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Julia Paris Malaco – ambulatório otorrino Ambulatório – otites e colesteatoma Anatomia Orelha externa A orelha externa é formada pela orelha (pavilhão auricular), pelo meato acústico externo e pela membrana timpânica. A sua margem é a hélice; a parte inferior é o lóbulo. Ligamentos e músculos ligam a orelha à cabeça. O meato acústico externo é um tubo curvado com cerca de 2,5 cm de comprimento que se encontra no temporal e leva à membrana timpânica. A membrana timpânica ou tímpano é uma divisão fina e semitransparente entre o meato acústico externo e a orelha média. A membrana timpânica é coberta por epiderme e revestida por um epitélio cúbico simples. Entre as camadas epiteliais encontra-se tecido conjuntivo composto por colágeno, fibras elásticas e fibroblastos. O rompimento da membrana timpânica é chamado de perfuração do tímpano. Próximo a sua abertura externa, o meato acústico externo contém alguns pelos e glândulas sudoríferas especializadas chamadas de glândulas ceruminosas, que secretam cera de ouvido ou cerume. Orelha média A orelha média é uma pequena cavidade, cheia de ar e revestida por epitélio, situada na parte petrosa do temporal. Ela é separada da orelha externa pela membrana timpânica e da orelha interna por uma divisão óssea fina que contém duas pequenas aberturas: a janela do vestíbulo (oval) e a janela da cóclea (redonda). Estendendo-se através da orelha média e ligada a ela através de ligamentos encontram-se os três menores ossos do corpo, os ossículos da audição, que são conectados por articulações sinoviais. Os ossos, nomeados por causa de seus formatos, são o martelo, a bigorna e o estribo. O “cabo” do martelo se liga à face interna da membrana timpânica. A “cabeça” do martelo é articulada ao corpo da bigorna. A bigorna, o osso do meio na série, se articula com a cabeça do estribo. A base do estribo se encaixa na janela do vestíbulo (oval). Diretamente abaixo dessa janela encontra-se outra abertura, a janela da cóclea (redonda), que é encapsulada por uma membrana chamada de membrana timpânica secundária. Além dos ligamentos, dois pequenos músculos esqueléticos também se ligam aos ossículos. O músculo tensor do tímpano, que é inervado pelo ramo mandibular do nervo trigêmeo (V), limita o movimento e aumenta a tensão da membrana timpânica, evitando danos à orelha interna por causa de barulhos muito altos. O músculo estapédio, que é inervado pelo nervo facial (NC VII) é o menor músculo esquelético do corpo humano. Ao evitar grandes vibrações no estribo decorrentes de sons altos, ele protege a janela do vestíbulo (oval), mas também diminui a sensibilidade auditiva. Por esse motivo, a paralisia do músculo estapédio está associada à hiperacusia, que é uma audição anormalmente sensível. A parede anterior da orelha média contém uma abertura que leva diretamente para a tuba auditiva, conhecida também pelo epônimo trompa de Eustáquio. A tuba auditiva, contendo osso e cartilagem elástica, conecta a orelha média com a parte nasal da faringe ou nasofaringe (porção superior da garganta). Ela normalmente encontra-se fechada em sua extremidade medial (faríngea). Durante a deglutição e ao bocejar, ela se abre, permitindo que o ar entre ou saia da orelha média até que a pressão nela seja igual à pressão atmosférica. Julia Paris Malaco – ambulatório otorrino Orelha interna A orelha interna também é chamada de labirinto por causa de sua série complicada de canais. Estruturalmente, ela é formada por duas divisões principais: um labirinto ósseo externo que encapsula um labirinto membranáceo interno. O labirinto ósseo é formado por uma série de cavidades na parte petrosa do temporal divididas em três áreas: (1) os canais semicirculares, (2) o vestíbulo e (3) a cóclea. O labirinto ósseo é revestido por periósteo e contém a perilinfa. Esse líquido, que é quimicamente semelhante ao líquido cerebrospinal, reveste o labirinto membranáceo, uma série de sacos e tubos epiteliais dentro do labirinto ósseo que têm o mesmo formato geral do labirinto ósseo, abrigando os