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DIREITO CIVIL: 
DIREITO DAS 
SUCESSÕES 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Definir testamentos ordinários e especiais e a capacidade para testar.
 > Explicar a capacidade de adquirir por testamento e a indicação do testa-
menteiro.
 > Apontar as espécies de herdeiros testamentários.
Introdução
O Direito romano previa a possibilidade de o cidadão romano deixar bens para seus 
descendentes ou terceiros, de modo que pudessem dar continuidade à tradição 
familiar e ao culto doméstico familiar. Na atualidade, o direito de testamento 
representa uma característica das sociedades capitalistas, em que há a valorização 
do trabalho e a possibilidade de transmitir os bens amealhados durante a vida.
Neste capítulo, vamos diferenciar os testamentos ordinários dos especiais, 
definindo as principais características dos testamentos, as quais poderão ser 
abrandadas nos testamentos especiais. De forma complementar, vamos tratar 
dos herdeiros a título universal e singular.
Os testamentos ordinários e especiais e a 
capacidade para testar
O Direito Sucessório se caracteriza pelo direito fundamental à herança, cons-
tante no art 5º, XXX, da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). A regra 
assenta a valorização do trabalho humano e do capital, em que os esforços 
de uma vida inteira poderão ser transmitidos para os sucessores do falecido, 
costumeiramente denominado de cujus. 
Testamento
Eduardo Kucker Zaffari
A possibilidade de deixar bens aos entes queridos, como forma de carinho 
e visando a garantir que não passarão por dificuldades financeiras após nosso 
falecimento, torna o processo de falecimento mais tranquilo e dá significado 
aos anos de trabalho. Legar bens às pessoas com quem nos importamos se 
fundamenta no princípio de solidariedade familiar e é característica das 
sociedades capitalistas, em que o Estado busca intervir o mínimo possível 
nas relações patrimoniais privadas. Nesse sentido, o ordenamento jurídico 
admite uma série de formas de legados de bens, assim como prescreve os 
legitimados para receber herança e os limites disponíveis que o falecido 
poderá deixar.
Tipicamente romano, o testamento representa a última vontade do fale-
cido e advém da palavra testatiomentis, que significa a atestação da vontade 
daquilo que se encontrava na mente do testador quando de sua confecção. 
Flávio Tartuce (2017) recorda que, embora o atual Código Civil não conceitue o 
instituto do testamento, o Código Civil de 1916, no art. 1.626, prescrevia que “[...] 
considera-se testamento o ato revogável pelo qual alguém, de conformidade 
com a lei, dispõe, no todo ou em parte, do seu patrimônio, para depois da sua 
morte” (BRASIL, 1916, documento on-line). A definição do Código Civil anterior 
padecia das críticas de seu caráter patrimonial, o que nem sempre ocorre com 
o testamento, e pelo silêncio quanto a ser um ato solene, unilateral e gratuito. 
Ao lecionar sua definição, Tartuce (2017, p. 211) afirma ser o “[...] testamento 
[...] um negócio jurídico unilateral, personalíssimo e revogável pelo qual o 
testador faz disposições de caráter patrimonial e extrapatrimonial, para 
depois de sua morte. Trata-se do ato sucessório de exercício da autonomia 
privada por excelência”. 
Francisco Cavalcante Pontes de Miranda (2012), em seu Tratado de 
Direito Privado, relata que o Direito portugês, na época medieval, 
prescrevia a necessidade de testamento como forma de conforto à alma por 
legar bens à Igreja. Mais do que a questão patrimonial, legar bens à Igreja 
representava resguardar a alma.
Observe que o testamento não precisa dispor unicamente de patrimônio, 
como se constata no art. 1.857, 2º, do Código Civil, o qual prevê que o testador 
poderá realizar disposições testamentárias de caráter não patrimonial, a 
exemplo de reconhecimento de filhos, destinação de material genético para 
reprodução assistida ou do novo testamento afetivo, em que se manterão 
as memórias digitais do falecido (como o perfil na rede social, por exemplo). 
Testamento2
Tartuce (2017) sustenta, inclusive, o testamento ético, em que o falecido dis-
poria sobre o projeto de vida dos filhos, valores éticos e espirituais a serem 
transmitidos aos sucessores.
