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Prévia do material em texto

Brasília-DF. 
Psicanálise Para carl Gustav JunG 
e DonalD W. Winnicott 
Elaboração
Adriana Barbosa Sócrates
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APrESEntAção ................................................................................................................................. 5
orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 6
introdução.................................................................................................................................... 8
unidAdE i
FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG .......................................................................... 11
CAPítulo 1
HISTórIA E CONSTITUIçãO DA PSICANáLISE ............................................................................ 11
CAPítulo 2 
O MéTODO PSICANALÍTICO ................................................................................................... 23
CAPítulo 3 
A NATUrEzA DO INCONSCIENTE ............................................................................................. 26
unidAdE ii
FUNDAMENTOS DA PSICANáLISE DE WINNICOTT ................................................................................... 32
CAPítulo 1 
LUGAr DE WINNICOTT NA PSICANáLISE .................................................................................. 42
CAPítulo 2 
AS TEOrIAS DO AMADUrECIMENTO, A rELAçãO MãE-bEbê E O brINCAr .............................. 45
unidAdE iii
OS ASPECTOS DA PráTICA CLÍNICA ..................................................................................................... 51
CAPítulo 1 
APArELHO PSÍqUICO ............................................................................................................. 51
CAPítulo 2 
AS DIFErENTES PSICANáLISES ................................................................................................. 59
CAPítulo 3 
TEOrIA DA PErSONALIDADE ................................................................................................... 64
unidAdE iV
AS DIFErENTES FOrMAS DE ATUAçãO ................................................................................................. 68
CAPítulo 1 
COMO TrAbALHA JUNG: ENTrEvISTA ...................................................................................... 68
CAPítulo 2 
COMO TrAbALHA WINNICOTT: rELATO E DISCUSSãO DE UM CASO ........................................ 72
PArA não FinAlizAr ....................................................................................................................... 76
rEFErênCiAS .................................................................................................................................. 92
5
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos 
conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da 
área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que 
busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica 
impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
6
organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar 
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para 
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de 
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
7
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
8
introdução
A presente disciplina tem o objetivo de introduzir os fundamentos da psicologia analítica 
de Carl Gustav Jung e os fundamentos psicanalíticos de Donald Woods Winnicott.
Para compreender Carl Gustav Jung revisaremos a história e a constituição da psicanálise, 
o método psicanalítico e a natureza do Inconsciente. E para compreender Donald 
Woods Winnicott, discutiremos o lugar de Winnicott na Psicanálise, as teorias do 
amadurecimento, a relação mãe-bebê e o brincar, considerados pontos fundantes de 
sua teoria.
Discutiremos também os aspectos da prática clínica a partir da concepção teórica 
do aparelho psíquico, das diferentes psicanálises e das teorias da personalidade. 
Neste cenário abordaremos como trabalha Jung por meio de uma entrevista com uma 
psicóloga junguiana. E como trabalha Winnicott por meio de um caso clínico atendido 
por ele.
Para tanto, o estudo da teoria e da técnica psicanalítica sempre nos remete a Sigmund 
Freud, inventor da psicanálise e autor sempre referenciado nos diferentes rumos teóricos 
que nos propomos a estudar. Cabe, no entanto um breve resumo de seu percurso nesta 
introdução e, adiante nos capítulos deste Caderno de Estudos, referências aos principais 
marcos teóricos e técnicos de sua produção acadêmica e científica. 
Sigmund Freud nasceu em uma família judia na cidade de Friebir na Áustria em 1856. 
Viveu grande parte de sua vida em Viena e posteriormente, por conta da II Guerra 
Mundial e do Nazismo, mudou-se para Londres, onde veio a falecer em 1939.
Freud formou-se em medicina, trabalhou com neurologia, especializando-se em 
Psicopatologias. Em sua época, a grande questão da psicopatologia era a histeria, 
levando-o a estudá-la em Paris entre 1885 e 1886. Desse estudo, Freud traz conceitos 
importantes para as estruturas da teoria (a qual Freud lutou para que fosse reconhecida 
como ciência) que nomeou de psicanálise. O interesse pelos fatores psíquicos que 
estavam representados nos sintomas histéricos moveu o instinto investigativo de Freud 
à descoberta da psicanálise.
objetivos
 » Introduzir os fundamentos da psicologia analítica de Carl Gustav Jung e 
os fundamentos psicanalíticos de Donald Woods Winnicott. 
9
 » Compreender a história e a constituição da psicanálise, o método psicanalítico 
e a natureza do Inconsciente na perspectivade Carl Gustav Jung. 
 » Compreender o lugar de Winnicott na psicanálise, as teorias do 
amadurecimento, a relação mãe-bebê e o brincar, considerados pontos 
fundantes da teoria de Donald Woods Winnicott.
 » Discutir os aspectos da prática clínica a partir da concepção teórica 
do aparelho psíquico, das diferentes psicanálises e das teorias da 
personalidade. 
 » Compreender como trabalha Jung por meio de uma entrevista com uma 
psicóloga junguiana;
 » Compreender como trabalha Winnicott por meio de um caso clínico 
atendido por ele.
10
11
unidAdE i
FundAMEntoS dA 
PSiCologiA AnAlítiCA 
dE Jung
Iniciaremos nossos estudos pela história e constituição da teoria e da técnica psicanalítica 
que servirá de base necessária para a compreensão de Jung e Winnicott. Mesmo tendo 
havido ruptura teórica e técnica entre Freud e Jung, a base psicanalítica sempre parte 
das construções freudianas. Winnicot, por sua vez, partiu de achados freudianos e deu 
segmento ao que em sua prática clínica representou a base de sua teoria.
Certamente essa releitura da descoberta da psicanálise ilumina cada vez mais os estudos 
psicanalíticos. A obra freudiana, por exemplo, deve ser lida e relida inúmeras vezes, no 
intuito de alargar cada vez mais a compreensão teórica e técnica. 
CAPítulo 1
História e constituição da psicanálise
Iniciamos com algumas considerações acerca do estudo sobre histeria que, de acordo 
com o Freud descreveu no artigo Histeria (1888) escrito para a enciclopédia Villaret, 
teria sua origem nos primórdios da medicina significando “útero”, dado o preconceito 
de que essa patologia estaria vinculada a uma irritação nos genitais femininos. Nesse 
mesmo artigo, cita os principais sintomas do transtorno: os ataques convulsivos 
epilépticos, a presença de zonas histerógenas (zonas que, pressionadas, produziriam 
uma sensação análoga à convulsiva), distúrbios dos órgãos sensitivos, paralisias 
e contraturas.
Freud era docente em neuropatologia e estudou em Paris entre 1885 e 1886, com uma 
bolsa de estudos da Universidade de Viena, realizando estudos sobre a histeria no 
Hospital da Salpêtrière com seu professor Jean-Martin Charcot. Conforme colocado no 
“Relatório sobre meus estudos em Paris e Berlim” (1886), Freud revelou sua admiração 
pela proposta de Charcot que buscava desconstruir a ideia de que os sintomas histéricos 
eram fingimento, de que a origem se dava por uma irritação genital e consideravam 
a existência e o tratamento da histeria masculina. Assumia, portanto, o conceito de 
etiologia não orgânica, ou de doença sem correspondência orgânica. É também de 
12
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG
Charcot que Freud traz a técnica do hipnotismo, que não se tratava de “material raro e 
estranho” nem com “fins místicos”, mas terapêuticos. 
O primeiro método empregado por Freud na cura da histeria foi a sugestão hipnótica, 
descrita no artigo “Hipnotismo”, 1891. Tratava-se de hipnotizar o paciente com o intuito 
de rebaixar sua consciência e, durante esse estado, negar queixas apresentadas antes 
pelo paciente, assegurar que ele pode fazer algo do qual se sentia inibido ou dar uma 
ordem para que execute quando despertar. Em “Um caso de cura pelo hipnotismo” 
(1892-1893) Freud sugere a uma paciente que não consegue amamentar, durante a 
hipnose, que dali em diante, conseguirá amamentar e que as contraturas e dores que 
sentia durante a amamentação desapareceriam. Desse estudo, Freud analisou que as 
vontades e contra vontades em conflito naquela paciente deduz que o funcionamento 
psíquico neurótico, estando inclusos os histéricos, se dá a partir de um conflito entre 
ideias antitéticas. 
Sem muito sucesso com as sugestões, Freud então passa a pedir para que as pacientes 
se lembrassem do fenômeno que gerou os sintomas. Ao acordarem, não se recordavam 
do que haviam dito. Freud então percebe a existência nos indivíduos de uma instância 
psíquica onde a memória da origem dos sintomas era armazenada como em uma 
consciência dissociada, uma segunda condição paralela à consciência, o que viria a 
se formular como Inconsciente. Quando contava às pacientes o que elas lhe disseram 
sob hipnose, se dava uma forte resistência e uma repulsa ao conteúdo descobre-se 
o conceito de Resistência – aquele conteúdo apresentado se encontrava em outra 
instância psíquica justamente por ser incompatível à consciência de vigília. 
Apesar de representar o início da investigação psicanalítica, o método hipnótico era difícil 
de ser aplicado pelos médicos e nem todos os pacientes eram passíveis de hipnotização 
ou apresentavam melhora. Os que apresentavam melhora nos sintomas regressavam em 
curto prazo.
O segundo método empregado por Freud, ainda nesses primeiros momentos, foi o 
Método Catártico. Ele consistia na associação livre de ideias associadas ao trauma 
que desencadeou o quadro histérico, conforme proposto nos “Estudos da Histeria” 
(1893-1895). Podendo ser útil uma retomada cronológica dos eventos anteriores ao 
aparecimento dos sintomas. 
