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www.trilhante.com.br HABEAS CORPUS ÍNDICE 1. APONTAMENTOS INICIAIS ........................................................................................... 4 2. IDENTIFICAÇÃO ............................................................................................................10 Caso 1 ............................................................................................................................................................................................. 10 Caso 2 ............................................................................................................................................................................................. 11 Caso 3 ............................................................................................................................................................................................. 11 3. CONSTRUÇÃO DA PEÇA PROCESSUAL ................................................................14 2ª Fase Prova Constitucional – Peça Prática ......................................................................................................14 www.trilhante.com.br 3 1. Apontamentos Iniciais O termo habeas corpus significa “apresente o corpo”. Trata-se de um remédio constitucional que tutela a liberdade de locomoção do indivíduo. Assim, o habeas corpus é um remédio constitucional cabível sempre que alguém tiver sofrendo constrangimento ilegal no seu direito de ir e vir, ou quando estiver na iminência de sofrer tal constrangimento. Dessa forma, nos termos do art. 5º, inciso LXVIII da CRFB/88: Art. 5º, LXVIII. conceder-se-á “habeas-corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”. Essencial ressaltar que o habeas corpus não é um recurso, apesar de o Código de Processo Penal enquadrá-lo como tal. É assim porque a utilização de recursos pressupõe uma decisão não transitada em julgado, e o remédio constitucional em questão pode ser impetrado a qualquer momento, ainda que esgotadas todas as instâncias. Além disso, ele pode ser impetrado tanto contra uma decisão judicial quanto contra um ato administrativo, bastando que haja a ameaça ou a violência ao direito de ir e vir de determinada pessoa. Portanto, mais correto dizer que o habeas corpus é uma ação penal popular, vez que pode ser impetrado por qualquer indivíduo em qualquer momento processual. Neste passo, é necessária a presença de todos os requisitos da ação penal, quais sejam, 1. Possibilidade jurídica do pedido – a demanda proposta tem que ter previsão legal 2. Interesse de agir – é preciso que de fato tenha havido indevida restrição ao direito de ir e vir ou sua ameaça 3. Legitimidade ad causam – qualquer pessoa possui legitimidade ativa para ajuizar habeas corpus 4. Justa causa – é preciso que o habeas corpus se dê em proveito de quem realmente precisa dele. O habeas corpus, conforme supramencionado, pode ser impetrado por qualquer indivíduo, tendo ele, ou não, capacidade postulatória. Não há necessidade de o beneficiário outorgar procuração a quem ficar incumbido de impetrar o remédio. Até mesmo o Ministério Público ou qualquer pessoa jurídica podem impetrá-lo em favor de outrem. Porém, importante ressaltar que o magistrado não poderá impetrar habeas corpus. Esta vedação condiz com sua função, a qual demanda neutralidade e imparcialidade, e só não se aplicará caso o próprio magistrado seja o beneficiado da ação. Ademais, ressalte-se www.trilhante.com.br 4 que o HC possui prioridade de julgamento, sendo julgado pelo juiz antes de todos os outros casos que ele tiver em mãos. Como já mencionado, a legitimidade ativa do remédio constitucional ora estudado pertence a qualquer pessoa (impetrante), podendo ser física ou jurídica, nacional ou estrangeira, e não demanda o auxílio de advogado, ou seja, é permitido a qualquer indivíduo impetrar habeas corpus em favor de terceiro, a quem se chamará paciente. Já este terceiro, paciente em favor de quem se entra com HC, não poderá ser pessoa jurídica dado que o direito à liberdade de ir e vir é característico exclusivamente dos seres humanos, pessoas físicas. A legitimidade passiva do HC será do coator. Chama-se coator aquele responsável por ameaçar, turbar, restringir ou atrapalhar indevidamente o direito à liberdade de locomoção do paciente. A autoridade coatora será, normalmente, pessoa pública, como no exemplo da prisão injusta acometida por autoridade investida de poder de polícia. Será, entretanto, igualmente cabível impetrar HC diretamente contra um particular, por exemplo, no caso de injusta internação de alguém forçada por um familiar. O mais comum, reforça-se, é que coator