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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DOCÊNCIA EM SAÚDE Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE DOCÊNCIA EM SAÚDE MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA SAÚDE 1.1 INTRODUÇÃO 1.2 HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA 1.2.1 Do Descobrimento ao Império 1.2.2 Período Republicano 1.2.3 Revolução de 1930 e o Estado Novo 1.2.4 Regime Militar 1.2.5 Período de Redemocratização 1.3 ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE SAÚDE 1.4 TENDÊNCIAS DO SISTEMA DE SAÚDE 1.5 BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 1.6 ÉTICA EM SAÚDE MÓDULO II 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO 2.1 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL 2.1.1 Período Colonial 2.1.2 Período Imperial 2.1.3 Período Republicano 2.1.4 Revolução de 1930 e a Era Getúlio Vargas 2.1.5 Nova República 2.1.6 Regime Militar 2.1.7 Redemocratização do Brasil 2.2 ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO 2.2.1 Educação Infantil 2.2.2 Ensino Fundamental 2.2.3 Ensino Médio 2.2.4 A educação de Jovens e Adultos (EJA) AN02FREV001/REV 4.0 4 2.2.5 Educação Inclusiva 2.2.6 Educação especial 2.3 TIPOS DE SISTEMA EDUCACIONAL 2.3.1 Educação Presencial 2.3.2 Educação à Distância 2.4 FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE EDUCACIONAL 2.5 ANDRAGOGIA MÓDULO III 3 DOCÊNCIA EM SAÚDE 3.1 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE 3.2 COMPETÊNCIAS PARA A ÁREA DA SAÚDE 3.3 PROCESSO DE APRENDIZAGEM EM SAÚDE 3.4 DIRETRIZES CURRICULARES DA ÁREA DA SAÚDE 3.5 PLANEJAMENTO DE DOCÊNCIA EM SAÚDE 3.5.1 Preparação de Planos 3.6 ESTRATÉGIAS E MÉTODOS DE ENSINO 3.7 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA EM SAÚDE 3.8 DIDÁTICA EM SAÚDE 3.8.1 Educação Expressiva 3.8.2 Didática e Currículo 3.8.3 O Tríptico Didático 3.9 METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA 3.10 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM 3.10.1 Métodos e práticas de avaliação pedagógica REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 5 MÓDULO I 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA SAÚDE 1.1 INTRODUÇÃO Olá para todos! Iremos iniciar agora o curso de Docência em Saúde. Este curso irá oferecer bases e conhecimentos para a prática da docência em saúde, que consiste na capacidade de dar e elaborar aulas para este setor específico. É de grande importância a sua realização, pois além de agregar novos saberes permitirá uma nova competência para todos os que o realizarem, bem como possibilitará o avanço de uma educação para a saúde com qualidade em nosso país. PARABÉNS! Você escolheu um excelente curso que irá mudar a sua vida. Desse modo, o curso de Docência em Saúde tem como objetivos: - Oferecer conhecimentos gerais sobre o funcionamento geral da saúde; - Oferecer conhecimentos gerais sobre o funcionamento e dinâmica da atividade educacional; - Capacitar profissionais para a prática da docência em saúde. Para alcançar estes objetivos demonstrados o nosso curso está estruturado em três (03) módulos: Módulo I – Contextualização da Saúde: neste módulo serão abordadas as questões principais sobre o sistema de saúde no Brasil, propiciando um entrosamento com a organização do mesmo; Módulo II – Contextualização da Educação: neste módulo serão abordadas as questões principais sobre o sistema educacional no Brasil, proporcionando um entendimento maior sobre de sua dinâmica; AN02FREV001/REV 4.0 6 Módulo III – Docência em Saúde: neste módulo serão abordadas as técnicas e metodologias de realizar a ação educativa especificamente para a área da saúde. Então, vamos começar? Que todos tenham um ótimo curso e que o conhecimento a ser agregado faça a diferença na atuação profissional de cada um. 1.2 HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA Vamos dar início ao nosso curso fazendo um passeio pela história da Saúde Pública no Brasil, que será muito importante para que possamos compreender o caminho percorrido pela saúde até o momento atual, permitindo uma ação de Docência em Saúde mais fundamentada. Para isso, vamos conhecer os antecedentes históricos de forma separada, conforme seus períodos temporais mais importantes. 1.2.1 Do Descobrimento ao Império O cuidado com a saúde dos habitantes da terra brasileira já existia desde muito antes da chegada dos portugueses, pois os índios possuíam uma série de rituais e práticas curativas feitas em suas aldeias espalhadas por todo o território brasileiro. Com a chegada de Pedro Álvares Cabral no ano de 1500 e o consequente descobrimento, o Brasil torna-se, então, colônia de Portugal até o ano de 1822. Nesse período colonial ocorreram diversas mudanças políticas e sociais na região recém-criada, como o surgimento de uma organização estatal, o surgimento de instituições, o início da vida econômica, dentre outras. Apesar dessas novidades, a assistência à saúde dispensada aos que viviam por aqui – índios, escravos, portugueses – era baseada nas ações feitas pelos pajés, de um modo semelhante ao realizado pelos indígenas desde antes da chegada dos portugueses, e na assistência dispensada pelos boticários – atuais farmacêuticos – AN02FREV001/REV 4.0 7 que viajavam por toda parte examinando os doentes e até mesmo receitando poções, remédios e fórmulas curativas. Esse predomínio dos pajés e boticários devia-se ao fato de que nessa época, como atesta Salles (1971), os médicos eram praticamente inexistentes, sendo que esta situação foi amenizada apenas a partir do ano de 1808, ano em que a Corte Portuguesa chega ao Brasil e, para oferecer serviços médicos aos nobres, são cridas as duas primeiras escolas de medicina do Brasil: o Colégio Médico- Cirúrgico em Salvador e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro. Em 1822, o imperador D. Pedro I declara a independência do Brasil e inaugura o Período Imperial no país, o qual se estende até o ano de 1889 com a Proclamação da República. Como se pode notar, neste período histórico pouco foi feito para melhorar ou mesmo estruturar a saúde, que ficou reduzida apenas a ações que buscaram garantir condições mínimas de higiene para a cidade do Rio de Janeiro – capital do Império – em decorrência das péssimas condições de vida e de salubridade que facilitavam a disseminação de diversas doenças. É importante considerar também que essas medidas sanitárias tomadas durante o período imperial não tinham como preocupação a melhoria do nível de saúde da população em geral, mas sim proteger os nobres portugueses de doenças, bem como evitar perdas financeiras que pudessem ocorrer devido ao excesso de doenças existentes. 1.2.2 Período Republicano Após a Proclamação da República feita pelos militares em 1889 é iniciado o período republicano, vivenciado até os dias atuais no Brasil. No momento imediato após o fim do império surgiu uma organização política conhecida como República Velha que durou até a Revolução de 1930. Nesse período inicial da vivência do Brasil como república o aspecto mais importante foi o referente à chamada Política do Café com Leite, na qual os governadores e presidentes eram alternados entre os estados de São Paulo AN02FREV001/REV 4.0 8 (maior produtor de café) e Minas Gerais (grande produtor de gado leiteiro no país) mantendo, assim, as oligarquias agrárias e as hegemonias sempre iguais. Sob o aspecto da saúde, a grande questão desse momentoda história brasileira foi o fato de que a ausência de uma assistência organizada fez com que houvessem epidemias de diversas doenças nas cidades brasileiras. Um exemplo dessa situação ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, que em 1900 estava infestada por patologias graves e com alta mortalidade como malária, varíola, febre amarela, dentre outras que matavam milhares de pessoas. Essa situação, causada em grande parte pelas condições sanitárias e de higiene inadequadas, tinha repercussões tanto para a saúde pública – pela manutenção e disseminação de doenças – como também para a economia nacional, visto que com medo da infestação muitos navios vindos de países europeus evitavam atracar no Rio de Janeiro e em Santos causando, assim, perdas nas vendas e exportações de produtos brasileiros. A partir dessa conjuntura se tornava imperiosa uma intervenção efetiva que melhorasse a saúde e a situação sanitária das principais cidades brasileiras. Para isso, o então presidente da república Rodrigues Alves nomeou Oswaldo Cruz, renomado médico sanitarista formado pelo Instituto Pasteur na França, para ser diretor do recém-criado Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP). Esta instituição tinha como grande função acabar com a epidemia de febre amarela que assolava a cidade do Rio de Janeiro. Para alcançar este objetivo, o DNSP começou, segundo Bertolli Filho (1996), uma série de medidas sanitizantes na capital carioca como a derrubada de cortiços, organização do espaço urbano, limpeza e higienização das ruas além da vigilância constante para a manutenção das medidas adotadas. A forma de atuação do DNSP criada por Oswaldo Cruz fez, de acordo com Luz (1991), surgir no Brasil o modelo de campanhas sanitárias para combater as epidemias urbanas e rurais existentes; sendo que este tipo de ação foi chamado de “Polícia Médica” pela força, coerção e obrigatoriedade com que foi implantada. AN02FREV001/REV 4.0 9 Esta imposição de medidas sanitárias teve o seu auge no ano de 1904 com a chamada