Buscar

Filosofia do Direito e Idade Média - Justiça Cristã

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Filosofia do Direito e Idade 
Média 
 
JUSTIÇA CRISTÃ 
 
JUSTIÇA CRISTÃ 
 
• O pensamento grego clássico foi de tal maneira 
importante que os primeiros filósofos que 
seguiam o cristianismo, já ́ no início da Idade 
Média (ou seja, mais de 500 anos depois), 
recorriam ainda aos métodos dos gregos para 
refletir sobre o homem e sobre o universo. 
• A diferença é que, naquela época, a filosofia 
baseava‐se em uma nova premissa, a do 
teocentrismo. 
JUSTIÇA CRISTÃ 
 
• Disso são exemplo Aurélio Agostinho (séculos 
IV e V), na patrística, que perpetrou a fusão do 
platonismo com o cristianismo, e Santo Tomás 
de Aquino (século XIII), na escolástica, que, 
por sua vez, perpetrou a fusão do 
aristotelismo com o cristianismo. 
JUSTIÇA CRISTÃ 
 
• Deus passava a ser o centro de todas as análises 
filosóficas das coisas, dos seres e dos 
acontecimentos do mundo. 
• Entre as preocupações dos filósofos do 
cristianismo estava, além da religião, a MORAL. 
• Com o advento do Cristianismo, opera-se uma 
distinção fundamental e definitiva entre Política e 
Religião, entre a esfera do Estado e a órbita de 
ação própria do homem, o qual deixa de valer 
apenas como “cidadão” para passar a valer como 
homem a ser orientado pelos dogmas da Igreja. 
JUSTIÇA CRISTÃ 
 
• A Filosofia do Direito, como as demais 
emanações do espírito, foi dominada pelo 
pensamento religioso dos cristãos, que 
divulgavam a sua crença na origem divina do 
Direito. 
• A Igreja seria superior ao Estado, pois enquanto 
este ordenava interesses mundanos, aquela se 
ocupava da vida eterna. A concepção religiosa do 
Direito perdurou até o início do século XVII. 
Santo Agostinho 
 
• Se para os gregos era fundamental o papel da 
participação político-social do cidadão, para 
os cristãos a especulação integraliza o contato 
místico com a divindade. Se a vita activa, em 
sua modalidade de ação política, ainda que 
desvalorizada enquanto labor ou trabalho, 
encontrava relevante consideração entre os 
gregos, esta desaparece com o advento do 
medievo. 
Santo Agostinho 
 
• A eternidade da alma, a crença do poder da fé 
regeneradora e conversiva, a verdade 
revelada, o medo dos castigos e penas eternas 
são todos dogmas que presidem o 
comportamento das almas. 
• O paradigma da vita contemplativa, sobretudo 
entre os intelectuais, passa a governar o 
modelo de vida monástico ( INFLUENCIA 
ESTOICA). 
Santo Agostinho 
 
• Foi no começo do segundo milênio que a 
filosofia do cristianismo foi sistematizada e 
ganhou corpo com Santo Agostinho. 
 
Santo Agostinho 
 
• Na filosofia, foi um apaixonado em busca da 
verdade, que acreditava estar no interior do 
homem. Seguiu Platão, ao afirmar que, para 
conhecer verdadeiramente, é preciso estar em 
contato com o mundo inteligível. 
• Seu trabalho tem traços do pensamento 
estoico. 
• Além disso, quando a pessoa tem fe ́, estaria, 
também, mais perto de Deus. 
Santo Agostinho 
 
• Tirou a religião da condição de metafísica, 
aproximando‐a da filosofia, com metodologia 
de estudo, e enfim transformando‐a em 
teologia. 
• Da mesma forma que ja ́ o fizeram Sócrates e 
Platão, Santo Agostinho ensinava que a 
melhor maneira de purificar o espírito era a 
educação, porque o espírito educado pensaria 
com clareza e com verdade. 
 
