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SAI III – Otorrinolaringologia Aula 1 Cecilia Antonieta 82 A 1 OTITES ANATOMIA DA ORELHA EXTERNA PAVILHÃO AURICULAR capta as ondas sonoras e as conduz ao meato acústico, além de amplificar o som e aumentar sua intensidade. CONDUTO AUDITIVO (MEATO ACÚSTICO EXTERNO) prolonga a concha (parte côncava do pavilhão) até a membrana timpânica. Possui parte cartilaginosa (2/3 iniciais) e óssea (1/3 final), sendo a divisão dessas parte mais estreita (istmo), que possui terminações nervosas, sendo mais dolorosa. Revestido por epitélio, tendo pelo e glândulas que produzem cerume. MEMBRANA AUDITIVA separa o meato acústico externo do ouvido médio. EXTERNA epitélio, faz parte da orelha externa. MÉDIA fibrosa, responsável pela tensão da membrana. INTERNA mucosa do tipo respiratória. Com a chegada do som, a membrana vibra, passando a vibração para o martelo. No centro, há o cabo (apófise longa), o umbigo e a apófise curta do martelo e o cone luminoso. Cone luminoso existe, pois, a membrana não é plana, mas sim côncava. MÉDIA juntamente com a orelha externa, é responsável por captar o som e conduzi-lo até o labirinto anterior ou a cóclea (quando o som chega no estribo, este vibra causando uma pressão hidráulica que será transmitida para dentro da orelha interna). CAIXA TIMPÂNICA contém os ossículos: martelo, bigorna e estribo. TUBA AUDITIVA abre-se na rinofaringe pelo óstio faríngeo da tuba auditiva, comunicando a tuba com a faringe. Mantém a pressão interna igual a externa, promovendo equilíbrio pressórico. Possui uma parte óssea (1/3 posterior) e outra cartilaginosa (2/3 anteriores, mais próximos à faringe). Envolvida por dois músculos: levantador do véu palatino e o tensor do véu palatino. Abre-se com o movimento do palato mole (mastigação, deglutição ou ao bocejar), jogando ar para a orelha média. MÚSCULOS TENSOR DO TÍMPANO E ESTAPÉDIO controlam a intensidade dos sons que chegam à cavida- de timpânica. Quando há um som muito alto, eles se contraem, fazendo com que haja menor vibração da membrana timpânica, protegendo-a de possíveis rupturas. A rotura desses causa hiperacusia. INTERNA estrutura escavada dentro do osso temporal, onde se insere a cápsula ótica. A criança tem a tuba auditiva mais horizontalizada, o que facilita que o conteúdo da faringe passe para a orelha média, infeccionando – otite média aguda. Orientar a mãe a não alimentar a criança deitada, para que o conteúdo inferido não passe para a orelha média. A diferença de pressão entre as duas faces da membrana timpânica provoca tensão para um dos lados, dificultando a sua vibração. Não é recomendado viajar de avião estando resfriado ou gripado, pois há risco de desencadear alterações da tuba auditiva, como otalgia e agudização de sinusite. Sinus Vacuum é uma condição que ocorre quando indiví- duos que possuem rinite alérgica entram em ambientes pressurizados e sentem uma dor intensa na região paranasal acometida no momento da pressurização. SAI III – Otorrinolaringologia Aula 1 Cecilia Antonieta 82 A 2 LABIRINTO ÓSSEO dividido em anterior (cóclea) e posterior (aparelho vestibular e canais semicirculares), entre eles há o vestíbulo. Perilinfa líquido rico em Na+, semelhante ao líquido extracelular. LABIRINTO MEMBRANOSO localizado dentro do labi- rinto ósseo, mas não ocupa todo o espaço. A parte membranácea da cóclea é chamada ducto coclear. Endolinfa líquido rico em K+, semelhante ao líquido intracelular. AUDIÇÃO o labirinto ósseo tem duas aberturas: a janela oval (vestíbulo) e a redonda (cóclea). O estribo se encaixa na janela oval, fechando-a e quando há uma onda sonora, ele vibra como um pistão, transmitindo a vibração para a perilinfa, que a conduz