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1 GERONTOLOGIA 1 SUMÁRIO 1. NOSSA HISTÓRIA ........................................................................................................................ 2 2. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 3 3. A importância do geriatra para a qualidade de vida dos idosos ................................................... 4 a. Saúde e Envelhecimento ..................................................................................................... 5 2.1.1 Fragilidade: ................................................................................................................. 9 4. avaliação multidimensional do idoso .........................................................................................14 a. O Diagnóstico Geriátrico ....................................................................................................15 b. O Plano de Cuidados ..........................................................................................................15 5. Síndromes geriátricas ................................................................................................................17 a. Incapacidade Cognitiva ......................................................................................................19 6. SUPORTE FAMILIAR E SOCIAL ....................................................................................................22 a. Avaliação da Funcionalidade Familiar.................................................................................23 b. Avaliação do Estresse do Cuidador .....................................................................................25 7. ATENÇÃO DOMICICILIAR ÀS PESSOAS IDOSAS ...........................................................................27 a. Gerenciamento do Cuidado da Pessoa Idosa ......................................................................29 1. Referências ...............................................................................................................................31 2 1. NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 2. INTRODUÇÃO Em pleno século XXI é salutar refletir sobre a importância de preservação do É a especialidade médica que se integra na área da Gerontologia com o instrumental específico para atender aos objetivos da promoção da saúde, da prevenção e do tratamento das doenças, da reabilitação funcional e dos cuidados paliativos. Abrange desde a promoção de um envelhecer saudável até o tratamento e a reabilitação do idoso. O processo de envelhecimento impacta no comportamento orgânico, demandando abordagens diferenciadas, assim como crianças e jovens apresentam especificidades que são tratadas pelo pediatra. Geriatra é o médico que se especializou no cuidado de pessoas idosas. Ele se torna especialista após ter feito residência médica credenciada pela Comissão Nacional de Residência Médica e/ou ter sido aprovado no concurso para obtenção do Título de Especialista em Geriatria da SBGG/AMB. Consulte o site do Conselho Regional de Medicina do seu estado ou a lista nacional de associados titulados pela SBGG para inteirar-se sobre a titulação do seu médico. SAIBA MAIS: Os concursos para a obtenção de Títulos de Especialistas em Geriatria e Gerontologia ocorrem durante os grandes eventos científicos da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – os Congressos Brasileiros de Geriatria e Gerontologia (realizados a cada dois anos) e os Congressos Regionais (que ocorrem também bianualmente, quando não há Congresso Brasileiro). O exame para o Título de Especialista em Geriatria (SBGG/AMB) é voltado apenas para médicos e elaborado de acordo com orientações da Associação Médica Brasileira. Já o concurso para a obtenção de Título de Especialista em Gerontologia (SBGG) é destinado a todos os profissionais de nível superior que desenvolvam atividades na área envelhecimento e a médicos que tenham o Título de Especialista em Geriatria. Fonte: https://sbgg.org.br/titulo-de-especialista/concursos/ 4 3. A IMPORTÂNCIA DO GERIATRA PARA A QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS O mundo e as pessoas em que nele vivem envelhecem a cada segundo. Isto é fato e faz parte do processo natural. Como também é verdade afirmar que a população do planeta fica mais velha num bem ritmo acelerado. Para se ter uma ideia, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que até 2050, a população com mais de 65 anos na Europa irá aumentar de 23% para 28%. Na América do Norte, o percentual correspondente subirá de 18% para 23%. Até 2050, Ásia, América Latina, Caribe e Oceania terão mais de 18% de sua população com mais de 65 anos. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, os idosos passaram a representar, em 2016, 14,4% do total da população. Entre 2012 e 2016, o número de cidadãos com mais de 60 anos cresceu 16%, contabilizando 29.566 milhões de pessoas. Este processo de envelhecimento torna os idosos muito mais vulneráveis às doenças do que os indivíduos mais jovens. Isto ocorre porque nos idosos, acontece a redução da capacidade de adaptação a sobrecargas funcionais. Durante toda a vida, nossos corpos mantêm algumas reservas funcionais. E tais estoques nos permitem desempenhar as atividades diárias, recuperar de enfermidades e ter energia. Com a chegada à terceira idade, no entanto, alguns fenômenos biológicos começam a entrar em ação no nosso corpo e acabam diminuindo, de forma gradativa, todas essas reservas. Com o aumento da expectativa de vida, a importância do geriatra é cada vez maior. É o profissional mais qualificado para atender esse público. Ele é capaz de diferenciar as mudanças anatômicas, funcionais e psicológicas próprias do processo natural de envelhecimento e das alterações decorrentes de doenças nessa fase da vida. Qual momento deve-se procurar um geriatra? Existem basicamente três situações: A primeira é preventiva, para se orientar como envelhecer de forma saudável. A segunda é para o acompanhamento do processo natural de envelhecimento, já em evolução. 