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DIREITO CIVIL: 
DIREITO DAS 
SUCESSÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Analisar os efeitos jurídicos decorrentes da morte.
 > Avaliar a morte presumida sem declaração de ausência e a ausência como 
pressuposto de morte.
 > Explicar o direito à morte digna e o testamento vital.
Introdução
A morte é um evento natural que repercutirá em diferentes esferas da pessoa 
natural e de seus familiares. Cultuada por muitas civilizações, o Direito a compre-
ende como fenômeno natural que causa efeitos no mundo jurídico, sejam estes nas 
relações familiares ou patrimoniais. A morte como extinção da vida humana poderá 
ser real ou presumida, não se admitindo mais a morte civil no Direito brasileiro.
Neste capítulo, vamos falar sobre as diferentes espécies de morte, bem como 
sobre sua repercussão na esfera do Direito. Veremos, também, que a dignidade 
da pessoa humana abrange a morte com dignidade e que o Direito está evoluindo 
para a regulamentação do testamento vital como forma de valorização da última 
vontade da pessoa antes de sua morte.
Efeitos jurídicos decorrentes da morte
A finitude tem atormentado o ser humano desde os primórdios da Antiguidade, 
posto que a ideia de que nossa existência está fadada ao fim, após certo 
O fenômeno 
sucessório
Eduardo Kucker Zaffari
lapso de tempo, atrai uma responsabilidade muito maior sobre nossas ações 
e aterroriza o indivíduo pelo transcurso do tempo. A noção de que, a cada dia 
que passa, a morte está mais próxima, obriga o indivíduo a fazer bom uso 
de seu tempo e pensar naqueles que lhe sobreviverão. Na mitologia grega, o 
homem é “condenado” à vida finita pelo surgimento do espaço e do tempo. 
Nesse sentido, o homem sempre tentou amenizar seu destino pelo conforto 
religioso, por sua participação na história, pela construção de monumentos 
ou pelo legado de bens a familiares. 
Maria Berenice Dias (2019) recorda que, desde os tempos mais remotos, 
deixar bens para os familiares consistia na possibilidade de continuação do 
culto familiar e do reconhecimento da propriedade privada como direito e 
conquista. Na sociedade romana, por exemplo, o patriarca (pater familiae) 
deixava seus bens a seus herdeiros para que estes dessem continuidade ao 
culto familiar e o defunto não sofresse pelo fim da religião familiar. Os roma-
nos sem herdeiros tinham o hábito de adotar terceiros, para que houvesse a 
transmissão da herança e a continuidade do culto familiar (o exemplo mais 
famoso é do evangelista Lucas). 
Já na Idade Média, por muito tempo apenas os filhos mais velhos herdavam 
os feudos, como forma de evitar que as terras se dividissem. A morte dos 
servos ligados ao feudo importava da assunção, pelo senhor feudal, a herança, 
como forma de concentrar nas mãos deste último as terras antes pertencentes 
aos servos. Como forma de burlar essa prática, surgiu, na França, à época, o 
Princípio da Saisine, em que a herança se transmitia imediatamente com a 
morte do detentor do patrimônio (DIAS, 2019).
O Direito Sucessório romano foi tratado pelo romanista Eugene Petit, 
no reconhecido livro Tratado Elementar de Direito Romano. Nesse 
livro, o doutrinador explica a forma de legado praticada pelos romanos e os 
testamentos utilizáveis.
Francisco Cavalcante Pontes de Miranda (2012a) já lecionava que a morte é 
um fato jurídico que termina com a vida humana e deve ser provado — como 
tal, tem eficácia no mundo jurídico pelo seu reconhecimento pelo Direito. A 
Constituição Federal de 1988 reconhece, como direito fundamental alicerçado 
no princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), o direito à herança, 
conforme consta expressamente no art. 5º, XXX, em que “[...] é garantido 
o direito de herança” (BRASIL, 1988, documento on-line). Já o Código Civil 
brasileiro de 2002 prescreve, no art. 1.784, que “Aberta a sucessão, a herança 
O fenômeno sucessório2
transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários” (BRASIL, 
2002, documento on-line). 
