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ECA - Tomasevicius 1 07.03 - Camila Proteção da Infância e do Adolescente no Brasil 1. No mundo A primeira declaração que previu uma proteção à infância foi de 1924 – a Declaração de Genebra de 1924. A próxima foi a Declaração dos Direitos da ONU de 1948. O mais importante foi o diploma seguinte, a Declaração Universal dos Direitos da Criança e do Adolescente de 1959. Alguns autores entendem que a doutrina da proteção integral (do ECA, e majoritária) surgiu com a declaração de 1959, mas alguns entendem que surgiu antes, nos Congressos Panamericanos da Infância, que existiam no âmbito das Américas (Caracas, 1948), aí foi se solidificando nos próximos (1955 – Panamá; Argentina, 1963). Convenção dos Direitos da Criança e do Adolescente de 1989. É considerada como um diploma que se aplica aos países que o ratificaram, enquanto a declaração é mais uma carta de intenções, com princípios. O art. 19 desta Convenção é o que prevê a proteção integral. Essa Convenção foi ratificada pelo Brasil, através do Decreto 99710/1990. “Tríade da infância” – a Convenção de 1989 já prevê: - proteção especial, por serem pessoas em desenvolvimento; - lugar de desenvolvimento: família; - ONU se obriga a considerá-los como prioridade absoluta, tanto na formulação quanto na implementação de políticas públicas. Há vários outros documentos que tratam da proteção das crianças, mas esses são os mais importantes. 2. No Brasil Nas primeiras Constituições, a proteção à infância não era mencionada. A primeira menção aos menores foi no Código Penal de 1830 (Código Penal do Império); em seguida, o Código Penal Republicano (1890). Então, não havia rol de direitos, proteção; tratavam sobre crimes cometidos pelos menores. A imputabilidade tinha a ver com a consciência, o entendimento que a pessoa tinha cometido o delito, então, não havia uma idade definida. O Direito da Infância é dividido em 3 grandes etapas: 1. Direito Penal do Menor: primeira etapa. Inaugurados os CP de 1830 e 1890. * 1927: primeiro Código de Menores do Brasil: Código Mello Matos, o primeiro juiz da infância. Com o passar do tempos, ele reuniu as regulamentações. Introduzido pelo Decreto 17.943/1927. Esse Código também não trazia direitos, mais voltado à ECA - Tomasevicius 2 repressão penal, não tinha nenhum viés do atual ECA. Esse Código foi tão usado para a parte Penal que na maioria dos livros sobre Infância, nem era mencionado. - lei 6697/69. 2. 1979: Inaugura a segunda etapa: a da situação irregular. Até então, a referência era sempre voltada ao CP; passou a ser aplicado também para crianças abandonadas, além das delinqüentes. Muitos autores falam, então, que o Código de menores de 79 inaugura a tríade minorista: delinqüentes, carentes e abandonados. Por isso, a doutrina chama de “situação irregular”. Era um código repressivo: o Estado era paternalista, e ia auxiliar a infância. A ideia, na verdade, era tirar aqueles tipos de menores da vista da sociedade. Aí também surgiu a FEBEM, não havia o viés de ressocialização do menor. Nessa época, o menor era considerado um problema da família. Na falha da família, o Estado intervia e internava os menores. Menor era sinônimo de delinqüente, conotação negativa. Por isso, hoje se utilizam outros termos, como “criança” e “adolescente”. 3. Com a CF/88, esse cenário começou a mudar, inaugurando a terceira etapa: a da proteção integral. A CF nessa parte sofreu muita pressão popular. Internacionalmente, a proteção à infância era bem diferente daquela dada no BR. Pressão no Congresso, para ser inserido na CF: arts. 227 a 229 da CF. Foi a primeira CF a tratar dos menores e da proteção à infância. Outras Constituições falavam en passant sobre isso, mas não traziam um rol de direitos. No art. 227, CF, além de proteger a família, proteção específica à criança e adolescente. Proteção maior por sua condição de pessoa em desenvolvimento. O ECA surgiu na mesma seara de ideias: transformar o menor em um adulto capaz. A Constituição Estadual também prevê a proteção nos arts. 277 e 278. O 277 é mais processual: processos com mesmo nível de proteção do que aqueles envolvendo adultos. O processo envolvendo crianças e adolescentes era inquisitivo antes, e não contraditório. Outro ponto era que a criança e adolescente podiam ser detidos para averiguações – o que diferia da prisão preventiva dos adultos. Devido a essa diferença que existia, há o art. 277 da Constituição Estadual. O 278 fala sobre como a criança será institucionalizada, a ressocialização etc. Na verdade, o ECA repete parte do rol dos direitos da CF – o que é por muitos autores criticado, por ficar repetitivo (arts. 7 a 69 do ECA – repetição do art. 5, CF). Outros entendem que isso foi fundamental. Muitos entendem que o ECA tem eficácia imediata, mas, por medo de que, se constasse só na Constituição, esse argumento ficasse muito forte, fez-se repetir tudo no ECA para realmente reforçar a garantia desses direitos. Se compararmos o ECA com o Código de Menores, a ideologia por trás deles é muito diferente. No ECA, proteção integral e melhor interesse da criança. Já no Código, já havia o melhor interesse, mas com outro viés: o juiz que era a pessoa que cuidava dos menores podia fazer o que quisesse, alegando estar agindo no melhor interesse da criança, o que abria espaço para arbitrariedades. ECA - Tomasevicius 3 Enquanto o Código era repressivo, o ECA é preventivo: traz um rol de direitos, e medidas repressivas também, mas a maior ênfase é para a primeira parte. Outra diferença é que o ECA se aplica a todas as crianças, protegidas como um todo, enquanto o Código era só para a tríade (carentes, abandonadas, delinqüentes). ECA Aplica-se a quem? Crianças e adolescentes. Mas quem são? Qual a idade? Houve muita discussão. Adotou-se o critério cronológico absoluto – o que vale tanto para o ECA quanto para declarações internacionais. Criança é até 18 anos. Na prática, acaba dando na mesma a diferença entre criança e adolescente. Crianças são pessoas até 11 anos incompletos, e adolescentes, de 12 a 18 anos. Da infância para a adolescência, é considerada a partir do primeiro momento do dia em que a criança completa 12 anos, já é considerada adolescente. Criança nascida em ano bissexto: o primeiro momento do dia 1 de março. O ECA lateralmente se aplica também ao nascituro, ao prever proteção à gestante, embora muitos autores defendam que se aplica na verdade o CC. O § único ao art. 2o, ECA diz que sua aplicação pode se estender até os 21 anos por exceção, nos termos da lei (mas não fala qual). Houve discussão – qual lei? Para qualquer lei, mas é no ECA que temos um exemplos sobre como se aplica a doutrina. Isso acontece em caso de medidas socioeducativas, aplicadas à criança e adolescente infratores. * Medidas de proteção (só para criança); de proteção e socioeducativas (criança e adolescente). No caso de aplicação de pena, o processo demora. As medidas socioeducativas não têm um prazo para serem cumpridas, mas o prazo máximo é de 3 anos. Por isso se aplica até os 21 anos, por exemplo, se o fato ocorreu antes de completar 18 anos, aí pode ficar em regime de proteção e medidas socioeducativas até os 21 anos. Também pode, em algumas situações, aplicado para adultos, por descumprimento de deveres contra crianças e adolescentes. Um ponto positivo entre diferenciar criança e adolescente é que há diferenças de maturação entre elas. Também com relação à adoção: menores de 12 anos, não depende de consentimento do menor; maiores de 12 precisam consentir. Outro ponto interessante é o da emancipação. Se o menor de 16 anos é emancipado, o ECA é aplicado a ele? Sim, o fato de se tornar maior civilmente não impede a aplicação do ECA. Essas pessoas de 18 a 21 são chamadas de “jovens adultos”. Houve a emenda constitucional 65/2010, que mudou o título: inseriu “do jovem” – a princípio são os de18 a 21, aos quais o ECA se aplica, mas esse ponto não é pacificado. Junto com o ECA, vieram vários princípios que devem ser observados na proteção: - princípio da descentralização: vai tratar da divisão de políticas públicas, ou de atendimento entre a União, o Estado e os Municípios. - princípio da universalização: por esse princípio, o ECA se aplica a todas as crianças e adolescentes, e não só a uma categoria, sendo aplicado amplamente. ECA - Tomasevicius 4 - princípio da humanização: principalmente para casos