Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
HISTÓRIA, POLÍTICA, ECONOMIA E CULTURA NO SÉCULO XX AULA 1 Prof. Douglas Gasparin Arruda A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula iremos analisar os processos históricos que ocorreram no final do século XIX e início do século XX, e que culminaram na Primeira Guerra Mundial, também conhecida como a Grande Guerra. Para isso, nos debruçaremos também sobre a conceitualização de termos que são importantes e que irão aparecer durante esta aula e também em aulas futuras. Espera-se ao final que os alunos consigam compreender que os fatos históricos narrados (as políticas imperialistas e a Primeira Guerra Mundial) têm profundas ligações. TEMA 1 – UMA INTRODUÇÃO AO IMPERIALISMO O século XX começa em 1900. Porém, é necessário compreender que os processos históricos não seguem com exatidão a divisão dos séculos. Por esse motivo, apesar de estarmos tratando sobre história, política, economia e cultura no século XX, precisaremos regredir na linha temporal e compreender também os acontecimentos que permearam o final do século XIX. “Afinal, a história não é como uma linha de ônibus em que todos – passageiros, motorista e cobrador – são substituídos quando chega ao ponto final” (Hobsbawm, 2015, p. 20). No século XIX, o capitalismo encontrou um sistema para dominar novos territórios e acumular riquezas. Esse sistema ficou conhecido como imperialismo, em que as potências mundiais partilharam territórios e dominaram outros países com base em alianças e rivalidades. Para compreender de modo mais concreto o que é o capitalismo e o imperialismo, utilizaremos o Dicionário de Política, escrito por Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 141). No verbete capitalismo podemos ler: Na cultura corrente, ao termo Capitalismo se atribuem conotações e conteúdos frequentemente muito diferentes, reconduzíveis todavia a duas grandes acepções. Uma primeira acepção restrita de Capitalismo designa uma forma particular, historicamente específica, de agir econômico, ou um modo de produção em sentido estrito, ou subsistema econômico. Esse subsistema é considerado uma parte de um mais amplo e complexo sistema social e político, para designar o que não se considera significativo ou oportuno recorrer ao termo Capitalismo. Prefere-se usar definições deduzidas do processo histórico da industrialização e da modernização político-social. Fala-se, exatamente, de sociedade industrial, liberal-democrática, ou de sociedade complexa, da qual o Capitalismo é só um elemento, enquanto designa o subsistema econômico. Uma segunda acepção de Capitalismo, ao invés, atinge a sociedade no seu todo como formação social, historicamente qualificada, de forma determinante, pelo seu modo de produção. Capitalismo, nesta acepção, designa, portanto, uma "relação social" geral. A própria história do conceito de A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 3 Capitalismo oscila entre estas duas acepções. Não se trata de uma controvérsia nominalista, solúvel através de um acordo entre os estudiosos, mas de uma questão identificação do mundo moderno e contemporâneo, que envolveu e envolve a identidade e a ideologia de vastos grupos sociais. Também é possível observar que é necessário compreender a peculiaridade do capitalismo como um conjunto de comportamentos, tanto individuais quanto coletivos, que se relacionam com a venda e o consumo de bens. Segundo Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 141), é possível elencar três características que diferem o capitalismo de outros modos de produção. São elas: A) propriedade privada dos meios de produção, para cuja ativação é necessária a presença do trabalho assalariado formalmente livre; b) sistema de mercado, baseado na iniciativa e na empresa privada, não necessariamente pessoal; c) processos de racionalização dos meios e métodos diretos e indiretos para a valorização do capital e a exploração das oportunidades de mercado para efeito de lucro. Dessa forma, podemos compreender o capitalismo como um modelo econômico que prioriza a relação de trabalho assalariada, segundo uma tradição marxista, ou que prioriza os processos de racionalização do agir, como pode ser visto em produções de tradição weberiana. Destaca-se ainda que não é possível compreender o sistema capitalista sem observar fatores extra econômicos que se encontram nas relações de força e poder enraizadas culturalmente (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 142). Sobre o termo imperialismo é possível observar redefinições e variações ao longo do tempo. Foi a partir do século XIX que o imperialismo passou a ser teorizado e que o estudo sobre o tema se desenvolveu, progredindo até os dias de hoje. Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 613) apontam que as teorias marxistas mais importantes sobre o imperialismo foram escritas por Rosa Luxemburgo e Lenin. Sobre a teoria do subconsumo de Luxemburgo, os autores destacam: A explicação do Imperialismo formulada por R. Luxemburg assenta na inserção, no pensamento marxista, da teoria do subconsumo, elaborada anteriormente e à margem dessa orientação teórica sobretudo por Malthus, Sismondi, Rodbertus e Hobson, e que pode ter alguma ligação, conquanto forçada, com as teses de Marx referentes ao problema da realização da mais-valia. Podemos resumir a teoria do subconsumo segundo a versão de R. Luxemburg dizendo que, dispondo a classe trabalhadora inevitavelmente de um baixo poder aquisitivo e sendo obrigada a um nível de vida miserável como consequência das leis objetivas da acumulação capitalista, torna-se indispensável, para poder ser absorvida toda a produção corrente, a existência de uma "terceira pessoa", de um comprador extrínseco ao A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 4 sistema capitalista. Tem de haver, em resumo, um mundo não capitalista ao lado do mundo capitalista, para que o funcionamento deste não fique entravado. Nos primeiros estádios do desenvolvimento capitalista, essa "terceira pessoa" pode ser oferecida pela economia agrária, que vive ainda à margem da capitalista. Mas depois, em decorrência da transformação capitalista desse setor, os mercados internos já não bastam e se tornam necessários os mercados externos para a absorção da produção, mercados que se conquistam com a conquista das colônias. Sendo as áreas de exploração limitadas, mais tarde ou mais cedo os conflitos serão inevitáveis, como inevitável será também a catástrofe final do sistema capitalista, quando os mercados externos se tornarem igualmente insuficientes. Sobre a teoria leninista do imperialismo lê-se (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 613): A hipótese fundamental da teoria de Lenin não se apoia no empobrecimento do proletariado e na sua falta de poder de consumo, mas na tendência à queda das taxas de lucro. Os monopólios financeiros dos Estados mais avançados do capitalismo são obrigados a explorar o mercado mundial, entrando em conflito com outros grupos financeiros que tentam fazer o mesmo, pois os lucros obtidos no mercado interno tendem a desaparecer. A queda das taxas de lucro é explicada, grosso modo, pela teoria marxista como resultado da crescente concorrência entre os capitalistas. A lei do mercado os obriga a investir enormes capitais em maquinaria cada vez mais aperfeiçoada para vencer os concorrentes. Mas, se estes responderem ao desafio, as novas máquinas bem depressa se tornam obsoletas, sendo necessário renová-las para não sofrer a derrota. Esta luta sem trégua diminui o lucro dos capitalistas e, por vezes, poderá levar ao aumento temporário dos níveis de salário, visto os capitalistas estarem dispostos a pagar mais aos trabalhadores para os monopolizar. (...) A crescente e inevitável mecanização provoca, por outro lado, a concentração da produção nas mãosde uns poucos. A medida que o capitalismo se desenvolve, passa-se da forma do mercado concorrencial à do mercado monopólico. São apenas alguns indivíduos, e em caso limite um só, os que controlam enormes complexos com milhares de trabalhadores. É essa a fase mais avançada do capitalismo. Naturalmente, com o crescimento e consolidação dos monopólios, cresce também a tendência ao controle do Governo do Estado pelo poder econômico. A política nacional não é senão resultado desta influência. Nesta fase do desenvolvimento capitalista, dada a organização da produção a nível mundial, a atividade dos monopólios não pode cingir-se aos limites do Estado. O "capital financeiro", fruto da fusão entre capital bancário e capital industrial, tenta assegurar o controle das matérias-primas e dos mercados mundiais. Mais cedo ou mais tarde, os interesses entram em conflito entre si. O mundo é dividido em áreas de influência entre os diferentes monopólios, ou então, o que é o mesmo, entre os diferentes Governos. Concluída a divisão do mundo em áreas de influência, aumenta a tensão entre os diversos grupos e a guerra se torna mais cedo ou mais tarde inevitável. Vê-se ainda que a expressão imperialismo, que deriva da palavra império, manifestou-se sob várias formas ao longo da história (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 611). Por esse motivo, trataremos aqui do que pode ser chamado de “Novo Imperialismo” ou “Imperialismo Moderno”, que se inicia no ano de 1870, cujas alianças e disputas foram imprescindíveis para a A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 5 configuração da Primeira Guerra Mundial. De modo geral, podemos descrever o Imperialismo Moderno como uma divisão do mundo entre alguns países capitalistas mais desenvolvidos, que usaram sua influência para exercer controle comercial, social e cultural sobre outras sociedades menos desenvolvidas tecnologicamente. Sobre esse tema, o historiador Eric Hobsbawm (2015, p. 93- 4) escreveu: Era muito provável que uma economia mundial cujo ritmo era determinado por seu núcleo capitalista desenvolvido ou em desenvolvimento se transformasse num mundo onde os ‘avançados’ domariam os ‘atrasados’; em suma, num mundo de império. Mas, paradoxalmente, o período entre 1875 e 1914 pode ser chamado de Era dos Impérios não apenas por ter criado um novo tipo de imperialismo, mas também por um motivo muito mais antiquado. Foi provavelmente o período da história mundial moderna em que chegou ao máximo o número de governantes que se autodenominavam ‘imperadores’, ou que eram considerados pelos diplomatas ocidentais como merecedores desse título Samir Amin (2005, p. 84) salientou que “o imperialismo, então, não é um estágio – nem mesmo o estágio supremo – do capitalismo. Ele é, desde a origem, imanente à sua expansão”. O autor também nos traz a ideia de que a conquista imperialista pelos europeus e seus filhos norte-americanos se desdobrou em dois tempos: O primeiro momento desse desenvolvimento devastador do imperialismo foi organizado em torno da conquista das Américas, no quadro do sistema mercantilista da Europa atlântica da época. As devastações desse primeiro capítulo da expansão capitalista mundial (genocídio dos índios, tráfico de escravos africanos) produziram – com atraso – as forças de libertação que questionaram as lógicas que as comandavam [...]