para o labirinto coclear. Quando chega ao final do labirinto coclear (helicotrema), a vibração retorna, tomando o caminho contrário, em direção à janela redonda. A janela redonda é obliterada pela membrana timpânica secundária, onde há dissipação do “som”. A vibração da perilinfa provoca, por contiguidade, vibração da endolinfa, o que leva à movimentação de cílios das células ciliadas presentes no assoalho do labirinto membranoso (essas células estão na membrana basilar e formam o órgão espiral ou de coorte). Essa vibração dos cílios é captada pela parte coclear do nervo vestíbulo-coclear. PATOLOGIAS DA ORELHA EXTERNA MALFORMAÇÕES MICROATIA orelha pequena. AGENESIA/ATRESIA DA ORELHA OU DO CONDUTO AUDITIVO EXTERNO causa perda da audição condutora. ORELHAS DE STAHL formato pontudo e maior quantidade de cartilagem no pavilhão auricular. CRIPTOTIA parte superior retraída e encoberta por pele. BAIXA IMPLANTAÇÃO DA ORELHA relacionada a várias síndromes genéticas. DOENÇAS DERMATOLÓGICAS Manchas e verrugas – devem ser reportadas e investigadas. CÂNCER DE PELE Pode se desenvolver no pavilhão auricular, principalmente em indivíduos que trabalham expostos ao sol, sem uso de protetor solar ou chapéu. Pessoas de pele clara são mais afetadas. A região mais afetada é a parte superior do pavilhão auricular. Suspeitar de câncer de pele ao se deparar com “feridas que não saram”. O tipo histológico mais comum é o carcinoma basocelular. O tratamento é a retirada cirúrgica da lesão. PERICONDRITE DO PAVILHÃO AURICULAR Embaixo da pele do pavilhão auricular há cartilagem que pode infeccionar facilmente por traumas, picadas de inseto, brincos ou piercing. Processo inflamatório difuso do pericôndrio (camada de tecido conjuntivo que envolve as cartilagens) do pavilhão auricular, que pode ou não ser infeccioso. Há acúmulo de pus entre a cartilagem e o pericôndrio, resultando em edema, hiperemia e dor. Quando infecciosas são causadas por Protheus ou Pseudomonas aeruginosas, para o tratamento utiliza-se antibióticos (amoxicilina com clavulanato). Quando causada pelo trauma constante sofrido nas lutas marciais leva à falta de vascularização no pavilhão auricular, provocando morte do tecido. Essa necrose leva à uma forte reação fibrosa, resultando na formação de nova cartilagem para preencher o espaço lesionado e, consequentemente, deformações (orelha de lutador ou orelha em couve-flor). ABCESSOS Abaulamento devido ao acúmulo de secreção purulenta entre a pele e a cartilagem do pavilhão auricular. Pode ser complicação de pericondrite, que leva à necrose da cartilagem e formação do abcesso. TRATAMENTO DRENAGEM incisão com bisturi nº 15, respeitando as linhas naturais do pavilhão auricular (dobras e saliências), para minimizar a cicatriz. DEBRIDAMENTO retirada de tecido necrosado, geralmente necessário em pericondrites. CURATIVO COMPRESSIVO feito com gaze na frente e atrás da orelha, de forma que ela fique esticada sobre o osso mastoide. ANTIBIÓTICO ANTI-INFLAMATÓRIOS AINEs ou corticoides podem ser ocasionados ao tratamento. SAI III – Otorrinolaringologia Aula 1 Cecilia Antonieta 82 A 3 Se o processo não for feito, com ênfase no curativo compressivo para a orelha não dobrar, há grande chance de desenvolver deformidades da orelha. A ausência do tratamento pode levar a atrofia da orelha (orelha de lutador). OTOHEMATOMA abaulamento devido ao acúmulo de sangue entre a pele e a cartilagem do pavilhão auricular, sem processo infeccioso. Associada à traumas e acidentes, e o tratamento é feito com drenagem. LACERAÇÃO DA PAVILHÃO AURICULAR Pode ocorrer a laceração do lóbulo por uso de brincos muito pesados ou alargadores. O uso de piercings tam- bém pode levar a lacerações em outras regiões