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História Política Economia Cultura no século XX

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HISTÓRIA, POLÍTICA, 
ECONOMIA E CULTURA NO 
SÉCULO XX 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Douglas Gasparin Arruda 
 
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CONVERSA INICIAL 
 Nesta aula iremos analisar os processos históricos que ocorreram no final 
do século XIX e início do século XX, e que culminaram na Primeira Guerra 
Mundial, também conhecida como a Grande Guerra. Para isso, nos 
debruçaremos também sobre a conceitualização de termos que são importantes 
e que irão aparecer durante esta aula e também em aulas futuras. Espera-se ao 
final que os alunos consigam compreender que os fatos históricos narrados (as 
políticas imperialistas e a Primeira Guerra Mundial) têm profundas ligações. 
TEMA 1 – UMA INTRODUÇÃO AO IMPERIALISMO 
O século XX começa em 1900. Porém, é necessário compreender que os 
processos históricos não seguem com exatidão a divisão dos séculos. Por esse 
motivo, apesar de estarmos tratando sobre história, política, economia e cultura 
no século XX, precisaremos regredir na linha temporal e compreender também 
os acontecimentos que permearam o final do século XIX. “Afinal, a história não 
é como uma linha de ônibus em que todos – passageiros, motorista e cobrador 
– são substituídos quando chega ao ponto final” (Hobsbawm, 2015, p. 20). 
No século XIX, o capitalismo encontrou um sistema para dominar novos 
territórios e acumular riquezas. Esse sistema ficou conhecido como 
imperialismo, em que as potências mundiais partilharam territórios e dominaram 
outros países com base em alianças e rivalidades. 
Para compreender de modo mais concreto o que é o capitalismo e o 
imperialismo, utilizaremos o Dicionário de Política, escrito por Bobbio, Matteucci 
e Pasquino (1998, p. 141). No verbete capitalismo podemos ler: 
Na cultura corrente, ao termo Capitalismo se atribuem conotações e 
conteúdos frequentemente muito diferentes, reconduzíveis todavia a 
duas grandes acepções. Uma primeira acepção restrita de Capitalismo 
designa uma forma particular, historicamente específica, de agir 
econômico, ou um modo de produção em sentido estrito, ou 
subsistema econômico. Esse subsistema é considerado uma parte de 
um mais amplo e complexo sistema social e político, para designar o 
que não se considera significativo ou oportuno recorrer ao termo 
Capitalismo. Prefere-se usar definições deduzidas do processo 
histórico da industrialização e da modernização político-social. Fala-se, 
exatamente, de sociedade industrial, liberal-democrática, ou de 
sociedade complexa, da qual o Capitalismo é só um elemento, 
enquanto designa o subsistema econômico. Uma segunda acepção de 
Capitalismo, ao invés, atinge a sociedade no seu todo como formação 
social, historicamente qualificada, de forma determinante, pelo seu 
modo de produção. Capitalismo, nesta acepção, designa, portanto, 
uma "relação social" geral. A própria história do conceito de 
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Capitalismo oscila entre estas duas acepções. Não se trata de uma 
controvérsia nominalista, solúvel através de um acordo entre os 
estudiosos, mas de uma questão identificação do mundo moderno e 
contemporâneo, que envolveu e envolve a identidade e a ideologia de 
vastos grupos sociais. 
Também é possível observar que é necessário compreender a 
peculiaridade do capitalismo como um conjunto de comportamentos, tanto 
individuais quanto coletivos, que se relacionam com a venda e o consumo de 
bens. Segundo Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 141), é possível elencar 
três características que diferem o capitalismo de outros modos de produção. São 
elas: 
A) propriedade privada dos meios de produção, para cuja ativação é 
necessária a presença do trabalho assalariado formalmente livre; b) 
sistema de mercado, baseado na iniciativa e na empresa privada, não 
necessariamente pessoal; c) processos de racionalização dos meios e 
métodos diretos e indiretos para a valorização do capital e a exploração 
das oportunidades de mercado para efeito de lucro. 
Dessa forma, podemos compreender o capitalismo como um modelo 
econômico que prioriza a relação de trabalho assalariada, segundo uma tradição 
marxista, ou que prioriza os processos de racionalização do agir, como pode ser 
visto em produções de tradição weberiana. Destaca-se ainda que não é possível 
compreender o sistema capitalista sem observar fatores extra econômicos que 
se encontram nas relações de força e poder enraizadas culturalmente (Bobbio; 
Matteucci; Pasquino, 1998, p. 142). 
Sobre o termo imperialismo é possível observar redefinições e variações 
ao longo do tempo. Foi a partir do século XIX que o imperialismo passou a ser 
teorizado e que o estudo sobre o tema se desenvolveu, progredindo até os dias 
de hoje. Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 613) apontam que as teorias 
marxistas mais importantes sobre o imperialismo foram escritas por Rosa 
Luxemburgo e Lenin. Sobre a teoria do subconsumo de Luxemburgo, os autores 
destacam: 
A explicação do Imperialismo formulada por R. Luxemburg assenta na 
inserção, no pensamento marxista, da teoria do subconsumo, 
elaborada anteriormente e à margem dessa orientação teórica 
sobretudo por Malthus, Sismondi, Rodbertus e Hobson, e que pode ter 
alguma ligação, conquanto forçada, com as teses de Marx referentes 
ao problema da realização da mais-valia. Podemos resumir a teoria do 
subconsumo segundo a versão de R. Luxemburg dizendo que, 
dispondo a classe trabalhadora inevitavelmente de um baixo poder 
aquisitivo e sendo obrigada a um nível de vida miserável como 
consequência das leis objetivas da acumulação capitalista, torna-se 
indispensável, para poder ser absorvida toda a produção corrente, a 
existência de uma "terceira pessoa", de um comprador extrínseco ao 
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sistema capitalista. Tem de haver, em resumo, um mundo não 
capitalista ao lado do mundo capitalista, para que o funcionamento 
deste não fique entravado. Nos primeiros estádios do desenvolvimento 
capitalista, essa "terceira pessoa" pode ser oferecida pela economia 
agrária, que vive ainda à margem da capitalista. Mas depois, em 
decorrência da transformação capitalista desse setor, os mercados 
internos já não bastam e se tornam necessários os mercados externos 
para a absorção da produção, mercados que se conquistam com a 
conquista das colônias. Sendo as áreas de exploração limitadas, mais 
tarde ou mais cedo os conflitos serão inevitáveis, como inevitável será 
também a catástrofe final do sistema capitalista, quando os mercados 
externos se tornarem igualmente insuficientes. 
Sobre a teoria leninista do imperialismo lê-se (Bobbio; Matteucci; 
Pasquino, 1998, p. 613): 
A hipótese fundamental da teoria de Lenin não se apoia no 
empobrecimento do proletariado e na sua falta de poder de consumo, 
mas na tendência à queda das taxas de lucro. Os monopólios 
financeiros dos Estados mais avançados do capitalismo são obrigados 
a explorar o mercado mundial, entrando em conflito com outros grupos 
financeiros que tentam fazer o mesmo, pois os lucros obtidos no 
mercado interno tendem a desaparecer. A queda das taxas de lucro é 
explicada, grosso modo, pela teoria marxista como resultado da 
crescente concorrência entre os capitalistas. A lei do mercado os 
obriga a investir enormes capitais em maquinaria cada vez mais 
aperfeiçoada para vencer os concorrentes. Mas, se estes responderem 
ao desafio, as novas máquinas bem depressa se tornam obsoletas, 
sendo necessário renová-las para não sofrer a derrota. Esta luta sem 
trégua diminui o lucro dos capitalistas e, por vezes, poderá levar ao 
aumento temporário dos níveis de salário, visto os capitalistas estarem 
dispostos a pagar mais aos trabalhadores para os monopolizar. (...) A 
crescente e inevitável mecanização provoca, por outro lado, a 
concentração da produção nas mãosde uns poucos. A medida que o 
capitalismo se desenvolve, passa-se da forma do mercado 
concorrencial à do mercado monopólico. São apenas alguns 
indivíduos, e em caso limite um só, os que controlam enormes 
complexos com milhares de trabalhadores. É essa a fase mais 
avançada do capitalismo. Naturalmente, com o crescimento e 
consolidação dos monopólios, cresce também a tendência ao controle 
do Governo do Estado pelo poder econômico. A política nacional não 
é senão resultado desta influência. Nesta fase do desenvolvimento 
capitalista, dada a organização da produção a nível mundial, a 
atividade dos monopólios não pode cingir-se aos limites do Estado. O 
"capital financeiro", fruto da fusão entre capital bancário e capital 
industrial, tenta assegurar o controle das matérias-primas e dos 
mercados mundiais. Mais cedo ou mais tarde, os interesses entram em 
conflito entre si. O mundo é dividido em áreas de influência entre os 
diferentes monopólios, ou então, o que é o mesmo, entre os diferentes 
Governos. Concluída a divisão do mundo em áreas de influência, 
aumenta a tensão entre os diversos grupos e a guerra se torna mais 
cedo ou mais tarde inevitável. 
