A INFÂNCIA E SUAS LINGUAGENS

Prévia do material em texto

A INFÂNCIA E SUAS LINGUAGENS
RESUMO
Este trabalho teve como proposito aprofundar os conhecimentos sobre as múltiplas linguagens da infância e como elas se desenvolvem na educação infantil. Trata-se de uma observação de cunho documental onde por meio da revisão de literatura foi verificado que a linguagem permeia o trabalho na educação infantil, junto com a brincadeira e a interação, constitui os eixos da ação pedagógica junto às crianças. A criança se comunica e se expressa por meio de múltiplas linguagens: a linguagem oral e escrita, linguagem do movimento, da arte visual, da linguagem musical, da expressão teatral entre outras. Este trabalho procurou fazer ainda uma análise sobre abordagem educacional de Reggio Emilia. Loris Malaguzzi foi o percursor das escolas de Reggio Emilia, desde o início seu método sempre preconizou a interação com a família e o sistema de escolarização, de modo integrado e participativo, é uma escola inovadora que ressalta a centralidade da criança no processo educativo.
Palavras-chave: Educação Infantil. Infância. Linguagens.
1 INTRODUÇÃO
A educação infantil, sendo o principio da educação básica, é o primeiro nível de longo processo educativo da criança e possui um peso decisivo no sucesso escolar. A educação infantil configura-se um espaço privilegiado para o pleno desenvolvimento da criança, e por isso é inquestionável a importância neste processo, o desenvolvimento das múltiplas linguagens da criança.
Na vida da criança a linguagem, a comunicação e o conhecimento são processos que se desenvolvem simultaneamente ainda nos primeiros anos de vida. A criança aprende a língua materna através das interações com outros falantes e aprender para poder expressar seus desejos e necessidades.
Muitas são as linguagens das crianças, a linguagem não se restringe apenas a forma oral, existe a linguagem do corpo, do gesto, da dança, a expressão plástica, do desenho, da escultura, da música, da expressão teatral entre outras.
Nos estudos sobre as múltiplas linguagens da infância, somos levados ao projeto educativo de Loris Malaguzzi, pedagogo e educador italiano, criador e incentivador da ideia de Reggio Emilio, escola que ficou universalmente conhecida pela abordagem pedagógica para a educação infantil. Malaguzzi desenvolveu o princípio de ensino em que não existem as disciplinas formais e que todas as atividades pedagógicas se desenvolvem por meio de projetos, esses projetos são desenvolvidos através das ideias dos alunos e por meio do desenvolvimento das diversas linguagens.
2 AS MÚLTIPLAS LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Sabemos que infância é uma construção social e histórica e que as crianças são consideradas sujeitos históricos e de direitos. Desde o nascimento as crianças são inseridas em contextos sociais diversos e lhe são apresentadas várias cores, sons, formas, gestos, aromas e variadas manifestações culturais.
Sabe-se também que as crianças se expressam utilizando as múltiplas linguagens, as quais refletem a cultura na qual estão inseridas, por isso a importância em garantir uma proposta pedagógica que valorize o processo de criação das crianças e que respeite o trabalho individual de cada uma.
Segundo o RCNEI (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil) a proposta pedagógica na educação infantil deve oportunizar ambientes ricos contendo materiais diversos para desenvolver as diversas linguagem como: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática
Adquirir e desenvolver a linguagem são processos complexos e fascinantes onde a criança constrói e reconstrói o conhecimento e expressa com o seu meio. A linguagem pode ser definida como “qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos através dos signos convencionais, sonoros, gráficos e gestuais” (FRIEDMANN, 2004).
2.1 O MOVIMENTO
O movimento constitui uma linguagem que permite a criança agir sobre o meio físico. As crianças se movimentam desde que nascem, engatinham, caminham, correm, saltam, brincam com objetos. Ao movimenta-se as crianças expressam seus pensamentos e emoções.
O movimento é para as crianças muito mais do que mexer parte do corpo, ela se expressa e se comunica desde muito pequena através de gestos e expressões faciais, sendo essa, a primeira função do ato motor, permitindo assim que a criança manifeste seus desejos e necessidades.
“Vida e movimento completam-se, por isso a dança foi, em seus primórdios, a arte básica da humanidade, a primeira forma intencional de movimentação e a maneira de os homens celebrarem todos os fatos da vida, sentimentos e emoções” (FRONCKOWIAK et al, 2011, p.41)
As instituições de educação infantil devem proporcionar um espaço físico onde as crianças se sintam protegidas e seguras para se desenvolverem e vencer seus desafios. Através do movimento surgem outras formas de linguagem como a dança, o jogo, as brincadeiras e atividades esportivas (BRASIL, 1998).