do pavi- lhão auricular. A laceração do pavilhão por mordeduras ocorre, geralmente, em brigas ou por animais. A correção pode ser feita por um médico otorrinolaringologista ou um cirurgião plástico. OTITE EXTERNA DIFUSA AGUDA (OEDA) Otite mais frequente. Caracterizadapor inflamação da pele do conduto auditi- vo externo. Ocorre quando há permanência de água no conduto (após banho de piscina, mar) ou manipulação da orelha externa com cotonete ou outros objetos. No terço anterior/externo do conduto auditivo tem-se uma quantidade muito grande de cerúmen. CERÚMEN produzido pela união da secreção das glândulas ceruminosas com suor das glândulas sudoríparas e a secreção das glândulas sebáceas. Têm função de repelente natural, antibiótico e protege o epitélio do contato com a água. A água no conduto auditivo favorece a solução de continuidade, deixando a pele local mais fragilizada. QUADRO CLÍNICO hiperemia, otalgia (muita dor – sintoma importante), edema, hipoacusia (diminuição da audição pela diminuição da luz do conduto auditivo), prurido (raro), otorreia (rara). TRATAMENTO as bactérias envolvidas são geralmente Protheus sp. e Pseudomona aeruginosas, mas pode ser causada por estafilococos e estreptococos. Quando o edema da OEDA não é tão volumoso ao ponto de que ainda se tenha espaço para pingar uma medicação, pode-se utilizar gotas otológicas (antibióticos tópicos) para o tratamento. Porém às vezes o conduto está tão fechado que se utiliza antibióticos sistêmicos, geralmente amoxicilina com clavulanato. OTITE EXTERNA LOCALIZADA OU FURÚNCULO DO CONDUTO AUDITIVO EXTERNO Somente no aparelho píleo-sebáceo, caracterizada pela formação de um furúnculo (micro abcesso como se fosse uma espinha). Causado geralmente por S. aureus que inflama os pelos do local e causa muita dor. Se o furúnculo estiver “flutuando”, ou seja, maduro e com área amarelada, prestes a romper realiza-se a drenagem – por meio de um corte feito com um bisturi nº 15, retira-se a secreção purulenta. TRATAMENTO antibióticos (amoxicilina com clavulanato). Quando há muita recorrência desta situação, pesquisa- se se o paciente possui DM ou outra situação que leva à queda da imunidade, porque é uma ocorrência rara de forma geral. OTITE EXTERNA ECZEMATOSA (OEE) Caracterizada por prurido na orelha externa devido à alergia geralmente alimentar. Pode haver eritema, hiperemia e descamação da pele do conduto externo, e às vezes uma otorreia clara/transparente. TRATAMENTO corticoide tópico em forma de pomada ou colírio otológico (gotas). OTOMICOSES Infecção de origem fúngica no conduto auditivo exter- no, causa muito prurido. Ocorre geralmente em indiví- duos que tem o costume de coçar a orelha com objetos. Na maioria das vezes é causada pelo Aspergillus niger (mais escuro) ou A. fumigatus (mais escuro), porém também pode ser causada por outros fungos, como a Cândida. Na otoscopia percebe-se micelos. TRATAMENTO limpeza com remoção das placas fúngi- cas e o uso de substância antimicótica local (Fungirox) em gotas tópicas (3 ou 4 a cada 12h), por média de 2 semanas. Outra opção é acidificar a orelha, utilizando uma substância que modifique o pH, assim o fungo não sobrevive nesse ambiente. Em casos de recorrência deve-se investigar causas de imunodeficiência. SAI III – Otorrinolaringologia Aula 1 Cecilia Antonieta 82 A 4 CORPOS ESTRANHOS Mais frequente em crianças e em pessoas com deficiência mental. Se o corpo estranho estiver antes do istmo, o indivíduo não irá sentir nada, porém se se localizar no istmo ou para frente, em direção à orelha média, o indivíduo passa a sentir muita dor. ANIMADOS moscas de frutas, borboletinhas, mosquitos, aranhas, formigas e baratas. O cerúmen possui grande importância na