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Reabilitação Cardíaca com ênfase no exercício Emilly Ferreira de Paulo Jean Rodrigues de Lima Resumo: O objetivo desse artigo foi determinar o efeito da reabilitação cardíaca com ênfase no exercício (RCEE) sobre a mortalidade, fatores de risco modificáveis e qualidade de vida relacionada à saúde em pacientes com doença arterial coronariana. Os resultados da RCEE sobre os fatores de risco modificáveis e a qualidade de vida não foram conclusivos quando comparados com a intervenção controle, apesar de alguns estudos apresentarem diferenças estatísticas a favor da RCEE. Esse artigo confirma os benefícios da RCEE na abordagem terapêutica de coronariopatas, reduzindo suas taxas de mortalidade cardíaca e por todas as causas, além de contribuir para a diminuição da ocorrência de outros eventos coronarianas, tais como a revascularização miocárdica e a taxa de reinfarto. Em relação aos fatores de risco modificáveis e à qualidade de vida, houve uma tendência favorável à utilização da RCEE. O que se pode concluir é que o exercício físico regular per se constitui o principal responsável pelos resultados favoráveis da intervenção em relação aos desfechos estudados. Palavras-chave: (reabilitação, fisioterapia, cardiopatia, doenças cardiovasculares) INTRODUÇÃO A reabilitação cardíaca (RC) pode ser definida como uma soma de intervenções que asseguram a melhora das condições físicas, psicológicas e sociais daqueles pacientes com doenças cardiovasculares pós-aguda e crônica, podendo, por seus próprios esforços, preservar e recuperar suas funções na sociedade e, através de um comportamento saudável, minimizar ou reverter a progressão da doença. Sendo assim, os objetivos da RC são atenuar os efeitos deletérios decorrentes de um evento cardíaco, prevenir um subsequente reinfarto e re- hospitalização, redução de custos com a saúde, atuar sobre os fatores de risco modificáveis associados às doenças cardiovasculares, melhorar a qualidade de vida destes pacientes e reduzir as taxas de mortalidade. A RC é indicada para pacientes que receberam um diagnóstico de infarto agudo do miocárdio ou foram submetidos à revascularização miocárdica ou transplante cardíaco e, ainda, para aqueles com angina crônica estável e insuficiência cardíaca crônica. A RC é uma intervenção complexa que pode envolver diversas terapias, incluindo aconselhamento nutricional, acompanhamento psicológico, orientação quanto aos fatores de risco e à administração de drogas. Todavia, permanece ainda um óbice na aplicação destes resultados na prática clínica. Isto se deve, em grande parte, às limitações metodológicas e aos resultados conflitantes dos estudos sobre a temática. Cabe ainda ressaltar que poucas revisões publicadas anteriormente se dedicaram a discutir os efeitos RCEE sobre os fatores de risco cardíaco modificáveis e a qualidade de vida dos pacientes com doença arterial coronariana conhecida. O objetivo deste artigo foi determinar, por meio de uma revisão sistematizada, o efeito da RCEE sobre a mortalidade, fatores de risco modificáveis e qualidade de vida relacionada à saúde em pacientes com doença arterial coronariana. REFERENCIAL TEÓRICO EPIDEMIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA DA DAC Segundo dados publicados pela Organização Mundial de Saúde, em 2016 as doenças crônicas não transmissíveis levaram 40,5 milhões de pessoas à óbito no mundo todo, sendo as DCV responsáveis por 44% dessas mortes. Dados recentes do American Heart Association mostraram que a principal causa de mortalidade cardiovascular nos Estados Unidos da América é a DAC, o que representa 43,8% do total de mortes por DCV. No Brasil, as DCV também têm altas taxas de mortalidade. Dados da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde mostraram que as DCV estão entre as cinco principais causas de morte no Brasil. Mais recentemente, a Secretaria de Vigilância em Saúde mostrou que a doença cardíaca isquemia, independentemente do sexo, é a primeira causa de morte no Brasil, tanto para adultos entre 30 e 69 anos, quanto para a população mais idosa, acima dos 70 anos. A DAC pode ser caracterizada pelo comprometimento parcial ou completo do fluxo sanguíneo das artérias coronárias, o que prejudica o transporte de oxigênio para o miocárdio, provoca isquemia e aumenta o risco de infarto agudo do miocárdio. A principal causa da diminuição do aporte de oxigênio é a formação das placas ateroscleróticas (aterosclerose),18 que é resultante de um processo inflamatório complexo, com caráter progressivo, caracterizado pelo acúmulo de lipídeos, ativação de resposta