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PArola na areia - Tessa Afshar

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Comentários Sobre Pérola na Areia
Em Pérola na Areia, Tessa Afshar criou personagens instigantes 
que deram um novo sentido a esta adorável história bíblica.
— Jill Eileen Smith, 
autora do best-seller Michal e Abigail
Pérola na Areia, a história de Raabe, a prostituta que foi uma das 
ancestrais de Cristo, transmite verdades muito poderosas, como: 
o perdão, a redenção e o poder transformador de Deus. O site 
Novel Journey e eu recomendamos esta leitura inesquecível.
— Ane Mulligan, 
escritora do site Novel Journey 
A História de Raabe
 Te ss a a fsh a r
pérola
na areia
AFSHAR, Tessa.
Pérola na Areia - A História de Raabe. Rio de Janeiro: BV Books, 2013.
ISBN 978-85-8158-028-9
1ª edição Junho | 2013
Impressão e Acabamento Promove
Categoria Ficção
BV Films Editora Ltda.
Rua Visconde de Itaboraí, 311
Centro | Niterói | RJ | 24.030-090
55 21 2127-2600 | www.bvfilms.com.br
EDITOR RESPONSÁVEL
Claudio Rodrigues
COEDITOR
Thiago Rodrigues
ADAPTAÇÃO CAPA
Chayanne Maiara
DIAGRAMAÇÃO
Larissa Almeida
REVISÃO DE DIAGRAMAÇÃO
Hellen Arantes
TRADUÇÃO
Mitsue Siqueira
PREPARAÇÃO DE TEXTO
Paula Maricato
REVISÃO DE ESTILO
Christiano Titoneli
Gabriela Amaral
REVISÃO DE PROVAS
Amanda Porto
Edição publicada sob permissão contratual com 
Moody Publishers, 820 N. LaSalle Blvd., Chicago, IL 60610 with 
the title Pearl in the Sand, copyright ©2010 by Tessa Afshar. 
Translated by permission. 
All Rights Reserved.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610/98. É expressamente 
proibida a reprodução deste livro, no seu todo ou em parte, por quaisquer meios, 
sem o devido consentimento por escrito.
Os conceitos concebidos nesta obra não, necessariamente, representam a 
opinião da BV Books, selo editorial BV Films Editora Ltda. Todo o cuidado e 
esmero foram empregados nesta obra; no entanto, podem ocorrer falhas por 
alterações de software e/ou por dados contidos no original. Disponibilizamos 
nosso endereço eletrônico para mais informações e envio de sugestões: 
faleconosco@bvfilms.com.br.
Todos os direitos em língua portuguesa reservados à 
BV Films Editora ©2013.
Impresso no Brasil | Printed in Brazil
À Emi,
Minha irmã, minha amiga e minha grande alegria
AFSHAR, Tessa.
Pérola na Areia - A História de Raabe. Rio de Janeiro: BV Books, 2013.
ISBN 978-85-8158-028-9
1ª edição Junho | 2013
Impressão e Acabamento Promove
Categoria Ficção
BV Films Editora Ltda.
Rua Visconde de Itaboraí, 311
Centro | Niterói | RJ | 24.030-090
55 21 2127-2600 | www.bvfilms.com.br
EDITOR RESPONSÁVEL
Claudio Rodrigues
COEDITOR
Thiago Rodrigues
ADAPTAÇÃO CAPA
Chayanne Maiara
DIAGRAMAÇÃO
Larissa Almeida
REVISÃO DE DIAGRAMAÇÃO
Hellen Arantes
TRADUÇÃO
Mitsue Siqueira
PREPARAÇÃO DE TEXTO
Paula Maricato
REVISÃO DE ESTILO
Christiano Titoneli
Gabriela Amaral
REVISÃO DE PROVAS
Amanda Porto
Edição publicada sob permissão contratual com 
Moody Publishers, 820 N. LaSalle Blvd., Chicago, IL 60610 with 
the title Pearl in the Sand, copyright ©2010 by Tessa Afshar. 
Translated by permission. 
All Rights Reserved.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610/98. É expressamente 
proibida a reprodução deste livro, no seu todo ou em parte, por quaisquer meios, 
sem o devido consentimento por escrito.
Os conceitos concebidos nesta obra não, necessariamente, representam a 
opinião da BV Books, selo editorial BV Films Editora Ltda. Todo o cuidado e 
esmero foram empregados nesta obra; no entanto, podem ocorrer falhas por 
alterações de software e/ou por dados contidos no original. Disponibilizamos 
nosso endereço eletrônico para mais informações e envio de sugestões: 
faleconosco@bvfilms.com.br.
Todos os direitos em língua portuguesa reservados à 
BV Films Editora ©2013.
Impresso no Brasil | Printed in Brazil
Observações
da Autora
O título deste romance e o uso de pérolas na história são resultado da licença poética. Embora os egípcios usassem 
madrepérola dentre suas joias naquela época, não houve 
evidências arqueológicas referentes ao uso propriamente dito das 
pérolas até os séculos mais recentes. No entanto, Madrepérola na 
Areia não teria o efeito proposto. 
As Escrituras nos dizem que Raabe era uma prostituta (mere-
triz era o eufemismo usado para essa palavra), e a Bíblia hebrai-
ca usava duas palavras diferentes para descrever a prostituição: a 
primeira, kedeshah, se refere ao templo das prostitutas; a segunda, 
zonah, se refere aos tipos mais comuns de prostituta. Indepen-
dentemente de a profissão de Raabe ser mencionada ou não, a pa-
lavra zonah é usada. Nossa história gira em torno dessa distinção. 