proteção do conduto auditivo, funcionando como repelente natural devido ao seu cheiro. Pode ocorrer também aparecimento de miíase no conduto audito, se houver deposição de larvas das moscas do gênero Cochliomyia nesse local. Se o paciente tiver uma perfuração na membrana timpânica, as larvas podem migrar para a região da orelha média. TRATAMENTO 1. Jogar substância oleosa no conduto auditivo (óleo mi- neral ou vegetal), afoga o inseto e diminui o seu atrito com a membrana timpânica, facilitando sua remoção. Antes de jogar o óleo, deve-se analisar se o paciente não apresenta perfuração timpânica. Se ele tiver, o óleo vai cair na orelha média, podendo provocar uma otite mé- dia no paciente, sendo necessário o uso de antibióticos. 2. Lavagem joga-se soro fisiológico morno na orelha, com a ajuda de uma seringa de plástico de 10-20 ml com uma sonda adaptada para dar pressão. O soro entra no conduto auditivo, bate na membrana timpânica e volta, trazendo todo o conteúdo. 3. Remoção com pinça jacaré ou cureta remove os insetos aos pedaços. 4. Após a retirada, realiza-se uma limpeza e, caso haja alguma laceração, utiliza-se antibiótico tópico (pele) ou oral (membrana). INANIMADOS na maioria das vezes estão localizados no istmo, pois é nessa região de estreitamento fisiológico que a criança passa a sentir dor, e por isso não irá empurrar mais o objeto. Não se deve tentar retirar corpos estranhos com objetos inapropriados, pois podem empurrar ainda mais, cau- sando mais dor e tornado sua retirada mais difícil. É ne- cessário retirar com uma pinça apropriada, a de jacaré não permite retirar objetos esféricos, ou lavagem. Se o corpo estranho for uma semente, irá absorver a água e crescer, recomenda-se não fazer lavagem. A simples presença do objeto no conduto auditivo não levará a inflamação, na maioria dos casos, logo não será necessária a prescrição de fármacos após a retirada. ROLHA DE CERA Forma-se em indivíduos que utilizam demais o cotonete, empurrando a cera, que se acumula no conduto auditivo externo e pode causar hipoacusia. Funciona como corpo estranho natural. Em um paciente com rolha de cera, ao mergulhar ou mesmo tomar banho, pode entrar água na orelha e não sair, devido ao depósito de cera. O cerúmen humano é claro em bebês e escurece com a idade. Além disso, a quantidade produzida é pessoal, variando para cada pessoa, por isso a indicação de retirada de cerúmen é individual. PEQUENA pode ser removida no consultório com auxílio de uma cureta. MAIOR pinga-se substância cerolítica, Cerumin, 4 gotas, 4x/dia ou outra solução emoliente (óleos) por 4 dias. Após esse período, o paciente retorna ao consultório para fazer a lavagem que se faz com soro morno, igual à do corpo estranho. Em pacientes que apresentam solução timpânica evita- se jogar água, dando preferência à retirada com cureta. MIRINGITE BOLHOSA Inflamação na pele da camada externa da membrana timpânica. Causada geralmente por vírus, mas pode resultar de infecção bacteriana (S. pneumoniae ou micoplasma). Se desenvolve em geral após um resfriado, em adultos jovens, e é caracterizada por otalgia. Hipoacusia e febre sugerem origem bacteriana. Na otoscopia observa-se a presença de várias bolhas/ve- sículas, que são dolorosas. TRATAMENTO AINEs e analgésicos para dor. As orelhas de indivíduos com má higiene começam a chei- rar a necrose, atraindo baratas. Insetos entram na orelha e não conseguem sair, pois são incapazes de dar ré. Como o conduto auditivo é estreito, elas ficam paradas, causando grande incômodo. Quando estão vivas, ficam mexendo as patas e antenas, causando barulhos. SAI III – Otorrinolaringologia Aula 1 Cecilia Antonieta 82 A 5 Com o tempo as bolhas se rompem sozinhas e o paciente