Segundo o RCNEI, os conteúdos para o trabalho pedagógico deve respeitar as diferentes capacidades de cada faixa etária, como também as diversas culturas corporais das regiões do país, priorizar desenvolvimento das capacidades expressivas e instrumentais do movimento, num processo contínuo e integrado que envolva múltiplas experiências corporais.
Brincadeiras que fazem parte da própria cultura regional da criança como empinar pipas, jogar bolinhas de gude, atirar com estilingue, pular amarelinha podem ser utilizadas como estratégia para desenvolver habilidades no plano motor.
2.2 A MÚSICA
Existem inúmeras formas de buscar as contribuições da musica no desenvolvimento da criança, uma vez que ela se faz presente muito cedo, podendo se iniciar ainda no ventre de sua mãe.
Para Chiarelli (2005) a musica é de extrema importância para o desenvolvimento da inteligência, na interação social, na interação e inclusão, para ele a música é essencial na educação e deve ser introduzida como atividade e como instrumento de interdisciplinaridade.
A música está presente em todos os momentos da vida, desde as canções para ninar até as brincadeiras de roda com música. Assim como existe a linguagem falada, a gestual, a linguagem da dança e das artes visuais, a música também pode ser compreendida como uma linguagem. Como linguagem, a música é constituída pela combinação dos sons e dos silêncios. Os sons distinguem-se por alguns padrões ou qualidades que são a matéria-prima musical: intensidade, altura, timbre e duração (FRONCKOWIAK et al, 2011).
O RCNEI (1998, p.56) nos orienta que o:
canto desempenha um papel de grande importância na educação musical infantil, pois integra melodia, ritmo e — frequentemente — harmonia, sendo excelente meio para o desenvolvimento da audição. Quando cantam, as crianças imitam o que ouvem e assim desenvolvem condições necessárias à elaboração do repertório de informações que posteriormente lhes permitirá criar e se comunicar por intermédio dessa linguagem. É importante apresentar às crianças canções do cancioneiro popular infantil, da música popular brasileira, entre outras que possam ser cantadas sem esforço vocal, cuidando, também, para que os textos sejam adequados à sua compreensão. Letras muito complexas, que exigem muita atenção das crianças para a interpretação, acabam por comprometer a realização musical. O mesmo acontece quando se associa o cantar ao excesso de gestos marcados pelo professor, que fazem com que as crianças parem de cantar para realizá-los, contrariando sua tendência natural de integrar a expressão musical e corporal.
Segundo Fronckowiak et al, (2011, p.30) “a música é considerada uma arte, uma atividade intencional humana, criativa e que gera desenvolvimento. O fazer artístico é uma característica exclusiva dos seres humanos. Não podemos, por exemplo, dizer que os animais fazem música.”
2.3 ARTES VISUAIS
As artes visuais são consideradas uma das formas de linguagem mais importantes na educação infantil, pois possibilitam que criança se expresse com mundo e com sociedade, permitem o manuseio de diversosobjetos, materiais e a manifestação de formas variadas de expressão de arte, possibilitam também a ampliação cultural.
“O fazer artístico busca desenvolver o processo de criação próprio do aprendiz, expandindo sua expressividade nas mais diversas linguagens. Enfatiza o exercício da percepção, da fantasia e da imaginação criadora da criança” (FRONCKOWIAK et al, 2011, p.62).
A arte deve ser fonte de alegria e prazer para a criança, a atividade artística deve ser estimulada afim de desenvolver a imaginação e ampliar as possibilidades cognitivas, afetivas, sociais da criança.
O RCNEI (2008) preconiza que a prática das artes visuais seja abordada de forma espontânea e natural, pois ela faz parte do cotidiano da vida infantil, visto que nesta faixa etária a criança rabisca o chão, as paredes, desenha seu próprio corpo, pinta objetos, cria sua marca. Ele também propõe que:
[...] as Artes Visuais devem ser concebidas como uma linguagem que tem estrutura e As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensional, além de volume, espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados, entalhes etc. (BRASIL, 1998, p.85)
2.4 LINGUAGENS ORAL E ESCRITA
A aprendizagem da linguagem oral e escrita é um dos eixos básicos da educação infantil, é de extrema importância para a formação do sujeito e para a interação dele com as outras pessoas. Segundo RCNEI (2008) a educação infantil, devem promover experiências significativas de aprendizagem da linguagem oral e escrita, com experiências que desenvolveram gradativamente as capacidades associadas às quatro competências linguísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever.
