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TEORIAS-SOBRE-AS-RELAÇÕES-OBJETAIS (2)

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1 
 
TEORIAS SOBRE AS RELAÇÕES OBJETAIS 
 
 
 
2 
 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empre-
sários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação 
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade ofere-
cendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici-
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação 
contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos 
e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber atra-
vés do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
TEORIAS SOBRE AS RELAÇÕES OBJETAIS .................................................. 1 
NOSSA HISTÓRIA ............................................................................................. 2 
1. INTRODUÇÃO AS CONCEPÇÕES FREUDANAS NAS RELAÇÕES 
OBJETAIS .......................................................................................................... 4 
1.1 Escolha de Objeto ou Escolha Objetal ...................................................... 5 
1.2 Escolha de Objeto por Apoio .................................................................... 6 
1.3 Escolha Narcísica de Objeto .............................................................. 7 
2.TEORIAS SOBRE AS RELAÇÕES OBJETAIS ............................................. 11 
2.1 O início das relações Objetais ................................................................ 11 
2.1.1 Os objetos e objetivos sexuais ......................................................... 13 
2.1.2 As relações do bebê com os objetos ................................................ 14 
2.2 Melanie Klein – transição para o modelo estrutural-relacional ................ 16 
2.2.1As relações objetais com os objetos internos.................................... 19 
2.3 A teoria da personalidade de Ronald Fairbairn .................................. 21 
2.3.1 Teoria do Desenvolvimento das Relações de Objeto com base na 
qualidade da dependência do objeto......................................................... 25 
2.3.2A psicogênese do ego ....................................................................... 27 
2.3.3 Lidando com objetos maus.............................................................. 28 
CONCLUSÃO ................................................................................................... 30 
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 32 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
file:///C:/Users/Tatiane/Desktop/CONTEUDOS%20FINALIZADOS/TEORIA%20SOBRE%20AS%20RELAÇÕES%20OBJETAIS/apostila%20TEORIAS%20SOBRE%20AS%20RELAÇÕES%20OBJETAIS.docx%23_Toc60857824
 
 
 
4 
 
 
1. INTRODUÇÃO AS CONCEPÇÕES FREUDANAS 
NAS RELAÇÕES OBJETAIS 
 
Para adentrarmos sobre a relação objetal é necessário entender que 
essa teoria compõe a psicanálise. A psicanálise é um método de tratamento de 
transtornos mentais, moldado pela teoria psicanalítica. Fundada por Sigmund 
Freud (1856-1939), enfatiza processos mentais inconscientes e é algumas vezes 
descrita como a “psicologia profunda”. A Psicanálise possui um discurso próprio, 
resultante de mais de um século de produção teóricoclínica de Freud e seus 
seguidores. Se, de início, ela causou escândalo, com sua nova visão de homem 
e suas relações, com o passar do tempo o discurso psicanalítico foi sendo ma-
ciçamente assimilado pela cultura, correndo risco de perder sua virulência e ca-
pacidade de inovação. Esta absorção se fez notar de forma mais enfática a partir 
dos anos cinquenta. Em relação a vida amorosa, onde a sexualidade faz seus 
laços, vemos com frequência a incorporação de conceitos psicanalíticos ser 
usada, pelo discurso social, com o objetivo de julgar e medir o grau de adaptação 
e patologia dos relacionamentos. A apropriação da psicanálise por ideologias de 
cunho moralizante, ao propor um ideal de felicidade amorosa, nada mais faz do 
que tentar transformá-la em um instrumento de controle social no sentido da hi-
gienização e medicalização da vida privada. 
Em Freud vamos encontrar dois tipos de escolha de objeto: a escolha 
de objeto narcísica e a escolha de objeto anaclítica. (Narcisismo 1914, p. 94) Na 
escolha de objeto narcísica o modelo é a relação do indivíduo consigo mesmo. 
É uma relação marcada pela onipotência, onde as limitações, enganos e erros 
são vividos como ofensa pessoal. Na escolha de objeto anaclítica, a pulsão se-
xual está apoiada na pulsão de auto-conservação. É uma escolha regressiva e 
complementar – mulher que alimenta e homem que protege. Infantilizante para 
um, acentua o papel parental do outro. A escolha narcísica ativa está do lado 
masculino, e a escolha anaclítica, passiva, está do lado do feminino. Em relação 
à mulher, Freud estabeleceu duas condições que determinam a escolha. O ob-
jeto deverá ser um substituto paterno: o complexo de castração leva a mulher a 
se afastar da mãe (a quem atribui à falta de um pênis) e a achar no pai uma 
 
 
 
5 
posição de descanso. O homem deve redundar num filho: que seu homem seja 
um pai e que seu homem seja um filho. A síntese deve caminhar para a resolu-
ção da maternidade: seu homem é pai de seu filho. Dentro desta perspectiva, a 
escolha conjugal é correlativa às fixações infantis, marcas deixadas pelo encon-
tro com os pais. Se para Freud o encontro com o objeto é sempre um reencontro, 
o laço amoroso teria um valor de um sintoma, tentativa de restituição e monta-
gem de um fantasma. 
 
 
 
 
 
 
 
1.1 Escolha de Objeto ou Escolha Objetal 
 
Ato de eleger uma pessoa ou um tipo de pessoa como objeto de amor. 
Distingue-se uma escolha de objeto infantil e uma escolha de objeto pubertária, 
sendo que a primeira traça o caminho da segunda. Para Freud atuam na escolha 
de objeto duas modalidades principais: o tipo de escolha de objeto por apoio e o 
tipo narcísico de escolha de objeto. O termo “escolha” não deve ser tomado aqui 
 
 
 
6 
num sentido intelectualista. Evoca o que pode haver de irreversível e de deter-
minante na eleição do sujeito, num momento decisivo da sua história, do seu tipo 
de objeto de amor. Note-se que a expressão “escolha de objeto” é utilizada para 
designar quer a escolha de uma pessoa determinada (exemplo: “a sua escolha 
de objeto incide sobre o pai”). 
 