Em “Comunicação Preliminar” (1893), Introdução aos Estudos, Freud, que já reconhecia 
uma etiologia não orgânica à histeria e propõe causas externas aos indivíduos e se dá 
na forma de vivência de um trauma psíquico. Nesse sentido, considerou a consciência 
dissociada como uma consequência do trauma-histeria traumática – ou como uma 
pré-disposição herdada dos pais – histeria disposicional. No caso da histeria traumática, 
13
FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG │ UNIDADE I
Freud afirmava que a vivência do trauma se tornou patológica pelo fato de o indivíduo 
não ter associado o evento traumático a outros contextos, nem esqueceu ou ab-reagiu 
a ele, chorando, falando sobre, se vingando etc. Tanto porque não o pôde fazer no 
contexto em que ele aconteceu ou porque se encontrava em um estado alterado de 
consciência, como no estado hipnoide. O trauma, mesmo estando no passado, ainda 
pulsa dentro do indivíduo atuando na formação de sintomas, ou seja, as histéricas 
sofriam de reminiscências. 
Nesse modelo, os sintomas histéricos crônicos observados nas paralisias, dores sem 
etiologia orgânica, alucinações, se dariam pela passagem de material afetivo dessa 
segunda consciência para a consciência original – fenômeno da conversão, enquanto 
os sintomas agudos da histeria representavam uma consciência sobre o indivíduo. 
O método catártico nesses moldes funcionava pela vazão do afeto inconsciente por meio 
da fala, sem necessitar recorrer à conversão para tal. O método catártico promovia não 
apenas a consciência dos traumas, mas também dos fatores inerentes a ele.
Freud, neste período apostava na divisão da consciência como patológica. Em “Neuropsicoses 
de Defesa” (1894), assume como pressuposto para classificar a histeria como fenômeno 
da conversão, mas passa a diferenciar os tipos de histeria de acordo com a forma como 
a consciência foi dividida. A histeria hipnoide corresponde à divisão pelo trauma, já a 
histeria de defesa, a divisão se daria por uma força de vontade do indivíduo em tirar 
da consciência o material traumático e, por fim, na histeria de retenção não ocorreu 
divisão da consciência, mas o afeto não foi ab-reagido. De uma forma mais clara, nesse 
texto, Freud diferencia a ideia de afeto em ideia traumática situada no inconsciente e o 
afeto poderia transitar entre a consciência e a inconsciência.
Em relação ao método utilizado na psicanálise, formulou-se o método interpretativo 
pautado pelo método da livre-associação, reconhecido como a Regra de Ouro da 
Psicanálise. Neste método, o paciente deve dizer tudo o que lhe vier à mente sem pensar 
muito sobre o que irá dizer. A aposta reside na percepção de que tudo o que o paciente 
disser estará relacionado a conteúdos latentes. Por meio da análise dessas falas, é possível 
chegar ao conteúdo do material traumático, inclusive com emersão das lembranças 
traumáticas. A livre-associação do método interpretativo passou a ser reconhecido como 
possibilidadede acessar o inconsciente ao longo do processo de análise.
Na evolução teórica e técnica de Freud, a interpretação dos sonhos (1900) também 
representou acesso ao inconsciente ou manifestação inconscientes de conteúdos 
presentes na inconsciência. A interpretação psicanalítica, portanto, não ocorria apenas 
através fala, mas também por meio dos sonhos, atos falhos e chistes, além dos próprios 
sintomas queixados pelo paciente.
14
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG
A primeira tentativa de Freud mapear o funcionamento do psiquismo afirmou-se 
como primeira tópica do aparelho psíquico, em que considerou as pulsões, o recalque, 
e o inconsciente pela organização de três instâncias: consciente, pré-consciente 
e inconsciente.
Baseando-se no repertório de estudos sobre a histeria e nos estudos sobre os sonhos, 
a psicopatologia da vida cotidiana, os chistes e os atos falhos elaboram formalmente, 
em 1915, a primeira teoria do aparelho psíquico, ou primeira tópica, mesmo já tendo na 
“Interpretação dos Sonhos” lançado as bases de toda a teoria.
Nesse sentido, Freud considerou o inconsciente como uma estrutura psíquica presente 
em todos os indivíduos com funcionamento neurótico que teria importância vital na 
vida em sociedade. O sujeito freudiano assume nesse momento as características que 
terá no restante da sua obra psicanalítica, ou seja, o sujeito tendo seu psiquismo dividido 
entre consciente e inconsciente.
No artigo “O instinto e suas vicissitudes” (1915) houve uma problemática na tradução 
dos textos em alemão para o inglês e, consequentemente, da tradução inglesa para a 
portuguesa. A psicanálise portuguesa e a brasileira, contudo, preferem traduzir trieb 
por pulsão e instinkt por instinto. O instinto seria uma energia interna com a finalidade 
de sobrevivência relacionada a um regime de necessidade por autoconservação do 
organismo, ou melhor, uma resposta homeostática do indivíduo, aceitando apenas uma 
classe de objetos para sua satisfação, como fome que requer comida, sede que requer 
líquido, por exemplo. A pulsão, por sua vez, seria também uma energia interna, mas 
relacionada a um desejo tendo origem nele, sendo de ordem psíquica e se encontrando 
no circuito inconsciente. 
A pulsão possui caráter psicossexual e de autopreservação, caracterizando uma nova 
classe de pulsões, as pulsões de vida e as pulsões de morte. A pulsão, de uma forma 
geral, se constitui pela energia psíquica, pelo instinto, pela homeostase, como forma de 
direcionar e descarregar energia psíquica. A pulsão orienta-se pelo princípio da constância 
com finalidade de satisfação, de acordo com o princípio do prazer. Neste sentido a pulsão 
em busca de um objeto de satisfação, apresenta um espectro maior de possibilidades em 
relação ao instinto, podendo focar-se em qualquer objeto, na medida em que se relacione 
e satisfaça ao menos de forma parcial a pulsão, enquanto afeto ou pressão no aparelho 
psíquico, na forma de energia psíquica.
O recalque, por sua vez, compõe uma barreira que divide a consciência do inconsciente, 
contudo, permite a expressão de um conjunto de operações que se realizam sobre as 
pulsões, conforme Freud coloca em seu artigo “Repressão” (1915). O recalque age de 
acordo com o princípio do prazer e o princípio da realidade. 
15
FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG │ UNIDADE I
As vicissitudes como destinos da pulsão operam-se de três formas: 
1. realizando a pulsão sem ceder ao princípio da realidade, sendo que a 
pulsão pode estar avessa ou de acordo como nas pulsões estritamente 
sexuais/genitais fala-se em perversão, ou seja, a execução de uma pulsão 
de forma integral, em desacordo ou não com o princípio da realidade;
2. sublimação, ou seja, realização de uma pulsão com o objeto deslocado 
para algo socialmente aceitável, realizar o princípio do prazer por meio 
do princípio da realidade, permitindo uma satisfação parcial, gerando 
material recalcado; ou 
3. um bloqueio total da pulsão, gerando insatisfação e um grande acúmulo 
de material recalcado. 
A satisfação da pulsão através do recalque é muitas vezes parcial, ou seja, parte da energia 
psíquica original da pulsão permanece no inconsciente na forma de material recalcado e 
esse, por sua vez, se expressa por meio dos quatro derivados do inconsciente: sintoma, 
sonho, chiste e ato falho. A distorção realizada pelo recalque às pulsões e ao material 
recalcado pode ser de dois tipos: deslocamento, mudança do objeto original da pulsão 
para outro que esteja permitido pelo princípio de realidade, mas mantenha relação com o 
original e condensação que se configura na escolha de um objeto que satisfaça ao máximo 
de pulsões possíveis, compondo o que Freud chamou de processos primários.
Em meio ao recalque primário pode haver um extravasamento de afeto inconsciente 
que resultar no recalque secundário ou repressão. Ao contrário do recalque que atua na 
pulsão e no recalcado, a repressão atua no derivado do recalcado presente na consciência. 
No texto O Inconsciente (1915), Freud avança para além da abstração teórica 
metapsicológica. E a análise do inconsciente passa a ser feita de três formas: 
1. Topográfica que representa a localização e de onde advêm os materiais 
recalcados, as formações, os afetos, entre outros. 
2. Dinâmica que denota a movimentação dos materiais psíquicos. 
3. Econômico no nível de gasto e conteúdo energético das pulsões. 
A análise dinâmica do funcionamento do inconsciente origina-se o pré-consciente que 
seria o estado de afetos ou ideias que estão na instância consciente, mas em situação 
inconsciente, ou seja, acessíveis pelo sujeito, apesar de não estar pensando nelas naquele 
momento. Por exemplo, estudando para uma disciplina, o sujeito não está pensando no 
que comeu na última refeição, mas tem acesso a essa informação. 
16
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG
O inconsciente possui características relevantes, como a isenção de contradição mútua, 
o que significa dizer que, por não ser regido por uma lógica consciente, pode haver 
pulsões contraditórias no inconsciente, como o sentimento de amor e de ódio pelo 
pai no complexo de Édipo, por exemplo. A atemporalidade do conteúdo inconsciente 
invoca diferentes vivências presentes ou passadas, como a reconstrução de um evento 
traumático da infância.
O aparelho psíquico regido pelo inconsciente, pré-consciente e consciente conserva as 
duas primeiras instâncias separadas pelo recalque e as duas últimas pela repressão. 
A livre-associação, portanto, seria uma tentativa de suspensão da repressão, permitindo 
a expressão livre de um conteúdo do pré-consciente tendo em vista uma distorção direta 
do conteúdo latente do inconsciente. Em outras palavras, o conteúdo inconsciente 
sofreria uma ação dos processos primários do recalque, alcançaria o pré-consciente, 
que sob livre-associação, poderia ser dito sem maiores reflexões, permitindo que, de 
alguma forma, o analista possa tentar realizar o caminho de volta para entender o 
material recalcado de origem.