Muitas referências feitas a Raabe, tanto no Antigo quanto no 
Novo Testamento, incluem o termo zonah (Raabe, a zonah), uma 
indicação de que o povo de Israel nunca esqueceu totalmente do 
passado dessa mulher. Embora a maioria das descrições associa-
10
das a ela tenha tendências positivas, este relato mostra que Raabe 
talvez tenha tido uma recepção um tanto quanto ambígua em seu 
novo lar. Por um lado, ela foi bem-vinda e admirada; por outro, 
seu passado ainda repercutia no presente.
O nome de Salmom aparece escrito de várias maneiras 
diferentes no original hebraico, como Salmon, Shalmon e Salmone. 
Na maioria das versões bíblicas de nossa língua, traduziu-se como 
Salmom, o que felizmente acabou por não coincidir o nome do 
nosso herói com o nome de peixe. 
Sempre que possível, este livro recorre a fontes bíblicas e 
arqueológicas. A situação no capítulo dezessete, que compara 
a experiência de Raabe em Jericó à situação de Israel no Egito 
durante a primeira Páscoa, foi inspirada em um capítulo do 
livro Reading The Women of the Bible, de Tivka Frymer—Kensky 
(Nova York: Schocken Books, 2002, pp. 297-300). No entanto, 
este livro é por essência um romance — um registro ficcional de 
uma mulher que teve grande importância histórica tanto para 
os judeus quanto para os cristãos. A Bíblia hebraica revela que, 
após a destruição de Jericó, Raabe foi viver permanentemente em 
Israel, mas não há maiores detalhes sobre sua vida (Josué 6:25). 
Para os cristãos, o destino de Raabe é revelado em um fragmento 
de um dos versículos de Mateus, em que se descreve a genealogia 
de Jesus. Estas palavras simples nos mostram seu destino 
maravilhoso: “E Salmom gerou, de Raabe, a Boaz” (Mateus 1:5). 
Ou seja, Salmom e Raabe se casaram e tiveram um filho. 
A Bíblia nos dá uma visão geral do passado de Salmom por 
meio de diversas genealogias (1 Crônicas 2:11; Rute 4:20-21). 
Certamente, ele veio de uma família bastante distinta de Judá; 
seu pai, Naassom, era o líder do povo de Judá e a irmã de seu 
pai era casada com Arão (Números 2:3-4). Nada se sabe sobre as 
realizações e feitos de Salmom, mas ainda assim o versículo de 
Mateus é impressionante. Como seria possível um homem que é 
praticamente um aristocrata judeu, importante o suficiente para 
ter seu nome registrado nas Escrituras, casar-se com uma mulher 
cananeia que ganhava a vida entretendo homens? Grande parte 
desta obra aborda esse questionamento, e obviamente esse aspecto 
do romance é puramente ficcional. Sabemos apenas que Salmom 
11
casou-se com Raabe, teve um filho com ela e o próprio Jesus 
enumera a prostituta cananeia como uma de Suas ancestrais. No 
entanto, a Bíblia não nos revela de que maneira esse casamento 
aconteceu ou quais obstáculos a relação enfrentou. 
Ler um romance não é a melhor maneira de estudar as 
Escrituras, para isso temos a Bíblia. De forma alguma, esta 
história tem a intenção de substituir o poder transformador que 
o leitor encontrará nas Escrituras. Para uma melhor descrição 
bíblica de Raabe, leia Josué 1-10, Mateus 1:1-7 e o livro de Rute.
Capítulo
Um
Ainda não havia amanhecido quando Raabe acordou com uma cotovelada insistente. “Deixe de ser preguiçosa, garota. 
Seu pai e seus irmãos já estão quase prontos para ir”. Depois disso, 
sua mãe lhe deu mais uma cotovelada.
Raabe suspirou e decidiu levantar. Com os olhos turvos e 
com o corpo pesado, ela se esforçou paraficar em pé. Há dois 
meses Raabe executava tarefas de homem, acordando antes do 
dia amanhecer e trabalhando duro na terra, com pouca comida, 
pouca água e sem o descanso necessário para renovar as energias. 
Mas era inútil, até uma menina de apenas 15 anos conseguia ver 
isso. As terras não haviam produzido nada, a não ser poeira, e 
assim como o restante de Canaã, Jericó estava sob o domínio de 
uma grande seca. 
Embora soubesse que seus esforços seriam desperdiçados, 
todos os dias ela dava o melhor de si ultrapassando os limites 
da tolerância, porque, enquanto houvesse trabalho, seu pai tinha 
esperanças. Tão desesperada, Raabe não conseguia nem pensar.
14
“Rápido, menina!”, sua mãe a apressava.
Porém, Raabe já tinha arrumado sua cama, estava quase 
terminando de se vestir e acabando de fazer tudo em silêncio, 
com calma. Ela não se apressaria nem que o exército do rei 
estivesse à sua porta.
Seu pai apareceu triste, mastigando um pedaço de pão 
envelhecido, com o rosto pálido e cansado brilhando por causa 
do suor. Raabe vestiu seu cinturão com um movimento rápido 
e pegou um pedaço endurecido de bolo de cevada que serviria 
como café da manhã e parte do almoço. Ao dar um abraço 
apertado no pai, ela disse: “Bom dia, papai”. 