receptores para a audição e o equilíbrio. O labirinto membranáceo epitelial contém a endolinfa. O nível de íons potássio (K+) na endolinfa é incomumente alto para um líquido extracelular e os íons potássio desempenham um papel na geração dos sinais auditivos (descritos a seguir). O vestíbulo é a parte central oval do labirinto ósseo. O labirinto membranáceo no vestíbulo é formado por dois sacos chamados de utrículo e sáculo, que são conectados por um pequeno ducto. Projetando-se superior e posteriormente ao vestíbulo encontram-se três canais semicirculares ósseos, cada um deles localizado em ângulos aproximadamente retos um em relação aos outros dois. Com base em suas posições, eles são nomeados como canais semicirculares anterior, posterior e lateral. Os canais semicirculares anterior e posterior são orientados verticalmente; o canal lateral é orientado horizontalmente. Em uma extremidade de cada canal encontra-se um alargamento redondo chamado de ampola. As partes do labirinto membranáceo que se encontram dentro dos canais semicirculares ósseos são chamados de ductos semicirculares. Essas estruturas se conectam ao utrículo do vestíbulo. O nervo vestibular, parte do nervo vestibulococlear (VIII) consiste nos nervos ampular, utricular e sacular. Esses nervos contêm neurônios sensitivos de primeira ordem e neurônios motores que formam sinapses com os receptores de equilíbrio. Os neurônios sensitivos de primeira ordem carregam a informação sensorial proveniente dos receptores e os neurônios motores carregam sinais de retroalimentação para os receptores, aparentemente para modificar sua sensibilidade. Os corpos celulares dos neurônios sensitivos encontram-se localizados nos gânglios vestibulares. Anteriormente ao vestíbulo encontra-se a cóclea, um canal espiral ósseo que lembra a casca de um caracol e realiza quase três voltas ao redor de um núcleo ósseo central chamado de modíolo. Cortes histológicos através da cóclea revelam que ela é dividida em três canais: o ducto coclear, a rampa do vestíbulo e a rampa do tímpano. O ducto coclear é uma continuação do labirinto membranáceo em direção à cóclea; ele é preenchido por endolinfa. O canal acima do ducto coclear é a rampa do vestíbulo, que termina na janela do vestíbulo (oval). O canal abaixo é a rampa do tímpano, que termina na janela da cóclea (redonda). Tanto a rampa do vestíbulo quanto a rampa do tímpano são partes do labirinto ósseo da cóclea; portanto, essas câmaras são preenchidas por perilinfa. A rampa do vestíbulo e a rampa do tímpano são separadas completamente pelo ducto coclear, exceto por uma abertura no ápice da cóclea, o helicotrema. A cóclea é adjacente à parede do vestíbulo, na qual a rampa do vestíbulo se abre. A perilinfa no vestíbulo é contínua com aquela da rampa do vestíbulo. A membrana (parede) vestibular separa o ducto coclear da rampa do vestíbulo e a lâmina basilar separa o ducto coclear da rampa do tímpano. Localizada sobre a lâmina basilar encontra-se o órgão espiral ou órgão de Corti. O órgão espiral é uma lâmina espiral de células epiteliais, incluindo células epiteliais de sustentação e cerca de 16.000 células ciliadas, que são os receptores da audição. Existem dois grupos de células ciliadas: as células ciliadas internas estão organizadas em uma única fileira, enquanto as células ciliadas externas estão organizadas em três fileiras. Na porção apical de cada célula ciliada encontram- se entre 40 e 80 estereocílios, que se estendem para a endolinfa do ducto coclear. Apesar de seu nome,os estereocílios são microvilosidades longas e semelhantes a pelos organizadas em várias fileiras de comprimento graduado. Em suas extremidades basais, as células ciliadas formam sinapses com os neurônios sensitivos de primeira ordem e com os neurônios motores da parte coclear do nervo vestibulococlear (VIII). Os Julia Paris Malaco – ambulatório otorrino corpos celulares dos neurônios sensitivos estão localizados no gânglio espiral. Embora as células ciliadas externas superem em quantidade as células ciliadas internas em uma proporção de três para um, as