Revolta da Vacina, ocasionada pela obrigação determinada pelo governo federal de que todos os cidadãos deviam receber a vacina contra a varíola. Além da inconformidade da população com a imposição da vacinação, havia ainda o aspecto moral envolvido na administração da vacina, pois para isso era preciso que as mulheres ficassem com o braço à mostra e isto era algo considerado na época como uma grande ofensa à moral e reputação das moças e mulheres da sociedade brasileira. Em decorrência dessa insatisfação geral da população com a vacina compulsória o governo revoga a sua obrigatoriedade, tornando-a, assim, optativa (BERTOLLI FILHO, 1996). Mas mesmo com a desconfiança e questionamentos feitos sobre as medidas tomadas pela equipe de Oswaldo Cruz o seu saldo final foi extremamente positivo, com a eliminação das principais epidemias existentes no Rio de Janeiro fortalecendo, então, esse modelo de atenção à saúde como o hegemônico em todo o país. Após o alcance de sua meta inicial – o controle das epidemias urbanas – o DNSP, com seu modelo de campanha, mudou o foco de atuação para as endemias rurais (como Doença de Chagas, Esquistossomose, dentre outras) as quais foram combatidas pela famosa SUCAM (Superintendência de Campanhas). Além dessas melhorias e inovações no campo da saúde, outro importante setor da sociedade foi iniciado na República Velha: a Previdência Social. O surgimento desse importante serviço para a população não foi dado de forma passiva, mas surgiu a partir de duas greves gerais ocorridas entre os anos de 1917 e 1919, que exigiam melhores condições de trabalho e direitos trabalhistas como férias, pensão e aposentadoria. Com base em todo este movimento foi publicada em 1923 a Lei Elói Chaves que consiste no marco inicial que determinou o nascimento da previdência social no Brasil. A Lei Elói Chaves criou as chamadas Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP´s) as quais, segundo Possi (1981), consistiam em um sistema de AN02FREV001/REV 4.0 10 previdência desenvolvido de forma independente pelas empresas que deviam oferecer a seus trabalhadores os benefícios de assistência à saúde, pensão e aposentadoria. Ainda sobre as CAP´s, eram financiadas pelas empresas (com 1% de sua renda bruta), pelos empregados (com 3% de seus salários) e pelos consumidores dos produtos dessas empresas (OLIVEIRA & TEIXEIRA, 1989). 1.2.3 Revolução de 1930 e o Estado Novo Na década de 1930, a Política do Café com Leite entra em crise devido aos diversos problemas políticos e econômicos que aconteceram no país causando, assim, a diminuição do poder e influência das oligarquias agrárias. Desse modo, esta política começa a ser questionada e em decorrência disso é deflagrada a Revolução de 1930. Esse movimento, chefiado por Getúlio Vargas, foi iniciado no Rio Grande do Sul e depois se propagou por todo o país tendo como resultado a deposição do presidente recém-empossado – dando fim à Política do Café com Leite – e a assunção de Getúlio Vargas como novo presidente do Brasil. Pouco tempo depois que chegou ao poder, Getúlio Vargas instaurou a ditadura do Estado Novo sob a alegação de um falso golpe comunista e, com isso, governou de forma solitária e absoluta até 1937 quando foi deposto do cargo. Mas Getúlio Vargas volta em 1950 “nos braços do povo” em uma vitória massacrante nas urnas e fica no poder até o ano de 1954 quando, então, comete suicídio. No que se refere à organização do país, o período do governo de Getúlio Vargas significou uma série de melhorias já que expandiu o capitalismo no Brasil, criou diversas indústrias (como CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, Petrobrás e outras) e estimulou o crescimento nacional. Além disso, Getúlio Vargas entra para a história brasileira ao criar e regulamentar as leis trabalhistas na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), AN02FREV001/REV 4.0 11 que garantiu melhores condições de trabalho e direitos trabalhistas, tão reclamados pelos trabalhadores de todo o país. Ao considerar o setor de saúde neste período histórico, poucas ações foram feitas para efetivamente melhorar a assistência oferecida à população. A primeira atuação dentro da Saúde Pública foi a criação, no ano de 1930, do Ministério da Educação e Saúde Pública, que era responsável ao mesmo tempo pelos assuntos educacionais e de saúde do Brasil; sendo que com isso aquelas ações que não eram consideradas como de Saúde Pública, a exemplo da fiscalização e segurança do trabalho, foram transferidas para outros ministérios. Essa ação causou a fragmentação dos serviços relacionados à saúde no país, impedindo o avanço e a melhoria na organização desse sistema no Brasil. Posteriormente ocorreu a criação do Ministério da Saúde, em 1953, responsável de forma exclusiva pelos serviços de gestão e assistência à saúde da população brasileira. No entanto, apesar de sua instituição, o Ministério da Saúde consistia apenas em um órgão burocrático sem recursos financeiros e nem mesmo possibilidades de mudança nas principais questões relacionadas à Saúde Pública no Brasil. Finalizando as medidas adotadas nesse período histórico pelo governo no setor de saúde houve, no ano de 1956, o surgimento do DNERU (Departamento Nacional de Endemias Rurais) que se tornou o órgão responsável pela realização das campanhas sanitárias no mesmo modelo criado por Oswaldo Cruz. No que se refere à previdência social, o governo Vargas teve como principal contribuição a evolução no seu processo de organização, pois as CAP´s criadas no ano de 1923 foram sendo substituídas pelos IAP´s (Institutos de Aposentadoria e Pensão), que tiveram como grande diferença o fato de que eles eram organizados de acordo com a profissão do trabalhador (marítimos, comerciantes, bancários, etc.) e não mais de acordo coma decisão da empresa. AN02FREV001/REV 4.0 12 Com essa dinâmica, os IAP´s iniciam o processo de controle governamental sobre a previdência social, que deixa de estar dependente da vontade dos donos das empresas de criar o sistema de previdência e seus benefícios. Essa substituição começou em 1933 com a criação do IAPM (Instituto dos Marítimos), do IAPC (Instituto Comerciantes), do IAPB (Instituto dos Bancários) em 1934, do IAPI (Instituto Industriais) em 1936 e do IAPETEL (Instituto dos Estivadores e Transportadores de Cargas) em 1939. Para oferecer um maior subsídio à dinâmica criada pela previdência social, em 1949 é criado o SAMDU (Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência), que era responsável por oferecer assistência médica para os beneficiários e que era mantido com recursos do IAP`s e CAP´s. 1.2.4 Regime Militar No ano de 1964 os rumos da história brasileira são totalmente alterados com o golpe militar. Este golpe, planejado pelas forças armadas nacionais com o apoio total dos Estados Unidos, retirou do poder o então presidente da república João Goulart. A partir disso, é iniciado o período militar, que se estende até a década de 1980, quando é suprimido e ocorre a redemocratização do país. Em todo esse período o governo foi chefiado por comandantes militares – como Costa e Silva, Castelo Branco, Médici, Figueiredo, Geisel – em um regime governamental de caráter ditatorial e autoritário com o uso excessivo das forças policiais e das medidas de repressão. Nessa dinâmica foi vivenciado o chamado “milagre econômico”, que inicialmente possibilitou uma melhoria nos ganhos do país, mas que no final do regime militar causou uma recessão com altos índices de desemprego, inflação e pobreza para a população brasileira como um todo. AN02FREV001/REV 4.0 13 A Saúde Pública no Brasil durante o regime militar começou com um processo de mudança que criou as primeiras bases para o surgimento do SUS (Sistema Único de Saúde), na década de 1990. Nesse caminho, a ação inicial para a saúde neste período consistiu na publicação, em 1967, do Decreto-Lei 200 que definiu de forma geral o modo de organização da administração pública e, com relação ao sistema de saúde, redefiniu as competências do Ministério da Saúde que passaram a ser: Formulação da Política Nacional de Saúde; Assistência Médica Ambulatorial; Prevenção à Saúde; Controle Sanitário; Pesquisas na área da saúde. Com essas alterações, o Ministério da Saúde deixou de ser apenas um aparato burocrático para se tornar efetivamente o órgão máximo de gestão responsável pela condução das políticas públicas de saúde no país. A partir desse avanço e fortalecimento do Ministério da Saúde, o DNERU criado no período anterior foi substituído, em 1970, pela SUCAM (Superintendência de Campanhas de Saúde Pública), que tinha como principal função o controle permanente das endemias existentes no Brasil. Em 1975 é criado o Sistema Nacional de Saúde, instituindo um sistema de assistência à saúde com validade para todo o território nacional; sendo que esta criação foi o embrião inicial para a ideia do SUS, que surgiria algumas décadas depois. O processo de melhoria no sistema de saúde brasileiro foi continuado por meio da criação do PIASS (Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento), proporcionando a implantação de postos de atendimento de saúde nos municípios pequenos de todo o país. Essa ação foi feita principalmente porque a população do interior do Brasil não possuía nenhum tipo de assistência à saúde e nem mesmo uma referência para a busca do atendimento. Ainda durante a vigência do Regime Militar, no que se refere à Previdência Social, ocorreu