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1 Processo Civil – Procedimentos Especiais Prof. José Rogério Cruz e Tucci Em azul: trechos do livro do Prof. Marcato Aula de 02.05.2011 [faltando] Aula de 09.05.2011 Ação de Prestação de Contas (art. 914/919, CPC) 1) Introdução Muito rara na prática. Demanda judicial que, no plano do direito material, envolve as pessoas que, por algum motivo (mandato, gestão de negócios, curatela, tutela, inventariante, sócio-gerente, administrador, sindico da massa falida, administrador de imóvel), um está obrigado a prestar contas ao outro. A ação é para prestar contas, não para discuti-las. É uma ação dúplice, tanto para pedir a prestação, quanto para prestá-las. Portanto, é o meio processual adequado para que o credor exija a prestação de contas do “devedor” (aquele que tem o dever de prestar as contas, não é devedor em sentido estrito) e para o oferecimento da prestação de contas, caso haja recusa em receber a prestação. Também é dúplice, pois se se constatar que há crédito em favor do réu, não é necessário entrar com nova ação para cobrar esse valor. Como a ação de prestação de contas tem natureza dúplice, poderá ser proposta tanto por quem tenha o direito de exigi-la (ação de exigir contas), quando por aquele que esteja obrigado a prestá-la (ação de dar contas). Proposta a ação por um ou por outro, o réu, caso também tenha direito a deduzir, em face do autor, não se valerá da via reconvencional (na verdade, carecerá, mesmo, da ação reconvencional, por ausência de interesse de agir), pois constatada, no curso do processo, a existência de saldo em favor de qualquer das partes, a outra será condenada a pagá-lo; por outras palavras, forma-se título executivo judicial em favor do titular do crédito, mesmo não tendo sido ele o promovente da ação. (p. 127) 2) Conceito. Interesse de agir. Interesse de agir surge quando alguém que tinha que prestar contas não o faz. O pressuposto para o ajuizamento é a recusa da outra parte (tanto para prestá-las quanto para recebê-las). A mora da parte em recebê-las ou dá-las. Essa recusa faz pressupor divergência, a existência de lide entre as partes. Interesse de agir é composto por necessidade e adequação. Necessidade de se dirigir ao Poder Judiciário, e adequação do meio processual. Excetuadas as hipóteses em que a lei determina a tomada e a prestação de contas ao próprio juízo (v. g., CC, arts. 1.756, 1.757 e parágrafo único e 1.774), ou aquelas em que a obrigação deriva de negócio jurídico (v. g., mandado), as contas serão prestadas extrajudicialmente. Será admissível a propositura da ação adequada, portanto, somente se e quando houver recusa ou mora por parte 2 daquele com direito a receber as contas, ou do obrigado a prestá-las; ou ainda quando a prestação amigável seja impossível, em razão da divergência existente entre as partes, quer quanto ao objeto ou existência da própria obrigação de dar contas, quer quanto à existência ou ao montante do saldo. (pp. 128-129) 3) Legitimidade Ativa: compete a quem tem direito de exigi-las ou obrigação de prestá-las. Ambos podem ajuizar a ação. Art. 914, CPC. A ação só pode ser ajuizada por determinado autor, face determinado réu. Pode ter litisconsórcio? Pode, se a relação material for assim. Não há grandes dúvidas e discussões acerca da legitimidade ativa e passiva deste tipo de procedimento. 4) Procedimento [gente, o procedimento tá todo no CPC! \o/] Procedimento se o autor for aquele que tem direito à prestação de contas: Prazo de cinco dias para que o réu preste as contas1. Se o réu apresentar as contas solicitadas pelo autor, o autor tem o prazo de cinco dias para se manifestar sobre elas. Havendo concordância, encerra-se o processo. Se não houver necessidade de provas, o juiz proferirá sentença2. Se o réu não se manifestar ou não contestar o pedido de prestação de contas, há julgamento antecipado. Nesse caso, a sentença de procedência condenará o réu a apresentar as contas no prazo de 48 horas, sob pena de não poder contestar os números apresentados pelo autor e homologados pelo juiz3. É uma sanção bastante séria. No entanto, pode ser que, em casos específicos, seja impossível prestar as contas dentro do prazo. Em tese, é possível suscitar um incidente de exibição de documentos (contra quem detenha os documentos necessários para que o réu faça as contas). Se o réu apresenta as contas dentro do prazo de 48 horas e houver a necessidade de produção de provas, haverá audiência e sentença. Se não apresentar, o autor tem o prazo de 10 dias para apresentar as contas que ele reputa que estariam corretas. Essas contas serão julgadas segundo o prudente arbítrio do juiz e, se homologadas, não poderão ser contestadas pelo réu posteriormente4. O juiz pode determinar, de ofício, realização de perícia (art. 915, §3º, in fine). A ação de prestação de contas tem duas sentenças: a primeira resolve a lide que diz respeito à obrigatoriedade de prestar as contas. Caso julgue carecedor de ação (o réu não tem obrigação de prestar contas), encerra-se a ação. É importante saber se há essa relação de direito material entre as partes. 1 Art. 915. Aquele que pretender exigir a prestação de contas requererá a citação do réu para, no prazo de 5 (cinco) dias, as apresentar ou contestar a ação. 2 Art. 915, §1º. Prestadas as contas, terá o autor 5 (cinco) dias para dizer sobre elas; havendo necessidade de provas, o juiz designará audiência de instrução e julgamento; em caso contrário, proferirá desde logo a sentença. 3 Art. 915, §2º. Se o réu não contestar a ação ou não negar a obrigação de prestar contas, observar-se-á o disposto no art. 330; a sentença que julgar procedente a ação, condenará o réu a prestar as contas no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar. 4 Art. 915, §3º. Se o réu apresentar as contas dentro do prazo estabelecido no parágrafo anterior, seguir-se-á o procedimento do §1º deste artigo; em caso contrário, apresentá-las-á o autor dentro em 10 (dez) dias, sendo as contas julgadas segundo o prudente arbítrio do juiz, que poderá determinar, se necessário, a realização do exame pericial contábil. 3 A petição inicial atenderá aos requisitos da petição do procedimento ordinário, expondo a situação que justifique o direito à prestação de contas. Possibilidades: a) sentença de improcedência, declarando que o réu não tem obrigação de prestar contas; b) sentença de procedência, reconhecendo o direito do autor à prestação de contas, condenando o réu a prestá-las, sob pena de multa + sentença julgando as contas apresentadas pelo réu (ou, na omissão do réu, julgam-se as contas apresentadas pelo autor, com ou sem perícia, homologando-as), com formação de título executivo. Procedimento se o autor for quem tem o dever de prestar contas: Se for ajuizada por quem tem o dever de prestá-las, prazo de cinco dias para o réu se manifestar sobre elas5. A petição inicial deve conter a alegação de falta de compreensão ou de atenção daquele que deveria recebê-las. O Código é muito didático ao tratar do procedimento da ação de prestação de contas [o professor disse isso querendo dizer que é pra gente ler o CPC e que ele não ia ficar repetindo o que está lá]. O autor deve apresentar as contas de forma mercantil, contábil6. Ação de Nunciação de Obra Nova (art. 934/940, CPC) 1) Introdução Hoje tem grande incidência, principalmente pela grande quantidade de loteamentos. Nasceu do costume romano do vizinho contíguo de jogar pedras na construção do imóvel que o estava prejudicando. Depois, tornou-se um procedimento muito mais civilizado, administrado pelo Estado. A título de ilustração, uma das primeiras formas de nunciação de obra nova, surgida no direito romano, era o factu lapilli, caracterizadopelo lançamento de pedras na edificação e levado a efeito pelo lesado, a fim de demonstrar seu inconformismo. (p. 156) A ação de nunciação de obra nova, que se estabelece entre o nunciante e o nunciado é uma ação do vizinho proprietário ou possuidor, condômino, coproprietário ou ainda o Poder Público, visando a impedir a construção de obra nociva à sociedade. A obra deve estar sendo construída em desobediência ao projeto, às posturas públicas, com abuso de direito etc. Exemplo: alvará para construir um imóvel residencial, mas estão construindo um imóvel comercial. A preocupação do legislador [...] é evidente: pretendeu não só proteger o direito de propriedade e harmonizar a convivência entre os vizinhos, como também evitar o devassamento da propriedade alheia. Consequentemente, diante da possibilidade de prejuízo à propriedade alheia, ou de violação da lei, de regulamento ou de postura, em virtude de obra nova, poderá o prejudicado embarga-la, valendo-se da ação em exame. 5 Art. 916. Aquele que estiver obrigado a prestar contas requererá a citação do réu para, no prazo de 5 (cinco) dias, aceitá-las ou contestar a ação. 6 Art. 917. As contas assim do autor como do réu serão apresentadas em forma mercantil, especificando-se as receitas e a aplicação das despesas, bem como o respectivo saldo; e serão instruídas com os documentos justificativos. 