Como principais características, é possível afirmar que o testamento é um 
negócio jurídico, pois representa uma manifestação de vontade individual, 
que atesta a favor da autonomia de vontade do testador para dispor de certos 
interesses e cujo objeto lícito tem uma finalidade certa de dispor desses 
interesses. Ao contrário de outros negócios jurídicos, como os contratos, os 
quais se dão por atos inter vivos, o testamento jurídico é um negócio jurídico 
post mortem (na disposição de vontade do testador, que projeta para além 
do fim de sua existência). 
Outra característica do testamento é que se trata de negócio unilateral, 
visto que independe da vontade dos herdeiros ou legatários. O testamento 
vale por si, pela vontade exclusiva daquele que testa. A aceitação ou renúncia 
da herança por seus destinatários não descaracteriza o testamento nem 
altera sua natureza. 
Outra característica do testamento é sua gratuidade, visto que não há 
qualquer benefício para o testador, que o faz sem qualquer contraprestação. 
Nesse ponto, recorda Tartuce (2017) que os negócios benéficos devem ser 
interpretados restritivamente, nos termos do art. 114 do Código Civil (os 
negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente). Isso 
significa, por exemplo, que, deixado um apartamento por testamento, não 
se poderia englobar o box de garagem que o testador eventualmente tenha 
esquecido de mencionar no testamento. 
A característica do testamento de ser mortis causa é típica de sua 
essência, posto que se trata de um instituto projetado para gerar 
efeitos após a morte do testador. 
O testamento é instituto formal e pressupõe a observância de uma série de 
formalidades para que se tenha a certeza da vontade projetada do testador. 
É de sua essência que se tenha a certeza do que realmente queria testar o 
falecido, o que impõe certas solenidades, sob pena de sua ineficácia. 
Ainda, é característica fundamental do testamento sua revogabilidade, em 
que o testador poderá alterar sua vontade, de modo que qualquer cláusula 
que disponha sobre a impossibilidade de sua alteração será considerada 
nula. Exceção à regra é o reconhecimento de filhos feito em testamento 
que, mesmo sendo considerado nulo, surtirá efeitos. A redação do art. 1.610 
Testamento 3
do Código Civil deixa claro que o reconhecimento de filhos, mesmo quando 
revogado o testamento, não será revogável: “[...] o reconhecimento não pode 
ser revogado, nem mesmo quando feito em testamento” (BRASIL, 2002, docu-
mento on-line). Por essa razão, em que o testamento comporta disposição de 
caráter íntimo e unilateral, afirma-se que ele é de natureza personalíssima, 
não se podendo delegar a vontade testamentária a terceiros. 
Um testamento pode ser revogado expressa ou tacitamente. Dispor 
de certo bem em testamento posterior, diferentemente de testa-
mento anterior, revogará tacitamente a disposição testamentária. Poderá, o 
testador, revogar expressamente o testamento por meio de disposição escrita 
em testamento posterior.
A característica de ser um ato personalíssimo comporta a necessidade de 
permitir que mesmo pessoas em circunstâncias especiais disponham de seus 
bens, como no caso de pessoas engajadas em serviço pelas forças armadas ou 
com dificuldade para se expressar. Nesse diapasão, o ordenamento jurídico 
prescreve diferentes possibilidades de testar, conforme a circunstância em que 
se encontra o testador, dividindo-os em testamentos ordinários (comuns) ou 
especiais. Os testamentos ordinários são o testamento público, o testamento 
cerrado e o testamento particular, enquanto os especiais são o testamento 
marítimo, aeronáutico, militar e nuncupativo (essa última espécie é o testa-
mento realizado pela pessoa engajada em combate pelo país, realizado de 
forma oral e confiando sua vontadea duas testemunhas).
Os testamentos ordinários são de livre escolha do testador, enquanto 
os especiais apenas são possíveis quando não for possível testar em uma 
das formas ordinárias. Maria Berenice Dias (2019) recorda que cada uma das 
espécies de testamento tem pressupostos formais específicos, não sendo 
possível a utilização de elementos de uma forma em outra forma de testar. 
Assim, não se admite a forma híbrida de testamento, e a inobservância de 
qualquer das solenidades de uma forma de testamento não pode ser su-
prida com a obediência das formalidades de outra forma de testamento. 