de crianças e adolescentes infratores. Deve-se tentar ressocializá-los. - princípios da desjudicialização e da despolitização. Desjudicialização: a ideia é a tentativa de resolver o problema por outros meios que não o judicial. Despolitização: a ideia é a proteção da infância e da adolescência é uma questão social, e não necessariamente judicial. Não é necessário que haja um agente político determinado pelo Estado, para tomar conta da situação. - princípio da interdisciplinaridade: é muito importante especialmente no caso de processos envolvendo crianças e adolescentes. O juiz precisa de subsídios de outras áreas para encontrar o que é melhor para a criança. - princípio da participação coletiva, ou da cooperação: aqui, outra diferença: no Código de Menores, o problema era da família; no ECA, tripé protetivo da infância: as questões de infância são da alçada da família, da sociedade (lato e stricto sensu – a comunidade) e do Estado, todos devem contribuir. O ECA estimula a criação de associações. - princípio da prioridade absoluta: esta prioridade tem 2 vieses: no atendimento das necessidades da criança e do adolescente, e na formulação de políticas públicas e na alocação e políticas públicas. - princípio da proteção integral: crianças e adolescentes merecem proteção por sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, para que possam se tornar maiores capazes. - princípio do melhor interesse da criança: é o princípio mais importante dentre os mencionados do ECA. Não é o mesmo que a proteção integral, que é fazer tudo o possível dentro do alcance para privilegiar os direitos da criança. O melhor interesse é um instrumento para se alcançar a proteção integral. O princípio do melhor interesse surgiu na Inglaterra, como proteção à crianças e aos loucos (os incapazes). Com o tempo, isso foi separado. Todas as declarações internacionais tratam desse princípio. O Decreto que ratificou a Convenção da ONU de 1989 traduz como “maior interesse” – discussão: maior ou melhor? Na verdade, é a mesma coisa, foi problema de tradução. Todos esses princípios existem porque, na verdade, a infância e a adolescência passam rápido, têm hora, é agora, não dá para esperar. E todos os direitos devem ser implementados pelo princípio do melhor interesse. Cuidado para não ter o viés do Código do menor. - princípio da afetividade: hoje, muito discutido na doutrina do direito de família. Muitos autores entendem que está constitucionalizado (arts. 227 a 229, CF). Os autores dizem que ele já existia, mas só não era comentado. Exemplo: a igualdade entre os filhos, não se diferencia mais pela origem – o que seria o princípio da afetividade já sendo aplicado. Outro argumento usado para falar que já existia no ordenamento é o fato da adoção: adota porque gosta da pessoa, trazendo reflexos jurídicos. Outro viés importante é que aqueles artigos, quando falam da proteção da família, falam não só do casamento, mas também da união estável e família monoparental. Outro exemplo: art. 21 (ou 23?), ECA: a situação de pobreza não pode tirar a criança da família – o Estado tem que fornecer meios para que a criança permaneça na família. No CC, também: está positivado, por exemplo, no art. 1583 (que trata da definição da guarda em caso de separação do casal – se a guarda compartilhada não for possível); art. 1584 (na falta dos pais, guarda deferida a terceira ECA - Tomasevicius 5 pessoa – parente – aí a afetividade será importante para definir quem será o terceiro); art. 1511: casamento – união plena; 1596 (igualdade na filiação); art. 1593 (admite que é possível outras origens além da filiação civil ou consangüínea – aí se insere a família socioafetiva, por exemplo, no caso de famílias reconstituídas. A relação afetiva pode levar a consequências jurídicas. Art. 1, ECA: proteção integral. Art. 2: a quem se aplica o ECA. Art. 3: baseado no preâmbulo da Convenção Internacional dos Direitos da Criança de 1989. Direitos fundamentais. Para proteção desses direitos, qualquer pessoa pode agir para sua proteção, principalmente MP (art. 127, CF). Art. 4: Prioridade absoluta. Trata também do princípio da cooperação. No § único, 4 alíneas mostrando como essa prioridade pode ser alcançada. Art. 5: negligência, exploração... -> repetição da CF, art. 227. Não é considerada discriminação políticas de apoio a crianças carentes, já que é tratar de forma desigual uma situação desigual. Art. 6: é parecido ao art. 5o da LICC. Há quem acredite que é o art. mais importante. Com esse artigo que é dada a prioridade absoluta, e atendido o melhor interesse da criança. Faz com que todos os princípios do ECA sejam aplicados a qualquer situação do ordenamento. Há um direito diferente entre o ECA e a CF: o direito de brincar, previsto no ECA apenas. Na jurisprudência, em vários casos os princípios são aplicados. Por exemplo, transfusão de sangue para criança com pais cuja religião não admite a transfusão; adoção por casal homossexual. 14.03 – Tomasevicius (pegar o começo com alguém) Art. 196 a 200, CC – estes artigos já estavam na CF. O legislador se preocupou, na época, com a saude da criança nos seus primeiros momentos de vida. O primeiro aspecto é o período de gestação. É certo que, para que nasça com saúde, é necessário ter uma preocupação durante a gestação. O ECA procurou assegurar a realização de, ao menos, o exame pré-natal. Quando nasce, temos a preocupação de se fazer os exames, que hoje já são de rotina, e de evitar a troca de bebês (que hoje felizmente pouco acontece). É notório que, em 20 anos, se avançou muito na matéria. O poder público passou a dedicar sua atenção a isso também. ECA - Tomasevicius 6 Cronologicamente: - Gestação – art. 7o do ECA. Já estava na CF. O que é interessante é a garantia de que a gestante seja atendida pelo mesmo médico que a acompanhou durante a gestação. Isso pode trazer dificuldades. A ideia do legislador foi de possibilitar uma aproximação entre o médico e a família. - § 4o , art. 7o : referido no § 5o. Quando se fala em estado puerperal, o que se quis dizer? Como isso ocorre, em termos de infanticídio? a mãe pode querer não exatamente “matar” o filho, mas sim se “livrar” dele, se estiver nesse estado puerperal. “Descarte” de crianças. *Providências? O hospital deve ter uma equipe médica para perceber se está ou não nesse período. Houve uma proposta polêmica de se encaminhar esta questão: a possibilidade da mãe entregar a criança no hospital, sem se identificar – o que se chama de “parto anônimo”. Essa é a versão atual da antiga “roda da criança” (?). A mãe que não quer ficar na criança, e pode ser, por uma razão consciente, que não queira realmente ficar com a criança, vai para o hospital e faz um parto anônimo. Como julgar essa proposta? A criança, neste caso, seria levada à adoção. * Em 2008, houve projeto de lei do deputado Valverde sobre isso. Dispôs sobre o parto anônimo, e que o SUS deveria criar um programa específico para isso. O projeto teve sua tramitação, mas foi arquivado porque se entendeu que era inconstitucional, que violava o princípio da dignidade da pessoa humana. O que também ocorre na prática é a chamada adoção à brasileira, que é crime. Art. 242, CP (falso registro de nascimento). O adotado costuma querer saber sua origem, o que pode levar a conseqüências pelo fato de se terfeito uma adoção à brasileira. Quanto aos exames, temos os arts. 9 e 10. A preocupação do legislador é a questão da licença paternidade. A licença maternidade é de 120 dias, remunerada – o que foi um avanço, para a época. Na Austrália, a licença é de 1 ano, mas sem remuneração, por exemplo; na China, 3 meses, sem remuneração. A sociedade brasileira de pediatria sempre lutou para que o período de licença maternidade fosse ampliado. Por essa razão, em 2008, conseguiu-se a aprovação da lei para ampliar para 6 meses para possibilitar o melhor desenvolvimento da criança. A licença maternidade, desde 2002, é extensível à mãe adotiva. A outra preocupação é com o aleitamento materno. Art. 9o do ECA. Em termos de políticas públicas, temos programas de aleitamento materno. O art. 10o, na época, foi muito importante. Esses artigos foram criados para resolver problemas dos anos 80. Quanto à saúde, temos: O SUS deve prestar o atendimento. É possível dar conta disso em todos os municípios brasileiros? Há muitas cidades que não têm recursos suficientes, e os tratamentos ECA - Tomasevicius 7 podem ser muito caros. Há um conflito: por um lado se tem que garantir a saúde das crianças e dos adolescentes, por outro lado, deve-se proteger as finanças do município, e não se tem o dinheiro para isso. Outro problema é: se a criança não tiver um advogado, pode o MP advogar pelo interesse de apenas uma criança? É entendimento consolidado de que é possível que o MP atue na defesa de apenas uma única criança. Resp 871215/2006. Seria possível pagar/custear uma cirurgia plástica/estética para uma criança? A jurisprudência ainda está discutindo isso. Seria possível exigir que o município custeasse tratamento fonoaudiológico? Há discussão. Art. 11, ECA. Art. 13, ECA. Aqui, muitos problemas. Os hospitais têm que lidar com essa situação, já que vivemos em uma sociedade violenta. Tem que comunicar, notificar. No caso de pedofilia também, tem que notificar, 50% das crianças que sofreram abuso correm risco de morte. A denúncia deve ser feita ao Conselho Tutelar, mas nada impede que se denuncie ao MP. Vacinação: art. 14, § único. Neste ponto, se avançou muito, muitas doenças foram erradicadas com a vacinação obrigatória. Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade. Esse capítulo é mais complicado no ECA. Houve uma interpretação exacerbada e equivocada do ECA: a ideia de que a criança e o adolescente só tem direitos. Pelo jeito que se veicula, a criança só tem direitos, é criada com essa ideia, aí quando faz 18 anos, passa a ter muitos deveres. Deveria também ter alguns deveres: pelo menos, o dever de respeitar os pais, e os professores – o que já seria um grande avanço. Arts. 15, 16 (direito à liberdade) e 17, ECA. Para que a criança não sofra maus-tratos. Não pode haver imposição de ensino religioso. Aqui também este artigo se refere à foto das crianças e dos adolescentes. Art. 18. Problemas que já apareceram: - Liberdade: se quer garantir o desenvolvimento pleno por meio do exercício plenos dos direitos da personalidade. Por exemplo, uma adolescente atriz de 15 anos, pode participar de uma peça, ou de uma novela? Sim, porque a representação artística é ECA - Tomasevicius 8 uma manifestação de sua personalidade. Caso de uma peça no RJ, em que tinha que fazer uma cena picante – dilema: arte, ou a imagem e dignidade da criança? - Respeito à criança, não expô-la à violência: e os videogames? Caso real, do Mato Grosso, que chegou ao STJ. Programa “cidade oliva”: levavam as crianças ao quartel por um dia. O MPF entrou contra esse programa, pelo fato de que isso violava o ECA, expondo a criança à violência (aos veículos, tanques de guerra). A decisão foi de que isso foi atentatório ao ECA, por ser um estímulo à violência. 04.03 Prevenção primária: garantir os direitos fundamentais. Prevenção secundária: programas de apoio e de auxílio, e orientação às crianças e aos jovens. Prevenção terciária: medidas socioeducativas. * Essas normas existem porque essas pessoas estão em fase de desenvolvimento. Cuidado ao lidar com essas pessoas, nessa fase. É um dever de não deixar ocorrer, de prevenir. Art. 4o , ECA: fala sobre a prioridade absoluta que as crianças e os adolescentes têm. Têm prioridade para formulação de políticas públicas, para atendimento no serviço público. Art. 227, CF também fala sobre essa prioridade absoluta. Art. 71: a criança e o adolescente têm direito a ... -> tem que ser observada a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Não têm acesso a qualquer produto ou serviço, só àqueles... Não exclui outras normas que também asseguram essa prevenção. Art. 72: há outras normas em outros diplomas legais que também fazem parte dessa prevenção. Observar todo o OJ, tudo tem conexão. Por exemplo, art. 37, §2o do CDC. * Art. 37, CDC: publicidade abusiva às crianças. Estas ainda não conseguem julgar o que assistem, por isso a publicidade a elas deve ser feita com muito cuidado, para que não sejam influenciadas de maneira negativa. Art. 73: pode gerar infrações administrativas. Responsabilidade da PF ou PJ que descumprir normas de prevenção. Há 3 áreas básicas de prevenção especial: - informação, esporte, lazer: art. 74 a 80. ECA - Tomasevicius 9 - área de consumo; - área de deslocamentos pessoais, ou viagens. Diversões e espetáculos públicos: art. 220, § 3o, I, CF. Compete à lei federal regulamentar isso. A lei vai dispor sobre a natureza desses espetáculos, a faixa etário, locais e horários de sua apresentação. O legislador faz essa legislação mediante decretos, portarias, atendendo-se o direito à informação. Há ainda o art. 21, XVI, CF, que diz que à União compete essa fiscalização e regulamentação, e é o Ministério da Justiça o encarregado de editar as portarias. Por exemplo, portaria 1.100, do MJ, e a 1.220 (obras audiovisuais). Além dessa competência do poder executivo da União, também o poder judiciário tem essa incumbência de fiscalizar o cumprimento dessas normas de prevenção, e o acesso das crianças e dos adolescentes aos espetáculos. Art. 149, ECA fala que o juiz poderá regulamentar através de portaria, ou autorizar por alvará, o acesso a determinados locais das crianças e dos adolescentes. O poder judiciário não legisla, não pode gerar uma regra como se legislador fosse. Caso do toque de recolher para crianças, determinado por alguns juízes. A princípio, não pode, porque contraria a liberdade de ir e vir das crianças e adolescentes, e quem tem que cuidar e fiscalizar elas são os pais, a priori; o poder público teria papel secundário apenas. Art. 74, caput e § único. Essa regulamentação diz respeito ao aviso sobre o espetáculo, que deve conter: natureza do espetáculo, ... * mas isso configuraria censura? Não, pois essas normas visam à preservar o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, que não tem ainda capacidade de receber e de processar adequadamente as informações que recebem. Por isso que esses avisos são tão importantes. Isso vale para os lugares públicos; quando não o for, cabe aos pais regular e fiscalizar isso. § único: dever aos responsáveis do estabelecimento. Lugar visível e de fácil acesso. Relação com o Direito do Consumidor. Art. 75, caput e § único. As crianças e adolescentes têm acesso aos espetáculos e ambientes públicos, mas há uma limitação absoluta no § único: os menores de 10 anos, de maneira alguma, podem ingressar sem os pais ou responsáveis. Por que isso? Porque uma criança de menos de 10 anos não têm como reagir em determinadas situações, para o legislador; por exemplo, em caso de incêndio, ou pelo fato de haver pessoas de várias faixas de idade. Enfim, não têm capacidade de enfrentar uma situação de risco. Art. 258: multa ou fechamento provisório do local, independente de qualquer dano, emcaso de descumprimento do art. 75. Emissoras de rádio e televisão ECA - Tomasevicius 10 Muito importantes na formação da criança e do adolescente. Deve haver uma regulamentação séria para isso. Qual o horário livre? Entre 6 e 20 horas. Nesse horário, a programação deve ter finalidade recreativa, educativa, visando ao aperfeiçoamento e à cultura das pessoas. Além disso, antes da apresentação desses programas, deve ser avisada a classificação indicativa. Art. 76, caput e § único. É o Ministério da Justiça que regulamenta isso, através de portarias. Natureza considerando as cenas do programa deve ser verificada para classificação. A autoridade judiciária também pode regulamentar a participação da criança e do adolescente. Na televisão, o aviso deve ser antes e durante a transmissão, exceto os programas transmitidos em horário livre; aí, cabe ao apresentador e à equipe informar isso. É possível ingressar com demanda para tentar inibir a transmissão, ou para reparar danos já causados. Outra situação que pode ocorrer é o comércio de fitas de vídeo, e produtos nesse sentido. Arts. 77, 78 e 79 dispõem sobre isso. Art. 77. Os próprios diretores e gerentes devem ter cuidado para observar a classificação do produto, e não vender para pessoas em desacordo com a faixa etária prevista. As fitas devem na embalagem prever a faixa etária. Art. 78. Revistas e publicações. Nesse caso, se o material for impróprio ou inadequado, terá que ser comercializado em embalagem lacrada. Se tiver conteúdo pornográfico, a embalagem deverá ser opaca. Art. 79. Proibição de veicular bebidas alcoolicas, armas etc. ** alvo: diretores e gerentes de estabelecimentos que vendem os produtos. Art. 257 do ECA é a regra geral. * Qual a