células ciliadas internas formam sinapses com 90 a 95% dos neurônios sensitivos de primeira ordem no nervo coclear, que transmite a informação auditiva para o encéfalo. Em comparação, 90% dos neurônios motores no nervo coclear formam sinapses com as células ciliadas externas. A membrana tectória é uma membrana gelatinosa flexível que cobre as células ciliadas do órgão espiral. Na realidade, as extremidades dos estereocílios das células ciliadas estão em contato com a membrana tectória enquanto os corpos das células ciliadas se encontram sobre a lâmina basilar. Otites A otite média é definida como um processo de natureza inflamatória, infecciosa ou não que ocupa focal ou generalizadamente a fenda auditiva. O osso temporal apresenta espaços pneumatizados contíguos e, portanto, a inflamação da orelha média pode envolver também a mastóide, o ápice petroso e as células perilabirínticas. Otoscopia (exame físico): Na avaliação da membrana timpânica devemos observar a posição (retrações e abaulamentos), mobilidade e cor. Uma membrana anormal freqüentemente está opaca e pode parecer amarela ou azul Julia Paris Malaco – ambulatório otorrino (indicando efusão na orelha média). Podem ser vistas, em alguns casos, bolhas de ar na orelha média, que se movem com a manobra de Valsalva, ou mesmo nível hidroaéreo. Mobilidade apenas com pressão negativa sugere disfunção tubária, enquanto movimentos pequenos com pressão negativa e positiva sugerem a presença de líquido na orelha média, e a imobilidade da MT à pressão, sugere perfuração timpânica. Bolsas de retração podem ser observadas em qualquer ponto na MT, representando uma área de atelectasia, cicatriz de tubo de ventilação, sítio de perfuração ou o efeito da pressão negativa. Otites externas Otite externa difusa: Otite externa é a inflamação aguda da pele que recobre o conduto auditivo externo. Na sua etiopatogênese, são importantes fatores predisponentes locais, como traumatismo por manipulação doconduto, umidade e calor, tanto que essa inflamação é mais frequente em nadadores, no verão, nos países tropicais e nas otorreias crônicas. O agente etiológico mais isolado é Pseudomonas aeruginosa- é uma bactéria gram-negativa, baciliforme (característica morfotintorial) e aeróbia. A pele do conduto apresenta hiperemia e edema de intensidade variável e, nos casos mais graves, pode estar recoberta por exsudato purulento. Quando as glândulas ceruminosas são afetadas pela inflamação, ocorre diminuição na produção do cerume, predispondo a novas infecções. Quadro clinico: otalgia moderada a intensa, geralmente unilateral, que piora à compressão do tragus ou manipulação do pavilhão auricular. Nãose observam alterações sistêmicas como febre e queda do estado geral. A otoscopia é dolorosa, e observam-se edema difuso do CAE, chegando a ocluí-lo, hiperemia, descamação e secreção. Diagnóstico: eminentemente clínico; quando possível, deve-se realizar cultura de secreção; Tratamento: de acordo com a gravidade da doença: o Casos leves: gotas tópicas contendo antibióticos e corticoides; o Casos intensos: associar antibióticos orais (cefalexina, cefadroxila ou ciprofloxacino).. Otite externa necrosante ou maligna Definição: infecção originária do CAE que se estende para as estruturas adjacentes – articulação temporomandibular, pavilhão auricular, orelha média, mastoide, base do crânio, orelha interna e osso temporal. Tem caráter bastante invasivo, gerando destruição tissular e intenso processo inflamatório; Etiologia: Pseudomonas aeruginosa; Fatores de risco: diabetes não controlado (90%), idosos e imunossupressão como AIDS, doenças linfoproliferativas e quimioterapias; Quadro clínico: inicia-se como otite externa aguda refratária ao tratamento clínico. A dor é de moderada a intensa, prurido, otorreia. Sintomas sistêmicos como queda do estado geral, descompensação diabética, febre e cefaleia. Hipoacusia com plenitude auricular e otorreia são típicos. Com a evolução, pode acometer regiões adjacentes, gerando dor à movimentação da articulação temporomandibular, restrição à abertura oral – acometimento