Em outras palavras, cada uma das espécies de testamento deverá observar 
suas solenidades próprias, de modo que não será permitida a adequação 
de outras formas como meio para validar um testamento que não observou 
a forma correta. 
Nos testamentos especiais, há a diminuição das formalidades em decor-
rência de acontecimentos emergenciais que sujeitam o testar a situações 
Testamento4
de perigo de morte ou em razão da possibilidade de sua iminência. Nessas 
situações, diante da impossibilidade de acesso a um Tabelião, há facilitação de 
sua confecção, com a diminuição das formalidades, redução de seus requisitos 
e subtração das exigências que são usualmente exigidas para os testamentos 
ordinários. Essa redução de formalidades e requisitos restringe-se à forma 
do testamento. Dá-se nessa forma porque “[...] apenas determinadas pessoas 
capazes podem utilizá-los, e em certas circunstâncias, como quando em perigo 
de vida. Valem por um certo período” (RIZZARDO, 2019, p. 233).
Capacidade de adquirir bens por 
testamento e indicação do testamenteiro
A capacidade de adquirir bens por testamento se relaciona com a condição 
de quem poderá ou não receber bens deixados pelo falecido quando de seu 
testamento. Em outras palavras, quem são as pessoas legitimadas a receber 
a deixa testamentária. 
De início, é importante que se refira que apenas pessoas vivas à época 
do falecimento poderão receber herança ou legado, pois perderá a validade 
o testamento caso o beneficiário faleça antes do testador. No entanto, isso 
não significa que pessoas que vierem a nascer não podem ser beneficiárias 
de testamento, desde que já concebidas, conforme prescreve o art. 1.798 do 
Código Civil (BRASIL, 2002, documento on-line): “Legitimam-se a suceder as 
pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão” 
ou que venham a ser concebidas no período de dois anos do falecimento, nos 
termos do art. 1.799, combinado com art. 1.800, § 4º. É importante observar, 
porém, que não se trata de previsão de atribuição de capacidade para adquirir 
a pessoa ainda não concebida, mas tão somente do favorecimento de filhos 
de certas e determinadas pessoas, de forma que a capacidade para adquirir 
por testamento se dará para pessoas vivas, já concebidas ou com previsão 
de concepção no período de até dois anos do falecimento do de cujus.
A previsão da capacidade para suceder vem descrita entre os arts. 1.798 
a 1.803 do Código Civil brasileiro, cuja transcrição dos arts. 1.798 e 1.799 vale 
para o panorama geral (BRASIL, 2002, documento on-line): 
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no mo-
mento da abertura da sucessão.
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: I — os 
filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas 
estas ao abrir-se a sucessão; II — as pessoas jurídicas; III — as pessoas jurídicas, 
cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação.
Testamento 5
Observe que a capacidade para suceder é aferida quando da morte do 
testador, nos termos do art. 1.787 do Código Civil, que prescreve que “Regula 
a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura 
daquela” (BRASIL, 2002, documento on-line). Isso significa que, se ao tempo de 
confecção do testamento, o beneficiário era incapaz de receber, mas, quando 
da morte do testador, já estava capaz de receber, será válido o testamento. 
Em outro sentido, se capaz o beneficiário quando da confecção da cédula 
testamentária, mas incapaz quando da morte do testador, será ineficaz a 
disposição de vontade feita pelo de cujus no testamento. 
Outro aspecto interessante é quando prevista condição no testamento, 
que se implementará em momento futuro e incerto, que deixa o testamento 
suspenso até sua implementação (um exemplo seria a previsão de compra 
e entrega de um veículo ao beneficiário caso este passe em universidade 
pública em até certo período após o falecimento do testador). Nessa condi-
ção, sustenta Rizzardo (2019, p. 249) que “[...] no testamento condicional, já 
se altera a regra da capacidade, pois terá em conta a capacidade quando da 
realização da condição, e não do momento da abertura da sucessão”.
Destinado um bem ao município, ao Distrito Federal ou à União por 
testamento, estes podem, em tese, renunciar ao legado. Entretanto, 
quando recebidos os bens por meio do procedimento de jacência e vacância, 
não poderão renunciar aos bens, pois não terão a qualidade de herdeiros.
A primeira hipótese de capacidade passiva do testamento (os legitimados a 
receber) são os filhos ainda não concebidos, ou chamados “filiação eventual”. 