um processo de unificação dos IAP´s, concluído no AN02FREV001/REV 4.0 14 ano de 1967 que, posteriormente, foram transformados no INPS (Instituto Nacional de Previdência Social). Dessa maneira, no recém-criado INPS a previdência social passa para o comando total do governo federal e, com isso, os seus beneficiários passam a ter além das aposentadorias e pensões o direito à assistência médica. No entanto, o surgimento do INPS gerou um grande aumento do número de beneficiários, exigindo uma melhoria no sistema de assistência médica. E, neste momento, o governo militar ao invés de investir no setor público por meio do Ministério da Saúde, direcionou grandes somas de recursos financeiros para atenção privada à saúde. A partir disso, foram feitos contratos e convênios com profissionais de saúde em uma dinâmica na qual o pagamento era feito para cada procedimento realizado; sendo assim, eram comuns neste período as fraudes, como cirurgias de fimose em mulheres ou até partos sendo feitos em homens. Outra consequência dessa política executada pelos militares foi o uso de dinheiro público para a construção de hospitais particulares em todo o país, gerando, assim, um verdadeiro complexo médico-hospitalar com foco nos médicos, remédios e hospitais que prevalece até os dias atuais. E para controlar todo esse sistema, que com o passar do tempo foi se tornando grandioso e complexo, foi criado em 1978 o INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social). 1.2.5 Período de Redemocratização Toda a dinâmica de funcionamento criada pelo regime militar começa a entrar em colapso no ano de 1975 em decorrência da crise econômica internacional que ocorreu nessa época em todo o mundo. A partir disso, o crescimento do Brasil diminuiu e com isso o modelo do milagre econômico vivencia uma grave crise que significou para a população uma situação com baixos salários, altos índices de desemprego e o aumento das favelas e da violência em todo o país. AN02FREV001/REV 4.0 15 Essa situação causou um descontentamento ainda maior em todo o território nacional, desencadeando no movimento que ficou conhecido como Diretas Já. Esse movimento ocorrido no ano de 1985 causou grande comoção nacional, com milhares de pessoas pedindo o fim da ditadura militar e a realização imediata de eleições diretas para presidente da república. No entanto, apesar da grandeza desse movimento chefiado por Ulisses Guimarães, não foi neste momento que a ditadura terminou, mas foi a partir de suas reivindicações que o alto comando das forças militares iniciou um afrouxamento do regime militar a partir da gestão do presidente Geisel, o que causou a volta dos civis ao governo federal com a eleição de Tancredo Neves. A partir desse acontecimento é iniciado o processo de redemocratização do país, com o surgimento da nova constituição federal promulgada em 1988, que restabeleceu o presidencialismo e a democracia no país, o que prevalece até os dias atuais no Brasil. No que se refere à saúde, este período histórico foi marcado por reformas radicais que mudaram substancialmente os rumos da atenção à saúde no Brasil. A primeira ação para essa mudança aconteceu na cidade de Alma-Ata, na Rússia, onde ocorreu no ano de 1976 uma conferência internacional sobre saúde determinando que todos os países do mundo deveriam ter o foco na atenção primária à saúde. No Brasil, para buscar atender a esta delimitação feita pela Conferência de Alma Ata, foi criado, no ano de 1981, o CONASP (Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária) com a função de propor ao governo federal um plano para melhorar a assistência à saúde com os escassos recursos financeiros disponíveis para o setor de saúde no país. Após várias discussões, o CONASP fez uma proposta para definir a mudança no modelo assistencial em vigor com a melhoria da qualidade no atendimento oferecido à população bem como delimitava a criação de um sistema de auditoria e mudanças nos meios de financiamento para o sistema de saúde. AN02FREV001/REV 4.0 16 Avançandonesta ideia dada pelo CONASP, surgem no ano de 1983 as AIS (Ações Integradas de Saúde) buscando integrar as ações de assistência, prevenção e educação em saúde. No entanto, por diversas questões políticas e econômicas decorrentes do momento histórico, as AIS´s foram canceladas e não tiveram continuidade. A próxima ação desse período foi a VIII Conferência Nacional de Saúde, no ano de 1986, que delimitou a criação de um sistema único de saúde para o Brasil. Nessa época, quanto à prática em saúde, todas as regras e ordens eram definidas e feitas pelo Ministério da Saúde e os estados/municípios consistiam apenas em órgãos executores sem nenhuma capacidade de gestão ou de tomada de decisão. Em 1987, seguindo as recomendações feitas na VIII Conferência Nacional de Saúde, é instituído o SUDS (Sistema Único Descentralizado de Saúde) que determinou que a área de saúde no Brasil estaria responsável pelas ações de promoção, proteção e recuperação da saúde em todo o território nacional. Além disso, esse novo sistema iniciou a descentralização em saúde, pois o SUDS transferiu pra os estados federados a responsabilidade pela gestão e realização de diversas atividades que deixaram de ser exclusivas do Ministério da Saúde. Em 1988, por meio dos artigos 196 a 200 da Constituição Federal então promulgada, foi criado o SUS (Sistema Único de Saúde). Dentre as várias determinações feitas com relação à saúde na Constituição Federal as mais importantes são: A saúde passa a ser um direito de todos os cidadãos residentes no Brasil; O Estado (por meio do governo federal, estadual e municipal) tem a responsabilidade de oferecer a assistência à saúde por meio de ações de promoção, proteção e recuperação da mesma; O SUS ao ser criado deveria ser organizado com uma única esfera de gestão em cada ente federado, descentralizado ao nível municipal e em uma rede hierarquizada. AN02FREV001/REV 4.0 17 Todo esse processo atinge o seu auge no ano de 1990, quando é promulgada a Lei 8080 que instituiu realmente a criação do SUS (Sistema Único de Saúde) fazendo com que as responsabilidades em saúde fossem transferidas também para os municípios de todo o Brasil. Assim, o SUS pode ser concebido como o conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. E então? Gostaram da história da saúde pública? Finalizamos este tópico e iremos ver, agora, como é a organização geral do sistema de saúde. 1.3 ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE SAÚDE O SUS, criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei 8080, tem como grande meta o oferecimento de acesso à saúde para toda a população brasileira. Para isso, fazem parte do SUS os centros e postos de saúde, hospitais, os serviços de Vigilância Sanitária, Vigilância Epidemiológica, Vigilância Ambiental, além de fundações e institutos de pesquisa. A outra norma que regulamenta o sistema de saúde no Brasil é a Lei 8.142 de 1990 que conferiu ao SUS uma de suas principais características: o controle social que consiste na participação dos usuários deste sistema na gestão dos serviços de saúde. Para isso, a Lei 8.142/1990 delimitou duas esferas de atuação da sociedade para o controle social em saúde: os Conselhos Municipais de Saúde e as Conferências de Saúde. O SUS tem o seu funcionamento baseado em princípios organizativos delimitados pela Lei 8080/1990 conhecida como Lei Orgânica de Saúde. Estes princípios são os seguintes: - Universalidade: "A saúde é um direito de todos", e por isso o Estado tem a obrigação de oferecer a atenção à saúde para todos os residentes no Brasil sejam AN02FREV001/REV 4.0 18 eles brasileiros ou estrangeiros; mas este princípio não tira a responsabilidade das pessoas e família de zelarem pela sua própria saúde; - Integralidade: a atenção à saúde inclui os cuidados curativos e os preventivos em seu aspecto individual e coletivo vendo, assim, o paciente como um todo; - Equidade: todos devem possuir igualdade de oportunidade para o uso do sistema de saúde; esta equidade determina que todos devem ser atendidos na medida da sua necessidade de assistência à saúde, ou seja, atender de forma igual os desiguais na medida de sua desigualdade; - Participação da comunidade: o controle social foi regulamentado pela Lei nº 8.142. Nele, os usuários participam da gestão do SUS por meio das Conferências de Saúde, que tem periodicidade de quatro anos, e por meio dos Conselhos de Saúde, que consistem em órgãos colegiados existentes em todos os níveis. Nos Conselhos de Saúde ocorre a paridade com os usuários tendo metade das vagas, o governo possui um quarto e os trabalhadores também têm a fração de um quarto; - Descentralização político-administrativa: o SUS existe em três níveis ou esferas: nacional, estadual e municipal, sendo que cada uma possui um comando único e atribuições próprias dentro do sistema de saúde; - Hierarquização e regionalização: os serviços de saúde são divididos também por níveis de complexidade; o nível primário é oferecido diretamente à população, enquanto os níveis secundário e terciário são ofertados apenas quando é necessário. Nesta questão, quanto mais bem estruturado for o fluxo de referência e contrarreferência entre os serviços de saúde, melhor será a sua eficiência e eficácia para a população. Quanto à sua atuação, o Sus apresenta as seguintes áreas: Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; Executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; Ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; Participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico; AN02FREV001/REV 4.0 19 Incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico; Fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; Participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; Colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Ao considerar o financiamento do sistema de saúde, este é feito de forma tripartite, ou seja, recebe recursos da esfera municipal, estadual e federal. Esta transferência é feita “fundo-a-fundo” por meio de transferência direta de uma conta bancária para a outra com o objetivo de evitar fraudes que já existiram em grande quantidade no setor de saúde. O valor referente ao recurso financeiro a ser repassado para a saúde foi regulamentado no ano de 2011 com a efetivação da PEC 29/2000; a partir disso, a quantidade mínima a ser destinada para cada esfera da saúde é dividida da seguinte maneira: União: 5% do PIB (Produto Interno Bruto) do país no ano anterior; Estados: 12% da receita estadual; Municípios: 15% da receita municipal. Terminamos agora de ver como funciona o sistema de saúde no Brasil. Vamos, então, avançar em nosso curso mostrando as principais tendências do sistema de saúde em nossa realidade. 