seja autoridade judiciária ou policial, podendo se considerar tanto pessoa física quanto pessoa jurídica. Bem colocam Mauro Cunha e Geraldo Coelho que “entre o coator e o paciente, há quase sempre um vínculo de dependência ou subordinação, quer porque o sujeito passivo da ação de habeas corpus está investido na autoridade de agente público, garantidor da ordem jurídica e da segurança da comunidade, quer porque tem ascendência natural e consequente poder que passa a usar abusivamente”. Veremos adiante de que se trata este abuso de poder. Retomando, o HC é cabível, nos termos do CPP, nas hipóteses de coação/ameaça ou abuso de poder à locomoção. Vejamos: Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar. www.trilhante.com.br 5 Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: I - quando não houver justa causa; II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei; III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação; V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza; VI - quando o processo for manifestamente nulo; VII - quando extinta a punibilidade. A modalidade “abuso de poder” pode se dar por 1. excesso de poder, quando a competência legítima é extrapolada; 2. desvio de poder, quando se desrespeita a finalidade do interesse público, ain- da que dentro da competência do agente, e 3. omissão de poder, quando é dever legal do agente agir de determinado modo e este não o faz. Há duas modalidades de Habeas corpus: o Habeas corpus liberatório/repressivo é aquele utilizado para interromper um impedimento ilegal já ocorrido ao direito de locomoção de indivíduo. É utilizado, via de regra, na hipótese de se libertar um preso. O segundo tipo é o Habeas corpus preventivo, que é aquele utilizado para prevenir uma possível ou provável restrição ao direito de ir e vir. Para determinar a competência para julgamento de pedido de HC, há que se observar os critérios da territorialidade e da hierarquia. Em regra geral, a impetração do habeas corpus será feita perante a autoridade judiciária de primeiro grau, entretanto, a competência para julgamento do HC vai depender também do Legitimado Passivo e do paciente. Colocaremos, desta maneira, que será a autoridade judiciária hierarquicamente superior àquela que determinou o ato impugnado, nos termos do art. 650, § 1º do CPP. Vejamos: • Contra o ato do Delegado (autoridade coatora), o habeas corpus é impetrado junto ao Juiz de primeira instância. • Contra o ato do Juiz de primeira instância, o habeas corpus é impetrado junto ao Tribunal estadual, federal, militar, eleitoral etc., ao qual estiver subordinado o juiz (autoridade coatora). http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10611677/artigo-650-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10611543/par%C3%A1grafo-1-artigo-650-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 www.trilhante.com.br6 • Contra o ato do Tribunal de segunda instância, o habeas corpus é impetrado junto ao Tribunal Superior respectivo (STJ, STM, ou TSE). • Contra atos dos Tribunais Superiores (STJ, STM, ou TSE) o habeas corpus será impetrado junto ao Supremo Tribunal Federal. Atenção: essencial não confundir a autoridade que decreta a ordem injustamente e a autoridade que, cumprindo a tal ordem, faz seu devido de trabalho e pren- de o indivíduo. Quando o delegado prende o paciente por determinação do juiz, a autoridade coatora será o juiz e não o delegado! Adicionalmente, quando o Tribunal julga o habeas corpus e denega a ordem injustamente (julga improcedente o pedido de maneira indevida), a situação se altera; a partir deste evento, pode haver nova impetração de HC, no qual o Tribunal será a autoridade coatora. Por fim, analisemos os requisitos da petição do HC, nos termos do art. 654: Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público. § 1º A petição de habeas corpus conterá: a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e o de quem exercer a violência, coação ou ameaça; b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor; c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder escrever, e a designação das respectivas residências. Desta forma, termos como requisitos: (a) identificação do paciente e do impetrado; (b) razões de fato e direito expondo a ilegalidade; (c) requisitos formais, como a assinatura, endereçamento, etc. Além disto, se for o caso na hipótese concreta, é plenamente admitido pela doutrina o cabimento de medida cautelar em sede de habeas corpus, apesar da falta de previsão legal para tanto. Nesta hipótese, necessários os clássicos requisitos deste instituto: o perigo na demora e a verossimilhança entre as alegações e o direito. www.trilhante.com.br 7 Além