. O segundo momento da devastação imperialista foi construído com base na revolução industrial e se manifestou pela submissão colonial da Ásia e da África. ‘Abrir os mercados’ e apoderar- se das reservas naturais do globo eram as reais motivações, como é sabido hoje em dia. A agressão imperialista mais uma vez produziu as forças que combateram o projeto: as revoluções socialistas (da Rússia, da China, não por acaso situadas nas periferias vítimas da expansão imperialista e polarizadora do capitalismo realmente existente) e as revoluções de libertação nacional. (Amir, 2005, p. 84) TEMA 2 – DISPUTAS IMPERIALISTAS NO SÉCULO XX Dito isto, evidencia-se nesse momento a tese de que o sistema econômico capitalista se desenvolve e se regula através de períodos de crise e expansão (Amin, 1977). Entre os anos de 1890 e 1914, o modelo capitalista passava por uma fase de expansão, proporcionada pela conquista de novos territórios pelas grandes potências imperialistas e, consequentemente, pela abertura de novos mercados consumidores. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 6 “De meados dos anos 1890 à Grande Guerra, a orquestra econômica mundial tocou no tom maior da prosperidade, em vez de no tom menor da depressão. A afluência, baseada no boom econômico, constituía o pano de fundo do que ainda é conhecido no continente europeu como ‘a bela época’ (belle époque). (Hobsbawm, 2015, p. 77) Em fins do século XIX e início do século XX, a dominação imperialista se concentrava em três continentes: África, Ásia e Oceania. Buscava-se nesses continentes, além de mercado consumidor, acesso a mais mão de obra e matéria-prima. Como então seria possível diferenciar as potências imperialistas dos países sob seu domínio? Sobre essa questão, Hobsbawm (2015, p. 53) elucida: Por mais profundas e evidentes que fossem as diferenças econômicas entre os dois setores do mundo, é difícil descrevê-las em duas palavras; também não é fácil sintetizar as diferenças políticas entre elas. Existia claramente um modelo geral referencial das instituições e estrutura adequadas a um país ‘avançado’, com algumas variações locais. Esse país deveria ser um Estado territorial mais ou menos homogêneo, internacionalmente soberano, com extensão suficiente para proporcionar a base de um desenvolvimento econômico nacional; deveria dispor de um corpo único de instituições políticas e jurídicas de tipo amplamente liberal e representativo (isto é, deveria contar com uma constituição única e ser um Estado de direito), mas também, em um nível mais baixo, garantir autonomia e iniciativa locais. Deveria ser composto de ‘cidadãos’, isto é, da totalidade dos habitantes individuais de seu território que desfrutavam de certos direitos jurídicos e políticos básicos, antes que, digamos, de associações ou outros tipos de grupos e comunidades. As relações dos cidadãos com o governo nacional seriam diretas e não mediadas por tais grupos. E assim por diante. Esses eram as aspirações não só dos países ‘desenvolvidos’ (todos os quais estavam, até certo ponto, ajustados a esse modelo nos anos 1880), mas de todos os outros que não queriam se alienar ao progresso moderno. Os países imperialistas, embora dominantes nas relações de poder capitalistas, observaram que as disputas entre eles cresciam na mesma medida que seus lucros. A competição pelo acúmulo de novos territórios e concentração de riquezas fez surgir alianças entre as grandes potências. Podemos citar aqui a Tríplice Aliança (formada em 1882 pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália), a Aliança Franco-Russa (formada em 1892 pela Rússia e França), a Entente Cordiale (formada em 1904 pelo Reino Unido e França) e a Convenção Anglo- Russa (formada em 1907 pela Rússia e Reino Unido). Esses exemplos já apontam para o paralelo entre as alianças imperialistas e a divisão dos grupos na Primeira Guerra Mundial: a Tríplice Aliança, composta pela Itália, Império Austro-Húngaro e Alemanha, e a Tríplice Entente, composta por França, Rússia e Grã-Bretanha. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 7 Foi no início do século XX que o clima do continente europeu começou a ficar tensionado. A corrida bélica e as disputas por territórios acirravam os ânimos das potências imperialistas. A partilha da África, que já havia ocasionado problemas internos no continente, ocasionou também problemas entre os países europeus. Em 1914, a África pertencia aos impérios britânico, francês, belga,alemão, português e espanhol (Hobsbawm, 2015, p. 95). Observa-se ainda que: Entre 1879 e 1915, cerca de um quarto da superfície continental do globo foi distribuído ou redistribuído, como colônia, entre meia dúzia de Estados. A Grã-Bretanha aumentou seus territórios em cerca de 10 milhões de quilômetros quadrados, a França em cerca de 9, a Alemanha conquistou mais de 2 milhões e meio, a Bélgica e a Itália pouco menos que essa extensão cada um. Os EUA conquistaram cerca de 250 mil, principalmente da Espanha, o Japão algo em torno da mesma quantidade à custa da China, da Rússia e da Coreia. Nas antigas colônias africanas de Portugal se ampliaram em cerca de 750 mil quilômetros quadrados; a Espanha, mesmo sendo uma perdedora líquida (para os EUA), ainda conseguiu tomar alguns territórios pedregosos no Marrocos e no Saara Ocidental. O crescimento da Rússia imperial é mais difícil de avaliar, pois todo ele se deu em territórios adjacentes e constituiu o prosseguimento de alguns séculos de expansão territorial do Estado czarista; ademais, como veremos, a Rússia perdeu algum território para o Japão. Dentre os principais impérios coloniais, apenas o holandês não conseguiu, ou não quis, adquirir novos territórios, salvo por meio da extensão de seu controle efetivo às ilhas indonésias, que há muito ‘possuía’ formalmente. Dentre os menores, a Suécia liquidou a única colônia que lhe restava, uma ilha nas Índias Ocidentais, vendendo-a à França, e a Dinamarca estava prestes a fazer o mesmo – conservando apenas a Islândia e a Groelândia como territórios dependentes. (Hobsbawm, 2015, p. 97-8) No ano de 1914, a crise econômica se alastrou por todo o sistema capitalista/imperialista. Entre 1899 e 1913, na França e na Grã-Bretanha, houve uma queda efetiva do salário, o que ocasionou tensões e explosões sociais (Hobsbawm, 2015, p. 81). Soma-se à crise alguns descontentamentos, como o da Alemanha e Itália, que se sentiram lesados na partilha da África e Ásia. E também o descontentamento dos franceses, que não aceitavam a perda da região da Alsácia-Lorena, em 1871, para os alemães. Martin Gilbert escreveu um relato sobre a rivalidade pela região da Alsácia-Lorena: Por que temer uma guerra na Europa? Pouco antes do início da guerra, em 1914, um coronel francês, que era adolescente quando a Alemanha invadiu a França em 1870, ouviu um grupo de jovens oficiais brindarem à perspectiva da guerra e escarnecerem da possibilidade de um conflito, mas os risos cessaram abruptamente quando ele lhes perguntou: ‘Vocês acham que a guerra é sempre divertida, toujours drôle?’ Chamava-se Henri-Philippe Pétain. Dois anos depois, em Verdun, foi testemunha de uma das piores chacinas militares do século XX. Os militares franceses cujas risadas Pétain fez cessar abruptamente eram herdeiros de uma tradição de inimizade franco- germânica que culminara mais de quarenta anos antes, em 11 de maio de 1871, quando o chanceler alemão, Otto von Bismarck, assinou, no A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 8 Hotel Swan, em Frankfurt, o acordo que transferia a Alsácia e grande parte da Lorena para a Alemanha. (Gilbert, 2017, p. 21) O autor também destacou que: As rivalidades que fomentam as guerras não podem ser suavizadas pela lógica de um sentimento pacifista. Na primeira década do século XX, houve muitas rivalidades e muitos ressentimentos nas nações para as quais a paz, o comércio, a indústria e o aumento da prosperidade nacional pareciam ser as verdadeiras necessidades, os desafios e as oportunidades. Na França, a perda de territórios anexados pela Alemanha em 1871 causou ressentimentos durante quatro décadas. (Gilbert, 2017, p. 24) TEMA 3 – PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL Com os ânimos acirrados dessa maneira, bastava um pequeno desentendimento entre as potências imperialistas para que a guerra tivesse início. Isso ocorreu no dia 28 de junho de 1914, quando o arquiduque Francisco Fernando da Áustria foi assassinado por Gravilo Princip, da Iugoslávia. Em poucas semanas de articulação, as grandes potências imperialistas organizaram-se, recorrendo a antigas alianças, e partiram para uma guerra que arrastou também os territórios que dominavam. Para o historiador Eric Hobsbawm (2015, p. 20) “se há datas que obedecem a algo mais que a necessidade de periodização, agosto de 1914 é uma delas: foi considerada o marco do fim do mundo feito por e para a burguesia”. Duas grandes frentes de disputas foram formadas: a Tríplice Aliança (Itália, Império Austro-Húngaro e Alemanha) e a Tríplice Entente (França, Rússia e Grã-Bretanha). Essas duas frentes lutaram uma “guerra de trincheiras”, em que os soldados permaneciam em “buracos” cavados em linhas com o intuito de se defender do inimigo. A guerra de trincheiras, somada ao uso de metralhadoras, fazia com que a dominação das áreas inimigas fosse difícil, pois o campo entre duas trincheiras ficava exposto a ataques de ambos os lados. No depoimento do soldado Frank Sumpter, da brigada de fuzileiros de Londres, podemos compreender um pouco do que era a vida nas trincheiras (citado por Arthur (2011, p. 79-81): Após o ataque de 19 de dezembro, voltamos para as mesmas trincheiras no dia de Natal. Era um inverno rigoroso que cobria tudo com muita neve. Antes, a paisagem devastada parecia um quadro de cores desoladoras – argilosa, lamacenta e cheia de tijolos quebrados –, mas, quando foi coberta pela neve, ficou bonita. De repente, ouvimos os alemães cantando Noite Feliz, e depois fixaram uma placa dizendo ‘Feliz Natal’, aí nós fizemos o mesmo. Enquanto eles ainda cantavam, nossos colegas propuseram: A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 9 - Vamos fazer coro com eles. Fizeram isso, mas, quando começamos a cantar, eles pararam. Quando paramos, eles voltaram a cantar. Com isso, fomos nos descontraindo. Então um alemão aproveitou esse momento de descontração, subiu no parapeito da trincheira e gritou: - Feliz Natal, Tommy. É claro que nossos rapazes responderam: - Se ele pode fazer isso, nós também podemos. Mas um dos sargentos ajudantes ordenou que descêssemos: - Calma, sargento, é Natal – respondemos. Avançamos todos para a barricada de arame farpado. Mal conseguimos nos aproximar deles, pois a barricada não era composta apenas por uma cerca, mas por duas ou três, emaranhadas com fios de arame passando pelo centro. Apenas nos cumprimentamos, e tive a chance de falar com um alemão. - Você sabe onde fica a estrada Essex, em Londres? – Perguntou ele. - Sim, meus tios tem uma loja de conserto de sapatos lá – respondi. - Que coincidência! Eu trabalhei na barbearia do outro lado da rua. Todos eles falavam bem o inglês, pois, antes da guerra, a Inglaterra era invadida pelos alemães. Todo comerciante de carne de porco era alemão, todo barbeiro era alemão, e eles ficaram todos aqui colhendo informações vitais sobre o país. É irônico quando você pensa na ideia de que ele pode ter barbeado meu tio algumas vezes e que, no entanto, minha bala poderia ter acabado com a vida dele, e a dele com a minha. O fato é que os oficiais acabaram ordenando: - Nada de confraternização. Depois, deram as costas e se retiraram. Nem tentaram parar, pois sabiam que não conseguiriam. Não falamos uma vez sequer sobre a guerra com os alemães. Falamos sobre nossas famílias, a idade que tínhamos e quanto tempo achávamos que a guerra duraria, coisas desse tipo. Eu era jovem e não estava tão interessado em conversar com eles. Fiquei por lá cerca de meia hora e voltei. A maioria dos rapazes permaneceu lá o dia inteiro, só voltando à noite. Ninguém deu um tiro sequer, e alguns soldados satisfizeram a curiosidade de conhecer a terra de ninguém por onde circularam. Era bom circular por ali despreocupadamente. Uma das batalhas que marcou a Primeira Guerra Mundial aconteceu em abril de 1915, e ficou conhecidacomo Segunda Batalha de Ypres. Nela, o exército alemão utilizou pela primeira vez de gás cloro na Frente Ocidental, com o intuito de penetrar trincheiras inimigas. A partir desse momento, vários tipos de gases venenosos passaram a ser usados de ambos os lados. Juntamente com os gases, foram desenvolvidos também tanques pelos aliados para penetrar as trincheiras da Tríplice Entente. Apesar das novas táticas de guerra no campo de batalha, Gilbert aponta (2017, p. 11): Entre 1914 e 1918, desenrolaram-se duas guerras muito diferentes. A primeira foi uma guerra de tropas de Infantaria, Marinha e Força Aérea, de marinheiros da Marinha Mercante e de populações civis sob ocupação, em que o sofrimento individual e a angústia atingiram uma escala enorme, em particular nas trincheiras da linha de frente. A segunda foi uma guerra de gabinetes de guerra e de soberanos, de propagandistas e idealistas, repleta de ambições e ideais políticos e territoriais, que determinaram o futuro dos impérios, nações e povos, de modo tão contundente quanto no campo de batalha. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 10 TEMA 4 – A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 Durante a Primeira Guerra Mundial, a Rússia passou por grandes transformações. Desde o século XIX, seus trabalhadores rurais viviam em um sistema de produção feudal, com o qual a população estava descontente. Em 1861, o czar Alexandre II aboliu a servidão e realizou a reforma agrária. Quando Nicolau II assume o poder, o processo de industrialização cresce, porém, as condições de vida da população permanecem inalteradas. Durante a guerra, a Rússia sofreu várias derrotas, o que fez com que a população ficasse ainda mais descontente. A fome também era um grande problema no país, intensificada pela crise de abastecimento gerada pelas perdas em combate. O Partido Social Democrata, que fazia oposição ao czar, se fragmentou em duas correntes: os bolcheviques e os mencheviques. Seus membros foram responsáveis por deflagrar um movimento revolucionário no país, que levou os bolcheviques ao poder. Os russos passaram a adotar um sistema econômico socialista. Segundo Hobsbawm (2015, p. 184): Onde quer que a política democrática e eleitoral o permitisse, apareciam em cena, crescendo com rapidez assustadora, os partidos de massa vindo da classe operária, em sua maior parte inspirados na ideologia do socialismo revolucionário (pois todo socialismo era, por definição, considerado revolucionário) e liderados por homens – e às vezes por mulheres – que acreditavam nessa ideologia. Em 1917, o czar Nicolau II abdicou ao trono, após várias greves e conflitos. Ele e toda a sua família foram assassinados pelo novo governo. Também em 1917 a Rússia se retirou da Primeira Guerra Mundial: Se havia um Estado onde se acreditava que a revolução fosse não só desejável como inevitável, era o Império dos Czares. Gigantesco, pesado e ineficiente, econômica e tecnologicamente atrasado, com 126 milhões de habitantes (1897), 80% dos camponeses e 1% da nobreza hereditária, ele era organizado de uma forma que todos os europeus instruídos consideravam francamente pré-histórica no fim do século XIX: a autocracia burocrática. Esse mesmo fato tornou a revolução o único método passível de mudar a política do Estado que não fosse dar um puxão de orelhas no czar ou fazer a máquina estatal se movimentar de cima para baixo: poucas pessoas poderiam optar pela primeira possibilidade, e ela não implicava necessariamente a segunda. Como havia a consciência quase universal da necessidade de um tipo ou outro de mudança, praticamente todos – desde os que no Ocidente teriam sido chamados de conservadores moderados até a extrema esquerda – eram obrigados a ser revolucionários. (Hobsbawm, 2015, p. 445) A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 11 TEMA 5 – O FINAL DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL Com a saída da Rússia, a Tríplice Entente ficou desfalcada. Em 1917, os Estados Unidos se juntam à Grã-Bretanha e à França na Primeira Guerra Mundial. O país foi responsável pelo envio de soldados, tanques, aviões e navios que contribuíram para o final da guerra. Com as novas tecnologias desenvolvidas no curso das batalhas, a Tríplice Entente conseguiu penetrar as trincheiras da Tríplice Aliança, forçando uma rendição em 1918. O conflito armado, que durou cerca de quatro anos, só teve um fim em 1919, com a assinatura do Tratado de Versalhes. “Na Primeira Guerra Mundial morreram mais de 9 milhões de soldados da Infantaria, da Marinha e da Força Aérea. Calcula-se que morreram também 5 milhões de civis em consequência da ocupação, de bombardeios, fome e doenças” (Gilbert, 2017, p. 11). O Império Austro-Húngaro e o Império Otomano foram extintos, e todo o mapa europeu foi redesenhado. Por esse motivo, a Primeira Guerra Mundial ficou também conhecida como a grande guerra. NA PRÁTICA Observe o que foi escrito por Martin Gilbert (2017, p. 18): Para alguns, foi uma guerra para castigar e punir. Para outros, tornou- se a guerra que acabaria com todas as guerras. O nome que recebeu por algum tempo, Grande Guerra, indicava sua escala sem precedentes. Contudo, foi seguida por uma segunda guerra ainda mais destrutiva e por outras guerras “menores” por todo o mundo. Com os conhecimentos que obteve durante essa aula produza um texto que contemple os seguintes pontos: O que ocasionou a Primeira Guerra Mundial? Qual a relação entre o imperialismo e a Primeira Guerra Mundial? Por que esse conflito foi chamado de Grande Guerra? FINALIZANDO Nesta aula, observamos como as políticas imperialistas foram capazes de forjar alianças que perduraram durante a Primeira Guerra Mundial. Também vimos que suas disputas foram capazes de produzir um conflito que resultou em, mais ou menos, 15 milhões de mortos. Por esse motivo, salienta-se, novamente, A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 12 que é imprescindível compreender o imperialismo para compreender a Primeira Guerra Mundial. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 13 REFERÊNCIAS AMIN, S. A crise do imperialismo. Rio de Janeiro: Graal, 1977. _____. O imperialismo, passado e presente. Tempo, Rio de Janeiro, n. 18, p. 77- 123, mar. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tem/v9n18/v9n18a05>. Acesso em: 30 maio 2019. ARTHUR, M. Vozes esquecidas da primeira guerra mundial. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2011. BERSTEIN, S.; MILZA, P. História do século XX. Volume 1: 1900-1945 – o fim do mundo europeu. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007. BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1998. GILBERT, M. A Primeira Guerra Mundial. Rio de janeiro: Casa da Palavra, 2017. HOBSBAWM, E. A era dos impérios 1875-1914. São Paulo: Paz & Terra, 2015. TRAGTENBERG, M. A revolução russa. São Paulo: Ed. Unesp, 2007. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Após a Primeira Guerra Mundial, muitas mudanças ocorreram ao redor do mundo. Essas mudanças serão o tema central de nossa aula, entre elas a ascensão do fascismo, do nazismo e de outros totalitarismos. Objetiva-se que, ao final das seguintes leituras, seja possível compreender como se encontrava o mundo no período entre guerras, para que possamos, mais tarde, compreender também como se deu a eclosão de mais uma guerra mundial. TEMA 1 – O QUE É FASCISMO? No período entre guerras, o continente europeu enfrentou grandes taxas de desemprego. A superprodução industrial, baseada em políticas liberais, fazia com que os estoques de produtos aumentassem e, consequentemente, ocasionava queda de preços, redução de lucros e mais desemprego.Na esteira desses acontecimentos foram surgindo por toda a Europa movimentos que prometiam sanar os problemas ocasionados pela Primeira Guerra Mundial. Um desses movimentos foi o fascismo. Para que possamos compreender o fascismo de maneira mais aprofundada, utilizaremos, novamente, o Dicionário de Política, escrito por Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 466): Na já vastíssima literatura referente ao fascismo é normal depararmos com definições diversas e frequentemente contraditórias deste conceito. A multiplicidade de definições é demonstrativa não só pela real complexidade do objeto estudado, como também pela pluralidade de enfoques, cada um dos quais acentua, de preferência, um ou outro traço considerado particularmente significativo para a descrição ou explicação do fenômeno. Segundo os autores, é possível distinguir três usos ou significados do termo fascismo: a) o que faz referência ao núcleo histórico original, constituído pelo fascismo italiano em sua historicidade específica; b) o que está ligado à dimensão internacional que o fascismo alcançou; c) o que estende o termo a todos os movimentos ou regimes que compartilham com aquele que foi definido como fascismo histórico (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 466). A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 3 Trataremos aqui do fascismo histórico, que se desenvolveu na Europa entre os anos de 1919 e 1945 e é representado pelo fascismo italiano. Observa- se ainda que (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 466): Em geral, se entende por fascismo um sistema autoritário de dominação que é caracterizado: pela monopolização da representação política por parte de um partido único de massa, hierarquicamente organizado; por uma ideologia fundada no culto do chefe, na exaltação da coletividade nacional, no desprezo dos valores do individualismo liberal e no ideal da colaboração de classes, em oposição frontal ao socialismo e ao comunismo, dentro de um sistema de tipo corporativo; por objetivos de expansão imperialista, a alcançar em nome da luta das nações pobres contra as potências plutocráticas; pela mobilização das massas e pelo seu enquadramento em organizações tendentes a uma socialização política planificada, funcional ao regime; pelo aniquilamento das oposições, mediante o uso da violência e do terror; por um aparelho de propaganda baseado no controle das informações e dos meios de comunicação de massa; por um crescente dirigismo estatal no âmbito de uma economia que continua a ser, fundamentalmente, de tipo privado; pela tentativa de integrar nas estruturas de controle do partido ou do estado, de acordo com uma lógica totalitária, a totalidade das relações econômicas, sociais, políticas e culturais. Foi a partir das políticas imperialistas e sua partilha do mundo que a burguesia viu a necessidade de exercer um controle maior sobre os trabalhadores. O final da Primeira Guerra Mundial ocasionou uma grande crise do sistema capitalista, que se alastrou pelo mundo e forçou os Estados a se reorganizarem. É nesse contexto que vemos emergir o fascismo italiano, a partir do qual, em 1920, as forças reacionárias da burguesia se colocam como um elemento organizador das massas. Segundo Blinkhorn (2010, p. 25): Nos anos finais do século XIX e nos primeiros anos do XX, a maioria dos países europeus com sistema política parlamentar testemunhou o surgimento de grupos culturais e políticos hostis aos mecanismos do liberalismo parlamentar e aos princípios de tolerância e pluralismo que estavam por trás dele. A Itália não era exceção. O termo fascismo se origina na palavra, de origem italiana, fascio, que pode ser traduzida como “feixe”. Os feixes de lenha amarrados eram um símbolo utilizado durante a Roma antiga, que significavam união. Essa simbologia podia ser entendida na analogia de que os galhos ou feixes sozinhos podem ser facilmente quebrados, porém, quando unidos, formam uma massa coesa e resistente. O responsável por resgatar esse símbolo da Roma antiga foi Benito Mussolini, que o utilizou como representação do partido nacional fascista, fundado em 1921, na Itália. Mussolini também foi o responsável pela fundação do movimento fascista italiano, em março de 1919, durante uma reunião feita em Milão. Esse A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 4 movimento era organizado como uma associação nacionalista, formado por veteranos de guerra, e foi chamado de fascio di combattimento (Trento, 1993, p. 16): O fascismo nasceu oficialmente em março de 1919, quando Mussolini fundou o fascio di combattimento, em Milão, com um programa de nacionalismo, ataque à classe liberal, republicanismo, anticlericalismo e anseios de renovação social, encarnando, assim, as posições de uma pequena burguesia irrequieta e, principalmente, dos ex- combatentes”. Foi em 1921 que os fascistas deram início ao desenvolvimento de um programa que pregava a separação da igreja e do Estado, a formação de um exército nacional, e o desenvolvimento de cooperativas. Mesmo com as privatizações de indústrias e a premissa de que os proprietários de empresas eram livres para desenvolver suas produções, a atividade econômica era controlada pelo Estado. Dessa forma, a privatização não foi capaz de minar as intervenções do Estado na economia. Também foi em 1921 que o partido nacional fascista conseguiu 35 assentos na eleição do parlamento italiano. Ainda sobre a experiência fascista na Itália, é possível observar que esse movimento político autoritário era contrário tanto à revolução bolchevique, ocorrida na Rússia em 1917, quanto às medidas liberais adotas economicamente, que encareciam o preço dos produtos e geravam desemprego. Representou uma reação aos movimentos de esquerda, e pode ser compreendido também como uma resposta ao clima de fatalidades e medo que se abateu sobre a classe-média na Europa no pós Primeira Guerra Mundial. Em linhas gerais, o movimento fascista ofereceu uma terceira via aos cidadãos italianos, que estavam descrentes tanto das políticas de esquerda quanto das políticas capitalistas liberais vigentes no período (Togliatti, 1978, p. 3): Vejamos a posição que tinham os socialdemocratas alemães quanto à definição de fascismo. Eles diziam que o fascismo toma o poder da grande burguesia e o passa a pequena burguesia, que em seguida o utiliza também contra a primeira. Era uma afirmação falsa, da qual derivava inevitavelmente uma falsa orientação política. Pode-se encontrar essa afirmação em todos os escritos dos ‘direitistas’. A este respeito eu queria também os advertir contra uma outra definição: cuidado quando ouvirem falar do fascismo como “bonapartismo”. Essa afirmação, que é o cavalo de batalha do trotskismo, é tirada de certas afirmações de Marx no 18 brumário, etc., e de Engels. Mas as análises de Marx e Engels, se eram boas para aquele tempo, para a época de desenvolvimento do capitalismo tornam-se falsas se aplicadas mecanicamente hoje, no período do imperialismo. Que resulta desta definição do fascismo como “bonapartismo”? A consequência é que A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 5 não é a burguesia quem dirige, e sim Mussolini, e sim os generais, que arrebatarão o poder, inclusive à burguesia. Benito Mussolini foi creditado por explorar os medos da população italiana relacionados à depressão do capitalismo, ao surgimento de uma esquerda militante influenciada pela revolução russa, e um sentimento de vergonha pelos resultados da primeira guerra mundial, que deram uma vitória fracionada à Itália por meio de tratados de paz. Para Hannah Arendt (2013, p. 398), os líderes totalitários, como Mussolini, “cuidam de algo que está acima de quaisquer considerações utilitárias: fazer com que as suas predições se tornem verdadeiras”. Em outubro de 1922, o movimentofascista, por meio de sua força miliciana