Cabe ressaltar, aqui, que o Código Civil atribui à morte a abertura da 
sucessão — em outras palavras, sempre que se afirmar “abertura da suces-
são”, estar-se-á referindo ao evento morte. O reconhecimento do Princípio 
da Saisine pelo Direito brasileiro, além do reconhecimento da herança como 
direito fundamental, determina a morte como fato jurídico com repercussão 
no ordenamento jurídico brasileiro. Nesse sentido, é reconhecida a proprie-
dade privada, a possibilidade de seu legado aos herdeiros ou legatários e 
a imediata transmissão dos bens quando do evento morte. Observe, não 
obstante, que a morte repercute não apenas quanto aos bens do morto, mas 
igualmente quanto às relações familiares, como em relação ao estado civil 
do cônjuge supérstite ou também quanto ao poder familiar do morto sobre 
os filhos, por exemplo.
A morte civil não mais existe no Direito brasileiro. Tratava-se de 
uma penalidade em que a pessoa perdia a personalidade jurídica, 
considerando-a como se morta fosse, independentemente de estar viva.
Embora o Direito reconheça o evento morte como um fato jurídico, com 
repercussão no mundo jurídico nas esferas patrimonial e familiar, há a ne-
cessidade do reconhecimento biológico preciso de quando a vida deixou 
o de cujus (morto). O Direito prescreve a necessária transdisciplinaridade 
entre o Direito e a Medicina para que se reconheça a morte biológica e sua 
repercussão no mundo do Direito. É a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997 
(que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano 
para fins de transplante e tratamento), que prescreve como a Medicina re-
conhece a morte do indivíduo. Assim determina o art. 3º da Lei (BRASIL, 1997, 
documento on-line):
A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados 
a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte ence-
fálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de 
remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos 
definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina.
A morte é reconhecida a partir do momento em que há o diagnóstico 
médico da morte encefálica, essa consistente na parada irreversível de todas 
as funções do cérebro. A Resolução nº. 2.173, de 23 de novembro de 2017, do 
O fenômeno sucessório 3
Conselho Federal de Medicina (CFM), prescreve que exames clínicos e com-
plementares serão realizados em intervalos de tempos variáveis, conforme a 
faixa etária do indivíduo, para a verificação de coma não perceptivo, ausência 
de reatividade supraespinhal e apneia persistente. Busca-se constatar a 
ausência de atividade elétrica cerebral, a ausência de atividade metabólica 
cerebral ou a ausência de perfusão sanguínea cerebral (BRASIL, 2017). 
O art. 1.997 do Código Civil brasileiro prescreve que a herança respon-
derá pelas dívidas do falecido. Em razão desse dispositivo legal, os 
herdeiros jamais receberão dívidas do de cujus, mas os bens deixados poderão 
ser consumidos pelas dívidas em sua integralidade (BRASIL, 2002).
O Direito brasileiro reconhece duas espécies de morte: 
1. a real, que é aquela conhecida como morte física, cujo reconhecimento 
é feito pela morte encefálica (ou cerebral);
2. a presumida, em que se presume a morte até que haja a efetiva prova 
da morte real. 
A morte repercute no mundo jurídico por meio de uma série de efeitos. O 
primeiro desses efeitos é o término da existência pessoa natural, com o fim 
de sua personalidade jurídica, conforme prescreve o art. 6º do Código Civil 
brasileiro. Igualmente, e como decorrência natural, algumas das obrigações 
contratuais do morto se extinguem, como o contrato de prestação de servi-
ços (art. 607 do Código Civil), enquanto outras persistirão, como o contrato 
de empreitada, salvo se ajustado em consideração às qualidades pessoais 
do empreiteiro (art. 626 do Código Civil). O usufruto se extingue pela morte 
pelo usufrutuário, nos termos do art. 1.410, I, do Código Civil (BRASIL, 2002).
Nasrelações pessoais, a morte dissolve a relação conjugal (art. 1.571, I, do 
Código Civil), alterando o estado civil do cônjuge sobrevivente e permitindo, 
ao supérstite, a contração de novas núpcias, atendendo-se aos requisitos 
legais. O poder familiar, exercido por ambos os pais até que o infante atinja 
a maioridade, é extinto em relação ao genitor falecido, conforme art. 1.635, 
I, do Código Civil. A partir da morte de um dos genitores, o poder parental 
passa ao cônjuge supérstite (BRASIL, 2002).