Vê-se ainda que a expressão imperialismo, que deriva da palavra império, 
manifestou-se sob várias formas ao longo da história (Bobbio; Matteucci; 
Pasquino, 1998, p. 611). Por esse motivo, trataremos aqui do que pode ser 
chamado de “Novo Imperialismo” ou “Imperialismo Moderno”, que se inicia no 
ano de 1870, cujas alianças e disputas foram imprescindíveis para a 
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configuração da Primeira Guerra Mundial. De modo geral, podemos descrever o 
Imperialismo Moderno como uma divisão do mundo entre alguns países 
capitalistas mais desenvolvidos, que usaram sua influência para exercer controle 
comercial, social e cultural sobre outras sociedades menos desenvolvidas 
tecnologicamente. Sobre esse tema, o historiador Eric Hobsbawm (2015, p. 93-
4) escreveu: 
Era muito provável que uma economia mundial cujo ritmo era 
determinado por seu núcleo capitalista desenvolvido ou em 
desenvolvimento se transformasse num mundo onde os ‘avançados’ 
domariam os ‘atrasados’; em suma, num mundo de império. Mas, 
paradoxalmente, o período entre 1875 e 1914 pode ser chamado de 
Era dos Impérios não apenas por ter criado um novo tipo de 
imperialismo, mas também por um motivo muito mais antiquado. Foi 
provavelmente o período da história mundial moderna em que chegou 
ao máximo o número de governantes que se autodenominavam 
‘imperadores’, ou que eram considerados pelos diplomatas ocidentais 
como merecedores desse título 
Samir Amin (2005, p. 84) salientou que “o imperialismo, então, não é um 
estágio – nem mesmo o estágio supremo – do capitalismo. Ele é, desde a 
origem, imanente à sua expansão”. O autor também nos traz a ideia de que a 
conquista imperialista pelos europeus e seus filhos norte-americanos se 
desdobrou em dois tempos: 
O primeiro momento desse desenvolvimento devastador do 
imperialismo foi organizado em torno da conquista das Américas, no 
quadro do sistema mercantilista da Europa atlântica da época. As 
devastações desse primeiro capítulo da expansão capitalista mundial 
(genocídio dos índios, tráfico de escravos africanos) produziram – com 
atraso – as forças de libertação que questionaram as lógicas que as 
comandavam [...]. O segundo momento da devastação imperialista foi 
construído com base na revolução industrial e se manifestou pela 
submissão colonial da Ásia e da África. ‘Abrir os mercados’ e apoderar-
se das reservas naturais do globo eram as reais motivações, como é 
sabido hoje em dia. A agressão imperialista mais uma vez produziu as 
forças que combateram o projeto: as revoluções socialistas (da Rússia, 
da China, não por acaso situadas nas periferias vítimas da expansão 
imperialista e polarizadora do capitalismo realmente existente) e as 
revoluções de libertação nacional. (Amir, 2005, p. 84) 
TEMA 2 – DISPUTAS IMPERIALISTAS NO SÉCULO XX 
Dito isto, evidencia-se nesse momento a tese de que o sistema econômico 
capitalista se desenvolve e se regula através de períodos de crise e expansão 
(Amin, 1977). Entre os anos de 1890 e 1914, o modelo capitalista passava por 
uma fase de expansão, proporcionada pela conquista de novos territórios pelas 
grandes potências imperialistas e, consequentemente, pela abertura de novos 
mercados consumidores. 
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“De meados dos anos 1890 à Grande Guerra, a orquestra econômica 
mundial tocou no tom maior da prosperidade, em vez de no tom menor 
da depressão. A afluência, baseada no boom econômico, constituía o 
pano de fundo do que ainda é conhecido no continente europeu como 
‘a bela época’ (belle époque). (Hobsbawm, 2015, p. 77) 
Em fins do século XIX e início do século XX, a dominação imperialista se 
concentrava em três continentes: África, Ásia e Oceania. Buscava-se nesses 
continentes, além de mercado consumidor, acesso a mais mão de obra e 
matéria-prima. Como então seria possível diferenciar as potências imperialistas 
dos países sob seu domínio? Sobre essa questão, Hobsbawm (2015, p. 53) 
elucida: 
Por mais profundas e evidentes que fossem as diferenças econômicas 
entre os dois setores do mundo, é difícil descrevê-las em duas 
palavras; também não é fácil sintetizar as diferenças políticas entre 
elas. Existia claramente um modelo geral referencial das instituições e 
estrutura adequadas a um país ‘avançado’, com algumas variações 
locais. Esse país deveria ser um Estado territorial mais ou menos 
homogêneo, internacionalmente soberano, com extensão suficiente 
para proporcionar a base de um desenvolvimento econômico nacional; 
deveria dispor de um corpo único de instituições políticas e jurídicas de 
tipo amplamente liberal e representativo (isto é, deveria contar com 
uma constituição única e ser um Estado de direito), mas também, em 
um nível mais baixo, garantir autonomia e iniciativa locais. Deveria ser 
composto de ‘cidadãos’, isto é, da totalidade dos habitantes individuais 
de seu território que desfrutavam de certos direitos jurídicos e políticos 
básicos, antes que, digamos, de associações ou outros tipos de grupos 
e comunidades. As relações dos cidadãos com o governo nacional 
seriam diretas e não mediadas por tais grupos. E assim por diante. 
Esses eram as aspirações não só dos países ‘desenvolvidos’ (todos os 
quais estavam, até certo ponto, ajustados a esse modelo nos anos 
1880), mas de todos os outros que não queriam se alienar ao 
progresso moderno. 
Os países imperialistas, embora dominantes nas relações de poder 
capitalistas, observaram que as disputas entre eles cresciam na mesma medida 
que seus lucros. A competição pelo acúmulo de novos territórios e concentração 
de riquezas fez surgir alianças entre as grandes potências. Podemos citar aqui 
a Tríplice Aliança (formada em 1882 pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália), a 
Aliança Franco-Russa (formada em 1892 pela Rússia e França), a Entente 
Cordiale (formada em 1904 pelo Reino Unido e França) e a Convenção Anglo-
Russa (formada em 1907 pela Rússia e Reino Unido). Esses exemplos já 
apontam para o paralelo entre as alianças imperialistas e a divisão dos grupos 
na Primeira Guerra Mundial: a Tríplice Aliança, composta pela Itália, Império 
Austro-Húngaro e Alemanha, e a Tríplice Entente, composta por França, Rússia 
e Grã-Bretanha. 
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Foi no início do século XX que o clima do continente europeu começou a 
ficar tensionado. A corrida bélica e as disputas por territórios acirravam os 
ânimos das potências imperialistas. A partilha da África, que já havia ocasionado 
problemas internos no continente, ocasionou também problemas entre os países 
europeus. Em 1914, a África pertencia aos impérios britânico, francês, belga,alemão, português e espanhol (Hobsbawm, 2015, p. 95). Observa-se ainda que: 
Entre 1879 e 1915, cerca de um quarto da superfície continental do 
globo foi distribuído ou redistribuído, como colônia, entre meia dúzia de 
Estados. A Grã-Bretanha aumentou seus territórios em cerca de 10 
milhões de quilômetros quadrados, a França em cerca de 9, a 
Alemanha conquistou mais de 2 milhões e meio, a Bélgica e a Itália 
pouco menos que essa extensão cada um. Os EUA conquistaram 
cerca de 250 mil, principalmente da Espanha, o Japão algo em torno 
da mesma quantidade à custa da China, da Rússia e da Coreia. Nas 
antigas colônias africanas de Portugal se ampliaram em cerca de 750 
mil quilômetros quadrados; a Espanha, mesmo sendo uma perdedora 
líquida (para os EUA), ainda conseguiu tomar alguns territórios 
pedregosos no Marrocos e no Saara Ocidental. O crescimento da 
Rússia imperial é mais difícil de avaliar, pois todo ele se deu em 
territórios adjacentes e constituiu o prosseguimento de alguns séculos 
de expansão territorial do Estado czarista; ademais, como veremos, a 
Rússia perdeu algum território para o Japão. Dentre os principais 
impérios coloniais, apenas o holandês não conseguiu, ou não quis, 
adquirir novos territórios, salvo por meio da extensão de seu controle 
efetivo às ilhas indonésias, que há muito ‘possuía’ formalmente. Dentre 
os menores, a Suécia liquidou a única colônia que lhe restava, uma ilha 
nas Índias Ocidentais, vendendo-a à França, e a Dinamarca estava 
prestes a fazer o mesmo – conservando apenas a Islândia e a 
Groelândia como territórios dependentes. (Hobsbawm, 2015, p. 97-8) 
No ano de 1914, a crise econômica se alastrou por todo o sistema 
capitalista/imperialista. Entre 1899 e 1913, na França e na Grã-Bretanha, houve 
uma queda efetiva do salário, o que ocasionou tensões e explosões sociais 
(Hobsbawm, 2015, p. 81). Soma-se à crise alguns descontentamentos, como o 
da Alemanha e Itália, que se sentiram lesados na partilha da África e Ásia. E 
também o descontentamento dos franceses, que não aceitavam a perda da 
região da Alsácia-Lorena, em 1871, para os alemães. Martin Gilbert escreveu 
um relato sobre a rivalidade pela região da Alsácia-Lorena: 
Por que temer uma guerra na Europa? Pouco antes do início da guerra, 
em 1914, um coronel francês, que era adolescente quando a Alemanha 
invadiu a França em 1870, ouviu um grupo de jovens oficiais brindarem 
à perspectiva da guerra e escarnecerem da possibilidade de um 
conflito, mas os risos cessaram abruptamente quando ele lhes 
perguntou: ‘Vocês acham que a guerra é sempre divertida, toujours 
drôle?’ Chamava-se Henri-Philippe Pétain. Dois anos depois, em 
Verdun, foi testemunha de uma das piores chacinas militares do século 
XX. Os militares franceses cujas risadas Pétain fez cessar 
abruptamente eram herdeiros de uma tradição de inimizade franco-
germânica que culminara mais de quarenta anos antes, em 11 de maio 
de 1871, quando o chanceler alemão, Otto von Bismarck, assinou, no 
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Hotel Swan, em Frankfurt, o acordo que transferia a Alsácia e grande 
parte da Lorena para a Alemanha. (Gilbert, 2017, p. 21) 
O autor também destacou que: 
As rivalidades que fomentam as guerras não podem ser suavizadas 
pela lógica de um sentimento pacifista. Na primeira década do século 
XX, houve muitas rivalidades e muitos ressentimentos nas nações para 
as quais a paz, o comércio, a indústria e o aumento da prosperidade 
nacional pareciam ser as verdadeiras necessidades, os desafios e as 
oportunidades. Na França, a perda de territórios anexados pela 
Alemanha em 1871 causou ressentimentos durante quatro décadas. 