 
1.2 Escolha de Objeto por Apoio 
 
Tipo de escolha de objeto em que o objeto de amor é eleito a partir do 
modelo das figuras parentais na medida em que estas asseguram à criança ali-
mento, cuidados e proteção. Fundamenta-se no fato de as pulsões sexuais se 
apoiarem originalmente nas pulsões de autoconservação. Freud fala de um ” tipo 
de escolha de objeto por apoio” para contrapô-la ao tipo de escolha narcísica de 
 
 
 
7 
objeto”. Freud mostrava então como, na origem, as primeiras satisfações sexuais 
apareciam por ocasião do funcionamento dos aparelhos que servem para a con-
servação da vida e como deste apoio originário resulta que as funções de auto-
conservação indicam à sexualidade um primeiro objeto: o seio materno. Mais 
tarde, “...a criança aprende a amar outras pessoas que ajudam no seu estado 
de desamparo e que satisfazem as suas necessidades; e este amor forma-se 
inteiramente a partirdo modelo das relações com a mãe que a alimenta durante 
o período de amamentação e no prolongamento dessas relações. 
 
 
 
 
1.3 Escolha Narcísica de Objeto 
 
O tipo de escolha de objeto que se faz com base no modelo de relação 
do sujeito com a sua própria pessoa, e em que o objeto representa a própria 
pessoa sob este ou aquele aspecto. A descoberta de que determinados sujeitos, 
particularmente os homossexuais, “...escolhem o seu objeto de amor a partir do 
 
 
 
8 
modelo da sua própria pessoa” é para Freud “o motivo mais forte que nos obrigou 
a admitir a existência do narcisismo. A escolha narcísica de objeto opõe-se à 
escolha de objeto por apoio na medida em que não é a reprodução de uma re-
lação de objeto preexistente, mas a formação de uma relação de objeto a partir 
do modelo da relação do sujeito consigo mesmo. Nas suas primeiras elabora-
ções sobre o narcisismo, Freud faz da escolha narcísica homossexual uma etapa 
que leva o sujeito do narcisismo à heterossexualidade: a criança escolheria a 
princípio um objeto de órgãos genitais semelhantes aos seus. 
Mas já no caso da homossexualidade a noção de escolha narcísica não 
é simples: o objeto é escolhido a partir do modelo da criança ou do adolescente 
que o sujeito foi um dia, e o sujeito identifica-se com a mãe que outrora tomava 
conta dele. Freud amplia a noção de escolha narcísica e apresenta dela o quadro 
seguinte: “Ama-se segundo o tipo narcísico: 
a) O que se é (a própria pessoa); 
b) O que se foi; 
c) O que se gostaria de ser 
d) A pessoa que foi uma parte da própria pessoa 
 
 
 
 
9 
Nos três primeiros casos, trata-se da escolha de um objeto semelhante 
à própria pessoa do sujeito. No item d Freud visa o amor narcísico que a mãe 
tem pelo filho que foi outrora “uma parte de sua própria pessoa”. Aqui o caso é 
muito diferente, visto que o objeto eleito não é semelhante à própria unidade do 
sujeito, mas sim o que lhe permite reencontrar, restaurar a sua unidade perdida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. O INÍCIO DE TUDO: DESENVOLVIMENTO EMOCI-
ONAL E AS PRIMEIRAS RELAÇÕES 
 
 
O desenvolvimento emocional dos indivíduos pode ser entendido como 
um processo que inicia em um estado de dependência absoluta e se direciona 
para a independência. Os estágios iniciais da vida são marcados pela relação 
com aquele que cuida do bebê e se ocupa em atender suas necessidades, na 
maior parte das vezes, a mãe. Esta dependência absoluta inicial é correspon-
dida por uma condição chamada de preocupação materna primária, na qual a 
mãe se direciona ao bebê dedicando-se, exclusivamente, a prover um ambiente 
acolhedor onde ele não experimente frustrações que ameacem sua existência. 
As mães então se conectam ao bebê respondendo aos estados de fome, sede, 
frio, calor e também propiciando um padrão de estímulos e acolhimento que lhes 
possibilite ter contato com a vida, através do toque, da fala ou do silêncio. O 
bebê pode então experimentar sua existência em um mundo subjetivo ou ainda 
se movimentar espontaneamente de modo a explorar o ambiente. 
 
 
 
10 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este estágio possibilita a integração, estabelecida na troca de identifica-
ções entre o bebê e sua mãe ao experimentarem a harmonia e a unidade oriunda 
desta ligação. A amamentação é um elemento importante neste processo e não 
se limita à prática meramente mecânica, para fins de sobrevivência. Na chamada 
primeira infância, a alimentação representa um período significativo de atividade 
do bebê, sendo também um canal de comunicação com sua mãe. Nesta ocasião 
ele adquire elementos para a formação de seu psiquismo, a partir das trocas 
afetivas, sensações e representações decorrentes desta interação. 
Através da amamentação o bebê desenvolve seus impulsos agressivos 
quando na experiência de destruição do seio materno a mãe atua de modo a 
“sobreviver” aos ataques de raiva e frustração do bebê. Ao se proteger dos ata-
ques de maneira adequada, sem retornar a agressividade sofrida, a mãe permite 
que o bebê reconheça seu objeto como algo distinto de si. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
2.TEORIAS SOBRE AS RELAÇÕES OBJETAIS 
 
