Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
BIOLOGIA MOLECULAR Carolina Saibro Girardi Mutação gênica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever as bases moleculares da mutação. � Explicar as origens e os efeitos das mutações espontâneas e induzidas. � Identificar os mecanismos de reparo biológico. Introdução O equilíbrio entre a perpetuação da informação genética e a geração de variabilidade genética depende das taxas com que as mutações são inseridas no genoma. Por um lado, altas taxas de mutação podem, em células somáticas, prejudicar a capacidade da célula de cumprir a sua função e, em células germinativas, prejudicar as gerações seguintes, por outro lado, a perpetuação exata do material genético acarretaria ausência de variabilidade, o que impossibilitaria a geração de novas características — e até mesmo novas espécies. Com isso, a viabilidade e a biodiversidade das espécies dependem de um equilíbrio delicado entre mutação e reparo (WATSON et al., 2015). Neste capítulo, você entenderá quais são as alterações moleculares relacionadas com as mutações, suas origens e consequências, bem como os mecanismos biológicos para o reparo destas. Alterações moleculares As mutações são alterações permanentes no DNA que modificam a sequência de bases presentes no genoma, além de poder ter bases moleculares diversas e ocorrer em qualquer região do genoma, tanto em genes quanto em regiões intergênicas (WATSON et al., 2015). As mutações gênicas são aquelas que ocorrem em regiões gênicas e, portanto, podem ter consequências para a expressão e a síntese dos produtos gênicos: as proteínas. Essas são as mutações classicamente mais estudas, as quais serão vistas ao longo deste capítulo. As mutações em regiões intergê- nicas, no entanto, também têm consequências significativas, já que afetam principalmente a regulação da expressão dos genes. As mutações também podem envolver desde alterações em um único par de bases até modificações em extensas regiões do DNA (como inserção de transposons e duplicações gênicas, por exemplo). Neste capítulo, serão abor- dadas as mutações em um pequeno número de bases no DNA: as mutações pontuais ou a adição e a deleção de pares de bases. Apesar de restritas, você verá que essas alterações podem acarretar em efeitos significativos para os produtos gênicos. Se considerarmos os organismos multicelulares como os humanos, o tipo celular em que uma mutação ocorre também é determinante para definir as consequências desta para o indivíduo afetado, ou até mesmo para a população futura. Quando ocorrem em células somáticas, as mutações têm potencial de afetar a viabilidade e a função celular, o que pode ter consequências variáveis para os organismos. Os cânceres, por exemplo, surgem a partir de células que acumularam mutações e, como sabemos, podem pôr em risco a vida do indivíduo como um todo. Essas mutações, no entanto, não afetam o restante da população. Mutações em células germinativas, por sua vez, têm o potencial de fixar alterações genéticas em outros indivíduos: a prole. Portanto, são essas as mutações que inserem variabilidade genética em uma população e que podem, dessa forma, afetar a evolução da espécie. Substituição de bases A substituições são mutações pontuais no DNA, ou seja, a alteração de um único par de bases (Figura 1). Essas substituições são de dois tipos, descritos a seguir. � Substituição do tipo transição: quando ocorre a troca de uma purina por outra purina (adeninas e guaninas), ou ainda de uma pirimidina por outra pirimidina (citosinas e timinas). � Substituição do tipo transversão: quando ocorre a troca na natureza química da base nitrogenada de uma purina (adeninas e guaninas) por uma pirimidina (citosinas e timinas), ou vice-versa. Mutação gênica2 Figura 1. Possibilidades de substituições de bases no DNA: (a) transições; (b) transversões. Fonte: Watson et al. (2015, p. 314). a b GA T C GA T C As mutações gênicas que envolvem a substituição de pares de bases têm efeitos moleculares diversos (ZAHA; FERREIRA; PASSAGLIA, 2014). Quando ocorrem em sequências codificadoras de proteínas: � nas mutações com sentido trocado (ou mutação missense), o códon alterado configura um aminoácido diferente na tradução proteica, re- sultando em uma cadeia polipeptídica alterada em um aminoácido; � nas mutações sem sentido (ou mutações nonsense), a alteração no códon ocorre com o surgimento de um códon de terminação de tradução, induzindo a síntese de uma proteína incompleta ou truncada; � nas mutações silenciosas, esse códon alterado não resulta em um aminoácido diferente na síntese proteica — considerando que o código genético é degenerado — e temos uma mutação sem efeitos para a sequência da cadeia polipeptídica. 