(Gilbert, 2017, p. 24) 
TEMA 3 – PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL 
Com os ânimos acirrados dessa maneira, bastava um pequeno 
desentendimento entre as potências imperialistas para que a guerra tivesse 
início. Isso ocorreu no dia 28 de junho de 1914, quando o arquiduque Francisco 
Fernando da Áustria foi assassinado por Gravilo Princip, da Iugoslávia. Em 
poucas semanas de articulação, as grandes potências imperialistas 
organizaram-se, recorrendo a antigas alianças, e partiram para uma guerra que 
arrastou também os territórios que dominavam. Para o historiador Eric 
Hobsbawm (2015, p. 20) “se há datas que obedecem a algo mais que a 
necessidade de periodização, agosto de 1914 é uma delas: foi considerada o 
marco do fim do mundo feito por e para a burguesia”. 
Duas grandes frentes de disputas foram formadas: a Tríplice Aliança 
(Itália, Império Austro-Húngaro e Alemanha) e a Tríplice Entente (França, Rússia 
e Grã-Bretanha). Essas duas frentes lutaram uma “guerra de trincheiras”, em 
que os soldados permaneciam em “buracos” cavados em linhas com o intuito de 
se defender do inimigo. A guerra de trincheiras, somada ao uso de 
metralhadoras, fazia com que a dominação das áreas inimigas fosse difícil, pois 
o campo entre duas trincheiras ficava exposto a ataques de ambos os lados. No 
depoimento do soldado Frank Sumpter, da brigada de fuzileiros de Londres, 
podemos compreender um pouco do que era a vida nas trincheiras (citado por 
Arthur (2011, p. 79-81): 
Após o ataque de 19 de dezembro, voltamos para as mesmas 
trincheiras no dia de Natal. Era um inverno rigoroso que cobria tudo 
com muita neve. Antes, a paisagem devastada parecia um quadro de 
cores desoladoras – argilosa, lamacenta e cheia de tijolos quebrados 
–, mas, quando foi coberta pela neve, ficou bonita. De repente, ouvimos 
os alemães cantando Noite Feliz, e depois fixaram uma placa dizendo 
‘Feliz Natal’, aí nós fizemos o mesmo. Enquanto eles ainda cantavam, 
nossos colegas propuseram: 
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- Vamos fazer coro com eles. 
Fizeram isso, mas, quando começamos a cantar, eles pararam. 
Quando paramos, eles voltaram a cantar. Com isso, fomos nos 
descontraindo. Então um alemão aproveitou esse momento de 
descontração, subiu no parapeito da trincheira e gritou: 
- Feliz Natal, Tommy. 
É claro que nossos rapazes responderam: 
- Se ele pode fazer isso, nós também podemos. 
Mas um dos sargentos ajudantes ordenou que descêssemos: 
- Calma, sargento, é Natal – respondemos. 
Avançamos todos para a barricada de arame farpado. Mal 
conseguimos nos aproximar deles, pois a barricada não era composta 
apenas por uma cerca, mas por duas ou três, emaranhadas com fios 
de arame passando pelo centro. Apenas nos cumprimentamos, e tive 
a chance de falar com um alemão. 
- Você sabe onde fica a estrada Essex, em Londres? – Perguntou ele. 
- Sim, meus tios tem uma loja de conserto de sapatos lá – respondi. 
- Que coincidência! Eu trabalhei na barbearia do outro lado da rua. 
Todos eles falavam bem o inglês, pois, antes da guerra, a Inglaterra 
era invadida pelos alemães. Todo comerciante de carne de porco era 
alemão, todo barbeiro era alemão, e eles ficaram todos aqui colhendo 
informações vitais sobre o país. É irônico quando você pensa na ideia 
de que ele pode ter barbeado meu tio algumas vezes e que, no entanto, 
minha bala poderia ter acabado com a vida dele, e a dele com a minha. 
O fato é que os oficiais acabaram ordenando: 
- Nada de confraternização. 
Depois, deram as costas e se retiraram. Nem tentaram parar, pois 
sabiam que não conseguiriam. Não falamos uma vez sequer sobre a 
guerra com os alemães. Falamos sobre nossas famílias, a idade que 
tínhamos e quanto tempo achávamos que a guerra duraria, coisas 
desse tipo. Eu era jovem e não estava tão interessado em conversar 
com eles. Fiquei por lá cerca de meia hora e voltei. A maioria dos 
rapazes permaneceu lá o dia inteiro, só voltando à noite. Ninguém deu 
um tiro sequer, e alguns soldados satisfizeram a curiosidade de 
conhecer a terra de ninguém por onde circularam. Era bom circular por 
ali despreocupadamente. 
Uma das batalhas que marcou a Primeira Guerra Mundial aconteceu em 
abril de 1915, e ficou conhecidacomo Segunda Batalha de Ypres. Nela, o 
exército alemão utilizou pela primeira vez de gás cloro na Frente Ocidental, com 
o intuito de penetrar trincheiras inimigas. A partir desse momento, vários tipos de 
gases venenosos passaram a ser usados de ambos os lados. Juntamente com 
os gases, foram desenvolvidos também tanques pelos aliados para penetrar as 
trincheiras da Tríplice Entente. 
Apesar das novas táticas de guerra no campo de batalha, Gilbert aponta 
(2017, p. 11): 
Entre 1914 e 1918, desenrolaram-se duas guerras muito diferentes. A 
primeira foi uma guerra de tropas de Infantaria, Marinha e Força Aérea, 
de marinheiros da Marinha Mercante e de populações civis sob 
ocupação, em que o sofrimento individual e a angústia atingiram uma 
escala enorme, em particular nas trincheiras da linha de frente. A 
segunda foi uma guerra de gabinetes de guerra e de soberanos, de 
propagandistas e idealistas, repleta de ambições e ideais políticos e 
territoriais, que determinaram o futuro dos impérios, nações e povos, 
de modo tão contundente quanto no campo de batalha. 
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TEMA 4 – A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 
Durante a Primeira Guerra Mundial, a Rússia passou por grandes 
transformações. Desde o século XIX, seus trabalhadores rurais viviam em um 
sistema de produção feudal, com o qual a população estava descontente. Em 
1861, o czar Alexandre II aboliu a servidão e realizou a reforma agrária. Quando 
Nicolau II assume o poder, o processo de industrialização cresce, porém, as 
condições de vida da população permanecem inalteradas. Durante a guerra, a 
Rússia sofreu várias derrotas, o que fez com que a população ficasse ainda mais 
descontente. A fome também era um grande problema no país, intensificada pela 
crise de abastecimento gerada pelas perdas em combate. 
O Partido Social Democrata, que fazia oposição ao czar, se fragmentou 
em duas correntes: os bolcheviques e os mencheviques. Seus membros foram 
responsáveis por deflagrar um movimento revolucionário no país, que levou os 
bolcheviques ao poder. Os russos passaram a adotar um sistema econômico 
socialista. Segundo Hobsbawm (2015, p. 184): 
Onde quer que a política democrática e eleitoral o permitisse, 
apareciam em cena, crescendo com rapidez assustadora, os partidos 
de massa vindo da classe operária, em sua maior parte inspirados na 
ideologia do socialismo revolucionário (pois todo socialismo era, por 
definição, considerado revolucionário) e liderados por homens – e às 
vezes por mulheres – que acreditavam nessa ideologia. 
Em 1917, o czar Nicolau II abdicou ao trono, após várias greves e 
conflitos. Ele e toda a sua família foram assassinados pelo novo governo. 
Também em 1917 a Rússia se retirou da Primeira Guerra Mundial: 
Se havia um Estado onde se acreditava que a revolução fosse não só 
desejável como inevitável, era o Império dos Czares. Gigantesco, 
pesado e ineficiente, econômica e tecnologicamente atrasado, com 
126 milhões de habitantes (1897), 80% dos camponeses e 1% da 
nobreza hereditária, ele era organizado de uma forma que todos os 
europeus instruídos consideravam francamente pré-histórica no fim do 
século XIX: a autocracia burocrática. Esse mesmo fato tornou a 
revolução o único método passível de mudar a política do Estado que 
não fosse dar um puxão de orelhas no czar ou fazer a máquina estatal 
se movimentar de cima para baixo: poucas pessoas poderiam optar 
pela primeira possibilidade, e ela não implicava necessariamente a 
segunda. Como havia a consciência quase universal da necessidade 
de um tipo ou outro de mudança, praticamente todos – desde os que 
no Ocidente teriam sido chamados de conservadores moderados até a 
extrema esquerda – eram obrigados a ser revolucionários. 
(Hobsbawm, 2015, p. 445) 
 
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TEMA 5 – O FINAL DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL 
Com a saída da Rússia, a Tríplice Entente ficou desfalcada. Em 1917, os 
Estados Unidos se juntam à Grã-Bretanha e à França na Primeira Guerra 
Mundial. O país foi responsável pelo envio de soldados, tanques, aviões e navios 
que contribuíram para o final da guerra. 
Com as novas tecnologias desenvolvidas no curso das batalhas, a Tríplice 
Entente conseguiu penetrar as trincheiras da Tríplice Aliança, forçando uma 
rendição em 1918. O conflito armado, que durou cerca de quatro anos, só teve 
um fim em 1919, com a assinatura do Tratado de Versalhes. “Na Primeira Guerra 
Mundial morreram mais de 9 milhões de soldados da Infantaria, da Marinha e da 
Força Aérea. Calcula-se que morreram também 5 milhões de civis em 
consequência da ocupação, de bombardeios, fome e doenças” (Gilbert, 2017, p. 
11). O Império Austro-Húngaro e o Império Otomano foram extintos, e todo o 
mapa europeu foi redesenhado. Por esse motivo, a Primeira Guerra Mundial 
ficou também conhecida como a grande guerra. 
NA PRÁTICA 
 Observe o que foi escrito por Martin Gilbert (2017, p. 18): 
Para alguns, foi uma guerra para castigar e punir. Para outros, tornou-
se a guerra que acabaria com todas as guerras. O nome que recebeu 
por algum tempo, Grande Guerra, indicava sua escala sem 
precedentes. Contudo, foi seguida por uma segunda guerra ainda mais 
destrutiva e por outras guerras “menores” por todo o mundo. 