Maria Berenice Dias (2019) relata o debate havido sobre a possibilidade de 
nomeação de netos ou bisnetos eventuais como beneficiários de testamento, 
pois usava-se a expressão “prole eventual”, o que abarcaria a possibilidade de 
beneficiar netos (ou além) ainda não concebidos como legitimados a receber 
bens pelo testamento. Com a previsão legal de que serão “[...] os filhos, ainda 
não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador”, não há mais dúvida de 
que serão os descendentes em linha reta e em primeiro grau de parentesco 
(DIAS, 2019, p. 346). 
O nascituro (aquele que está prestes a nascer) tem legitimidade para 
suceder, seja como herdeiro legítimo quanto como testamentário, mas os 
filhos ainda não concebidos apenas poderão receber na forma testamentária. 
Na hipótese de filho ainda não concebido, o testador designará a pessoa 
(ou pessoas) cujo filho herdará, caso nascido até dois anos após a morte do 
Testamento6
testador. Dias (2019) sustenta que o prazo de dois anos poderá ser dilatado 
ou reduzido pela vontade do testador e que poderá, o falecido, quando da 
confecção do testamento, especificar qual filho da pessoa indicada receberá 
o bem deixado, como, por exemplo, o primeiro filho homem, a primeira filha 
mulher, os dois primeiros filhos nascidos no período determinado, etc.
As pessoas jurídicas, igualmente, poderão ser destinatárias de bens dei-
xados em testamento pelo falecido, sejam pessoas jurídicas existentes ou 
a se formarem, conforme desígnio do testador. A possibilidade prevista nos 
incisos II e III do art. 1.799 do Código Civil não diferencia serem as pessoas 
jurídicas de direito privado ou direito público, o que possibilita, ao falecido, 
deixar certo bem para a Administração Pública, inclusive. Há, apenas, a ne-
cessidade da existência legal quando do falecimento, o que ocorre para as 
pessoas jurídicas de direito privado quando de sua inscrição no respectivo 
registro público, conforme prescreve o art. 45 do Código Civil: “[...] começa 
a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição 
do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, 
de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro 
todas as alterações por que passar o ato constitutivo” (BRASIL, 2002, docu-
mento on-line). 
A previsão do inciso III do art. 1.799 do Código Civil possibilita a determi-
nação de fundações como beneficiárias do testamento. Nessa hipótese, nos 
termos do art. 62 do Código Civil, “Para criar uma fundação, o seu instituidor 
fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, 
especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de 
administrá-la”(BRASIL, 2002, documento on-line). O testador deverá explicitar, 
em seu testamento, se a fundação terá destinação assistencial, cultural, reli-
giosa ou moral, nos termos do parágrafo único do citado artigo do Código Civil. 
O inventariante será a pessoa designada para a administração da 
herança até sua partilha entre os herdeiros, diferentemente do 
testamenteiro, que objetivará cumprir as disposições testamentárias.
O testamenteiro tem expressa previsão legal entre os arts. 1.976 e 1.990 
do Código Civil brasileiro e, conforme Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho, 
“[...] é o sujeito — designado pelo testador ou nomeado pelo juiz — para fazer 
cumprir as disposições de última vontade” (GAGLIANO; PAMPLONA, 2017, p. 317). 
A designação do testamenteiro poderá ser realizada pelo próprio falecido, na 
pessoa do testamenteiro testamentário, conforme prescrito no art. 1.976 do 
Testamento 7
Código Civil: “O testador pode nomear um ou mais testamenteiros, conjuntos 
ou separados, para lhe darem cumprimento às disposições de última vontade” 
(BRASIL, 2002, documento on-line). Na falta de designação, pelo testador, de 
um testamenteiro, esse poderá ser o testamenteiro legítimo, considerado o 
cônjuge ou companheiro do falecido. A terceira hipótese de designação será 
realizada pelo Juízo, na pessoa do testamenteiro dativo, em que esse terá 
o papel de cumprir a última vontade do testador constante no testamento. 
Observe que os testamenteiros legítimo e dativo encontram previsão 
legal no art. 1.984 do Código Civil: “Na falta de testamenteiro nomeado pelo 
testador, a execução testamentária compete a um dos cônjuges, e, em falta 
destes, ao herdeiro nomeado pelo juiz” (BRASIL, 2002, documento on-line). 