Ele se esquivou de seu abraço e disse: “Deixe-me respirar, 
Raabe”. Voltando-se para sua esposa, ele afirmou: “Tomei uma 
decisão. Se eu vir que não há nada a ser colhido hoje, desisto”. 
Raabe suspirou espantada enquanto sua mãe deixava escapar 
um lamento inquieto: “Inri, não! O que será de nós?” 
Seu pai encolheu os ombros e saiu. Aparentemente, suas 
esperanças haviam findado. Ele admitiu a derrota. Em meio 
à escuridão, Raabe o seguiu sabendo que aquele dia não seria 
diferente dos outros, mas, só de pensar na desgraça de seu pai, 
sentiu-se mal.
Seus irmãos, Joa e Karem, esperavam do lado de fora. Karem 
mastigava um bolo de uvas, privilégio que a mãe preservava para 
o filho mais velho. A esposa de seu irmão, Zoarah, se aproximou 
falando baixo por causa de Raabe. Apesar da preocupação, Raabe 
mostrou um sorriso enquanto seu irmão, casado há um ano, 
dava as mãos à esposa. Os dois se casaram por amor, o que não 
era comum em Canaã. Mesmo implicando, sempre que havia 
chance, com seu irmão mais velho, o coração de Raabe batia 
mais forte ao pensar em uma união como aquela. Às vezes, em 
meio à escuridão, enquanto toda sua família dormia, ela sonhava 
em ter um marido que a amasse tanto quanto seu irmão amava 
Sarah. Porém, nos últimos dias, seus pensamentos estavam tão 
consumidos pela preocupação que não lhe restava mais tempo 
para sonhar acordada. 
15
Esperando no limite mais afastado do pequeno terreno da 
família, Joa, o filho mais novo, de 14 anos, olhava para o nada. 
Raabe não o ouviu proferir mais do que três palavras durante 
tantos dias; era como se a seca tivesse acabado também com sua 
fala. Ela percebeu que o irmão estava com uma olheira muito forte 
e com o corpo debilitado, apesar da alta estatura. Provavelmente, 
ele tinha saído de casa sem comer nada. Raabe pegou o pão que 
estava guardado em seu cinturão, dividiu-o em duas partes e 
levou para Joa. O que não era o bastante nem mesmo para ela, 
imagine tendo de dividir para dois. 
“Coma isso, rapaz!”
Joa ignorou a irmã e ela perguntou: “Você quer que eu te 
perturbe até chegarmos à lavoura, ou não?” 
Ele olhou irritado para ela, mas estendeu a mão. Ela conti-
nuou por perto para certificar-se de que ele tinha comido, e em 
seguida foi atrás do pai. 
À medida que eles andavam em direção aos portões da cida-
de, os passos assumiam um ritmo mais acelerado. Raabe notou 
que até mesmo Karem, que costumava não se preocupar, parecia 
bastante angustiado. Finalmente, ele quebrou o silêncio que pai-
rava sobre eles. “Pai, fui até Hebrom, na venda que o senhor falou, 
mas ele se recusou a vender óleo ou cevada por aquele preço. Ou 
ele dobrou os preços desde a última vez que o senhor comprou, 
ou o senhor se enganou em relação ao valor.” 
“Então mande Raabe ir até lá. Foi ela quem negociou da 
última vez.”
“Raabe. Tinha que ser”, Karem afirmou com um ar de 
bondade reluzindo de seus olhos. “Apenas um olhar para esse 
rostinho lindo que todas as possibilidades de lucros e quantias 
desaparecem de Hebrom.”
“Não é bem assim!”, Raabe retrucou muito irritada. “Não 
tem nada a ver com o meu rosto; eu apenas sou melhor nas 
negociações do que você, só isso.”
“E você chama isso de negociação? Dar piscadinhas com os 
olhos não me parece negociação.”
16
“Eu vou é dar vassouradas se você não tomar cuidado com o 
que fala.”
“Chega!”, ordenou o pai deles. “Assim vocês me deixam com 
dor de cabeça.”
“Perdão, papai”, disse Raabe corrigindo-se imediatamente. 
Seu pai não precisava de mais problemas e ela deveria aprender 
a controlar seus impulsos. Ele já estava com tantas preocupações 
pesando sobre os ombros que ela queria ser um conforto, não um 
fardo a mais. 
Raabe não conseguia o consolar em palavras. Em vez disso, 
seguindo seus instintos, ela estendeu a mão à procura da mão do 
pai e a segurou. Por um instante, ele pareceu não perceber sua 
presença. Em seguida, virando-se para ela e meio disperso, ele 
percebeu a proximidade. Raabe lhe ofereceu um sorriso recon-
fortante, mas ele afastou a mão. 
“Você já está muito grande para andar de mãos dadas.”
Ela ficou envergonhada e escondeu a mão por entre as 
roupas. Diminuindo o ritmo de seus passos, Raabe ficou para trás 
andando sozinha e seguindo as pegadas dos três homens.
Na lavoura, os quatro examinaram cada parte da plantação 
buscando por sinais de vida. Salvo alguns besouros com cascas 
grossas, eles não encontraram nada. Quase ao meio-dia, Raabe 
estava abatida demais para continuar e se sentou enquanto eles 
concluíam cuidadosamente a inspeção. Quando eles voltaram, 
seu pai murmurou em voz baixa: “O que nós vamos fazer? O que 
vamos fazer?”
Raabe desviou o olhar. “Vamos para casa, papai.”