Santo Agostinho 
 
• A escolástica foi mais um método de 
aprendizagem do que propriamente uma filo‐ 
sofia. 
• O marco teórico do período, ou seja, o ponto de 
partida de toda filosofia, é a palavra revelada. 
• Assim, o advento da doutrina cristã cristalizou 
novos ideais que se constituíram 
dogmaticamente em modelos de devoção e fé, 
modelos estes que conduziram a filosofia a servir 
de recurso teológico de ascensão espiritual. 
Santo Agostinho 
 
• Nesse sentido, a filosofia foi incorporada 
como recurso racional de auxílio ao 
pensamento teológico, que tinha como núcleo 
a interpretação do texto bíblico. 
• Em Santo Agostinho, é flagrante a 
preocupação com o transcendente em função 
de sua profunda formação na cultura helênica, 
sobretudo tendo-se em vista o eco do 
platonismo nos séculos III e IV da Era Cristã. 
Santo Agostinho 
 
• A concepção agostiniana acerca do justo e do injusto 
floresce exatamente nesta dimensão, ou seja, 
concebendo uma transcendência que se materializa na 
dicotomia existente entre o que é da Cidade de 
Deus (lex aeterna) e o que é da Cidade dos Homens (lex 
temporalem). 
• O tema em Agostinho remete o estudo do problema da 
justiça fundamentalmente à discussão da relação 
existente entre lei humana (lex temporalem) e lei 
divina (lex aeterna), onde está compreendido o estudo 
das diferenças, influências, relações etc. existentes 
entre as mesmas. 
Santo Agostinho 
 
• Uma concepção sobre a justiça que recorre ao 
neoplatonismo como fonte filosófica de inspiração só pode 
traçar delineamentos dicotômicos para o tema da justiça e, 
mais que isto, identificar na justiça transitória a imperfeição 
e a corruptibilidade dos falsos juízos humanos, e, na justiça 
eterna, a perfeição e a incorruptibilidade dos juízos divinos. 
• Assim é que se pode identificar nas lições agostinianas a 
presença do dualismo platônico (corpo-alma; terreno-
divino; mutável-imutável; transitório-perene; imperfeito-
perfeito; relativo-absoluto; sensível-inteligível…), que 
corporifica radical concepção entre o que é e o que deve 
ser. A justiça, portanto, pode ser dita humana e divina. 
Santo Agostinho 
 
• A justiça humana é aquela que se realiza inter homines, ou 
seja, que se realiza como decisão humana em sociedade. A 
justiça humana tem como fonte basilar a lei humana, 
aquela responsável por comandar o comportamento 
humano. Nesse sentido, o homem relaciona-se com outros 
homens e com o que o cerca; é no controle dessas relações 
que se lança a lei humana. 
• Não é, portanto, sua tarefa comandar o que preexiste ao 
comportamento social. Para que se possa pensar acerca do 
que preexiste, deve-se recorrer à ideia de Deus, que, como 
origem de tudo, como princípio unitário de todas as coisas, 
só pode ser o legislador maior do universo. 
Santo Agostinho 
 
• A justiça divina baseia-se na lei divina, que é aquela exercida sem 
condições temporais para sua execução, não sujeita, portanto, ao 
relativismo sociocultural que marca as diferenças legislativas entre povos, 
civilizações e culturas diversas. 
• Mais que isso, a lei divina, além de absoluta, imutável perfeita e infalível, é 
infinitamente boa e justa. O verbum divino só pode ser a raiz última de 
formação do que é, e também do que não é. 
• Quando, porém, se trata de falar sobre a justiça divina, deve-se advertir de 
que não se está a falar somente da justiça de Deus como justiça d’O 
Criador, mas também de uma justiça que se desdobra na própria justiça 
humana. 
• Grife-se que a lei divina não é somente a lei d’Ele, mas também a que Ele 
produz nos homens; nesse sentido, e somente nesse sentido, a lei dos 
homens também é divina, à medida que é dada por Deus. 
 