5 A terceira é para o acompanhamento de doenças nessa fase da vida, evitando novas sequelas e reabilitando as já existentes. Como o profissional atua A geriatria é uma especialidade da medicina relativamente recente. Seu surgimento se deu justamente devido à necessidade de um atendimento diferenciado e exclusivo para quem já está ficando mais velho. O geriatra, ao consultar o paciente, será capaz de distinguir as mudanças anatômicas, psicológicas e funcionais que já são comuns ao processo do envelhecimento — provenientes de possíveis doençase distúrbios que também podem vir a ocorrer nessa fase da vida. E, ao contrário de muitos profissionais consultados por pessoas na faixa etária a partir dos 60 anos, os geriatras não se restringem a analisar um órgão ou sistema do corpo. Essa especialidade se dedica a toda a saúde do indivíduo. Segundo os médicos, inclusive, um dos principais objetivos do acompanhamento com um geriatra é a individualização do processo de saúde do paciente. Assim, evita-se a necessidade do acompanhamento com vários profissionais. Isso não impede, no entanto, que o geriatra trabalhe lado a lado com cardiologistas e neurologistas, por exemplo. Eles costumam ser os profissionais médicos mais requisitados por essa faixa etária. a. Saúde e Envelhecimento O rápido envelhecimento da população brasileira, aliado ao aumento da longevidade dosidosos traz profundas consequências na estruturação das redes de atenção à saúde, com maior carga de doenças crônicas e incapacidades funcionais. Consequentemente, constata-se o surgimento de novas demandas e o uso mais intensivo dos serviços de saúde. Todavia, ainda que as doenças sejam mais frequentes nesta faixa etária, nem sempre estão associadas à dependência funcional. Assim, o envelhecimento do indivíduo não é sinônimo de incapacidades e dependência, mas sim, de maior vulnerabilidade. O conceito de saúde deve estar claro no idoso. Não se deve confundir presença de doençasou idade avançada com ausência de saúde. Define-se saúde como uma 6 medida da capacidadeindividual de realização de aspirações e da satisfação das necessidades, independentementeda idade ou da presença de doenças. Envelhecer sem nenhuma doença crônica é mais uma exceção do que a regra.A maioria dos idosos é portadora de doenças ou disfunções orgânicas que, na maioria das vezes, não estão associadas à limitação das atividades ou à restrição de sua participação social. Assim, mesmo com doenças, o idoso pode continuar desempenhando seus papéis sociais. Deste modo, esta é uma informação que não agrega possibilidades de mudanças e é por este motivo que introduzimos um novo indicador de saúde, a capacidade funcional. O foco da saúde está estritamenterelacionado à funcionalidade global do indivíduo, definida como a capacidade de gerir a própria vida ou cuidar de si mesmo. A pessoa é considerada saudável quando é capaz de realizar suas atividades sozinha, de forma plena, mesmo que seja muito idosa ou portadora de doenças. A capacidade funcional ainda não é um conceito claramente definido. Indivíduos com omesmo diagnóstico clínico podem ter a capacidade funcional absolutamente distinta um do outro, o que faz com que essa população seja extremamente heterogênea. Com efeito, a heterogeneidade entre os indivíduos idosos é marcante e progressiva ao longo do processo de envelhecimento. Assim, a fronteira entre os conceitos de saúde, doenças, dependência e incapacidades deve estar bem definida. Bem-estar e funcionalidade são complementares. Representam a presença de autonomia (capacidade individual de decisão e comando sobre as ações, estabelecendo e seguindo as próprias convicções) e independência (capacidade de realizar algo com os próprios meios), permitindo que o indivíduo cuide de si e de sua vida. Cabe ressaltar que a independência e a autonomia estão intimamente relacionadas, mas são conceitos diferentes. Existem pessoas com dependência física, mas capazes de decidir as atividades de seu interesse. Por outro lado, há pessoas que têm condições físicas para realizar determinadas tarefas do cotidiano, mas não têm condições de decidir e escolher com segurança sobre como, quando e onde se envolver nestas atividades. A perda da independência nem sempre vem associada com a perda de autonomia: um idoso com perda da capacidade de deambular, pode perfeitamente gerenciarsua vida com autonomia e participação social. Segundo a Classificação Internancional da Funcionalidade - CIF (Organização Mundialda Saúde, 2003), declínio funcional é a perda da autonomia e/ou da 7 independência, poisrestringe a participação social do indivíduo. Por sua vez, a independência e autonomia estão intimamente relacionadas ao funcionamento integrado e harmonioso dos seguintes domínios funcionais. Cognição: é a capacidade mental de compreender e resolver adequadamente os problemas do cotidiano; Humor/Comportamento: é a motivação necessária para a realização das atividades e/ou participação social. Inclui também o comportamento do indivíduo, que é afetado pelasoutras funções mentais, como senso-percepção, pensamento e consciência; Mobilidade: é a capacidade individual de deslocamento e de manipulação do meio. Porsua vez, a mobilidade depende de quatro subsistemas funcionais: a capacidade aeróbicae muscular (massa e função), o alcance/preensão/pinça (membros superiores) e a marcha/postura/transferência. A continência esfincteriana é também considerada um subdomínioda mobilidade, pois a sua ausência (incontinência esfincteriana) é capaz de interferir namobilidade e restringir a participação social do indivíduo. Comunicação: é a capacidade de estabelecer um relacionamento produtivo com o meio,trocar informações, manifestar desejos, ideias e sentimentos. Depende de três subsistemasfuncionais: visão, audição e produção/motricidade orofacial. Esta última é representadapela voz, fala e mastigação/deglutição. 