4 Professor contando que advogou contra a Mitra Arquidiocesana porque estavam construindo uma igreja sem alvará. A mulher dele ficou falando que ele ia para o inferno. Depois o professor disse que se arrependeu um pouco porque gosta muito de quermesse [~óia a cobra~]. 2) Conceito de “obra nova”. Conceito de vizinho. “Obra nova”: o conceito da jurisprudência é colocação de telhado. Colocou telhado, já era. Vizinho: o conceito é bastante elástico. Em um loteamento com mil lotes, todos podem ser considerados vizinhos. Vizinhos são aqueles que serão prejudicados. O legislador foi infeliz ao utilizar o vocábulo edificação no inc. I do art. 934 do Código de Processo Civil, pois ele limita demasiadamente o conceito de obra. Esta poderá consistir em edificação, mas também em remodelação, reforma, escavações, terraplanagem, extração de minérios, colheita, corte de madeiras – enfim, qualquer atividade que coloque em risco o direito de propriedade sobre os imóveis vizinhos ou contíguos, ou, ainda, que viole lei, regulamento ou postura. Ademais, a referência ao direito de vizinhança não autoriza a conclusão de que ele se limita ao imóvel contíguo; ao contrário, é irrelevante a distância que os separe, pois a realização de obra em um deles, em desacordo com a lei e posturas, poderá acarretar danos ao outro, justificando, assim, a propositura da ação nunciatória pelo proprietário prejudicado. Pondera-se, porém, que nem toda obra pode ser considerada nova, pois somente se enquadra nessa categoria aquela “que altere o estado de coisas anteriormente existente [...]. Enquanto a obra está no plano das intenções, mesmo que comunicadas ao vizinho, ainda não cabe o ajuizamento da ação [...]. Desde o momento, entretanto, em que a intenção do dono da obra de exterioriza por fatos (materiais são depositados, marcações são feitas no terreno e canteiros são preparados), já existe a obra, ainda que em fase de preparação”.7 Após sua conclusão a obra também não mais pode ser considerada nova, descabendo, em consequência, a ação nunciatória. [...] poderá o proprietário da área invadida valer-se, isto sim, da ação demolitória, pleiteando o desfazimento da obra. (pp. 156-157) 3) Legitimidade O réu é o proprietário da obra [Marcato diz, em seu livro, que a ação não pode ser proposta contra possuidor ou construtor, sob pena de carência de ação por ilegitimidade passiva ad causam e consequente extinção do processo sem resolução do mérito (p. 158)]. Um dos legitimados ativos é o Poder Público (art. 934, III). Se o Poder Público deu um alvará incorreto, pode integrar o polo passivo da ação (caso haja pedido de anulação/ cassação de alvará, há litisconsórcio passivo necessário). [O CPC fala em Município, especificamente. Além disso, pela interpretação literal, o Município só pode ajuizar a ação em caso de infringência de lei, regulamento ou postura. No entanto, Marcato ressalva que há parte da doutrina – Barbosa Moreira – que defende que o Estado e a União também teriam legitimidade ativa, caso a norma violada seja estadual ou federal, respectivamente (p. 158)] [O professor não comentou sobre eles, mas os demais legitimados ativos são o proprietário e o possuidor (art. 934, I) e o condômino (art. 934, II)]. 7 Cf. Fabrício Furtado, Comentários ao Código de Processo Civil, v. VIII, t. III, nº 397-398, p. 586-587; v., ainda, Couto e Silva, Comentários ao Código de Processo Civil, v. XI, t. I, nº 138, p. 157-158. 5 O detalhe desta ação é o embargo da obra8 (a suspensão do alvará e, consequentemente, a não continuidade da obra). Caso não haja o embargo, a ação não vale de nada (quando for julgada, a obra já vai ter acabado). [O professor não mencionou, mas há a possibilidade de realizar embargo extrajudicial, disciplinado no art. 935: Ao prejudicado também é lícito, se o caso for urgente, fazer o embargo extrajudicial, notificando verbalmente, perante duas testemunhas, o proprietário ou, em sua falta, o construtor, para não continuar a obra. Parágrafo único: Dentro de 3 (três) dias requererá o nunciante a ratificação em juízo, sob pena de cessar o efeito do embargo.] É necessário pedir liminarmente na inicial o embargo. Deve haver também o pedido de demolição (o juiz pode não dar procedência à demolição, pois a estrutura pode ser usada para outros fins) ou alteração da construção (fazendo com que atenda aos limites adequados). É possível ainda haver pedido de perdas e danos9. É difícil, mas pode ter. Auto circunstanciado: qual a relevância do laudo feito pelo oficial de justiça? Consolidar o estado de fato. É possível, dessa forma, ver se o réu descumpriu a ordem judicial (crime de atentado10: perde o direito de falar nos autos). 4) Procedimento O réu é citado para contestar a ação em cinco dias (art. 938, in fine). O réu pode prestar caução e continuar a obra11. O professor fala que é bem arriscado. Só usar se houver certeza absoluta de que está tudo certo, porque se a ação for julgada procedente, há demolição. Aula de 16.05.2011 – aula dada pelo Prof. Heitor Mandado de Segurança (gente do céu, sou eu ou a gente tá estudando mandado de segurança pela sexta vez na faculdade?) É um tema muito tratado pelos constitucionalistas e pelos administrativistas. É muitas vezes chamado de writ, por sua origem histórica, inglesa, de remédio contra o abuso de poder. Conseguimos identificar elementos semelhantes a um instituto dos países de língua espanhola da América Latina (amparo12). 8 Art. 938. Deferido o embargo, o oficial de justiça, encarregado de seu cumprimento, lavrará auto circunstanciado, descrevendo o estado em que se encontra a obra; e, ato contínuo, intimará o construtor e os operários a que não continuem a obra sob pena de desobediência e citará o proprietário a contestar em 5 (cinco) dias a ação. 9 Art. 936. Na petição inicial, elaborada com observância do art. 282, requererá o nunciante: I – o embargo para que fique suspensa a obra e se mande afinal reconstituir, modificar ou demolir o que estiver feito em seu detrimento; II – a cominação de pena para o caso de inobservância do preceito; III – a condenação em perdas e danos. 10 Atentado é inovar contra decisão judicial. Bacana, né? Artigos de atentado: art. 879. 11 Art. 940. O nunciado poderá, a qualquer temo e em qualquer grau de jurisdição,requerer o prosseguimento da obra, desde que preste caução e demonstre prejuízo resultante da suspensão dela. 12 Não confundir com o amparo do direito espanhol. 6 Identifica-se, na legislação lusitana, o uso de termos como “concessão de segurança”, mas em contexto diverso do atualmente usado pelo ordenamento brasileiro. De onde vem o nome de “mandado de segurança”? A primeira vez em que o mandado de segurança aparece na legislação brasileira é na Constituição Federal de 1934. Antes disso, havia a previsão na Lei 221/1904, que estruturava a Justiça Federal (além da estruturação, havia regras processuais, de intervenção de terceiros, por exemplo). Uma das novidades da lei era dizer, expressamente, que o Poder Judiciário poderia rever atos do Poder Executivo, quando houvesse abuso de poder; previa o controle difuso de constitucionalidade. Embora houvesse base legal, o instrumento de uso do particular contra abuso de poder de autoridade não foi largamente utilizado. Na dúvida, os advogados da época usavam o habeas corpus, mesmo quando não havia violação à liberdade de locomoção, já que não havia previsão clara de limitação do uso do habeas corpus. Isso somente veio a ser alterado em 1926, com a limitação do habeas corpus às violações ao direito de locomoção. O habeas corpus sempre possibilitou a concessão de liminar. Esse pode ser um dos motivos pelos quais os advogados preferiam usá-lo (antes de 1994, eram expressamente determinados na lei os procedimentos em que era possível fazer pedido liminar). Com a limitação do uso do habeas corpus, os advogados, buscando um meio de obter tutela de urgência, desenvolveram a tese do esbulho da posse de direitos pessoais (exemplo: o servidor público injustamente exonerado foi esbulhado na posse de um direito pessoal seu). Dessa forma, era possível obter uma tutela liminar por meio das ações possessória. Em 1934, com a inserção no ordenamento do mandado de segurança, o uso da tese tornou-se desnecessário. É curioso ver que o mandado de segurança foi se mantendo no ordenamento, com exceção da Constituição de 1937, em que houve a supressão dessa garantia constitucional. Mas mesmo em Constituições autoritárias, como a de 1967, foi mantido (e também na Emenda de 1969). Havia uma exceção para os atos do Supremo Comando Revolucionário. Quando a Constituição de 1946 restaurou o mandado de segurança, houve a necessidade de uma lei que o regulamentasse. Foi a Lei 1533/1951, que estava vigente até outro dia (a Lei 12016/2009 que a revogou). Ficou em vigência por mais de 50 anos, e foi intensamente examinada pela doutrina e pela jurisprudência, com várias súmulas (a maioria da década de 60) do STF. A maioria desses entendimentos consagrados foi incorporada na Lei 12016/2009. A jurisprudência era tão enraizada que era muito frequentemente seguida. Portanto, apesar de haver uma diferença entre as leis, na prática não houve tanta mudança assim. Outra diferença é que a nova lei regulamentou o mandado de segurança coletivo. Aí temos verdadeiramente um ganho. Não que antes da