• PAREI AQUI... 
Santo Agostinho 
 
• A lei eterna inspira a lei humana, da mesma forma que 
a natureza divina inspira a natureza humana. S 
• em dúvida nenhuma, a natureza humana pode ser dita 
uma natureza divina, isto pois todo criado é fruto do 
Criador. Nesse sentido, a lei humana também é divina, 
ou seja, também participa da divindade. 
• Em outras palavras, a fonte última de toda lei humana 
seria a própria lei divina. Todavia, sua imperfeição, 
seus desvios, sua incorreção derivam direta e 
francamente das imperfeições humanas. 
Santo Agostinho 
 
• A lei divina, não escrita, portanto, imprime-se 
no espírito humano, e sua atuação sobre a lei 
humana dá-se de forma a que a influencie, 
inspirando-a, governando-a em seus 
princípios. Os homens produzem leis à medida 
que produzem comandos que se inspiram em 
influências provenientes da lei divina. A lei 
divina, lei eterna por definição, “é a lei em 
virtude da qual é justoque as coisas sejam 
perfeitamente ordenadas”. 
Santo Agostinho 
 
• O que faz com que as leis humanas sejam imperfeitas, 
corruptas, incorretas, e até mesmo injustas, não deriva da 
fonte de inspiração divina, mas da própria pobreza de 
espírito humana. Nada além do pecado original, que 
corrompeu a natureza humana, está por trás deste écran 
existencial, prenhe de lamentos e de sofrimentos. 
• O homem existe, e sua natureza é corrupta; é nesse 
sentido que se pode dizer que o homem se desgarrou de 
sua origem. Não há aí mero determinismo informando a 
teoria agostiniana, mas uma profunda consciência de que o 
livre-arbítrio, sede da deliberação autônoma do homem, é 
seu motivo maior de queda espiritual. 
Santo Agostinho 
 
• Quando a lei eterna comanda a alma para que se governe por si, 
está a comandar nada mais que sua aproximação de Deus. Esse 
processo de ascensão da alma não se faz, no entanto, sem um 
desprendimento gradativo de todas as atrações mundanas e 
temporais, perecíveis e fugazes. “A lei eterna ordena então de 
desviar seu amor das coisas temporais e de torná-lo, assim 
purificado, em direção às coisas eternas”. 
• Nesse sentido, o que está prescrito por esta lei é o que deve ser em 
absoluto. Tudo deve estar conforme ao conteúdo desta lei, porque 
é ela o mandamento maior de vida, e é em seu rastro que se pode 
alcançar a perfeição. Nesse sentido, a busca do eterno significa 
trilhar caminhos guiados pela lei eterna; governar-se é deixar-se 
governar pela lei eterna. 
Santo Agostinho 
 
• Diferentemente, a lei temporal não se preocupa, ao menos 
diretamente, com o bem-estar da alma em si e por si. Para ela é 
indiferente o caminho trilhado pelo homem, desde que não 
transgrida seus ditames. Dessa forma, a lei humana ou temporal, ao 
preocupar-se somente com o roubo ou não dos bens materiais, 
simplesmente é indiferente à paixão pelos mesmos, o que significa 
que se basta em salvaguardar o governo civil, por meio da 
ordenação da conduta social. Não se trata, portanto, de a lei 
humana preocupar-se com o governo da alma nos trilhos da 
virtude, mas com o governo da alma fora da ilegalidade e da 
transgressão. 
• Enfim, o que se deve reter é o fato de que a lei humana recrimina 
crimes o suficiente para promover a paz social.Ou seja, somente o 
que é absolutamente indispensável para salvaguardar a paz social 
interessa diretamente como conteúdo de uma lei humana. 
Santo Agostinho 
 
• Agostinho está preocupado não só com o relacionamento 
da lei eterna com a humana, de modo que a eterna se veja 
cada vez mais presente e imiscuída na realidade das leis 
humanas. 
• Agostinho quer mesmo salvaguardar a noção de que o 
Direito só possa ser dito Direito, quando seus 
mandamentos coincidirem com mandamentos de justiça. 
• Conceber o Direito dissociado da justiça é conceber um 
conjunto de atividades institucionais humanas que se 
encontram dissociadas dos anseios de justiça. Mais que 
isso: “Suprimida a justiça que são os grandes reinos senão 
vastos latrocínios? 
Santo Agostinho 
 