8 Figura 1: Domínios de Saúde do Idoso Fonte: http://www.rmmg.org/artigo. A perda da independência e/ou autonomia é causada pelas principais síndromesassociadas ao envelhecimento, conhecidas como as “Grandes Síndromes Geriátricas” ou “Gigantes da Geriatria”: a INCAPACIDADE COGNITIVA, INSTABILIDADE POSTURAL, INCONTINÊNCIA ESFINCTERIANA, IMOBILIDADE e a INCAPACIDADE COMUNICATIVA. A presença destas condições crônicas de saúde aumenta a complexidade do manejo clínico e o risco de IATROGENIA. Além disso, estão associadas a maior demanda de cuidados de longa duração, usualmente realizados pela família, que, na maioria das vezes, não se encontra preparada para esta nova função, quando se apresenta a INSUFICIÊNCIA FAMILIAR A presença de declínio funcional capaz de restringir a autonomia e a independênciado indivíduo não pode ser atribuída ao envelhecimento normal, mas 9 sim à presença de incapacidade funcional, resultante das Grandes Síndromes Geriátricas, de forma isolada ou associada (poli-incapacidades). Este declínio funcional não deve ser considerado “normal da idade”, pois representa o principal determinante de desfechos negativos, como o desenvolvimento de outras incapacidades e piora funcional, institucionalização, hospitalização e morte. Usualmente as causas são múltiplas e multifatoriais, frequentemente associadas à presença de doenças crônico-degenerativas, polifarmácia, sarcopenia e alto risco de iatrogenia. 2.1.1 Fragilidade: O conceito de fragilidade no idoso é extremamente amplo e controverso na literatura. Otermo fragilidade é comumente utilizado para representar o grau de vulnerabilidade do idosoa desfechos adversos tais como a própria dependência funcional, além de outros níveis de vulnerabilidade, como o risco de institucionalização ou morte. Todavia, o termo fragilidade apresenta várias definições operacionais, o que dificulta sua aplicação na prática. Em 2006, a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (Brasil, 2006) considerou “idoso frágil ou em situação de fragilidade aquele que: vive em ILPI; encontra-se acamado; esteve hospitalizado recentemente por qualquer razão; apresente doenças sabidamente causadoras de incapacidade funcional (acidente vascular encefálico, síndromes demenciais e outras doenças neurodegenerativas, SAIBA MAIS: A população idosa brasileira é composta por 29.374 milhões depessoas e, em 2016, foi registrado um aumento na expectativa da população. Assista ao episódio da websérie #VivaMaisSUS e conheça histórias reais de idosos que tiveram atendimento pelo SUS e conheceram a importância de hábitos saudáveis para ter uma velhice feliz. Saiba mais em: saude.gov.br/vivamaissus 10 etilismo, neoplasia terminal, amputações de membros); encontra-se com pelo menos uma incapacidade funcional básica, ou viva situações de violência doméstica. O desafio atual é a operacionalização do conceito de fragilidade, de modo a facilitar seu reconhecimento e a implementação de intervenções capazes de maximizar a independência e autonomia do indivíduo e impedir desfechos adversos, tornando este termo útil àqueles que se detém sobre a prevenção da incapacidade funcional do idoso. Assim, em termos de Saúde Pública, propõe-se o conceito de FRAGILIDADE MULTIDIMENSIONAL, definida como a redução da reserva homeostática e/ou da capacidade de adaptação às agressões biopsicossociais e, consequentemente, maior vulnerabilidade ao declínio funcional. Neste modelo multidimensional, as condições de saúde associadas a desfechos adversos podem ser agrupadas em dois componentes: clínico-funcional e sócio-familiar. Figura 1 - Conceitos Fonte: sites.google.com O conceito de saúde do idoso deve, portanto, utilizar informações sobre os aspectos clínico-funcionais e sócio-familiares, resgatando o conceito de saúde, definidacomo o máximo bem-estar biopsicossocial, e não, simplesmente, a ausência de doenças.Fragilidade MultidimensionalFragilidade Clínico – FuncionalFragilidade 11 Sócio – FamiliarComorbidadesFenótipo da Fragilidade(Fragilidade Física - Fraity)Dependência(Incapacidades). Figura 2 - Conceitos Fonte: sites.google.com As condições sociais, incluindo o nível socioeconômico, a presença de suporte social, o engajamento social e a sensação de autossuficiência exercem influência decisiva na saúde dos indivíduos e interferem na sua sobrevida, particularmente entre os idosos. O componente sócio-familiar resgata a importância de outros determinantes da saúde, como sexo, raça/cor, escolaridade, estado civil, arranjos familiares, viuvez recente, idoso cuidador, participação e apoio social, acesso a serviços e situação laboral. Todavia, estes marcadores são qualitativos e difíceis de serem mensurados, limitando sua utilização em escalas estruturadas. O componente clínico-funcional da fragilidade está melhor estruturado, mesmo que ainda não seja consensual. Integra os determinantes biológicos, físicos, cognitivos e psíquicos (saúde mental) responsáveis pelo declínio funcional em idosos. O envelhecimento aumenta o risco de problemas de saúde (senilidade) relacionados às doenças e causas externas (tais como traumas e acidentes) que, usualmente, apresentam-se na forma de comorbidades múltiplas (polipatologia, polifarmácia e internação recente) e representam a principal causa de incapacidades nos idosos. 12 Poroutro lado, o envelhecimento normal (senescência), também pode estar associado ao declínio das reservas homeostáticas e maior vulnerabilidade às agressões, principalmente através da ativação imunológica, gerando um estado pró- inflamatório crônico, que favorece o desenvolvimento da síndrome sarcopenia, traduzida como redução da capacidade aeróbica e muscular, considerada o principal elemento do fenótipo da fragilidade. Assim, tanto a senilidade quanto a senescência poderiam desencadear a dependênciafuncional. As incapacidades, por sua vez, comprometem mais ainda as reservashomeostáticas, gerando um ciclo vicioso auto-perpetuante, associado à progressão das incapacidades, hospitalização e óbito. O declínio funcional é, portanto, o principal alvo das intervenções geriátricogerontológicas. Neste modelo, temos o declínio funcional iminente e o estabelecido. Entende-se como declínio funcional iminente a presença de condições crônicas preditoras de dependência funcional, como a sarcopenia. Cabe ressaltar a diferença entre sarcopenia-processo e sarcopenia-síndrome. O processo de sarcopenia, compreendida como redução da massa muscular, é resultante das alterações neurendócrinas do envelhecimento, responsável por modificações da composição corporal, com diminuição da massa muscular, massa óssea, água corporal total e aumento da gordura. Por sua vez, a síndrome sarcopenia é caracterizada pela presença de alterações da massa e da função muscular (força e desempenho muscular), que