Com os conhecimentos que obteve durante essa aula produza um texto 
que contemple os seguintes pontos: 
 O que ocasionou a Primeira Guerra Mundial? 
 Qual a relação entre o imperialismo e a Primeira Guerra Mundial? 
 Por que esse conflito foi chamado de Grande Guerra? 
FINALIZANDO 
 Nesta aula, observamos como as políticas imperialistas foram capazes de 
forjar alianças que perduraram durante a Primeira Guerra Mundial. Também 
vimos que suas disputas foram capazes de produzir um conflito que resultou em, 
mais ou menos, 15 milhões de mortos. Por esse motivo, salienta-se, novamente, 
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que é imprescindível compreender o imperialismo para compreender a Primeira 
Guerra Mundial. 
 
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REFERÊNCIAS 
AMIN, S. A crise do imperialismo. Rio de Janeiro: Graal, 1977. 
_____. O imperialismo, passado e presente. Tempo, Rio de Janeiro, n. 18, p. 77-
123, mar. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tem/v9n18/v9n18a05>. 
Acesso em: 30 maio 2019. 
ARTHUR, M. Vozes esquecidas da primeira guerra mundial. Rio de janeiro: 
Bertrand Brasil, 2011. 
BERSTEIN, S.; MILZA, P. História do século XX. Volume 1: 1900-1945 – o fim 
do mundo europeu. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007. 
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. Brasília: 
Ed. Universidade de Brasília, 1998. 
GILBERT, M. A Primeira Guerra Mundial. Rio de janeiro: Casa da Palavra, 
2017. 
HOBSBAWM, E. A era dos impérios 1875-1914. São Paulo: Paz & Terra, 2015. 
TRAGTENBERG, M. A revolução russa. São Paulo: Ed. Unesp, 2007. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Após a Primeira Guerra Mundial, muitas mudanças ocorreram ao redor do 
mundo. Essas mudanças serão o tema central de nossa aula, entre elas a 
ascensão do fascismo, do nazismo e de outros totalitarismos. Objetiva-se que, 
ao final das seguintes leituras, seja possível compreender como se encontrava 
o mundo no período entre guerras, para que possamos, mais tarde, compreender 
também como se deu a eclosão de mais uma guerra mundial. 
TEMA 1 – O QUE É FASCISMO? 
 No período entre guerras, o continente europeu enfrentou grandes taxas 
de desemprego. A superprodução industrial, baseada em políticas liberais, fazia 
com que os estoques de produtos aumentassem e, consequentemente, 
ocasionava queda de preços, redução de lucros e mais desemprego.Na esteira 
desses acontecimentos foram surgindo por toda a Europa movimentos que 
prometiam sanar os problemas ocasionados pela Primeira Guerra Mundial. Um 
desses movimentos foi o fascismo. 
Para que possamos compreender o fascismo de maneira mais 
aprofundada, utilizaremos, novamente, o Dicionário de Política, escrito por 
Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 466): 
Na já vastíssima literatura referente ao fascismo é normal depararmos 
com definições diversas e frequentemente contraditórias deste 
conceito. A multiplicidade de definições é demonstrativa não só pela 
real complexidade do objeto estudado, como também pela pluralidade 
de enfoques, cada um dos quais acentua, de preferência, um ou outro 
traço considerado particularmente significativo para a descrição ou 
explicação do fenômeno. 
Segundo os autores, é possível distinguir três usos ou significados do 
termo fascismo: a) o que faz referência ao núcleo histórico original, constituído 
pelo fascismo italiano em sua historicidade específica; b) o que está ligado à 
dimensão internacional que o fascismo alcançou; c) o que estende o termo a 
todos os movimentos ou regimes que compartilham com aquele que foi definido 
como fascismo histórico (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 466). 
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Trataremos aqui do fascismo histórico, que se desenvolveu na Europa 
entre os anos de 1919 e 1945 e é representado pelo fascismo italiano. Observa-
se ainda que (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 466): 
Em geral, se entende por fascismo um sistema autoritário de 
dominação que é caracterizado: pela monopolização da representação 
política por parte de um partido único de massa, hierarquicamente 
organizado; por uma ideologia fundada no culto do chefe, na exaltação 
da coletividade nacional, no desprezo dos valores do individualismo 
liberal e no ideal da colaboração de classes, em oposição frontal ao 
socialismo e ao comunismo, dentro de um sistema de tipo corporativo; 
por objetivos de expansão imperialista, a alcançar em nome da luta das 
nações pobres contra as potências plutocráticas; pela mobilização das 
massas e pelo seu enquadramento em organizações tendentes a uma 
socialização política planificada, funcional ao regime; pelo 
aniquilamento das oposições, mediante o uso da violência e do terror; 
por um aparelho de propaganda baseado no controle das informações 
e dos meios de comunicação de massa; por um crescente dirigismo 
estatal no âmbito de uma economia que continua a ser, 
fundamentalmente, de tipo privado; pela tentativa de integrar nas 
estruturas de controle do partido ou do estado, de acordo com uma 
lógica totalitária, a totalidade das relações econômicas, sociais, 
políticas e culturais. 
Foi a partir das políticas imperialistas e sua partilha do mundo que a 
burguesia viu a necessidade de exercer um controle maior sobre os 
trabalhadores. O final da Primeira Guerra Mundial ocasionou uma grande crise 
do sistema capitalista, que se alastrou pelo mundo e forçou os Estados a se 
reorganizarem. É nesse contexto que vemos emergir o fascismo italiano, a partir 
do qual, em 1920, as forças reacionárias da burguesia se colocam como um 
elemento organizador das massas. Segundo Blinkhorn (2010, p. 25): 
Nos anos finais do século XIX e nos primeiros anos do XX, a maioria 
dos países europeus com sistema política parlamentar testemunhou o 
surgimento de grupos culturais e políticos hostis aos mecanismos do 
liberalismo parlamentar e aos princípios de tolerância e pluralismo que 
estavam por trás dele. A Itália não era exceção. 
O termo fascismo se origina na palavra, de origem italiana, fascio, que 
pode ser traduzida como “feixe”. Os feixes de lenha amarrados eram um símbolo 
utilizado durante a Roma antiga, que significavam união. Essa simbologia podia 
ser entendida na analogia de que os galhos ou feixes sozinhos podem ser 
facilmente quebrados, porém, quando unidos, formam uma massa coesa e 
resistente. O responsável por resgatar esse símbolo da Roma antiga foi Benito 
Mussolini, que o utilizou como representação do partido nacional fascista, 
fundado em 1921, na Itália. 
Mussolini também foi o responsável pela fundação do movimento fascista 
italiano, em março de 1919, durante uma reunião feita em Milão. Esse 
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movimento era organizado como uma associação nacionalista, formado por 
veteranos de guerra, e foi chamado de fascio di combattimento (Trento, 1993, p. 
16): 
O fascismo nasceu oficialmente em março de 1919, quando Mussolini 
fundou o fascio di combattimento, em Milão, com um programa de 
nacionalismo, ataque à classe liberal, republicanismo, anticlericalismo 
e anseios de renovação social, encarnando, assim, as posições de 
uma pequena burguesia irrequieta e, principalmente, dos ex-
combatentes”. 
Foi em 1921 que os fascistas deram início ao desenvolvimento de um 
programa que pregava a separação da igreja e do Estado, a formação de um 
exército nacional, e o desenvolvimento de cooperativas. Mesmo com as 
privatizações de indústrias e a premissa de que os proprietários de empresas 
eram livres para desenvolver suas produções, a atividade econômica era 
controlada pelo Estado. Dessa forma, a privatização não foi capaz de minar as 
intervenções do Estado na economia. Também foi em 1921 que o partido 
nacional fascista conseguiu 35 assentos na eleição do parlamento italiano. 
Ainda sobre a experiência fascista na Itália, é possível observar que esse 
movimento político autoritário era contrário tanto à revolução bolchevique, 
ocorrida na Rússia em 1917, quanto às medidas liberais adotas 
economicamente, que encareciam o preço dos produtos e geravam 
desemprego. Representou uma reação aos movimentos de esquerda, e pode 
ser compreendido também como uma resposta ao clima de fatalidades e medo 
que se abateu sobre a classe-média na Europa no pós Primeira Guerra Mundial. 
Em linhas gerais, o movimento fascista ofereceu uma terceira via aos 
cidadãos italianos, que estavam descrentes tanto das políticas de esquerda 
quanto das políticas capitalistas liberais vigentes no período (Togliatti, 1978, p. 
3): 
Vejamos a posição que tinham os socialdemocratas alemães quanto à 
definição de fascismo. Eles diziam que o fascismo toma o poder da 
grande burguesia e o passa a pequena burguesia, que em seguida o 
utiliza também contra a primeira. Era uma afirmação falsa, da qual 
derivava inevitavelmente uma falsa orientação política. Pode-se 
encontrar essa afirmação em todos os escritos dos ‘direitistas’. A este 
respeito eu queria também os advertir contra uma outra definição: 
cuidado quando ouvirem falar do fascismo como “bonapartismo”. Essa 
afirmação, que é o cavalo de batalha do trotskismo, é tirada de certas 
afirmações de Marx no 18 brumário, etc., e de Engels. Mas as análises 
de Marx e Engels, se eram boas para aquele tempo, para a época de 
desenvolvimento do capitalismo tornam-se falsas se aplicadas 
mecanicamente hoje, no período do imperialismo. Que resulta desta 
definição do fascismo como “bonapartismo”? A consequência é que 
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não é a burguesia quem dirige, e sim Mussolini, e sim os generais, que 
arrebatarão o poder, inclusive à burguesia. 
Benito Mussolini foi creditado por explorar os medos da população italiana 
relacionados à depressão do capitalismo, ao surgimento de uma esquerda 
militante influenciada pela revolução russa, e um sentimento de vergonha pelos 
resultados da primeira guerra mundial, que deram uma vitória fracionada à Itália 
por meio de tratados de paz. Para Hannah Arendt (2013, p. 398), os líderes 
totalitários, como Mussolini, “cuidam de algo que está acima de quaisquer 
considerações utilitárias: fazer com que as suas predições se tornem 
verdadeiras”. 