inflamatória e migração de células musculares lisas que contribuem para a formação da placa de ateroma e redução da luz das coronárias. Ela tem início na infância/ adolescência, progride ao longo da vida e é agravada por fatores de risco para DCV, como hipertensão arterial, diabetes mellitus e dislipidemia. O quadro clínico manifesto na DAC abrange angina e/ou infarto agudo do miocárdio. EXERCÍCIO FÍSICO E QUALIDADE DE VIDA Ao longo dos anos, diversos estudos demonstraram que diminuições nos níveis elevados de lipoproteína podem retardar a progressão da lesão aterosclerótica coronariana. A redução do peso corporal, do consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas e colesterol, associados à prática de exercício físico regular estão associadas com a diminuição dos níveis lipídios, redução das placas ateroscleróticas e, consequentemente, diminuição da progressão da doença e mortalidade por DAC. De fato, alguns estudos randomizamos e controlados têm mostrado que a prática regular de exercício físico aeróbico de intensidade moderada somado às mudanças no estilo de vida, contribuem efetivamente para a regressão da aterosclerose coronariana, melhorando o prognóstico da DAC. Na década de 90, Haskell et al. avaliaram, em um estudo prospectivo, o efeito do exercício físico aeróbico moderado não supervisionado, associado à dieta com baixo teor de gordura e colesterol em pacientes com DAC.. METODOLOGIA Foram analisados os mais relevantes estudos publicados originalmente na língua inglesa, na última década do século XX e início do século XXI, tendo como referência as bases de dados MEDLINE e Cochrane Library. Objetivando selecionar os estudos de maior evidência científica, contemplamos somente os ensaios clínicos controlados e randomizamos (ECCR). Em adendo, foram analisados estudos selecionados por revisões sistematizadas com ou sem metanálise publicadas anteriormente. A estratégia de busca utilizou as seguintes palavras- chave: reabilitação, fisioterapia. cardiopatia, doenças cardiovasculares e doença arterial coronariana. Para identificar os delineamentos dos estudos, foram empregados os seguintes termos: randomized controlled trial, review e meta-analysis. RESULTADOS ESPERADOS O resultado esperado é a confirmação dos benefícios da reabilitação cardíaca com ênfase de exercício, na abordagem terapêutica de coronariopatas, reduzindo suas taxas de mortalidade cardíaca, além de contribuir para a diminuição da ocorrência de outros eventos coronarianos, tais como a revascularização miocárdica e a taxa de infarto. Os resultados da reabilitação cardíaca sobre aos fatores modificáveis e a qualidade de vida não são conclusivos devido às limitações metodológicas dos estudos contemplados, apesar de existir uma tendência favorável à utilização desta estratégia. Em adendo, este estudo corrobora a impressão de que o exercício físico regular por se constitui no principal componente e responsável pelos resultados favoráveis da intervenção em relação aos desfechos estudados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1-World health organization. NCD mortality and morbidity. Disponível em: http://www.who.int/gho/ncd/mortality_morbidity/en/ Acesso em: 03 de junho de 2022. 2-McGill HC Jr, McMahan CA, Zieske AW, Tracy RE, Malcom GT, Herderick EE, et al. Associationof coronary heart disease risk factors with microscopic qualities of coronary atherosclerosis in youth. Circulation. 2000;102(4):374–79. 3-Buchwald H, Varco RL, Matts JP, Long JM, Fitch LL, Campbell GS, et al. Regular physical exercise and low-fat diet. Effects on progression of coronary artery disease. Circulation. 1992;86(1):1-11. 4-Benjamin EJ, Muntner P, Alonso A, Bittencourt MS, Callaway CW, Carson AP, et al. Heart Disease and Stroke Statistics-2019 Update: A Report From the American Heart Association. Circulation. 2019;139(10): e56-e528. 5-Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Saúde Brasil 2014: uma análise da situação de saúde e das causas externas / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 6-Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Saúde Brasil 2018 uma análise de situação de saúde e das doenças e agravos crônicos: desafios e perspectivas / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde – Brasília: Ministério da Saúde, 2019. 7-Task Force Members, Montalescot G, Sechtem U, Achenbach S, Andreotti F, Arden C, et al. 2013 ESC guidelines on the management of stable coronary artery disease: the task force on the management of stable coronary artery disease of the European Society of Cardiology. 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