2.1 O início das relações Objetais 
 
Em termos psicanalíticos, as relações objetais referem-se às relações 
emocionais entre sujeito e objeto amado que, através de um processo de identi-
ficação comum, contribuem para o desenvolvimento do ego. Entende-se por "ob-
jeto" uma pessoa, ou a sua representação, com a qual o sujeito forma uma rela-
ção emocional intensa, que lhe possibilita a tal identificação com o outro. 
Este tipo de relações foram definidas em 1924 por Karl Abraham, que desenvol-
veu as ideias de Freud acerca da sexualidade infantil e do desenvolvimento da 
libido. A teoria das relações objetais tem-se tornado um dos temas centrais da 
psicanálise pós-freudiana, em especial com os psicanalistas Melanie Klein e Do-
nald Winnicott. Apesar de as teorias de cada um serem complementares, fizeram 
diferentes abordagens de análise, que contribuíram para as teorias do desenvol-
vimento baseadas nas relações parentais precoces. Assim, as relações objetais 
seriam as ligações que a criança estabelece com as figuras parentais e a forma 
como estas delineiam a atividade da criança. Para Klein, ao longo do desenvol-
vimento a mesma figura parental tem as-
petos positivos e negativos que a criança 
terá de introjectar. Apesar do sentido ne-
gativo que se dá ao "mau" objeto, o bom 
desenvolvimento da criança necessita de 
ambos, mas deve sempre predominar a 
presença do "bom" objeto. 
A compreensão da psicologia do 
self tem sua fundamentação nas teorias 
das relações objetais que consistiram em 
revisões teóricas da teoria de Freud so-
bre o “objeto”. “Este aplicava o termo ‘ob-
jeto’ em relação a qualquer pessoa, objeto ou atividade com capacidade para 
satisfazer ao instinto”. Na teoria psicanalítica ortodoxa, Freud relaciona o objeto 
a algo que só tem sentido enquanto relacionado à pulsão e ao inconsciente e 
 
 
 
12 
não na esfera da. Assim, o objeto torna-se um meio para o foco da satisfação, 
podendo esse objeto ser uma pessoa, objeto ou atividade, real ou imaginário. 
 Todo conhecimento psicanalítico deve começar com as relações do in-
divíduo com os outros. Esse entendimento tem base na teoria da pulsão de 
Freud, onde não existe uma pulsão sem um objeto implícito ou explícito. Assim, 
o objeto da pulsão seria a pessoa, objeto ou atividade, a qual a pulsão tem como 
objetivo, foco ou alvo. Essa sistemática segue o modelo estrutural/pulsional. 
 
 
Para Freud o primeiro objeto na vida do bebê, capaz de satisfazer ao 
instinto, era o seio materno. Mais tarde, a própria mãe como pessoa torna-se um 
objeto de satisfação do instinto. E, à medida que a criança cresce, outras pes-
soas tornam-se objetos de satisfação do instinto . 
Greenberg e Mitchell (1994, p. 7 e 8) ainda afirmam que o termo “teoria 
das relações objetais”, em seu sentido amplo, refere-se a tentativas de respon-
der a situação onde as pessoas interagem e reagem com objetos externos e 
 
 
 
13 
internos, e em que medida suas relações influenciam o funcionamento psíquico. 
Importante relatar que os objetos internos são entendidos como representações 
psíquicas de outras pessoas que influenciam as reações, percepções, os esta-
dos afetivos do indivíduo (aspectos internos), bem como suas reações compor-
tamentais externas. 
Os teóricos das relações objetais trazem concepções diferenciadas, o 
que torna o entendimento dos termos “objeto” e “relações objetais” bastante 
complexo. Há uma diferença entre esses termos para a psicologia acadêmica e 
a psicanálise. Para a primeira “objeto” refere-se a uma “entidade que existe no 
tempo e no espaço”, para a segunda está relacionada à pulsão. Na psicanálise 
de Freud, é o objeto libidinal (foco da pulsão sexual), havendo também o objetivo 
de autopreservaçãoe, mas tarde surgindo o objetivo da pulsão agressiva. 
Assim, Freud propôs que a “escolha objetal” ocorre quando as pessoas 
“categorizam” ou investem energia instintual em objetos que podem ser usados 
para gratificar impulsos instituais. Diferentemente da concepção de Freud que 
considerou a relação do objeto principalmente com a pulsão sexual, os teóricos 
das relações objetais consideram as relações interpessoais entre esses objetos. 
Há, portanto, ênfase no contexto social e ambiental na formação da personali-
dade, destacando como principal influência a interação entre mãe e filho. A exis-
tência das relações interpessoais indica que a construção da personalidade na 
infância se estabelece de forma mais precoce do que Freud idealizava. 
 
2.1.1 Os objetos e objetivos sexuais 
 
O primeiro encontro com o objeto ocorre no estado primitivo da 
sexualidade infantil denominado por Freud de “autoerotismo”. Ele considera 
que, no autoerotismo, a pulsão sexual pode se ligar a um órgão ou à excitação 
de uma zona erógena e encontrar satisfação sem a necessidade de recorrer a 
um objeto externo. Para ele, no chuchar (sugar com deleite) que aparece no 
lactente e pode persistir até a vida adulta, a pulsão não está dirigida para outra 
pessoa, não está dirigida a um objeto; ela satisfaz-se no próprio corpo, sendo 
justamente por isso que ele a denomina de autoerótica. 
Em relação ao alvo sexual da pulsão infantil, Freud considera que 
ele se refere à zona erógena escolhida pela criança para ser estimulada a fim 
 
 
 
14 
de provocar satisfação. A criança procura repetir um prazer já vivenciado nas 
primeiras experiências de mamar ao seio materno. Ele diz que: 
 
a necessidade de repetir a satisfação sexual dissocia-se então da 
necessidade de absorção de alimento - uma separação que se torna 
inevitável quando aparecem os dentes, o alimento já não é exclusi-
vamente ingerido por sucção mas é também mastigado. A criança já 
não se serve de um objeto externo para sugar, mas prefere uma 
parte de sua própria pele, porque isso lhe é mais cômodo, porque a 
torna independente do mundo externo, que ela ainda não consegue 
dominar [...] (Freud, 1996, v. 7, p. 171) 
 
Por meio do autoerotismo, Freud pôde observar três características 
das manifestações sexuais infantis: 
 “a) em sua origem ela se ‘apoia’ em uma das funções somáticas 
vitais; 
 b) ainda não se tem objeto sexual e é, assim, autoerótica; 
c) seu objetivo sexual é dominado por uma zona erógena” 
 