Uma última contribuição importante desse texto, também presente nos artigos sobre a 
técnica consiste na diferenciação que Freud faz entre verdade como realidade externa 
compartilhada e, realidade psíquica que compõe a forma como sujeito interpreta a 
realidade externa. A realidade externa e sua interpretação podem ou não ser tangíveis ou 
sobrepostas, dependendo da análise possível, a partir da realidade psíquica do paciente.
A partir dessa diferenciação entre verdade e realidade psíquica, Freud dedica-se ao tema 
da fantasia em Lembranças Encobridoras (1896). Para ele as lembranças encobridoras 
seriam um derivado do inconsciente como um constructo inconsciente a partir de uma 
realidade consciente que compõe a realidade psíquica do sujeito. 
Freud desenvolveu o conceito de fantasia para explicar o fato dos indivíduos não se 
recordarem com muita certeza os eventos que aconteceram na infância mais remota, 
ora não se lembrando defato, ora se recordando de eventos de forma mista. Trata-se de 
uma lembrança que possui um simbolismo suficiente para se manter viva, substituindo 
lembranças daquele período que, por algum motivo, são incompatíveis à consciência.
Dentro desse modelo, Freud no texto O Instinto e suas Vicissitudes (1915) comenta 
as psicopatologias. Como a pulsão é tanto um objeto/ideia quanto uma pressão/afeto, 
quando esse afeto inconsciente passa para a consciência e não se liga a um objeto de 
lá, transforma-se em angústia. Porém, quando o afeto liga-se a uma ideia consciente 
trata-se de fobia, ansiedade ou obsessão, conforme o tipo de afeto ligante. Quando o 
excesso de afeto assume as inervações somáticas, convertendo esse afeto em sintomas, 
trata-se então da histeria.
17
FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG │ UNIDADE I
Em A Interpretação dos Sonhos (1900) e no artigo-síntese de suas análises, Sobre os 
Sonhos (1901), Freud descreve sobre o mecanismo onírico e qual sua função psíquica, 
diferentemente das visões filosóficas que consideram o sonho como libertador da 
alma, da visão médica em que os sonhos seriam consequências inúteis de processos 
fisiológicos e das visões populares, o sonho como predição do futuro.
Freud afirma que no sonho se manifesta pelo conteúdo manifesto, apresentado de forma 
explícita, correspondendo a personagens, cenários e narrativas e, pelo conteúdo latente, 
que seria um fragmento inconsciente que sofre um trabalho do sonho, transformando-se 
em conteúdo manifesto.
O trabalho do sonho prioriza a expressão inconsciente sem comprometer seu conteúdo 
por uma interpretação consciente. Ou melhor, corresponde aos processos de:
1. deslocamento: substituição de um objeto latente por outro manifesto que 
mantenham relações entre si;
2. condensação: deslocamento e substituição de objetos latentes por um 
objeto manifesto que, em alguma medida, represente cada um dos objetos 
latentes;
3. disposição pictórica: fornece a escolha dos objetos do sonho a partir de 
restos diurnos recordação de vivências importantes; e
4. composição: após a formação do conteúdo, o sonho é recoberto por uma 
fachada narrativa, como uma amarração lógica. 
A interpretação dos sonhos na perspectiva psicanalítica é um rico instrumento de 
trabalho no decorrer das sessões por representar o acesso ao inconsciente. As sensações 
emocionais após o sonho consistem em nortes importantes para sua análise, já que o 
conteúdo mostra-se bastante variável e com muitos elementos.
Ao discorrer acerca da sexualidade infantil, nos Três Ensaios sobre a Sexualidade 
(1905), Freud indica envolver processos primários e desenvolve a teoria a partir do 
estudo da sexualidade infantil, incluindo as lembranças encobridoras que perpassam 
as fantasias como projeções a partir de um lugar vazio, poderiam muitas delas estar 
encobrindo lembranças de ordem sexual, o que causou espanto nos leitores de Freud 
ao debater o tema, nos primórdios da psicanálise. O assunto em questão precisaria 
estar relacionado ao movimento pulsional denominado sexual, o que ficou mais claro 
na medida em que Freud desenvolvia sua teoria. 
Em seguimento a isso, Freud propôs o desenvolvimento da libido em fases, onde há 
ênfase em uma zona erógena em detrimento das demais para satisfação da pulsão. 
18
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG
A fase oral que pode ocorrer entre 0 a 2 anos, teria como objeto de satisfação a boca, 
pela necessidade de alimentação, o bebê descobre o seio que, além de objeto para 
satisfação do instinto de fome, gera satisfação sensorial. Nessa fase não há um elemento 
intermediário entre o indivíduo e os outros. Considera-se que os atos de prazer 
envolvendo a oralidade tem sua origem no deslocamento da fase oral, como comer, 
beber, fumar e beijar.
A fase anal, que pode ocorrer dos 2 aos 5 anos, se inicia a partir do controle sobre os 
esfíncteres e as demandas que os pais fazem a partir disso. As fezes, dessa maneira, 
seria um objeto de comunicação entre os indivíduos e seus pais. O controle se torna não 
apenas dos esfíncteres, mas também do ambiente e da entrada e ou saída das emoções. 
A fase fálica, que pode ocorrer entre os 5 aos 10 anos aproximadamente, é marcada pelo 
autoconhecimento corporal, contato erótico com os genitais, satisfação masturbatória. 
No início, não há a necessidade de controle sobre o outro e a saída dessa fase é 
determinada pelo deslocamento da autossatisfação por algum objeto. 
A passagem pelas fases psicossexuais resultam no complexo de Édipo que possui papel 
estruturante e organizador psíquico e emocional para todo ser humano. 
A resolução edipiana acontece de forma distinta para o menino e para a menina. No caso 
do menino, a autossatisfação é acompanhada por uma identificação com o desejo 
do pai pela mãe. Havia previamente uma premissa fálica de que todos os indivíduos 
possuíssem pênis, que é quebrada pela observação das diferenças anatômicas entre os 
sexos. Nesse ponto, o objeto de desejo é deslocado de si para a mãe. Contudo, entra em 
jogo a figura do pai, que interdita o objeto libidinal de seu filho. O filho então vive uma 
relação de ambiguidade por seu pai, expressando um amor decorrente, entre outros, da 
identificação do filho com seu pai, mas também de ódio pelo fato de ambos competem 
pela mesma mulher. Na interdição da mãe, o filho cede ao complexo de castração 
representado pelo medo de ter o pênis castrado pelo pai e está então livre para deslocar 
seu desejo sexual para outro objeto ou outra mulher, ingressando na fase de latência. 
É por meio da interdição da mãe pelo pai que se funda o recalque, na teoria freudiana. 
E é por meio da resolução do complexo de Édipo que se funda a instância do superego, 
na segunda tópica, que consiste na segunda proposta acerca do funcionamento do 
aparelho psíquico elaborada por Freud. O superego é o herdeiro do complexo de Édipo. 
No caso da menina, a diferença anatômica entre os sexos é percebida e cria-se uma 
identificação com a mãe. Tendo sido castrada, ela passa a invejar o falo e observa como 
sua mãe lidou com a falta do mesmo, dirigindo-se ao seu objeto de desejo para o pai, 
detentor do falo, identificando-se com o objeto de desejo da mãe. A mãe realiza uma 
tentativa de interdição do pai, mas que não funciona como formação de recalque, 
19
FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG │ UNIDADE I
apenas como ponto de rivalidade entre ambas. É a partir do não paterno que a menina, 
então, desloca o objeto do pai para outro homem e entra na fase de latência.
Por fim, na fase genital, o prazer é deslocado da masturbação para o interesse na relação 
sexual com o outro. No garoto, pela busca da penetração em uma cavidade corporal 
que, friccionada com seu pênis ereto, gere prazer.
Como forma de ilustrar suas teorias sobre a sexualidade, Freud estuda o caso do 
pequeno Hans, na descrição de caso Análise de uma Fobia em um Menino de Cinco 
Anos (1909). Uma grande importância é dada a esse caso por ter sido o primeiro 
momento de intervenção psicanalítica sobre uma sintomatologia infantil. Hans foi 
aconselhado por seus pais, que liam e se interessava pela psicanálise, supervisionados 
por Freud posteriormente, pelo fenômeno da transferência, talvez Freud tivesse 
recriminado essa prática.
Em Além do Princípio do Prazer (1920), Freud retoma as conceituações que fez 
anteriormente acerca das pulsões sexuais ou pulsões de vida, como uma resposta 
homeostática frente a uma excitação psíquica. O alívio dessa excitação gera prazer, 
portanto as pulsões sexuais são determinadas pelo princípio do prazer. Contudo, dada 
a existência do princípio da realidade, nem todas as pulsões podem ser atendidas e 
poucas podem ser atendidas de forma plena. A não satisfação e/ou a não satisfação 
plena de uma pulsão geram desprazer.
Freud indicou, contudo, que existe um tipo de desprazer que não tem origem na privação 
de um prazer, mas constitui um desprazer em si, como um grupo de artistas encenando 
umdrama de traição, morte ou abandono, sendo regidos por um princípio diferente do 
princípio da realidade. Esse desprazer tem origem na pulsão de morte. 
A pulsão de morte segue o princípio da compulsão à repetição, que consiste em uma 
tendência de seus pacientes repetirem os mesmos eventos traumáticos e a quebra dessa 
dinâmica é recebida com resistência. 