do HC impetrado com pedido de liminar, é também naturalmente possível impetrar habeas corpus para combater medida cautelar concedida que tenha causado lesão ao direito de liberdade de locomoção de alguém. www.trilhante.com.br 8 2. Identificação O Habeas corpus, HC, é um remédio constitucional e, como tal, representa garantia constitucional em favor de qualquer indivíduo que venha a sofrer violência ou ameaça de constrangimento ilegal no âmbito de sua liberdade de locomoção, por parte de autoridade legítima. Para fins de segunda fase do Exame de Ordem, ele será aplicado em casos concretos. Então, para identificar este tipo de peça processual em sua prova, será necessário, primeiramente, identificar se o enunciado está apresentando um problema concreto, de caráter subjetivo, envolvendo uma pessoa e um caso real, ou se está sendo discutida lei de caráter abstrato. Destarte, na hipótese da identificação de um caso concreto, possível pensar na possibilidade de Habeas corpus. Após a identificação do caso concreto, deverá ser analisado se está sendo colocado em risco ou já impedido o direito de locomoção do indivíduo, ou seja, direito de ir, vir ou ficar. Em caso positivo, verifica-se se esta restrição de liberdade é ilegal ou utilizada por meio de abuso de poder, ou se é perfeitamente regular. Neste passo, o aluno deve ter atenção para importantes requisitos de direcionamento, legitimidade e moldes do HC, da seguinte forma: • Ilegalidade (art. 648, CPP) ou abuso de poder (na modalidade excesso, desvio ou omissão); • Legitimidade ativa: qualquer pessoa, física ou jurídica, nacional ou estrangeira, independentemente de sua capacidade civil e política, de sua idade ou de seu estado mental pode impetrar HC em favor próprio ou de terceiro; • Paciente: apenas pessoa física; • HC Repressivo: o paciente já foi submetido ao constrangimento ou violência; • HC Preventivo: há fundado receio de constrangimento futuro ou ameaça. Diante disto, passemos a analisar casos concretos para identificação da peça processual: Caso 1 Roberta Maria, brasileira, solteira, trabalha na cidade X, vendendo serviços de massagem erótica, que oferece às pessoas na rua em frente ao seu estabelecimento. Acontece que ao lado do local em que trabalha funciona a Igreja Z, cuja segurança é feita por um policial civil que faz bico durante os cultos. O referido policial insultou Roberta, alertando-a que na próxima vez que estivesse com roupas provocantes em frente ao seu estabelecimento e abordasse as pessoas para www.trilhante.com.br 9 oferecer serviço de massagem, ele a levaria presa, porque tinha “pessoas de Deus” indo à Igreja. Diante da referida ameaça, Roberta, com medo de ser presa e sem ter outro lugar para trabalhar, procura você, advogado, para saber qual medida pode tomar para evitar a injusta prisão. Analisando o caso, fica bem claro que se trata de um HC. Estamos diante de um caso concreto, uma ameaça à liberdade de locomoção, e essa ameaça é completamente ilegal. Desta forma, seria o caso de um HC preventivo, para evitar que essa prisão indevida venha a ocorrer no futuro. Caso 2 Mévio de Tal, brasileiro, solteiro, estudante de engenharia, é herdeiro legítimo de herança de alto valor deixada por seu pai. Seus dois irmãos mais velhos, querendo dividir apenas entre si esses valores, o levaram e o internaram em um hospital psiquiátrico, contra a sua vontade, alegando surto psicótico de Mévio, através de um laudo médico forjado. Poucos dias depois, Mévio consegue estabelecer contato telefônico com seu primo Paulo, e lhe conta toda a história ocorrida. Paulo, por sua vez, procura você, advogado, para propor a medida judicial mais rápida possível a fim de tirar Mévio do hospital e resguardar sua liberdade. É claro que, novamente, se trata de um HC. Neste caso concreto, há restrição à liberdade de locomoção de Mévio, que foi internado contra sua vontade. Desta forma, o HC será impetrado na modalidade repressiva, tendo em vista que ele já se encontra com sua liberdade restringida por ato ilegal. Caso 3 O secretário de planejamento do Município Alfa não consegue dar andamento em duas grandes obras do município por falta de verbas. Conforme ouviu do Prefeito, caso as cinco maiores empresas do município quitassem suas dívidas com a Prefeitura, haveria dinheiro o suficiente para as referidas obras. Inconformado com a situação, o secretário passa a ameaçar os empresários devedores. Certo dia, acompanhado da Guarda Municipal, o secretário determina a prisão do empresário Rodolfo, quando este saía de sua casa – ordem imediatamente cumprida pela Guarda. Na delegacia, o empresário foi informado que o delegado de polícia fora executar uma operação em local