 
2.1.2 As relações do bebê com os objetos 
 
Sobre a relação do bebê com os objetos Freud diz o seguinte: 
 
A primitiva escolha de objeto feita pela criança é dependente de sua ne-
cessidade de amparo e exige-nos ainda toda a atenção. Essa escolha dirige-se 
 
 
 
15 
primeiro a todas as pessoas que lidam com a criança e logo depois especialmen- 
aos genitores. A relação entre criança e pais não é, como a observação direta 
do menino e posteriormente o exame psicanalítico do adulto concorde-mente 
demonstram, absolutamente livre de elementos de excitação sexual. A criança 
toma ambos os genitores, e particularmente um deles, como objeto de seus de-
sejos eróticos. Em geral o incitamento vem dos próprios pais, cuja ternura possui 
o mais nítido caráter de atividade sexual, embora inibido em suas finalidades. 
Nesse momento do desenvolvimento, Freud coloca a importância do ob-
jeto no fato dele proteger a criança dos perigos externos. Além disso, entende 
que a busca pelo objeto é feita pela necessidade que a criança tem de ser am-
parada e pela sua necessidade de satisfação instintual 
 
 
Em passagens de sua obra como essa, Winnicott aponta que Freud 
parece ter intuído sobre a importância do ambiente e percebido o aspecto da 
dependência do bebê, contudo, apesar de percebê-los, ele não consegue se 
aprofundar nessas discussões para abarcar as fases mais primitivas da vida 
da criança, dentro das formulações da sua teoria pulsional. 
Por estar completamente absorvido pelo tema da sexualidade, 
buscando comprovar suas descobertas, Freud não conseguiu perceber outros 
aspectos do relacionamento do bebê com os objetos. Toda a sua atenção 
 
 
 
16 
estava voltada para as excitações sexuais presentes desde o início da vida e, 
com isso, ao voltar-se para a relação mãe-filho, suas observações centravam-
se nos aspectos sexuais dessa relação. 
Assim, pode-se perceber que, para Freud, a relação da mãe com o 
filho é uma relação libidinal, um ponto de apoio para o desenvolvimento 
instintual. Entretanto, apesar de não se aprofundar no estudo da infância mais 
primitiva, Freud não deixou de ressaltar que os pais têm importante papel na 
vida mental dos filhos. 
Para ele, as primeiras relações da criança com seus pais são relações 
passivas, pois as crianças apenas recebem cuidados, carinho, castigos e não se 
expressam nessas relações. Somente mais tarde se poderia observar a capaci-
dade da criança em proporcionar afeto aos pais e de reagir frente ao afeto deles. 
 
 
 
2.2 Melanie Klein – transição para o modelo estrutural-relacional 
 
O trabalho de Klein estende e elabora a teoria pulsional clássica e, no 
entanto, também serve como uma ponte para seu abandono, ela faz a transição 
entre a visão clássica do modelo estrutural-pulsional para a visão subsequente 
do modelo estrutural-relacional. Ao passo que Freud teria ignorado o objetivo da 
pulsão, ou o objeto, e teria dado mais importância à descrição da pulsão como 
fonte e objetivo, quando o objeto seria meramente o veículo através do qual a 
gratificação é obtida ou negada, para Klein, o objeto é mais essencial; as pulsões 
são inerentes e inseparavelmente dirigidas a objetos. Aqui começa um entendi-
mento mais integrado entre os dois modelos. As teorizações de Klein envolvem 
uma nova compreensão da natureza da pulsão, ou do desejo, em si. Klein (1969) 
amplia o conceito de objeto, concebendo um mundo interno de objetos organi-
zados ao redor de relações objetais internas inconscientes. 
A questão dos mecanismos de internalização e projeção é originária da 
teoria kleiniana, a partir de seu entendimento sobre as relações objetais. Klein 
sugere que as primeiras relações objetais da criança são relações com imagens, 
que só mais tarde tomam aspectos de objetos reais representativos do mundo 
 
 
 
17 
externo. É para estas imagens que, a priori, se dirigem as pulsões da criança, 
tanto amorosa quanto odiosamente. 
A autora afirma que as primeiras experiências de satisfação são ligadas 
à pulsão libidinal, e, por meio dela, ocorre a introjeção, no bebê, do que é um 
afeto, ligado a um objeto bom que servirá de base para o estabelecimento do 
ego; as más experiências, de frustração e desprazer são ligadas à pulsão de 
morte e, por isso, vividas como perigosas e projetadas no exterior. 
 
 
 
Assim, está constituída uma primeira unidade, ainda fragmentada. Essa 
dicotomia entre objeto bom e objeto mau adquire sentido, posto que em torno 
dela se organizarão as noções de eu e não-eu. Simplificadamente, esse pro-
cesso inicial constitui a posição esquizo-paranóide. A seguir, novos mecanismos 
serão estabelecidos, como o da identificação projetiva, na tentativa de amenizar 
essa dicotomia, projetando sobre o objeto exterior seus aspectos maus para le-
sar ou controlar o objeto. 
Sobre a possibilidade de a criança reconhecer a unicidade do objeto bom 
e do objeto mau, no decorrer de seu desenvolvimento, estabelece-se a posição 
depressiva, com angústias depressivas, quando experimenta a culpa em virtude 
de haver dirigido ódio ao mesmo objeto que fornece amor e satisfação. Uma 
 
 
 