conhecida como “camisas negras”, marchou sobre a capital italiana, Roma, exigindo que o rei Vitor Emanuel III abdicasse ao trono e desse poder para o partido nacional fascista. Dessa forma, o partido fascista ganhou notoriedade entre a população, o que pressionou o rei a chamar Benito Mussolini para compor o governo italiano. Nas eleições de 1924, o Partido Nacional Fascista ocupava a maioria das cadeiras no parlamento. A oposição socialista, que denunciava fraudes eleitorais, teve a perda de Giacomo Matteotti, que foi assassinado em resposta às denúncias. Foi a partir desse momento que o poder legislativo na Itália começou a se enfraquecer. O partido nacional fascista passou a defender que a liderança de Mussolini sobre a Itália resolveria a crise que se alastrou pelo país. Em 1926, Benito Mussolini sofreu um atentado que resultou em um Estado fascista ainda mais consolidado. O novo líder propagava um grande apelo aos jovens e também à família, o que resultou em grande apoio populacional à figura de Mussolini. Segundo Blinkhorn (2010, p. 41): O movimento fascista italiano de 1920-1922, nunca é demais enfatizar, não tinha precedentes próximos nem paralelos contemporâneos, fosse na Itália ou em qualquer outro país da Europa. É verdade que muitos países europeus, imediatamente após a primeira guerra mundial, assistiram à formação de organizações antissocialistas e antidemocráticas de direita, frequentemente de cunho paramilitar. A maioria não conseguiu causar muito impacto ou, como o nacional- socialismo alemão, demorou anos para obter algum êxito. A partir desse momento, os órgãos da imprensa italiana foram censurados e fechados. Os partidos políticos foram considerados ilegais, exceto pelo Partido Nacional Fascista. O novo regime legalizou a pena de morte. Muitos civis A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 6 também foram presos ou deportados. Instaura-se assim a ditadura de Benito Mussolini. No tocante à separação entre Estado e Igreja, é necessário observar o Tratado de Latrão, firmado em 1929 pela Itália e pela Santa Sé Católica, por meio do qual ficou concedida soberania do papa sobre a cidade do Vaticano e a garantia do catolicismo como religião oficial italiana, em troca de aceitação da soberania do novo Estado fascista italiano. TEMA 2 – O QUE É NAZISMO? Outro movimento que surgiu na Europa após a primeira guerra mundial foi o nazismo. É necessário destacar que o fascismo e o nazismo apresentam características semelhantes, mas é possível delimitá-los a partir de suas experiências históricas. Vê-se então que o que chamamos de nazismo é um termo derivado do nacional-socialismo, regime implantado na Alemanha, no pós Primeira Guerra Mundial. Sobre esse termo, é possível observar (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 806-7): O termo nacional-socialismo possui inúmeros significados e diferentes conotações. No seu sentido mais geral tem sido usado, há mais de um século, por vários movimentos e ideologias políticas, defensores de um tipo de socialismo diferente do socialismo internacionalista e marxista, ou até contrários a ele. Por um lado, o nacionalismo nasceu no século XIX, como reação à sociedade industrial e à emancipação liberal. Por outro, os movimentos nacionalistas nos países em desenvolvimento, sobretudo nos estados árabes (socialismo árabe), defenderam, até o presente momento, formas novas de nacional-socialismo, como alternativa ao feudalismo e ao colonialismo. Em todos estes exemplos, todavia, qualquer uso que se faça do termo ficará praticamente abandona- do ou provocará mais confusão uma vez que o nacional- socialismo, como fenômeno político de dimensões históricas mundiais, indica sobretudo o movimento político alemão, fundado e guiado por Adolf Hitler após a Primeira Guerra Mundial, polemicamente conhecido pelo diminutivo de nazismo. Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 807)) alertam que, para se compreender o nacional-socialismo, é necessário observar dois níveis principais. O primeiro se relaciona com a reação às consequências da primeira guerra mundial. Porém, é possível ver que o nacional-socialismo também é: Resultado de tendências e ideias bem mais antigas, relacionadas com a problemática da unificação política e da modernização social — problemática que dominou o desenvolvimento alemão desde o começo do século XIX. Sem dúvida foram a inesperada derrota de 1918 e suas trágicas consequências — quer materiais quer psicológicas — que tornaram possível a fundação e a ascensão política do nacional- socialismo. Porém, ao mesmo tempo, é importante considerar o fato A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 7 de que as tendências e as ideias políticas fundamentais do nacional- socialismo nasceram muito antes de 1918 e da guerra, e que o nacional-socialismo é bem mais do que um simples movimento de protesto pós-guerra, dirigido por um eficiente agitador de massas como o foi Hitler. Sendo assim, podemos definir o nacional-socialismo a partir de nove palavras-chave: nação, raça, espaço vital, comunidade do povo, liderança, ação, autoridade, sangue e terra, frente e batalha. Também pode ser definido como “movimento hitleriano”, do mesmo modo que o fascismo pode ser definido como mussolinismo. Observa-se então que (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 807): As raízes ideológicas do nacional-socialismo, em decorrência dos acontecimentos históricos alemães do século XIX, encontram-se estritamente ligadas às três fases mais importantes da caminhada da Alemanha em direção ao sonhado estado nacional: a reação nacionalista à ocupação napoleônica (1806-1815); a falência da revolução liberal de 1848; a solução conservadora e militar do problema alemão, durante o governo de Bismarck, a partir de 1871. Na medida em que progredia o complexo processo da unificação política e da modernização, a ideia nacionalista alemã experimentou um desenvolvimento todo especial chegando a se sobrepor aos ideais liberais e constitucionais. A ‘nação tardia’ tinha a sensação de ser a última a chegar entre os estados europeus, pronta, porém, para se adequar ao imperialismo e ao colonialismo da época. Em um contexto muito parecido com o italiano, estes sentimentos nacional-imperiais preparavam o caminho para os movimentos pré-fascistas já bem antes da primeira guerra mundial. No caso alemão, uma antiga tradição acerca da singular missão da Alemanha no contexto europeu e no mundo, conforme o que defendia o filósofo Fichte (1810), coincidiu com a reivindicação da concretização de um império pangermânico que compreenderia não apenas a Áustria e demais territórios de língua alemã, mas que iria ser reconhecido como potência hegemônica da Europa central. As ideias pangermânicas e hegemônicas dominaram todos os movimentos que visavam anexações de territórios na primeira guerra mundial. A derrota destas ideias em 1918, nunca aceita pelos partidos de direita da república de Weimar, levou à formação de grupos radicais antidemocráticos e revisionistas; um deles foi o ‘deutsche arbeiterpartei’ que em 1920 tornar-se-á o ‘national sozialistische deutsche arbeiterpartei’ (n.s.d.a.p.). Uma característica básica deste partido foi a continuidade das ideias que dominaram o período pré- bélico; porém, a experiência da derrota na guerra e a crise da república democrática aumentaram a força de sua influência na opinião pública alemã politizada. O Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial, gerou um grande descontentamento na população alemã. A carreira de Hitler, que viria a se tornar o grande líder da Alemanha nazista, iniciou-se com discursos inflamados contra a “escravização” da Alemanha pelo Tratado de Versalhes (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 808). Também se observa, antes mesmo do tratado, que a expansãoda Alemanha durante o imperialismo foi A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 8 fundamentada nas qualidades da raça germânica ou nórdica. Dessa forma (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 809): A ascensão do nacional-socialismo (1919-1933) foi possível graças à conjugação dos defeitos da política alemã, desde os primórdios do século XIX, com as raízes fatídicas e a história repleta de crises da república de Weimar. A democracia de 1918 foi considerada responsável pelas consequências da derrota na primeira guerra mundial. O novo governo se tornou o bode expiatório e o objeto do ódio das forças da restauração e da reação no estado e na sociedade, bem como dos movimentos revolucionários ditatoriais reunidos nos belicosos freikorps, em seitas populares antissemitas e em organizações paramilitares. O "espantalho vermelho" da revolução comunista completou a tarefa de tornar exército e burocracia, classe média e patrões, fácil conquista de tais sentimentos. As forças democráticas estenderam a seus inimigos a tolerância de um sistema jurídico constitucional. Além disso, o desejo difuso de autoridade próprio de um estado autoritário e burocrático acabou provocando sérios problemas organizacionais no interior da república. Segundo Hannah Arendt (2013, p. 391): Nos territórios ocupados da Europa oriental, os nazistas se utilizaram, no início, de propaganda antissemita principalmente para assegurar um controle mais firme da população. Não precisaram lançar mão do terror para nele apoiar a sua propaganda, nem o fizeram. Quando liquidaram a maioria dos intelectuais poloneses, não o fizeram devido à sua oposição, mas porque, segundo a doutrina nazista, os poloneses não tinham intelecto; e, quando planejaram levar para a Alemanha as crianças de olhos azuis e cabelos louros, não pretendiam com isso aterrorizar a população, mas apenas salvar ‘o sangue germânico’. Para os autores Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 810), os elementos que constituem o nazismo fizeram com que esse movimento conseguisse harmonizar-se com a situação alemã, configurando-se como um fenômeno mais difícil de ser exportado do que o fascismo italiano. Soma-se a isso a veneração quase religiosa do Führer (Hitler). Ao centro de tudo encontrava-se a figura de Adolf Hitler. Em termos de psicologia social, ele representa o homem comum, em posição de subordinação, ansioso para compensar seus sentimentos de inferioridade através da militância e do radicalismo político. Seu nascimento na Áustria, seu fracasso na escola e na profissão e a experiência libertadora da camaradagem masculina durante a guerra, forjaram, ao mesmo tempo, sua vida e a ideologia do nacional- socialismo. Destaca-se ainda que o nacional-socialismo “se estruturava com base num darwinismo social nacionalista, racista e muito simplificado, tornado popular pelos escritos de radicais sectários” (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 810). Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 810) afirmam “as doutrinas militaristas e racistas foram os instrumentos utilizados para enganar e conquistar a população”. No regime nacional-socialista (1933-1945): A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 9 A ‘tomada do poder’ se deu com pleno sucesso no período de cinco meses, e com muito maior definição do que aconteceu na Itália fascista onde o processo levou seis anos. O sistema totalitário com um partido único e com um único líder foi definitivamente implantado no verão de 1934, quando Hitler, através de expurgos sangrentos dentro do partido (e das organizações militares do partido, as SA), conseguiu o apoio total do exército e se nomeou, após a morte do presidente Hindenburg, chefe do estado, chanceler, líder do partido e da nação, ditador único da Alemanha. Infere-se, portanto, que o nazismo foi uma ideologia de extrema-direita, e assim como o fascismo, utilizava-se do nacionalismo e do anticomunismo. Ainda assim, apresenta algumas características singulares, entre elas: o racismo científico, o antissemitismo, a hierarquia racial e a ideia de que a “raça” ariana seria superior. A implantação do nazismo se deu pelo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, fundado em 1919, rebatizado por Hitler de Partido Nazista na década de 1920. TEMA 3 – TOTALITARISMO Os movimentos fascista e nazista fazem parte também do conjunto de movimentos totalitários que surgiram após a Primeira Guerra Mundial. “Na Itália, começou-se a falar de estado ‘totalitário’ por volta da metade da década de 20 para significar, no nível de avaliação, as características do estado fascista em oposição ao estado liberal” (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 1247). É nesse contexto que “a expressão (totalitarismo) começava a ser usada para designar todas as ditaduras monopartidárias, abrangendo tanto as fascistas quanto as comunistas” (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 1247). Segundo H. Arendt, o totalitarismo é uma forma de domínio radicalmente nova porque não se limita a destruir as capacidades políticas do homem, isolando-o em relação à vida pública, como faziam as velhas tiranias e os velhos despotismos, mas tende a destruir os próprios grupos e instituições que formam o tecido das relações privadas do homem, tornando-o estranho assim ao mundo e privando- o até de seu próprio eu. (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, P. 1248) Etimologicamente, o totalitarismo significa poder político total. É um sistema político em que o Estado regula todos os aspectos da vida de sua população, exercendo controle na vida pública e na organização da vida privada. O totalitarismo pressupõe ideologias, difundidas pela propaganda, capazes de organizar os cidadãos. Hannah Arendt aponta (2013, p. 390): A ralé e a elite podem ser atraídas pelo ímpeto do totalitarismo; as massas têm de ser conquistadas por meio da propaganda. Sob um governo constitucional e havendo liberdade de opinião, os movimentos A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 10 totalitários que lutam pelo poder podem usar o terror somente até certo ponto e, como qualquer outro partido, necessitam granjear aderentes e parecer plausíveis aos olhos de um público que ainda não está rigorosamente isolado de todas as outras fontes de informação. Nos países totalitários, a propaganda e o terror parecem ser duas faces da mesma moeda. Também conseguimos observar que os regimes totalitários se estruturam em torno de um partido e líder único. Nesse sistema político, a regulação da economia se dá por meio de decretos, por meio dos quais a população perde seu direito de interferir nas decisões do Estado (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 1248): O terror total que arregimenta as massas de indivíduos isolados e as sustenta num mundo que, segundo elas, se tornou deserto torna-se por isso um instrumento permanente de governo e constitui a própria essência do totalitarismo, enquanto a lógica dedutiva e coercitiva da ideologia é seu princípio de ação. Ou seja, o princípio que o faz mover. Ao redor do mundo, surgiram regimes totalitaristas, tanto de esquerda quanto de direita. Para exemplificar essa ideia, é possível citar o regime de esquerda stalinista, organizado em torno da figura de Josef Stálin na URSS, e o regime de direita franquista na Espanha, que tinha como líder Francisco Franco. Segundo Braick e Motta (2007, p. 562): O totalitarismo era um regime político que se caracterizava pela máxima intervenção do governo na sociedade. As relações sociais eram reguladas pelo estado e o cotidiano era rigidamente policiado, uma das marcas do terror. A propaganda ideológica era intensa e todos os meios de comunicação eram fortemente controlados. Outra característica marcante do totalitarismo era o partido único; outras posições políticas não eram aceitas, senão a predominante, e os opositoreseram perseguidos como inimigos nacionais. Arendt (2013, p. 398-9) aponta ainda que, apesar da propaganda em torno do líder, que passava uma ideia de chefe canônico, foi deixado claro para as populações suas verdadeiras intenções: O exemplo mais famoso é o anúncio que Hitler fez ao Reichstag alemão em janeiro de 1939: ‘desejo hoje mais uma vez fazer uma profecia: caso os financistas judeus [...] Consigam novamente arrastar os povos a uma guerra mundial o resultado será [...] A aniquilação da raça judaica na Europa’. Traduzido em linguagem não-totalitária, isso significa: pretendo travar uma guerra e pretendo matar os judeus da Europa. Da mesma forma, Stálin, no discurso proferido perante o comitê central do partido comunista em 1930, ao descrever os seus dissidentes no partido como representantes de ‘classes agonizantes’, abriu o caminho para a sua eliminação física. Em estilo totalitário, essa definição anunciava a destruição física daqueles cuja ‘agonia’ acabava de ser profetizada. Em ambos os casos, consegue-se o mesmo objetivo: o extermínio vira processo histórico no qual o homem apenas A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 11 faz ou sofre aquilo que, de acordo com leis imutáveis, sucederia de qualquer modo. Sobre a história do stalinismo, podemos perceber que, após a Revolução Russa de 1917 e a tomada de poder pelos bolcheviques, Lênin assumiu o poder na agora chamada URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Após sua morte em janeiro de 1924, vários membros do partido passaram a disputar o poder. O vitorioso foi Josef Stálin, que consolidou sua posição como líder da Rússia construindo uma poderosa indústria militar, que censurava e perseguia opositores ao passo que difundia, através da propaganda, a ideia de culto à sua personalidade. Quando Stálin decidiu reescrever a história da Revolução Russa, a propaganda da sua nova versão consistiu em destruir, juntamente com os livros e documentos, os seus autores e leitores: a publicação, em 1938, da nova história oficial do partido comunista assinalou o fim do superexpurgo que havia dizimado toda uma geração de intelectuais soviéticos. (Arendt, 2013, p. 391) Sobre o franquismo, é possível observar que se baseava na figura de Franco, ditador que assumiu o poder na Espanha após a guerra civil que assolou o país (1936-1939). A guerra civil espanhola deixou mais ou menos 1 milhão de mortos e teve ajuda bélica da Itália e Alemanha. A guerra terminou com a vitória dos nacionalistas, que colocaram Francisco Franco como chefe do estado. O franquismo é um movimento baseado EM nacionalismo, autoritarismo, militarismo, anticomunismo e anti-anarquismo, que reprimia greves e opositores ao governo. TEMA 4 – A CRISE DE 1929 A entrada tardia dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial trouxe muitos benefícios para o país. Seus territórios não foram afetados por bombardeios, e a população civil foi capaz de dar continuidade às atividades industriais. Por esses motivos, os EUA emergiram, logo após o término da guerra, como a grande potência mundial. O comércio de produtos industriais, bélicos e agrícolas, para os países mais devastados pelos conflitos, bem como a abertura de créditos e empréstimos a potências imperialistas, como Inglaterra e França, fizeram com que o país alavancasse sua economia. No final dos anos 1920, os EUA eram responsáveis por quase metade da produção industrial do globo, ao mesmo tempo em que se tornaram o principal A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 12 credor mundial. Porém, o livre desenvolvimento do comércio desenfreado provocou uma grande crise mundial que também afetou os Estados Unidos. A crise de 1929, também chamada de Grande Depressão, ocasionou, entre outros fatos históricos, a