melhora. Frequentemente a miringite bolhosa é confundida com otite média aguda. Em caso de dúvida pode-se prescrever antibiótico. PATOLOGIAS DA ORELHA MÉDIA Têm relação íntima com o funcionamento da tuba audi- tiva, crucial para o bom estado da cavidade timpânica. Em um indivíduo com resfriado comum, hipertrofia de adenoides (tonsilas faríngeas), ou rinite alérgica, pode haver obstrução da tuba auditiva, impedindo a passagem de ar para a orelha média e ocorre absorção, pela mucosa respiratória, do nitrogênio restante no ar da cavidade. Sem adevida renovação do ar, cria-se um ambiente propício para a proliferação de bactérias. A migração de conteúdo da nasofaringe para a orelha média, proliferando bactérias da faringe na cavidade timpânica. OTITE MÉDIA AGUDA (OMA) Complicação de um problema faríngeo, mas pode ocorrer sem história pregressa. É mais frequente em crianças entre 3 meses e 3 anos, devido à horizontalidade da tuba auditiva. O conteúdo da faringe passa pela tuba e contamina a região da caixa timpânica. Pode ser causada por vírus ou bactérias, principalmente pneumococos. Quando de causa viral está relacionada a clima frio, pela sazonalidade desses patógenos. Condição caracterizada por um processo inflamatório infeccioso na cavidade timpânica, com otalgia intensa, hipoacusia e formação de secreções que deixam a membrana timpânica abaulada e hiperemiada. Esse abaulamento aumenta com a evolução da doença e, se não tratada, pode ocorrer rompimento da membrana timpânica. Nas crianças pode haver também febre, vômitos e diarreia. TRATAMENTO ANTIBIOTICOTERPIA ORAL amoxicilina + clavulanato, principalmente na criança pela maior ocorrência de bactérias como Moraxella catharralis. Criança 40-80 mg/kg/peso por dia de 8-8h, durante 10 dias. Adulto comprimido de 500 mg de 8-8h ou comprimido de 875 mg de 12-12h, durante 10 dias. ANALGESIA analgésicos, AINEs ou corticoides (Prednisona 20-40, 3x/dia). REESTABELECER A FUNCIONALIDADE DA TUBA AUDITIVA lavagem nasal e/ou descongestionante. A melhora dos sintomas geralmente ocorre em 24-48 h após o início do tratamento. Se a membrana timpânica romper, a dor é aliviada, porém o indivíduo passa a apresentar otorreia amarelada (secreção mucopurulen- ta) e as vezes otorragia (sangue). Ocasionalmente essas secreções podem contaminar o conduto auditivo externo, evoluindo para uma otite externa. Se o indivíduo não tiver hipertrofia de adenoide, não mergulhar na água, tiver a função do parênquima nor- malizada, a membrana se regenera espontaneamente. Se o paciente tiver alguma alteração ou mergulhar em água até 2 semanas após o fim da otorreia não haverá cicatrização adequada da membrana, permanecendo a perfuração timpânica como sequela, e na maioria das vezes, a perfuração evolui para uma otite média crônica. Se a perfuração timpânica for central, o prognóstico é melhor para o paciente. A membrana é composta de 3 camadas, porém na região superior (epitímpano) há somente pele e mucosa, pois, as fibras da camada média (fibrosa) terminam nas pregas maleolares do martelo. OTITE MÉDIA CRÔNICA SIMPLES Geralmente consequência de uma OMA não tratada, com destruição da membrana timpânica e/ou dos ossículos. Pacientes apresentam hipoacusia e otorreia intermitente, com longos períodos de remissão, porém sem dor. À otosocopia, observa-se perfuração da membrana timpânica de tamanho variável. Se houve infecção ativa, a região apresenta-se com hiperemia, edema e secreção. As reinfecções ocorrem por rinofaringites ou banhos de piscina e mar. Deve-se aspirar e limpar a otorreia, e por vezes é necessário o uso de antibiótico para cessar a secreção. Se houver perfuração marginal, a pele e a mucosa irão tentar fechar ao mesmo tempo – se