Em casa, ela abriu a velha cortina que servia como porta 
principal e entrou, mas sua mãe a escorraçou gesticulando: “Dê 
um pouco de privacidade a mim e ao seu pai”. 
Raabe consentiu com a cabeça e saiu. Em seguida, se recostou 
na parede repleta de lodo em meio às grandes sombras. Ela só 
queria achar uma forma de ajudar a família, mas nem mesmo 
seus irmãos conseguiram arrumar trabalho na cidade. A cidade 
de Jericó, que já estava abarrotada de lavradores desesperados em 
17
busca de trabalho, não os animava muito. De que jeito ela, uma 
simples menina, poderia ser útil? O som de seu nome ecoando 
pela janela resgatou sua mente distraída. 
“Deveríamos tê-la oferecido como esposa de Ian no ano 
passado em vez de esperar uma oferta melhor”, disse a mãe.
“Como iríamos saber que enfrentaríamos uma seca que nos 
levaria à falência? De qualquer modo, o dote que ele nos ofereceu 
não daria para nos sustentar nem por dois meses.” 
“Mas seria melhor do que nada. Fale com ele, Inri.”
“Mulher, ele não a quer mais. Eu já perguntei, e ele está na 
mesma situação que a nossa.”
Raabe prendeu a respiração tentando não perder detalhe 
algum da conversa. Em circunstâncias normais, a vontade de 
escutar a conversa alheia jamais passaria por sua cabeça, mas algo 
na voz de seu pai a fez especular. Raabe se arrastou como uma 
lagartixa pela parede e continuou ouvindo. 
“Inri, se fizermos isso não teremos como voltar atrás.”
“O que mais podemos fazer? Diga.” Um silêncio intenso se 
juntou à ira de seu pai. Quando ele falou novamente, a voz dele 
estava mais calma e aparentemente cansada. “Não há outro jeito. 
Ela é a nossa única esperança.”
Raabe sentiu um enjoo no estômago. Em que seu pai estaria 
pensando? As vozes ficaram muito baixas para ouvir. Frustrada, 
ela foi andando até o fim das terras de sua família. Em uma 
estrebaria quase destruída, dois cabritos definhados roíam 
um arbusto ressequido no qual não havia mais nada a não ser 
madeira. Com os homens e Raabe trabalhando na lavoura todos 
os dias, ninguém teve tempo de cuidarda estrebaria. O cheiro 
pútrido agredia seus sentidos — um pano de fundo perfeito para 
suas emoções mais intensas, ela pensou. Seus pais se referiram a 
ela como a única forma de salvar a família, mas eles não falavam 
sobre casamento. De que outra maneira uma menina de quinze 
anos conseguiria ganhar dinheiro? Com a respiração rápida, 
Raabe levou as mãos ao rosto. Papai nunca me obrigaria a fazer 
isso. Nunca. Ele preferiria morrer. Tudo não passava de um mal-
entendido. Mas o enjoo no estômago se intensificava cada vez 
mais.
18
,.
“Sua mãe e eu estávamos pensando em seu futuro, Raabe”, 
disse o pai no dia seguinte enquanto Raabe se levantava. “Filha, 
você pode ajudar sua família inteira, mesmo que seja difícil para 
você. Eu sinto muito—”. Ele parou de falar de repente como se 
não soubesse mais como prosseguir.
Ele não precisou falar mais nada. O terror a apavorou de tal 
maneira que ela não conseguia respirar. Com grande espanto, 
Raabe se deu conta de que seus piores medos haviam se tornado 
realidade. O pesadelo que ela havia interpretado como um mal-
entendido na noite anterior era verdade. O pai realmente queria 
vendê-la como prostituta. Ele queria sacrificar o futuro, o bem-
estar e a vida dela.
“Muitas moças precisam fazer isso — algumas mais novas do 
que você”, disse ele. 
Raabe olhou apavorada para o pai; ela queria gritar. Raabe 
queria agarrá-lo e implorar. Pense em outro jeito, papai. Por favor, 
por favor! Não me obrigue a fazer isso. Eu pensei que fosse sua 
garotinha preciosa! Eu pensei que o senhor me amava! Mas ela 
sabia que seria em vão. Seu pai já tinha tomado a decisão e não se 
abalaria com suas súplicas. Assim, ela engoliu cada palavra, assim 
como os argumentos e esperanças. Você nunca mais será o meu 
pai, ela pensou. Desde quando aprendeu a falar, ela já chamava 
seu pai de papai com uma ternura infantil, que demonstrava sua 
afeição pelo homem mais importante do que qualquer outro no 
mundo. Mas aquela ternura infantil havia se acabado para sempre. 
A dor dessa constatação era quase pior do que ter de vender seu 
corpo em troca de dinheiro. 
Como se estivesse ouvindo algumas palavras não ditas, ele 
perguntou novamente: “Que outra escolha eu tenho?” Raabe se 
virou para que não precisasse olhar para o pai. O homem que ela 
amava mais do que qualquer outro, em quem confiava e quem 
tanto estimava estava disposto a sacrificá-la para o bem de toda 
a família. 
19
Esse não era um acontecimento inusitado em Canaã. Muitos 
pais jogavam suas filhas na prostituição para sobreviver. Mas, 
mesmo assim, ainda que a escolha de seu pai não fosse nada fora 
do comum, Raabe não se conformou. Havia nada mais sujo e 
baixo para ela do que viver como prostituta. 