de masseter –, adenopatia cervical e necrose dos tecidos adjacentes. A invasão do osso temporal gera sinais de complicações secundárias, como paralisia facial periférica – acometimento do nervo facial – e formação de abscessos intracranianos ou intratemporais. Os nervos cranianos mais comumente envolvidos são o VII, X, XI; Exame físico: intenso edema e hiperemia no pavilhão auricular e no CAE, secreção purulenta no CAE, ulcerações na derme, granulações locais e dor intensa ao toque; paralisia facial pode ocorrer Tratamento: Antibioticoterapia parenteral - ciprofloxacino como o antibiótico mais comumente utilizado, porém outros agentes anti- Pseudomonas devem ser considerados; Otite externa circunscrita Definição: infecção em complexo pilossebáceo do CAE, de localização bem definida e circunscrita (furúnculo); Etiologia: causada principalmente por Staphylococcus aureus; Quadro clínico: dor intensa local, evolução rápida, algumas vezes com febre. À otoscopia, observa-se edema localizado com sinais flogísticos, muito doloroso ao toque. Tratamento: antibióticos com cobertura para Gram positivos, como cefalexina; analgésicos e anti-inflamatórios também devem ser utilizados Julia Paris Malaco – ambulatório otorrino Otite media aguda Comumente, o paciente relata história de otalgia súbita após estado gripal. A otalgia piora com a deglutição ou o assoar do nariz, podendo ocorrer também hipoacusia, sensação de plenitude auricular e ruídos subjetivos e, ainda, pulsações auriculares sincrônicas com os batimentos cardíacos (sinal de Scheibe) e equivale a um empiema da caixa do tímpano. Algumas vezes acompanha-se de microperfuração pulsátil e a dor diminui à medida que se diminui a pressão na orelha média após perfuração da membrana timpânica (otorreia). A OMA é, na maioria das vezes, secundária a IVAS e processos inflamatórios-alérgicos das vias aéreas superiores. Nessas situações, há edema mucoso e disfunção na tuba auditiva, favorecendo a estase de secreção na orelha média; O principal pico de incidência de OMA é entre 6 e 11 meses de idade; com um segundo pico entre 4 e 5 anos de idade. Até 2 anos de idade, tanto OMA quanto otite média secretora (OMS) são bilaterais em sua maioria. Após os 2 anos, a maioria dos episódios de OMA e OMS é unilateral. No quadro 1 observamos alguns fatores de risco para o desenvolvimento das otites médias. Dentre os fatores de proteção encontramos o aleitamento materno, rico em imunoglobulinas, diminuindo do risco de OMA no primeiro ano de vida. A OMA inicia-se com edema, engurgitamento capilar e infiltrado polimorfonuclear na lâmina própria da mucosa da orelha média formandoum exsudato purulento. Ulceração epitelial pode ocorrer, resultando em proliferação de tecido de granulação, que pode manter a infecção, obstruir a drenagem e a ventilação da orelha média e levar à destruição óssea através da ação de enzimas. Com a evolução da inflamação, o edema é substituído por fibrose e as células inflamatórias inicialmente polimorfonucleares serão suplantadas pelos linfócitos. Na evolução de uma OMA, podemos encontrar a OMS e, se houver perfuração crônica da membrana timpânica, a apresentação será de uma otite média crônica (OMC) Tratamento: Antibioticoterapia - a primeira opção é a amoxicilina via oral por 10 dias. Espera-se melhora clínica e remissão da febre após 48 a 72 horas do uso da medicação. Se não houver, pode-se utilizar outros antibióticos como amoxicilina-ácido clavulânico, cloranfenicol, cefaclor e outras cefalosporinas de segunda geração. Primeira escolha: amoxicilina Segunda escolha: amoxicilina + ácido clavulânico ou axetilcefuroxima Sintomáticos: Sempre devem ser utilizados (analgésicos, antitérmicos e antiinflamatórios não-hormonais). Muitos pacientes com OMA tratada adequadamente persistem com efusão na orelha média que vai se resolver espontaneamente em até 3 meses (tempo médio é de 40 dias). Na tentativa de abreviar este período pode-se usar: novo tratamento com antibiótico diferente, novo tratamento com o mesmo antibiótico por mais tempo, descongestionantes sistêmicos ou