distante, e que não sabiam quando ele voltaria para decidir sobre a manutenção de sua prisão. www.trilhante.com.br 10 Assim, Tamires, sua mulher, decide procurar você, advogado, para que tome medida imediata apta a livrá-lo da prisão ilegal, garantindo-lhe seu direito constitucional à liberdade. Analisando o caso, mais uma vez, fica evidente que se trata de um HC. No caso concreto posto, houve indevida restrição à liberdade de locomoção de Rodolfo, que foi preso por decisão judicial autorizante. Desta forma, deverá ser impetrado HC repressivo, tendo em vista que ele já se encontra com sua liberdade restringida por ato ilegal do secretário do Município Alfa. www.trilhante.com.br 11 3. Modelo de Habeas Corpus Construção da Peça Processual 2ª Fase Prova Constitucional – Peça Prática Em meio à Operação Lava-Tudo da Polícia Federal, apurou-se o envolvimento de parlamentares com grandes empresários brasileiros, em esquema de compra de votos para aprovação de leis de interesse privado. Diante disso, foi aberta uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados, para apurar as acusações. O Deputado Tício Faria, brasileiro, solteiro, foi indiciado e intimado a depor dentro de uma semana, perantea CPI, já que teve seu nome associado aos esquemas de corrupção. Pelos Corredores do congresso, ficando sabendo, ademais, que a pressão seria grande para que ele falasse, inclusive com ameaças de prisão. Com medo, Tício procura você, advogado, para que se lhe garanta seu direito constitucional ao silêncio, evitando eventual prisão, uma vez que, sob juramento, caso não respondesse as perguntas ou entrasse em contradição, poderia ser preso. Na qualidade de advogado contratado por Tício, redija a peça processual cabível ao tema, observando: a) competência do Juízo; b) legitimidade ativa e passiva; c) fundamentos de méritos constitucionais e legais vinculados; d) requisitos formais da peça. Neste passo, com a simples leitura do caso, possível perceber que se trata de um caso concreto, ou seja, não é hipótese de nenhuma lei em abstrato aplicável a todos sem a presença de partes específicas. Afasta-se, assim, a possibilidade de peças de controle de constitucionalidade em abstrato. Desta forma, a peça: A primeira coisa a ser feita é indicar a competência do juízo, ou seja, fazer o endereçamento da ação que, neste caso, por se tratar de Deputado Federal, será do STF. Em seguida, devem ser inseridas as qualificações do impetrante, lembrando que não devem ser postas quaisquer informações que possam identificar o candidato! Após qualificar o impetrante, que, neste caso, será você -advogado-, devem ser inseridas as informações do paciente, ou seja, aquele a quem se deseja garantir a liberdade. Respeitadas as formalidades iniciais, o candidato deve passar a produzir a parte nuclear da peça processual, tratando das preliminares, fatos e questões de direito. Por fim, o candidato deve inserir a medida cautelar e os pedidos finais com seus devidos requisitos. Excelentíssimo Senhor Doutor Ministro Do Supremo Tribunal Federal www.trilhante.com.br 12 Nome, nacionalidade, estado civil, advogado, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil sob o nº xxxx; e CPF nº xxxx; residente e domiciliado à Rua xxxx; município xxxx, do Estado xxx; com endereço eletrônico constante de xxx; doravante denominado impetrando, vem, mui respeitosamente, perante V. Exa, nos termos do art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal, e art. 647 e ss, do Código de Processo Penal, impetrar a presente ordem de: HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR Em favor de Tício Faria, brasileiro, solteiro, Deputado Federal, inscrito no RG xxxx; e CPF xxxx; residente e domiciliado à rua xxx; município xxx; do Estado xxx; contra ato da CÂMARA DOS DEPUTADOS; localizada à xxx; na cidade de Brasília, Distrito Federal, pelas razões de fato e direito a seguir: I – Da Competência A competência para julgamento do Habeas corpus é determinada por critérios que variam segundo o paciente ou a autoridade coatora responsável pela violência ilegal ou abusiva. Em se tratando de paciente político membro do Congresso Nacional – neste caso, Deputado Federal –, reza a Constituição que a pessoa competente para o julgamento é o Supremo Tribunal Federal, conforme se nota no Art. 102, I, “b” c.c “d”. Deste modo, o referido remédio deve julgado por este Pretório Excelso, nos termos estabelecidos pela Carta Magna. II – Da Legitimidade Ativa O habeas corpus, na esteira do art. 654 do CPP, pode ser impetrado por qualquer pessoa física ou jurídica, em seu favor ou em favor de terceiro. Esta ampla legitimação visa à maior tutela da liberdade do individuo que tenha sua