lei não houvesse mandado de segurança coletivo, já que estava previsto na Constituição de 1988 (art. 5º, LXX). Embora seja um remédio constitucional, o habeas data tem aplicação restritiva, sendo usado em muito menos situações do que o professor considera ter sido a intenção do constituinte. Se não couber habeas corpus, nem habeas data, cabe mandado de segurança. Portanto, não há maior prejuízo nas limitações feitas pela jurisprudência no cabimento do habeas data. 7 Sobre a legislação infraconstitucional: é destacado o cabimento do mandado de segurança contra ato de autoridade. Mas as autoridades são somente as públicas? E atos de particular contra particular? A interpretação dos parágrafos do art. 1º da nova lei leva à conclusão de que seria possível o cabimento de mandado de segurança nesses casos. Exemplo: associação que exclui membro injustificadamente; condomínio que exclui condômino antissocial injustificadamente. A lei expressamente prevê a possibilidade de figurarem no polo passivo: partidos políticos e concessionárias de serviços públicos (somente em atos de concessão de serviços públicos, e não em atos gestacionais)13. Empresas públicas e sociedades de economia mista: sujeitam-se a mandado de segurança (exceto atos de gestão comercial14). Há, na prática, vários casos que podem levantar dúvidas. Teoricamente, é um critério razoável (apesar de não haver consenso doutrinário). Exemplo: Petrobrás, sociedade de economia mista, faz uma licitação para fornecimento de material para suas plataformas de extração de petróleo. É entendimento de que, caso haja ilegalidade contra os licitantes, cabe mandado de segurança. Mas se a Petrobrás comprar uma máquina de café, não caberá. A administração pública direta (União, Estados e Municípios) é a principal ré (o professor disse uns 90%) dos mandados de segurança. Não somente o chefe, mas todos aqueles submetidos a ele, hierarquicamente. Fundações: há situações de dúvida. Talvez o mais apropriado seja avaliar caso a caso. Os membros do Poder Legislativo também podem ser alvo (exemplo: contra o Congresso, por promulgar uma lei que viabilizaria abuso de poder). Há resistência da jurisprudência em admitir o mandado de segurança contra “lei em tese”. O professor, no entanto, considera que é possível o mandado preventivo. A lei do mandado de segurança dá margem para que se continue com o hábito de considerar que universidade e escolas em geral possam ser alvo de mandado de segurança com relação a atos que dizem respeito a matrículas de alunos. Portanto, considera-se que universidades particulares prestam um serviço público, sujeitas a fiscalização do MEC (e, portanto, a competência é da Justiça Federal). O professor é de opinião de que não há base legal para a competência da Justiça Federal. Direito líquido e certo: fatos comprovados documentalmente, por documentos já existentes à época do ajuizamento do mandado de segurança (pré-constituídos, portanto). A expressão não é muito feliz, por “pegar emprestados” termos que fazem referência aos títulos executivos. É um procedimento de cognição judicial limitada. Não é possível juntar nenhum outro documento após o ajuizamento, nem produzir outra prova. Foi uma opção do legislador, por motivos de celeridade. Outros casos em que houve a mesma opção do legislador: desapropriação (só se discute o valor da indenização). 13 Art. 1º, §1º. Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições. 14 Art. 1º, §2º. Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público. 8 O professor diz que, embora seja uma técnica válida, talvez haja problemas na prática. Se o juiz julga e profere apenas a expressão genérica “denego a ordem”, não é possível saber se houve ou não o exame do mérito. Não é possível saber se assim foi julgado por improcedência, por ilegitimidade, ou ainda por falta de provas (caso em que seria possível o ajuizamento de ação competente para produção de provas, de cognição judicial plena). Nesse último caso, seria uma hipótese de julgamento sem exame de mérito, por não adequação da via eleita. Em caso de inadequação da via, seria preferível a conversão do mandado de segurança em procedimento ordinário, e não extinguir o processo, por economia processual. Até mesmo porque a sentença terminativa é passível de recursos. No entanto, não é isso o que, via de regra,acontece. A lei só tem uma exceção em que se permite a produção de provas15: o particular pode indicar que o documento está em poder de terceiro ou da própria autoridade coatora, requerendo ao juiz que determine a exibição desses documentos em juízo. Qual a eficácia da sentença do mandado de segurança? É uma questão de muita importância, tratada superficialmente por grande parte da doutrina. Mandado de segurança dá tutela declaratória (nulidade do ato administrativo), tutela constitutiva (ou desconstitutiva, com a nulidade do ato) e tutela mandamental. Essas são ok. O problema é quanto à tutela condenatória. O mandado de segurança não é substitutivo de ação executiva (Súmula 271, STF: “Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria”). O professor diz que isso frustra dispositivo constitucional. A súmula caiu, mas o art. 14, §4º16 da nova lei ainda traz certos resquícios desse entendimento. Isso obriga o Poder Judiciário a conhecer e julgar os mesmos fatos duas vezes, o que é absolutamente antieconômico. Além de ser contra a economia processual, o procedimento dificulta o recebimento do dinheiro da Fazenda Pública. Não é possível execução provisória de sentenças condenatórias de concessão de segurança17. Nesses mesmos casos, também não é possível a concessão de liminares permitindo a constrição de bens18. O professor acredita que é uma violação dos direitos do cidadão. A ideia de concessão de liminares é intimamente ligada ao acesso à justiça, acesso à ordem jurídica justa. Dessa forma, a lei do MS amplia certas prerrogativas da Fazenda Pública, que somente responde qualquer coisa após o trânsito em julgado das decisões, incentivando a recorribilidade das decisões pela Fazenda Pública, de forma a postergar o pagamento. Não faz sentido, portanto, atribuir ao cidadão comum o problema da enchente de recursos do Poder Judiciário. Essa é uma conduta 15 Art. 6º, §1º. No caso em que o documento necessário à prova do alegado se ache em repartição ou estabelecimento público ou em poder de autoridade que se recuse a fornecê-lo por certidão ou de terceiro, o juiz ordenará, preliminarmente, por ofício, a exibição desse documento em original ou em cópia autêntica e marcará, para o cumprimento da ordem, o prazo de 10 (dez) dias. O escrivão extrairá cópias do documento para juntá-las à segunda via da petição. 16 “O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em sentença concessiva de mandado de segurança a servidor público da administração direta ou autárquica federal, estadual e municipal somente será efetuado relativamente às prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da inicial. 17 Art. 14, §3º. A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada provisoriamente, salvo nos casos em que for vedada a concessão da medida liminar. 18 Art. 7º, §2º. Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza. 9 agravada pelos atos do próprio Poder Público, que usa os instrumentos que o procedimento lhe dá [e xinga no twitter muito]. Mandado de segurança é orientado em razão da celeridade. Isso se explica historicamente. Em 1200, no começo do Estado Português, havia uma preocupação com a quantidade de recursos contra decisões interlocutórias. Portanto, não é de hoje a preocupação com a celeridade do processo. Processo lento faz com que não se atinjam os objetivos. O Poder Público (a Administração) autoexecuta suas decisões, independentemente de autorização de qualquer pessoa. Portanto, o processo contra o Poder Público deve ser mais célere do que processos contra particulares. Por isso, não faz sentido a atual limitação de concessão de liminares e a proibição de execução provisória. É dar com uma mão e tirar com a outra [puta falta de sacanagem]. Há prazo decadencial de 120 dias após o ato para que o cidadão impetre o MS19. Houve uma discussão sobre a constitucionalidade de uma lei (norma infraconstitucional, portanto) que fixe prazo decadencial a uma garantia constitucional, mas o STF editou Súmula20 pela constitucionalidade do prazo decadencial. Até 1994, o MS tinha um diferencial procedimental, de permissão de concessão de tutela de urgência (depois, com a possibilidade de se pedir tutela antecipada em qualquer ação fez com que o MS perdesse esse diferencial). O fato de constitucionalistas e administrativistas analisarem bastante o mandado de segurança fez surgir uma série de esquisitices na interpretação do procedimento. Uma delas é entender que não seria possível o litisconsórcio (pela proibição de intervenção de terceiros). Outra é dizer que as decisões interlocutórias não são recorríveis. Claro que são. É um procedimento especial, mas aplicam-se, subsidiariamente, na omissão da lei especial, as disposições do CPC. Aspectos da sumariedade do procedimento: proibição de intervenção de terceiros (não impede o litisconsórcio). Súmula 105, STJ; Súmula 512, STF; art. 25, Lei 12016/2009: não há condenação em honorários sucumbenciais. Do jeito que a lei nova recepcionou esse entendimento, mesmo se o impetrante estiver de má-fé, não há o pagamento de honorários sucumbenciais (sem prejuízo da multa por litigância de má-fé). O professor considera um erro da nova lei, pois se permite que os litigantes briguem sem qualquer responsabilidade. Alguns recursos, por exigência de maior simplificação, não são cabíveis, como os embargos infringentes (art. 25). 