Qualquer pessoa civilmente capaz estará apta ao exercício da função de 
testamenteiro, que se reveste de caráter personalíssimo e que não poderá 
ser delegada a terceiros, pois terá grande responsabilidade e prestará contas 
do exercício de sua função ao Juízo.
Espécies de herdeiros testamentários
O Direito Sucessório define diferentes espécies de herdeiros a serem bene-
ficiados pelos bens deixados pelo falecido, considerando a posição que o 
beneficiário ocupa. Inicialmente, é importante que se distinga esses herdeiros 
conforme sua origem, posto que ele poderá ser um herdeiro testamentário, 
caso tenha sido instituído por testamento, legatário ou legítimo, caso sua 
instituição decorra de expressa disposição legal.
Iniciando-se pelos herdeiros legítimos, é importante que se descreva a 
chamada ordem de vocação hereditária, constante no art. 1.829 do Código 
Civil (BRASIL, 2002, documento on-line):
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I — aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se ca-
sado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação 
obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão 
parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II — aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III — ao cônjuge sobrevivente;
IV — aos colaterais.
A ordem prescrita no art. 1.829 do Código Civil prescreve os herdeiros 
que serão beneficiários pela herança deixada pelo falecido, em sua ordem, 
conforme as classes apresentadas desde os descendentes, passando pelos 
Testamento8
ascendentes, cônjuge e colaterais. Observe que, ao referir “cônjuge”, deve-se 
compreender, atualmente, a união estável, em decorrência do julgamento do 
Recurso Extraordinário nº 878.694 no Supremo Tribunal Federal, de Relatoria 
do Ministro Luís Roberto Barroso, que, em 31 de agosto de 2016, equiparou os 
direitos sucessórios dos cônjuges aos companheiros no Direito Sucessório.
A ordem de vocação hereditária apresentada pelo artigo 1.829 do Código 
Civil segue o raciocínio de que as pessoas supostamente mais fragilizadas 
em razão do falecimento do de cujus são aquelas que têm a preferência no 
recebimento dos bens eventualmente deixados pelo morto. Os beneficiários, 
nesse caso, são instituídos por expressa disposição legal, pois receberão a 
herança deixada pelo falecido sem que este precise dispor sobre seus bens. 
É importante referir que a herança não será dividida entre as classes 
(descendentes, ascendentes, cônjuge/companheiro ou colaterais), mas será 
deferida à primeira classe que tenha sucessores vivos, com exclusão das clas-
ses seguintes. Assim, recebida a herança pela classe dos descendentes, nada 
será destinado às demais classes. Caso não haja qualquer descendente, os 
ascendentes herdarão, excluindo as classes seguintes e assim sucessivamente. 
Outro ponto que merece destaque, é que, na sucessão legítima da ordem de 
vocação hereditária, dentro das classes, os parentes mais próximos afastam 
os mais remotos, conforme o grau de proximidade com o falecido: ou seja, 
os filhos recebem, excluindo os netos, bisnetos e seguintes. Caso não haja 
filhos, mas descendentes netos, eles receberão em detrimento dos bisnetos 
e assim sucessivamente. O mesmo se repetirá na classe dos ascendentes, 
em que os genitores do morto preferem os avós do morto, os avós do morto 
preferem os bisavós do morto e assim sucessivamente.
Os colaterais são os parentes que descendem de um só tronco, sem 
descenderem um do outro, com a existência de um anscestral comum. 
Assim, irmãos, primos, tios e tios-avós são parentes colaterais.
Na ordem de vocação hereditária, há distinção entre as classes de her-
deiros não apenas em relação à posição de parentesco em relação ao morto. 
Não obstante, o dispositivo legal prescreve que, a estes, caberão a chamada 
legítima; ou seja, nem todos terão o mesmo direito, pois o falecido não po-
derá dispor da integralidade de sua herança caso tenha alguns dos parentes 
constantes em certas classes. 