1.4 TENDÊNCIAS DO SISTEMA DE SAÚDE AN02FREV001/REV 4.0 20 Após compreendermos sobre o processo de criação e implantação do SUS é preciso analisar as possíveis tendências, na atualidade, de evolução para este sistema de saúde de modo que ocorra uma melhoria da qualidade de vida da população brasileira. Desse modo, segundo Piola (2002), o Sistema de Saúde no Brasil tem como tendência a diminuição na prestação direta de serviços de saúde por estados e municípios, substituindo-sepor estratégias como a terceirização, privatização e organizações sociais; ampliação do papel do estado enquanto regulador na área da saúde. Além disso, haverá a transformação dos hospitais e outras entidades em “entes públicos”, com maior autonomia, mas submetidos ao controle social; aumento dos recursos financeiros destinados à saúde, com o aumento das despesas neste setor. Outras possibilidades para a atenção à saúde no futuro próximo são: o desenvolvimento da avaliação tecnológica em saúde, a autossuficiência nacional na produção de sangue e hemoderivados, a mudança progressiva do modelo assistencial biomédico para o modelo de atenção voltado para a atenção integral da população com enfoque em doenças crônicas e a organização do sistema de saúde em redes de atenção com foco na atenção primária e interligação entre todos os níveis de complexidade do mesmo. Vocês compreenderam com as tendências mostradas? O nosso próximo passo neste módulo será estudar um pouco sobre os conceitos principais de Bioestatística e Epidemiologia, que são os dois grandes alicerces da ação em saúde na atualidade. 1.5 BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA AN02FREV001/REV 4.0 21 A Bioestatística consiste no ramo da ciência estatística que busca determinar um conjunto de métodos que possam obter, organizar e analisar os dados numéricos relacionados a pesquisas e ações das ciências da vida, da qual a área da saúde faz parte. Ou seja, por meio da atuação e uso da Bioestatística é possível a análise e ponderação sobre os dados relacionados à saúde, os quais a partir disso podem ser usados para estruturar a organização e ações para a assistência em saúde. Para a realização deste trabalho é preciso inicialmente a definição dos elementos principais relacionados à Bioestatística, que serão descritos a seguir: População: é o total de pessoas que possuem uma característica comum e cujo comportamento é objeto de algum tipo de análise bioestatística. Ex: número de mulheres que realizam exame preventivo; Amostra: é um subconjunto derivado da população global, ou seja, é uma parte do total da população que será estudada e que pode ser usada para avaliar comportamentos e resultados que serão generalizados para a população total; Dados: são as informações que serão obtidas para realizar determinada análise ou pesquisa. Estes dados podem ser: qualitativos, quando são distribuídos em categorias e dizem respeito à qualidade e comportamentos, ou quantitativos quando os dados são expressos em números e que se referem, geralmente, a dados assistenciais e de sistemas de informação. Para a realização das pesquisas no ramo da Bioestatística podem ser utilizados os seguintes tipos de estudos: Experimentais: no qual o pesquisador de forma deliberada influencia os indivíduos e a pesquisa tem um efeito de intervenção sobre certa realidade ou situação; ou seja, em um estudo experimental é inserida uma nova situação ou realidade que vai ser testada para verificar a sua veracidade e eficiência; Prospectivos: são utilizados quando o objetivo da pesquisa consiste em conhecer o efeito de determinado fator, sendo que neste caso os dados são gerados desde o início do estudo; AN02FREV001/REV 4.0 22 Retrospectivos: são usados quando o efeito de algum fator já é conhecido, e deste modo os dados se referem a eventos passados e também são obtidos a partir de informações pré-existentes como prontuários médicos e dados advindos dos sistemas de informação em saúde; Longitudinais: são usados para analisar as mudanças em determinado fenômeno da saúde ao longo de um período de tempo, geralmente relacionadas com uma intervenção ou característica; Transversais: são os estudos nos quais os grupos de indivíduos são observados apenas uma vez, com o objetivo de estudar a situação em certo instante em que são feitas as observações; Caso-controle: é um tipo de pesquisa bioestatística que tem como objetivo verificar se as pessoas que foram selecionadas devido a uma característica ou doença, chamados de casos, diferem muito de um grupo de indivíduos comparáveis, mas que não possuem a característica ou doença, os controles, em relação à exposição a um dado fator de risco; Coorte: este estudo se relaciona a um grupo de indivíduos de interesse e se faz um seguimento dos mesmos, até certo momento, para estudar o seu desfecho com relação à questão almejada. A epidemiologia, por sua vez, é a ciência que estuda os padrões com que as doenças ocorrem em populações humanas e os fatores determinantes para sua ocorrência. As suas aplicações variam desde a descrição das condições de saúde de uma população específica, da investigação dos fatores determinantes de doenças, da avaliação do impacto das ações para alterar a situação de saúde até a avaliação do uso de serviços de saúde, incluindo os custos com a assistência. A história natural da doença, base para a evolução e atuação na epidemiologia, consiste no processo de desenvolvimento da mesma, e ocorre em quatro fases: 1) Fase inicial ou de suscetibilidade: ainda não existe uma doença, mas condições que podem favorecer o seu surgimento. Dependendo da existência dos AN02FREV001/REV 4.0 23 fatores de risco ou de proteção, certos indivíduos estarão mais ou menos propensos a adquirir determinadas doenças a outras; 2) Fase patológica pré-clínica: a doença está instalada, mas ainda não é evidente; começam as primeiras mudanças patológicas no organismo; 3) Fase clínica: corresponde ao período da doença com sintomas; 4) Fase de incapacidade residual: ocorre quando a doença não evoluiu para a morte nem foi curada, ocorrendo às sequelas da mesma. A partir desses conceitos iniciais, a epidemiologia trabalha com a teoria da multicausalidade – que possui um papel definido na gênese de doenças – consistindo na ideia de que determinado processo patológico ocorre devido a uma combinação de diversos fatores, os quais interagem entre si e acabam tendo um importante papel na determinação das diversas patologias. Os determinantes para a ocorrência de doenças são classificados em: Determinantes distais: são fatores a distância que, por meio de sua ação em outros fatores, podem contribuir para o aparecimento de doenças. Ex: fatores biológicos e hereditários; Determinantes intermediários: podem sofrer influência dos determinantes distais e também agir em fatores que estão mais próximos à gênese das doenças. Ex: fatores gestacionais, ambientais, nutricionais; Determinantes proximais: são os fatores que estão mais próximos às doenças podendo sofrer influência dos outros fatores e ainda podem agir diretamente na determinação de uma patologia. Para a sua atuação prática, a epidemiologia utiliza os indicadores de saúde que quantificam os diferentes aspectos relacionados à saúde bem como possibilitam a comparação de diversos tipos de dados e situações em uma mesma população. Os indicadores de saúde podem ser dos seguintes tipos: Coeficientes: são as medidas básicas para compreender a ocorrência de doenças em determinada população. Para o seu cálculo considera-se que o número de casos está relacionado com o tamanho da população que lhe deu origem. O numerador refere-se ao número de casos que se deseja estudar (mortes, AN02FREV001/REV 4.0 24 doentes, etc) e o denominador refere-se a toda a população capaz de sofrer aquele evento (população em risco); Morbidade: é usado para identificar o conjunto de casos de uma dada afecção ou a soma de agravos à saúde que atingem um grupo determinado de indivíduos. As medidas mais usadas em morbidade são: Prevalência: relação do número de casos existentes de uma determinada doença e o número de pessoas na população em determinado período do