A linguagem oral está presente no cotidiano das crianças na família e ocorre nas instituições de educação infantil de forma natural e por meio da maturação biológica. A aprendizagem da leitura e da escrita se inicia na educação infantil na cópia de vogais e consoantes, ensinadas uma de cada vez, fazendo com que as crianças relacionem sons e escritas por associação, repetição e memorização de sílabas. De forma progressiva: primeiro as vogais, depois as consoantes; em seguida as sílabas, até aprenderem às palavras (BRASIL, 2008).
Segundo Souza (1994) é através da linguagem que a criança constrói a representação da realidade onde está inserida. Para a autora é por meio da linguagem que construímos a leitura da vida e da nossa história.
3 A ABORDAGEM DE REGGIO EMILIA
Reggio Emília é uma cidade localizada na região da Emilia Romagna, no nordeste da Itália, conta atualmente com 130.000 habitantes. A cidade de Reggio Emilia é conhecida mundialmente devido seu sistema municipal de educação para a primeira infância, atualmente vem sendo reconhecido e aclamado como um dos melhores sistemas de educação no mundo.
Esse método surgiu logo após a segunda guerra mundial, com moradores e comerciantes que perderam tudo se uniram a fim de construir uma escola para suas crianças. Esse movimento inicial envolveu toda comunidade, especialmente os pais das crianças que queriam reconstruir a própria história e uma vida melhor para seus filhos.
Loris Malaguzzi foi o percursor das escolas de Reggio Emilia, desde o início esse método sempre preconizou a interação com a família e o sistema de escolarização, de modo integrado e participativo, é uma escola inovadora que ressalta a centralidade da criança no processo educativo.
A proposta de Reggio Emilia consiste em desenvolver “as cem linguagens da criança” e procura criar constantemente uma rede de comunicação, onde os diálogos são desenvolvidos entre aluno-professor, assim desenvolvem o que chamam de pedagogia da escuta, ou seja, os diálogos são registrados e se tornam parte dos relatórios, projetos e diários (SÁ, 2010).
O ambiente e o espaço físico são planejados para facilitar o dialogo e a comunicação entre os vários ambientes. A planta valoriza um espaço central, evitando a planta horizontal e eliminam os corredores que dão a impressão de hierarquização, também valorizam a cozinha como um local que representa a cultura italiana.
Na proposta de Reggio Emilia o elemento criatividade existe em abundância, as salas de aula formam substituídas por ateliês, cheios de materiais como sucatas, botões, tecido, madeira, lã, retalhos de papel, sementes etc, tudo para aguçar a criatividade e a imaginação das crianças.
Reggio Emilia os professores não se preocupam tanto com a transmissão dos saberes acumulados no currículo quanto se preocupam com o que as crianças têm a dizer. Essencialmente, o trabalho pedagógico realizado nas escolas de Reggio é centrado em projetos. As crianças participam ativamente desde a seleção do tema à análise dos conteúdos que servirão de estímulo para a elaboração de novos conteúdos e novos projetos (SÁ, 2010).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por tudo que foi exposto podemos observar que a experiência com as múltiplas linguagens é fundamental para o desenvolvimento infantil. Por isso cabe ao professor permitir a quebra de um ambiente de estabilidade e mesmice que existe na maioria das salas de aula, abrindo espaço para situações de desenvolvimento das múltiplas linguagens da criança.
Brincando com as linguagens, as crianças podem ampliar e valorizar suas potencialidades sociais e afetivas, devem estar sempre livres e incentivadas a expressar-se e a comunicar suas ideias, sentimentos.
As crianças se expressam utilizando as múltiplas linguagens, as quais refletem a cultura na qual estão inseridas, por isso a importância em garantir uma proposta pedagógica que valorize o processo de criação das crianças e que respeite o trabalho individual de cada uma.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.3v.: il.
CHIARELLI, Ligia Karina Meneghetti. A música como meio de desenvolver a inteligência e a interação do ser. Revista Recre@rte. N.3 junho 2005: Instituto Catarinense de Pós-Graduação.
FRIEDM ann, Adriana. Linguagens e Culturas Infantis. 1 ed. São Paulo: Cortez, 2004.
FRONCKOWIAK, Ângela et al. O educador mediador no desenvolvimento das diferentes linguagens da criança. Porto Alegre: Gerdau, 2011.
SÁ, Alessandra Latalisa de. Um olhar sobre a abordagem educacional de Reggio Emilia. Univ. Fumec Belo Horizonte Ano 7 n. 8 p. 55-80 jan./jun. 2010
SOUZA, Solange Jobim. Infância E Linguagem: Bakhtin, Vygotsky E Benjamin.11 edição. Campinas, SP: Papirus, 1994.
ZABALZA, Miguel A. Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1996.