19 Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado. 20 Súmula 632. É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado de segurança. 10 Outra técnica do MS que poderia ser usada no procedimento comum é que a citação é feita com a contrafé e com todos os documentos da inicial21. Evitaria que o advogado tivesse que ir até o fórum tirar cópia dos documentos no fórum. Mandado de segurança não tem réplica, fase instrutória, alegações finais. É inicial, resposta, parecer do MP e sentença. Simples assim [oi!]. MP: a lei dispôs expressamente sobre a obrigatoriedade de manifestação do MP22. O que acontece é que o MP se manifesta pela falta de interesse na causa. A interpretação que podemos fazer é a de que se a lei mandou que houvesse um custus legis, é pro MP se manifestar sim. Não tem que escolher se tem interesse ou não, pois a lei determinou que houvesse uma fiscalização. Na vigência da antiga lei, o MP desenvolveu uma cota padrão de falta de interesse. Ao invés de a lei nova fazer algo bom e tirar a necessidade de intervenção do MP, determinou-se que o MP teria o prazo de dez dias para se manifestar. Se não se manifestar nesse prazo, os autos vão para o juiz para sentença. Ou seja, não ajudou em nada. O professor diz que seria melhor ou tirar a necessidade de intervenção, ou determinar que o MP intervenha de qualquer jeito. Quem é, afinal de contas, o réu do mandado de segurança? Há um réu? O art. 7º (que repete a lei anterior) não fala nada sobre “réu”, “citação” ou “contestação”, “defesa”. Solução nº 1: o mandado de segurança não tem réu (Ignácio Botelho de Mesquita). Solução nº 2: ocorre notificação do coator, para prestar informações. A autoridade coatora é a ré, e a pessoa jurídica à qual está vinculada pode, se quiser, ingressar como assistente litisconsorte. Solução nº 3: litisconsórcio necessário, porforça de lei. Facilita a prestação de informações (Cássio Scarpinella Bueno). É a solução preferida pelo professor. A autoridade coatora refere-se ao cargo, não à pessoa física que o ocupa. A lei antiga master, de 1936, previa que, caso houvesse erro quanto à autoridade coatora, não havia problema. Não havia a obrigação de o impetrante conhecer os meandros, o organograma de cada órgão público da administração. A lei de 1951 não foi tão feliz e a lei nova também não Um dos problemas ainda não pacificados pelo Tribunal de São Paulo é quando o Prefeito está no polo passivo: há competência originária do Tribunal? Para o professor, não, já que essa prerrogativa da competência funcional é criminal, e não civil. 21 Art. 6º. A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos na lei processual, será apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições. 22 Art. 12. Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do art. 7º desta Lei, o juiz ouvirá o representante do Ministério Público, que opinará, dentro do prazo improrrogável de 10 (dez) dias. Parágrafo único. Com ou sem o parecer do Ministério Público, os autos serão conclusos ao juiz, para a decisão, a qual deverá ser necessariamente proferida em 30 (trinta) dias. 11 Autor do mandado de segurança: art. 3º23 admite que o titular de um direito dependente pode tutelar direito alheio (exemplo: segundo colocado em concurso público). Qualquer uma das pessoas violadas pode ingressar com MS24. Exemplo: um cadeirante entra com MS para o metrô colocar uma rampa em determinada estação. Não há uma delimitação muito clara entre tutela coletiva e tutela individual. O STF, em súmulas antigas sobre o tema, considerava complicado aceitar o cabimento do MS em substitutivo à ação popular. Mandado de segurança coletivo: art. 5º, LXX, CF/88: há menos legitimados do que a ação civil pública. Não há a legitimidade do MP (alguns autores têm entendido que, por interpretação sistemática, deve haver a admissão do MP como legitimado). A nova lei limitou o que a CF não limitava, ao dispor sobre os casos em que os legitimados poderiam impetrar MS (vai além da pertinência temática, estabelecendo que só cabe em caso de interesse de seus membros)25. Se a Constituição não limitou, não deveria caber ao legislador infraconstitucional limitar. Não é necessária autorização de ninguém. Art. 22, §1º: particular pode desistir da ação individual para se valer da sentença da ação coletiva26. Mandado de segurança contra ato judicial: art. 5º, II e III27. Só cabe em caso de decisão ainda não transitada em julgado ou contra a qual não caiba recurso com efeito suspensivo. A lei nova corrigiu esse último aspecto. Não cabe MS dirigido ao STJ ou STF. Não está previsto no rol taxativo da CF, no art. 102 ou 105. O mandado de segurança é uma válvula de escape do sistema recursal, mas não atinge todas as áreas. Aula de 23.05.2011 Ação Popular (Lei 4717/1965) 23 Art. 3º. O titular de direito liquido e certo decorrente de direito, em condições idênticas, de terceiro poderá impetrar mandado de segurança a favor do direito originário, se o seu titular não o fizer, no prazo de 30 (trinta) dias, quando notificado judicialmente. 24 Art. 1º, §3º. Quando o direito ameaçado ou violado couber a várias pessoas, qualquer delas poderá requerer o mandado de segurança. 25 Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial. 26 Art. 22, §1º. O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva. 27 Art. 5º. Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: II – de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo; III – de decisão judicial transitada em julgado. 12 A ação popular, a ação civil pública e a ação de improbidade administrativa (que será estudada na próxima aula) compõem o microssistema de proteção ao patrimônio público (é esse o bem da vida protegido). Em todas elas, os pedidos ressarcitórios, de indenização, são considerados imprescritíveis. Demais pedidos (de rescisão de contrato, de multa, de anulação) são sujeitos à prescrição. O Professor atenta que devemos ficar atentos aos rótulos dados às ações. Em alguns casos, pode se tratar de mera confusão, mas o Ministério Público, que não tem legitimidade para propor ação popular, muitas vezes ajuíza uma ação civil pública em casos típicos de ação popular. Quanto à ação popular em específico, ela é regida por uma lei muito antiga, de 1965. Era uma lei muito moderna na época, e sua qualidade se manteve no decorrer do tempo, sendo até hoje copiada por outros países. Objeto: interesse difuso à preservação da eficiência e da moralidade da coisa pública e também da tutela do meio-ambiente e do patrimônio histórico-cultural (art. 5º, LXXIII, da CF/88): LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico-cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; Finalidade: anulação ou declaração de nulidade do ato lesivo (geralmente, trata-se de um contrato) e, por consequência, a condenação dos responsáveis, agentes públicos ou beneficiários a ressarcir os entes públicos prejudicados. A ação popular teve seu uso ofuscado nos últimos tempos, sendo usada como instrumento de chantagem ou de vendeta política. Tanto que, na maioria dos casos, após a decisão liminar sobre a tutela antecipada, o autor perde o interesse em acompanhar a ação. Como o Ministério Público tem o dever de prosseguir com a ação, é bastante comum que isso aconteça. Competência: art. 5º (“Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer da ação, processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com a organização judiciária de cada Estado, o for para as causas eu interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município”). Legitimidade: cidadão, pessoa física, inclusive o menor de 18 anos, desde que tenha título eleitoral (art. 1º, §3º) e seja assistido por seu representante legal. Normalmente, não há litisconsórcio ativo e, geralmente, é algum político que foi derrotado. A Súmula 365 do STF estabelece que pessoas jurídicas não têm legitimidade para propor ação popular. Dessa forma, a legitimidade ordinária é do cidadão, bastando que, na inicial, junte-se uma cópia do título de eleitor. Se for menor de 18 anos, deve conter, na procuração, a assinatura de quem o representará. Trata-se de um direito político decorrente das liberdades públicas. Exemplo de uso da ação popular: verifica-se que uma autarquia contratou um escritório de advocacia para atuar em um caso por um valor muito alto. O autor de ação popular deve pedir a rescisão do contratoe a restituição do valor. Os réus devem provar, por exemplo, que o caso tinha especificidades o suficiente para justificar o valor dos honorários. 