tempo; Incidência: é a razão entre o número de casos novos de uma doençaque ocorreu em uma comunidade, em um intervalo de tempo determinado, e a população exposta ao risco de adquirir esta doença no mesmo período. Mortalidade: refere-se ao número de óbitos ocorridos em determinada população. As medidas mais usadas em mortalidade são: Mortalidade geral: divisão do número total de óbitos por todas as causas em um ano pelo número da população naquele ano, multiplicado por 1.000; Mortalidade específica: cálculo de mortalidade específico para determinado grupo de causa ou patologia. Ex: doenças respiratórias, causas externas, etc. Mortalidade infantil: refere-se aos óbitos de crianças menores de um ano; sendo um indicador da qualidade de vida local. Letalidade: refere-se à incidência de mortes entre os portadores de determinada doença, em certo período de tempo, dividida pela população de doentes. Agora que já conhecemos os princípios e ideias principais relacionadas à Bioestatística e Epidemiologia, vamos entrar no último assunto deste módulo, no qual serão abordadas as principais questões relacionadas com a ética em saúde. Avancemos, então! AN02FREV001/REV 4.0 25 1.6 ÉTICA EM SAÚDE A ética é um ramo da filosofia que estuda a natureza do que é tido como adequado e moralmente correto. A palavra Ética tem origem grega, no vocábulo “éthos”, que significa caráter e que foi traduzida para o latim como “mos”, significando costume. Por isso é usada como a “ciência da moral” ou “filosofia da moral”. A ética designa, assim, o conjunto de princípios morais que regem os direitos e deveres de cada um em determinada sociedade e que são estabelecidos e aceitos em uma época por determinada comunidade humana. Para as teorias éticas, o desejável é o “ser” que deve ser livre, autônomo; que age para a benevolência; que exercita a justiça; e que é virtuoso no caráter. Em qualquer discussão que envolva um tema ético o ‘princípio universal da responsabilidade’ deve ser considerado, pois ele está relacionado aos aspectos da ética da responsabilidade individual, assumida por cada um; da ética da responsabilidade pública; e a ética da responsabilidade planetária, nosso compromisso como cidadão do mundo frente ao desafio da preservação do planeta. A preocupação com os aspectos éticos na assistência à saúde, não se restringe à normatização contida nos códigos de ética profissional, mas estende-se ao respeito à pessoa como cidadã e como ser social, enfatizando que a “essência da bioética é a liberdade, porém com compromisso e responsabilidade”. A Bioética é o estudo sistemático de caráter multidisciplinar, da conduta humana na área das ciências da vida e da saúde, na medida em que esta conduta é examinada à luz dos valores e princípios morais. A abrangência atual da Bioética tem quatro aspectos relevantes: uma bioética da vida cotidiana, que se refere aos comportamentos e às ideias de cada pessoa e ao uso das descobertas biomédicas; uma bioética deontológica, com os códigos morais dos deveres profissionais; uma bioética legal, com normas AN02FREV001/REV 4.0 26 reguladoras, promulgadas e interpretadas pelos Estados; e uma bioética filosófica, que procura compreender os princípios e valores que estão na base das reflexões e das ações humanas neste campo. Para abordar os dilemas éticos em saúde, a Bioética se sustenta em quatro princípios que devem nortear as discussões, decisões e ações na esfera dos cuidados de saúde. São eles: Princípio da beneficência: dever de ajudar os outros, de fazer ou promover o bem a favor de seus interesses. Nesse princípio, o profissional se compromete a avaliar os riscos e os benefícios potenciais e a buscar o máximo de benefícios, reduzindo ao mínimo os danos e riscos; Princípio da não maledicência: dever de abster-se de fazer qualquer mal para os clientes, de não causar danos ou colocá-los em risco. O profissional se compromete a avaliar e evitar os danos previsíveis; Princípio da Autonomia: diz respeito à autodeterminação ou autogoverno, ao poder de decisão sobre si mesmo. Preconiza que a liberdade de cada ser humano deve ser resguardada. Cabe aos profissionais de saúde oferecer as informações técnicas necessárias para orientar as decisões do cliente para que possa participar das decisões sobre o cuidado/assistência à sua saúde; Princípio da Justiça: relaciona-se à distribuição coerente e adequada de deveres e benefícios sociais. Chegamos, então, ao final deste primeiro módulo do nosso curso com um aumento dos conhecimentos sobre o setor de saúde, os quais serão fundamentais para uma ação de docência em saúde efetiva e com qualidade. FIM DO MÓDULO I AN02FREV001/REV 4.0 27 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DOCÊNCIA EM SAÚDE Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 28 CURSO DE DOCÊNCIA EM SAÚDE MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 29 MÓDULO II 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO Olá, Turma! Continuando os nossos estudos sobre Docência em Saúde iremos, neste Módulo II, abordar os aspectos relacionados à Contextualização da Educação. Desse modo, vamos discutir as questões históricas e também aquelas relacionadas com o processo de educação como um todo. Esta abordagem é essencial para que possamos fundamentar a prática e conhecimentos necessários à Docência em Saúde. Então? Todos prontos? Vamos começar agora a nossa incursão pelo mundo da Educação! 2.1 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL Os períodos históricos da educação foram divididos a partir da importância de suas contribuições no processo evolutivo. 2.1.1 Período Colonial A educação no território brasileiro teve início com as práticas feitas pelos indígenas que orientavam e ensinavam para suas crianças as diversas técnicas e AN02FREV001/REV 4.0 30 atividades necessárias para o bom funcionamento das aldeias como plantar, cozinhar, pescar, guerrear, dentre outros. Essa situação foi modificada em 1549, quando os padres jesuítas chegam à recém-criada colônia portuguesa e criam a primeira escola brasileira localizada na cidade de Salvador. A atuação dos jesuítas no Brasil foi dividida entre o anúncio da fé católica por meio da catequese dos índios e a atividade educativa – feita com base nas orientações do Ratio Studiorum – que em 1570 já contava com cinco escolas elementares e três colégios dessa ordem religiosa em diversas cidades como Porto Seguro, Rio de Janeiro, Ilhéus, e outras. Assim, nos 210 anos em que os jesuítas permaneceram no Brasil eles fizeram toda uma organização do sistema educacional que compreendia desde o ensino mais básico até cursos superiores para formação de sacerdotes nas terras nacionais. A presença dos religiosos jesuítas no país acabou em 1749 quando os mesmos foram expulsos de Portugal e de suas colônias pelo Marquês de Pombal – administrador de todo o império português – devido às divergências entre os interesses da Coroa e dos padres católicos, pois a educação oferecida por eles gerava emancipação e conhecimento que não interessavam para a economia de Portugal a qual desejava uma mão de obra alienada nas colônias, que apenas trabalhasse sem pensar. Assim, no ano de 1759 o Marquês de Pombal publica um decreto que fecha todas as escolas jesuíticas em Portugal e em suascolônias criando, por consequência, uma nova estrutura educacional. Nesse novo período, a educação no Brasil consistia apenas nas chamadas Aulas Régias, com aulas de Latim, Grego e Retórica feitas por professores vitalícios e despreparados; sendo que este novo sistema gerou o verdadeiro caos no processo de ensino no território brasileiro. Para tentar melhorar esta situação, é criado no ano de 1772 o Subsídio Literário, que trazia um imposto a ser cobrado sobre a comercialização de diversos produtos – vinho, vinagre, cana verde, aguardente – e a sua arrecadação era utilizada para financiar o ensino primário e médio nas terras portuguesas. AN02FREV001/REV 4.0 31 O saldo para a educação brasileira no período de gestão do Marquês de Pombal foi o mais trágico possível, pois ele eliminou o sistema organizado feito pelos jesuítas e fez com que no início do século XIX a educação brasileira fosse praticamente inexistente, com práticas inadequadas e estagnadas sendo oferecidas aos pequenos brasileiros. Este verdadeiro caos educacional é modificado em 1808, com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil. Para atender às suas necessidades, o imperador D.João VI cria uma verdadeira estrutura educacional com escolas de medicina, bibliotecas, imprensa e academias militares. 2.1.2 Período Imperial O período imperial da história brasileira inicia-se no ano de 1822, quando D. Pedro I proclama a independência e outorga a primeira Constituição do Brasil, na qual se estabelecia que a educação primária seria gratuita para todos os cidadãos no país. Para melhorar o sistema educacional, no ano de 1823 é criado no país o chamado Método Lancaster (Método do Ensino Mútuo) no qual um aluno já treinado ensinava a grupos de até dez alunos, sob a vigilância de um professor-inspetor; este modelo usado em 1823 existe até os dias atuais, com as devidas adaptações, sendo conhecido na atualidade como o sistema de monitoria. Avançando na organização da educação no país, em 1826 o imperador determina por meio de uma lei a existência de quatro graus para instrução: Pedagogias, Liceus, Ginásios e Academias. Em 1837 é criado, na cidade do Rio de Janeiro, o Colégio Pedro II com a função de se tornar o modelo de ensino para o nível secundário em todo o país; no entanto, até o final do Império esta escola não conseguiu se organizar de forma efetiva para se tornar a referência educacional do Brasil. Assim, em 1889, com o fim do período imperial no Brasil, apesar de propostas interessantes não havia surgido nada de concreto na educação brasileira, AN02FREV001/REV 4.0 32 fazendo com que as ações educacionais se mantivessem escassas e divididas sem a ocorrência de um sistema de educação efetivo e com qualidade. 