspectiva, o psicólogo pode descobrir que, longe d1 
ser impossível ajudá-los, há nos três um dramático apelo de ajuda. 
A fantasia de doença e cura é um conceito desenvolvido do ponto de vist: 
teórico por Arminda Aberastury2• Ela considera essa fantasia como algo muito im 
portante a ser levado em consideração na primeira hora do jogo diagnóstico. 
De acordo com esta perspectiva recomendamos incluir e correlacionar: 
• Em crianças pequenas: horas do jogo, desenho livre, respostas ás lãmi 
nas do Rorschach, se já fala, e a Nº 9 do CAT. 
• Em crianças com mais de dez anos, adolescentes e adultos: entrevist: 
projetiva, desenho livre, Teste de Rorschach e as catexias do Desiderativ1 
(especialmente 1 + e 1-) e lãminas 1, 5 e em branco do Teste de Phillipson 
A hipótese proposta é a de que encontraremos resultados coincidentes (re 
correntes ou convergentes). 
2. Abcrastury, Arn1inda. Teoria y têcníca dei psicoanálisis de nírios. Buenos Aires: Paidós. 
26 García Arzeno 
Madeleine Baranger" enfatizou o conceito de fantasia de análise que vai se 
desenvolvendo ao longo do tratamento. Este conceito é importante porque fala da 
fantasia de doença com um núcleo enquistado com o qual a pessoa mantém um 
determinado tipo de relação; é algo que está ali, dentro dela; é algo diferente de si 
mesmo; é algo que é sentido como egodistônico (do contrário não seria fantasia de 
doença) e que exerce uma enorme influência sobre si mesmo (selj) e com o qual 
existe um determinado tipo de vínculo. É isto o que vai se modificando no decorrer 
do tratamento psicanalítico, até chegar ao ponto em que essa espécie de núcleo 
enquistado deixa de sê-lo. Transforma-se no ponto central da análise, mas, mesmo 
tomando-se mais frágil e menos perigoso, ficará sempre um resto irredutível à aná-
lise (algo assim como um ponto cego), com o qual manteremos relações mais perme-
áveis e maduras. Ou seja, esse núcleo se tornará cada vez menos patolôgico em si 
mesmo, no vínculo que o "self' mantém com ele e nos efeitos (de sua presença e 
desse vinculo) no resto da personalidade. É muito importante estudar o material 
dos testes e das entrevistas, tentando encontrar essas fantasias. Por exemplo, o 
desenho

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