está estritamente relacionada com o “fenótipo da fragilidade”. No modelo proposto, os critérios de operacionalização do diagnóstico de sarcopenia incluem a presença de três ou mais dos critérios do fenótipo da fragilidade e os critérios baseados na medida quantitativa da massa muscular, associada a medidas de função muscular, como a força de preensão palmar e a velocidade da marcha. A lentificação da marcha é um dos principais determinantes da sarcopenia/dinapenia, definida como velocidade de marcha menor ou igual a 0,8 m/s. Outro bom indicador de sarcopenia é o perímetro da panturrilha menor ou igual a 31 cm. Outros preditores de sarcopenia são a perda significativa de peso não intencional ou baixo índice de massa corporal (IMC < 22 kg/m2).Mais recentemente, alguns autores têm valorizado a redução da reserva neuropsicológica como outro preditor de desfechos adversos no domínio cognitivo e descreveram a “fragilidade cognitiva”, definida como uma síndrome clínica heterogênea caracterizada pela 13 presença simultânea de fragilidade física (“fenótipo da fragilidade”) associada a declínio cognitivo do tipo comprometimento cognitivo leve. A presença de múltiplas condições de saúde simultâneas está associada a maior utilização do sistema de saúde e maior risco de iatrogenia, incapacidades, institucionalização e óbito. Portanto, está incluído como um dos componentes do declínio funcional iminente. Todavia, a definição de multimorbidade e a sua operacionalização não estão estabelecidas. Pode ser definida como uma combinação de condições de saúde, agudas e/ou crônicas, associadas a diversos fatores de risco biopsicossociais, polifarmácia, hábitos de vida, uso excessivo do sistema de saúde, dentre outros SAIBA MAIS: Principais problemas que podem ser causados pela multimorbidade em pacientes idosos: queda geral na qualidade de vida; risco maior de hospitalização; incidência de problemas de saúde mental (como depressão e ansiedade); dificuldade de encontrar tratamento adequado para essas doenças; maior risco de morte. Fonte: https://previva.com.br/multimorbidade-em-idosos/ 14 4. AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DO IDOSO A avaliação multidimensional do idoso, também chamada avaliação geriátrica ampla (AGA)é considerada o padrão-ouro para o manejo da fragilidade do idoso. Diversas evidências têm demonstrado sua efetividade tanto em relação a custos para o sistema como em resultados de saúde para o paciente. Idealmente deve ser realizada por equipe geriátrico-gerontológica especializada e sua duração média varia de 60 a 90 minutos. Classicamente, é necessária a aplicação de diversos instrumentos ou escalas de avaliação funcional e de avaliações específicas realizadas pela equipe interdisciplinar (neuropsicologia, fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, farmácia, nutrição, serviço social e enfermagem). Muitas vezes propedêutica complementar mais sofisticada (tais como densitometria óssea, tomografia computadorizada, ressonância magnética) também é necessária. A Avaliação Multidimensional do Idoso permite o reconhecimento das demandasbiopsicossociais do indivíduo, ou seja, o diagnóstico de suas condições de saúde agudas e/ou crônicas. Este diagnóstico clínico-funcional deve ser capaz de reconhecer asincapacidades, tanto no que se refere à independência e autonomia nas atividades de vida diária (funcionalidade global), quanto à presença de comprometimento dos sistemas funcionais principais, representados pela cognição, humor, mobilidade ecomunicação. As síndromes geriátricas, representadas pela incapacidade cognitiva, instabilidade postural, imobilidade, incontinência esfincteriana e incapacidade comunicativa devem ser reconhecidas. Além disso, deve conter o diagnóstico das deficiências ou disfunções dos sistemas fisiológicos principais, como as alterações da nutrição, sono, saúde bucal e dosórgãos/sistemas (doenças). Outros aspectos relevantes do diagnóstico são o lazer, o suporte familiar, suporte social e a segurança ambiental. Esta identificação dos problemas de saúde e do estrato clínico-funcional a que pertence são fundamentais para a definição das intervenções a serem propostas, bem como as prioridades e metas terapêuticas. Este conjunto de diagnósticos biopsicosocias e funcionais do indivíduo, associados às intervenções promocionais, preventivas, curativas, paliativas e/ou reabilitadoras capazes de manter ou recuperar a saúde do idoso recebe o nome de Plano de Cuidados Individualizado. 15 Diante destes fatos e da necessidade de atender às demandas do rápido envelhecimento populacional, o Estado do Paraná adotou uma estratégia que inclui a identificação dos idoso frágeis ou em risco de fragilização na Atenção Primária em Saúde e priorização destesindivíduos para a realização de Avaliação Multidimensional Hierarquizada, a ser iniciada na própria APS. a. O Diagnóstico Geriátrico O diagnóstico multidimensional contempla a definição de todas as demandasbiopsicossociais do indivíduo, o que nada mais é do que o diagnóstico das condições de saúde, agudas e/ou crônicas. Este diagnóstico clínico-funcional deve ser capaz de reconhecer as incapacidades, tanto no que ser refere à independência e autonomia nas atividades de vida diária (funcionalidade global), quanto à presença de comprometimento dos sistemas funcionais principais, representados pela cognição, humor, mobilidade e comunicação. As síndromes geriátricas representadas pela incapacidade cognitiva, instabilidade postural, imobilidade, incontinência esfincteriana e incapacidade comunicativa devem ser reconhecidas. Além disso, deve conter o diagnóstico das deficiências ou disfunções dos sistemas fisiológicos principais,como as alterações da nutrição, sono, saúde bucal e dos órgãos/sistemas (doenças).Outros aspectos relevantes do diagnóstico são o lazer, o suporte familiar, suporte social e a segurança ambiental. b. O Plano de Cuidados O Plano de Cuidados é a estratégia utilizada para a organização do cuidado, onde sedefine claramente quais são os problemas de saúde do paciente (O QUÊ?), as intervenções mais apropriadas para a melhoria da sua saúde (COMO?), as justificativas para as mudanças (POR QUÊ?) e quais profissionais (QUEM?) eequipamentos de saúde (ONDE?) são necessários para a implementação das intervenções. 