• o governo deve guiar-se para a condução da coisa pública, 
e seu distanciamento desta significa a recondução para 
interesses outros que não os comuns a todos, mas 
puramente pessoais, egoísticos. 
• Todo governo deve pautar-se nos preceitos da lex divina, 
para ser categorizado à conta de governo justo; dissociar 
governo e divindade é fazer do poder temporal um poder 
vazio, destituído de sentido, ou mesmo esvaziado de 
finalidade superior, que não aquelas egoísticas que possam 
mover um, poucos ou muitos, conforme o número dos 
ocupantes do poder público, à condução da coisa pública. 
• A busca da pax aeterna preenche de fins o poder secular 
justo. 
Santo Agostinho 
 
• O governo de direito é o governo justo, em que a justiça é o dar a 
cada um o que é seu (suum cuirque tribuere). 
• Essa virtude que sabe atribuir a cada um o que é seu é uma virtude 
que coordena interesses e vontades, estabelecendo a ordem. 
• Não há república sem ordem, não há ordem sem direito, não há 
direito sem justiça. Quebrar essa ordem estabelecida representa 
mesmo quebrar a ordem de Deus, atribuindo algo a alguém que 
disto não é merecedor; na distribuição do que é devido a cada um, 
deve haver equilíbrio e sobriedade, ou, ainda, sabedoria prática. 
• Atribuir algo a alguém a quem não deva ser dado, deixando-se, 
portanto, de atribuir algo que a alguém é devido, nesta medida, é 
ser injusto. 
• A justiça, portanto, tem a ver com ordem, da razão sobre as 
paixões, das virtudes sobre os vícios, de Deus sobre o homem. 
Santo Agostinho 
 
• Sabendo-se que o homem é mais que corpo, e não 
simplesmente alma, mas união de corpo e alma, o 
sentido a ser imprimido à vida humana não deve ser 
outro senão o do cultivo da alma para a vida eterna. 
• Nesse sentido é que se pode concluir que Deus 
preenche a existência humana, à medida que a vida 
eterna é o destino de toda alma por Ele criada; galgar o 
pax aeterna é o destino de toda alma. Assim é que se 
pode dizer que a alma é a vida do corpo, e que Deus é 
a vida bem-aventurada do homem 
Santo Agostinho 
 
• As almas criadas por Deus vivem, agem, erram, 
desviam-se, e é segundo uma norma de justiça que 
serão julgadas. Trata-se da justiça divina, que governa 
sua atuação, que pauta seus julgamentos, tendo por 
base duas nuances: (1) de um lado, a lei divina (lex 
aeterna), que prescreve determinado comportamento 
(“não matarás”; “não desejarás a mulher do outro”; 
“não cometerás adultério”; “não roubarás”; “amarás a 
teu próximo como a ti mesmo” etc.); (2) de outro lado, 
o livre-arbítrio (liberum arbitrium) do homem no 
sentido da autocondução de sua vida, podendo 
escolher entre fazer e não fazer. 
Santo Agostinho 
 
• Ou seja, onde há liberum arbitrium há a possibilidade de escolha, e 
é segundo essa escolha que cada qual será julgado. 
• Nas obras de cada homem pode-se identificar o que fez de bom e 
de ruim, e, nesse sentido, as obras são a identidade da alma. 
• A conclusão não é outra senão a de que toda alma, a partir do 
conjunto de seus comportamentos, forja seu próprio destino, sobre 
o que Deus não possui nenhuma influência imediata e 
determinada. 
• O destino não é dado a cada um, mas por cada um construído de 
acordo com suas obras. É assim que o Julgamento da alma se fará 
de acordo com suas obras, de acordo com o que cada um faz ou fez, 
a partir do exercício de seu próprio livre-arbítrio. 
• Eis o ponto em que a justiça esbarra na questão da remissão dos 
pecados. 
Santo Agostinho 
 