Porém, nas relações patrimoniais, a morte ainda repercute em relação 
aos direitos sucessórios, posto que o Código Civil brasileiro prescreve, no 
art. 1.784, que a morte abre a sucessão hereditária, transmitindo a herança 
O fenômeno sucessório4
imediatamente aos herdeiros do morto. Ocorrendo a morte real, os herdeiros 
legítimos ou testamentários receberão, imediatamente, a posse e propriedade 
dos bens deixados pelo de cujus. Os herdeiros receberão o acervo hereditário 
como um todo, devendo abrir o inventário e partilhando o resultado positivo 
da herança após adimplidas as obrigações do espólio. Observe-se, entretanto, 
que, nos casos em que for reconhecida a ausência, com a possibilidade de 
morte presumida, poderá ser aberta a sucessão provisória, com a posterior 
sucessão definitiva, após observados determinados prazos e requisitos 
(BRASIL, 2002).
A morte presumida sem declaração de 
ausência e a ausência como pressuposto de 
morte
A ausência de uma pessoa, sem a prova inequívoca de sua morte real, in-
teressa ao Direito em razão de sua repercussão em diferentes áreas, sejam 
essas relações pessoais, contratuais, patrimoniais ou sucessórios. O Código 
Civil de 1916 tratava do instituto da ausência na parte destinada ao Direito 
de Família, entre os arts. 163 e 484. Entretanto, era corrente o entendimento 
de que, topologicamente, mais correta seria a localização desse instituto 
na Parte Geral do Código, haja vista irradiar para todos os ramos do Direito. 
O legislador do atual Código Civil de 2002, atento aos apelos da doutrina, 
deslocou a ausência do livro de Direito de Família para a Parte Geral, entre 
os arts. 22 e 39. Maria Berenice Dias (2019, p. 517), ao tratar sobre a ausência, 
afirma que “[...] sumindo alguém sem deixar vestígios e não havendo ninguém 
com legitimidade para representá-lo, é possível a declaração judicial de 
sua ausência, por meio de procedimento que atribui a outrem o encargo de 
administrar o patrimônio de quem desapareceu”.
A linguagem vulgar costuma atribuir a ausência à falta de comparecimento 
ou de certa pessoa em determinado lugar, em certo tempo, em que era es-
perada. A compreensão vulgar sobre a ausência, embora não equivocada, 
necessita ser complementada pelo Direito para que possa surtir seus efeitos 
jurídicos. Em outras palavras, a ausência para o Direito deve ser qualificada 
por certos pressupostos para que a ela se possa atribuir efeitos jurídicos. 
Trata-se de uma ausência qualificada, pois não basta a mera falta de certa 
pessoa em determinados lugar e tempo. 
O Direito qualifica a ausência para que possa essa surtir efeitos na esfera 
patrimonial do ausente e de seus familiares. Isso porque a ausência se trata 
O fenômeno sucessório 5
de um instituto de proteção de bens, de natureza patrimonial, que não retira 
do ausente, inclusive, sua capacidade civil. Extrapatrimonialmente, a ausência 
declarada dissolve o casamento do ausente, liberando seu cônjuge para a 
novas núpcias. Pontes de Miranda, ao caracterizar o ausente, referia que, para 
o Direito, era a “[...] pessoa de que se ignora o domicílio, dela não se tendo 
notícias, e cujos bens ficam ao desamparo [...]” (PONTES DE MIRANDA, 2012b, p. 
492), recordando que haverá a possibilidade de reconhecimento na hipótese 
em que, havendo representante deixado pelo ausente, esse representante 
se recuse a administrar os bens deixados.
Nesse sentido, poderá a vir ser reconhecido como ausente aquele que 
se afasta de seu domicílio por um longo período, deixando bens sem admi-
nistração ou com administrador (procurador ou mandatário) ineficiente ou 
que não queira o encargo, sem deixar notícias de seu paradeiro e com sérias 
dúvidas sobre sua morte real. Há, nessa hipótese, a falta de prova inequívoca 
de sua morte. 
