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Filosofia do Direito no Período Medieval Marco teórico: palavra revelada Influência da Filosofia Clássica (Grécia antiga) As relações entre fé e razão são postuladas por meio do pensamento clássico. Autores principais: Aurélio Agostinho de Hipona – Santo Agostinho (354 - 430): influências do pensamento platônico; Santo Tomás de Aquino (1225-1274): influências do pensamento aristotélico. Absorção do pensamento filosófico para compreender e analisar as questões vinculadas ao pensamento cristão. Sofreu influência do pensamento platônico: doutrina da reminiscência. Ao destacar os estágios que envolvem o conhecimento, Platão fez uma divisão entre o mundo concreto/sensível e o mundo das ideias/formas. O mundo das ideias não seria uma abstração filosófica, mas sim um mundo que efetivamente existia, só que era inacessível aos homens através do sentidos, mas sim somente pelo intelecto. Para Platão, enquanto estávamos na condição de almas, todos habitavam esse mundo das ideias. Antes da alma encarnar, passava-se pelo rio do esquecimento, local onde ao tomar a água todos esqueceram das lembranças dos conhecimentos verdadeiros presentes na outra dimensão. Para fazer esse resgate, usa-se a razão pelo método filosófico. Pensamento Cristão Santo Agostinho (354 -430) Filosofia do Direito no Período Medieval Acerca desse tema, Agostinho entendeu que o processo de trazer o indivíduo ao mundo é feito por Deus, e que trazemos conosco um pedacinho de Deus, pois fomos feitos à sua imagem e semelhança, como prega o pensamento cristão. Nessa perspectiva, está presente nos homens uma centelha do divino, ou seja, a razão divina, à qual era chamada pois autores anteriores como razão ou logus. Essa centelha inflama quando seguimos os desígnios divinos ou murcha quando nos afastamos deles. Fé e razão: “é preciso crer para conhecer”, submissão da razão à fé. No interior do homem habita a verdade: centelha do divino. O homem dispõe de livre arbítrio, ou seja, da autodeterminação do corpo e da alma. Segundo essa perspectiva, os homens são responsáveis pelos seus atos (livre-arbítrio) e, portanto, não podem culpar Deus. É a graça de Deus, e não as virtudes dos homens, que nos leva à salvação. Porém, pode-se perder a salvação ao ignorar os preceitos divinos. Essa ideia diferencia-se do que é postulado pela filosofia clássica, pois autores como Platão e Aristóteles destacavam as virtudes humanas como centrais para que os homens tivessem uma vida correta. Inclusive, acreditava-se que a observância das leis era uma conduta virtuosa. Já para Santo Agostinho, o que faz os homens agirem com retidão é a graça divina, pois após o pecado original, eles foram tomados pelos interesses e prazeres mundanos e a única forma de se desfazer desses erros e ter uma conduta correta seria através da graça advinda de Deus. Ao homem cabe submissão a Deus. O ato de submissão deve ser de livre vontade e escolha do homem, pois Deus deixou para ele o livre-arbítrio. Santo Agostinho (354 -430) É a graça de Deus, e não as virtudes dos homens, que nos leva à salvação. Filosofia do Direito no Período Medieval Segue uma perspectiva do direito natural e positivo, porém, o direito natural estaria associado a uma perspectiva divina, por isso, seria mais correto chamá-lo de direito divino. A justiça não está nos costumes ou nas leis dos homens, a justiça reside em Deus, é a ordem da razão (divina) sobre as paixões (vinculadas aos homens). A chave da justiça é a fé. A justiça divina é aquela que a tudo governa e se baseia na lei eterna, a qual não é guiada pelo homem, mas sim criada por Deus e que vai além da natureza. A justiça humana se realiza entre os homens e tem como fonte basilar a lei humana, onde os homens produzem leis imperfeitas, portanto, a justiça que vem delas também é imperfeita. Justiça no Pensamento de Agostinho Apenas a justiça divina é completa. A justiça é imutável, corresponde a “um rol de regras inflexíveis, não naturais no sentido de que não se veem na natureza nem na sociedade, são oriundas do desígnio divino” (MASCARO, 2012, p. 105). As instituições são injustas, mas ainda assim os homens devem se submeter, porque se prestam a uma ordem social. Justiça é imutável Se as instituições são baseadas em uma justiça imperfeita, consequentemente a legislação também é imperfeita. No entanto, isso não significa que as leis devem ser desobedecidas. Não há defesa da subversão. Dê para César o que é de César, e para Deus o que é de Deus: o indivíduo deve obedecer às leis mundanas e ao mesmo tempo manter-se fiel ao que é designado por Deus. Apenas seria correto desobedecer uma lei que fosse contra desígnios divinos. Ex.: caberia a um profissional da saúde recusar-se a realizar um aborto. A descrição da lei eterna associava-se ao direito natural, o que para Agostinho era na verdade um direito divino. São corruptas, injustas, que advém da pobreza do espírito humano. Interessa-se pelo exterior, pelo processo de ação da alma externada Lei Humana É boa, justa e perfeita, além de ser atemporal, absoluta e infalível. Interessa-se pelo interior/alma. Lei Eterna Filosofia do Direito no Período Medieval As diferentes posições dos homens da sociedade resultam de uma vontade divina, o que explica o comando de uns sobre os outros. O pensamento agostiniano é conservador, pois ainda que destaque o homem como um ser decaído que produz leis injustas, não mostra-se contrário a uma estrutura social desigual, como por exemplo, relativa à escravidão. O autor justificava que tal estrutura, ainda que desigual, também