O art. 1.845 prescreve que “São herdeiros necessários os descendentes, 
os ascendentes e o cônjuge” (BRASIL, 2002, documento on-line). Isso significa 
Testamento 9
que, na ordem de vocação hereditária, existem duas espécies de herdeiros: os 
herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge/companheiro) e 
os herdeiros facultativos (que é a classe restante dos colaterais). A distinção 
entre essas duas espécies de herdeiros encontra-se no art. 1.846 do Código 
Civil (BRASIL, 2002, documento on-line): “Pertence aos herdeiros necessários, 
de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima”. 
Combinado com o art. 1.850 do mesmo dispositivo (para excluir, da suces-
são, os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio 
sem os contemplar), tem-se que, aos herdeiros necessários, competirá a 
metade dos bens do falecido, independentemente da vontade deste (BRASIL, 
2002). Haverá liberdade, ao falecido, para dispor da integralidade de seus 
bens apenas se não tiver nenhum dos herdeiros das três primeiras classes 
da ordem de vocação hereditária (ascendentes, descendentes ou cônjuge/
companheiro), quando poderá dispor da integralidade de seus bens para 
terceiros, excluindo os colaterais do recebimento da herança. Por essa razão, 
os colaterais são denominados “facultativos”, pois o falecido tem a faculdade 
de excluí-los da sucessão. 
As reduções testamentárias consistem na redução das disposições 
testamentárias que tenham excedido a metade disponível do patri-
mônio do falecido, para que se preserve a legítima, que deverá ser destinada 
aos herdeiros necessários.
Dispondo da integralidade de seus bens, quando não tinha herdeiros 
necessários e/ou optar por não agraciar os herdeiros facultativos, o falecido 
poderá dispor da integralidade de seu testamento para terceiros. Da mesma 
forma, dispondo de apenas metade de seu patrimônio, no caso da existência 
de herdeiros necessários ou facultativos não excluídos, poderá, o falecido, 
deixar a metade disponível por meio de testamento para terceiros. Daí surgem 
os herdeiros que poderão ser denominados testamentários ou legatários. 
Embora o ordenamento jurídico costume usar indistintamenteos termos, são 
coisas distintas, como explica Maria Berenice Dias (2019, p. 401): 
[...] ao legatário são deixados bens certos ou que podem ser determinados. Por 
isso, é herdeiro a título singular. Quem é contemplado com uma universalidade 
de bens identificada de forma percentual chama-se herdeiro testamentário. Tanto 
ele como o herdeiro que recebe a legítima, são chamados de herdeiros universais.
Testamento10
Diferenciando apenas herdeiros e legatários, Arnaldo Rizzardo (2019) 
refere que a distinção entre herdeiros e legatários é singela, não oferecendo 
maiores indagações: o herdeiro sucede na totalidade da herança, ou em parte 
desta, sem bem delimitado, enquanto a legatária é a pessoa contemplada em 
testamento a quem o testador destina bens ou objetos específicos. Ainda, 
o autor afirma que os herdeiros se dividirão entre os legítimos, quando por 
expressa disposição legal (necessários e facultativos), e os testamentários, 
instituídos por disposição em testamento (RIZZARDO, 2019).
Pode-se resumir, à vista das diferenciações, que poderão receber bens 
ou herança do falecido os seguintes sucessores: 
1. os herdeiros necessários, constantes na ordem de vocação hereditária 
e a quem pertencerá a legítima (metade do patrimônio do falecido); 
2. os herdeiros facultativos, que estão previstos na ordem de vocação 
hereditária e que poderão ser excluídos da sucessão por vontade do 
falecido; 
3. os herdeiros testamentários, que receberão uma fração percentual da 
herança, a ser instituída por testamento; 
4. os herdeiros legatários, a quem serão destinados bens certos ou de-
termináveis, por meio de testamento. 
Nesse quadro, há todas as espécies de herdeiros sucessíveis possíveis.
Referências
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Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm. Acesso em: 22 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. 
Coleção de Leis do Brasil, Rio de Janeiro, 1 jan. 1916. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/L3071impressao.htm. Acesso em: 22 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial 
da União, Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 22 abr. 2021.
DIAS, M. B. Manual das sucessões. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2019.
GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de Direito Civil: direito das sucessões. 
8. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 7. 
PONTES DE MIRANDA, F. C. Tratado de direito privado: direito das sucessões – testa-
mento. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. (Coleção Tratado de Direito Privado).
RIZZARDO, A. Direito das sucessões. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. 
TARTUCE, F. Direito das sucessões. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
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