13 Procedimento: ordinário, sem especificidades. A ação deve ser proposta na Vara da Fazenda Pública. Cabe antecipação de tutela para reconhecer a nulidade, por exemplo. A intervenção do Ministério Público é obrigatória, como fiscal da lei (art. 6º, §4º). Em havendo inércia do autor, o MP assume como parte (caso de legitimação posterior)28. Da sentença, cabe apelação. Se a sentença for desfavorável ao autor, por carência ou improcedência, há reexame necessário29. Coisa julgada: a Lei da Ação Popular foi toda pensada de forma a se evitar conluio entre o autor e o réu. Assim, se a ação é julgada improcedente por falta de provas, qualquer cidadão, inclusive aquele que já ajuizou a ação, poderá ajuizá-la novamente, com base em novas provas30. Nas ações coletivas em geral, o juiz deve ter papel mais proativo. Ação Civil Pública (Lei 7347/1985) Assim como o cidadão é o grande protagonista da Ação Popular, o Ministério Público é o grande protagonista da Ação Civil Pública (“ACP”). Após a Constituição de 1988, que concedeu amplos poderes ao MP, houve um grande aumento no número de ações civis públicas. Após esse fenômeno, os tribunais passaram a limitar as hipóteses em que seria possível o ajuizamento das ACP e o entendimento foi absorvido pelo legislador, que promoveu alterações no texto da lei (por exemplo, o MP não tem legitimidade para propor ACP em matéria tributária ou previdenciária31). Objeto: interesse difuso ou coletivo: proteção ao meio-ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico ou paisagístico, qualquer outro interesse difuso ou coletivo, infração da ordem econômica e da economia popular, ordem urbanística (art. 1º, I a VI, da Lei 7347/1985). Vemos que o espectro da proteção é bem amplo. Finalidade: condenação dos responsáveis à reparação em dinheiro ou no cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer32. O professor acredita na função pedagógica do Ministério Público. Competência: local do dano. O foro da primeira ação proposta atrai todas as demais ajuizadas33. 28 Art. 9º. Se o autor desistir da ação ou der motivo à absolvição da instância, serão publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando assegurado a qualquer cidadão bem como ao representante do Ministério Público, dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação fita, promover o prosseguimento da ação. 29 Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente, caberá apelação, com efeito suspensivo. 30 Art. 18. A sentença terá eficácia erga omnes, exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova. 31 Art. 1º, parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados. 32 Art. 3º. A ação civil pública poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. 33 Art. 2º. As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa. 14 Legitimidade: Ministério Público, Defensoria Pública, União, Estados, Municípios, Distrito Federal, autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista, associação (art. 5ª, I a V). A associação deve preencher certos requisitos: estar constituída há pelo menos um ano e o objeto da ação deve ter relação com a finalidade da associação. Há a possibilidade de flexibilização do requisito temporal (art. 5º, §4º: “O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido”). Não sendo o Ministério Público o autor da ação, sua intervenção é obrigatória (art. 5º, §1º). A petição inicial pode trazer requerimento de que o juiz peça informações para as autoridades competentes (art. 8º, caput). O Ministério Público tem a faculdade de instaurar, antes do ajuizamento da ação, um inquérito civil (art. 8º, §1º). O professor Tucci diz que o procedimento do inquérito deve respeitar as garantias constitucionais, inclusive o contraditório, para que tenha validade em juízo. O inquérito pode resultar em um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta). Se o MP, após a conclusão do inquérito, concluir pela falta de indícios, pedirá o arquivamento (art. 9º). O inquérito é importante pois impede que sejam propostas ações de forma leviana, sem fundamento. Há, expressamente, a possibilidade de se conceder tutela antecipada (art. 12). Exemplo: fazer constar uma informação no rótulo de um produto, sob pena de multa por dia de descumprimento. Procedimento: ordinário. As custas são pagas somente ao final (art. 18). Só ocorre condenação por sucumbência em caso de má-fé. Caso não haja execução em 60 dias, o MP ou outro legitimado podem se sub-rogar (art. 15). O artigo 16 trata da eficácia da sentença (“A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator [...]”). A limitação da coisa julgada teve sua constitucionalidade muito discutida. A coisa julgada segue o mesmo raciocínio da ação popular (coisa julgada secundum eventum probationes – e todo mundo ainda tá com a prova de tutela fresquinha na cabeça né?). A apelação não terá efeito suspensivo, mas nada impede que o recorrente o requeira, estando presentes os requisitos legais (art. 14). Aula de 30.05.2011 – Prof. Heitor Ação de Improbidade Administrativa [O Prof. Heitor é especialista em ação de improbidade administrativa. Ele nos passou um artigo que ele escreveu - os trechos em verde foram retirados desse artigo] O tema será dividido em duas partes: análise dos aspectos de direito material relacionados à improbidade administrativa; análise dos aspectos de direito processual. Constituição Federal: art. 37, §4º34 é a matriz constitucional do instituto e, consequentemente, do procedimento especial. É um instituto novo, criado pela CF, com o objetivo de tornar mais severa a punição aos agentes políticos (o alvo principal, portanto, são os agentes públicos) e, correlatamente, os particulares beneficiados. 34 Art. 37, §4º. Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. 15 Sendo a matriz constitucional, o instituto foi regulamentado por legislação infraconstitucional: Lei 8429/1992. A improbidade é um instituto do direito civil. A punição administrativa pode ocorrer sem prejuízo de outras punições possíveis, como de natureza penal, ou ainda de caráter administrativo- disciplinar. São cumuláveis, por expressa determinação da Constituição. Ainda, pode ser cumuladas com penas de caráter político: cassação do mandato. Uma das sanções previstas pela Lei de Improbidade é a perda da função pública. Se essa pena já foi imposta pelo Congresso, por exemplo, a sanção tem seu sentido esvaziado. Até o próprio particular, que pode ser responsabilizado pela Lei de IA, será passível das mesmassanções (logicamente, não se aplicam as de caráter político, mas sim as penais e administrativas). A ação de improbidade administrativa tem por objetivo precípuo a aplicação das sanções previstas no art. 12 da Lei n. 8429/92. É nisso que consiste o núcleo do pedido das demandas que têm base nesse diploma legal, ainda que excepcionalmente seja possível cumulá-lo com outros pleitos, como adiante se verá. (p. 2) É importante mapear os atos de improbidade administrativa em três categorias: enriquecimento ilícito do agente público (art. 9º), configuração de dano ao erário (art. 10), violação aos princípios da administração pública (art. 11). Referido dispositivo traz três incisos, cada qual disciplinando as sanções cabíveis a cada uma das “classes” de atos ímprobos: o inciso I prescreve as sanções para as hipóteses de improbidade tipificadas no art. 9º (atos que importam em enriquecimento ilícito do agente público); o inciso II disciplina as penas para os casos de improbidade arrolados no art. 10 (atos que acarretam lesão ao erário) e, finalmente, o inciso III estipula as penalidades par os casos de improbidade listados pelo art. 11 do mesmo diploma legal (atos que importam e violação aos princípios da Administração Pública). A lógica é parecida com a do direito penal: tipificação estrita (não admitindo a analogia), leis não retroagem para prejudicar o réu. As garantias do cidadão face ao Poder Público se aplicam. No caput dos artigos acima, há uma enunciação de figura genérica. Apesar de haver um rol, é possível identificar um tipo geral no caput. Art. 9º: receber valores ou bens de particular com interesse em relação à administração pública. Se em decorrência desse mesmo ato, houve o favorecimento do particular em uma licitação, houve a configuração de uma situação do art. 10 (frustrar licitude de licitação). Seria concurso formal, material? É possível crime permanente, continuado? A Lei não traz nenhuma previsão nesse sentido, sendo frágil em relação à aplicação dos tipos, o que traz problemas práticos. Temos tipos com categorias abertas (no caput), e tipos estritos em cada um dos incisos dos artigos. Embora a doutrina defenda a aplicação dos princípios do direito penal, a jurisprudência ainda vê a situação com parcimônia, por se tratar de instituto predominantemente de direito civil. A maioria dos estudiosos reconhece que tais sanções têm caráter civil; outros destacam também que as penas teriam ainda um caráter político, havendo unanimidade em rejeitar que essas sanções tenham caráter administrativo ou penal, o que autoriza sejam impostas independentemente de punição nessas duas diversas esferas [...]