18 
aceitação de ambos os aspectos do objeto permite a atenuação da clivagem – 
que ocorria anteriormente – e dos mecanismos que a acompanham: idealização, 
projeção, negação. A partir disso, a criança vai evoluindo de uma relação de 
objeto parcial, cindido, para uma relação de objetototal, integrado. 
Klein não discorda de Freud quando afirma que o bebê é ameaçado por 
um senso de destruição logo após o nascimento ter rompido com o equilíbrio do 
estado uterino. Aqui Klein propõe um mecanismo no qual o instinto de morte é 
projetado sobre o mundo externo, por ser, nesse momento, impossível contê-lo, 
dada a falta de um ego inicial para alguns autores – ou da existência de um ego 
ainda não- estruturado e diferenciado – para outros. 
Surge aí a fantasia de um objeto externo, pois não há confirmação de 
sua existência, já que foi projetada parte do instinto de morte, dando origem a 
um objeto percebido como mau, por conter impulsos destrutivos. Esses impulsos 
destrutivos são sentidos como medo da aniquilação, e tomam a forma de perse-
guição, ligada a um objeto. Da mesma forma, uma porção dos instintos de vida 
é também projetada para fora, criando um objeto bom para o qual o instinto é 
direcionado. Tanto a natureza do 
objeto bom quanto do objeto mau 
é determinada pelas próprias mo-
tivações da criança, uma crença 
que deriva da natureza da própria 
libido. 
Assim, nesta visão, os pri-
meiros objetos das pulsões são 
extensões das próprias pulsões. 
Aqui começamos a compreender 
que a frustração ou a satisfação das necessidades corporais é que imprimem 
esses registros. Sensações físicas positivas, ou o desconforto, são personifica-
das e atribuídas a bons e maus objetos, e introduzem a imagem de “seio bom” e 
“seio mau”. 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
 
Ainda neste momento evolutivo, e quem sabe na vida adulta de algumas 
pessoas, as privações e necessidades internas são sentidas como externas. Não 
podemos negligenciar aqui as experiências com o outro real, que até o momento, 
segundo a teoria, não estavam privilegiadas. Estas imagens objetais contêm 
traços da mãe e do pai reais, mas distorcidos. As percepções dos objetos reais 
no mundo externo misturam-se com as imagens projetadas, e tais percepções 
são internalizadas. Assim, os objetos internalizados são as transformações das 
percepções dos objetos reais, o que estimulará as relações objetais no mundo 
real, à medida que a criança procura fontes de reasseguramento de suas 
percepções, que serão seus objetos internos. O mundo interno passa a ser 
concomitantemente transformado, e o ciclo de projeção e introjeção têm sua 
direção. Importante salientar que essa internalização não é considerada um 
mecanismo de defesa, mas um modo de relacionar-se com o mundo externo. 
 
 
2.2.1As relações objetais com os objetos internos 
 
Os impulsos e os sentimentos do bebê são acompanhados por uma 
atividade mental que Klein considerou a mais primitiva de todas, a elaboração 
de fantasias (ou pensamento imaginativo). Essas fantasias primitivas que 
acompanham os sentimentos do bebê podem ser de variados tipos: fantasias 
de gratificação quando o seio está ausente mas o bebê fantasia que está sendo 
gratificado; fantasias agradáveis quando está sendo amamentado e a 
satisfação é real; fantasias destrutivas quando é frustrado pelo seio, e o bebê 
sente desejo de morder e despedaçar a mãe e seus seios, ou então de destruí-
la de outras maneiras. 
Klein chama a atenção para o caráter de realidade dessas fantasias, 
principalmente as destrutivas, porque o bebê sente que aquilo que deseja em 
suas fantasias já se realizou, ou seja, ele imagina que realmente destruiu o 
objeto onde projetou seus impulsos destrutivos. Para lidar com esses temores, 
o bebê busca apoio nas fantasias onipotentes do tipo restaurador. Entretanto, 
 
 
 
20 
mesmo imaginando que está juntando novamente os pedaços do objeto e 
restaurando-o, os temores de haver destruído o objeto não são totalmente 
dissipados. Os conflitos básicos que se originam desses processos influenciam 
seu desenvolvimento mental e sua vida emocional (1975b, p. 85-86). 
 
No início da vida do bebê, a fantasia inconsciente está ligada às 
sensações que acompanham o ato da alimentação e as fantasias que ela 
mobiliza. São estas fantasias que vão determinar o caráter dos objetos 
engolidos ou incorporados. Por meio desses impulsos orais, o bebê constrói 
um mundo interno que contém as duplicatas dos objetos externos com os quais 
se relaciona. 
 
 
Para a autora, o primeiro objeto internalizado é um objeto parcial – o seio 
da mãe – e isso ocorre mesmo com bebês alimentados com a mamadeira. Ela 
considera ainda que o pai desde cedo, também é internalizado e possui impor-
tante papel na vida da criança. O sistema de fantasias que se encontra no centro 
do mundo interno do bebê é de suma importância para o desenvolvimento do 
ego. 
 
 
 
 
 
21 
 
 
2.3 A teoria da personalidade de Ronald Fairbairn 
Fairbairn estabelece o problema da esquizoidia como uma condição an-
terior a da sexualidade pela qual o ego se estrutura ante a situação de depen-
dência plena do objeto. Desse modo, as características orais, como formas con-
dicionantes da relação de identificação, envolvem o sujeito fairbairniano em uma 
tragédia de fragmentações internas, porquanto nunca os objetos serão plena-
mente responsivos. 
A inevitabilidade da estruturação esquizóide permite compreender que 
está ausente à elaboração fairbairniana o que, por outro lado, Green (1988) con-
sidera fundamental ser considerado nas relações primitivas com o objeto. Trata-
se da possibilidade de recuperação da adaptação pela ação do meio, isto é, do 
objeto, que, assim, compensaria o estado de desvalimento absoluto em que se 
encontra a criança. Isso aponta a desconsideração de Fairbairn para com as 
possibilidades ou os efeitos estruturantes das relações com o objeto bom. Da 
obra desse autor fica a impressão de que o alcance do objeto bom se esgota na 
satisfação que possa fornecer à necessidade da dependência. Nesse sentido, 
podemos abraçar completamente a interpretação de Figueiredo (2003, p. 41-56) 
segundo a qual Fairbairn constitui uma verdadeira – e acrescentaríamos, con-
creta e efetiva – psicopatologia fundamental. Tal posição tem consequências na 
compreensão da tarefa psicoterapêutica, ao modo de um pessimismo bastante 
acentuado, senão radical. É verdade que Fairbairn tenta corrigir essa sua visão. 
Enfatiza a internalização do objeto pré-ambivalente da fase oral, para 
contrapô-la à concepção da primária internalização do objeto mal. A ambivalên-
cia, então, instaurar-se-ia na relação interna do ego com o objeto, atribuída, por-
tanto, à ação do ego. Segue-se a compreensão de que esse processo de disso-
ciação e repressão dos objetos rejeitante e excitante escindidos deixa no ego 
central um núcleo do objeto original. Este objeto, dessexualizado e idealizado, 
constitui-se, então, para Fairbairn, no ponto ao redor do qual se constrói o supe-
rego. Deste modo, Fairbairn busca introduzir em sua teoria as condições, tam-
bém primitivas, para a influência terapêutica com base egóica. Na perspectiva 
 