Seu pai estava respirando rápida e intensamente. “No templo 
você vai ter reconhecimento. Você será bem tratada.”
Raabe se esforçou para falar, como se alguém a estivesse en-
forcando. “Não. Eu não vou para o templo.”
“Você vai me obedecer!”, seu pai gritou. Em seguida, mexendo 
com a cabeça, ele abrandou a voz. “Precisamos de dinheiro, filha. 
Senão, morreremos de fome, inclusive você.”
Raabe segurou o grito contendo-se para parecer tranquila. 
“Não estou me recusando a obedecer ao senhor, meu pai. Apenas 
estou dizendo que não irei a templo algum. Se temos de fazer isso, 
não vamos incluir os deuses nessa história.”
“Seja sensata, Raabe. Lá, você terá proteção e respeito.”
“Você chama o que eles fazem de proteção? Eu não quero o 
respeito que as mulheres conseguem no templo.” Ela se virou e 
olhou para ele diretamente nos olhos, mas ele desviou. Ele sabia 
sobre o que Raabe estava falando. No ano anterior, a irmã mais 
velha de Raabe, Izzie, ofereceu o primeiro filho ao deus Moloque. 
O bebê era uma grande alegria, e desde o momento em que sua 
irmã disse que estava grávida, Raabe sentiu que tinha uma ligação 
especial com ele. Ela o segurou minutos depois de seu nascimen-
to, revestindo-o e embalando-o, admirando sua boquinha per-
feita que abria e fechava como se estivesse mandando beijos para 
ela. O amor por ele a invadiu desde aquele momento de pureza. 
Mas sua irmã preferiu a estabilidade financeira, pois estava can-
sada da pobreza. Então, ela e seu marido Gerazim concordaram 
em oferecer o filho a Moloque para o próprio bem do menino.
Eles não deram a mínima atenção quando Raabe implorou 
que eles mudassem de ideia. Os dois estavam decididos. “Nós te-
remos outro filho”, disseram eles. “Ele será tão lindo quanto esse 
e terá tudo o que quiser, o que é melhor do que ser criado na 
pobreza e passar necessidade.”
20
Raabe foi ao templo com eles no dia do sacrifício na esperan-
ça de fazê-los mudar de ideia. Mas nada do que ela disse conven-
ceu o casal. 
Seu sobrinho não foi o único bebê sacrificado naquele dia. 
Havia pelo menos uns doze. O lugar estava cheio de pessoas que 
assistiam aos sacrifícios, e algumas encorajavam os sacerdotes, 
que ficavam diante de fogueiras enormes cobertos do pescoço até 
os tornozelos, a oferecer sacrifício. Raabe se apavorou com o que 
viu e ficou pensando em como seria a natureza de um deus que 
prometia uma vida boa às custas da morte de um bebê indefeso. 
Que tipo de felicidade alguém poderia comprar por esse preço? 
Ela manteve o filho de sua irmã nos braços até quando pôde, 
murmurando palavras de conforto enquanto observava aquele 
pequeno corpo. Ele exalava o cheiro do leite e do pão de mel mais 
doces. Raabe o apertou contra o peito pela última vez enquanto 
lhe dava beijos de despedida. O bebê gritou quando mãos brutas 
o arrancaram do colo de Raabe, mas aquilo não foi nada em com-
paração ao seu último grito à medida que o sacerdote se aproxi-
mava da fogueira ardente...
Raabe deu um passo incerto na direção de Gerazim, mas viu 
que Izzie já estava em seus braços.
Naquele dia, Raabe prometeu que jamais se curvaria diante 
de tais deuses. Ela os odiava. Apesar de todos encantos fulgentes, 
ela tinha visto quem eles realmente eram: consumidores da hu-
manidade.
As terras de Izzie e Gerazim estavam tão devastadas quanto 
as de Inri, e eles fizeram tanto em favor das bênçãos de Moloque. 
Ela nunca recorreria a ele. Não, o templo não era lugar para ela. 
“Raabe”, seu pai argumentou enquanto mordia uma das 
unhas já roídas, “pense em como será a sua vida fora do templo. 
Você é jovem, não entende”.
Não se tratava de não ter medo. A vida das prostitutas fora dos 
templos era difícil, arriscada e vergonhosa. Mas ela sentia menos 
medo de ter aquela vida do que de servir aos deuses de Canaã.
“Pai, por favor. Não sei se consigo aguentar a vida no templo.” 
Esperava-se que as filhas obedecessem aos seus pais sem hesitar, e 
as objeções e os argumentos de Raabe poderiam ser considerados 
21
desobediência. Seu pai poderia levá-la à força para qualquer 
templo e vendê-la sem que ela tivesse chance de se defender. Ela 
imaginou que seu pai nunca se rebaixaria a tal comportamento, 
mas depois se lembrou da noite anterior em que também achava 
que ele nunca exigiria que ela se prostituísse. Raabe perdeu o 
chão, e nada mais lhe parecia seguro.
Karem, que chegou no meio da conversa entre os dois, afir-
mou de repente: “Pai, o senhor não pode fazer isso com essa me-
nina. A vida dela será destruída!”
Inri deu um golpe no ar com um gesto impaciente. “E por 
acaso você descobriu alguma outra maneira de mantermos nossa 
família durante o inverno? Você arrumou algum trabalho? Ou 
conseguiu herdar dinheiro de algum tio que nós não conhece-
mos?”