Em outubro de 1922, o movimentofascista, por meio de sua força 
miliciana conhecida como “camisas negras”, marchou sobre a capital italiana, 
Roma, exigindo que o rei Vitor Emanuel III abdicasse ao trono e desse poder 
para o partido nacional fascista. Dessa forma, o partido fascista ganhou 
notoriedade entre a população, o que pressionou o rei a chamar Benito Mussolini 
para compor o governo italiano. 
Nas eleições de 1924, o Partido Nacional Fascista ocupava a maioria das 
cadeiras no parlamento. A oposição socialista, que denunciava fraudes 
eleitorais, teve a perda de Giacomo Matteotti, que foi assassinado em resposta 
às denúncias. Foi a partir desse momento que o poder legislativo na Itália 
começou a se enfraquecer. O partido nacional fascista passou a defender que a 
liderança de Mussolini sobre a Itália resolveria a crise que se alastrou pelo país. 
Em 1926, Benito Mussolini sofreu um atentado que resultou em um Estado 
fascista ainda mais consolidado. O novo líder propagava um grande apelo aos 
jovens e também à família, o que resultou em grande apoio populacional à figura 
de Mussolini. Segundo Blinkhorn (2010, p. 41): 
O movimento fascista italiano de 1920-1922, nunca é demais enfatizar, 
não tinha precedentes próximos nem paralelos contemporâneos, fosse 
na Itália ou em qualquer outro país da Europa. É verdade que muitos 
países europeus, imediatamente após a primeira guerra mundial, 
assistiram à formação de organizações antissocialistas e 
antidemocráticas de direita, frequentemente de cunho paramilitar. A 
maioria não conseguiu causar muito impacto ou, como o nacional-
socialismo alemão, demorou anos para obter algum êxito. 
A partir desse momento, os órgãos da imprensa italiana foram censurados 
e fechados. Os partidos políticos foram considerados ilegais, exceto pelo Partido 
Nacional Fascista. O novo regime legalizou a pena de morte. Muitos civis 
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também foram presos ou deportados. Instaura-se assim a ditadura de Benito 
Mussolini. 
No tocante à separação entre Estado e Igreja, é necessário observar o 
Tratado de Latrão, firmado em 1929 pela Itália e pela Santa Sé Católica, por 
meio do qual ficou concedida soberania do papa sobre a cidade do Vaticano e a 
garantia do catolicismo como religião oficial italiana, em troca de aceitação da 
soberania do novo Estado fascista italiano. 
TEMA 2 – O QUE É NAZISMO? 
Outro movimento que surgiu na Europa após a primeira guerra mundial 
foi o nazismo. É necessário destacar que o fascismo e o nazismo apresentam 
características semelhantes, mas é possível delimitá-los a partir de suas 
experiências históricas. Vê-se então que o que chamamos de nazismo é um 
termo derivado do nacional-socialismo, regime implantado na Alemanha, no pós 
Primeira Guerra Mundial. Sobre esse termo, é possível observar (Bobbio; 
Matteucci; Pasquino, 1998, p. 806-7): 
O termo nacional-socialismo possui inúmeros significados e diferentes 
conotações. No seu sentido mais geral tem sido usado, há mais de um 
século, por vários movimentos e ideologias políticas, defensores de um 
tipo de socialismo diferente do socialismo internacionalista e marxista, 
ou até contrários a ele. Por um lado, o nacionalismo nasceu no século 
XIX, como reação à sociedade industrial e à emancipação liberal. Por 
outro, os movimentos nacionalistas nos países em desenvolvimento, 
sobretudo nos estados árabes (socialismo árabe), defenderam, até o 
presente momento, formas novas de nacional-socialismo, como 
alternativa ao feudalismo e ao colonialismo. Em todos estes exemplos, 
todavia, qualquer uso que se faça do termo ficará praticamente 
abandona- do ou provocará mais confusão uma vez que o nacional-
socialismo, como fenômeno político de dimensões históricas mundiais, 
indica sobretudo o movimento político alemão, fundado e guiado por 
Adolf Hitler após a Primeira Guerra Mundial, polemicamente conhecido 
pelo diminutivo de nazismo. 
Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 807)) alertam que, para se 
compreender o nacional-socialismo, é necessário observar dois níveis principais. 
O primeiro se relaciona com a reação às consequências da primeira guerra 
mundial. Porém, é possível ver que o nacional-socialismo também é: 
Resultado de tendências e ideias bem mais antigas, relacionadas com 
a problemática da unificação política e da modernização social — 
problemática que dominou o desenvolvimento alemão desde o começo 
do século XIX. Sem dúvida foram a inesperada derrota de 1918 e suas 
trágicas consequências — quer materiais quer psicológicas — que 
tornaram possível a fundação e a ascensão política do nacional-
socialismo. Porém, ao mesmo tempo, é importante considerar o fato 
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de que as tendências e as ideias políticas fundamentais do nacional-
socialismo nasceram muito antes de 1918 e da guerra, e que o 
nacional-socialismo é bem mais do que um simples movimento de 
protesto pós-guerra, dirigido por um eficiente agitador de massas como 
o foi Hitler. 
Sendo assim, podemos definir o nacional-socialismo a partir de nove 
palavras-chave: nação, raça, espaço vital, comunidade do povo, liderança, ação, 
autoridade, sangue e terra, frente e batalha. Também pode ser definido como 
“movimento hitleriano”, do mesmo modo que o fascismo pode ser definido como 
mussolinismo. Observa-se então que (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 
807): 
As raízes ideológicas do nacional-socialismo, em decorrência dos 
acontecimentos históricos alemães do século XIX, encontram-se 
estritamente ligadas às três fases mais importantes da caminhada da 
Alemanha em direção ao sonhado estado nacional: a reação 
nacionalista à ocupação napoleônica (1806-1815); a falência da 
revolução liberal de 1848; a solução conservadora e militar do 
problema alemão, durante o governo de Bismarck, a partir de 1871. Na 
medida em que progredia o complexo processo da unificação política 
e da modernização, a ideia nacionalista alemã experimentou um 
desenvolvimento todo especial chegando a se sobrepor aos ideais 
liberais e constitucionais. A ‘nação tardia’ tinha a sensação de ser a 
última a chegar entre os estados europeus, pronta, porém, para se 
adequar ao imperialismo e ao colonialismo da época. Em um contexto 
muito parecido com o italiano, estes sentimentos nacional-imperiais 
preparavam o caminho para os movimentos pré-fascistas já bem antes 
da primeira guerra mundial. No caso alemão, uma antiga tradição 
acerca da singular missão da Alemanha no contexto europeu e no 
mundo, conforme o que defendia o filósofo Fichte (1810), coincidiu com 
a reivindicação da concretização de um império pangermânico que 
compreenderia não apenas a Áustria e demais territórios de língua 
alemã, mas que iria ser reconhecido como potência hegemônica da 
Europa central. As ideias pangermânicas e hegemônicas dominaram 
todos os movimentos que visavam anexações de territórios na primeira 
guerra mundial. A derrota destas ideias em 1918, nunca aceita pelos 
partidos de direita da república de Weimar, levou à formação de grupos 
radicais antidemocráticos e revisionistas; um deles foi o ‘deutsche 
arbeiterpartei’ que em 1920 tornar-se-á o ‘national sozialistische 
deutsche arbeiterpartei’ (n.s.d.a.p.). Uma característica básica deste 
partido foi a continuidade das ideias que dominaram o período pré-
bélico; porém, a experiência da derrota na guerra e a crise da república 
democrática aumentaram a força de sua influência na opinião pública 
alemã politizada. 
O Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial, gerou 
um grande descontentamento na população alemã. A carreira de Hitler, que viria 
a se tornar o grande líder da Alemanha nazista, iniciou-se com discursos 
inflamados contra a “escravização” da Alemanha pelo Tratado de Versalhes 
(Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 808). Também se observa, antes mesmo 
do tratado, que a expansãoda Alemanha durante o imperialismo foi 
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fundamentada nas qualidades da raça germânica ou nórdica. Dessa forma 
(Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 809): 
A ascensão do nacional-socialismo (1919-1933) foi possível graças à 
conjugação dos defeitos da política alemã, desde os primórdios do 
século XIX, com as raízes fatídicas e a história repleta de crises da 
república de Weimar. A democracia de 1918 foi considerada 
responsável pelas consequências da derrota na primeira guerra 
mundial. O novo governo se tornou o bode expiatório e o objeto do ódio 
das forças da restauração e da reação no estado e na sociedade, bem 
como dos movimentos revolucionários ditatoriais reunidos nos 
belicosos freikorps, em seitas populares antissemitas e em 
organizações paramilitares. O "espantalho vermelho" da revolução 
comunista completou a tarefa de tornar exército e burocracia, classe 
média e patrões, fácil conquista de tais sentimentos. As forças 
democráticas estenderam a seus inimigos a tolerância de um sistema 
jurídico constitucional. Além disso, o desejo difuso de autoridade 
próprio de um estado autoritário e burocrático acabou provocando 
sérios problemas organizacionais no interior da república. 
Segundo Hannah Arendt (2013, p. 391): 
Nos territórios ocupados da Europa oriental, os nazistas se utilizaram, 
no início, de propaganda antissemita principalmente para assegurar 
um controle mais firme da população. Não precisaram lançar mão do 
terror para nele apoiar a sua propaganda, nem o fizeram. Quando 
liquidaram a maioria dos intelectuais poloneses, não o fizeram devido 
à sua oposição, mas porque, segundo a doutrina nazista, os poloneses 
não tinham intelecto; e, quando planejaram levar para a Alemanha as 
crianças de olhos azuis e cabelos louros, não pretendiam com isso 
aterrorizar a população, mas apenas salvar ‘o sangue germânico’. 