tópicos, corticóide sistêmico e observação. Não há comprovação experimental de que o tratamento medicamentoso é melhor que a observação. Caso a secreção se torne crônica, o paciente deve ser encarado como portador de OMS. Na otite média aguda supurada (quadro 6), a membrana timpânica do paciente com OMA sofre uma perfuração com extravasamento de secreção mucopurulenta acompanhada de alívio da dor. Se for constatada a presença de otite externa associada, deve-se introduzir gotas otológicas tópicas. Caso contrário, deve-se manter o tratamento com antibiótico oral e proteger a orelha da entrada de água. Julia Paris Malaco – ambulatório otorrino Otite média purulenta É a mais frequente de todas as otites, acomete principalmente crianças. As bactérias mais encontradas são Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae. Na maioria das vezes, a infecção bacteriana do ouvido médio é precedida de infecções virais das vias respiratórias, as quais alteram a função da tuba auditiva. Disfunção tubária diminui a drenagem das secreções do ouvido médio e aumenta a pressão negativa na cavidade timpânica, predispondo a aspiração de secreções nasofaríngeas contaminadas responsáveis pela infecção bacteriana. Morfologicamente, a mucosa do ouvido médio apresenta hiperemia, edema, áreas hemorrágicas e infiltração de neutrófilos. Em pouco tempo, forma-se exsudato purulento que preenche a cavidade timpânica e as células da mastoide. Algumas vezes, a inflamação causa necrose da mucosa. Clinicamente, manifesta-se tipicamente por otalgia. Em alguns casos, a membrana timpânica se rompe espontaneamente devido à necrose e permite a saída de secreção purulenta no canal auditivo. Outras complicações mais graves são necrose dos ossículos, granuloma de colesterol, meningite, tromboflebite cerebral, osteomielite do osso temporal, labirintite e mastoidite aguda. Esta deve ser diferenciada da inflamação da mucosa mastóidea, que é comum no decurso de otite média aguda. Na mastoidite aguda verdadeira, ocorrem osteíte e destruição das trabéculas ósseas das células aéreas da mastoide, com formação de empiema. Tratamento: o Consiste em antibioticoterapia, por um período de tempo de 10 a 15 dias. o As droga de eleição é a amoxicilina, podendo ser usadas penicilina e outros antibióticos de largo espectro. o Devem ser associadas medidas sintomáticas de alivio da dor e da febre, como calor local e analgésicos/antitérmicos. Nos casos de recorrência ou dificuldade de resolução, está indicada a realização de miringotomia ou paracentese para alivio da dor, drenagem da secreção e arejamento do ouvido médio. Otite media aguda recorrente A otite média aguda recorrente (OMAR) é definida como 3 ou mais episódios de OMA em 6 meses ou 4 ou mais episódios de OMA em 1 ano Tratamento: o quimioprofilaxia com antibióticos: em desuso por sua baixa eficácia e por induzir resistência bacteriana (aumenta a possibilidade de colonização de S. pneumoniae resistente) o miringotomia e colocação de tubo de ventilação (TV): eficaz enquanto o tubo estiver funcionando e se forem tomados cuidados locais para evitar entrada de água na orelha média. o adenoidectomia: para pacientes com obstrução tubária, associada à miringotomia e TV. o vacinas: antipneumocócica e antiinfluenza (vírus). Otite media secretora Otite média serosa é inflamação frequente caracterizada por acúmulo de líquido seroso ou mucoso no ouvido médio, com membrana timpânica íntegra; sobretudo a do tipo mucoso, essa inflamação é uma das causas mais comum de hipoacusia em crianças. Definida como a presença de líquido na cavidade da orelha média, sem evidências de infecção, estando a membrana timpânica íntegra. Também denominada de otite média efusional (OME), otite média serosa, otite média mucóide, entre outros. Os diferentes nomes da mesma doença tentam expressar as variações nas características do líquido encontrado na fenda auditiva. Várias condições favorecem obstrução ou disfunção da tuba auditiva: resfriados, adenoides hipertrofiadas, fenda palatina, tumores da nasofaringe, alergia, processos inflamatórios