Nas pulsões de morte, se dá uma nova explicação. Há uma substância inerte e inorgânica 
que sofre uma força de forma a tornar-se viva e orgânica – Freud afirma que a psicanálise 
não consegue explicar as características dessa força criadora. A partir dessa ação, existe 
uma força de reação contrária, de forma a transformar essa substância viva e orgânica 
em inerte e inorgânica, de volta ao estado inicial, através da morte do organismo. 
Por isso que, para descrever as pulsões de morte, Freud retoma Schopenhauer em 
sua constatação de que o sentido da vida é a morte. Em termos de funcionamento, 
as pulsões sexuais teriam como objetivo a autoconservação e desenvolvimento do 
indivíduo, enquanto que as pulsões de morte teriam como objetivo a autodestruição. 
20
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG
Freud afirma, contudo, que em termos estéticos, não há oposição entre as pulsões de 
vida e as pulsões de morte, mas convergência. Portanto, em toda ação pulsional estão 
atuando ambas as pulsões, integradas – em todas as ações pulsionais há sadismo e/ou 
masoquismo, que tanto se caracteriza por seguir o princípio de compulsão à repetição e 
de destruição, ou autodestruição, quanto ao princípio do prazer. 
No texto O Ego e o Id (1923), Freud propõe a Segunda Tópica do Aparelho Psíquico, 
já tendo estudado a dicotomia pulsional: pulsões de vida-morte, compreendendo as 
instâncias id, ego e superego ou ideal de ego. 
O id seria o motor do aparelho psíquico, que o movimenta e contém os instintos de vida 
e de morte, enviando uma integração deles para o ego. Por conta disso, o id seria uma 
instância puramente inconsciente e impulsiva.
O superego tem sua origem na resolução do complexo de Édipo. Por meio de identificação 
que o menino realiza com seu pai, e a menina com sua mãe, há introjeção de 
valores familiares e sociais. O superego seria uma instância modelo/espelho do ego, 
orientando-o, como o eixo condutor do aparelho psíquico. O superego, em outras 
palavras, assume a função do princípio de realidade por herança edípica. Essa instância 
possui porções conscientes e inconscientes.
O ego, por sua vez, seria a instância reguladora do aparelho psíquico, regulando as 
demandas do id com as ponderações e imposições do superego e, a realidade externa, 
portanto, também sendo orientado pelo princípio de realidade. O superego possui 
porções conscientes e inconscientes e essa regulação pode ser sintônica, havendo pouco 
ou nenhum endividamento do ego com as outras instâncias psíquicas, ou dissintônica. 
Tendo em mente a disseminação do movimento psicanalítico pelo mundo, em termos 
acadêmicos e na prática médica e temendo a desvirtualização da teoria, Freud escreve 
uma série de artigos sobre a técnica psicanalítica entre 1911 e 1915 visando orientar os 
profissionais da área da saúde que aplicavam o método interpretativo psicanalítico. 
Inclusive naquele momento, apenas os médicos podiam aplicar a psicanálise. 
Segue um breve relato de seis dos artigos de técnica trabalhados em aula e as principais 
contribuições de cada um deles:
“O Manejo da Interpretação dos Sonhos em Psicanálise” (1911): não se deve “escavar” o 
sonho em cada um de seus elementos mínimos, mas buscar pontos centrais e favorecer 
a livre-associação do paciente, para que o paciente possa realizar conexões, favorecendo 
o trabalho analítico. Dentro disso, falar sobre os aspectos periféricos dos sonhos podem 
favorecer uma resistência ao tratamento.
21
FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG │ UNIDADE I
“Recomendação aos Médicos que exercem Psicanálise” (1912): não se deve ater à 
reconstrução histórica dos eventos traumáticos do paciente, como se fazia no método 
Catártico, mas favorecer a livre-associação e buscar interpretar o paciente a partir 
disso. Deve-se ater também, não à realidade externa ao paciente, mas sua realidade 
interna. Nesse artigo, Freud trabalha também a Regra Fundamental da Psicanálise: o 
analista deve se abster da análise, servindo como uma tela em branco que chamou de 
“Atenção Flutuante”.
Quanto à formação em psicanálise, os profissionais deveriam passar por uma análise 
durante sua formação, realizar análises didáticas supervisionadas por um psicanalista 
formado, além de estudar a teoria. Freud também afirma a necessidade de se criar e 
manter regulamentado um instituto para formação em psicanálise, sendo o primeiro 
fundado em Viena em 1910.
Quanto ao setting analítico, ou seja, todo o enquadramento presente na relação 
médico-paciente: as sessões deveriam ser de 50 minutos, o paciente deveria estar 
deitado, relaxado, pois assim o paciente estaria em estado mais próximo ao onírico, 
favorecendo a livre-associação. E sem contato visual com o analista, o que auxilia a 
introspecção. As anotações do caso deveriam ser feitas após a sessão, pois a escrita na 
sessão interrompe a “atenção flutuante”.
“A Dinâmica Transferencial” (1912) e “Observações sobre o Amor Transferencial” (1915): 
a transferência seria o deslocamento provisório de afetos que um paciente tem em relação 
a figuras importantes de sua história para a figura do analista. Essa transferência pode 
ser positiva ou erotizada ou pode ser negativa. Nos casos de transferência, Freud afirma 
ser necessário que o analista o explicite ao paciente. Muitas vezes, por conta disso, o 
paciente pede conselhos ao analista, mas Freud afirma que eles não devam ser dados, 
ou seja, o analista deve apenas auxiliar o paciente a tomar suas próprias decisões. 
Nessa dinâmica transferencial, a “atenção flutuante” do analista também serviria para 
impedir a contratransferência, que seria o processo transferencial do analista pelo 
paciente que, para Freud, simplesmente não deveria existir. A regra geral, portanto, 
deveria ser a frustração da transferência.
“Sobre o Início do Tratamento” (1913): nesse momento, Freud acredita que a psicanálise 
deveria se voltar para o tratamento e a cura, só após 1930 considera que pode servir 
também para autoconhecimento. Nas primeiras sessões, o terapeuta deve estudar 
se há possibilidade de cura. Quanto ao pagamento, o analista não deve trabalhar de 
forma gratuita e, mesmo na falta do paciente, a consulta deve ser cobrada porque 
seria uma forma de combater a resistência e a transferência. Freud também afirma 
que os pacientes não devem comentar o seu tratamento com outras pessoas, porque 
prejudicaria a análise delas.
22
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG
“Recordar, Repetir e Elaborar” (1914): trabalha os conceitos de repetição da transferência, 
dos sonhos e das ações pulsionais, mesmo ainda não tendo elaborado o conceito de 
compulsão à repetição e as pulsões de morte. Freud considerava que a repetição era 
uma forma de resistência atuante. Essa repetição deve ser explicitada ao analisando.
23
CAPítulo 2 
o método psicanalítico
Após uma breve passagem pelos principais achados de Sigmund Freud, precursor da 
psicanálise, neste capítulo trataremos do método psicanalítico empregado por Carl 
Gustav Jung, ao passo que discutiremos suas principais contribuições.
“A minha história é a história de um inconsciente que se realizou”.
Carl Gustav Jung (1875-1961) era médico psiquiatra, foi um dos mais fecundos e 
importantes pensadores da psicologia contemporânea. Fortemente influenciado pela 
mitologia, filosofia e antropologia, desenvolveu, a partir da psicanálise freudiana, 
novos rumos, desviando o foco essencialmente psicossexual para uma visão mais geral, 
intuitiva e espiritual.
Jung sempre trabalhou a partir da sua intuição. Desde cedo, com seus sonhos e seu 
isolamento, demonstrava um profundo desejode compreender-se e à Humanidade. 
Sua vasta obra de valor inestimável e sua própria vida evidenciam a sua busca pelo seu 
“eu”, ou como ele chamava, a sua individuação.
Sua teoria começa junto à psicanálise, adotando o modelo topográfico de psique freudiano. 
Em contato constante com o mestre, Jung logo passou a discordar das ideias deste, 
embora tenha tido dificuldade para desligar-se completamente. 
Apenas com a confecção do último capítulo do livro Metamorfoses e Símbolos da 
Libido, de 1912, ele teve coragem de expor suas ideias a respeito do inconsciente, libido 
e papel da sexualidade. Para ele, o inconsciente não é apenas um depositário de velhas 
lembranças, traumas e experiências. 
Traz também algo novo, algo desconhecido e não vivido, que remonta à gênese da 
Humanidade, o que ele chamou de Inconsciente Coletivo. Ali, existiriam impressões 
trazidas da nossa história genética, do nosso passado. Todas as representações 
universais, mitológicas, os Arquétipos. A mãe, o pai, o herói, o mártir, Deus, e muitas 
outras manifestações humanas seriam considerados arquétipos, e estes arquétipos 
surgiriam, na análise, após o tratamento dos traumas considerados “normais”. 
A análise, para Jung, não termina com a resolução dos traumas de infância e vida adulta. 
Na verdade, ela começa quando o paciente entra em contato com seus arquétipos, onde 
ocorre o seu “despertar” existencial. Os sonhos, que foram o seu material de estudo 
para a elaboração de sua teoria do Inconsciente, são, para ele, processos normais da 
24
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG
economia psíquica, agindo como norteadores das atitudes, como a consciência no 
sentido de consciência moral.
Embora os arquétipos sejam representações individuais e que não se manifestam todos 
numa mesma pessoa, existem alguns que são universais, e que são o caminho para a 
individuação. São eles a persona, a Sombra, a Anima, o Animus e o Self. A persona é um 
estado do Eu relativo aos papéis sociais, as convenções, e comportamentos construídos 
com o intuito de adaptar-se às normas da sociedade. 