. (p. 2) 16 Top five de casos de improbidade administrativa: Poder Público não lança licitação a tempo, e depois faz contratação em caráter emergencial. Exemplo: serviço de coleta de lixo (serviços que devem funcionar todo dia). Órgão que divide uma grande compra em pequenas compras para que não haja necessidade de licitação (hoje, a Lei fala em R$ 8 mil). Aumentar o valor do contrato acima do limite de 25%. Contratação de servidor público sem concurso (contrata-se primeiro em cargo de confiança e depois há a realocação em função meramente burocrática). Contratação de servidores em caráter temporário sem que haja a configuração de situação emergencial. Em todos esses casos, há um ato de agente público, que é o alvo principal da lei. No entanto, há um particular que é, no mínimo, beneficiado pelo ato, ou ainda é copartícipe. Procedimento: Não é, propriamente, um desdobramento da ação civil pública. A ACP tem sua matriz normativa na Lei 7435/1985. Ambas as leis preveem a aplicação subsidiária do CPC. Portanto, não há nada que remeta o procedimento da ação de improbidade administrativa à ação civil pública do ponto de vista procedimental. Legitimados para ação civil pública: rol do art. 5º da Lei 7347/1985. Para a ação de improbidade, somente o MP e a pessoa jurídica de direito público interessada35. O art. 129, IX, da CF dispõe expressamente que o MP não pode atuar na defesa judicial de entes públicos. Esse questionamento foi levantado para discutir a legitimidade de o MP poder mover uma ação de improbidade no interesse de uma pessoa jurídica de direito público (porque, em caso de dano ao erário, a condenação iria para os cofres do ente público). Dessa forma, durante muito tempo, as contestações às ações de improbidade tinham um capítulo padrão de ilegitimidade, com pedido de reconhecimento incidental de inconstitucionalidade do artigo 17 da Lei de IA. Definiu-se que, na verdade, o MP estaria defendendo um interesse transindividual de probidade administrativa. No entanto, não se pode negar que o MP está perseguindo interesse patrimonial (além do interesse transindividual e moral). A doutrina ainda tentou defender a ótica do interesse público primário (valores da administração pública) e secundário (patrimonial da Fazenda Pública). No entanto, levando o argumento ao extremo, qualquer execução fiscal ou ação de cobrança contra ente público deveria ter a intervenção do MP. O que aproxima ambos os procedimentos da ação civil pública e da ação de improbidade administrativa? Tutela-se, primordialmente, o interesse transindividual. Portanto, a finalidade de ambos é a tutela de um específico interesse transindividual. No caso da IA: probidade administrativa e defesa dos valores da administração pública. O MP, em não atuando como autor, intervirá obrigatoriamente36. 35 Art. 17, Lei 8429/1992. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de 30 (trinta) dias da efetivação da medida cautelar. 36 Art. 17, §4º. O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará, obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade, 17 Quando o autor for o MP, a pessoa jurídica de direito público é chamada para participar do processo, em técnica igual à da ação popular (art. 6º, §3º, Lei 4717/1965; art. 17, §3º, Lei 8429/1992). A pessoa jurídica poderá contestar, poderá omitir-se (sem pena de revelia) ou poderá alinhar-se à acusação do autor. Crítica: é estranho dizer que o ente público é réu (já que é colegitimado para ajuizamento da ação). Quando o ente público escolhe o lado ao qual pretende se alinhar, Heitor diz que ele não “vira” autor ou réu. Corrente doutrinária mais aceita acredita que atua como assistente qualificado. Outra explicação que já foi dada é que a escolha configura o ente como amicus curiae, o que é estranho, pois seu ingresso na ação é provocado. Seja como for, Heitor diz que não acredita que o ente público vire parte (autor ou réu). Defendendo as razões de um ou de outro, não pede nada para si, nem tem nenhum pedido contra si. A pessoa jurídica de direito público pode ficar mudando de ideia? No começo, defende a linha de argumentação do autor, mas depois passa a defender o réu (geralmente, ocorre por mudança do partido no poder)? A doutrina é bastante dividida. Há corrente que defende a ideia de preclusão lógica. Há também a ideia de que a pessoa jurídica, defendendo um interesse institucional, não poderia ficar sujeita à preclusão. Heitor acha que não poderia, pois a defesa desses interesses não pode ficar ao sabor das disputas político-partidárias. Legitimidade passiva: Tem que ter, obrigatoriamente, agente público. O litisconsórcio passivo com o particular beneficiado é necessário? O agente público poderia figurar sozinho, mas o particular só pode se acompanhado do agente público. Não existe ação de improbidade administrativa sem agente público no polo passivo. O litisconsórcio é unitário? Heitor acredita, com o apoio da doutrina majoritária, que é simples. Competência: Toda vez que umagente político comete crime, tem foro por prerrogativa de função. Isso vale para processos penais. A ação de improbidade administrativa tem natureza civil. Portanto, não se aplica o foro por prerrogativa de função. Em 2000, a Lei 10628 determinou que, para as ações de improbidade administrativa, vale também o privilégio do foro por prerrogativa de função. Ainda, o foro por prerrogativa de função valeria mesmo para ex-prefeitos, ex-presidentes, etc. Dessa forma, teríamos a curiosa situação de lei infraconstitucional ampliando norma constitucional. O STF julgou a lei inconstitucional (ADIn 2797-2), acabando com essa farra. Embora a ação de improbidade só se justifique por haver a tutela de interesse transindividual, a jurisprudência do STJ considera um aspecto da prestação pecuniária, quando envolve verba federal. Exemplo: um município usa a verba (fornecida pelo ente federal) que seria destinada à merenda das escolas para outros fins. Qual a competência (Súmulas 208 e 209, STJ37)? Se a verba continua sob 37 Súmula 208. Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita à prestação de contas perante órgão federal. Súmula 209. Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal. 18 fiscalização da União, a Município somente o geriu e nunca foi dele. Competência federal. Se a verba não fica sob fiscalização e foi incorporada ao patrimônio do município, a competência é estadual. Procedimento: ordinário. Alguns aspectos: chamamento da pessoa jurídica de direito público, com a possibilidade de escolher a linha de argumentação do autor ou réu (art. 17, §3º c/c art. 6º, §3º, Lei 4717/1965). Art. 17, §7º a §9º, inseridos por Medida Provisória. Criam, em relação ao procedimento comum ordinário, uma fase preliminar, com contraditório anterior: Após o recebimento, haveria a citação propriamente dita do(s) réu(s) para apresentar contestação. Essa análise preliminar baseia-se no processo penal, em que ocorre a verificação das condições da ação e dos pressupostos processuais, além dos indícios de autoria e da materialidade. O juiz só pode proferir decisão de mérito se for pela improcedência (não pode julgar procedente só com base na manifestação prévia). No processo civil, o recebimento da inicial baseia-se somente na verificação de pressupostos para o regular andamento do feito. Dessa forma, a lei aproveitou a técnica do processo penal. No processo civil, temos o julgamento antecipado da lide, que pode ser de procedência ou improcedência. Dessa forma, é meio estranho que o legislador tenha optado por copiar o processo penal, já que, pelo julgamento antecipado do processo civil, o juiz teria maior âmbito de ação. Além disso, essa fase prévia causa certa demora no processo, pois a notificação deve ser pessoal. Ainda, a prática mostra que os juízes não captaram o sentido da lei, evitando ao máximo julgar a ação improcedente no começo da ação, preferindo prosseguir com a dilação probatória. O STJ entende que, se não houver essa fase prévia, o processo é nulo. Tutela de urgência: Hipóteses em que é possível a tutela liminar: são previstos taxativamente três casos. 1) afastamento do agente público que seja réu: a jurisprudência vem determinando que haverá afastamento sempre que sua atuação coloque em risco o material probatório. 2) indisponibilidade de bens do réu (art. 16, §2º). 3) sequestro dos bens que o réu ilicitamente recebeu. O objetivo é assegurar eventual condenação (art. 16, caput e §1º). Há corrente minoritária que afirma que não é preciso demonstrar urgência. Bastam indícios de que o réu está dilapidando seu patrimônio. Assim, seria hipótese de tutela de evidência com base em indícios razoáveis de materialidade dos atos. Heitor não concorda. A medida tem caráter de arresto, com o objetivo de garantir futura e eventual execução e deve ter os requisitos de tutela de urgência. Petição inicial Notificação do réu Manifestação prévia Juiz recebe ou rejeita a petição inicial (pode julgar improcedente) Citação do réu para contestar 19 Sanções: Art. 12, I a III (o inciso I diz respeito ao art. 9º, o II ao art. 10, e o III ao art. 11). Devolução dos bens ilicitamente acrescidos ao patrimônio (inciso I); ressarcimento de dano ao erário3839 (inciso II); suspensão de direitos políticos40, perda de função41, multa, proibição de contratar [para as empresas] (aplicáveis em todos os incisos) [eu sei que este parágrafo está horrível de confuso, mas leiam o artigo 12 da lei que dá pra entender!]