• Tendo a política humana esse compromisso com o divino, o Estado 
passa a ser, portanto, o meio para a realização da lei eterna. 
• A corrupção da alma humana é que impede o implemento 
imediato da ordem eterna sobre as coisas humanas. Se existe uma 
ordem divina, e se esta é desejada, pelo bem que é capaz de 
produzir, ela só não é alcançada pelo fato de que o homem é 
incapaz de se fazer conduzir por ela. Nesse sentido, o implemento 
dos ideais cristãos favorece o crescimento da ordem divina, o que 
significa um galgar paulatino em direção à realização da união 
definitiva da ordem humana com a ordem divina, e, portanto, da 
identificação da lei humana com a lei divina. 
• Tem-se, pois, que a política humana deve refletir o anseio de 
perseguir a junção eterna das almas com Deus, daí o compromisso 
teocrático do Estado na teoria agostiniana. 
Santo Agostinho 
 
• A lei humana, temporal, voltada para a ordenação do 
homem em sociedade tem por finalidade a realização da 
paz social, secular, temporal. A lei eterna, a realização da 
paz eterna. Lei humana e lei eterna se adequarão em 
objetivos e finalidades – e é isto que dá a entender 
Augustinus –, quando do advento da Cidade de Deus, que 
ocasionará a ruptura com o estado de coisas em que vive o 
homem dissociado de Deus, única forma de conter-se e pôr 
fim ao espírito mundano que governa a coisa pública e as 
instituições humanas. 
• Em suma, ateoria de Agostinho é tão significativa para o 
espírito medieval quanto o será a teoria de Santo Tomás de 
Aquino. 
São Tomás de Aquino 
São Tomás de Aquino 
• A filosofia de Santo Tomás de Aquino (1225-
1274) encontra-se estrutural e visceralmente 
comprometida com os Sagrados Escritos, de 
um lado, e com o pensamento aristotélico, de 
outro. 
• Sua doutrina converte-se num foco de 
dispersão de uma nova forma de conceber o 
conhecimento, aliando fé e razão. 
São Tomás de Aquino 
• Nesse caso, o estudo dos conceitos de direito 
(iure) e de justiça (iustitia) faz-se como parte de 
um estudo que se volta para o conjunto de 
interesses dos homens; 
• O tema da justiça em Santo Tomás de Aquino é 
um problema ligado à ação humana, à práxis, à 
virtude que sabe atribuir a cada um o seu; aqui 
nada há sobre uma justiça intangível. Isso, porém, 
não impede que a preocupação tomista com as 
regras divinas lhe faça dissertar sobre a lei divina, 
como se verá. 
São Tomás de Aquino 
• em Santo Tomás, o homem é composto de corpo (corpus) e 
alma (anima), sendo o primeiro a matéria perecível que 
colabora para o aperfeiçoamento da alma, esta criada por 
Deus. Do mesmo modo como a potência está para o ato, a 
alma está para o corpo; a alma é incorruptível, imaterial e 
imortal, enquanto o corpo é corruptível, material e mortal. 
A alma, porém, preenche de vida não somente o homem; 
animais e vegetais também possuem alma, e é esta que, 
com graus diferenciados, com potências e faculdades 
diferenciadas, permite se diferenciem os seres entre si na 
escala natural. 
• É a faculdade intelectual que particulariza o homem em 
meio aos outros seres dotados de alma. 
São Tomás de Aquino 
• O homem (animal racional) vale-se de sua razão em sua vida 
prática, seja para realizar tarefas, seja para encontrar soluções, seja 
para sobreviver, seja para desenvolver técnicas, seja para defender-
se… sobretudo em função de suas experiências sensoriais. 
• Deus não determinou o homem como escravo de um destino 
absoluto, o que oprimiria sua liberdade de ser, de decidir e de agir; 
ao contrário, na teoria tomista, Deus lançou no homem, como 
motor universal que é (Motor Imóvel), a vontade para que siga no 
sentido do Bem (o próprio Deus), podendo escolher livremente os 