quebra da bolsa de Nova Iorque, que foi responsável pelo fechamento de várias indústrias e pelo aumento do desemprego. As tentativas de solucionar a crise foram variadas: o surgimento do fascismo italiano, do nazismo alemão e de outros regimes totalitaristas. No caso dos Estados Unidos, a medida adotada para conter a crise foi chamada de New Deal. TEMA 5 – NEW DEAL Entre os anos de 1933 e 1947, o presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, implementou uma série de medidas com o objetivo de superar as dificuldades econômicas. Essas medidas ficaram conhecidas como New Deal. O New Deal foi responsável por implementar um grande investimento em obras públicas, empregando vários trabalhadores atingidos pela Grande Depressão. Entre as obras construídas, é possível citar a construção de escolas, hospitais e aeroportos. Para criar novos postos de trabalho, a jornada de trabalho também foi diminuída, contando agora com um salário mínimo estipulado para cada trabalhador. Para solucionar a queda dos preços na área agrícola, foram destruídos estoques de produtos. Dessa forma, a oferta e a procura se estabilizaram, fazendo com que os preços se normalizassem. O New Deal também foi responsável por estabelecer uma maior intervenção do Estado na economia, fazendo com que o governo tivesse controle sobre bancos e setores industriais. Os sindicatos foram incentivados, a fim de obter melhores diálogo com os trabalhadores. Essas medidas foram responsáveis por reformular o sistema econômico norte-americano e conter a crise de 1929 nos Estados Unidos. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 13 NA PRÁTICA Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 1248) afirmaram sobre o totalitarismo: O terror total que arregimenta as massas de indivíduos isolados e as sustenta num mundo que, segundo elas, se tornou deserto torna-se por isso um instrumento permanente de governo e constitui a própria essência do totalitarismo, enquanto a lógica dedutiva e coercitiva da ideologia é seu princípio de ação. Ou seja, o princípio que o faz mover. Com base nessa afirmação e nos conhecimentos que obteve durante a aula, responda as seguintes questões: • O que foi o fascismo? • O que foi o nazismo? • Como podemos diferenciar esses dois movimentos? • Que motivos implicaram na ascensão de totalitarismos no período entre guerras? FINALIZANDO Concluímos, nesta aula, que os movimentos totalitários ganharam o continente europeu como uma resposta à crise que se alastrou pelo sistema capitalista. A diminuição do consumo e a devastação de territórios fizeram surgir novas formas de governo, contrárias às ideias democráticas e liberais. Esses movimentos foram imprescindíveis para o desenvolvimento da Segunda Guerra Mundial, tema de nossa próxima aula. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 14 REFERÊNCIAS ARENDT, H. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. BERSTEIN, S.; MILZA, P. História do século XX. Volume 1: 1900-1945 – o fim do mundo europeu. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007. BLINKHORN, M. Mussolini e a Itália fascista. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2010. BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998. BRAICK, P. do C. R.; MOTA, M. B. História das cavernas ao terceiro milênio. São Paulo: Moderna, 2007. HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. TOGLIATTI, P. Lições sobre o fascismo. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1978. TRENTO, A. Fascismo italiano. São Paulo: Editora Ática, 1993. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Nas aulas anteriores, compreendemos o Imperialismo, a Primeira Guerra Mundial e o período entre guerras. Seguindo uma linha cronológica, observaremos agora como se configurou a Segunda Guerra Mundial e quais foram seusprincipais acontecimentos. Espera-se que os alunos consigam estabelecer paralelos entre todos os acontecimentos mencionados, compreendendo os fatores históricos por meio do passado. TEMA 1 – O INÍCIO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Há muitas relações entre as duas grandes guerras mundiais, como podemos constatar por meio dos escritos de Martin Gilbert (2017, p. 14): Quinze anos depois da minha visita ao local onde foi assassinado o arquiduque Franz Ferdinand , em Saraievo , onde se pode dizer que a Primeira Guerra Mundial teve início, dirigi-me a uma clareira no bosque, perto de Rethondes , na França , para ver uma réplica do vagão de trem no qual os alemães assinaram o armistício em novembro de 1918. Hitler insistiu em receber a rendição da França, em junho de 1940, no mesmo vagão. Há relações entre as duas guerras que nos trazem à lembrança que decorreram apenas 21 anos entre elas. Muitos daqueles que lutaram nas trincheiras na Primeira Guerra Mundial foram líderes na Segunda Guerra Mundial, como Hitler, Churchill e De Gaulle, ou comandantes, à semelhança de Rommel, Zhukov, Montgomery e Gamelin. Outros, como Ho Chi Minh, que se voluntariou para servir com os franceses como ordenança vietnamita na Primeira Guerra Mundial, e Harold Macmillan, que combateu e foi ferido na frente ocidental, destacaram-se depois da Segunda Guerra Mundial. Por esse motivo, para que se compreenda a Segunda Guerra Mundial, é necessário retornar alguns acontecimentos gerados após a Primeira Guerra Mundial. Como visto anteriormente, após 1914 a economia mundial passava por um grave enfraquecimento. A crise de 1929, também chamada de Grande Depressão, ocasionou, entre outros fatos históricos, a quebra da bolsa de Nova Iorque, responsável pelo fechamento de várias indústrias e pelo aumento do desemprego. As tentativas de solucionar a crise foram variadas: o surgimento do fascismo italiano, do nazismo alemão e de outros regimes totalitaristas. Os Estados Unidos, que havia emergido como grande potência, tampouco escaparam da Grande Depressão. Os norte-americanos, assim como os italianos e alemães, necessitavam de um plano para superar a crise que afetava sua população. Sendo assim, o presidente Franklin Delano Roosevelt implementou uma série de medidas, entre os anos de 1933 e 1937, com o A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 3 objetivo de superar as dificuldades econômicas. Essas medidas ficaram conhecidas como New Deal. O New Deal foi responsável por implementar uma forte intervenção do Estado na economia, a instauração de um salário mínimo, a diminuição da jornada de trabalho, grandes investimentos em obras públicas, a destruição de estoques agrícolas, e controle sobre os preços dos produtos. Essas medidas foram responsáveis por gerar diversos empregos, regular a economia e evitar a queda dos preços dos produtos. Dessa forma, todos os países envolvidos na Primeira Guerra Mundial buscavam, de alguma forma, fortalecer seu poder estatal, porém com ideologias diferentes. Por esse motivo, durante a Segunda Guerra Mundial (Bertonha, 2017, p. 150-1): As ideologias políticas tiveram um peso muito maior no segundo conflito mundial do que no primeiro. Houve, claro, massacres de civis entre 1914 e 1918 (sendo o principal o de armênios pelo Império turco- otomano), mas, na Segunda Guerra, a distinção entre civis e militares ficou ainda mais fluida: o outro lado era o inimigo, a ser destruído completamente, fosse ele civil ou militar. Isso foi especialmente verdadeiro na frente oriental, na qual dois Estados (Alemanha e União Soviética) e duas ideologias (nazismo e comunismo) combateram até a morte, devastando todo o imenso território que vai de Berlim até Moscou. Sete milhões de soldados soviéticos morreram em combate, seis a oito milhões de civis soviéticos (vistos como uma “raça inferior”) foram mortos pelos alemães e outros dez milhões pereceram vitimados pela fome, excesso de trabalho e doenças. Na frente oriental, a distinção entre civis e militares quase desapareceu e, quando os soviéticos entraram na Alemanha, a vingança veio. O historiador Eric Hobsbawm (1996, p. 35-6), em seu livro Era dos extremos: o breve século XX, 1914-1991, escreveu sobre as origens da Segunda Guerra Mundial: As origens da Segunda Guerra Mundial produziram uma literatura histórica incomparavelmente menor sobre suas causas do que as da Primeira Guerra, e por um motivo óbvio. Com as mais raras exceções, nenhum historiador sério jamais duvidou de que a Alemanha, Japão e (mais hesitante) a Itália foram os agressores. Os Estados arrastados à guerra contra os três, capitalistas ou socialistas, não queriam o conflito, e a maioria fez o que pôde para evitá-lo. Em termos mais simples, a pergunta sobre quem ou o que causou a Segunda Guerra Mundial pode ser respondida em duas palavras: Adolf Hitler. As respostas a perguntas históricas não são, claro, tão simples(...). A insatisfação com o status quo não se restringia aos Estados derrotados, embora estes, notadamente a Alemanha, sentissem que tinham bastantes motivos para ressentimento, como de fato tinham. Todos os partidos na Alemanha, dos comunistas na extrema esquerda aos nacional- socialistas de Hitler na extrema direita, combinavam-se na condenação do Tratado de Versalhes como injusto e inaceitável. Paradoxalmente, uma revolução alemã autêntica poderia ter produzido uma Alemanha menos explosiva no cenário internacional. Os dois países derrotados que foram de fato revolucionados, a Rússia e a Turquia, se achavam demasiado preocupados com suas próprias questões, incluindo a A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 4 defesa de suas fronteiras, para desestabilizar a situação internacional. Eram forças a favor da estabilidade na década de 1930, e na verdade a Turquia permaneceu neutra na Segunda Guerra Mundial. Contudo, tanto o Japão quanto a Itália, embora do lado vencedor da guerra, também se sentiam insatisfeitos, os japoneses com um realismo de certa forma maior que os italianos, cujos apetites imperiais excediam muitíssimo o poder de seu Estado independente para satisfazê-los. De qualquer modo, a Itália saíra da guerra com consideráveis ganhos territoriais nos Alpes, no Adriático e até mesmo no mar Egeu, mesmo não sendo aquele butim prometido ao Estado pelos aliados em troca da entrada ao lado deles em 1915. Contudo, o triunfo do fascismo, um movimento contra-revolucionário e, portanto, ultranacionalista e imperialista, sublinhou a insatisfação italiana [...]