Para que possamos nos desenvolver, é preciso que saibamos nos diferenciar dessa 
máscara construída desde a infância, saber equilibrar suas atitudes individuais e as 
necessidades do papel social. 
A Sombra começa a surgir à medida que nos distanciamos da persona. Ela corresponde 
aos nossos complexos reprimidos, ou seja, as nossas fraquezas, defeitos, aspectos em 
nós mesmos que não gostamos, enfim, à parte do nosso Eu que fica escondida sobre a 
máscara social. Fácil fica perceber que ela é correspondente ao inconsciente psicanalítico, 
e que o desenvolvimento do indivíduo consiste em superar esses complexos, evoluir as 
qualidades que ficaram reprimidas por tanto tempo. 
Anima e Animus são os arquétipos dos gêneros. Anima é a parte feminina presente em 
todos os homens, enquanto que Animus é a parte masculina das mulheres. São atitudes 
predominantes de um sexo que estão presentes no outro, e que, em maior ou menor 
grau, influenciam nas atitudes. O desenvolvimento consiste em saber diferenciar esse 
lado para que ele melhor se manifeste, seja consciente ou inconscientemente. O Self 
é o arquétipo central. Ele organiza e rege o organismo psíquico. À medida em que 
nos desenvolvemos, ou “individuamos”, o centro controlador da personalidade passa 
do Ego para o Self. Jung pesquisou representações simbólicas do Self em inúmeras 
culturas, em todos os continentes.
Na sua obra Tipos Psicológicos (1920), Jung relaciona as duas principais atitudes 
presentes no sujeito. A Introversão e a Extroversão. São como “formas de encarar o 
mundo”, atitudes perante as coisas e à vida em geral. Os introvertidos agem de forma mais 
contida, “como se obedecessem a um ‘Não’ inaudível”, como dizia o próprio Jung. São 
mais contidos e pensam antes de agir. Já os extrovertidos têm uma atitude mais imediata, 
como se estivessem convencidos de que a sua primeira atitude é sempre a correta. 
Porém, mesmo entre uma mesma atitude, existem diferenças de comportamento e 
perspectiva. Jung postulou então, que deveria haver outros fatores, mais específicos, do 
que as duas atitudes principais, para nortear as relações das pessoas. Desenvolveu então 
as funções psíquicas. São elas o sentimento, a sensação, o pensamento e a intuição. 
25
FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG │ UNIDADE I
Cada pessoa tende a reagir de acordo com a função que for mais desenvolvida em si, 
como um hábito forjado tanto pela hereditariedade quanto pelo meio social. 
Muito embora essa visão pareça, à primeira vista, redutiva e classificatória, Jung sempre 
deixou claro que ela é apenas descritiva, e que não encerra nenhuma verdade absoluta 
aplicável a todos os seres humanos. Pensamento e Sentimento são opostos entre si; são 
funções racionais, pois se relacionam a julgamentos e análises do objeto em questão. 
Sensação e Intuição são também opostas entre si; porém, são funções irracionais, pois 
não envolvem julgamento ou análise do objeto. Dessa relação entre as funções e as 
atitudes primárias, temos oito tipos psicológicos básicos: o pensamento extrovertido, 
pensamento introvertido, sentimento extrovertido, sentimento introvertido, sensação 
extrovertida, sensação introvertida, intuição extrovertida e intuição introvertida. 
Cada um possui características comuns e próprias, que o definem, mas não o limitam, 
como Jung sempre deixa claro.
Enfim, tal como qualquer pensador, seja moderno ou antigo, Jung não tem começo e 
nem fim. É um fluxo constante de conhecimento, uma tentativa solitária mais belíssima 
de livrar-se da castração pseudo-místico-científica que se tornou a psicanálise. Pena é 
que seus discípulos parecem seguir o mesmo caminho dos de Freud.
Figura 1. Carl Gustav Jung.
Fonte: <http://pedagogiaaopedaletra.com/resenha-carl-gustav-jung/>
http://pedagogiaaopedaletra.com/wp-content/uploads/2012/03/CGjung.jpg
26
CAPítulo 3 
A natureza do inconsciente
Serão definidos neste capítulo alguns conceitos da teoria analítica junguiana evocando 
a natureza do inconsciente na psicologia analítica de Carl Gustav Jung (JUNG, 1964, 
1975, 1991, 2000, 2012).
A consciência pode ser definida como função ou atividade que mantém a relação 
entre os conteúdos psíquicos e o ego, enquanto puderem assim ser entendidas pelo 
ego. Relações com o ego, porém não percebidas pelo mesmo, são inconscientes. 
Jung distingue conceitualmente consciência de psique, sendo que esta engloba tanto 
a consciência quanto o inconsciente:
Consciência não é a mesma coisa que psique, pois a psique representa 
o conjunto de todos os conteúdos psíquicos; estes não estão todos 
necessariamente vinculados ao eu (ego), isto é, relacionados de tal 
forma com o eu que lhes caiba a qualidade de conscientes. Existe uma 
boa quantidade de complexos psíquicos que não estão necessariamente 
vinculados ao eu (JUNG, 2000).
Na concepção junguiana da psique, a consciência individual é uma superestrutura que 
tem por base e origem o inconsciente. Além disso, não há consciência sem discriminação 
de opostos.
O ego é o centro da consciência, ou o complexo central no campo da consciência, como 
afirma JUNG (1991),
Entendo o “eu” como um complexo de representações que constitui para 
mim o centro de meu campo de consciência e que me parece ter grande 
continuidade e identidade consigo mesmo. Por isso, falo também de 
complexo do eu. O complexo do eu é tanto um conteúdo quanto uma 
condição da consciência, pois um elemento psíquico me é consciente 
enquanto estiver relacionado com o complexo do eu. Enquanto eu 
for apenas o centro do meu campo consciente, não é idêntico ao todo 
da minha psique, mas apenas um complexo entre outros complexos. 
Por isso distingo entre eu e si-mesmo. O eu é o sujeito apenas da minha 
consciência, mas o si-mesmo é o sujeito do meu todo, também da psique 
inconsciente. Neste sentido o si-mesmo seria uma grandeza (ideal) que 
encerraria dentro dele o eu (p.406).27
FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG │ UNIDADE I
Jung observou ainda que o conhecimento da personalidade egoica, muitas vezes, 
confunde-se com o conhecimento do self (si-mesmo). Dessa forma, uma pessoa que 
possua alguma consciência de sua identidade de ego, pode achar que conhece a si 
mesma de maneira completa, quando na verdade, o ego conhece apenas seus próprios 
conteúdos, e não o material psíquico real provindo do inconsciente, desconhecido pelo 
sujeito (SHARP, 1991).
Em relação ao inconsciente, Jung considera que se trata da totalidade dos 
fenômenos psíquicos, destituídos da qualidade de consciência. Teoricamente é 
impossível fixar limites no campo da consciência, uma vez que ela pode estender-se 
indefinidamente. Empiricamente, o inconsciente sempre atinge seus limites, ao 
atingir o desconhecido. Este último é constituído por tudo aquilo que ignoramos, 
por aquilo que não tem qualquer relação com o eu, centro dos campos de consciência 
(JUNG, 1975). 
O inconsciente é, ao mesmo tempo, vasto e inexaurível. De fato vai além do 
desconhecido ou de um depósito de pensamentos e emoções conscientes que foram 
reprimidos. Inclui os conteúdos que podem ou que irão se tornar conscientes. 
Ou melhor, o inconsciente é a fonte de todas as forças instintivas da psique e encerra 
as formas ou categorias que as regulam, quais sejam precisamente os arquétipos 
(JUNG, 2000; SHARP, 1991).
Além disso, Jung aponta a necessidade de se acrescentar ao conceito de inconsciente 
o sistema psicoide, que não é capaz de se tornar consciente, e do qual apenas temos 
algum conhecimento indireto, quando por exemplo, pesquisamos o relacionamento 
entre matéria e espírito.
Como afirma Jung (2000),
Assim definido, o inconsciente retrata um estado de coisas extremamente 
fluido: tudo o que eu sei, mas em que não estou pensando no momento; 
tudo aquilo que um dia eu estava consciente, mas de que atualmente 
estou esquecido; tudo o que meus sentidos percebem, mas minha mente 
consciente não considera; tudo o que sinto, penso, recordo, desejo e faço 
involuntariamente e sem prestar atenção; todas as coisas futuras que se 
formam dentro de mim e somente mais tarde chegarão à consciência; 
tudo isto são conteúdos do inconsciente (p. 123).
Tal como Freud, Jung usa o termo inconsciente tanto para descrever conteúdos 
psíquicos que estão fora do campo de acesso do ego, como para delimitar um lugar 
psíquico com seu caráter, suas leis e funções próprias (SAMUELS, 1998).
28
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG
Jung (2000) define a existência de um relacionamento funcional compensatório entre 
a consciência e o inconsciente ao afirmar que
De acordo com a experiência, o processo inconsciente traz à luz material 
subliminal constelado pela situação da consciência, portanto todos 
aqueles conteúdos que não poderiam faltar no cenário consciente, 
se tudo fosse consciente. A função compensatória do inconsciente se 
manifesta com tanto maior clareza quanto mais unilateral for a atitude 
consciente; e disso dá muitos exemplos a patologia (p.426). 
Com relação à natureza dos conteúdos do inconsciente, Jung propôs uma classificação 
geral que distingue um inconsciente pessoal que engloba todas as aquisições da 
existência pessoal, denominado como “o esquecido”, “o reprimido”, “o subliminalmente 
percebido”, “pensado e sentido”, e ao lado desses, a existências de outros conteúdos que 
não provêm das aquisições pessoais, mas da possibilidade hereditária do funcionamento 
psíquico em geral. Ou seja, conteúdos que provém da estrutura cerebral herdada que são 
as conexões mitológicas, os motivos e imagens que podem nascer de novo, a qualquer 
tempo e lugar, sem tradição ou migração históricas. Jung denominou esses conteúdos 
como pertencentes ao inconsciente coletivo (JUNG, 2000), uma camada mais profunda 
da psique, onde encontramos os instintos e os arquétipos.