meios para a realização deste Bem. 
• Neste sentido é que se pode dizer que a razão prática é o 
instrumento de que se vale o homem para eleger meios para o 
alcance de fins, estes também livremente por si escolhidos. 
São Tomás de Aquino 
• A liberdade consiste exatamente na possibilidade 
humana de escolha entre inúmeros valores que se 
apresentam como aptos à realização de um bem; 
valores diametralmente opostos candidatam-se a 
oferecer maior felicidade, se perseguidos. 
• Assim, a possibilidade de escolha deita-se sobre a 
verdade real (aquilo que realmente é um bem) ou a 
verdade aparente (aquilo que parece ser um bem), o 
que comprova a existência do livre arbítrio (liberum 
arbitrium), ou seja, da capacidade de julgar aquilo que 
é certo e aquilo que é errado, aquilo que é justo e 
aquilo que é injusto. 
São Tomás de Aquino 
• A atividade ética consiste exatamente em, por meio da 
razão prática, discernir o mal do bem e executar o 
escolhido mediante a vontade, destinando-se atos e 
comportamentos para determinado fim, que é o bem 
(o télos da filosofia aristotélica). 
• O ato moral de escolha do bem, e de repúdio do mal 
(bonum faciendum et male vitandum), consiste numa 
atividade racional à medida que os melhores meios se 
escolhem pela experiência, direcionando-se para a 
realização do bem vislumbrado também pela razão. 
São Tomás de Aquino 
• A sociedade civil carece de ética, uma vez que o 
próprio convívio dos seres racionais já representa 
uma eleição de um fim (Bem Comum) e dos 
meios (Sociedade Civil) para o alcance deste fim; 
é a razão prática que indica o caminho para o 
convívio social (societas). 
• A sociedade deve ser dirigida por uma autoridade 
que deverá ser prudente na escolha dos meios 
que conduzirão ao Bem Comum. 
São Tomás de Aquino 
• O governo de si para o homem será guiar-se por princípios 
extraídos da experiência, que formam o que se pode chamar de 
uma lei natural, verdadeiro hábito interior. Esta lei natural 
apresenta características básicas, a saber: (a) trata-se de uma lei 
racional,uma vez que é fruto da razão prática e sinderética do 
homem; (b) trata-se de uma lei rudimentar: só pode ser 
considerada como princípio norteador ou origem do direito, não 
correspondendo a sua totalidade; (c) trata-se de uma lei 
insuficiente e incompleta: necessita da lei humana (positiva), para a 
qual representa uma diretriz, para efetivar-se. 
• Isso já permite dizer que a lei natural, atuando somente como 
forma de governo do homem por si mesmo, não basta. Em outras 
palavras, ética não é a única forma de controle e regramento do 
comportamento em sociedade. Assim, de uma relação de débito 
recíproco entre o homem, seu semelhante e a comunidade, surge a 
justiça dentro da comunidade civil. 
São Tomás de Aquino 
• O ato de justiça consiste em dar a cada um o 
que é seu. Com isso, o ato de justiça torna-se 
o ato habitual de dar, com vontade perpétua e 
constante, a cada um o que lhe pertence, 
nada a mais e nada a menos. 
• Mais que isso, a igualdade aqui não é uma 
igualdade entre coisas, ou de coisas com 
pessoas, mas entre pessoas; a justiça é uma 
relação de igualdade entre pessoas. 
São Tomás de Aquino 
• Nela reside o esplendor da virtude, diz Tomás de Aquino. 
• A justiça não tem a ver com um exercício do intelecto 
especulativo, puramente reflexivo; a justiça é, pelo 
contrário, um hábito, portanto, uma prática, que atribui a 
cada um o seu, à medida que cada um possui uma medida, 
e que nem todos são materialmente iguais. 
• A justiça tem a ver com uma atividade da razão prática, de 
discernir o meu do seu, e o seu do meu. Mais que isso, a 
justiça não tem a ver com as paixões interiores, que são 