conseguirem, há a cura. Se a pele for mais rápida que a mucosa, e passar para dentro do conduto alcançando a cavidade timpânica, ela começa a crescer e formar um cisto – colesteatoma. SAI III – Otorrinolaringologia Aula 1 Cecilia Antonieta 82 A 6 O tratamento definitivo é cirúrgico, por meio da timpanoplastia – reconstrução da membrana timpânica com um enxerto. COLESTEATOMA Cisto formado pela proliferação de pele dentro do conduto da membrana timpânica devido ao processo de fechamento da membrana timpânica pela porção cutânea do conduto após uma OMA. Tem-se otite médica crônica e otorreia fétida (muito característica), que ocorre pela descamação (branco nacarada) com a presença de bactérias gram negativas. Não é maligno, mas cresce e destrói os ossículos, poden- do atingir o teto do tímpano, mastoide e evoluir até para complicações neurológica, como fístulas liquória e me- ningite. Em um paciente com otorreia fétida, a conduta é encaminhar ao especialista e/ou solicitar uma TC das mastoides para afastar a presença de colesteatoma. O tratamento é cirúrgico: abre a orelha do paciente e remove o colesteatoma raspando toda a mucosa. OTITE MÉDIA SECRETORA OU SEROSA (OMS) Acontece quando a tuba auditiva não funciona bem, como por exemplo em criança que não mastiga os alimentos. Se não houver o mecanismo de abertura, surge uma pressão negativa na cavidade timpânica, com modificação do muco e formação de uma secreção conhecida como glue tea (substância espessa e transparente parecida com cola, que na otoscopia aparece com um aspecto de bolhas devido ao ar preso). Acontece, pois, dentro da caixa timpânica tem-se a secreção a um dado pH, e quando o ar deixa de passar, há uma baixa concentração de oxigênio e a secreção começa a ser muito espessa. O paciente apresenta hipoacusia por má condução do som, visto que a membrana timpânica fica cheia de secreção e não consegue vibrar. Antes de iniciar o tratamento, deve-se investigar qual a causa da otite e corrigi-la. Algumas causas são tabagis- mo passivo, alergia alimentar, pouca mastigação (ali- mentação pastosa) e hipertrofia de adenoide. A radio- grafia do cavum (rinofaringe) ou videolaringoscopia podem ser solicitadas para avaliar a adenoide. Se mesmo após a correção da causa não houver melhora, ou ainda se a causa não tiver sido identificada, inicia-se o tratamento medicamentoso. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO corticoide nasal em spray para crianças acima de 2 anos ou oral, sempre em doses baixas e por pouco tempo, utilizado para melhorar a função tubária, diminuindo o edema para desobstrui-la. Recomenda-se também o uso de descongestionantes nasais e lavagem nasal com soro fisiológico. Em países frios e no sul do Brasil pode ser necessário o uso de antibiótico, devido à prevalência de otite média secretora por Moraxella catharralis. Caso não melhore com o tratamento medicamentoso, ou se houver cronificação (tímpano retraído, sem retorno), deve-se fazer uma cirurgia para colocar um tubo de ventilação, que vai funcionar como a tuba auditiva arejando a membrana timpânica. Em aproximadamente 6 meses esse dreno vai ser expulso, e durante esse período deve-se descobrir a causa do problema tubário e resolvê-la. TRAUMA PERFURATIVO NA MEMBRANA TIMPÂNICA O paciente sente um dor súbita e intensa, e pode haver sangramento (otorragia) e hipoacusia. A perfuração pode ocorrer também devido à pressão. Se não houver infecção, essa membrana regenera naturalmente (com resultados perceptíveis a partir de 3 semanas), não havendo a necessidade de utilizar nenhum medicamento. O único cuidado necessário é orientar o paciente a não molhar a orelha por 3 meses.
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