2.1.3 Período Republicano Em 1889 o Império tem fim com a proclamação da república, organizada pelos militares, fazendo, assim, que surgisse um novo governo no Brasil, pautado no modelo presidencialista. Ao considerar de modo específico a educação, este período foi muito fecundo para as reformas no sistema educacional, muito influenciadas pelas ideias da filosofia positivista que considerava a devoção à ciência como grande guia a ser usado em todos os aspectos da vida individual e social. A Reforma Benjamin Constant – primeira proposta de mudança educacional deste período – propunha um ensino gratuito, sem ligação ou vínculo com nenhum tipo de religião (ensino laico) e a liberdade para a escolha e participação na educação. Algo inovador proposto por esta reforma e que é uma realidade até os dias atuais consiste na ideia de que o ensino deve formar os alunos para os níveis superiores de educação, substituindo o foco literário pelo da ciência com um enfoque para as pesquisas científicas. Em 1911 é proposta a Reforma Rivadávia Côrrea que determinava que o ensino secundário promovesse a formação do cidadão brasileiro, bem como propunha a liberdade do ensino com amplo acesso para a população brasileira e a troca do diploma por um certificado de aproveitamento. A última mudança deste período ficou por conta da Reforma João Luiz Alves que criou a disciplina conhecida como Moral e Cívica, que oferecia conhecimentos sobre a sociedade brasileira e o caráter, aumentando o sentido ético e nacionalista dos pequenos cidadãos brasileiros. AN02FREV001/REV 4.0 33 2.1.4 Revolução de 1930 e a Era Getúlio Vargas A organização da República Velha foi interrompida pela Revolução de 1930, chefiada por Getúlio Vargas, o qual permaneceu no poder até o ano de 1954, quando o então presidente da república comete suicídio e “sai da vida para entrar na história”. No ano de 1930 é criado o Ministério da Educação e Saúde Pública para cuidar especificamente dos assuntos relacionados à educação e à saúde no país; e em 1931 é implantada a Reforma Francisco Campos, que organizou de forma efetiva o ensino secundário e superior no Brasil. Uma das ações mais importantes deste período foi o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, constituindo uma série de propostas feitas por conceituados educadores da época sob a liderança do professor Fernando de Azevedo para a melhoria da educação no país. Em 1934 é publicada a nova Constituição Federal, determinando de maneira inédita a educação como um direito de todos os brasileiros, devendo ser disponibilizado pelo governo e pela família. A próxima constituição do país foi outorgada por Getúlio Vargas no ano de 1937 e, no que tange à educação, tinha a orientação de preparar muitos trabalhadores para atender à demanda da economia brasileira e para o alcance deste objetivo esta Lei Magna focou o sistema educacional no ensino profissional. Outra contribuição importante da Constituição Federal de 1937 foi a permissão, existente até os dias atuais, de que o ensino fosse oferecido por entidades públicas e particulares, bem como determinou a obrigação da oferta apenas do ensino primário. Com essas mudanças surge uma nítida separação entre a atuação intelectual feita pelos pertencentes às classes ricas e o trabalho braçal com foco no ensino profissional feito pelos brasileiros pertencentes às classes pobres. AN02FREV001/REV 4.0 34 Em 1942 são feitas as Leis Orgânicas do Ensino que mudaram certas áreas do ensino no Brasil e tiveram como grande contribuição a criação do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), com foco no ensino profissionalizante. Portanto, com o final da Era Vargas em 1954 surge uma estrutura de educação no país que era composta por: ensino primário com cinco anos de duração; ensino ginasial, que durava quatro anos; e um ensino colegial (nas modalidades clássica ou científica) que durava três anos. 2.1.5 Nova República Com o final da Era Vargas é criada uma nova Constituição Federal que, quanto à educação, colocou a obrigação de todos os brasileiros cursarem pelo menos o ensino primário, retomando as ideias propostas pelo Manifesto da educação Nova da década de 1930. Também delimitou como competência do governo federal a regulamentação de todo o processo educacional brasileiro. Em 1946 é elaborado um anteprojeto de lei propondo uma reforma geral na educação nacional, que somente foi aprovado 13 anos depois, surgindo, assim, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) organizando, de maneira efetiva, todo o sistema de educação no país. Em 1950, na cidade de Salvador, o educador Anísio Teixeira inaugura o Centro Popular de Educação (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando início a sua ideia de escola-classe e escola-parque. Em 1952, no município de Fortaleza, o educador Lauro de Oliveira Lima inicia uma didática educacional com base nas teorias científicas de Jean Piaget e do seu Método Psicogenético; em 1953 a educação passa a ser administrada por um Ministério próprio:o Ministério da Educação e Cultura. Em 1961 tem início uma campanha de alfabetização, cuja didática, criada pelo pernambucano Paulo Freire, tinha o propósito de alfabetizar em 40 horas os adultos analfabetos em grande quantidade no Brasil; em 1962 é criado o Conselho Federal de Educação, que ficou no lugar do Conselho Nacional de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação e, ainda no ano de 1962 é criado o Plano AN02FREV001/REV 4.0 35 Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização, pelo Ministério da Educação e Cultura, inspirado no Método Paulo Freire. 2.1.6 Regime Militar O período da Ditadura Militar tem início no ano de 1964 a partir do golpe feito pelas forças armadas brasileiras e com isso a educação no país fica estagnada, pois todas as ideias e propostas de melhorias eram consideradas pelo governo militar como comunistas e subversivas. Para a educação o regime militar foi um período difícil, com demissão e prisão de professores, vigilância severa nas escolas, fechamento de universidades como UNB, USP, UNICAMP, dentre outras, estudantes eram feridos e mortos em confrontos com as forças policiais, dentre outras ações de repressão. Uma ação positiva desse período foi a criação com base nas ideias do pedagogo Paulo Freire do MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) que, como já visto, tinha como grande meta dar um fim no alto índice de analfabetismo existente no Brasil; no entanto, esta estratégia não alcançou o seu objetivo e devido à corrupção foi extinto e substituído pela Fundação Educar. A última ação do Regime Militar quanto à educação foi a criação em 1971 da nova edição da LDB, que tinha como principal característica oferecer uma formação educacional mais voltada para o mercado profissional. 2.1.7 Redemocratização do Brasil A década de 1980 assistiu ao fim da Ditadura Militar e o início da redemocratização do Brasil a partir da eleição do civil Tancredo Neves. Neste período a educação volta a ser pensada e discutida sob um aspecto mais amplo AN02FREV001/REV 4.0 36 considerando a sua importância tanto para a escola quanto para a vida dos brasileiros de maneira geral. Como consequência disso, é criado um projeto de lei para a nova versão da LDB, que foi aprovada em 1996 e está em vigor até os dias atuais. Além disso, este período foi marcado por muitos projetos na área da educação. Um destes projetos que foram realizados foi o Exame Nacional de Cursos, o "Provão", no qual os alunos integrantes das universidades de todo o país têm que realizar uma prova no início e no final do curso para estarem aptos a receberem seus diplomas. Esta prova, na qual os alunos podem simplesmente assinar a ata de presença e se retirar sem responder a nenhuma questão, é levada em consideração como um critério de avaliação das instituições. Além do mais, entre outras questões, o exame não diferencia as regiões do país. O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) é, ao lado da análise dos cursos e das instituições, um dos meios de avaliação da qualidade da educação superior no Brasil. À participação dos estudantes dos cursos avaliados é obrigatória e condição para a obtenção do diploma, sendo registrado no histórico escolar a situação de regularidade com o exame. Criado em 2004, o ENADE substituiu o Exame Nacional de Cursos (também conhecido como Provão). Em sua sexta edição, a prova que mede as competências e habilidades dos estudantes nos respectivos cursos passou por algumas mudanças. Até os dias atuais muitas alterações têm sido feitas no planejamento e gestão educacional, mas a educação continua – em sua essência - a ter as mesmas características impostas em todos os países do mundo, que consiste em manter o "status quo" para aqueles que frequentam os bancos escolares, e em oferecer conhecimentos básicos que possam ser aproveitados pelos estudantes em suas vidas práticas. Apesar de todo o processo evolutivo e reformas feitas, a educação brasileira não evoluiu muito sob o aspecto da qualidade no ensino. As avaliações, de todos os níveis, tem o foco na aprendizagem dos estudantes, embora existam outros critérios que podem ser usados para isso. Nessa situação, é possível que uma nova revolução esteja próxima para a educação no Brasil, que pode vir desvinculada do modelo europeu de educação, AN02FREV001/REV 4.0 37 com a criação de novas possibilidades mais adequadas às peculiaridades brasileiras. Portanto, na evolução da História da Educação brasileira a próxima ruptura precisaria implantar um modelo que fosse único, atendendo às necessidades de nossa população e com a eficiência e eficácia não alcançadas até este momento. 