16 No idoso frágil, todas essas perguntas são complexas e multifatoriais e devem ser respondidas por uma equipe multidisciplinar, capaz de pensar de forma interdisciplinar. Todas as decisões clínicas devem considerar as melhores evidências científicas disponíveis e aplicáveis ao caso e, sobretudo, valorizar as preferências, necessidades, desejos e valores do idoso e de sua família, ou seja, a individualização do cuidado (MethodologCommitteeofthePatient-CenteredOutcomesResearch)Assim, o Plano de Cuidados contém todas as informações necessárias para o planejamento e implementação das ações necessárias para a manutenção ou recuperação da saúde do idoso. Infelizmente a literatura científica é pobre em evidências de eficácia de intervenções aplicadas a idosos muito idosos (≥ 80 anos) ou portadores de comorbidades e/ou poli-incapacidades. Os consensos disponíveis são, geralmente, direcionados a uma doença ou condição de saúde isolada. Todavia, devem ser utilizados como “ponto de partida” para as decisões clínicas, e não como meta. Daí a importância da priorização do cuidado, que consiste da decisão de quais intervenções devem ser aplicadas a curto, médio e longo prazo, tendo como parâmetro a melhoria da independênciae autonomia do paciente e de sua família. O foco da intervenção geriátrica é a melhoriada funcionalidade do indivíduo e não só da sobrevida. Outro aspecto relevante é aelaboração compartilhada das metas terapêuticas, com forte engajamento do paciente e de sua família nas decisões clínicas. O Plano de Cuidados deve incluir todas as intervenções capazes de melhorar a saúde do indivíduo. Desta forma, deverá atuar nas diversas fases da história natural do processo de fragilização, desde os fatores predisponentes ou fatores de risco até nas complicações e incapacidades resultantes do tratamento inadequado da doença. As intervenções clínicas podem prevenir,curar, controlar, reabilitar ou confortar, dependendo do paciente. AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DO IDOSO As intervenções propostas podem ser classificadas em ações preventivas/promocionais, curativas/paliativa ou reabilitadoras: AÇÕES PREVENTIVAS E/OU PROMOCIONAIS: consiste na implementação decuidados antecipatórios, capazes de modificar a história natural das doenças e 17 evitar futuros declínios da saúde. A promoção da saúde ou produção de saúde é o conjunto de medidas destinadas a desenvolver uma saúde ótima, promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais. As intervenções preventivas utilizam quatro tipos de abordagem: ACONSELHAMENTO ou mudança de estilo de vida, o RASTREAMENTO, a QUIMIOPREVENÇÃO (uso de drogas que, comprovadamente, reduzem o risco de doenças e/ou suas complicações) e a IMUNIZAÇÃO. O clínico, ao final de toda consulta, deverá prescrever as intervenções preventivas indicadas ou contraindicá-las, quando os malefícios superarem os benefícios ou quando a relação custo-benefício das intervenções não for apropriada, independente da motivação da consulta (Russel et al., 2011); AÇÕES CURATIVAS E/OU PALIATIVAS: consistem nas ações direcionadas a problemasespecíficos identificados na consulta médica. A ênfase deve estar no diagnóstico corretodos problemas crônicos de saúde e na prescrição correta das intervenções farmacológicase não farmacológicas. Deve-se estar atento ao risco de iatrogenia medicamentosa,considerada a maior síndrome geriátrica, principalmente nos idosos frágeis usuários depolifarmácia. Por sua vez, as ações paliativas reservam- se àquelas situações em que nãohá possibilidade de cura ou modificação da história natural da doença. Nestes casos, ocuidado paliativo tem como objetivo a melhora da qualidade de vida dos pacientes efamiliares diante de doenças que ameaçam continuamente a vida. O foco da intervenção não deve ser somente o alívio impecável da dor, mas do conjunto de todos os sintomasde natureza física, emocional, espiritual e social. 5. SÍNDROMES GERIÁTRICAS 18 A perda das funções resulta nas grandes síndromes geriátricas: incapacidade cognitiva, instabilidade postural, imobilidade e incapacidade comunicativa. O desconhecimento das particularidades do processo de envelhecimento pode gerar intervenções capazes de piorar o estado de saúde da pessoa idosa - a iatrogenia, que representa todo o malefício causado pelos profissionais da área de saúde. A incontinência urinária também é reconhecida como uma das grandes síndromes geriátricas. Ela afeta a independência do indivíduo, comprometendo, indiretamente, a função mobilidade. O idoso com incontinênciaesfincteriana sofre limitação de sua participação social, em virtude da insegurança gerada pela perda do controle miccional. A família, por sua vez, é outro elemento fundamental para o bem-estar biopsicossocial e sua ausência é capaz de desencadear ou perpetuar a perda de autonomia e independência do idoso (insuficiência familiar). Os idosos são vítimas em número significativo de síndromes semelhantes, independentemente de doenças específicas, denominadas gigantes da geriatria. Descritas inicialmente por Isaacs3, as grandes síndromes geriátricas não incluíam a incapacidade comunicativa e a insuficiência familiar. A sua inclusão deve ser contemplada, pois são síndromes frequentes e que atuam diretamente na saúde do idoso. Figura 3 – Síndromes geriátricas SAIBA MAIS: DICA DE VÍDEO: A apresentação pretende manter a informação sobre a necessidade do diferencial no atendimento à pessoa idosa Disponível em: https://youtu.be/XUZmLUOiqdU 19 Fonte: sites.google.com a. Incapacidade Cognitiva Designa o comprometimento das funções encefálicas superiores capaz de prejudicar a funcionalidade da pessoa. As alterações nas funções superiores que não apresentam prejuízo na funcionalidade do paciente não podem ser classificadas como incapacidade cognitiva. Essas alterações constituem o transtorno cognitivo leve. Para o estabelecimento do diagnóstico de incapacidade cognitiva. É fundamental a constatação do prejuízo na funcionalidade do indivíduo ou perda de AVDs. Figura 4 – Incapacidade Cognitiva Fonte: sites.google.com As principais etiologias da incapacidade cognitiva são: demência, depressão, delirium e doenças mentais, como esquizofrenia, oligofrenia e parafrenia. 