Flávio Tartuce (2017, p. 205) afirma que “[...] a ausência, anteriormente, era 
tratada como causa de incapacidade absoluta da pessoa, agora é hipótese de 
inexistência por morte”. Classificando a morte da pessoa natural de diferentes 
maneiras, Flávio Tartuce explica que a vida termina, para o Direito, de três 
diferentes formas (TARTUCE, 2017): 
1. a morte real; 
2. a morte presumida sem declaração de ausência (justificação);
3. a morte presumida com declaração de ausência. 
Isso porque não se pode confundir a ausência com a prova indireta da 
morte, pois apenas há a certeza quanto ao desaparecimento, e a presunção 
da morte se dará após um procedimento judicial específico. 
A Lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995 (BRASIL, 1995), possibilita 
que as pessoas desaparecidas durante o período militar entre 2 
de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979 sejam presumidas como mortas, 
possiblitando o requerimento de indenização pelo Poder Público, inclusive.
O fenômeno sucessório6
O art. 7º do Código Civil prescreve duas possibilidades de morte presumida 
sem a declaração de ausência:
1. se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de 
vida; 
2. se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for 
encontrado até dois anos após o término da guerra. 
Utiliza-se a primeira possibilidade nos casos em que há acidentes, ca-
tástrofes naturais ou qualquer outra espécie de desastres a que a pessoa 
desaparecida muito provavelmente estivesse sujeita. Dois exemplos recentes 
de utilização desse dispositivo são as pessoas desaparecidas na tragédia 
ocorrida em Brumadinho, assim como no desastre da plataforma P36 da 
Petrobrás (nove pessoas desaparecidas), e em que os familiares das pessoas 
cujos restos mortais não foram localizados necessitaram da declaração de 
ausência para fins previdenciários e sucessórios. 
A segunda previsão legal será observada caso o ausente desapareça por 
força de conflito militar em que o país esteja envolvido, seja ele militar ou civil 
utilizado no emprego do esforço de guerra. Observe-se, entretanto, que não há 
qualquer óbice da utilização dessa possibilidade nas hipóteses de brasileiros 
a serviço das forças armadas brasileiras em missões de paz. Em ambos os 
casos, apenas se poderá considerar presumidamente morto o ausente após 
esgotadas as buscas e averiguações pelas autoridades públicas, devendo a 
sentença que declarar a ausência fixar a data provável do desaparecimento 
do ausente, conforme determina o parágrafo único do dispositivo legal.
Afirma-se, nessa hipótese, ser a declaração de ausência por justificação, 
porque o art. 88 da Lei de Registros Públicos, a Lei nº 6.015, de 31 de dezembro 
de 1973, já prescrevia o reconhecimento da morte presumida pela justificação, 
em que o requerente comprovaria as hipóteses: “Poderão os Juízes togados 
admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em 
naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, 
quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível 
encontrar-se o cadáver para exame” (BRASIL, 1973, documento on-line). No 
parágrafo único daquele artigo, ainda consta que “Será também admitida a 
justificação no caso de desaparecimento em campanha, provados a impos-
sibilidade de ter sido feito o registro nos termos do artigo 85 e os fatos que 
convençam da ocorrência do óbito” (BRASIL, 1973, documento on-line).
O fenômeno sucessório 7
A sucessão hereditária é típica da sociedade em que se reconhece 
a propriedade privada, além de ter fins sociais, pois os bens do 
falecido permitirão a mantença daqueles que, naturalmente, seriam auxiliados 
pelo de cujus.
A morte presumida com declaraçãode ausência decorre do reconhecimento 
da morte presumida de pessoa que desaparece sem prova de sua morte real, 
sem que tenha havido qualquer das hipóteses do art. 7º do Código Civil, em que 
o Juízo possa reconhecer a morte presumida por justificação. Nessa situação, 
os legitimados poderão postular a declaração de ausência do desaparecido, 
para que seja determinada a curadoria dos bens do ausente. 