obedecia aos desígnios divinos. Justiça é imutável A lei humana resultaria em uma “justiça” imperfeita. O ideal, portanto, seria que o indivíduo obedecesse à lei divina. A crítica é feita por conta de Agostinho defender a existência de leis mundanas injustas, mas não se opor a elas, incentivando um sujeito passivo e que se mantivesse obediente às ações incorretas. Reunião dos ímpios, sua missão é conquistar a paz social Cidade dos Homens Comunidade dos fiéis em Cristo, objetiva reinar na Terra a cidade de Deus, nela se realiza efetivamente a justiça Cidade de Deus Filosofia do Direito no Período Medieval Sofreu influência do pensamento de Aristóteles. A vontade deve se conformar à moral (divina). Demonstra como o Cristianismo estava fortemente ligado nessa filosofia. Considera como lei apenas o que está voltado para o bem comum. Influência do pensamento clássico e aristotélico, o qual defendia que uma lei que não tivesse como propósito o bem coletivo não deveria ser considerada como lei. O Estado deve promover e assegurar o bem comum. Lei e Justiça A lei utilizada para direcionar condutas humanas pode ser compreendida pela razão humana. Santo Tomás De Aquino (1225-1274) POSITIVA ETERNA NATURAL DIVINA LEI Lei Eterna Lei Natural Lei Divina Advém da lei eterna, é revelada ao homem, compreensível pela fé É de origem divina, alcançável e compreensível pela razão humana razão divina, transcende e governa o mundo, é ininteligível ao homem Lei Positiva Refere-se a lei humana, guia a ordem social e é justa e boa quando advém da fé e da razão Refere-se à razão divina; Transcende e governa o mundo, subordina a tudo e a todos; É praticamente ininteligível ao homem; É inalcançável pela razão humana. A lei eterna seria aquela que engloba tudo que faz parte da realidade que conhecemos e desconhecemos, seja no mundo no qual estamos fixados ou no resto do universo, criado por Deus através de sua lei eterna. Boa parte das regras sob as quais essa lei atua são incompreensíveis aos humanos. Refere-se, portanto, aos mistérios divinos. Santo Tomás de Aquino acreditava que uma parte dos mistérios pode ser compreendida por meio da fé, através de revelações permitidas por Deus. A Lei Divina é a parte da Lei Eterna que chega até os homens. Lei Eterna É extraída da lei eterna, refere-se a regra de Deus revelada aos homens, conhecida através da fé e da revelação. A Lei Divina é importantepara a produção da Lei Positiva. Decorre disso o desejo de algumas pessoas cristãs em ter uma Lei Positiva que seja influenciada pela Lei Divina, mesmo que o Estado seja laico. Tal concepção afeta discussões sobre o aborto, a liberação de drogas, a proibição de cassinos, a eutanásia, entre outras questões discutidas no mundo contemporâneo, pois quem segue os valores cristãos entendem que essas práticas seriam uma ofensa aos valores deixados por Deus, além de que iriam contra a própria natureza humana. Dessa forma, nota-se, portanto, que a filosofia medieval tem forte influência no modo como a lei atualmente é produzida. Lei Divina Filosofia do Direito no Período Medieval Filosofia do Direito no Período Medieval É de origem divina, alcançável e compreensível pela razão humana; Refere-se à participação da lei eterna na criatura racional, ou seja, é uma parte da lei eterna que chega e manifesta-se nos humanos. É acessada pela razão e, por isso, não há necessidade de que o ser humano que a compreenda seja religioso, pois basta que ele seja dotado de racionalidade. A lei natural não muda em seus preceitos primários, mas pode mudar em seus preceitos secundários. Lei Natural Refere-se à lei humana, quando racional e guiada pela fé, pode ser justa e boa; Somente poderá receber o predicado de lei a norma que que for justa e voltada para o bem comum. Assim, se a lei positiva for guiada por valores destacados pela força divina (razão e bem comum), ela será justa. Tal concepção moral também teve influência do pensamento aristotélico, que não colocava o direito natural e o direito positivo como coisas conflitantes, mas sim defendia que o direito positivo deveria seguir os desígnios do direito natural, pois isso geraria a legislação perfeita. Lei Positiva Justiça distributiva (proporcional): relação entre governos e governados. Justiça corretiva: relação entre particulares. Ocorre na esfera das ações privadas. Subdivide-se em reparativa e comutativa. Reparativa: ocorre quando um dano ocorrido em face de uma relação acidental necessita de reparação. Comutativa: os indivíduos estão em uma relação privada construída com base em um pacto ou contrato voluntário (de compra e venda, locação de imóvel etc). Tal conceituação de Aristóteles foi absorvida pelo pensamento de Santo Tomás de Aquino. Acepções de Justiça de Aristóteles Filosofia do Direito no Período Medieval Santo Tomás de Aquino Pecado original é uma doença da qual se pode curar pela graça divina, ou pelas boas ações e atos de justiça; Relação complementar entre fé e razão; As leis naturais são divinas, mas passíveis do conhecimento racional e, por meio delas, podem- se confeccionar leis positivas justas e racionais. Santo Agostinho Pecado original eivou o homem de vício, por isso sua salvação depende da graça divina; Fé e razão se opõe, ou a razão se subordina à fé; A justiça somente se encontra na graça divina, não nas leis dos homens. Diferença fundamental: Santo Agostinho considerava o pecado original como mortal Santo Tomás de Aquino compreendia-o como uma doença difícil, mas curável por meio da graça divina e do uso de boas ações.
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