agudos e crônicos da mucosa sinonasal e sequela de otite média aguda purulenta. Julia Paris Malaco – ambulatório otorrino No início, ocorre congestão venosa da mucosa e exsudação serosa; quando a hipoventilação persiste por período prolongado, o epitélio do ouvido médio torna-se progressivamente rico em células caliciformes produtoras de muco. Nesse estágio, o líquido que preenche a cavidade timpânica é denso e viscoso, como cola. Morfologicamente, trata-se de otite média crônica sem perfuração da membrana timpânica. Quadro clinico: Caracteriza-se pelo histórico de otites recorrentes e queixa de hipoacusia. Ao exame físico, encontram-se diminuição da transparência da MT, aumento de sua vascularização radial, coloração variável e áreas de retração; Em crianças, o quadro pode ser assintomático. Pode haver perda auditiva condutiva, normalmente percebida pelos pais ou professores, podendo ser o único sintoma. Pode haver otalgia, história de IVAS recorrentes ou OMAR. Em adultos, a queixa normalmente é de hipoacusia e plenitude auricular. Pode haver autofonia e zumbido. O paciente geralmente relaciona o início da doença com um quadro de IVAS. Na fase inicial, em que o derrame é seroso, a mucosa do ouvido médio apresenta alterações discretas, como edema e infiltrado inflamatório. Na fase crônica, o epitélio simples ou ciliado transforma-se em epitélio secretor com células caliciformes, e na lâmina própria surgem glândulas mucosas. Clinicamente, a otite média - secretora geralmente é indolor, mas causa hipoacusia. As principais sequelas são modificações na membrana do tímpano (timpanosclerose e bolsas de retração),colesteatoma e predisposição a surtos recorrentes de otite média purulenta Tratamento: A OMS pode se desenvolver após um quadro de IVAS, durar de 1 a 2 meses e se resolver espontaneamente. Logo, o tratamento nesses casos não se faz necessário. O tratamento da OMS deve ser considerado em criançascom secreção na orelha média por 2 meses ou mais. A decisão de quando iniciar um tratamento ou somente observar o paciente dependerá de: o hipoacusia prejudicando o desenvolvimento da fala e linguagem. Perda condutiva em paciente que já apresenta algum grau de perda neurossensorial deve ser tratada mais agressivamente; o Desconforto (acordar à noite, irritabilidade, coçar as orelhas ou a cabeça); o Episódios freqüentes de OMS que, somados, representam vários meses em 1 ano; o Vertigens ou instabilidade; • alterações da MT (atelectasia ou bolsas de retração); o Patologia da orelha média (otite adesiva ou acometimento ossicular); o Doença respiratória alta associada (sinusite, adenoidite ou amigdalite). O objetivo do tratamento da OMS é reverter o grau de perda auditiva e prevenir a perpetuação das alterações na orelha média, que podem levar ao desenvolvimento da OMC. Otite media aguda necrosante Constitui uma forma mais grave de otite média aguda bacteriana, na qual ocorre necrose extensa do ouvido médio, deixando sequelas. A inflamação atinge mais comumente crianças pequenas com doenças infecciosas (p. ex., sarampo, escarlatina) que provocam queda do estado geral. O agente etiológico mais encontrado é o estreptococo β-hemolítico. Otite media crônica A Otite Média Crônica (OMC) pode ser definida como um processo inflamatório crônico da orelha média associado à perfuração da MT. Quadro clínico: otorreia recorrente, principalmente ao molhar o ouvido, hipoacusia e zumbido; sintomas menos comuns são plenitude auricular, otalgia e otorragia; Divide-se em 3 subtipos: simples, supurativa e colesteatomatosa. Otite media crônica simples Definição: caracteriza-se por perfuração da MT, associada a pouca ou nenhuma alteração na mucosa da orelha média. Em geral, a perfuração acontece após OMA supurada, ou perfuração traumática; Quadro clínico: hipoacusia e otorreias em crises, principalmente ao molhar o ouvido e em vigência de IVAS. A otoscopia mostra perfuração na MT sem alterações significativas na caixa timpânica; Diagnóstico: basicamente clínico; na audiometria, o paciente apresenta gap aéreo-ósseo pelo comprometimento da condução