classificação? - menores de 10 anos - entre 10 e 12 - 12 a 14 - 14 a 16 - 16 a 18 - menores de 18. Conteúdo impróprio ou inadequado: tanto o texto quanto as imagens veiculadas. Jogos e diversões. Jogos de sinuca, lanhouse etc. O ECA veta que as crianças e adolescentes tenham acesso a esses locais desacompanhadas. “Congêneres” abrange tudo. Esses locais são frequentados por pessoas mais velhas, e horários não habituais; há bebidas alcoolicas, cigarro, enfim, não é um ambiente adequado para menores de ECA - Tomasevicius 11 18. Além disso, seria o horário para outras atividades adequadas ao seu desenvolvimento. Os responsáveis por fiscalizar isso são os proprietários do estabelecimento. Os pais podem levar os filhos, mas cabe bom senso. A infração gera a responsabilização pelo art. 258. Aviso na porta proibindo a entrada de menores de 18 anos desacompanhados. Casa lotérica também não pode. Infelizmente, falta fiscalização e efetividade em muitas das normas do ECA. Consumo Art. 81 e 82, ECA. Não terão acesso a determinados produtos de consumo, como armas, bebidas alcoólicas, fogos de artifício, bilhetes lotéricos e equivalentes, revistas previstas no art. 78. No caso de consumo de drogas, o ECA é aplicado subsidiariamente. Art. 81, III: substância que não é droga, mas causa dependência. Proibida hospedagem em hotel e congêneres, salvo se autorizado por pai ou responsável. Isso visa a evitar que essas crianças tenham o amadurecimento sexual prejudicado. Responsabilidade pelo art. 250 do ECA. * Apelação 13.411, Câmara especial do TJ: o fato de faltarem 7 dias para completar 18 anos ainda não autorizava que o menor se hospedasse em hotel sozinho, que o estabelecimento deveria ter proibido a entrada do menor. Deslocamentos pessoais e viagens Arts. 83 a 85, ECA. Autorização dos pais ou responsáveis. Há exceções. O artigo só se refere às crianças, e não aos adolescentes, porque o legislador entende que há um risco inerente no caso de ser criança. Exceções: comarca contigua, mesma unidade, acompanhado de pais ou parentes até 3o grau. § 2o: autorização genérica. Criança faz tratamento em comarca diferente. Aí os pais podem entrar com medida judicial para conseguir a autorização por 2 anos. Para solicitar esse tipo de autorização, poder-se-ia pedir um alvará. Infração a essa regra: art. 251, ECA. Viagem ao exterior: a norma abrange a criança e o adolescente. A autorização é dispensada se acompanhada dos 2 pais, ou, se só de um, com autorização expressa do outro. Precisa da firma reconhecida, ou de autorização judicial. Por exemplo: se os pais forem separados ou divorciados, e a guarda foi concedida a um deles, a criança não poderia viajar sem a autorização dos dois, mesmo se divorciados (mas isso é discutível, é uma dúvida, a análise seria casuística). Precisa da autorização do outro, com firma reconhecida, ou pede-se judicialmente. Se um dos pais for estrangeiro, mesmo assim não pode viajar ao exterior sem autorização do outro. No caso de desrespeito, aplica-se o art. 251 do ECA. Casos práticos Caso da novela Laços de Família. Globo perdeu em todas as instâncias, e teve que mudar. Caso da MTV. Vinhetas com mensagens subliminares. ECA - Tomasevicius 12 Caso do quadro do João Kléber. 11.04 A despeito da previsão, ainda falta muito para a efetivação dos direitos previstos no ECA. Livro 2 Art. 86 e seguintes. Diretrizes para implantação dos direitos: - municipalização dos direitos: precisa haver maior possibilidade para assegurar sua proteção. Sobretudo na década de 90, tentativa de se estabelecer um sistema. Dificuldade da articulação entre eles; na ânsia de se querer fazer algo muito organizado, não se consegue garantir o básico. Não significa que é uma exclusividade, mas já tende a facilitar a resolução dos problemas. O mesmo vale para a educação: assegura-se maior proximidade entre o responsável e o destinatário desse serviço público. - previsão de Conselhos de direitos da criança e do adolescente: Existem tanto na esfera federal, estadual e municipal. * Não confundir com o Conselho Tutelar. Concorrem para a formação das políticas públicas em matéria de direito da criança e do adolescente. Como se explica a previsão desses conselhos? Uma das maneiras pelas quais se permite a participação da sociedade na formulação de políticas públicas é por meio desses conselhos. Lei 8242 criou o CONANDA, ligado à Secretaria dos Direitos Humanos da República. Por exemplo, o art. 2o – da competência do conselho. Mas o Estado também tem que fazer suas próprias políticas públicas. Para executar tudo isso, é necessários ter dinheiro. Previsão da criação de fundos: há fundo dos direitos da criança e do adolescente. A finalidade dele é financiar a execução dessas políticas. Tendo em vista a dificuldade de articulação entre os diferentes órgãos, o que o ECA faz é a integração operacional em diversos órgãos, que devem procurar atuar de forma ordenada. Com esse valor, se procura fomentar a articulação do trabalho conjunto entre esses órgãos, para ter maior eficiência. - Um desses valores passa pela mobilização da opinião pública (art. 88, VII). Neste ponto, não há mobilização, a sociedade lamentavelmente não se preocupa com isso. ECA - Tomasevicius 13 Quanto aos órgãos que vão implementar essas políticas, o ECA trata de modo minucioso sobre as entidades de atendimento. Abrange uma série de entidades, não se limita apenas ao que vemos. Como devem trabalhar? devem fazer o acolhimento institucional, gerenciar a internação e a liberdade assistida etc. O ECA traz uma série de exigências, que devem ser registradas no Conselho municipal dos direitos da criança e dos adolescente. Como devem atuar? Devem procurar preservar a relação familiar, a integração na família substituta, o atendimento personalizado em pequenos grupos etc. Construção para se diminuir o tamanho dessas entidades, para possibilitar um atendimento personalizado etc. * caso em que se levou a criança ou adolescente para outra cidade gerou polêmica – o que estimulou a descentralização dessas entidades. § 1o: uma criança que está no abrigo, quem é seu responsável? O Estado é que tem a guarda? Não, é o dirigente da entidade (art. 92, § 1o ). O Estado em si não tem a guarda, quem a terá é uma pessoa, que tem o dever de zelar por aquele que está na entidade que ele gerencia. Art. 92, § 2o : Obrigação de se fazer um relatório individual, para acompanhar como a criança está se desenvolvendo e reagindo – o que foi uma mudança recente positiva. * Uma criança que esteja abandonada pode ser recolhida compulsoriamente? No caso, a despeito de estar em situação de risco, deve se assegurar a liberdade dela. A sua manutenção deve passar pelo controle do Judiciário. É possível que se faça o acolhimento em situação de emergência, mas isso deve ser informado à autoridade. * E uma criança que não queira ser compelida a isso? Há essa possibilidade de ela não querer ficar no abrigo? Sim, tanto que cabe habeas corpus que for mantido compulsoriamente num abrigo, senão estaria sendo privado de sua liberdade sem nada ter feito (o que não é o caso do menor infrator). Não se trata de uma internação, mas sim de um acolhimento. Os programas voltados a crianças mais eficientes fazem com que a criança na rua procure espontaneamente o abrigo, em vez de forçá-la a ir. Aí sim, o programa funciona. Quando há pressão para a procura, o resultado não tem a mesma eficácia. Problema semelhante é o que ocorre na Cracolândia, questão que envolve a saúde pública. Conselho Tutelar Está no título V (arts. 131 a 140). Qual a finalidade? A família, a sociedade e o estado tem deveres de proteção à criança e aos adolescentes. A sociedade participa pelos Conselhos, que formulam políticas e fiscalizam; mas deve haver um órgão que execute - e esse órgão é o conselho tutelar, é ele quem vai zelar pelo cumprimento. É órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade, de zelar pelo cumprimento... ECA - Tomasevicius 14 Ou seja, é órgão da sociedade, não é do Estado. É ele que vai executar, em nome da sociedade, a implantação dos direitos da criança e do adolescente. Cada município deve ter um conselho tutelar. Ano passado, houve mudança no ECA para aprimorar a composição do conselho. Em cidades pequenas, eleição para conselho tutelar é como eleição para vereador, porque o mandato do conselheiro é de 4 anos, e é atividade remunerada. Para institucionalizar mais isso, houve modificação no ECA (art. 134: “cobertura... licença maternidade, gratificação natalina”). Por isso que nos municípios pequenos as pessoas se interessam bastante por esse cargo. Agora, o conselheiro tem a proteção (direitos trabalhistas) equivalente ao de uma pessoa normal, por isso, deve ser mais cobrado por isso. * Há várias conselhos em que a atividade não é remunerada. Atribuições do conselheiro? Art. __. Recentemente, houve unificação da data das eleições. Eleição unificada para o Brasil inteiro. Agora, a eleição será em 04/10/15. Se houver mandatos que expirem antes dessa data, são automaticamente prorrogados para que nesta data o Brasil inteiro faça uma eleição. PROVA SEMANA QUE VEM 2 notícias de jornal para reflexão crítica, com base no que estudamos, nos artigos indicados e bibliografia. Nada de memorizar o artigo. Trazer uma reflexão pessoal. Professor poderá ser criterioso na correção. Sem consulta à legislação. 