20 É recomendado o uso de normas padronizadas para detectar as alterações na funcionalidade dos idosos pelo desempenho em suas atividades básicas ou instrumentais de vida diária, por intermédio das escalas de Katz4 e de Lawton-Brody5, respectivamente. O miniexame do estado mental (MEEM), descrito por Folstein6, representa o principal teste de triagem das funções encefálicas superiores. Todos os testes de triagem cognitiva são influenciados pelo nível de escolaridade (instrução) dos pacientes. O indicador de escolaridade possibilita a correção dos escores dos testes. No MEEM utiliza-se como ponto de corte o escore 18 para indivíduos analfabetos e 26 para aqueles com escolaridade superior a oito anos.7 A Figura 5 mostra um fluxograma para a triagem de déficit cognitivo. Figura 5 - Os quatros "Ds" da incapacidade cognitiva FIQUE POR DENTRO: A Escala de Lawton foi utilizada para avaliação das atividades instrumentais de vida diária (AIVD). Seu escore varia de 7 a 21, de forma que maiores pontuações indicam melhor desempenho. O Índex de Independência nas Atividades de Vida Diária (AVD) ou Índice de Katz, desenvolvido por Sidney Katz, é um instrumento criado em 1963, para medir a avaliação funcional do idoso. O índice avalia a capacidade da pessoa de realizar tarefas como tomar banho ou se vestir 21 Fonte: sites.google.com Figura 5 - Fluxograma para triagem de déficit cognitivo Fonte: sites.google.com O diagnóstico etiológico nem sempre é fácil, já que as causas de incapacidade podem coexistir no mesmo paciente. O delirium (estado confusional agudo) também pode simular ou associar-se à demência ou depressão. A história pregressa constitui- se em elemento dos mais importantes para a distinção entre a demência e as doenças psiquiátricas. 22 6. SUPORTE FAMILIAR E SOCIAL 23 a. Avaliação da Funcionalidade Familiar As famílias estão em constante processo de transformação e mudança. Váriasteorias buscam conceituá-las e explicá-las. Dentre estas teorias destaca-se a Teoria Sistêmica onde as famílias são compreendidas como sistemas baseados nas relações, com base em ganhos e perdas, distribuição do poder de cada um deseus membros, estabelecimento de papéis, desenvolvimento de códigos, simbologias e significados para atitudes e relações. Este sistema sofre modificações como o passar do tempo, influenciado pelos próprios conflitos e pelas transformações no mundo. Dessa grande interação surge o seu potencial transformador em busca de equilíbrio. Todos os membros familiares acabam desempenhando tarefas e assumindo papéis para que o Sistema Familiar funcione. Dentre tantas funções e papéis possíveis de serem desenvolvidos pelos diversos membros familiares, duas estão sempre presentes: o prover e o cuidar. O prover, originalmente é um papel gênero masculino, e está ligado ao sustento, ao poder de compra, às possibilidades e oportunidades daquela família na nossa sociedade capitalista. O cuidar, originalmente é um papel do gênero feminino, e está ligado ao desenvolvimento da afetividade, da alimentação, da atenção e vigilância constate. Estes são papéis em profunda transformação na nossa sociedade, e hoje, não são distinguíveis entre o homem e mulher. Estes e tantos outros papeis devem ser constantemente negociados para que a família funcione. Esse funcionamento nem sempre é harmônico, o que pode contribuir para o surgimento de doenças nos diferentes membros familiares, em especial nos idosos, quando aos poucos perdem funções previamente definidas. Os sistemas familiares podem ser compreendidos como funcionais ou disfuncionais. Nos Sistemas Familiares funcionais, o grupo familiar responde aos conflitos e situações críticas buscando estabilidade emocional gerenciando-os a partir de recursos próprios (conhecidos ou potenciais) e resolvendo o problema instalado de forma adequada. Os indivíduos são capazes de harmonizar suas próprias funções em relação aos outros de forma integrada, funcional e afetiva protegendo a integridade do sistema como um todo e a autonomia funcional de suas partes. Sistemas familiares funcionais ou maduros constituem para os profissionais, recursos estratégicos e terapêuticos, fundamentais e integrados na assistência ao idoso. 24 Os Sistemas Familiares disfuncionais são aqueles nos quais não há um comprometimento com a dinâmica e a manutenção do sistema por parte de seus membros. Esses costumam priorizar seus interesses particulares em detrimento do grupo não assumindo seus papéis dentro do sistema. Com frequência são observados vínculos afetivos superficiais e instáveis e alto grau de agressividade e hostilidade entre seus membros, mesmo que não abertamente colocados. Raramente são capazes de resolver situações críticas como uma questão grupal, de forma adequada e, com frequência, identificam a “crise” como responsabilidade única do membro que a desencadeou. Nas situações conflitivas enfrentadas nesses sistemas com pessoas idosas, frequentemente é possível observar uma solução aparente onde, ou o idoso é separado do seu meio (institucionalizado ou isolado do grupo) que o considera gerador do problema ou os outros membros da família se afastam para não se envolverem com a questão, uma vez que acreditam que a mesma não diz respeito a eles. A função das Equipes Saúde da Família é auxiliar os membros familiares a renegociarem seus papéis e funções de maneira a constituírem um Sistema Familiar mais harmônico e funcional. Lembrando que como um sistema, ele sempre tenderá a um novo equilíbrio. As diversas realidades apresentadas para as famílias brasileiras, tais como o aumento da mortalidade masculina em faixas etárias cada vez mais jovens, a necessária inserção das mulheres no mercado de trabalho formal e informal, afetam o balanço entre necessidades e a disponibilidade de auxílio real existente entre os membros familiares, fazendo com que pessoas idosas assumam o cuidado das residências, das criançase dos adolescentes com bastante frequencia. O idoso algumas vezes pode assumir o papel de "bode expiatório", sendo culpabilizado por todas as crises familiares. Esta é uma situação bastante grave e deve ser trabalhada pela equipe Saúde da Família. As entrevistas com as famílias são fontes muito ricas em informações