 
 
22 
psicoterapêutica, compreende-a o analista como objeto bom, capaz de ganhar a 
boa vontade do superego, a partir do que poderia ter alguma influência sobre a 
dinâmica fundamentalmente esquizóide do ego. Tais reconsiderações, no en-
tanto, não desfazem sua convicção mais acentuada, pois permanecem pouco 
desenvolvidas e marginais 
As perspectivas terapêuticas de Fairbairn, bem como suas interpreta-
ções socioculturais de certos e predominantes quadros psicopatológicos, podem 
ser bastante profícuas para a reflexão da clínica psicanalítica na contemporanei-
dade. Ele sugere avaliações e alternativas de compreensão que podem ser úteis 
para o psicanalista ou o psicoterapeuta ainda hoje, somando, e talvez até impul-
sionando, as perspectivas psicanalíticas do atendimento e tratamento dos cha-
mados casos difíceis, borderlines e psicóticos. Não obstante tal riqueza, essas 
duas perspectivas de sua obra não são aqui desenvolvidas, pois tomamos por 
demarcação a intrigante teoria da personalidadeconstruída a partir das relações 
de objetos e nelas fundamentada. 
As críticas de Fairbairn à teoria da libido, que fundamentam o abandono 
da dinâmica pulsional, podem ainda ser compreendidas a partir da reinterpreta-
ção da libido como amor. Essa relação amorosa desenvolver-se-ia segundo o 
apego ao objeto, sustentando as frustrações que lhe são inerentes. Forçando-se 
um pouco o sentido, pode-se sugerir que a estrutura dinâmica de Fairbairn rea-
liza - de uma forma impar, é verdade - a pulsão de vida, se a tomarmos em sua 
significação de pulsão de ligação, de constituição de vínculos. Mas não se pode 
desprezar a preferência da vinculação dessa estrutura dinâmica (o ego) com o 
objeto mau o que pode levar à consideração de se tratar, mantendo-se a apro-
ximação sugerida, de uma pulsão de vida que se vincula à morte, à morte psí-
quica, no sentido da fragmentação egóica (ou morte narcisista, se pensarmos a 
partir de outros termos que não os fairbairnianos). O psiquismo em Fairbairn, 
não obstante a ênfase nas relações de objeto, é um psiquismo que se fecha, 
voltado para si mesmo, para suas partes cindidas do ego e para os objetos in-
ternalizados. 
 
 
 
23 
Não obstante, o ego, na metapsicologia de Fairbairn, possui relações 
primitivas não apenas com objetos internalizados, mas também com objetos ex-
ternos e concretos, o que aproxima a psicogênese do ego da preservação do 
organismo biológico. Por privilegiar a concretude da relação objetal, ensejando 
uma metapsicologia muito próxima da experiência infantil, podemos conceber 
Fairbairn como um teórico das relações objetais exclusivas, distinguindo-o dos 
demais teóricos das relações objetais que mantêm a designação de alguma im-
portância para a pulsão (instinto) na constituição psíquica. 
Para o autor, a teoria da libido possui limitações intrínsecas que impe-
dem uma compreensão genuína dos mecanismos primitivos de constituição psí-
quica. Haveria uma incompatibilidade fundamental entre a teoria da libido e a 
teoria das relações de objeto, visto que ambas dizem respeito aos fundamentos 
do psiquismo. A sexualidade somente seria experimentada e, portanto, teria vi-
gência, posteriormente à garantia de relações objetais seguras, não sendo, con-
forme em Freud, inicialmente constitutiva do psiquismo. A sexualidade termina 
recolocada no lugar de uma função, orgânica e vital, que estará sujeita à conso-
lidação das relações de objeto, ao invés de sujeitá-las. 
A consequência, comparativamente ao modelo freudiano, é a do aban-
dono do fundamento neurótico da compreensão da estrutura psíquica, isto é, do 
inconsciente sexual e, na segunda formulação de Freud, do id - este último não 
somente como fonte pulsional, mas do sentido, assegurado desde a postulação 
do inconsciente em A Interpretação dos Sonhos (Freud, 1900/1972), da dife-
rença radical do sujeito com ele mesmo. O inconsciente sexual freudiano pode 
ser propriamente entendido como condição antropológica fundamental; o ego 
cindido de Fairbairn, por seu lado, é condição circunstancial, embora se trate de 
circunstância inevitável. 
 
 
 
 
 
 
 
24 
Fairbairn não somente amplia Freud, se é que o faz. Ao inverter o caráter 
da meta libidinal, colocando-a em busca do objetivo e não, do prazer, ele pre-
tende consolidar estados mais primitivos do funcionamento psíquico sob a base 
das relações de objeto e funda-
mentar a esquizoidia como estru-
tura básica e inescapável dos 
processos de subjetivação. 
 O autor pretende com-
provar a tese de que as defesas 
dissociativas são fenômenos pre-
sentes na personalidade de um 
modo geral. Respaldando-se na 
experiência clínica e interessado 
na psicogênese do ego, identifica 
aproximações entre os processos 
do ego rudimentar da criança e os do esquizóide, que seriam: 
 a) Tendência à orientação para um objeto parcial; 
b) Predomínio do tomar sobre o dar na atitude libidinal; 
c) Tendência à incorporação e à internalização do objeto; 
d) Sobrevalorização dos estados opostos de plenitude e vazio. 
 