18.04 PROVA. 25.04 – Shecaira - Criminalidade juvenil; - O que é adolescer? - História do sistema: princípios constitucionais; - Medidas socioeducativas. Existe uma criminalidade exclusivamente juvenil? Há 2 grandes grupos de autores: 1. SIM. 2. NÃO: de um lado, aquilo que seriam os vetores ensejadores dos crimes praticados pelos adultos, e, de outro, vetor das transgressões sociais típicas dos jovens infratores. Numa sociedade de modernidade líquida, houve uma espécie de liquefação, de mescla que nos impede de examinar o que realmente somos. Por isso, Z. Balman discorre sobre essa perda da identidade. Esta atinge o indivíduo, porque perdemos a referência. ECA - Tomasevicius 15 Por exemplo, onde existia muita imigração, havia determinados “clubes” (por exemplo, dos italianos, dos japoneses etc.), ou seja, uma identidade – o que se perde em uma modernidade líquida. Passo a ser o que quero ser, e não aquilo que quero ser dentro do meu entorno social – que é o que me permitia estar no seu __. * teoria do Labeling approach: não existe um ato humano isolado, o ato é o meu ato, e aquilo que espero do meu ato. A referência social é fundante. Com o pensamento individualista exacerbado, perco referências. Por exemplo, caso do índice de desemprego maior entre jovens na Europa. Problema da desigualdade social, que atinge marcadamente a juventude. Paralelamente à particularidade esta categoria, há questões sociais atinentes a toda a sociedade. Por exemplo, crescimento da criminalidade no Brasil. As matrizes da criminalidade como um todo atingem todos os seres humanos, mas em particular aos jovens, dado a formação que damos a eles, sentimento de ganância. Problema no Brasil: uma estrutura social que não possibilita aos jovens terem algo que é inerente ao capitalismo; conflito entre a vontade de ter bens, e a possibilidade de adquiri-los por falta de capacidade financeira para tal. Será que o jovem consegue tranqüilizar-se com isso? Prolongamento da juventude. Volta-se a uma condição em que estão biologicamente amadurecidos, mas não sociologicamente. “Adolescer” não se realize plenamente, mas parcialmente; adolescer é entrar no passo da sociedade, é ser reconhecido pela sociedade. O que temos hoje é um sistema de absoluta insegurança: desemprego endêmico. O não-acesso ao mercado de trabalho gera insegurança. Essa sensação de dificuldade se dá pela perda de um Estado de Bem-Estar Social. Hoje, a modernidade líquida substitui este Estado. * o Brasil é o país que tem maior crescimento de encarcerados. Um dos fatores que contribuíram com a diminuição da criminalidade na cidade de São Paulo foi o envelhecimento da cidade, ou seja, menos jovens. Alguns dos fatores microsociológicos: - fatores genéticos: ebulição da crise puberal, isto é, do adolescente. Busca incessante por coisas novas. * Há ainda a teoria do “supermacho” (XYY), homem com identidade masculina mais proeminente, de agressividade maior. Agressividade é inerente ao ser humano. Quando esta não é bem trabalhada, e pautada em um corte social não bem resolvido, violência inerente. É natural que a América Latina tenha criminalidade maior que os EUA. * relação entre a inteligência e a criminalidade: o “burro” é mais criminoso? Não, é menos que o inteligente. ECA - Tomasevicius 16 - baixo rendimento do estudante: não conseguir acompanhar a turma, repetir de ano aumenta a criminalidade. Atinge-se a auto-estima, sentimento de fracasso, tentativa de mostrar que não é fracassado, e, para isso, tenta chamar a atenção dos outros. Por exemplo, por meio de um grande ato, como um ato de criminalidade. * O governo do Estado de SP adotou a progressão continuada das escolas públicas, o que faz sentido. O problema é que isso demanda um acompanhamento permanente – o que não existe. Por conseqüência, hoje temos muitos analfabetos funcionais. - personalidade: vem sempre associada a uma condição pessoal. A agressividade da pessoa pode ser questão pessoal, mas a violência não é. O jovem tem que verificar o seu status a partir de uma auto-estima, e, a partir daí, verificar e demonstrar sua virilidade. E por que é necessário ao jovem ousar? Para chamar a atenção da família e da sociedade. Deve-se permitir ao filho ter este teste de virilidade, cotejado a um controle social. Se o pai não coíbe o patrão o coibirá. - meio de comunicação de massas: influenciam muito os jovens (e não só eles). Adolescer é entrar na juventude. Adolescente deixou de ser criança, mas não é ainda adulto. Elese vê excedido pelo corpo, cresce no corpo primeiro, mas depois na cabeça. Passagem por determinados ritos da sociedade: por exemplo, no caso da menina, a festa de debutante, aniversário de 15 anos, é mostrada para a sociedade. Já no caso dos meninos, Merton fala que ele tem que inovar, e uma forma de fazer isso é cometer um crime, uma transgressão. A pessoa se vê “chacoalhada” para entrar na vida adulta. Este é o momento em que existe a transposição metafórica a que o prof. se referiu (perdi a metáfora... :( ). A adolescência é algo pós-revolução industrial, porque antes os filhos eram colocados na lida desde logo, não existia um espaço para adolescer, para crescer. As crianças antes eram retratadas como adultos em miniatura, assim como os adolescentes, sempre retratados com roupas de adultos. Há 100 anos, não havia uma identidade de “adolescente”. É um momento um pouco esquizofrênico para os jovens: a precisa se impor na sociedade, e aí há uma crise. Até o início do século passado, não tínhamos “adolescentes”. Há uma situação dramática, porque a criminalidade perpassa uma situação social. Mas será que não podemos traçar um panorama para o futuro diferente? Em 1962, na cidade de Ypisilanti, na Alemanha, resolveram fazer um projeto: escolheram uma favela, criaram um programa – o chamado “Perry”. Neste programa, pegaram 123 crianças afro-descendentes, consideradas de risco à época: problemáticas no entorno social, mas que não tinham cometido nenhum ato anti- social. Dividiram em 2 grupos: um de controle, e outro do grupo Perry. As crianças que tiveram um problema eram atentamente observadas e cuidadas (por exemplo, se a criança estava com problema de vista, davam óculos). Os vetores sociais externos continuavam a existir: viviam em uma sociedade economicamente depreciada, uma sociedade ainda “WASP” (branca, cristã). Começaram a acompanhar as crianças, dando tudo para o grupo Perry, e nada para as demais. O acompanhamento foi por ECA - Tomasevicius 17 volta de 20 anos. Todos dos 2 grupos praticaram crimes, mas até completarem a maioridade, 31% das pessoas do grupo Perry teve envolvimento com a Justiça, enquanto que mais de 50% do grupo de controle foi submetido à Justiça. Ou seja, se identificou a redução à metade da criminalidade do grupo submetido ao grupo Perry. Em SP, Alckmin se elegeu depois do Covas, reeleito, depois Serra assumiu mas saiu. Alckmin depois voltou. No Brasil, é inconstitucional reduzir a maioridade penal, senão se retiraria do adolescente o direito de ser adolescente. Alckmin sugeriu, então, endurecer as penas. Mas a solução não seria essa: seria atuar antes, na formação do adolescente. Na Europa, por exemplo, há uma projeção aos “jovens adultos”, para reduzir as penas para pessoas até um pouco mais velhas. Na Antiguidade, as punições começaram a existir para tenra idade. A puberdade variou, mas estaria em 14 anos para meninos, e 12 anos para meninas. O garoto, embora impúbere, era reconhecido como