locomoção ilegalmente violada ou ameaçada. Sendo assim, este que redige o presente remédio deve ser reconhecido como legitimado para sua impetração. III – Da Legitimidade Passiva A Constituição Federal e o CPP se referem à autoridade coatora como legitimado passivo do Habeas corpus, posto ser quem cerceia ou ameaça o direito fundamental de liberdade. Assim, no cumprimento do Art. 654, §1º, “a”, informa-se que o responsável pela coação ilegal é a Câmara dos Deputados, cujos representantes deram indícios de que podem não respeitar o direito constitucional ao silêncio do paciente, atentando contra sua liberdade para constrangê-lo. IV – Dos Fatos www.trilhante.com.br 13 Após a operação Lava-Tudo da Polícia Federal, chegou-se à conclusão da possibilidade de haver um esquema de corrupção envolvendo parlamentares do Congresso Nacional. Por conta disto, a Câmara dos Deputados resolveu instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o suposto envolvimento de seus parlamentares e enviar suas conclusões ao Ministério Público. Entre as pessoas citadas nas investigações da Polícia Federal, encontra-se o paciente Tício, que, portanto, foi indiciado na CPI para prestar esclarecimentos. Acontece que o envolvido tem desavenças políticas com alguns dos integrantes da CPI, tendo chegado ao seu conhecimento que seu eventual silêncio ou não colaboração poderia ser punida com ordem de prisão.. Assim, busca-se com este remédio tutela legal apta a conferir ao Deputado salvo- conduto na prestação de esclarecimentos, para que ele possa, se desejar, exercer seu direito constitucional ao silêncio, como garantido pela Carta Magna. V – Do Direito A Carta Maior consagra, no art. 5º, LVIII, o direito ao silêncio como garantia fundamental do cidadão. Ainda que o dispositivo se refira ao preso, a interpretação deste direito fundamental deve ser extensiva, de modo a lhe dar mais eficiência, consoante o Princípio da Interpretação Máxima da Efetividade Constitucional. Desse modo, não pode o paciente ser ameaçado de sofrer violência em sua liberdade – outro direito fundamental – simplesmente por escolher exercer um direito garantido pela Constituição no rol fundamental. É pacífico na história, na doutrina e na jurisprudência que a liberdade é um dos direitos mais caros ao cidadão, alicerce da República e da própria possibilidade de convivência social, sem a qual não pode se falar em Estado Democrático de Direito, tal como consagrado no art. 1º da Constituição Federal. É nesse sentido que o Habeas corpus existe como direito e garantia fundamental: trata- se de remédio apto a proteger de modo eficaz a liberdade de locomoção do indivíduo, consagrada no art. 5º, XV e LXVIII, da CRFB/88. Ora, V. Exa., a Constituição promete o uso desse remédio em situações atuais ou virtuais, ou seja, quando a violência já se concretizou ou quando há fundado receio que se dê. Para essa última hipótese, o CPP admite, no art. 660, § 4º, a concessão de salvo-conduto, justamente para evitar que essa ameaça se concretize. Não é outro, senão este, o caso! VI – Da Concessão De Liminar Apesar da falta de previsão legal, é pacífico na jurisprudência que o habeas corpus comporta decisão liminar. Para isso, os requisitos que autorizam são aqueles do fumus www.trilhante.com.br 14 boni juris (verossimilhança dos fatos) e do periculum in mora (perigo na demora). Ambos estão presentes neste caso, conforme já demonstrado. Mas reitera-se: a probabilidade do direito verifica-se diante da possibilidade de constrição ilegal da liberdade devido ao eventual exercício do direito ao silêncio. Por outro lado, o perigo na demora se evidencia pela intimação já realizada pela CPI, que está próxima de acontecer, dentro de uma semana. Assim, é urgente a concessão do salvo-conduto na forma liminar. VII – Do Pedido Ante todo o exposto, requer-se: • A concessão de liminar para determinar a expedição de salvo-conduto em favor do paciente, com fundamento no art. 660, § 4º, do Código de Processo Penal. • A notificação da autoridade coatora para prestar informações no Prazo Legal. • Seja julgado o mérito para, confirmando a liminar, salvaguardar ao paciente seu direito fundamental à liberdade de locomoção. Apesar de ser gratuita, nos termos do art. 5 LXXVII da CF/88, para fins de formalidade, dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais). Nestes termos, Pede deferimento. Local e data Advogado/OAB www.trilhante.com.br /trilhante /trilhante /trilhante Habeas Corpus http://www.facebook.com/trilhantehttp://www.instagram.com/trilhante http://www.facebook.com/trilhante http://instagram.com/trilhante http://www.youtube.com/trilhante
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