Se por um lado, essa divisão é válida teoricamente, por outro lado essas duas camadas 
do inconsciente não devem ser entendidas como divisões estanques. Como os conteúdos 
do inconsciente coletivo exigem o envolvimento de elementos do inconsciente pessoal 
para sua manifestação no comportamento, os dois tipos de inconscientes são, portanto, 
indivisíveis (SAMUELS, 1998). No entanto, são conceitos funcionais na prática. 
Vale acrescentar a essa discussão mais alguns pontos acerca do inconsciente pessoal 
e do inconsciente coletivo. 
O inconsciente pessoal é a camada pessoal ou individual do inconsciente que contém 
memórias perdidas, ideias dolorosas reprimidas, percepções subliminares consideradas 
percepções dos sentidos que não são suficientemente fortes a ponto de atingir a 
consciência. Além de conteúdos que ainda não estão maduros para a consciência 
(SHARP, 1991). Também é considerada como psique subjetiva.
O inconsciente coletivo é uma camada estrutural da psique humana, mais profunda do 
que o inconsciente pessoal, que contém elementos herdados, ou seja, os instintos e os 
arquétipos. Também é considerada como psique objetiva.
Sobre o inconsciente, Jung (1975) afirma que os conteúdos do inconsciente pessoal 
são parte integrante da personalidade individual e poderiam, pois, ser conscientes. 
Os conteúdos do inconsciente coletivo constituem como uma condição ou base da 
29
FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG │ UNIDADE I
psique em si mesma, condição onipresente, imutável, idêntica a si própria em toda 
parte (JUNG, 1975). 
Neste sentido, Sharp (1991) adiciona que
Encontramos também no inconsciente propriedades que não foram 
adquiridas individualmente; foram herdadas, assim como os instintos 
e os impulsos que levam à execução de ações comandadas por uma 
necessidade, mas não por uma motivação consciente. Nesta camada 
“mais profunda” da psique encontramos os arquétipos. Os instintos e 
os arquétipos constituem, juntos, o inconsciente coletivo. Eu o chamo 
coletivo porque, ao contrário do inconsciente pessoal, não é constituído 
de conteúdos individuais, mais ou menos únicos e que não se repetem, 
mas de conteúdos que são universais e aparecem regularmente (p.89).
Jung define a psique como uma totalidade de todos os processos psicológicos, tanto 
conscientes quanto inconscientes. E arquétipos como padrões potenciais inatos de 
imaginação, pensamento ou comportamento que podem ser encontrados nos seres 
humanos em todos os tempos e lugares, e constituem junto com os instintos, os 
elementos primordiais e estruturais da psique (STEIN, 1998; SHARP, 1991).
Conforme, a concepção junguiana, os arquétipos são sistemas de prontidão para a 
ação e, ao mesmo tempo, imagens e emoções (SHARP, 1991). São herdados junto com 
a estrutura cerebral por constituírem, de fato, o seu aspecto psíquico. Não se tratam 
de “ideias herdadas”, mas da “possibilidade” herdada das mesmas. Os arquétipos se 
apresentam como ideias e imagens, da mesma forma que tudo o que se torna conteúdo 
da consciência. Sobre isso, JUNG (1975) esclarece que,
É muito comum o mal-entendido de considerar o arquétipo como 
algo que possui um conteúdo determinado; em outros termos, faz-se 
dele uma espécie de “representação” inconsciente, se assim se pode 
dizer. É necessário sublinhar o fato de que os arquétipos não têm 
conteúdo determinado; eles só são determinados em sua forma e 
assim mesmo em grau limitado. Uma imagem primordial só tem um 
conteúdo determinado a partir do momento em que se torna consciente 
e é, portanto, preenchida pelo material da experiência consciente. 
Poder-se-ia talvez comparar sua forma ao sistema axial de um cristal 
que preconfigura, de algum modo, a estrutura cristalina na água-mãe, 
se bem que não tenha por si mesmo qualquer existência material. 
Esta só se verifica quando os íons e moléculas se agrupam de uma 
suposta maneira. O arquétipo em si mesmo é vazio; é um elemento 
30
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG
puramente formal, apenas uma facultas praeformandi(possibilidade 
de preformação), forma de representação dada a priori. As representações 
não são herdadas; apenas suas formas o são (p.76). 
Considera-se na teoria junguiana que os arquétipos são, por definição, fatores e motivos 
que ordenam os elementos psíquicos em determinadas imagens, caracterizadas como 
arquetípicas, mas de tal modo que podem ser reconhecidas somente pelos efeitos que 
produzem. Jung (1975) afirma que 
O conceito de arquétipo deriva da observação reiterada de que os mitos 
e os contos da literatura universal encerram temas bem definidos que 
reaparecem sempre e por toda parte. Encontramos esses mesmos temas 
nas fantasias, nos sonhos, nas ideias delirantes e ilusões dos indivíduos 
que vivem atualmente. A essas imagens e correspondências típicas, 
denomino representações arquetípicas. Quanto mais nítidas, mais são 
acompanhadas de tonalidades afetivas vívidas. Elas nos impressionam, 
nos influenciam, nos fascinam. Têm sua origem no arquétipo que, em 
si mesmo, escapa à representação, forma preexistente e inconsciente 
que parece fazer parte da estrutura psíquica herdada e pode, portanto, 
manifestar-se espontaneamente sempre e por toda parte (p.79). 
Jung observa que não devemos entregar-nos à ilusão de que finalmente poderemos 
explicar um arquétipo e assim “liquidá-lo”. A melhor tentativa de explicação não será 
mais do que uma tradução relativamente bem-sucedida, num outro sistema de imagens 
(JUNG, 1975). 
Para psicologia junguinana, de uma maneira geral, destaca-se o equilíbrio entre os 
processos conscientes e inconscientes, além do aperfeiçoamento constante entre eles. 
Utiliza o termo individuação para definir o processo de desenvolvimento pessoal que 
inclui o estabelecimento de uma conexão entre o ego enquanto centro da consciência e 
self, centro da psique total (FADIMAN; FRAGER, 1986). 
O Self é o arquétipo central da ordem, da totalidade do homem. É o centro regulador 
da psique, e ao mesmo tempo o poder transpessoal que transcende o ego. Como 
conceito empírico designa o âmbito total de todos os fenômenos psíquicos no homem. 
Expressa a unidade e totalidade da personalidade global. Mas devido à sua participação 
inconsciente, só pode ser consciente em parte, razão pela qual o conceito de si-mesmo 
engloba o experimentável e o ainda não experimentado.
Para Jung (1991), o si-mesmo é uma realidade “sobreordenada” ao eu consciente. 
Abrange a psique consciente e a inconsciente, constituindo por esse fato uma personalidade 
mais ampla, que também somos. Por mais consideráveis e extensas que sejam as 
31
FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG │ UNIDADE I
paisagens interiores e os setores apreendidos pela consciência, não desaparecerá a 
massa imprecisa e uma soma desconhecida de inconsciência, que também faz parte 
integrante da totalidade do si-mesmo.
Outro ponto relevante refere-se à interpretação dos sonhos, Jung discordou da forma 
como Freud os interpretava, apesar de reconhecer seu mérito pela eficiência científica 
das descobertas da abertura do inconsciente presente no conteúdo onírico.
O papel e a importância do sonho enfatizado por Freud conduziu Jung ao estudo do 
sonho a um nível mais alto. Para ele, o sonho é sempre um despertar do inconsciente 
em que formas que não foram conscientes acabam por emergir. Freud dizia que essas 
imagens eram “resíduos arcaicos”, porém Jung rejeitava essa expressão. Para ele, essas 
imagens primitivas tinham muita importância uma vez que podiam ser observadas 
em todas as partes do mundo. Não eram “resíduos”, mas tinham conteúdos valiosos. 
Jung não se surpreendeu quando via a reação de pacientes europeus e esclarecidos 
ficarem assustados com o aparecimento dessas formas primitivas enquanto que para 
um homem “primitivo”, com que ele conviveu na África, esse fenômeno era algo comum. 
Para Jung, o sonho era “um sopro da natureza” que tinha uma função compensadora. A 
mente não é no pensamento junguiano uma “folha em branco”, mas sim um reservatório 
de imagens coletivas que o homem acumulou desde eras primitivas quando a psique do 
homem e do animal andavam juntas. 
Pelo fato de o arquétipo não ter origem conhecida, por meio da análise dos sonhos 
de alguns pacientes angustiados com essas imagens primitivas, Jung os tranquilizava 
mostrando a eles como seus sonhos nada mais eram que uma ocorrência no mundo 
atual de imagens arquetípicas de tempos imemoriais. Jung acreditava e defendia que os 
antigos espíritos que tomavam posse do homem primitivo ainda existem. Essas forças 
do irracional ainda não estão sob o controle da consciência e o homem moderno não 
consegue controlá-las. Jung considera que o verdadeiro perigo está na presença de 
muitos elementos do consciente apresentarem-se como inconscientes. Isso se deve, 
segundo ele, ao fato de esses elementos terem sido reprimidos. 
Em relação à prática clínica junguiana, cabe ao psicólogo descobrir o que o paciente 
gosta ou teme. 