infante até os 10 anos; de 10 a 14, impúbere; a partir de 14, a punição existia. Quem herdou esse sistema do direito romano foi o Common Law. A idade de imputabilidade na maior parte dos países é de 18 anos; o que existe é uma idade de responsabilidade juvenil, em que passa a ser punido pelos atos que pratica. Neste ponto, o Brasil é um dos países mais rigorosos, começa aos 12; na Inglaterra, 14 anos. Na Alemanha, até 14 anos não pune; de 14 a 18, pune, mas submetido à perícia para ver se tinha maturidade social, biológica e __, e a punição depende disso e dos resultados da perícia. De 14 a 18, a responsabilidade pode se aproximar à responsabilidade do adulto, à luz do ECA. * O ECA é um sistema mais garantista. No Brasil, 3 momentos: - etapa penal indiferenciada, que nasce com o Código Penal dos Menores. Os menores eram tratados com a mesma pena, e colocados no mesmo cárcere. Código de 1830: de 14 a 18 – punição atenuada; a partir de 18, punição plena. Misturava-se nas cadeias (masmorras) jovens de 14 anos, e pessoas mais velhas, reincidentes. * 1880: menos de 9: sem punição; de 9 a 14: recolhimento disciplinar, mas acabavam na cadeia, junto com pessoas mais velhas. * 1923: código Mello Matos: etapa tutelar. Grande avanço, porque olhava para o jovem como pessoa que precisava de atendimento particular. Surge nos EUA uma corte juvenil em Chicago, o que foi adotado em muitos países da Europa. O Brasil foi copiar um sistema de tutela, de proteção, mas que era muito criticado, porque olhava o menor como infrator, pervertido. Ou seja, base para a teoria da situação irregular: se cometeu o delito, tem que ter reformatório; se não cometeu delito, mas anda em más companhias, já pode haver intervenção; mas se não houvesse nenhum ato delituoso e nem más companhias, ainda podia haver intervenção. * Código de Menores. ECA - Tomasevicius 18 Até 1990, legislação tutelar que autorizava intervenção do Estado, porque não era bandido ainda, mas o será um dia. 09.05 – Caderno da Ju gfcmonaco@usp.br Direito Internacional dos DH para crianças e adolescentes Desenvolvimento do DIN dos DH vocacionado para as crianças e adolescentes Convenção da Criança: Criança até 18 anos Exceto se o Estado lhe atribui plena capacidade antes dessa idade Ele deixa de ter um tratamento mais específico e preferencial (deixa de gozar do princípio do melhor interesse da criança). O primeiro aspecto que se desenvolve nesse tema diz respeito ao fato de que até pouco tempo atrás o tratamento era eminentemente familiar. O pai poderia dispor da liberdade e da vida dessa criança. Século XIX não havia nenhuma norma protetiva para a criança. Criança passa de uma despreocupação absoluta, para um conhecimento como objeto para, por fim, passar a ter um reconhecimento como sujeito. Primeiro reconhecimento: OIT (reconhecimento de idade mínima para a idade laborativa) Declaração de Genebra: 5 normas que consideram a criança como objeto. Estabelecem-se direitos reflexos a partir das obrigações daqueles que tem responsabilidade sobre essas crianças. A preocupação em 1924 era uma preocupação que decorria muito da 1ª GM que atingiu crianças em um número muito superior a outras guerras anteriores. A criança já aparecia nos costumes do direito de guerra e direito na guerra, mas sempre nessa condição de integrante da população civil. No entanto, os próprios eventos políticos do pós-1ª GM levaram uma absoluta incapacidade da Sociedade das Nações de cuidar daquilo que lhe era afeito. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão: Ser humano detém direitos fundamentais. Outorgou-se ao estado a responsabilidade pelo seu cidadão, do seu nacional. Estado nazista conseguiu construiu arcabouço jurídico para retirar a nacionalidade alemã dos judeus, permitindo ao estado alemão de se eximir da responsabilidade de garantir os direitos fundamentais a essas pessoas. Este cenário é comunicado à comunidade internacional após o término da guerra e ela diz que não dá mais para deixar essa questão ao arbítrio do Estado. Declaração de Direitos que toma a forma de uma Assembleia Geral da ONU deixando de ser a vontade individual, passando a ser a vontade do grupo. Essa construção se teoricamente era muito bonita e adequada, no ponto de vista pragmático não o foi, pois a comunidade internacional veio a criar tratado internacional que deveria ser ratificado pelos Estados em face dos outros integrantes da ONU. Por razões políticas esses pactos foram cindidos: ICCPR e ICESCR. O mesmo ocorreu no âmbito dos direitos da criança. 1959: direitos garantidos em 1948 de forma geral são especificados em relação às crianças em nova declaração que tem 10 princípios (declarando algo que já existia) que vão ser especificados depois em uma Convenção. ECA - Tomasevicius 19 1979: ONU dedicou ao Ano Internacional da Criança. UNICEF e UNESCO (organizações que têm trabalho mais voltado à infância) jáeram uma realidade. Delegação da Polônia: sugere que comissão de Direito Internacional passe a construir uma Convenção sobre o Direito das Crianças. Estudo que durou 10 anos e foi acompanhado muito de perto pelo Brasil. Em novembro de 1989 a Assembleia Geral da ONU aprova o texto dessa Convenção. Duas partes: Direitos específicos da criança (paralelismo grande com os direitos do ECA) e mecanismo de acompanhamento da aplicabilidade da Convenção nos Estados Partes (é a que teve maior número de ratificações) Há dois países que não são partes na Convenção: Somália à problemas internos políticos e EUA à porque a convenção é peremptória ao proibir pena de morte para menores de 18 anos e alguns estados dos EUA permitem. Brasil aprovou o ECA em junho de 1990, menos de um ano depois da criação da Convenção e no fim do ano ratificou a Convenção. Obrigação de depor aos maiores de 12 anos e proibir menores de 12 (ECA): relativização pela convenção: Criança será ouvida em juízo quando demonstrar possuir maturidade para tanto. Um dos aspectos que o ECA e a Convenção divergem. Outra obrigação dos estados ratificantes: apresentação de relatórios periódicos. Sistemas regionais são jurisdicionais e não tem nada a ver com o sistema global (onusiano) que é administrativo, de acompanhamento da implementação dos tratados de DH. Há comitê que analisam esses relatórios que são compostos por 15 membros eleitos a título individual. Essas pessoas se reúnem de tempos em tempos e analisam esses relatórios. Relatório inicial: apresentado pelo Estado 2 anos após a ratificação ou adesão. Ele é bastante mais detalhado do que os relatórios subsequentes que são os relatórios sequenciais (apresentados a cada 5 anos). Esse relatório é encaminhado ao comitê e ele abre vistas e encaminha a OIs que tenham alguma relação com o tema (por exemplo, OIT, UNICEF, OMS etc). Também mandam cópias para ONGs de relevância. Todas essas instituições podem contrariar essas alegações. Se houver contrariedade, o comitê abre vista ao governo brasileiro e marca uma audiência pública (Genebra). Essa sabatina permite defesa ou reconhecimento de culpa. Terminada a análise do relatório, o comitê faz uma manifestação sobre a condição da infância e da juventude no Estado no período x. Esse relatório é encaminhado ao Estado e ao Secretário Geral da ONU e este tem a obrigação de copiar esse relatório e enviar aos demais Estados-parte. A intenção dessa medida é de que as sugestões que o comitê faz sejam também adotadas já por outros estados que estejam passando por situação semelhante, mas só terão relatório analisado no futuro. Uma determinada política pública tomada por um Estado x passa a ser de conhecimento de todos os Estados-parte e permite a implantação em seu território (com ou sem adaptações). Brasil apresentou seu relatório inicial com 14 anos de atraso e o primeiro relatório sequencial está atrasado. O sistema é pensado para socializar informações. O TPI era uma organização que muitos acreditavam e ele dá um salto no sistema global, porque passa a ter uma coercibilidade quanto aos Estados-parte. Na composição deve haver pelo menos um especialista em direitos da criança e um especialista em direitos da mulher, pois são esses os mais vulneráveis em situações de guerra. ECA - Tomasevicius 20 Adoção Internacional Problema relativamente grande no Brasil. Duas correntes: 1- aqueles que idolatram essa adoção internacional em relação ao desenvolvimento da criança; e 2- aqueles que enxergam no estrangeiro que