. Essas penas, apesar de usarem a conjunção “e”, não são obrigatoriamente aplicadas em conjunto. A jurisprudência é pacífica ao admitir a dosimetria da pena com base no art. 12, p. único (não taxativo), além do grau de má-fé, do valor do dano ao erário, etc. [...] a primeira dúvida que se coloca é a seguinte: pode o autor da ação de improbidade administrativa pedir a aplicação tão somente de algumas das penas previstas em lei e/ou, desde logo, pedir a condenação do réu a uma determinada pena inferior ao teto estabelecido? Note-se que a Lei n. 8429/92 simplesmente não se preocupou em estabelecer regra nesse particular, limitando-se a afirmar que na fixação das penas “o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente” (artigo 12, parágrafo único, grifo nosso). A despeito da omissão da lei, parece-nos que a resposta a essa indagação deva ser positiva. Se o autor da ação de improbidade administrativa opta por não pedir as penas máximas previstas em lei, é porque antecipadamente procedeu a um juízo de valor acerca da gravidade do ato e de antemão “dosou” as sanções. Trata-se de expediente perfeitamente legítimo à luz do nosso sistema processual civil, pois se aplicam à ação de improbidade administrativa as regras do CPC que conferem ao autor o ônus de formular pedido certo e determinado [...]. A jurisprudência, contudo, não é pacífica sobre o tema, e a doutrina posiciona-se de modo francamente contrário à tese aqui por nós defendida [sob o argumento de interesse pública na aplicação da pena]. (pp. 4-5) É assentem tanto na doutrina quanto na jurisprudência que a redação desses dispositivos não foi feliz, pois elencou as sanções ligadas pela conjunção “e”, e não “ou”. A partícula alternativa é a única admissível à luz do princípio da proporcionalidade (que tem matriz constitucional), pois a dosimetria das penas não pode se cingir à variação do valor da multa ou do prazo de suspensão de direitos políticos. [...] Se por um lado é possível a aplicação de penas inferiores ao mínimo estabelecido pela Lei n. 8429/92, por outro não se concebe a cominação de sanções maiores do que aquelas estatuídas no aludido diploma, por simples aplicação do art. 5º, XXIX, da Constituição Federal [...]. (pp. 7-8) A suspensão de direitos políticos e a perda da função são penas que dependem do trânsito em julgado. É exatamente em relação a esse aspecto que veio a Lei Ficha Limpa (proibição de candidatura dos condenados pelo tribunal de segunda instância). 38 Esta pena é imprescritível: art. 37, §5º, CF. 39 O ressarcimento é referente à diferença do que seria justo ser pago e o que foi devidamente pago. Dessa forma, não se confunde com a restituição de todos os valores pagos pelo Poder Público. 40 É mais grave que a inelegibilidade. 41 Não somente do cargo ocupado quando do ato, mas sim de qualquer que esteja cumprindo no momento da condenação. 20 Ausência, na lei, de delimitação do caráter da condenação: é condenação solidária? Solidariedade não se presume, segundo a regra civil. Heitor acha que o único jeito de se defender a solidariedadeé enquadrar a situação como caso de responsabilidade civil, com corresponsáveis. Não resta dúvida, no entanto, que as multas são fixadas individualmente. Pode ser cumulado o pedido de decretação de nulidade do ato improbo? Não há nada na lei que ampare esse pedido. É importante observar que nem sempre haverá utilidade na decretação de nulidade do ato. Exemplo: prefeito recebe um carro “de presente” de um particular. Declarar a nulidade seria voltar ao status quo ante, devolvendo o carro ao particular; construção de prédio (vai demolir?). Heitor acha que é possível cumular o pedido de nulidade. Ainda, é possível pedir a antecipação de tutela em relação a esse pedido. Fundamento: em certos casos, a nulidade do ato é essencial para a efetiva tutela. Outra questão tormentosa diz respeito à possibilidade ou não de cumulação do pedido de aplicação das penas da Lei n. 8429/92 ao pedido de anulação ou decretação de nulidade dos atos tidos por ímprobos, acerca da qual a Lei n. 8429/92 também não traz referências expressas. (p. 10) [...] não há razão para negar que a ação de improbidade administrativa traga pedido de invalidação do ato administrativo [...]. Primeiro, porque a possibilidade de invalidação pode ser equiparada a uma pena civil que está prevista em lei (ainda que em diploma diverso), de modo que o próprio caput do art. 12 da Lei n. 8429/92 autoriza sua aplicação (“Art. 12. Independentemente das sanções [...] civis [...] previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações: [...]”). Segundo, porque a Lei n. 8429/92 prevê a sanção de recomposição de dano ao erário, a qual pode depender, em muitos casos, justamente da invalidação do ato reputado improbo. [...] (pp. 13- 14) Prescrição: art. 23. Heitor dizendo que a lei é muito mal escrita, dando margem a inúmeras dúvidas. A prescrição é de cinco anos, a partir da data em que o agente público deixar o cargo. O prazo é comum para o agente público e para o particular. Elemento subjetivo necessário. Art. 10: há menção a dolo ou culpa42. Nos outros artigos, não há nada. A primeira interpretação que se faz é de que no art. 9º e no art. 11 seria necessária a configuração de dolo. Somente para os casos do art. 10 a culpa seria suficiente. A jurisprudência oscila entre a necessidade de configuração de má-fé, há casos de aceitação de dolo eventual, de culpa grave, etc. Heitor acredita que o art. 10 é claro: a culpa seria suficiente. Para os demais casos, deveria ser considerado o elemento subjetivo como fator de dosimetria da pena, individualmente em relação a cada um dos réus. Material: Acórdão STJ falando sobre a fase preliminar da ação de improbidade. 42 Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta Lei [...] (grifou-se) 21 Dois acórdãos do TJSP contraditórios analisando a mesma situação e com conclusões opostas. Artigo do Prof. Heitor. Acórdão do STJ – REsp 1.116.932/SP RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. EX-PREFEITO. §7º DA LEI Nº 8.429/92. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA ANTERIOR À CITAÇÃO. PREJUÍZO INDEMONSTRADO. 1. É cediço no Eg. STJ que “não compete ao autor da ação civil pública por ato de improbidade administrativa, mas ao magistrado responsável pelo trâmite do processo, a determinação da notificação prevista pelo art. 17, §7º, da Lei de Improbidade” (REsp 700.083/RS, Rel. Min. José Delgado, DJ 12.09.2005). 2. A inobservância do contraditório preambular em sede de ação de improbidade administrativa, mediante a notificação prévia do requerido para o oferecimento de manifestação por escrito, que poderá ser instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de quinze dias, importa em grave desrespeito aos postulados constitucionais da ampla defesa e do contraditório, corolários do princípio mais amplo do due process of law. Precedentes do STJ: [...]. 3. In casu, ajuizada ação civil pública pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, contra o Município de Barretos e outros agentes públicos não foi determinada a notificação prévia dos demandados, tendo o juízo de primeiro recebido as contestações por eles apresentadas sem oportunizar nova citação, decisão que foi reformada pelo Tribunal a quo para reconhecer a nulidade do feito em razão da inobservância do disposto no art. 17, §7º, da Lei nº 8429/92. 4. Na hipótese sub judice, não restou demonstrado o prejuízo supostamente ocasionado aos demandados, tanto mais que, após o provimento do agravo de instrumento, que, muito embora tenha reconhecido a nulidade do processo, o r. Juízo monocrático determinou que as contestações já ofertadas nos autos fossem recebidas como defesas preliminares, recebeu a inicial e determinou a citação dos réus para oferecimento de defesa, consoante se verifica da consulta realizada no site do Tribunal de origem. 5. Incidência da exceção à regra da imprescindibilidade da notificação prévia do agente improbo, consoante precedentes desta Corte Superior: [...]; 6. [...] 7. O princípio da instrumentalidade das formas visa o aproveitamento do ato processual cujo defeito formal não impeça que seja atingida a sua finalidade. Precedentes: [...]