O procedimento está prescrito entre os arts. 22 e 39 do Código Civil bra-
sileiro, assim como nos arts. 744 e 745 do Código de Processo Civil. Nessa 
situação, o art. 22 prescreve que “[...] desaparecendo uma pessoa do seu 
domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou 
procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de 
qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-
-lhe-á curador” (BRASIL, 2002, documento on-line). O longo procedimento 
comportará duas fases distintas, em que se abrirá a Sucessão Provisória 
em uma primeira etapa e a Sucessão Definitiva na segunda. Os prazos serão, 
necessariamente longos, porque o ausente poderá aparecer novamente, com 
a possibilidade de assunção de seus bens, a depender da fase em que está 
o processo de ausência.
A morte digna e o testamento vital
Ao longo da história humana, diferentes concepções foram dadas à ideia de 
dignidade da pessoa humana, desde a desconsideração completa pelo outro 
como ser até a consideração como digno apenas daqueles que detinham 
determinadas qualidades ou condições. A lição de Rodrigo Freitas Palma 
recorda que aqueles que estavam à margem, por estarem em classe social 
distinta, como os plebeus ou clientes, sequer eram considerados cidadãos 
(PALMA, 2019). 
Durante a maior parte do período romano, apenas os cidadãos romanos 
eram considerados humanos, pela equivalência do termo homo humanus 
ao homo romanus, e todos os demais (não romanos) eram considerados 
bárbaros, homo barbarus. Havia a compreensão de que a humanidade ro-
mana se diferenciava das demais, com a desconsideração daqueles que não 
O fenômeno sucessório8
se enquadravam como cidadãos romanos (RUIZ, 2006). Apenas a partir da 
Segunda Guerra Mundial surgiu a compreensão de que a natureza humana 
não pode ser diferenciada a ponto de se permitir as barbáries vivenciadas 
em um dos piores períodos da história, ocasionando o reconhecimento da 
dignidade da pessoa humana como princípio fundamental pela maioria dos 
Estados contemporâneos. 
A Constituição Federal de 1988 consagrou, entre seus princípios norteado-
res fundamentais, a dignidade da pessoa humana como princípio orientador 
de todo o ordenamento jurídico brasileiro. Trata-se de um valor Constitucional 
supremo, em que todos os direitos e garantias fundamentais gravitam em 
torno de si. Previsto no art. 1º, III, da Constituição, envolve valores espirituais 
(liberdade de ser, pensar, criar, etc.) e materiais (renda mínima, saúde, ali-
mentação, lazer, etc.). Conforme preconiza Uadi Lammêgo Bulos (2019, p. 280):
A dignidade humana reflete, portanto, um conjunto de valores civilizatórios incor-
porados ao patrimônio do homem. Seu conteúdo jurídico interliga-se às liberdades 
públicas, em sentido amplo, abarcando aspectos individuais, coletivos, políticos 
e sociais do direito à vida, dos direitos pessoais tradicionais, dos direitos metain-
dividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos), dos direitos econômicos, 
dos direitos educacionais, dos direitos culturais, etc.
Abrangendo todos os aspectos da vida da pessoa natural, é corolário lógico 
que o princípio da dignidade da pessoa humana abrangerá o direito à morte 
digna, o que tem levado diferentes ordenamentos jurídicos a reconhecerem os 
institutos da eutanásia, da ortotanásia, da distanásia e do suicídio assistido. 
Ao longo do tempo, diferentes civilizações adotaram práticas de abreviação 
da vida, como Maria Helena Diniz (2007, p. 335) defende ao afirmar que:
Teria o paciente direito à autonomia da vontade, ou seja, a optar sobre fatos alusivos 
à sua própria pessoa, dando seu consenso esclarecido sobre o tratamento a ser 
seguido ou sobre a remoção de aparelho de sustentação da sua vida? Ao lado do 
direito de viver não haveria o de morrer com dignidade?
Nesse diapasão, a escolha pelo momento de sua morte tem sido consi-
derada o direito inerente à dignidade da pessoa humana, o que insere no 
contexto o chamado testamento vital.