Para os autores Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 810), os 
elementos que constituem o nazismo fizeram com que esse movimento 
conseguisse harmonizar-se com a situação alemã, configurando-se como um 
fenômeno mais difícil de ser exportado do que o fascismo italiano. Soma-se a 
isso a veneração quase religiosa do Führer (Hitler). 
Ao centro de tudo encontrava-se a figura de Adolf Hitler. Em termos de 
psicologia social, ele representa o homem comum, em posição de 
subordinação, ansioso para compensar seus sentimentos de 
inferioridade através da militância e do radicalismo político. Seu 
nascimento na Áustria, seu fracasso na escola e na profissão e a 
experiência libertadora da camaradagem masculina durante a guerra, 
forjaram, ao mesmo tempo, sua vida e a ideologia do nacional-
socialismo. 
Destaca-se ainda que o nacional-socialismo “se estruturava com base 
num darwinismo social nacionalista, racista e muito simplificado, tornado popular 
pelos escritos de radicais sectários” (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 810). 
Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 810) afirmam “as doutrinas militaristas e 
racistas foram os instrumentos utilizados para enganar e conquistar a 
população”. No regime nacional-socialista (1933-1945): 
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A ‘tomada do poder’ se deu com pleno sucesso no período de cinco 
meses, e com muito maior definição do que aconteceu na Itália fascista 
onde o processo levou seis anos. O sistema totalitário com um partido 
único e com um único líder foi definitivamente implantado no verão de 
1934, quando Hitler, através de expurgos sangrentos dentro do partido 
(e das organizações militares do partido, as SA), conseguiu o apoio 
total do exército e se nomeou, após a morte do presidente Hindenburg, 
chefe do estado, chanceler, líder do partido e da nação, ditador único 
da Alemanha. 
Infere-se, portanto, que o nazismo foi uma ideologia de extrema-direita, e 
assim como o fascismo, utilizava-se do nacionalismo e do anticomunismo. Ainda 
assim, apresenta algumas características singulares, entre elas: o racismo 
científico, o antissemitismo, a hierarquia racial e a ideia de que a “raça” ariana 
seria superior. A implantação do nazismo se deu pelo Partido Nacional Socialista 
dos Trabalhadores Alemães, fundado em 1919, rebatizado por Hitler de Partido 
Nazista na década de 1920. 
TEMA 3 – TOTALITARISMO 
Os movimentos fascista e nazista fazem parte também do conjunto de 
movimentos totalitários que surgiram após a Primeira Guerra Mundial. “Na Itália, 
começou-se a falar de estado ‘totalitário’ por volta da metade da década de 20 
para significar, no nível de avaliação, as características do estado fascista em 
oposição ao estado liberal” (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 1247). É 
nesse contexto que “a expressão (totalitarismo) começava a ser usada para 
designar todas as ditaduras monopartidárias, abrangendo tanto as fascistas 
quanto as comunistas” (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 1247). 
Segundo H. Arendt, o totalitarismo é uma forma de domínio 
radicalmente nova porque não se limita a destruir as capacidades 
políticas do homem, isolando-o em relação à vida pública, como faziam 
as velhas tiranias e os velhos despotismos, mas tende a destruir os 
próprios grupos e instituições que formam o tecido das relações 
privadas do homem, tornando-o estranho assim ao mundo e privando-
o até de seu próprio eu. (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, P. 1248) 
Etimologicamente, o totalitarismo significa poder político total. É um 
sistema político em que o Estado regula todos os aspectos da vida de sua 
população, exercendo controle na vida pública e na organização da vida privada. 
O totalitarismo pressupõe ideologias, difundidas pela propaganda, capazes de 
organizar os cidadãos. Hannah Arendt aponta (2013, p. 390): 
A ralé e a elite podem ser atraídas pelo ímpeto do totalitarismo; as 
massas têm de ser conquistadas por meio da propaganda. Sob um 
governo constitucional e havendo liberdade de opinião, os movimentos 
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totalitários que lutam pelo poder podem usar o terror somente até certo 
ponto e, como qualquer outro partido, necessitam granjear aderentes 
e parecer plausíveis aos olhos de um público que ainda não está 
rigorosamente isolado de todas as outras fontes de informação. Nos 
países totalitários, a propaganda e o terror parecem ser duas faces da 
mesma moeda. 
Também conseguimos observar que os regimes totalitários se estruturam 
em torno de um partido e líder único. Nesse sistema político, a regulação da 
economia se dá por meio de decretos, por meio dos quais a população perde 
seu direito de interferir nas decisões do Estado (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 
1998, p. 1248): 
O terror total que arregimenta as massas de indivíduos isolados e as 
sustenta num mundo que, segundo elas, se tornou deserto torna-se 
por isso um instrumento permanente de governo e constitui a própria 
essência do totalitarismo, enquanto a lógica dedutiva e coercitiva da 
ideologia é seu princípio de ação. Ou seja, o princípio que o faz mover. 
Ao redor do mundo, surgiram regimes totalitaristas, tanto de esquerda 
quanto de direita. Para exemplificar essa ideia, é possível citar o regime de 
esquerda stalinista, organizado em torno da figura de Josef Stálin na URSS, e o 
regime de direita franquista na Espanha, que tinha como líder Francisco Franco. 
Segundo Braick e Motta (2007, p. 562): 
O totalitarismo era um regime político que se caracterizava pela 
máxima intervenção do governo na sociedade. As relações sociais 
eram reguladas pelo estado e o cotidiano era rigidamente policiado, 
uma das marcas do terror. A propaganda ideológica era intensa e todos 
os meios de comunicação eram fortemente controlados. Outra 
característica marcante do totalitarismo era o partido único; outras 
posições políticas não eram aceitas, senão a predominante, e os 
opositoreseram perseguidos como inimigos nacionais. 
Arendt (2013, p. 398-9) aponta ainda que, apesar da propaganda em torno 
do líder, que passava uma ideia de chefe canônico, foi deixado claro para as 
populações suas verdadeiras intenções: 
O exemplo mais famoso é o anúncio que Hitler fez ao Reichstag 
alemão em janeiro de 1939: ‘desejo hoje mais uma vez fazer uma 
profecia: caso os financistas judeus [...] Consigam novamente arrastar 
os povos a uma guerra mundial o resultado será [...] A aniquilação da 
raça judaica na Europa’. Traduzido em linguagem não-totalitária, isso 
significa: pretendo travar uma guerra e pretendo matar os judeus da 
Europa. Da mesma forma, Stálin, no discurso proferido perante o 
comitê central do partido comunista em 1930, ao descrever os seus 
dissidentes no partido como representantes de ‘classes agonizantes’, 
abriu o caminho para a sua eliminação física. Em estilo totalitário, essa 
definição anunciava a destruição física daqueles cuja ‘agonia’ acabava 
de ser profetizada. Em ambos os casos, consegue-se o mesmo 
objetivo: o extermínio vira processo histórico no qual o homem apenas 
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faz ou sofre aquilo que, de acordo com leis imutáveis, sucederia de 
qualquer modo. 
Sobre a história do stalinismo, podemos perceber que, após a Revolução 
Russa de 1917 e a tomada de poder pelos bolcheviques, Lênin assumiu o poder 
na agora chamada URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Após 
sua morte em janeiro de 1924, vários membros do partido passaram a disputar 
o poder. O vitorioso foi Josef Stálin, que consolidou sua posição como líder da 
Rússia construindo uma poderosa indústria militar, que censurava e perseguia 
opositores ao passo que difundia, através da propaganda, a ideia de culto à sua 
personalidade. 
Quando Stálin decidiu reescrever a história da Revolução Russa, a 
propaganda da sua nova versão consistiu em destruir, juntamente com 
os livros e documentos, os seus autores e leitores: a publicação, em 
1938, da nova história oficial do partido comunista assinalou o fim do 
superexpurgo que havia dizimado toda uma geração de intelectuais 
soviéticos. (Arendt, 2013, p. 391) 
Sobre o franquismo, é possível observar que se baseava na figura de 
Franco, ditador que assumiu o poder na Espanha após a guerra civil que assolou 
o país (1936-1939). A guerra civil espanhola deixou mais ou menos 1 milhão de 
mortos e teve ajuda bélica da Itália e Alemanha. A guerra terminou com a vitória 
dos nacionalistas, que colocaram Francisco Franco como chefe do estado. O 
franquismo é um movimento baseado EM nacionalismo, autoritarismo, 
militarismo, anticomunismo e anti-anarquismo, que reprimia greves e opositores 
ao governo. 
TEMA 4 – A CRISE DE 1929 
A entrada tardia dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial trouxe 
muitos benefícios para o país. Seus territórios não foram afetados por 
bombardeios, e a população civil foi capaz de dar continuidade às atividades 
industriais. Por esses motivos, os EUA emergiram, logo após o término da 
guerra, como a grande potência mundial. O comércio de produtos industriais, 
bélicos e agrícolas, para os países mais devastados pelos conflitos, bem como 
a abertura de créditos e empréstimos a potências imperialistas, como Inglaterra 
e França, fizeram com que o país alavancasse sua economia. 
No final dos anos 1920, os EUA eram responsáveis por quase metade da 
produção industrial do globo, ao mesmo tempo em que se tornaram o principal 
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credor mundial. Porém, o livre desenvolvimento do comércio desenfreado 
provocou uma grande crise mundial que também afetou os Estados Unidos. 
A crise de 1929, também chamada de Grande Depressão, ocasionou, 
entre outros fatos históricos, a quebra da bolsa de Nova Iorque, que foi 
responsável pelo fechamento de várias indústrias e pelo aumento do 
desemprego. As tentativas de solucionar a crise foram variadas: o surgimento do 
fascismo italiano, do nazismo alemão e de outros regimes totalitaristas. No caso 
dos Estados Unidos, a medida adotada para conter a crise foi chamada de New 
Deal. 
TEMA 5 – NEW DEAL 
Entre os anos de 1933 e 1947, o presidente dos Estados Unidos, Franklin 
Delano Roosevelt, implementou uma série de medidas com o objetivo de superar 
as dificuldades econômicas. Essas medidas ficaram conhecidas como New 
Deal. 