. Acórdão do TJSP – Apelação Cível 257.178-5 AÇÃO CIVIL PÚBLICA – ato de improbidade administrativa – nomeações realizadas para cargos de provimento em comissão relacionados no anexo I da lei complementar municipal de Barueri nº 60/97 – inconstitucionalidade parcial do referido anexo – ofensa à CF na parte em que de confiança considerou cargos de natureza estritamente profissional ou burocrática, em detrimento à regra maior que impõe a obrigatoriedade do concurso público para seu provimento – cassada a obrigação imposta à Municipalidade para realização de concursos ou nomeações para os demais cargos relacionados no dispositivo – imposto-lhe o prazo de dez dias para desconstituição das nomeações para tais cargos que porventura perdurem – cassada a condenação no ressarcimento de prejuízos resultantes dos atos de improbidade [...] – por votação majoritária, foram canceladas as penas de suspensão de direitos políticos e perda da função pública. [...] Acórdão do TJSP – Apelação Cível 317.031-5 AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Improbidade Administrativa – Nomeações realizadas para cargos de provimento em comissão – Lei Complementar Municipal de Barueri nº 21, de 30.09,94 – Pedido que visa a condenação de ex- alcaide por atos de improbidade consistente na nomeação de funcionários – Falta de busca da nulidade desses 22 atos, em evidente paradoxo – Improcedência mantida – Não há como se considerar improbo ex-alcaide, por alegadas nomeações irregulares de funcionários em comissão, com base em Lei Complementar Municipal, se não se busca a anulação desses atos, em verdadeiro paradoxo. Neste último caso, o autor da ação pleiteava somente a aplicação da pena aos réus, com o pedido de que as nomeações persistissem. Aula de 06.06.2011 Ação Monitória (Lei 9079, artigos 1102-a a 1102-c, CPC) O legislador usou uma técnica legislativa interessante, ao inserir os artigos 1102-a ao 1102-c. Assim, foi possível que eles ficassem corretamente localizados, no título de procedimentos especiais de jurisdição contenciosa. Os títulos executivos extrajudiciais nasceram na Idade Média, com o implemento do comércio italiano, para agilizar o comércio. Esses títulos trazem três predicados: liquidez, certeza e exigibilidade. Quando a pretensão executiva não está escudada em um documento ou em fatos incontroversos, é necessário um processo de conhecimento,com a produção de provas, para que o juiz sentencie. Entre a execução de título extrajudicial e o procedimento de cognição exauriente (processo de conhecimento), o legislador levou em conta a existência de uma situação intermediária. Há documentos que não ostentam os três requisitos clássicos dos títulos executivos extrajudiciais, mas são dotados de verossimilhança que justifica um procedimento com cognição mais limitada. Modificou-se o procedimento para adequá-lo à verossimilhança do documento. São líquidos e exigíveis, mas não têm certeza. Não ostentam a mesma força do título executivo, mas trazem plausibilidade (escrituras públicas, confissões de dívida). Isto significa que deve ser considerado documento hábil a respaldar a pretensão à tutela monitória aquele produzido na forma escrita e dotado de aptidão e suficiência para influir na formação do livre convencimento do juiz acerca da probabilidade do direito firmado pelo autor, como influiria se tivesse sido utilizado no processo de cognição plena. Em síntese – e aqui lançamos mão de entendimento jurisprudencial já consolidado na Itália -, qualquer documento que seja merecedor de fé quanto à sua autenticidade. (p. 285) A ação monitória visa a precipitar no tempo a formação de título executivo judicial por meio de procedimento de cognição sumária, na qual se inverte o contraditório, que é diferido no tempo. [...] o processo monitório resulta da fusão de atos típicos de cognição e de execução e é informado, ainda, pela técnica da inversão do contraditório. (p. 279) A decisão judicial é proferida antes de ouvir a parte contrária (inaudita altera parte). Isso não é inconstitucional? Proferir a decisão é uma coisa, a decisão ter eficácia é outra coisa. O mandado injuntivo é ineficaz enquanto não houver manifestação do réu. Não é inconstitucional: há muito tempo a doutrina tomou a devida consciência de que, em não havendo invasão patrimonial, não se pode falar em inconstitucionalidade. A única hipótese prevista em lei em que isso ocorre é na execução de alimentos. Natureza jurídica do mandado monitório: fruto de cognição sumária e emitido inaudita altera parte, com lastro apenas nas afirmações e documentos unilateralmente apresentados pelo autor, o mandado monitório somente adquire eficácia similar à da sentença condenatória obtida no processo 23 de cognição plena, se e quando o réu se omitir, ou seja, deixar de opor embargos, visto que a lei lhe defere a possibilidade de dar vida, por meio daqueles, a um processo que se desenvolva na plenitude do contraditório e permita, assim, a impugnação do decreto judicial. (p. 290) Na monitória, que é uma ação condenatória, o procedimento é encurtado. O Brasil já conhecia a ação monitória. Ao reintroduzi-lo, traduziu do Direito Italiano (e ficou ruim). A ação monitória não subordina o credor à lentidão de um processo de conhecimento. Procedimento monitório puro (vigora em alguns países): não há necessidade de documento. Ocorre um procedimento administrativo, perante o Tabelionato, que somente é jurisdicionalizado se o réu se manifesta pelo não pagamento. Procedimento monitório documental (Itálica, Bélgica, França etc.): também chamado de procedimento de injunção. Natureza jurídica: ação condenatória, como qualquer ação de cobrança. A eficácia probatória do documento justifica o procedimento especial. Conceito de “prova escrita”: o art. 1102-a exige prova escrita sem eficácia de título executivo (se houver eficácia executiva, o caminho é outro – há falta de interesse de agir se for ajuizada monitória). Prova escrita é uma prova da qual emerge a liquidez e a exigibilidade. Falta certeza, seja pela falta de participação do devedor, seja por falta de testemunhas etc. Não é um titulo executivo, mas também não é um documento qualquer. Na doutrina italiana, é a prova de pronta solução. A doutrina italiana é secular nessa matéria. É uma prova que não demanda maiores indagações. É um documento que ostenta um grau de plausibilidade que a convicção do magistrado leva ao proferimento de uma decisão positiva. Pode haver mais de um documento, no sentido físico da palavra. Pode ser um documento em que não houve a participação do devedor? Nosso direito não exige, para que o documento seja apto, a participação do devedor, mas não se pode deixar de assimilar que, quanto maior for a participação do devedor, maior a verossimilhança (no direito belga, é necessário que tenha havido a participação do devedor). É deferida ao autor a possibilidade de instruir sua petição inicial com dois ou mais documentos, sempre que a insuficiência de um possa se suprida por outro (isto é, em seu conjunto, a prova documental tenha aptidão para induzir a formação do convencimento do juiz), ou de valer-se de documento proveniente de terceiro, desde que ele tenha aptidão para, isoladamente ou em conjunto com outro, demonstrar a existência de uma relação jurídica material que envolva autor e réu e, ainda para atestar a exigibilidade e a liquidez da prestação. (p. 285) As notificações de débito (por exemplo, da Sabesp) são aptas a aparelhar monitória? Uma notificação sozinha não é, pois não contém verossimilhança suficiente. No entanto, se juntarmos várias notificações, caracterizando um estado de inadimplência, é uma situação mais plausível. Carnelutti: chama a prova escrita (liquidez e exigibilidade) de “título injuntivo”. 24 Decisão liminar: a inicial é uma petição de ação de cobrança. Ao invés de se pedir o proferimento de uma sentença de procedência (condenatória), pede-se, diante da prova escrita produzida e da verossimilhança que dela emerge, a expedição de mandado de pagamento. Tucci defende que essa decisão está apta à formação de título constitutivo de hipoteca judiciária (art. 466, CPC43). A decisão deve ser motivada. Expede-se o mandado para que seja pago no prazo de 15 dias. Se houver indeferimento, cabe agravo de instrumento. Se for concedida a decisão liminar, não cabe recurso pelo réu (porque cabem embargos, que suspendem a eficácia do mandado de pagamento). Requisitos do mandado monitório: na dicção do art. 1.102-b, estando a petição inicial devidamente instruída (e preenchidos os requisitos gerais e especiais), será deferida de plano a expedição do mandado inicial, contendo a ordem, dirigida ao réu, de pagamento ou de entrega de coisa no prazo de 15 dias. (p. 290) Citado e intimado do mandado, o réu adotará, no prazo de 15 dias: (a) cumprir voluntariamente o mandado; (b) permanecer inerte; (c) opor exceção ritual; (d) opor embargos. (p. 291) Hipóteses de cabimento: Cheque: perde a eficácia executiva após sete meses. É incorreto dizer que a monitória não serve para reavivar a prescrição do cheque. O cheque entra como um documento, uma prova da dívida. Embora tenha ocorrido a perda da eficácia executiva, o cheque continua com as suas características cambiárias por dois anos. Portanto, se o cheque estiver com eficácia executiva prescrita, mas no prazo de dois anos, é possível entrar com a monitória sem que haja a necessidade de se deduzir a causa de origem remota. É uma ação de conhecimento não causal (é uma exceção – e uma ótima questão de prova *dica*). É uma das raras hipóteses em que isso ocorre no direito. Ao editar a Súmula 299, o Superior Tribunal de Justiça encerrou, definitivamente, a controvérsia sobre a admissão de cheque prescrito como prova hábil à comprovação do crédito reclamado em ação monitória, ao réu cabendo, isto sim, o ônus de provar a inexistência do débito. (p. 286) “Na ação monitória fundada em cheque prescrito, não se exige do autor a declinação da causa debendi, pois é bastante para tanto a juntada do próprio cheque devolvido por insuficiência de fundos, cabendo ao réu o ônus da prova da inexistência do débito. Precedentes. Recurso não conhecido” (STJ, REsp 291760/DF [...] – nota de rodapé
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