2.2 ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO A organização do Sistema Educacional Brasileiro ocorre por meio dos sistemas de ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), instituída pela lei nº 9394, de 1996, são as leis que regem o sistema educacional brasileiro em vigor. A atual estrutura do sistema educacional regular no Brasil consiste na educação básica – educação infantil, ensino fundamental e ensino médio – e a educação superior. Os municípios têm a função educacional de atuar no ensino fundamental e na educação infantil; já os Estados e o Distrito Federal são responsáveis pelo ensino fundamental e ensino médio. E o governo federal exerce uma função redistributiva e supletiva na educação, devendo prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como deve organizar o sistema de educação superior no país. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, é realizada em creches, para crianças com até três anos de idade, e nas pré-escolas, para crianças de 4 a 6 anos. O ensino fundamental, com duração mínima de nove anos, é obrigatório e gratuito na escola pública, devendo o Poder Público garantir sua oferta para todos, inclusive aos que não tiveram acesso na idade própria para o mesmo. O ensino médio, etapa que finaliza a educação básica, tem duração mínima de três anos e oferece uma formação geral ao educando, podendo incluir programas de preparação geral para o trabalho e, de forma facultativa, a habilitação profissional. AN02FREV001/REV 4.0 38 Além do ensino regular, a educação formal possui as seguintes modalidades específicas: a educação especial, para os portadores de necessidades especiais; a educação de jovens e adultos, para aqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria para os mesmos. A educação profissional está integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, às ciências e à tecnologia, com o objetivo de conduzir ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. O ensino de nível técnico é ministrado de forma independente do ensino médio regular. Este, entretanto, é requisito para a obtenção do diploma de técnico. A educação superior abrange os cursos de graduação nas diferentes áreas profissionais, que são disponíveis aos candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados dentro do número de vagas em processos seletivos específicos. A pós-graduação também faz parte do nível superior de educação e compreende programas de especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Com a Lei nº 9.394/96 (LDB) o grande objetivo tornou-se normatizar o sistema educacional e garantir acesso igualitário para todos com relação à educação. Essa lei, de forma geral, oferece um conjunto de definições políticas que orientam o sistema educacional e introduz mudanças importantes na educação básica do Brasil. Desse modo, a nova proposta para a educação brasileira tem como metaa democratização e universalização do conhecimento básico, oferecendo educação e cuidado com a escolarização, assumindo um caráter intencional e sistemático, que oferece uma atenção especial ao desenvolvimento intelectual, sem descuidar de outros aspectos como o físico, o emocional, o moral e o social (Lei nº 9394/96). Sobre a Educação e a Escola no Brasil, Saviani (1987) identifica quatro importantes concepções utilizadas na organização e funcionamento da escola: a concepção humanista tradicional, a moderna, a analítica e a dialética. A concepção humanista tradicional identifica a educação a partir de uma visão pré-concebida do homem, o qual é visto como tendo uma essência que não pode ser modificada. A partir dessa concepção, sugere que a educação deve ser AN02FREV001/REV 4.0 39 feita conforme a essência humana, e a partir disso entende que as mudanças realizadas nas pessoas por meio do processo educativo são simples acidentes. Essa concepção tradicional possui uma vertente religiosa que prevaleceu até a Idade Média e uma vertente leiga feita por pensadores modernos como modo de consolidação da hegemonia da burguesia. Como princípios, defende a existência de sistemas públicos de ensino que sejam leigos, universais, gratuitos e centrados no educador que deve ser imitado pelos seus educandos. A segunda concepção educacional é a humanista moderna que possui também um conceito prévio de homem, mas considera que a existência do homem é anterior à sua essência e disso resulta que para esta corrente educacional o homem é "um ser completo desde o nascimento e inacabado até a morte". Assim, essa corrente defende que o aspecto psicológico predomina sobre o lógico e transfere o cerne do processo educativo do adulto para a criança considerando as suas atividades de existência, considerando que a educação segue o ritmo de vida que varia segundo as diferenças individuais, desconsiderando, na educação, esquemas predefinidos e lógicos. Uma terceira concepção proposta foi a analítica, que formula o seu conceito de educação com base na tarefa educacional que é definida como aquela que oferece um significado lógico à linguagem em função do seu contexto (tempo, lugar, a situação, a identidade, os temas de interesse e as histórias pessoais) tanto do educador quanto daqueles a quem ele se dirige. Por último, a concepção dialética considera a educação a partir do conjunto das relações sociais e, assim, aborda os problemas educacionais compreendidos dentro de um contexto histórico. Nota-se, então, que a escola brasileira, pensada segundo os moldes liberais, tem a missão de redimir os homens do seu duplo pecado histórico: a ignorância (miséria moral) e a opressão (miséria política) (ZANOTTI, 1972). Portanto, a articulação das concepções de educação com a sociedade brasileira possui um aspecto estrutural e é sustentada pelas práticas e projetos sociais, por meio dos quais os interesses, os princípios e os pressupostos do grupo social dominante tornam-se propósitos e valores do senso comum, ideologia AN02FREV001/REV 4.0 40 compartilhada pelo conjunto de sociedade e é essa lógica que torna o pensamento liberal hegemônico e a burguesia além de classe dominante, também dirigente. E então? Compreenderam em formas gerais como é organizado o sistema educacional brasileiro? Agora vamos continuar os nossos estudos conhecendo de forma mais específica cada uma das etapas da educação no Brasil. Vamos lá? 2.2.1 Educação Infantil A Educação Infantil refere-se ao período em que ocorre a entrada da criança no Sistema Educacional. Esta entrada ocorre na atualidade aos quatro anos e permanece até os seis anos; nesta fase da educação não existe, teoricamente, um currículo comum a todas as instituições que deva ser seguido, pois o grande objetivo deste período escolar é com a adequação das crianças ao mundo escolar preparando-as para a sua inserção futura no ensino fundamental. A Educação Infantil é dividida em Ciclos Básicos I e II: Quadro 01: quadro demonstrativo das etapas do Ciclo Básico I. ORDEM CICLO BÁSICO I IDADE 01 CICLO I 04 anos 02 CICLO II 05 anos 03 CICLO III 06 anos AN02FREV001/REV 4.0 41 Quadro 02: Quadro demonstrativo das etapas do Ciclo Básico II. ORDEM CICLO BÁSICO II IDADE 04 CICLO I 07 anos 05 CICLO II 08 anos 06 CICLO III 09 anos 07 CICLO IV 10 anos 2.2.2 Ensino Fundamental Segundo Romualdo (2007) o Ensino Fundamental diz respeito à etapa da educação básica oferecida a crianças e adolescentes com uma duração mínima de nove anos, possui caráter obrigatório e gratuito a partir dos seis anos de idade, conforme regras instituídas na Lei nº 11.114/05 e conforme a LDB em seu artigo nº 32 a qual institui o Ensino Fundamental como tendo o objetivo de oferecer uma formação básica do cidadão mediante o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores. Além disso, houve a eliminação do limite de idade para poder ingressar no ensino fundamental obrigatório, permitindo, assim, que todos os brasileiros, em qualquer faixa etária acima de sete anos de idade, possam ter acesso a esta etapa da escolarização. A duração temporal desta etapa passa para quatro anos letivos correspondentes às antigas 5a a 8a séries do mesmo Ensino Fundamental. AN02FREV001/REV 4.0 42 Quadro 03: quadro demonstrativo das series do Ensino Fundamental. ORDEM SÉRIE IDADE 01 1ª 11 anos 02 2ª 12 anos 03 3ª 13 anos 04 4ª 14 anos 2.2.3 Ensino Médio De acordo com a LDB, o Ensino Médio refere-se à etapa final da educação básica, e está em um processo constante de busca pela sua identidade enquanto nível de escolarização, pois em certas ocasiões ele é considerado como preparatório para o ensino universitário, e em outras ocasiões tem a finalidade de preparar os jovens para o mercado de trabalho. O objetivo do Ensino Médio, ainda segundo a LDB, consiste em