“Não, mas eu ainda não tentei tudo. Há outros trabalhos, ou-
tras possibilidades.” O coração de Raabe bateu mais forte com 
esperança por causa do apoio de seu irmão, mas a esperança logo 
se acabou com a resposta do pai. 
“Quando você se der conta de que não tem mais nada, sua 
linda esposa e seu filho que ainda nem nasceu morrerão de fome. 
Raabe é a única certeza de que sobreviveremos. Esse é o único 
jeito”, repetiu ele com uma convicção absurda.
Karem abaixou a cabeça e não falou mais nada. 
Raabe caiu nochão sem conseguir conter as lágrimas. Inri foi 
para o outro lado da casa e sentou-se em um canto olhando para 
o nada. A discussão findou à medida que suas palavras não ditas 
os separavam. Em meio àquele silêncio, Raabe sentiu que uma 
parede havia se erguido entre ela e o pai, e que a parede era tão 
inabalável quanto os muros da cidade.
Aconteceu que os dois estavam sentindo muita vergonha; 
Inri, porque tinha fracassado como pai — como protetor — e ela, 
por causa do que estava prestes a se tornar. Raabe ficou paralisada 
pela traição do pai, e um sentimento de solidão mais sombrio do 
que tudo que ela conhecia fora aprisionado em seu coração como 
um corpo na sepultura.
22
,.
Depois de tudo, Inri não poderia recusar o único pedido de 
sua filha. Porém, o fato de Raabe não querer entrar no templo 
deixou seus pais em uma situação ainda mais difícil. De que ma-
neira eles arrumariam clientes para ela? As coisas no templo eram 
simples e diretas, mas ninguém sabia como proceder de acordo 
com o desejo de Raabe.
“Tem uma mulher que mora perto de nós; ela treinava as mu-
lheres do templo”, sua mãe sugeriu. “Agora ela ajuda mulheres que 
trabalham em outros lugares.”
“Eu sei quem é ela”, Inri murmurou. “Ela me parece rigorosa.”
“Eu também a conheço.” Raabe uma vez viu a mulher agre-
dindo uma das moças até sair sangue da orelha dela. “Talvez essa 
não seja a melhor ideia.”
“Você nunca aceita as minhas sugestões”, respondeu a mãe 
com a voz trêmula de censura. “Você tem ideia de como isso dói 
em mim? Você sabe como é difícil para um coração de mãe ter 
que suportar a dor de um filho?”
“Não, eu provavelmente não sei”, Raabe afirmou com palavras 
fortes como pedra. Ela achou melhor engolir quaisquer referên-
cias óbvias à sua própria dor. Dizê-las apenas faria sua mãe ter 
outro ataque de culpa e sofrimento, e Raabe não estava disposta 
a consolá-la enquanto sofria por causa de seus próprios sonhos 
destruídos.
“Por que eu precisaria dar metade dos meus lucros a uma 
mulher que me bateria? Se a intenção é me fazer ganhar o 
suficiente para manter a família, não podemos ter uma parceira 
desonesta.”
“Raabe, nós não sabemos como... como fazer isso”, disse o pai 
batendo os dedos na mesa.
Raabe sentiu o gosto amargo da raiva na garganta. Ignoran-
do-o, ela falou: “Vamos até Zedeque, o ourives. Ele saberá o que 
fazer”. De vez em quando, seu pai fazia alguns favores a Zedeque. 
Ele era um homem rico, ourives do rei, e tinha boas relações na 
aristocracia de Jericó. Durante os últimos seis meses, por todas as 
23
vezes que Zedeque viu Raabe, ele olhava para ela com um desejo 
tão intenso que não lhe restava dúvida. Ela sabia que ele não a 
queria como esposa, pois se quisesse, já teria pedido ao seu pai. 
Contudo, Raabe sabia que ele pagaria bem pelos seus serviços, e 
ela queria fazê-lo pagar um bom preço. Já que era preciso passar 
por essa situação horrível, ela queria conquistar um pouco mais 
do que o alimento que garantiria a sobrevivência de sua família 
durante a seca. Raabe se libertaria do pai; ela ainda o amava e sua 
dedicação pela família continuava a mesma, mas estava determi-
nada a nunca mais depender da proteção dele.
“O que Zedeque tem a ver com isso?”, perguntou a mãe.
Inri não respondeu. Ele fechou os olhos, esfregou as mãos na 
cabeça e disse: “Nada não”.
Raabe saiu em silêncio para chorar sozinha.
,.
“Quanto será necessário para nos alimentar por um ano?”, 
Raabe perguntou ao pai enquanto seguiam para o comércio de 
Zedeque. Suas pernas tremiam mais e mais a cada passo, porém 
ela se recusava a submeter-se ao medo que a desolava em seu 
íntimo. 
“Por quê?”
“Peça a quantia necessária para isso e mais um cordão, brin-
cos e braceletes de ouro para mim.” 
“Garota, você é bonita, mas não é tão bonita. Nenhum ho-
mem em sã consciência pagaria tanto por uma noite, ainda mais 
para você.”
Seria ela atraente o bastante para convencer Zedeque a lhe 
dar uma boa quantia? Raabe sabia que já atraía os olhares dos 
homens nos últimos dois anos, quando seu corpo tomou forma 
e seu cabelo perdeu a placidez adolescente ganhando cachos fir-
mes castanho-avermelhados. O que ela faria por Zedeque? “Não 
apenas uma noite”, ela respondeu distraída. “Três meses. Ele me 
terá enquanto ainda sou jovem e pura... antes de mais ninguém...”. 