sonora. Os casos de OMC simples dispensam exames de imagem. Quando realizada, a TC de mastoide em geral não apresenta alterações; Julia Paris Malaco – ambulatório otorrino Tratamento: a proteção auricular contra água deve ser realizada diariamente; o Crises de otorreias: reagudizações: gotas tópicas com ciprofloxacino. Antibioticoterapia por via oral (amoxicilina e ácido clavulânico) pode ser utilizada nos casos mais intensos; o Tratamento em longo prazo: pode ser feito com acompanhamento clínico- audiométrico periódico sem abordagem cirúrgica ou por meio de timpanoplastia para a reconstrução da perfuração da MT Otite media crônica supurativa Definição: processo inflamatório persistente da mucosa da orelha média, associado a perfuração da MT, sem lamelas de colesteatoma; Quadro clínico: hipoacusia e otorreia fétida persistente, refratária ao tratamento clínico com gotas e antibioticoterapia oral. Ao exame físico, há perfuração parcial ou total da MT e mucosa com aspecto inflamatório, além de eventual presença de pólipos na orelha média. Tratamento: em geral, é cirúrgico, com mastoidectomia simples e reconstrução da MT Otite média crônica não coleteatomatosa Dependendo da gravidade, a otite média não colesteatomatosa pode ser simples ou supurada. A otite média crônica simples caracteriza-se por crises intermitentes de supuração não fétida (geralmente mucosa ou mucopurulenta), com tendência a cura espontânea. A inflamação surge em consequência de perfuração do tímpano, geralmente na porção central, por otitemédia aguda necrosante, quando a mucosa do ouvido médio torna-se exposta a agressões do meio exterior, perde seus mecanismos de defesa e fica predisposta a infecções repetidas. A inflamação é restrita à mucosa do ouvido médio, que se apresenta infiltrada por linfócitos, plasmócitos e neutrófilos. Com o tempo, surge fibrose progressiva, que pode comprometer a motilidade da cadeia ossicular. Clinicamente, manifesta-se por otorreia não fétida intermitente e, eventualmente, perda auditiva discreta e do tipo condutivo. Na otite média crônica supurada, há comprometimento das estruturas ósseas e formação eventual de sequestros. Otorreia através do tímpano perfurado é constante e, na maioria das vezes, fétida. Pseudomonas, colibacilos e Staphylococcus aureus são as bactérias mais encontradas. Morfologicamente, tanto a mucosa quanto o tecido ósseo do ouvido médio apresentam alterações. A mucosa tem espessura variada, sofre ulcerações e fica revestida por epitélio colunar ciliado com hiperplasia de células mucosas. A lâmina própria torna-se fibrótica e espessada, contendo infiltrado linfoplasmocitário; muitas vezes, formam-se massas polipoides de tecido de granulação que podem exteriorizar-se através da membrana timpânica perfurada (pólipo aural) Além disso, surgem glândulas tubulares na mucosa. As lesões ósseas também são acentuadas pela alternância de reabsorção e deposição, modificando a estrutura interna do osso mastóideo; a cadeia ossicular apresenta grau variado de destruição. Clinicamente, a perfuração timpânica tem tamanho e localização variados, a otorreia é fétida e contínua e a perda de audição depende do grau de comprometimento da cadeia ossicular Na fase de supuração o tratamento é clínico, e deve ser realizado com o uso de gotas auriculares que contenham associação de antibióticos e corticóides e, também, descongestionantes. Só nos casos mais resitentes é aconselhado o uso da antibioticoterapia sistêmica. Normalmente o quadro regride só com o uso de gotas locais. Cuidados de higiene local são recomendados, principalmente a não permissão de entrada de água nos ouvidos. Colesteatoma Também conhecido como otite média colesteatomatosa, consiste em cisto não neoplásico revestido por epitélio escamoso que descama e tem crescimento ativo no interior do ouvido médio. Processo inflamatório persistente da mucosa da orelha média, associado à perfuração da MT e à presença de colesteatoma na orelha média. Julia Paris Malaco – ambulatório otorrino O colesteatoma é uma estrutura lamelar que histologicamente apresenta