buscam a adoção um altruísta. O estrangeiro normalmente se apresenta disponível para adotar crianças mais velhas, crianças com deficiência física e mental e com etnias diferentes. O professor acha que não é verdade que a adoção internacional é melhor, o problema é que ela é subsidiária, pois o estrangeiro sabe que só conseguirá adotar a criança não desejada pela família brasileira. Nesse cenário o estrangeiro sabe que só consegue a criança se flexibilizar os seus desejos. De outro lado, vivemos no Brasil um período muito crítico em relação à adoção internacional. Havia muitas crianças adotadas no cartório, pois o fenômeno de adoção por via judicial é muito recente. Há muito relatos de crianças que foram colocadas como empregadas domésticas no exterior, além de caso de pedofilia, tráfico de órgãos, prostituição. Tudo isso fez com que a deputada Rita “x” durante a assembleia constituinte defendesse a inserção de artigo sobre adoção internacional na CF. O endurecimento do processo de adoção internacional evitava a perda de controle com a saída dessa criança para outro país, mas a regra era ruim, pois utilizava o elemento de conexão nacionalidade. Era preciso criar uma forma de interpretação adequada dessa norma. A adoção por pessoa residente habitualmente no exterior deve obedecer as regras do ECA. Esse sistema criado pelo ECA prevê procedimento de adoção que do ponto de vista da família estrangeira é muito complexo. Como começa um procedimento de adoção internacional? Começaram a surgir ONGs que interditavam processos de adoção internacional e uma batelada de organização picareta. O sistema continuou um sistema doente e era preciso criar um mecanismo de cura: mecanismos de cooperação judiciária internacional. 1993: assinatura de Convenção sobre Cooperação Judiciária e Proteção da Criança em matéria de Adoção. Convenção de Haia. Processo de habilitação deixa de ser feito no Brasil e é realizado no local da residência habitual com perícia e relatório. Autoridade Central encaminha relatório para os outros estados contratantes. O pedido chega na nossa Autoridade Central (Secretaria Nacional de DH que tem status de Ministério) e são cruzados com os dados da criança. A Convenção e o ECA exige tanto quanto possível deve-se manter os irmãos biológicos juntos. A família vem passar um tempo para um estágio de convivência que é de 30 dias no máximo. Cabe ao psicólogo e assistente social acompanhar esse estágio e lavrar um relatório. O casal volta para o país. A criança fica, o juiz sentencia, havendo reexame necessário do Tribunal. Transitado em julgado a criança pode ir, sob custódia da companhia aérea ou os pais vem buscar. Desembarcou já é filho e a criança chega no estado de acolhida parte na Convenção e este obrigatoriamente lhe outorga a nacionalidade daquele país, mantendo-se a dupla nacionalidade até os 18 anos. Se o país não aceita a binacionalidade, ele terá que optar quando alcançar a maioridade. Antes de 1999 o Brasil ainda não tinha internalizado a Convenção. De 1999 a 2009: dúplice (Convenção para os Estados-parte e o ECA para países não parte) ECA - Tomasevicius 21 Juízes de SP começaram movimento jurisprudencial para negar provimento quando a família era domiciliada em estado não parte, porque não havia reconhecimento da decisão e da nacionalidade. Isso levou a uma pressão na Europa que foi preciso que uma recomendação da UE fosse expedida para ratificação da Convenção. Quando da aprovação do CC/2002 havia o artigo 1629 que remetia a adoção por estrangeiro à lei especial que foi objeto de uma tentativa de alteração, mas o projeto não foi aprovado. Quando foram aprovar a nova lei de adoção que revogou os artigos do CC quanto à adoção mudaram as regras procedimentais da adoção internacional. Na medida em que exigimos a cooperação judiciária internacional e a habilitação no exterior, um casal americano não consegue adotar criança brasileira, porque não há procedimento. Hoje nosso modelo é exclusivamente da convenção. Isso não é ruim, pois dá mais garantia, mas do ponto de vista técnico é “colocar os carros na frente dos bois”. 16.05 – pegar final da aula com alguém – Prof. Costa Machado Processo Civil dentro do ECA Direitos fundamentais Estado de direito: constitucional, legalidade, separação de direitos. Tudo criado para limitar o poder do rei; a separação de poderes é o único meio de se fazer isso. Tudoisso existe para garantir os direitos fundamentais das pessoas. A limitação dos poderes está na separação de poderes. O processo permeia todos esses poderes, está em todos os lugares. Primeira etapa do Estado de Direito corresponde ao Estado liberal. Seguiu-se a ele o Estado Social, e, em seguida, o Estado de Direito Social e Democrático; neste contexto, surgiram os direitos fundamentais. Direitos individuais, coletivos ou difusos. O ECA evidencia a proteção de direitos metaindividuais. O CDC veio para positivar esses direitos. Não basta reconhecer esses direitos, devem ter densidade jurídica; tal densidade veio por meio do ECA. Essa densificação depende desses estatutos. Precisamos de uma regulamentação, que está no CDC, na LACP etc. Rol dos direitos fundamentais explicitamente reconhecidos no ECA Diferença entre a realidade normativa e a fática das crianças e dos adolescentes no Brasil. Nossa legislação é muito protetiva e detalhista; a contradição que existe no Brasil é brutal entre a previsão de proteção, e o que temos de efetiva proteção da criança e do adolescente. Nenhuma lei brasileira regula explicitamente tantos direitos fundamentais quanto o ECA. Arts. 3o , 4o (este já tem uma dimensão mais coletiva), 5o (viés puramente individual, assim como o CDC), 7o (dimensão coletiva transidividual). ECA - Tomasevicius 22 * direitos difusos – um modo diferente de se olhar essa matéria é reconhecer que o direito à declaração de inconstitucionalidade/constitucionalidade de uma lei é direito difuso. Aí vamos ao encontro às chamadas “garantias institucionais”, que é objeto de direito difuso, portanto, tutelável jurisdicionalmente. Políticas públicas estão diretamente relacionados com interesses difusos. Mas se a lei traz densidade jurídica para as políticas públicas, elas ganham efetividade. Arts. 8o (proteção), 9o , 10o , 11, 12, 13 (direito individual), 14 (interesse difuso), 15 (aqui, a terminologia não foi boa: direitos civis são os de 1a geração; individuais são de 2a; já direitos humanos, já segue outro critério, remete-se a algo que nasceu no pós- guerra, no contexto internacional), 16, 17, 18. [saí mais cedo] 06.06 – Costa Machado Procedimentos civis previstos no ECA Há vários procedimentos: por exemplo, apuração de ato infracional. Há também alguns procedimentos estritamente administrativos, disciplinados pelo ECA – que não estudaremos aqui. Mas existem alguns procedimentos civis, disciplinados pelo ECA. O CPC se aplica subsidiariamente também aos procedimentos civis disciplinados pelo ECA. Família substitutiva Os 3 primeiros procedimentos que vamos estudar aqui existem para permitir a realização da inserção da criança e do adolescente em família substituta. Arts. 28 a 32: família substituta. Os 3 principais procedimentos civis são: a) Art. 33 a 35: procedimento da guarda. A guarda é o primeiro meio pelo qual se realiza a inserção da criança e adolescente. em família substituta. b) Arts. 36 a 38: tutela. c) Adoção. Lá para frente, encontraremos a disciplina de mais um procedimento, que se aproxima aos outros 3: o procedimento da perda e suspensão do poder familiar (arts. 155 a 163). Este procedimento se vincula diretamente àqueles 3 primeiros: pode acontecer junto deles, antes deles, ou não acontecer. Em seguida, há referência à destituição da tutela (art. 164). ECA - Tomasevicius 23 Finalmente, os arts. 165 a 170 recebem a rubrica “da colocação em família substituta”. Aqui, encontramos uma disciplina processual geral, aplicável à guarda, à tutela e à adoção. Art. 165 – requisitos. É regra processual. A partir do art. 28, “da família substituta”, fala-se de direito material. O art. 28 menciona a guarda, a tutela e a adoção. O § 1o fala que, sempre que possível, a criança/adolescente deverá ser previamente ouvida – o que é, na verdade, garantia processual; isso é a mais pura e avançada noção de contraditório, o direito de ter suas opiniões consideradas. O § 2o fala sobre grau de parentesco e relação de afinidade e de afetividade. Art. 29 – não se deferirá a qualquer pessoa que não ofereça ambiente favorável, não será a escolhida, mesmo que tiver relação de parentesco. Art. 30. Art. 31 – colocação em família substituta estrangeira – só por meio de adoção. Art. 32 – o responsável prestará compromisso. Essa é a disciplina material da inserção em família substituta. O primeiro dos procedimentos é o da guarda. Guarda Art. 33. O § 1o é que diz do escopo jurídico deste instituto, na perspectiva estrita do ECA. Talvez, o § 1o é que deveria ser o caput. “A guarda destina-se a regularizar posse de fato, podendo-se ser deferida liminar ou incidentalmente nos procedimentos de tutela ou adoção, ...” A guarda não exige requisitos intensos e importantes para sua concessão. Podem ser muitas as situações que justificam a concessão da guarda a alguém. Tudo isso, essa falta de requisitos e de limitações é um poder enorme atribuído ao juiz. Processo: art. 165 e seguintes. Quando o dispositivo diz “podendo-se ser deferida liminar ou incidentalmente nos procedimentos de tutela ou adoção”, parece que a guarda é medida liminar embutida no procedimento de tutela ou de adoção. É isso? É o que está escrito. Alguém entra com pedido de tutela, e requer liminarmente a concessão da guarda. Mas é mais do que isso. Fala-se “liminar ou incidentalmente”. É uma procedimento que se concede ao curso do processo, a qualquer instante. ECA - Tomasevicius 24 O § 2o vai falar de algo completamente diferente disso: “excepcionalmente, deferir- se-á a guarda fora dos casos de tutela ou adoção, para ...”. Esse dispositivo está criando um procedimento autônomo de guarda. O procedimento de guarda é um fim em si mesmo, é um procedimento autônomo. O juiz pode conceder a tutela liminarmente, ou incidentalmente, nesse processo autônomo. Aqui, não é cautelar, é um procedimento sumário (sob a ótica procedimental), em que o juiz concede a medida também sob uma cognição sumária, ágil. O importante é perceber que esse procedimento é medida liminar na tutela e adoção, e além de liminar, pode ser incidental, e ainda pode corresponder a um procedimento autônomo. * Liminar é no começo do procedimento; a medida incidental não é liminar, pode se dar no meio do processo. O § 3o fala de alguns efeitos materiais da guarda para terceiro. A guarda confere a condição de dependente, para todos os fins de direito, inclusive previdenciário. Art. 34. Perspectiva de política pública de guarda – o professor não ideia de como isso está se realizando na prática. Art. 35: a guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, ouvido o MP. Link com o procedimento da colocação em família substituta. Art. 165 fala dos requisitos para pedido em colocação em família substituta. I) Se quem está requerendo a guarda é alguém casado, a qualificação do cônjuge precisa constar, e há necessidade de anuência expressa do cônjuge ou companheiro – ou na própria petição inicial, ou em documento separado. II) Não precisa haver parentesco. IV) mas pode não ter cópia, nem nada; V) declaração de bens. § único – requisitos específicos, quando se fala de adoção. Há uma disciplina enorme sobre isso no ECA. Art. 166: se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família substituta, em cartório ... dispensada a atuação de advogado. Então, os requerentes da medida se ampliam, são os próprios pais que aderiram. Aí, não precisa de advogado. A razão fundamental é que, de alguma maneira, virou procedimento de jurisdição voluntária. É uma forma de oficializar a guarda de fato, com a presença dos pais. § 1o: na hipótese de concordância dos pais, esses serão ouvidos, tomando-se por termo as declarações. § 2o: consentimento dos titulares... § 3o: o consentimentoserá colhido em audiência, ... § 4o: o consentimento prestado por escrito deverá ser ratificado em audiência. ECA - Tomasevicius 25 Art. 167: a autoridade judiciária determinará realização de estudo profissional, ou, se possível, perícia, decidindo sobre a concessão de guarda provisória. Guarda provisória é a liminar de concessão de tutela dentro do próprio procedimento autônomo de guarda. Art. 168: vista ao MP, 5 dias, decidindo a autoridade judiciária. Art. 169: nas hipóteses em que a destituição da tutela, perda ou suspensão do poder familiar, constituir pressuposto lógico da medida principal da colocação em família substituta, ... arts. 165 a 174. Tenho que destituir os pais do poder familiar para que se possa deixá-la com tutor, por exemplo, então esse procedimento deve ser instaurado antes. * Mas a criança vai ficar desprotegida nesse ínterim? Não. Requeiro uma liminar de suspensão provisária do poder familiar, mais a concessão de guarda ao requerente. Então, não posso pedir a guarda, a tutela, a adoção direto, preciso destituir os pais antes do poder familiar. Aí surge de novo a questão da cautelar. Aqui é cautelar ou não? Para Costa Machado, para ser cautelar, deve haver periculum in mora. O professor acha que vale a pena fazer referência ao periculum in mora de qualquer forma, aí é o juiz que decide. Da tutela Arts. 36 a 38. Art. 36: a tutela será deferida à pessoa até 18 anos incompletos. § único: pressupõe a prévia decretação da perda do poder familiar, e implica necessariamente a perda do poder familiar. Art. 37: o tutor nomeado por testamente ou qualquer documento autêntico deverá ingressar com pedido destinado ao controle judicial do ato. É o pedido de tutela, para o controle judicial do ato. Observa-se o procedimento do 165 e seguintes. § único: requisitos. Dispositivos alterados em 2009. Voltando ao art. 36. Arts. 1728 a 1766, CC. O que nos interessa aqui são os casos em que cabe o pedido de tutela. O 1728 CC fala dos seguintes casos: - falecimento dos pais; - declaração de ausência; - decaírem do poder familiar. § único do art. 36: o deferimento da tutela pressupõe a prévia decretação da perda do poder familiar, e implica necessariamente a perda do poder familiar. Mas não é verdade que o deferimento da tutela pressupõe a prévia decretação de perda do poder familiar – não necessariamente, basta pensar no caso de falecimento dos pais, ou de declaração de ausência. No caso de falecimento, entra já com pedido de tutela. E se o ECA - Tomasevicius 26 caso não é de falecimento, ou de declaração de tutela, entrar com ação de suspensão do poder familiar, cumulado com pedido de guarda. Voltando ao art. 165: requisitos. “Eventual parentesco” – então pode não ter parentesco. Art. 155 a 163. Art. 166. Se os pais tiverem aderido expressamente ... -> virou jurisdição voluntária. Art. 169: ação de suspensão ou de destituição do poder familiar. Voltando ao art. 155: o procedimento para perda ou suspensão do poder familiar terá início por provocação do MP, ou de quem tenha legítimo interesse. Art. 156: é algo gravíssimo, destituir o poder familiar. As razões para isso tudo acontecer são muito comuns. Art. 157: havendo um pedido grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o MP, decretar a suspensão do poder familiar, liminar ou incidentalmente, ficando a criança ou adolescente confiada a pessoa idônea, ... -> isso é a liminar de guarda. Essa providência pode ser tomada a qualquer momento. E quais são os casos? * Perda do poder familiar – art. 1635, CC: - morte; - emancipação; - maioridade; - adoção; - decisão judicial, prevista no art. 1638. Art. 1638, CC: - castigos imoderados; - abandono; - atos atentatórios à moral e aos bons costumes (isso pode ser muitas coisas); - faltas reiteradas aos deveres. * esses são os casos de perda do poder familiar. E quais os casos de suspensão? * Suspensão – art. 1637, CC: - abuso de autoridade; - falta aos deveres; -> aqui, não se fala em “falta reiterada” - ruína do patrimônio do filho. Cabe liminar de suspensão. Art. 158: citação, para apresentar resposta. ECA - Tomasevicius 27 § único: deverão ser esgotados todos os meios para citação pessoa. Art. 159: se o requerido não tiver possibilidade de arcar com advogado – pode pedir defensor dativo no cartório. Art. 160. Art. 161, caput e §§. V. art. 24, 22 [é essa parte final que é diferente]. Art. 162: apresentada a resposta, vista ao MP. A requerimento, estudo social. Tudo o que tem de diferente no microssistema do ECA em recursos está nos arts. 198 e seguintes. Adoção Art. 175 e seguintes. Houve uma série de mudanças, é tanta coisa que o professor nem vai tratar disso.
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