O fenômeno sucessório 9
Sem regulamentação específica no ordenamento jurídico brasileiro, o 
testamento vital tem sido reconhecido em alguns países, como refere Luciana 
Dadalto (2015, p. 115):
O primeiro caso judicial a tratar do living will foi em 1976, ano em que Karen Ann 
Quinlan, uma americana de 22 anos, entrou em coma por causas nunca reveladas 
e seus pais adotivos, após serem informados pelos médicos da irreversibilidade do 
caso, solicitaram a retirada do respirador. Frente à recusa do médico responsável 
pelo caso, acionaram o Poder Judiciário de New Jersey, Estado no qual a paciente 
residia, objetivando uma autorização judicial para a suspensão do esforço tera-
pêutico, alegando que a jovem havia manifestado o desejo de não ser mantida viva 
por aparelhos, em conversas anteriores ao coma, a respeito de outros doentes 
terminais submetidos a medidas de esforço terapêutico.
A expressão “testamento vital” não é considerada a melhor, posto que 
não se está dispondo de bens a serem deixados a sucessores. Por essa 
razão, a doutrina tem sugerido que se adotem as expressões “declaração révia 
de vontade para o fim da vida”, “testamento biológico” ou “testamento de vida”. 
Países como Austrália e Espanha começam a reconhecer a utilização do 
testamento vital, em que o paciente poderá prescrever as diretivas anteci-
padas de vontade, prévia e expressamente manifestadas, sobre cuidados 
e tratamentos que quer, ou não, receber no momento em que estiver in-
capacitado de expressar, livre e autonomamente, sua vontade. No Brasil, a 
Resolução CFM nº 1.995, de 9 de agosto de 2012, prescreve a possibilidade de 
observância, pelo médico, das diretivas dadas pelo paciente, quando este 
estiver no pleno uso de suas capacidades, para a hipótese de situação que lhe 
impeça escolher o tratamento para lhe ser ministrado. O art. 2º da Resolução 
prescreve que “Nas decisões sobre cuidados e tratamentos de pacientes que 
se encontram incapazes de comunicar-se, ou de expressar de maneira livre e 
independente suas vontades, o médico levará em consideração suas diretivas 
antecipadas de vontade” (BRASIL, 2012, documento on-line).
A eutanásia é a prática em que se abrevia a vida do paciente. A prática 
ativa (pela ação) e passiva (omissão) é punida como homicídio no 
Direito brasileiro. A ortotanásia é a conduta omissiva quando o processo do 
evento morte já se iniciou (o paciente vai à óbito e a omissão não se relaciona 
com a causa).
O fenômeno sucessório10
O testamento vital, assim, é um documento em que a pessoa define, ex-
pressamente, qual tipo de tratamento concorda que lhe seja administrado ou 
em que impede que lhe seja administrado determinado tratamento, quando se 
encontrar doente e impedida de manifestar seu desejo. Em geral, é destinado 
a momentos em que o paciente se encontra em estado terminal ou incurável, 
servindo como meio orientador aos médicos que acompanham o paciente, 
assim como meio de respeitar a vontade do testador.
Alguns Projetos de Lei (PLs) tramitam atualmente no Senado, como o PL 
nº 149/2018, o PL nº 267/2018 e o PL nº 231/2018, que tramita no estado de 
São Paulo. Diante da ausência de regulamentação específica, deve-se atentar 
para o cuidado de confecção do testamento vital por Escritura Pública e com 
auxílio profissional. Luciana Dadalto tem defendido a criação de um Registro 
Nacional de Testamento Vital, em que o testador registrará seu testamento 
vital, com mais segurança para os médicos e para o testador que a sua vontade 
final será observada.
Referências
BRASIL. Constituição daRepública Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, 
Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm. Acesso em: 8 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos, e 
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 31 dez. 1973. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015original.htm. Acesso em: 8 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 9.140, de 04 de dezembro de 1995. Reconhece como mortas pessoas 
desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades 
políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979, e dá outras 
providências. Diário Oficial da União, Brasília, 5 dez. 1995. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9140.htm. Acesso em: 8 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. Dispõe sobre a remoção de órgãos, 
tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras 
providências. Diário Oficial da União, Brasília, 5 fev. 1997. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9434.htm. Acesso em: 8 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial 
da União, Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 8 abr. 2021.
BRASIL. Página 274 da seção 1 do Diário Oficial da União (DOU) de 15 de dezembro de 
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com.br/diarios/172555571/dou-secao-1-15-12-2017-pg-274. Acesso em: 8 abr. 2021.
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Leitura recomendada
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O fenômeno sucessório12

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