objeto das outras virtudes; a justiça é fundamentalmente 
um hábito à medida que pressupõe a exterioridade do 
comportamento, ou seja, de um comportamento que sabe 
atribuir a cada qual o seu. 
São Tomás de Aquino 
• A lei não possui um único sentido, mas vários, e isto porque a teoria 
tomista admite várias dimensões de leis. 
• Então, a lei ou é eterna, ou é natural, ou é das gentes, ou é 
humana. É essa classificação basilar para a compreensão dos 
desdobramentos do tema da justiça na teoria tomista. 
• Assim, de maneira sucinta, quando se fala em lex podem-se 
detectar as seguintes categorias: lei eterna: é a lei promulgada para 
Deus e que tudo ordena, em tudo está, tudo rege; lei natural: trata-
se de uma lei comum a homens e animais; lei comum a todas as 
gentes: trata-se de uma lei racional, extraída da lei natural, no 
entanto, comum somente a todos os homens; lei humana: trata-se 
de uma lei puramente convencional e relativa, assim como 
altamente contingente, e que deve procurar refletir o conteúdo das 
leis eterna e natural. 
São Tomás de Aquino 
• O jusnaturalismo tomista não vislumbra na 
natureza um código imutável incondicionado e 
absoluto, mas uma justiça variável e 
contingente como a razão humana. E é a partir 
das leis naturais, apreendidas pelo homem, 
em sua variabilidade, que surge a chamada 
justiça das gentes, ou seja, como uma 
derivação racional da lei natural comum a 
todos os povos. 
São Tomás de Aquino 
• No entanto, o simples fato de uma lei positiva 
não estar de acordo com a lei natural não justifica 
a desobediência ao que foi criado pelo homem; 
• A desobediência só se justifica, para Tomás de 
Aquino, quando houver um entrechoque entre a 
lei humana e a lei eterna. Em poucas palavras, a 
desobediência à lei humana só se justifica se 
representar a lei humana uma afronta da lei 
divina, a lei eterna conhecida pelo homem, caso 
contrário deve ser imperativamente obedecida. 
São Tomás de Aquino 
• Assim, pode-sedizer, o ius positum é derivado do justo natural. Ou ainda, o 
justo natural é o parâmetro para atuação do legislador positivo. 
• É absolutamente imprescindível sua existência em função da necessidade 
de aplicação da justiça inter homines. 
• O direito natural, que pela experiência natural o homem conhece, é 
insuficiente, necessitando de leis positivas complementares, leis que 
tornam concreto o que na natureza reside (lex, o direito escrito); essas 
acompanham as variações da natureza humana, suas imperfeições e as 
contingências oriundas da limitação do saber racional. 
• O direito positivo, se adequado ao direito natural, é um benefício para a 
comunidade civil, mas se estiver baseado na perversão da reta razão (recta 
ratio), sendo-lhe uma corruptela, um desvirtuamento, um conjunto de 
regras de autoridade que servem a um ou a poucos, perderá sua força 
coativa dada pela natureza (Sum. Theol., I-II, q. 96, art. 4), preservando 
somente a que lhe é dada por convenção. 
São Tomás de Aquino 
• A atividade do juiz consiste na efetivação da justiça; é ele 
dito a justiça encarnada, ou a justiça viva, não por outro 
motivo. 
• No pensamento tomista, há que ser considerado o fato de 
que o ato de julgar é um ato de individualização da lei; no 
julgamento, portanto, deve estar presente o mesmo 
conteúdo de coação que aquele presente na lei. Assim é 
que se pode dizer: 
• “A sentença do juiz é uma como lei particular aplicada a um 
fato particular. E, portanto, assim como a lei geral deve ter 
força coativa, como claramente diz o Filósofo, assim 
também a sentença do juiz deve ter força coativa para 
obrigar ambas as partes a lhe obedecerem; do contrário ela 
não seria eficaz.”

Outros materiais