e propiciam uma maior interação entre os envolvidos. Há necessidade de uma instrumentalização sistematizada que auxilie os profissionais de saúde, em especial na Atenção Básica, a direcionarem seu olhar para além dos indivíduos, buscando compreender a funcionalidade familiar como um componente essencial do planejamento assistencial para o alcance do sucesso terapêutico. Observa-se a necessidade de serem estabelecidos esquemas assistenciais mais efetivos e dinâmicos, capazes de assistir as demandas crescentes dos idosos e 25 de suas famílias. Dessa forma permite que ambos encontrem uma solução terapêutica adequada, em que o equilíbrio familiar seja a meta, melhorando a assistência ao idoso e diminuindo os custos emocionais da própria família. b. Avaliação do Estresse do Cuidador Cuidador é a pessoa, da família ou não, que presta cuidados à pessoa idosaque apresenta dependência (em maior ou menos grau). Suas tarefas envolvem o acompanhamento nas atividades diárias, como auxílio na alimentação, higiene pessoal, medicação de rotina entre outros; auxiliando na recuperação e na qualidade de vida dessa pessoa. O ato de cuidar é voluntário e complexo, tomado por sentimentos diversos e contraditórios como raiva, culpa, medo, angústia, confusão, cansaço, estresse, tristeza, nervosismo, irritação e choro. Esses sentimentos podem ser simultâneos e devem ser compreendidos, fazendo parte da relação entre o cuidador e a pessoa cuidada. É importante avaliar a presença de estresse entre os cuidadores. Isso pode se um fator de risco da ocorrência de situações de violência contra os idosos ou de adoecimento do próprio cuidador. Um instrumento desenvolvido por Zarit tem-se mostrado apropriado para esse fim. Quando um cuidador está disponível, a carga sobre ele pode ser muito significativa. É importante que outras opções assistenciais sejam oferecidas às famílias com o objetivo de adequar as necessidades emanadas pelos idosos. Os grupos de cuidadores podem ser uma estratégia útil para esse fim. O Guia Prático do Cuidador, elaborado pelo Ministério da Saúde, oferece orientações práticas para ao cuidador. 26 Estudos afirmam que a institucionalização da pessoa idosa é decorrente da inexistência de serviços suficientes capazes de assistir às necessidades tanto dos idosos quanto de seus membros familiares. A maioria das famílias assiste aos idosos pelo maior período de tempo e tão bem quanto possível, porém, quando a institucionalização é necessária, os cuidadores alegam terem chegado ao fim de suas capacidades assistenciais. O planejamento programado para a manutenção da saúde dos cuidadores e das famílias dos idosos necessitados tem sido frequentemente negligenciado. FIQUE POR DENTRO: Guia Prático do Cuidador - Ministério da Saúde. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_cuidador.pdf 27 7. ATENÇÃO DOMICICILIAR ÀS PESSOAS IDOSAS É um conjunto de ações realizadas por uma equipe interdisciplinar no domicílio do usuário/família, a partir do diagnóstico da realidade em que está inserido, de seus potenciais e limitações. Articulam promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação, favorecendo assim, o desenvolvimento e adaptação de suas funções de maneira a restabelecer sua independência e a preservação de sua autonomia. A Atenção Domiciliar no setor público justifica-se pelo grau de humanização que essa atenção traz para o atendimento ao usuário/família, pela possibilidade de desospitalização, com liberação de leitos para doentes que realmente deles necessitam e também pela redução de complicações decorrentes de longas internações hospitalares com redução dos custos envolvidos em todo o processo de hospitalização. A Atenção Domiciliar integra ainda duas modalidades específicas, a internação domiciliar e a assistência domiciliar. Internação Domiciliar A Internação Domiciliar no âmbito do SUS, Portaria GM N° 2529 de 20 de outubro de 2006, é o conjunto de atividades prestadas no domicílio às pessoas, clinicamente estáveis, que exijam intensidade de cuidados acima das modalidades ambulatoriais, mas que possam ser mantidos em casa, sendo atendidos por equipe específica. Assistência Domiciliar Pode ser realizada por profissionais da Atenção Básica / Saúde da Família ou da atenção especializada. O Ministério da Saúde define que a Assistência Domiciliar na Atenção Básica/ Saúde da Família é uma modalidade da Atenção Domiciliar, inerente ao processo de trabalho das equipes desse nível de atenção. Destina-se a responder às necessidades de saúde de um determinado segmento da população com perdas funcionais e dependência para a realização das atividades da vida diária. Organização da Assistência Domiciliar para Pessoa Idosa na Atenção Básica A Equipe Saúde da Família deve estar organizada para acolher, além da demanda espontânea e programada, as necessidades de saúde da pessoa idosa com perdas funcionais e dependência para a realização das atividades de vida diária, que necessitem de atendimento no domicílio. Identificação da Necessidade de Assistência Domiciliar para Pessoa Idosa na Atenção Básica 28 A identificação de uma pessoa idosa que necessite de Assistência Domiciliar na Atenção Básica parte de sua situação clínica, juntamente ao grau de perda funcional e dependência para a realização das atividades de vida diárias, conforme descritas nos critérios de inclusão. Esses usuários podem ser identificados das seguintes formas: Ser egressos de internação hospitalar ou domiciliar. Por meio de visitas do agente comunitário de saúde. Por solicitação do próprio usuário, da família, de vizinhos, do hospital, entre outros. A Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa é instrumento que pode auxiliar o ACS na identificação dos idosos que necessitam de assistência domiciliar. O ACS deve levar o caso identificado para a equipe de saúde,que o avaliará para inclusão ou não. Um dos momentos a ser aproveitado para a troca de informação é a reunião de equipe. Para mais informações sobre a Assistência Domiciliar na Atenção Básica/Saúde da Família consultar o capítulo 10 do Caderno de Atenção Básica/Saúde da Família – Controle dos Cânceres do Colo do Útero e da Mama, Ministério da Saúde, 2006. Interface entre a equipe da Atenção Básica/Saúde da Família e a equipe de Internação Domiciliar Com base no princípio da territorialização, a Atenção Básica/Saúde da Família deve ser responsável pela atenção à saúde de todas as pessoas que estão na área de abrangência, inclusive aquelas que estão num determinado momento, sendo atendidas em outro nível de complexidade do sistema. Uma pessoa em Internação Domiciliar não deixará de ser acompanhado também pela equipe da Atenção Básica/Saúde da Família. FIQUE POR DENTRO: De acordo com a legislação brasileira (Lei 10.741), é considerado idoso qualquer indivíduo com idade igual ou superior a 60 anos. Todos os direitos, oportunidades, facilidades e preservação da saúde dessas pessoas são assegurados pelo Estatuto do Idoso desde 2003. 