 
 
 
25 
 
 
Estas aproximações já trazem de modo não totalmente explícito a pre-
ponderância do objeto na determinação das atitudes libidinais. É isso que cons-
titui o gérmen das principais críticas de Fairbairn à teoria da libido freudiana, 
concebendo, assim, a mudança da meta libidinal. 
2.3.1 Teoria do Desenvolvimento das Relações de Objeto com base na quali-
dade da dependência do objeto 
Fairbairn também descreve uma teoria do desenvolvimento. É curioso 
como nomeia esta teoria: "Desenvolvimento das relações de objeto baseada na 
qualidade de dependência em relação ao objeto" (Fairbairn, 1952/1980, p. 28). 
A curiosidade dessa afirmação é que ela conduz ao entendimento de que o de-
senvolvimento do ego não se processa de modo autônomo, ao contrário, por-
tanto, do que julga ser o desenvolvimento da libido a partir das zonas erógenas 
e da busca do prazer. De fato, para Fairbairn, o processo de desenvolvimento 
da personalidade define-se como desenvolvimento da relação de objeto. 
 
 
 
 
 
26 
Podemos dizer inicialmente que o ego está, submetido à dependência 
radical do objeto. O processo de desenvolvimento consiste na diminuição da de-
pendência e na progressiva diferenciação com respeito ao objeto. O propósito 
(um certo propósito egóico, como se verá à frente, com a noção de ego rudimen-
tar) desse processo seria o de salvaguardar a perda do ego diante da circuns-
tancial, porém inescapável inadequação das relações de objeto. São basica-
mente três, segundo Fairbairn, as fases do desenvolvimento da relação de ob-
jeto: 
 1ª) dependência infantil – na qual existem duas subfases orais: a pri-
meira, pré-ambivalente em relação ao objeto (sugar ou recusar o seio), a se-
gunda, ambivalente (sugar ou morder o seio) 
 
2ª) etapa de transição, e 
 3ª) dependência madura. 
As principais características da dependência infantil são as atitudes in-
corporativas e a identificação indiferenciada com o objeto. Essas características 
fazem com que a perda ou o afastamento do objeto sejam acompanhados pelo 
sentimento de aniquilação do ego. Esse aspecto é extremamente significativo na 
teoria, é o motivo que leva à esquizoidia como condição estruturante, pois todos 
passam, inevitavelmente, por essa extrema dependência oral do objeto. 
 
 
 
27 
Na etapa de transição, ocorre o início da diferenciação com o objeto. 
Para evitar que as frustrações impostas pelas relações objetais conduzam à 
perda do ego, a defesa é acionada. Sendo insuportável para o ego a ambivalên-
cia responsiva do objeto às suas necessidades, o ego cinde o objeto em suas 
partes: o aceito e o recusado. Esses objetos serão, no processo de desenvolvi-
mento, internalizados ou externalizados. As neuroses clássicas são considera-
das como conflito nessa fase. 
Já a dependência ma-
dura, última fase do desenvolvi-
mento das relações de objeto, é 
caracterizada pela possibilidade 
de relações menos dependentes 
do objeto. Fairbairn não porme-
noriza técnicas defensivas nessa 
fase, apenas indica que o grau de 
dependência é diminuído, o que 
se esperaria de um adequado 
desenvolvimento. 
O desenvolvimento das 
relações de objeto está, portanto, 
relacionado com o grau de iden-
tificação do ego com o objeto e 
com as técnicas para lidar com 
suas relações. Quanto maior o 
número de estratégias dissociativas para lidar com o objeto, maior seria a de-
pendência infantil, ou a sua permanência e não-superação. 
2.3.2A psicogênese do ego 
O primeiro momento em que Fairbairn fornece indícios de uma teoria da 
psicogênese do ego é em 1940, quando descreve o ego da criança como um 
ego bucal. Como o autor não volta a tematizar o caráter desse rudimento egóico, 
não fica clara sua natureza. É certo que em suas teorizações não há lugar para 
 
 
 
28 
compreensões de egos rudimentares constituídos como efeitos das ações deinstintos de vida ou de morte, que procuram o objeto para a gratificação. O ego 
bucal seria apenas a expressão do primeiro modo de vinculação de contato so-
cial. 
Progredindo, Fairbairn mostra, em 1941, uma original compreensão das 
relações primitivas de objeto, aproximando as incorporações de verdadeiras as-
similações dos objetos reais e concretos. O seio da mãe e o leite materno irão 
dar os primeiros contornos egóicos à criança. Em razão disso, as falhas invevi-
táveis nas relações objetais primitivas estruturam o ego, por meio de processo 
defensivo, como veremos à frente. Tais falhas correspondem à angústia de des-
truição e morte para a criança, que está dependente do encontro com o objeto. 
A concepção de Fairbairn não exclui ou descarta a idéia de um ego ini-
cialmente constituído, mesmo que radicalmente dependente do objeto. Talvez 
se encontre nesse aspecto de sua teoria um desses paradoxos teóricos, os quais 
estamos acostumados a encontrar em Winnicott, por exemplo, que teria usufru-
ído bastante as formulações de Fairbairn, embora não o cite (Grotstein & Rinsley, 
2000). Este paradoxo pode ser entendido como a necessidade de se adotarem 
simultaneamente duas perspectivas aparentemente excludentes: 
1) a do ego rudimentar e, nem tanto, já constituído – responsável pelas 
múltiplas defesas nas relações com o objeto, como divisão ambiva-
lente, incorporação, identificação e repressão ou a rejeição do ob-
jeto, e, por outro lado 
2) a do ego dependente do objeto – constituindo-se de modo subordi-
nado à qualidade da relação de objeto e estruturando-se em face 
dessa qualidade e, até mesmo, moldando suas defesas a ela. 
2.3.3 Lidando com objetos maus 
A dependência para com o objeto e a estruturação do ego segundo a 
qualidade das relações de objeto conduzem Fairbairn à revisão da teoria da re-
pressão. 
 