. Apesar disso, fosse qual fosse a instabilidade da paz pós-1918 e a probabilidade de seu colapso, é bastante inegável que o que causou concretamente a Segunda Guerra Mundial foi a agressão pelas três potências descontentes, ligadas por vários tratados desde meados da década de 1930. No dia 1 de setembro de 1939, a Alemanha Nazista invadiu a Polônia, rejeitando totalmente o Tratado de Versalhes. Logo em seguida, os franceses e britânicos declararam guerra contra os alemães. Esse pode ser considerado o estopim para o início da Segunda Guerra Mundial. É básico explicar como e porque a ideologia nazista e seu militarismo e desejo de expansão conseguiram levar o mundo a uma guerra mundial. Se Hitler e o nazismo tivessem surgido, digamos, em um obscuro e pobre país africano, ele teria feito alguns terríveis massacres locais (como os de Ruanda, por exemplo) mas não mais que isso. O nazismo só conseguiu incendiar o mundo porque tinha a sua disposição os recursos econômicos e militares fornecidos por uma potência em ascensão, a Alemanha, que estava em ascensão justamente por processos – Revolução Industrial e tecnológica, desenvolvimento econômico e industrial acelerado, etc. – que vinham desde o século XIX. (Bertonha, 2017, p, 134) Porém, é necessário considerar que outros países já se encontravam em guerra, comoItália, China, Japão e Etiópia. Por esse motivo, é difícil precisar em que data específica a Segunda Guerra Mundial teve início; pode-se considerar a invasão da Alemanha à Polônia ou as guerras que já estavam sendo travadas por outros países. Segundo Hobsbawm (1996, p. 36): s marcos miliários na estrada para a guerra foram a invasão da Manchúria pelo Japão em 1931; a invasão da Etiópia pelos italianos em 1935; a intervenção alemã e italiana na Guerra Civil Espanhola em 1936-9; a invasão alemã da Áustria no início de 1938; o estropiamento posterior da Tchecoslováquia pela Alemanha no mesmo ano; a ocupação alemã do que restava da Tchecoslováquia em março de 1939 (seguida pela ocupação italiana da Albânia); e as exigências alemãs à Polônia que levaram de fato ao início da guerra. Alternativamente, podemos contar esses marcos miliários de um modo negativo: a não-ação da Liga contra o Japão; a não-tomada de medidas efetivas contra a Itália em 1935; a não reação de Grã- Bretanha e França à denúncia unilateral alemã do Tratado de Versalhes, e notadamente à reocupação alemã da Renânia em 1936; a recusa de Grã-Bretanha e França a intervir na Guerra Civil Espanhola A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 5 (“não-intervenção”); a não-reação destas à ocupação da Áustria; o recuo delas diante da chantagem alemã sobre a Tchecoslováquia (o “Acordo de Munique” de 1938); e a recusa da URSS a continuar opondo-se a Hitler em 1939 (o pacto Hitler-Stalin de agosto de 1939). A Segunda Guerra Mundial, que ocorreu entre os anos de 1939 e 1945, foi responsável por dividir o globo em dois grandes grupos: os Aliados e o Eixo. No início dos conflitos, os Aliados eram formados por Inglaterra e França, e o Eixo por Alemanha, Itália e Japão. Essa configuração se modificou no percurso da guerra. Percebe-se aqui que as mesmas alianças imperialistas formadas antes da Primeira Guerra Mundial se repetiram nesse novo conflito. O imperialismo, ainda vigente após a Primeira Guerra Mundial, fazia com que grandes potências exercessem influência política, cultural e econômico sobre outros países. Dessa forma, o conflito se estendeu para além da Europa, arrastando consigo países dominados, e se configurando como um conflito mundial. Como visto anteriormente, a Primeira Guerra Mundial ficou conhecida também como Grande Guerra. Mas o número de vítimas só aumentou no segundo conflito. O saldo de mortos na Segunda Guerra Mundial foi de aproximadamente 50 milhões, enquanto a Primeira Guerra Mundial teve cerca de 15 milhões de mortes (Gilbert, 2017, p. 11). Como é possível explicar esse aumento exponencial do poder destrutivo? Para responder a essa pergunta, precisamos atentar para os pesados investimentos em avanços tecnológicos e melhorias na indústria bélica – durante a Segunda Guerra Mundial, possuir armamentos mais desenvolvidos significava a vitória em batalhas. Também foram utilizadas novas táticas de guerra, que superavam as trincheiras. Um exemplo dessas novas táticas foi a guerra relâmpago, conhecida como Blitzkrieg, utilizada inicialmente pela Alemanha. Essa tática consistia em efeito surpresa, rapidez de manobra, e ataques brutais para desorganizar as forças inimigas (Bertonha, 2017, p. 151-2): Na Segunda Guerra, por fim, houve um diferencial de peso que explica a maior mortalidade de civis: a aviação estratégica. Entre 1918 e 1939, a aviação militar se desenvolveu tanto no campo técnico (melhores e mais armados aviões, com mais capacidade de carregar armamentos e material), como na teoria. Estrategistas elaboraram a ideia de que seria possível vencer um inimigo simplesmente destruindo sua base econômica (fábricas, usinas, ferrovias, etc.) a partir do ar. Também se desenvolveu uma teoria próxima, que afirmava que os civis eram alvos militares legítimos e que a destruição das cidades seria importante para abalar a moral e a vontade de lutar dos inimigos. Isso fez da Segunda Guerra um conflito onde os civis sofreram muito por causa da morte que vinha pelo ar. A Alemanha foi a primeira a utilizar esse mecanismo A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 6 durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), quando, em 26/4/1937, destruíram a pequena cidade espanhola de Guernica, matando centenas de pessoas. O vilarejo não era alvo militar nem estratégico, mas os alemães decidiram destruí-la tanto porque ela era uma cidade símbolo da resistência basca como porque queriam testar a sua doutrina de “bombardeio de terror” contra civis. Os alemães também utilizaram essa estratégia na Polônia em 1939, na Holanda em 1940 e, especialmente, na “Batalha da Inglaterra” em 1940, quando atacaram cidades inglesas como Coventry e Londres. Pelo uso dessa tática, é possível observar que o Eixo não se preparou para uma guerra duradoura. Segundo Hobsbawm (1996, p. 37): A Alemanha (e depois o Japão) precisava de uma guerra ofensiva rápida pelos mesmos motivos que a tinham feito necessária em 1914. Os recursos conjuntos dos inimigos potenciais de cada um deles, uma vez unidos e coordenados, eram esmagadoramente maiores que os seus. Nenhum dos dois sequer fez planos para uma guerra extensa, nem contou com armamentos de longo período de gestação. (Em contraste, os britânicos, aceitando a inferioridade em terra, investiram seu dinheiro desde o início nas formas mais caras e tecnologicamente sofisticadas de armamento, e fizeram planos para uma longa guerra, em que eles e seus aliados venceriam o outro lado em produção.) Os japoneses foram mais bem-sucedidos que os alemães em evitar a coalizão de seus inimigos, pois ficaram de fora tanto da guerra da Alemanha contra a Grã-Bretanha e a França em 1939-40 quanto da guerra contra a Rússia depois de 1941. Ao contrário das outras potências, eles tinham lutado de fato contra o Exército Vermelho, numa guerra não oficial, mas substancial, na fronteira sino-siberiana em 1939, e saído seriamente maltratados. O Japão só entrou na guerra contra a Grã-Bretanha e os EUA, mas não contra a URSS, em dezembro de 1941. Infelizmente para ele, a única potência contra a qual tinha de lutar, os EUA, lhe era tão imensamente superior em recursos que praticamente tinha de vencer. Porém, observa-se que a tática da guerra relâmpago também foi adotada pelos Aliados no decorrer dos conflitos durante a Segunda Guerra Mundial (Bertonha, 2017, p. 152): A partir de 1943, os Aliados ocidentais (Estados Unidos e Império britânico) tinham total domínio aéreo na Europa e compartilhavam da ideia, que se revelou equivocada, de que o terror aéreo podia fazer o inimigo se render. As cidades alemãs foram, assim, submetidas a um dilúvio de bombas e fogo. Alvos estratégicos e econômicos foram visados, mas também a população civil se tornou alvo. Dessa forma, cerca de 2,8 milhões de toneladas de bombas foram despejadas em alvos militares na França, Bélgica e outros países, mas, especialmente, na Alemanha. Cidades alemãs como Colônia, Hamburgo, Dresden e outras foram arrasadas e calcula-se que cerca de meio milhão de civis alemães foram mortos e um número quatorze vezes maior perdeu suas casas. A Itália sofreu bombardeios moderados por parte dos Aliados (especialmente em Roma e Milão). TEMA 2 – A URSS DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL No ano de 1939, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas assinou o pacto Molotov-Ribbentrop com a Alemanha, por meio do qual ambos os países A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 7 se comprometiam em não entrar em conflitos. Mesmo com esse pacto, e com a ajuda que forneceu na invasão da Polônia pelos alemães, a URSS assumia uma posição de neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial. A neutralidade da URSS e dos EUA garantiam vitórias para o Eixo (Hobsbawm, 1996, p. 37): A Alemanha pareceu mais afortunada por algum tempo. Na década de
Compartilhar