O New Deal foi responsável por implementar um grande investimento em 
obras públicas, empregando vários trabalhadores atingidos pela Grande 
Depressão. Entre as obras construídas, é possível citar a construção de escolas, 
hospitais e aeroportos. Para criar novos postos de trabalho, a jornada de trabalho 
também foi diminuída, contando agora com um salário mínimo estipulado para 
cada trabalhador. 
Para solucionar a queda dos preços na área agrícola, foram destruídos 
estoques de produtos. Dessa forma, a oferta e a procura se estabilizaram, 
fazendo com que os preços se normalizassem. 
O New Deal também foi responsável por estabelecer uma maior 
intervenção do Estado na economia, fazendo com que o governo tivesse controle 
sobre bancos e setores industriais. Os sindicatos foram incentivados, a fim de 
obter melhores diálogo com os trabalhadores. Essas medidas foram 
responsáveis por reformular o sistema econômico norte-americano e conter a 
crise de 1929 nos Estados Unidos. 
 
 
 
 
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NA PRÁTICA 
 Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 1248) afirmaram sobre o 
totalitarismo: 
O terror total que arregimenta as massas de indivíduos isolados e as 
sustenta num mundo que, segundo elas, se tornou deserto torna-se 
por isso um instrumento permanente de governo e constitui a própria 
essência do totalitarismo, enquanto a lógica dedutiva e coercitiva da 
ideologia é seu princípio de ação. Ou seja, o princípio que o faz mover. 
 Com base nessa afirmação e nos conhecimentos que obteve durante a 
aula, responda as seguintes questões: 
• O que foi o fascismo? 
• O que foi o nazismo? 
• Como podemos diferenciar esses dois movimentos? 
• Que motivos implicaram na ascensão de totalitarismos no período entre 
guerras? 
FINALIZANDO 
Concluímos, nesta aula, que os movimentos totalitários ganharam o 
continente europeu como uma resposta à crise que se alastrou pelo sistema 
capitalista. A diminuição do consumo e a devastação de territórios fizeram surgir 
novas formas de governo, contrárias às ideias democráticas e liberais. Esses 
movimentos foram imprescindíveis para o desenvolvimento da Segunda Guerra 
Mundial, tema de nossa próxima aula. 
 
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REFERÊNCIAS 
ARENDT, H. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 
2013. 
BERSTEIN, S.; MILZA, P. História do século XX. Volume 1: 1900-1945 – o fim 
do mundo europeu. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007. 
BLINKHORN, M. Mussolini e a Itália fascista. São Paulo: Editora Paz e Terra, 
2010. 
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. Brasília: 
Editora Universidade de Brasília, 1998. 
BRAICK, P. do C. R.; MOTA, M. B. História das cavernas ao terceiro milênio. 
São Paulo: Moderna, 2007. 
HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1996. 
TOGLIATTI, P. Lições sobre o fascismo. São Paulo: Livraria Editora Ciências 
Humanas, 1978. 
TRENTO, A. Fascismo italiano. São Paulo: Editora Ática, 1993. 
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CONVERSA INICIAL 
Nas aulas anteriores, compreendemos o Imperialismo, a Primeira Guerra 
Mundial e o período entre guerras. Seguindo uma linha cronológica, 
observaremos agora como se configurou a Segunda Guerra Mundial e quais 
foram seusprincipais acontecimentos. Espera-se que os alunos consigam 
estabelecer paralelos entre todos os acontecimentos mencionados, 
compreendendo os fatores históricos por meio do passado. 
TEMA 1 – O INÍCIO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL 
Há muitas relações entre as duas grandes guerras mundiais, como 
podemos constatar por meio dos escritos de Martin Gilbert (2017, p. 14): 
Quinze anos depois da minha visita ao local onde foi assassinado o 
arquiduque Franz Ferdinand , em Saraievo , onde se pode dizer que a 
Primeira Guerra Mundial teve início, dirigi-me a uma clareira no 
bosque, perto de Rethondes , na França , para ver uma réplica do 
vagão de trem no qual os alemães assinaram o armistício em 
novembro de 1918. Hitler insistiu em receber a rendição da França, em 
junho de 1940, no mesmo vagão. Há relações entre as duas guerras 
que nos trazem à lembrança que decorreram apenas 21 anos entre 
elas. Muitos daqueles que lutaram nas trincheiras na Primeira Guerra 
Mundial foram líderes na Segunda Guerra Mundial, como Hitler, 
Churchill e De Gaulle, ou comandantes, à semelhança de Rommel, 
Zhukov, Montgomery e Gamelin. Outros, como Ho Chi Minh, que se 
voluntariou para servir com os franceses como ordenança vietnamita 
na Primeira Guerra Mundial, e Harold Macmillan, que combateu e foi 
ferido na frente ocidental, destacaram-se depois da Segunda Guerra 
Mundial. 
Por esse motivo, para que se compreenda a Segunda Guerra Mundial, é 
necessário retornar alguns acontecimentos gerados após a Primeira Guerra 
Mundial. Como visto anteriormente, após 1914 a economia mundial passava por 
um grave enfraquecimento. A crise de 1929, também chamada de Grande 
Depressão, ocasionou, entre outros fatos históricos, a quebra da bolsa de Nova 
Iorque, responsável pelo fechamento de várias indústrias e pelo aumento do 
desemprego. As tentativas de solucionar a crise foram variadas: o surgimento do 
fascismo italiano, do nazismo alemão e de outros regimes totalitaristas. 
Os Estados Unidos, que havia emergido como grande potência, tampouco 
escaparam da Grande Depressão. Os norte-americanos, assim como os 
italianos e alemães, necessitavam de um plano para superar a crise que afetava 
sua população. Sendo assim, o presidente Franklin Delano Roosevelt 
implementou uma série de medidas, entre os anos de 1933 e 1937, com o 
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objetivo de superar as dificuldades econômicas. Essas medidas ficaram 
conhecidas como New Deal. O New Deal foi responsável por implementar uma 
forte intervenção do Estado na economia, a instauração de um salário mínimo, 
a diminuição da jornada de trabalho, grandes investimentos em obras públicas, 
a destruição de estoques agrícolas, e controle sobre os preços dos produtos. 
Essas medidas foram responsáveis por gerar diversos empregos, regular a 
economia e evitar a queda dos preços dos produtos. 
Dessa forma, todos os países envolvidos na Primeira Guerra Mundial 
buscavam, de alguma forma, fortalecer seu poder estatal, porém com ideologias 
diferentes. Por esse motivo, durante a Segunda Guerra Mundial (Bertonha, 2017, 
p. 150-1): 
As ideologias políticas tiveram um peso muito maior no segundo 
conflito mundial do que no primeiro. Houve, claro, massacres de civis 
entre 1914 e 1918 (sendo o principal o de armênios pelo Império turco-
otomano), mas, na Segunda Guerra, a distinção entre civis e militares 
ficou ainda mais fluida: o outro lado era o inimigo, a ser destruído 
completamente, fosse ele civil ou militar. Isso foi especialmente 
verdadeiro na frente oriental, na qual dois Estados (Alemanha e União 
Soviética) e duas ideologias (nazismo e comunismo) combateram até 
a morte, devastando todo o imenso território que vai de Berlim até 
Moscou. Sete milhões de soldados soviéticos morreram em combate, 
seis a oito milhões de civis soviéticos (vistos como uma “raça inferior”) 
foram mortos pelos alemães e outros dez milhões pereceram vitimados 
pela fome, excesso de trabalho e doenças. Na frente oriental, a 
distinção entre civis e militares quase desapareceu e, quando os 
soviéticos entraram na Alemanha, a vingança veio. 
O historiador Eric Hobsbawm (1996, p. 35-6), em seu livro Era dos 
extremos: o breve século XX, 1914-1991, escreveu sobre as origens da Segunda 
Guerra Mundial: 
As origens da Segunda Guerra Mundial produziram uma literatura 
histórica incomparavelmente menor sobre suas causas do que as da 
Primeira Guerra, e por um motivo óbvio. Com as mais raras exceções, 
nenhum historiador sério jamais duvidou de que a Alemanha, Japão e 
(mais hesitante) a Itália foram os agressores. Os Estados arrastados à 
guerra contra os três, capitalistas ou socialistas, não queriam o conflito, 
e a maioria fez o que pôde para evitá-lo. Em termos mais simples, a 
pergunta sobre quem ou o que causou a Segunda Guerra Mundial 
pode ser respondida em duas palavras: Adolf Hitler. As respostas a 
perguntas históricas não são, claro, tão simples(...). A insatisfação com 
o status quo não se restringia aos Estados derrotados, embora estes, 
notadamente a Alemanha, sentissem que tinham bastantes motivos 
para ressentimento, como de fato tinham. Todos os partidos na 
Alemanha, dos comunistas na extrema esquerda aos nacional-
socialistas de Hitler na extrema direita, combinavam-se na condenação 
do Tratado de Versalhes como injusto e inaceitável. Paradoxalmente, 
uma revolução alemã autêntica poderia ter produzido uma Alemanha 
menos explosiva no cenário internacional. Os dois países derrotados 
que foram de fato revolucionados, a Rússia e a Turquia, se achavam 
demasiado preocupados com suas próprias questões, incluindo a 
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defesa de suas fronteiras, para desestabilizar a situação internacional. 
Eram forças a favor da estabilidade na década de 1930, e na verdade 
a Turquia permaneceu neutra na Segunda Guerra Mundial. Contudo, 
tanto o Japão quanto a Itália, embora do lado vencedor da guerra, 
também se sentiam insatisfeitos, os japoneses com um realismo de 
certa forma maior que os italianos, cujos apetites imperiais excediam 
muitíssimo o poder de seu Estado independente para satisfazê-los. De 
qualquer modo, a Itália saíra da guerra com consideráveis ganhos 
territoriais nos Alpes, no Adriático e até mesmo no mar Egeu, mesmo 
não sendo aquele butim prometido ao Estado pelos aliados em troca 
da entrada ao lado deles em 1915. Contudo, o triunfo do fascismo, um 
movimento contra-revolucionário e, portanto, ultranacionalista e 
imperialista, sublinhou a insatisfação italiana [...]. Apesar disso, fosse 
qual fosse a instabilidade da paz pós-1918 e a probabilidade de seu 
colapso, é bastante inegável que o que causou concretamente a 
Segunda Guerra Mundial foi a agressão pelas três potências 
descontentes, ligadas por vários tratados desde meados da década de 
1930. 