24
Sua voz sumiu. Ela mal conseguia pensar em passar por aquilo de 
noite em noite, com homens diferentes entrando e saindo de sua 
vida. Talvez ter um cliente com alguma estabilidade a faria tolerar 
a situação por mais tempo. 
“Eu vou pedir, mas não espere que ele aceite.”
“É um bom negócio. Ele aceitará. Mas olha, três meses e nem 
mais um dia.” Seu pai olhou como nunca havia olhado para ela 
antes; talvez ele não a conhecesse. Nem mesmo ela conhecia a si 
mesma. 
Zedeque era um homem gordo e dentuço. Ele se vestia muito 
bem, ornado com ouro da cabeça aos pés, com enfeites em sua 
barba e guizos delicados nos sapatos de tecido. Quando ele viu 
Raabe e o pai entrando no comércio, foi direto ao encontro deles 
atropelando alguns clientes. “Bom dia, Inri!”, disse ele olhando 
fixamente para Raabe.
Pelas pupilas escuras de Zedeque, ela conseguia ver o reflexo 
do próprio rosto — seu nariz pequeno, seus lábios arredondados 
e seus olhos grandes, inchados por causa das lágrimas. Raabe ha-
via lavado os cabelos para aquela visita; seus cachos escapavam 
por debaixo do véu, as mechas castanhas em forma de espiral da-
vam forma ao seu rosto e caíam em cascata sobre as costas. Ao 
se lembrar do motivo que a fez lavar os cabelos, ela demonstrou 
vergonha e desespero — e pensou no olhar de Zedeque.
Seu pai pigarreou. “Podemos falar com você, meu senhor? 
Em particular?”
Zedeque barganhou o quanto pôde, mas Inri, pensando em si 
mesmo, não cedeu. Zedeque olhou para Raabe, passou os dedos 
nos lábios e fez uma última tentativa. Quando Inri a negou gesti-
culando com a cabeça, Zedeque virou as costas e saiu. Raabe se-
gurou a mão do pai e se levantou para ir embora; o pai lançou-lhe 
um olhar desesperado, mas ela continuou irredutível e ele cedeu. 
Zedeque, vendo a determinação dos dois, voltou e aceitou a ofer-
ta. Raabe percebeu que seu pai parecia espantado, mas assumiu 
uma feição branda, disfarçando a própria surpresa. Assim como 
seu pai, ela mal podia acreditar que Zedeque estava disposto a 
pagar tanto por ela. 
25
Pelos três meses seguintes, Zedeque foi seu mestre. Ele gosta-
va de ver que ela não sabia nada, e gostou de vê-la chorando du-
rante a primeira semana. Depois, ele também gostou de consolá-
-la e não foi cruel. Ele nunca bateu ou abusou de Raabe. E se algo 
lhe despertou repugnância ou nojo, tanto dela mesma quanto 
dele, ela jamais o deixou perceber. 
Quando os três meses se passaram, Zedeque entregou uma 
sacola cheia de ouro a Raabe. Além da sacola, ele deu algumas 
tornozeleiras conforme ela havia pedido. Ao conferir a quantia, 
Raabe percebeu que ele havia lhe entregado dinheiro a mais e 
voltou para prestar contas. “Meu senhor”, ela disse, “o senhor me 
deu dinheiro a mais.”
“Minha querida Raabe está recusando dinheiro?”
“Eu não trapaceio meus clientes.”
“Clientes?” Ele revirou os olhos. “Você só teve um, e não está 
me trapaceando, menina. Eu estou dando a você.”
Raabe se curvou agradecendo e segurou a sacola de dinheiro 
com firmeza, quase desejando que Zedeque pedisse para ela ficar 
por mais tempo. Ele estava certo; ela não tinha conhecido homem 
algum além dele. Raabe não gostava do contato com ele, mas ela 
preferia estar apenas com um homem a ser um brinquedinho de 
muitos outros. No entanto, Zedeque não mostrou interesse em 
continuar com ela. Certamente ele já estava satisfeito.
Ela voltou para casa e entregou a sacola de ouro ao pai. “Ze-
deque mandou o pagamento pelos três meses.”
Seu pai olhou fixamente para dentro da sacola e exclamou: “É 
muito! Nunca pensei que ele pagaria tanto!”
“E não vai haver mais outra. Zedeque já está satisfeito. Ele não 
me quer mais.” Raabe tentourepelir as lágrimas. 
“E o que você esperava?” Inri olhou de relance para ela an-
tes de fixar o olhar novamente na sacola. “Foi muito bom ele ter 
ficado todo esse tempo com você, Raabe. Ele é um cidadão do 
mundo e está acostumado com o melhor.”
Como se ela não fosse boa o bastante. Raabe se deixou cair 
em uma almofada, e as palavras de seu pai a fizeram ver uma 
verdade que ela não ousava admitir para si mesma. Depois que 
26
um homem a conhecesse daquela forma, ele a rejeitaria. De qual-
quer maneira, ela seria indesejável ou não seria o bastante. Seu 
pai sabia disso; Zedeque sabia disso, e agora ela também sabia. De 
repente, ela se sentiu gélida. Raabe apoiou a cabeça nos joelhos, 
envolveu as pernas com os braços e começou a tremer. Seu pai foi 
até seus irmãos e sua mãe mostrar a sacola de ouro. Se não fosse 
pelo trigo e pelo óleo que Zedeque deu, a família já teria morrido 
de fome. Aquela quantia de ouro era o bastante para o ano inteiro 
e para comprar sementes para a colheita do ano seguinte. 