preservar o caráter unitário, partindo da proposta de uma educação geral. Este nível de ensino tem a função primordial de permitir que os jovens consolidem e aprofundem os conhecimentos que foram obtidos anteriormente. Outra função atribuída ao ensino médio é a de permitir que os jovens possam ter acesso à educação profissionalizante, aprofundando sua compreensão sobre os fundamentos científicos e tecnológicos. AN02FREV001/REV 4.0 43 2.2.4 A educação de Jovens e Adultos (EJA) Em 1997 o governo Federal desvincula a EJA do MEC e cria o Programa Alfabetização Solidária, com o objetivo de reduzir as altas taxas de analfabetismo que ainda existiam em algumas regiões do país. Este programa era presidido pela primeira dama do país e atendia a 1,5 milhão e meio de brasileiros em 1200 municípios brasileiros de 15 Estados, trabalhando em parcerias com empresas, instituições universitárias, pessoas físicas, prefeituras e o Mistério da Educação (MEC). Além das turmas tradicionais da Educação para Jovens Adultos, em 2003 o governo do presidente Lula criou o Programa Brasil Alfabetizado, que deu prioridade inicial para as instituições filantrópicas, e apenas a partir do segundo ano as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação receberam mais recursos do programa, chegando em 2007 com quase 50 % de todos os recursos destinados ao Brasil Alfabetizado. Portanto, o desafio imposto para a Educação de Jovens e Adultos na atualidade consiste em reconhecer o direito do jovem/adulto de ser sujeito; mudar de forma profunda a maneira como este tipo de educação é concebida e praticada; buscar novas metodologias que considere os interesses dos jovens e adultos; pensar novas formas de EJA articuladas com o mundo do trabalho; investir seriamente na formação de educadores;e renovar o currículo de forma interdisciplinar e transversal, entre outras ações, de modo que este passe a constituir um direito, e não um favor prestado em função da disposição dos governos, da sociedade ou dos empresários. 2.2.5 Educação Inclusiva AN02FREV001/REV 4.0 44 A educação inclusiva é uma modalidade de educação na qual os alunos considerados "normais" e aqueles que são portadores de algum tipo de deficiência podem aprender uns com os outros; sendo que uma depende da outra para que realmente ocorra uma educação de qualidade. A educação inclusiva no Brasil ainda consiste em um desafio a todos os profissionais de educação. A Educação inclusiva não deve ser tida como levar crianças especiais às classes comuns sem o acompanhamento do professor especializado; não pode ignorar as necessidades específicas da criança; não deve fazer as crianças seguirem um processo único de desenvolvimento, ao mesmo tempo e para todas as idades; deve ser extinto o atendimento de educação especial antes do tempo; esperar que os professores de classe regular ensinem as crianças portadoras de necessidades especiais sem um suporte técnico. 2.2.6 Educação especial Existem milhões de crianças e jovens em idade escolar com algum tipo de deficiência. Muitos deles não possuem um atendimento especializado, estando ou matriculados em escolas regulares ou não estudando. A Educação Especial Brasileira atualmente abrange apenas uma pequena parcela dos deficientes existentes, sendo que quase a metade deles é composta de educados por meio de escolas particulares e as demais são federais, estaduais e municipais. A educação especial trata-se, portanto, de uma educação voltada para os portadores de deficiência auditiva, visual, intelectual, física, sensorial, surdo, cegueira e as múltiplas deficiências. AN02FREV001/REV 4.0 45 2.3 TIPOS DE SISTEMA EDUCACIONAL A prática do sistema educacional cuja estrutura foi mostrada anteriormente pode ser feita em dois tipos de atividades educacionais, que serão abordados a seguir. 2.3.1 Educação Presencial A educação presencial consiste na modalidade didática mais antiga e tradicional, na qual ocorre o processo de aprendizagem por meio da presença física em um mesmo local tanto do professor quanto do aluno. 2.3.2 Educação a Distância A Educação a Distância consiste em uma nova modalidade do processo de aprendizagem no qual a interação entre professor e aluno ocorre em locais e momentos diferentes. A Educação à Distância, ou Educação Online, possui as seguintes características: Separação física aluno-professor; AN02FREV001/REV 4.0 46 Uso de comunicação suportada pela Internet em dois sentidos; Uso de uma rede computacional para apresentação ou distribuição do conteúdo educacional. As inovações da WEB possibilitaram o avanço e o aumento vertiginoso da Educação a Distância. Hoje os meios disponíveis para esta modalidade educacional são: videoconferências, teleconferências, salas de bate-papo temático, fóruns de discussão, blogs, wikis e plataformas de AVA´s. A educação a distância proporciona a possibilidade de aprendizagem com certa liberdade e flexibilidade. É uma aprendizagem com significado dentro dos ambientes digitais. 2.4 FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE EDUCACIONAL Os fundamentos da atividade educacionais têm como objetivo proporcionar o esclarecimento e a emancipação do ser humano, adotando como princípio norteador a reflexão, a discussão contínua, aberta e crítica dos Fundamentos do Conhecimento Humano, e constituindo permanente objeto da Educação. Os seus principais fundamentos envolvem ensino, pesquisa e extensão, os quais enfatizam a importância no trabalho acadêmico, dos fundamentos do conhecimento na formação do educador, possibilitando a reflexão e a crítica continuadas na práxis pedagógica, sob uma perspectiva de trabalho coletivo e interdisciplinar. Deve ser ressaltado que as propostas de trabalho viabilizam-se por intermédio de Núcleos temáticos que congregam professores do Departamento do Setor de Educação e de outros setores, bem como profissionais que atuam na sociedade, e traduzem o esforço em desenvolver ações articuladas no âmbito do saber epistêmico universal. AN02FREV001/REV 4.0 47 2.5 ANDRAGOGIA A andragogia consiste no ensino voltado para alunos adultos. Este tipo de educação no Brasil tem uma perspectiva com base nas proposições de Paulo Freire, que buscou pensar sobre a educação de jovens e adultos e delimitou, por meio da experiência prática, um caminho que proporcionaria uma aprendizagem significativa. A educação andragógica busca, portanto, promover o aprendizado por meio da experiência, fazendo com que a vivência estimule e transforme o conteúdo, impulsionando a assimilação, a compreensão, a memorização e a capacidade de resolver problemas por meio da categorização. A Andragogia é pautada em cinco princípios: 1) A experiência ou vivência: os adultos são motivados a aprender à medida que experimentam que suas necessidades e interesses serão satisfeitos; 2) Foco em situações centradas no dia a dia: a ação educacional precisa ser organizada em situações de vida do aluno, e as unidades de estudo tendem a fazer sentido à medida que fazem conexão com a rotina do aluno que estuda; 3) Análise de casos: o método ideal para o adulto aprender é orientando-o em estudos de caso que apresentem ricas experiências e propostas com sentido para o aluno; 4) Autoaprendizagem, autonomia e autodireção: os adultos conseguem, com independência e organização, atuarem de forma responsável e autônoma na vida. Na aprendizagem andragógica não é permitido apenas transmitir informação, mas dar sentido ao conhecimento e depois analisá-lo constantemente; 5) Diversidade cultural: a educação de adultos deve considerar as diferenças de estilo, tempo, lugar e ritmo tanto no ensino quanto na maneira de aprender. AN02FREV001/REV 4.0 48 Sob o ponto de vista do processo de aprendizagem, a Andragogia possui os seguintes princípios: O adulto é dotado de consciência crítica e ingênua a qual irá determinar a sua postura reativa ou proativa; Compartilhar experiências é fundamental para o adulto, pois elas reforçam as suas crenças bem como pode influenciar as atitudes dos outros; A relação educacional andragógica é baseada na relação entre o facilitador e o aprendiz em um clima de liberdade e proação; A negociação com o adulto sobre o interesse em participar da atividade de aprendizagem é primordial para a sua motivação nos estudos; O foco das atividades educacionais do adulto é na aprendizagem e não no ensino em si; O adulto é o agente de sua aprendizagem, sendo ele quem deve decidir sobre o que aprender; Aprender significa, na andragogia, adquirir: Conhecimento; Habilidade; Atitude; O processo de aprendizagem do adulto acontece da seguinte maneira: *Sensibilização (motivação); *Pesquisa (estudo); * Discussão (esclarecimento); * Experimentação (prática); * Conclusão (convergência); * Compartilhamento (sedimentação). A motivação do adulto para a aprendizagem está diretamente relacionada às chances que ele tem de partilhar sua história de vida; sendo assim, o seu ambiente de aprendizagem deve ser permeado de liberdade e incentivo para cada indivíduo falar de suas experiências e ideias; AN02FREV001/REV 4.0 49 O diálogo é a essência do relacionamento educacional entre adultos; sendo assim, os estudantes adultos devem ser estimulados a desenvolver a sua habilidade tanto de falar quanto de ouvir; O adulto é responsável pelo processo de comunicação; A prática educacional do adulto é baseada na reflexão e ação e com isso os assuntos devem ser discutidos e vivenciados;
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