 
 
 
29 
 
Comparando o seu próprio percurso ao anunciado por Freud em o Ego 
e o Id (1923/1976), que teria partido da preocupação com o reprimido para che-
gar posteriormente ao interesse pela instância repressora, Fairbairn acredita re-
tornar ao princípio. Busca então uma compreensão do reprimido, mas agora se-
gundo o princípio da importância do objeto. 
Fairbairn desenvolve a idéia principal acerca da natureza do reprimido. 
O reprimido consistiria em objetos maus com os quais o ego está identificado, e 
não em impulsos culpáveis ou lembranças intoleráveis, como Freud concebera. 
Acredito agora que a vítima de um ataque sexual resiste a reviver a lem-
brança traumática porque isto constitui um testemunho de uma relação com um 
objeto mau [...] é difícil conceber que a experiência de ser violado proporcione 
alguma gratificação [...]. É interessante assinalar que a criança vive a relação 
com um objeto mau não somente como algo intolerável, mas também como algo 
vergonhoso [...]. O fato de que a relação com um objeto mau seja vergonhosa 
só pode ser explicada satisfatoriamente presumindo-se que na infância precoce 
todas as relações de objeto estejam baseadas na identificação. 
Nesse ponto, Fairbairn demonstra conceber um estatuto bastante parti-
cular a respeito da maldade do objeto, pois, se a qualidade das relações objetais 
não responsivas caracteriza o grau de maldade do objeto – e um grau de não-
responsividade do objeto estará sempre presente, devido às necessidades do 
ego no estado de dependência –, a maldade torna-se uma característica do ob-
jeto, e não mais da relação. 
As relações objetais responsivas na tenra infância, uma vez que cum-
pram a satisfação das necessidades do ego dependente, terão esgotado o seu 
valor, por assim dizer, na compreensão de Fairbairn. É assim que, inicialmente, 
para o autor, o objeto bom tem pouca relevância para a estruturação do ego. Ao 
contrário, predominam sobre o ego os efeitos das relações não responsivas com 
o objeto mau. Para evitar a dependência de objetos maus, a criança encontra 
modos defensivos de se relacionar com esses objetos, identificando-se com a 
 
 
 
30 
maldade presente neles e assim se considerando má. O autor sugere que essa 
é uma estratégia para sobreviver em um mundo incondicionalmente mau (e que 
sempre será mau no sentido libidinal), visto que seria melhor para ela considerar 
que a maldade presente nas relações de objeto é condicional à sua pessoa, e 
não uma consequência inevitável do objeto do qual depende. É mais esperan-
çoso ser má em um mundo bom que ser boa em um mundo mau. Assim, como 
a criança identificou-se com a maldade, ela torna-se uma ameaça para si 
mesma. Ela procuraria, então, um modo de controlar e livrar o mundo externo de 
sua maldade e de seu potencial destruidor identificando-se com os objetos maus, 
trazendo-os para dentro de si e reprimindo-os. A repressão ocorreria, então, so-
bre os objetos maus identificados com o ego. 
A essas técnicas protetoras, posteriormente, Fairbairn acrescenta a de-
fesa moral superegóica, como internalização de objetos bons compensatórios. 
Os objetos maus estariam relegados ao inconsciente e a culpa seria uma forma 
de defesa contra as relações do ego com esses objetos. Desse modo, a criança 
vítima de abuso só experimentaria essa situação como algo vergonhoso porque 
a vergonha seria o resultado da identificação com o objeto mau e o testemunho 
de uma relação de dependência. A posterior internalização de objetos bons seria 
a forma compensatória, que impediria o sujeito de identificar-se plenamente com 
o objeto mau. Os objetos bons encontram finalmente um lugar subsidiário na 
compreensão de Fairbairn, aspecto que retomaremos mais adiante. 
 
CONCLUSÃO 
 
A psicanálise se internacionalizou, principalmente após a Segunda 
Guerra Mundial, contextualizando-se numa diversidade de estudos inspirados 
nas condições sociais, políticas e econômicas dos vários países onde seus es-
tudos estiveram presentes, e como forma de atender as necessidades individu-
ais e coletivas daquela época. A transformação e o aperfeiçoamento da psicolo-
gia e dos métodos psicoterápicos é um elemento essencial para a evolução 
dessa disciplina e para a sua contribuição na evolução da humanidade. A psico-
logia do self, desenvolvida por Heinz Kohut tem suas raízes e originalidade a 
 
 
 
31 
partir das ideias e dos conceitos revistos acerca da teoria das relações objetais 
e do conceito de narcisismo da psicanálise ortodoxa. Para Kohutas, relações 
objetais sempre estão presentes na vida de uma pessoa e consistem em rela-
ções interpessoais. A relação da mãe em constituir um vínculo significativo para 
a criança é fundamental para as primeiras relações objetais e formação da per-
sonalidade desta criança, trata-se de um processo de desenvolvimento da cri-
ança que ao se desligar da mãe estabelece outras relações com outras pessoas 
próximas. Esse processo é que forma um self coeso atribuindo ao futuro adulto 
força, saúde e grandeza de um ser humano apto para a vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
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(acesso em 05/01/2020) 
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lacoes-objetais 
FONSECA.Alexandre Barbosa da.PSICANÁLISE E AS RELAÇÕES OBJETAIS-
Cadernos de Graduação- Ciências Biológicas e da Saúde | Maceió | v. 1 | n.3 | 
p. 57-66 | nov. 2013 
 ABRAS, Rosa Maria Gouvêa; SANCHES, Nina Rosa Artuzo. Abrindo o jogo. In: 
Revista 
SALLES, Ana Cristina Teixeira da Costa; CECCARELLI, Paulo Roberto. Angús-
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cação do Círculo 
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Vorstellung, n. 1. Publicação do Grupo de Estudos Psicanalíticos – GREP. Belo 
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out./1997.https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/11675/9163%20(acesso
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