Através da velha cortina que separava os cômodos, Raabe ou-
viu a voz abafada dos pais enquanto conversavam. “Inri, o que 
vai ser dela agora?”, perguntou a mãe com uma voz aguda. “Você 
consegue convencer Zedeque a ficar com ela?”
“E como eu poderia fazer isso? Ele já está cheio dela, é isso.”
“E o que devemos fazer? Ninguém vai querer se casar com 
ela agora.”
“Você sabia a resposta para isso desde o primeiro dia, mulher. 
Ela terá de tirar proveito disso, assim como todos nós. Sua beleza 
será útil a ela; ainda deve haver outros homens interessados. Bem, 
pelo menos por um tempo.”
Raabe se retraiu ainda mais e engoliu um gemido. Sem pen-
sar, ela pegou uma parte do grande tecido de seda do vestido em 
cada uma das mãos, amaciando-o como uma criança assustada 
faria com o cobertor. Ela se sentia apavorada pelo medo à medida 
que pensava no futuro — e em todos os Zedeques que entrariam 
e sairiam de sua vida e de sua cama. 
Ela lamentou pelos sonhos que jamais se realizariam e pelo 
destino que ela jamais teria. Raabe lamentou pelas escolhas que 
não fez e, por fim, cansada de tanto chorar, ela fechou os olhos e se 
deitou no chão frio. Em meio ao desespero, um pensamento lhe 
ocorreu. Ainda lhe restava uma escolha; embora estivesse sujeita 
a vender seu corpo por dinheiro, ela poderia escolher seus aman-
tes. Escolheria cada homem de acordo com sua vontade própria. 
Raabe tinha sido rejeitada por Zedeque, e aquilo foi muito difí-
cil de engolir. Pelo menos aquela amargura ela evitaria. Ela seria 
27
dona do seu próprio coração, sem deixar que ninguém entrasse, 
e expulsaria cada homem antes mesmo de ele se dar conta de que 
ela não merecia ser amada, como fez Zedeque. 
,.
Durante os meses em que Raabe esteve sob os cuidados de 
Zedeque, ela teve contato com outros homens importantes que 
ele conhecia. Muitos deles deixaram claro que, quando Zedeque 
terminasse, eles ficariam felizes em tê-la.
Raabe escolheu cuidadosamente, e um homem de cada vez. 
Ela restringia suas escolhas: tinha poucos clientes, mas muito ge-
nerosos. Seu critério incomum aumentou sua popularidade entre 
os homens das classes altas, e cada um deles gostaria de ser esco-
lhido. Raabe tornou-se a competição que eles desejavam ganhar. 
“Raabe, você é a mulher mais bonita de Jericó”, muitos ho-
mens afirmavam. “Nem mesmo o rei tem uma mulher no palácio 
que se compare a você”, sussurravam eles em seu ouvido. 
Em poucos dias, essas palavras colocaram sorrisos em seu 
rosto, mesmo que aquela alegria fosse superficial e passageira. 
Em seu interior, ela sabia que todos aqueles homens que a con-
sideravam incomparável se cansariam dela depois de três meses, 
jogando-a fora como se faz com os ossos depois do banquete. 
Às vezes, depois de estar com um homem, Raabe pegava a 
esteira e a sacudia sem parar. Havia dias em que ela dava beijos 
de despedida no cliente, sorria como se ele fosse o homem mais 
importante do mundo, fechava a porta e vomitava. Ela odiava o 
que fazia, mas não parava. Ela achava que não havia alternativa. 
O que mais ela poderia fazer depois de ter se prostituído? Sua 
vida se restringira a esse destino. 
Quando Raabe alcançou os dezessete anos, tinha uma quan-
tia em prata suficiente para comprar uma estalagem próxima aos 
muros da cidade, e sair de casa foi mais fácil do que ela imagina-
va. Dois anos de noites em claro e de dias constrangedores fize-
ram-na se afastar da família. O seu corpo a levava para onde seu 
coração já estava há muito tempo. Mas isso não queria dizer que 
28
ela não amasse mais a família como antes. Muitas vezes, em sua 
estalagem, ela sentia falta deles; porém, descobriu que estar com 
sua família apenas a fazia sentir-se mais solitária. Então, cada vez 
mais ela dedicou o tempo às necessidades de sua estalagem. 
A maioria das donas de estalagem em Canaã também eram 
prostitutas, e isso era tão comum que os dois quase significavam 
a mesma coisa. Todavia, Raabe pensava em sua profissão separa-
damente. Nem todos que entravam eram recebidos em sua cama. 
Ela fazia questão de que sua estalagem fosse reconhecida como 
um lugar de elegância e conforto. Decorando-a com tapeçarias 
e com carpetes valiosos, ela recusou-se a aderir à ornamentação 
pomposa das outras estalagens. A localização ajudava: os muros 
ainda eram uma parte exclusiva de Jericó e, apesar do tamanho 
pequeno das residências e estabelecimentos construídos naque-
la região, eles eram algumas das propriedades mais cobiçadas de 
Jericó. Quando Raabe fez vinte e seis anos, sua estalagem era tão 
popular quanto ela, apesar de não ser tão acessível quanto seu 
corpo. Foi essa exclusividade que fez a entrada em sua estalagem 
ser tão requisitada.
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