estrutura epitelial do tipo escamoso estratificado queratinizado que cresce descontroladamente (formando lamelas) e apresenta comportamento lítico em relação às estruturas adjacentes, destruindo o ouvido progressivamente. Esse comportamento é denominado pseudotumoral. As lamelas podem infectar-se por diversas bactérias, como S. aureus e Pseudomonas, produzindo otorreia de odor muito fétido e característico, com grande prejuízo psicossocial. Os colesteatomas podem ser classificados em: Congênitos: podem ocorrer em diversos locais do osso temporal. Têm crescimento lento e, quando sintomáticos, geralmente já atingiram grandes proporções. À otoscopia, caracterizam-se por manterem a MT intacta, crescendo na cavidade timpânica. Com a progressão, podem, também, destruir a MT e as estruturas da orelha média; Adquiridos: podem ser classificados em primários e secundários. Os primários decorrem de retração crônica da MT na sua porção flácida. Os secundários originam-se por OMA de repetição, com perfuração da MT, que permite a migração de tecido epitelial do CAE para o interior do ouvido médio A patogênese do colesteatoma é controversa, sendo propostos vários mecanismos para explicar a presença de epitélio escamoso ceratinizanteno ouvido médio: Metaplasia do epitélio do ouvido médio resultante de inflamação crônica (atualmente esta hipótese é considerada improvável); Migração do epitélio escamoso da membrana timpânica para o ouvido médio através de perfuração crônica; Invaginação de parte da membrana timpânica para o interior da cavidade do ouvido médio, formando uma bolsa de retração revestida pelo epitélio escamoso da face externa da membrana do tímpano. Nas duas últimas hipóteses, é proposto que a otite média crônica, além de levar à perfuração da membrana timpânica ou à formação de bolsa de retração, também alteraria os mecanismos de controle da proliferação do epitélio escamoso. A alteração desses mecanismos afetaria o processo normal de migração epitelial de certas regiões da face externa da membrana timpânica, que tem por finalidade evitar o acúmulo de ceratina. Consequentemente, haveria entrada aberrante de epitélio com grande capacidade de crescimento no ouvido médio. Histologicamente, o colesteatoma é uma lesão cística revestida por epitélio escamoso ceratinizado, cuja cavidade fica preenchida por escamas córneas. No estroma fibroso, abaixo do epitélio encontram- se infiltrado de mononucleares e, não raro, cristais de colesterol associados a reação granulomatosa do tipo corpo estranho (granuloma de colesterol). Esses granulomas correspondem a reação macrofágica do tipo corpo estranho a cristais de colesterol, provenientes hemorragias prévias. O colesteatoma surge em qualquer idade, porém é mais comum na terceira e quarta décadas de vida. Os sintomas são semelhantes aos da otite média crônica supurada, com otorreia espessa e fétida, associada a deficiência auditiva causada por destruição dos ossículos. Na mastoide, o colesteatoma destrói progressivamente as suas estruturas. As principais complicações são labirintite, fístula labiríntica, paralisia do nervo facial, petrosite e meningite. Pólipo aural e granuloma de colesterol são secundários a otite média crônica, colesteatomatosa ou não. O pólipo aural é uma massa polipoide de tecido de granulação cronicamente inflamado. Diagnóstico: à otoscopia, pode-se observar secreção muito fétida, de coloração var iável, com perfuração da MT geralmente em sua porção flácida, formando bolsas de retração com secreção e descamação epitelial no seu interior. A TC de osso temporal – cortes axiais e coronais – mostra uma massa de tecido mole posterossuperior na caixa timpânica, homogênea, não calcificada, de contornos lobulados, com efeito de massa com deslocamento medial da cadeia ossicular, osteólise de estruturas finas, como os ossículos, e retração da MT; Tratamento: é cirúrgico, por meio de mastoidectomia subtotal ou radical. Muitas vezes é necessário mais de 1 procedimento além do acompanhamento periódico ambulatorial.
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