Um último ponto relevante para a compreensão da perspectiva junguiana reside no 
ponto em que se contrapõe a teoria freudiana. A concepção de Freud acerca da origem 
da repressão residir em traumas sexuais e o interesse pelos fenômenos mitológicos, 
espirituais e ocultos, os fizeram romper definitivamente em 1912, quando Jung publicou 
seu estudo sobre a transformação dos símbolos (FADIMAN; FRAGER, 1986). 
32
unidAdE ii
FundAMEntoS dA 
PSiCAnáliSE dE 
WinniCott
Nesta Unidade trataremos do percurso pessoal e profissional de Donald Woods 
Winnicott, bem como sues principais conceitos e contribuições à Psicanálise.
Figura 2. Donald Woods Winnicott. 
Fonte: <http://psicologandonanet.blogspot.com.br/2008/03/teorias-de-desenvolvimento-winnicott.html>
Donald Woods Winnicott, nasceu em 7 de abril de 1896, em uma família metodista em 
Plymounth, na Inglaterra. Graduou-se em medicina, especializou-se em pediatria, e 
mais tarde, em psicanálise, ele desenvolveu o interesse entre a relação entre mãe e filho.
Por ter o dom de falar bem, ele realizou incontáveis palestras e aulas, sendo convidado 
para expor suas ideias em público frequentemente, além de passar horas no trabalho 
clínico. No fim da Segunda Guerra Mundial, suas palestras foram transformadas 
em folhetos.
Entre 1939 e 1962, Winnicott participou de cerca de 50 programas de rádio, convidado 
pela BBC, para falar com pais e mães sobre diversos assuntos, como conselhos, adoção, 
ciúmes, filho único e presença do pai na educação dos filhos. Até hoje, muitas pessoas 
ficam maravilhadas de ver a capacidade que o psicanalista tinha em compreender 
as crianças.
Além de escrever muitos livros, Winnicott tinha uma mania na qual não conseguiu se 
libertar: escrever cartas. Ele escrevia cartas para tudo e para todos. Todas as palestras 
que seus colegas de trabalho ministravam, escrevia uma carta de congratulações. 
Quando faleceu, sua esposa divulgou muitas cartas inéditas que podem ser lidas em 
português no livro “O Gesto Espontâneo”.
33
Fundamentos da Psicanálise de Winnicott │ unidade ii
Neste livro, aliás, consta uma preocupação de Winnicott referente à política de conciliação 
da Inglaterra com a Alemanha de Hitler. Winnicott interpelava o Primeiro Ministro da 
Inglaterra sobre suas posições democráticas.
No seu percurso profissional e acadêmico, Winnicott foi, por duas vezes, presidente da 
Sociedade Britânica de Psicanálise.
Para compreender a rica contribuição do autor à teoria e técnica psicanalítica, 
percorreremos seus conceitos fundamentais de forma analítica.
Com foco na constituição psíquica, o ser humano, ao nascer, depende totalmente do cuidado 
do outro para se desenvolver e construir sua existência no mundo. As aprendizagens 
e vivências primordiais modelam a forma de ser e existir do ser humano como sujeito 
que, em diferentes contextos, absorve e é absorvido por experiências e vivências que 
favorecem ou não sua constituição como sujeito e sua diferenciação frente aos outros 
(WINNICOTT, 1990).
O sujeito para se constituirnecessita da presença de outro ser humano já constituído, 
para se desenvolver a partir dessas relações primordiais. Pensar o sujeito nessa 
perspectiva nos impõe pensar em alguém instituído em uma família representada pelas 
funções materna e paterna, ordem primordial da organização social. Porém, para que 
o sujeito seja representado e represente sua família, existem mecanismos psíquicos 
e emocionais reguladores e possibilitadores dessa condição, tanto individual quanto 
socialmente instituídos (WINNICOTT, 1999).
O sujeito, desde seu nascimento, estabelece relações afetivas e sociais essenciais para 
o seu desenvolvimento. As condições internas e externas ao sujeito para lidar com 
as situações da vida remetem-nos à sua constituição orgânica, psíquica, emocional 
e social, inerente a todos os seres humanos. Winnicott (1999) defende que, quando 
o estabelecimento dessas relações é satisfatório, ou seja, ocorreu em um ambiente 
familiar e social favorável, o sujeito passa a desenvolver suas principais capacidades 
emocionais, determinando, assim, a forma de lidar com diversas circunstâncias no 
decorrer de sua vida. 
Essas capacidades proporcionam o sentimento de confiança e pertencimento e instauram 
referências internas dessas relações, possibilitando o desenvolvimento de espaço 
interno e diferentes formas de lidar também com frustrações ou sentimentos 
adversos, resultado de um desenvolvimento favorável e satisfatório. No entanto, a 
impossibilidade do desenvolvimento favorável, quando existem dificuldades psíquicas 
e emocionais desde a relação mãe e bebê, pode instaurar o que Winnicott denominou 
como tendências antissociais, que assumem esse lugar, impossibilitando o sujeito de 
34
UNIDADE II │ FUNDAmENtos DA PsIcANálIsE DE WINNIcott
lançar mão de outras formas de lidar com sentimentos e emoções advindos de situações 
vivenciadas, por não possuírem internamente espaço para isso.
As tendências antissociais, nas palavras de Winnicott (1999), permeiam atos delinquentes 
nos adolescentes e possíveis crimes na idade adulta, advindos do desenvolvimento 
desfavorável, ou seja, em ambiente familiar e social insuficiente. Essa tendência é observada 
quando ocorrem dificuldades psíquicas e emocionais nas relações primordiais que 
obstruem o crescimento e o desenvolvimento de condições para vivenciar sentimentos 
e emoções, restando à atuação disso em detrimento de pensamentos. Nesse sentido, 
sustenta-se a intolerância frente a sentimentos adversos como angústia, segurança, 
medo, sentimento de culpa, o que culmina na atuação dos mesmos, por não haver 
recursos para vivenciá-los e tolerá-los internamente como pensamento (BION, 1991).
A tendência antissocial apresenta-se em sua funcionalidade análoga à ausência de 
abstração e representação mental proposta por Bion (1991), que inviabiliza o pensar, 
os pensamentos e o aprender com a experiência. Além disso, pode estar presente na 
conjugação psíquica e emocional que elegem inconscientemente o uso de drogas como 
resolução externa de conteúdos internos.
Por outro lado, a tendência antissocial, ao passo que indica desenvolvimento desfavorável, 
apresenta-se como possibilidade de restauração, representando a esperança em obter 
do meio externo a continência de pulsões. Indica, a partir disso, invocar possíveis 
caminhos para alguma reversão da mesma, mas para isso é necessário ser devidamente 
reconhecida pelo contexto (KLEIN, 1996). 
A recusa da percepção desses aspectos pode inviabilizar uma forma mais adequada de 
acolhimento, principalmente quando é delegada em dicotomia ao sujeito e ao social. 
Em relação ao sujeito envolvido com a Justiça por uso de drogas, o olhar que circula 
suas experiências pode ampliar a forma como ele é percebido e se percebe nesse cenário, 
ainda mais quando invoca questões emocionais implicadas individual e socialmente. 
Winnicott (1999) aponta a tendência antissocial como indicadora de uma esperança e 
considera que a não percepção dessa esperança e o manejo inadequado dessa situação 
perpassam as intolerâncias humanas, sendo esse momento, muitas vezes, desperdiçado 
e esvaziado. 
Dessa forma, há uma relação direta entre a privação emocional de certas características 
essenciais das relações primordiais e a tendência antissocial, sendo algumas atitudes de 
tendência antissocial, uma tentativa de restauração, desvendando a esperança expressa 
em atos. Assinalamos, nesse sentido, a importância das relações primordiais de todo ser 
humano, por um lado, por influenciar as principais capacidades humanas, e, por outro lado, 
por instaurar vivências basilares que demarcam as relações sociais e afetivas do sujeito.
35
Fundamentos da Psicanálise de Winnicott │ unidade ii
Retomando as relações primordiais, em especial as presentes na privação, faz-se 
necessário que haja entre a mãe e o bebê uma relação que proporcione adequadamente 
a privação e a satisfação, atendendo as necessidades do bebê e permitindo que possa 
conseguir aturar certa privação, cabendo então à mãe adaptar-se a essa flexibilidade e 
conduzi-la. Ou seja, ser a mãe suficientemente boa indicada pela teoria winnicottiana, 
que sustenta a frustração tanto quanto ensina seu bebê a sustentá-la. Essa mãe 
necessariamente reúne internamente essas vivências e poderá operacionalizá-las na 
relação com seu bebê. Caso contrário, empenhando-se em atender as demandas do 
bebê, sem proporcionar condições para lidar com a frustração, poderá incitar desajustes 
e sofrimentos psíquicos e emocionais, além da impossibilidade de aprender a lidar com 
a frustração ao longo da vida (WINNICOTT, 2001, 2002).
A importância desse período inicial das relações humanas deve ser sempre destacada 
e tida como fundante e constitutiva do sujeito. A vivência de acolhimento em tenra 
idade institui possibilidades constitutivas do sujeito. A ausência ou insuficiência dessa 
vivência impõe um trânsito de sentimento desgovernado, gerando a voracidade como 
resposta ao vivenciado. Essa voracidade é a precursora de uma busca desenfreada 
daquilo que não fora internalizado e atualizado nas relações sociais, o que não fora 
acolhido apropriadamente. A voracidade, a desarrumação, a enurese e a destrutividade 
compulsiva podem ser manifestações da reação à privação e de uma tendência antissocial 
(WINNICOTT, 1999).
Entretanto, de acordo com Winnicott (1999), na base da tendência antissocial, está uma 
experiência inicial boa que fora perdida. Num ambiente favorável, a criança produz 
tentativas de amar, percebe a situação externa a ela e testa o ambiente de diversas 
formas, buscando fornecer e preservar o objeto que deve ser buscado e encontrado. 