No dia 1 de setembro de 1939, a Alemanha Nazista invadiu a Polônia, 
rejeitando totalmente o Tratado de Versalhes. Logo em seguida, os franceses e 
britânicos declararam guerra contra os alemães. Esse pode ser considerado o 
estopim para o início da Segunda Guerra Mundial. 
É básico explicar como e porque a ideologia nazista e seu militarismo 
e desejo de expansão conseguiram levar o mundo a uma guerra 
mundial. Se Hitler e o nazismo tivessem surgido, digamos, em um 
obscuro e pobre país africano, ele teria feito alguns terríveis massacres 
locais (como os de Ruanda, por exemplo) mas não mais que isso. O 
nazismo só conseguiu incendiar o mundo porque tinha a sua 
disposição os recursos econômicos e militares fornecidos por uma 
potência em ascensão, a Alemanha, que estava em ascensão 
justamente por processos – Revolução Industrial e tecnológica, 
desenvolvimento econômico e industrial acelerado, etc. – que vinham 
desde o século XIX. (Bertonha, 2017, p, 134) 
Porém, é necessário considerar que outros países já se encontravam em 
guerra, comoItália, China, Japão e Etiópia. Por esse motivo, é difícil precisar em 
que data específica a Segunda Guerra Mundial teve início; pode-se considerar a 
invasão da Alemanha à Polônia ou as guerras que já estavam sendo travadas 
por outros países. Segundo Hobsbawm (1996, p. 36): 
s marcos miliários na estrada para a guerra foram a invasão da 
Manchúria pelo Japão em 1931; a invasão da Etiópia pelos italianos 
em 1935; a intervenção alemã e italiana na Guerra Civil Espanhola em 
1936-9; a invasão alemã da Áustria no início de 1938; o estropiamento 
posterior da Tchecoslováquia pela Alemanha no mesmo ano; a 
ocupação alemã do que restava da Tchecoslováquia em março de 
1939 (seguida pela ocupação italiana da Albânia); e as exigências 
alemãs à Polônia que levaram de fato ao início da guerra. 
Alternativamente, podemos contar esses marcos miliários de um modo 
negativo: a não-ação da Liga contra o Japão; a não-tomada de 
medidas efetivas contra a Itália em 1935; a não reação de Grã-
Bretanha e França à denúncia unilateral alemã do Tratado de 
Versalhes, e notadamente à reocupação alemã da Renânia em 1936; 
a recusa de Grã-Bretanha e França a intervir na Guerra Civil Espanhola 
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(“não-intervenção”); a não-reação destas à ocupação da Áustria; o 
recuo delas diante da chantagem alemã sobre a Tchecoslováquia (o 
“Acordo de Munique” de 1938); e a recusa da URSS a continuar 
opondo-se a Hitler em 1939 (o pacto Hitler-Stalin de agosto de 1939). 
A Segunda Guerra Mundial, que ocorreu entre os anos de 1939 e 1945, 
foi responsável por dividir o globo em dois grandes grupos: os Aliados e o Eixo. 
No início dos conflitos, os Aliados eram formados por Inglaterra e França, e o 
Eixo por Alemanha, Itália e Japão. Essa configuração se modificou no percurso 
da guerra. Percebe-se aqui que as mesmas alianças imperialistas formadas 
antes da Primeira Guerra Mundial se repetiram nesse novo conflito. 
O imperialismo, ainda vigente após a Primeira Guerra Mundial, fazia com 
que grandes potências exercessem influência política, cultural e econômico 
sobre outros países. Dessa forma, o conflito se estendeu para além da Europa, 
arrastando consigo países dominados, e se configurando como um conflito 
mundial. 
Como visto anteriormente, a Primeira Guerra Mundial ficou conhecida 
também como Grande Guerra. Mas o número de vítimas só aumentou no 
segundo conflito. O saldo de mortos na Segunda Guerra Mundial foi de 
aproximadamente 50 milhões, enquanto a Primeira Guerra Mundial teve cerca 
de 15 milhões de mortes (Gilbert, 2017, p. 11). 
Como é possível explicar esse aumento exponencial do poder destrutivo? 
Para responder a essa pergunta, precisamos atentar para os pesados 
investimentos em avanços tecnológicos e melhorias na indústria bélica – durante 
a Segunda Guerra Mundial, possuir armamentos mais desenvolvidos significava 
a vitória em batalhas. Também foram utilizadas novas táticas de guerra, que 
superavam as trincheiras. Um exemplo dessas novas táticas foi a guerra 
relâmpago, conhecida como Blitzkrieg, utilizada inicialmente pela Alemanha. 
Essa tática consistia em efeito surpresa, rapidez de manobra, e ataques brutais 
para desorganizar as forças inimigas (Bertonha, 2017, p. 151-2): 
Na Segunda Guerra, por fim, houve um diferencial de peso que explica 
a maior mortalidade de civis: a aviação estratégica. Entre 1918 e 1939, 
a aviação militar se desenvolveu tanto no campo técnico (melhores e 
mais armados aviões, com mais capacidade de carregar armamentos 
e material), como na teoria. Estrategistas elaboraram a ideia de que 
seria possível vencer um inimigo simplesmente destruindo sua base 
econômica (fábricas, usinas, ferrovias, etc.) a partir do ar. Também se 
desenvolveu uma teoria próxima, que afirmava que os civis eram alvos 
militares legítimos e que a destruição das cidades seria importante para 
abalar a moral e a vontade de lutar dos inimigos. Isso fez da Segunda 
Guerra um conflito onde os civis sofreram muito por causa da morte 
que vinha pelo ar. A Alemanha foi a primeira a utilizar esse mecanismo 
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durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), quando, em 26/4/1937, 
destruíram a pequena cidade espanhola de Guernica, matando 
centenas de pessoas. O vilarejo não era alvo militar nem estratégico, 
mas os alemães decidiram destruí-la tanto porque ela era uma cidade 
símbolo da resistência basca como porque queriam testar a sua 
doutrina de “bombardeio de terror” contra civis. Os alemães também 
utilizaram essa estratégia na Polônia em 1939, na Holanda em 1940 e, 
especialmente, na “Batalha da Inglaterra” em 1940, quando atacaram 
cidades inglesas como Coventry e Londres. 
Pelo uso dessa tática, é possível observar que o Eixo não se preparou 
para uma guerra duradoura. Segundo Hobsbawm (1996, p. 37): 
A Alemanha (e depois o Japão) precisava de uma guerra ofensiva 
rápida pelos mesmos motivos que a tinham feito necessária em 1914. 
Os recursos conjuntos dos inimigos potenciais de cada um deles, uma 
vez unidos e coordenados, eram esmagadoramente maiores que os 
seus. Nenhum dos dois sequer fez planos para uma guerra extensa, 
nem contou com armamentos de longo período de gestação. (Em 
contraste, os britânicos, aceitando a inferioridade em terra, investiram 
seu dinheiro desde o início nas formas mais caras e tecnologicamente 
sofisticadas de armamento, e fizeram planos para uma longa guerra, 
em que eles e seus aliados venceriam o outro lado em produção.) Os 
japoneses foram mais bem-sucedidos que os alemães em evitar a 
coalizão de seus inimigos, pois ficaram de fora tanto da guerra da 
Alemanha contra a Grã-Bretanha e a França em 1939-40 quanto da 
guerra contra a Rússia depois de 1941. Ao contrário das outras 
potências, eles tinham lutado de fato contra o Exército Vermelho, numa 
guerra não oficial, mas substancial, na fronteira sino-siberiana em 
1939, e saído seriamente maltratados. O Japão só entrou na guerra 
contra a Grã-Bretanha e os EUA, mas não contra a URSS, em 
dezembro de 1941. Infelizmente para ele, a única potência contra a 
qual tinha de lutar, os EUA, lhe era tão imensamente superior em 
recursos que praticamente tinha de vencer. 
Porém, observa-se que a tática da guerra relâmpago também foi adotada 
pelos Aliados no decorrer dos conflitos durante a Segunda Guerra Mundial 
(Bertonha, 2017, p. 152): 
A partir de 1943, os Aliados ocidentais (Estados Unidos e Império 
britânico) tinham total domínio aéreo na Europa e compartilhavam da 
ideia, que se revelou equivocada, de que o terror aéreo podia fazer o 
inimigo se render. As cidades alemãs foram, assim, submetidas a um 
dilúvio de bombas e fogo. Alvos estratégicos e econômicos foram 
visados, mas também a população civil se tornou alvo. Dessa forma, 
cerca de 2,8 milhões de toneladas de bombas foram despejadas em 
alvos militares na França, Bélgica e outros países, mas, especialmente, 
na Alemanha. Cidades alemãs como Colônia, Hamburgo, Dresden e 
outras foram arrasadas e calcula-se que cerca de meio milhão de civis 
alemães foram mortos e um número quatorze vezes maior perdeu suas 
casas. A Itália sofreu bombardeios moderados por parte dos Aliados 
(especialmente em Roma e Milão). 
TEMA 2 – A URSS DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL 
No ano de 1939, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas assinou o 
pacto Molotov-Ribbentrop com a Alemanha, por meio do qual ambos os países 
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se comprometiam em não entrar em conflitos. Mesmo com esse pacto, e com a 
ajuda que forneceu na invasão da Polônia pelos alemães, a URSS assumia uma 
posição de neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial. A neutralidade da 
URSS e dos EUA garantiam vitórias para o Eixo (Hobsbawm, 1996, p. 37): 
A Alemanha pareceu mais afortunada por algum tempo. Na década de

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