29 a. Gerenciamento do Cuidado da Pessoa Idosa No Brasil, o Sistema Único de Saúde está assumindo o desafio de construir um sistema de saúde que desenvolva a capacidade de trabalhar em rede e em equipe interdisciplinar. Gerenciar o cuidado das pessoas idosas com doenças crônicas exige conhecimento técnico assistencial, administrativo e capacidade em técnicas de resolução de problemas.Mas, quem gerencia o cuidado da pessoa idosa na Atenção Básica? A equipe da Atenção Básica/Saúde da Família, que na reunião de equipe, elabora o Projeto Terapêutico Singular (PTS) para cada usuário que apresente alguma situação de maior gravidade ou risco, definindo atividades, metas e responsáveis. A gestão do PTS pode ficar a cargo de um dos profissionais da equipe, de preferência, ser aquele que desenvolveu o melhor vínculo com o usuário, que fará o papel de “maestro” das atividades referentes ao projeto. O cuidado à pessoa idosa compreende diversos atores: idoso, família, cuidador (se existente), comunidade e equipes de atenção à saúde, que atuam de forma inter- relacionada no desempenho das atividades de atenção às demandas identificadas por meio de relações interpessoais. É preciso valorizar e criar, além dos espaços de discussão da própria equipe, outros espaços em que possam ser incluídos os outros atores envolvidos na rede social de cuidado do idoso. Os vários serviços e os diferentes profissionais envolvidos no cuidado de uma pessoa devem estabelecer formas de comunicação para além das referências e contra-referências, trocando e produzindo os saberes necessários a cada Projeto Terapêutico Singular (PTS). O gerenciamento do cuidado da pessoa em processo de envelhecimento: a) Permitirá a identificação das demandas e dos serviços necessários para atendê- las. b) Planejará conjuntamente com idosos, familiares e cuidadores, a utilização desses serviços. c) Coordenará a prestação dos serviços elencados como necessários. d) Estabelecerá uma comunicação eficiente entre todos os envolvidos permitindo, o desenvolvimento de um cuidado integrado. e) Coordenará a qualidade do cuidado prestado revisando a utilização dos recursos, o estabelecimento e a utilização de protocolos e analisando as respostas obtidas. 30 Embora inserido no contexto da saúde, os cuidados com a pessoa em processo de envelhecimento envolvem toda a rede de atenção ao idoso em especial os serviços sociais e de saúde. O desenvolvimento desse cuidado deverá guiar os idosos na complexa rede de serviços assistenciais permitindo, por meio de decisão conjunta e do trabalho de coordenação das equipes da atenção básica, decidir pelas opções mais apropriadas para cada caso. O controle das condições crônicas nos idosos pode, hoje, ser mais eficiente em virtude dos avanços científicos, mas, é a clínica ampliada14 que permitirá o seguimento regular da terapêutica por meio do acompanhamento do auto- gerenciamento, da detecção e intervenção precoce em agravos e agudizações. Isso só é possível por meio de uma assistência organizada e não somente de profissionais competentes individualmente. A adesão aos projetos terapêuticos depende da capacidade da equipe de saúde em produzir vínculos positivos e produzir propostas terapêuticas pactuadas. Idosos e seus familiares não devem ser tratados ou considerados como receptores passivos dos serviços de saúde. Eles precisam e devem ser agentes ativos na construção de um novo cuidado à própria saúde, participando do tratamento e sendo apoiados e valorizados nesse processo. A avaliação das atividades de vida diária (AVD) são frequentemente utilizadas como indicadores de incapacidade física refletindo, substancialmente, o nível de comprometimento dos idosos. O gerenciamento do cuidado pode postergar tais perdas e organizar os cuidados permitindo a participação ativa de todos os envolvidos tornando-o, menos impactante e mais adaptativo. A tríade do cuidado da pessoa idosa é formada pelo idoso e familiares, pelo grupo de apoio da comunidade e pela equipe de atenção à saúde. Essa tripla parceria é peculiar ao tratamento das condições crônicas e essencial no gerenciamento do cuidado do idoso 31 1. REFERÊNCIAS Beauvoir S. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1990. Berger L. Aspectos biológicos do envelhecimento. In: Berger L, Mailloux-Poirier D. Pessoas idosas - uma abordagem global. 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Adulto brasileiro e as doenças da modernidade - epidemiologia das doenças crônicas não transmissíveis. São Paul (SP): Hucitec; 1998. p. 203-22. Neri AL. Envelhecer num país de jovens - significados de velhos e velhice segundo brasileiros não idosos. Campinas (SP): Editora da Unicamp; 1991. Neri AL. Psicologia do envelhecimento. Temas selecionados na perspectiva do curso da vida. Campinas (SP): Papirus; 1995. Papaléo-Netto M. Envelhecimento: desafio na transição do século. In: Papaléo-Netto M, Ponte JR, Duarte, ALN, Ribeiro A, Cervado AM, Donato AF, et al. Gerontologia - a velhice e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo (SP): Atheneu; 1996. p. 3-12. Patarra NL. Mudanças na dinâmica demográfica. In: Monteiro CA, Patarra NL. Velhos e novos males da saúde do Brasil. São Paulo (SP): Hucitec; 1995. p.61-78. Peixoto C. Entre o estigma e a compaixão e os termos classificatórios: velhos, velhote, idoso, terceira idade. In: Moraes M, Barros L, Debert G, Peixoto C. Velhice ou terceira idade?. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas; 1998. p. 69-84. 32
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