Por meio da percepção de uma nova situação de elementos confiáveis, experimentando o 
impulso de busca do objeto, incentiva o ambiente a se organizar para tolerar a frustração 
e ainda testa a capacidade do ambiente de suportar a agressão e impedir ou reparar a 
destruição. A criança pode se situar de forma diferenciada ou pode continuar sua busca 
por objetos substitutos em lugar do vivenciado como ausente, mediante rupturas das 
normas sociais, ou até mesmo de atos de destruição (KLEIN, 1996; FERRO, 2005).
O reconhecimento do elemento positivo da tendência antissocial visa fornecer e preservar 
o objeto que deve ser buscado e encontrado e consiste na percepção da esperança que 
se instala nesse momento, quando há o manejo adequado dessa situação por parte 
dos pais, das autoridades, do Estado e da sociedade. A percepção do que um indivíduo 
pretende dizer com uma ação, que muitas vezes é interpelada de forma violenta e obscura 
pelo social, poderia revelar um convite a um caminho a ser trilhado em conjunto, para 
resgatar o sujeito que dali tenta se sobressair (WINNICOTT, 1999).
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UNIDADE II │ FUNDAmENtos DA PsIcANálIsE DE WINNIcott
Para o autor a criança percebe de maneira desorganizada os diferentes estímulos 
provenientes do exterior e necessita de apoio emocional para compreendê-los. O bebê 
nasce com uma tendência para o desenvolvimentoe a tarefa da mãe é oferecer um suporte 
adequado para que as condições inatas alcancem um desenvolvimento satisfatório.
Figura 3. Holding. 
Fonte: <http://www.lussuosissimo.com/tag/festa-della-mamma/>
Para Winnicott (2001) a sustentação ou holding protege contra a afronta fisiológica 
presente nos primeiros meses de vida. O holding deve levar em consideração a sensibilidade 
epidérmica da criança, presente no tato, temperatura, sensibilidade auditiva, sensibilidade 
visual, sensibilidade às quedas. Assim como o fato de que a criança desconhece a 
existência de tudo o que não seja ela própria. Inclui toda a rotina de cuidados ao longo 
do dia e da noite. A sustentação compreende não apenas o fato físico de sustentar a 
criança nos braços e os cuidados essenciais, mas principalmente emocionalmente que 
constitui uma forma de amar. A mãe funciona como um ego auxiliar.
O autor (1998) propõe que, durante os últimos meses de gestação e primeiras semanas 
posteriores ao parto, produz-se na mãe um estado psicológico especial, ao qual chamou 
de “preocupação materna primária”. A mãe adquire graças a esta sensibilização, uma 
capacidade particular para se identificar com as necessidades do bebê e atendê-las.
O holding efetuado pela mãe é o fator que decide a passagem do estado de não integração, 
que caracteriza o recém-nascido, para a integração posterior. O vínculo entre a mãe e 
o bebê assentará as bases para o desenvolvimento saudável das capacidades inatas do 
indivíduo (WINNICOTT, 2001, 1998).
37
Fundamentos da Psicanálise de Winnicott │ unidade ii
O ser humano, para Winnicott (1983, 1990, 1998) nasce como um conjunto 
desorganizado de pulsões, instintos, capacidades perceptivas e motoras que conforme 
progride o desenvolvimento vão se integrando, até alcançar uma imagem unificada de 
si e do mundo externo. O papel da mãe é prover o bebê de um ego auxiliar que lhe 
permita integrar suas sensações corporais, os estímulos ambientais e suas capacidades 
motoras nascentes.
Neste sentido, quando a mãe não fornece a proteção necessária ao frágil ego do 
recém-nascido, a criança perceberá esta falha ambiental como uma ameaça à sua 
continuidade existencial, a qual, por sua vez, provocará nela a vivência subjetiva de 
que todas as suas percepções e atividades motoras são apenas uma resposta diante do 
perigo a que se vê exposta. Pouco a pouco, procura substituir a proteção que lhe falta 
por uma “fabricada” por ela. O sujeito vai se envolvendo em uma casca, à custa da qual 
cresce e se desenvolve o self. O indivíduo vai se desenvolvendo como uma extensão da 
casca, como uma extensão do meio atacante, através de um falso self protetivo.
Winnicoot (1998, 2001) afirma que a “mãe suficientemente boa” é a que responde a 
onipotência do lactante e, de certo modo, dá-lhe sentido. O “self verdadeiro” começa 
a adquirir vida, por meio da força que a mãe, ao cumprir as expressões da onipotência 
infantil, dá ao ego incipiente da criança. A mãe que “não é suficientemente boa” é incapaz 
de cumprir a onipotência da criança, pelo que repentinamente deixa de responder ao 
gesto da mesma, em seu lugar coloca o seu próprio gesto, cujo sentido depende da 
submissão ou acatamento do mesmo por parte da criança. Esta submissão constitui 
a primeira fase do self falso e é própria da incapacidade materna para interpretar as 
necessidades da criança.
O falso self age como uma defesa ao verdadeiro self, a quem protege sem substituir. 
Nos casos mais graves, o self falso substitui o real e o indivíduo. Winnicott (1998, 2001) 
afirma que o falso self pode se encontrar representado por toda a organização da atitude 
social cortês e bem educada. Produziu-se um aumento da capacidade do indivíduo para 
renunciar a onipotência e ao processo primário, em geral, ganhando assim um lugar na 
sociedade que jamais se pode conseguir manter mediante unicamente o verdadeiro self. 
O falso self, especialmente quando se encontra no extremo mais patológico da escala, é 
acompanhado geralmente por uma sensação subjetiva de vazio, futilidade e irrealidade. 
Outro conceito importante é o objeto transicional que representa a primeira posse 
“não-ego” da criança, têm um caráter de intermediação entre o seu mundo interno e 
externo. Winnicott (1999, 2000) aponta que o conceito de objeto ou fenômeno transicional 
recebe três usos diferentes: um processo evolutivo, como etapa do desenvolvimento; 
vinculada às angústias de separação e às defesas contra elas; representando um espaço 
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UNIDADE II │ FUNDAmENtos DA PsIcANálIsE DE WINNIcott
dentro da mente do indivíduo. Ele propõe ainda que em determinadas condições, o 
fenômeno ou objeto transicional pode ter uma evolução patológica, ou mesmo se associar 
a certas condições insatisfatórias.
O objeto transicional é algo que não está definitivamente nem dentro nem fora da 
criança. Poderá servir para que o sujeito possa experimentar com essas situações, e 
para ir demarcando seus próprios limites mentais em relação ao externo e ao interno. 
Como se o objeto transicional estivesse situado em uma zona intermediária, na qual 
a criança se exercita na experimentação com objetos, mesmo que estejam fora, sente 
como parte de si mesma (BLEICHMAR; BLEICHAMAR, 1992).
Para explicar a constituição do objeto transicional, Winnicott (1998, 2000, 2001) 
remonta ao primeiro vínculo da criança com o mundo externo, a relação com o seio 
materno. No princípio, a criança tem uma ilusão de onipotência, vivenciando o seio 
como sendo parte do seu próprio corpo. Mas, uma vez alcançada esta onipotência 
ilusória, a mãe deve idealmente, ir desiludindo a criança, pouco a pouco, fazendo com 
que o bebê adquira a noção de que o seio é uma “possessão”, no sentido de um objeto, 
mas que não é ele, “pertence-me, mas não sou eu”, papel da mãe suficientemente boa.
O objeto transicional ocupa para um lugar que Winnicott (2000) denomina como ilusão. 
Ao contrário do seio, que não está disponível constantemente, o objeto transicional 
é conservado pela criança e quem decide a distância entre ela e tal objeto. Como os 
fenômenos transacionais “representam” a mãe, torna-se essencial que ela seja vivenciada 
como um objeto bom. Bleichmar e Bleichamar (1992) relatam que, quando dentro da 
criança, o objeto materno está danificado, é pouco provável que ela recorra, de maneira 
constante, a um fenômeno transicional.
Winnicott propõe que a maturação emocional se dê em três etapas sucessivas: a da integração 
e personalização, a da adaptação à realidade e a de pré-inquietude ou crueldade primitiva.
Para o autor (1990, 1998, 1999, 2000, 2001) as experiências iniciais são estruturantes 
do psiquismo, participam da organização da personalidade e dos sintomas. O bebê 
nasce em um estado de não integração em que os núcleos do ego estão dispersos e, 
para o bebê, estes núcleos estão incluídos em uma unidade que ele forma com o meio 
ambiente. A meta desta etapa é a integração dos núcleos do ego e a personalização, ou 
seja, adquirir a sensação de que o corpo aloja o verdadeiro self. O objeto unificador do 
ego inicial não integrado da criança é a mãe e sua atenção pelo holding.
Na etapa inicial de desenvolvimento a questão primordial é a presença de uma 
mãe-ambiente confiável que se adapte às suas necessidades de maneira virtualmente 
perfeita. Winnicott inclui entre as “necessidades do ego” tanto os cuidados físicos 
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Fundamentos da Psicanálise de Winnicott │ unidade ii
quanto os psíquicos. Nem a realização mecânica das tarefas físicas ligadas ao lidar 
com o bebê, e nem a resposta imediata às suas demandas pulsionais de forma isolada, 
implicam a satisfação das necessidades do ego (WINNICOTT, 1990, 1998, 2001, 2002).
A integração é obtida a partir de duas séries de experiências. Por um lado tem especial 
importância a sustentação exercida pela mãe, que “recolhe os pedacinhos do ego”, 
permitindo que a criança se sinta integrada dentro dela. Por outro lado há um tipo 
de experiência que tende a reunir a personalidade em

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