3Mutação gênica Adição ou deleção de bases Muitas mutações não envolvem a alteração de um nucleotídeo por outro em substituições, mas, sim, a adição ou a remoção de nucleotídeos do DNA. Nesses casos, em vez de lidarmos com alterações pontuais na sequência de DNA, lidamos com modificações que podem ser pequenas ou drásticas no número de bases dessa sequência. No caso das adições, são inseridas bases na sequência de DNA, enquanto no caso das deleções as bases são removidas do DNA. As consequências dessas alterações em regiões gênicas variam de acordo com o número de bases alteradas. Uma grave possibilidade é que adições ou deleções insiram mutações com troca de fase de leitura (ou mutações frameshift) no DNA (ZAHA; FERREIRA; PASSAGLIA, 2014). A gravidade se deve ao fato de que esse tipo de mutação altera os códons de bases do DNA a partir do sítio mutado, o que pode, dessa forma, im- pactar significativamente a composição de códons do RNA mensageiro e, portanto, a sequência de aminoácidos incorporados à proteína resultante (Figura 2). As suas consequências são menos drásticas quando a adição ou a deleção ocorre com múltiplos de três bases, já que os códons são compostos por trincas de bases. Assim, os códons podem ser adicionados ou removidos do DNA, mas a fase de leitura é restabelecida e o restante da sequência é preservado. Mutação gênica4 Figura 2. Adições e deleções em regiões codificadoras podem ter consequências drásticas para a síntese proteica. Quando há a adição de uma ou duas bases, ocorre a troca de fase de leitura e a alteração de toda a sequência proteica a partir do sítio de mutação. Quando há a adição de três bases, não acontece a troca de fase de leitura e há, portanto, apenas a adição de um aminoácido. Agentes mutagênicos Diversos fenômenos são capazes de introduzir as alterações moleculares mencionadas. Esses fenômenos estão associados a agentes mutagênicos, os quais podem ser endógenos (mutações espontâneas) ou exógenos (mutações induzidas). Os erros de incorporação durante a própria replicação do DNA podem dar origem a mutações, mas elas também podem ser ocasionadas pela indução de lesões no DNA — principalmente nas bases nitrogenadas. Esses erros em uma das fitas da dupla-hélice de DNA podem alterar o padrão de pareamento de bases e/ou distorcer a dupla-hélice e, assim, levar à fixação de mutações nos ciclos de replicação seguintes. Veja a seguir como diferentes agentes mutagênicos dão origem a mutações. Mutações espontâneas As mutações são consequências não apenas de agentes ambientais tóxicos aos organismos, mas também — e principalmente — à presença de uma taxa basal de alterações moleculares provocadas por condições fisiológicas. 5Mutação gênica Os erros durante a replicação do DNA podem explicar uma parte signifi- cativa das mutações espontâneas que ocorrem nos seres vivos. É comum que a DNA-polimerase insira nucleotídeos incorretos durante a síntese de uma nova fita de DNA e, caso uma incorporação errônea persista até o próximo ciclo de replicação, a mutação seja fixada nas células-filhas. O fato de que as bases são passíveis de sofrer modificações tautoméricas ocasiona a possibilidadede pareamentos incorretos durante a duplicação, o que provoca mutações pontuais no DNA, seja do tipo de transição seja de transversão. Além disso, podem ocorrer deslizes de replicação, nos quais a DNA-polimerase se desloca de maneira incorreta sobre a fita de DNA. Esses fenômenos podem acarretar deleções ou inserções na sequência e podem ser frequentes em regiões com sequências repetitivas (ZAHA; FERREIRA; PASSAGLIA, 2014). A oxidação de bases do DNA também pode ocorrer de maneira espontânea, já que radicais livres e espécies reativas são formados como produtos secun- dários do metabolismo energético celular. Esses produtos altamente instáveis e reativos podem reagir com o DNA e levar às mais diversas modificações em bases. Como consequência, a oxidação de bases também pode levar a pareamentos incorretos durante a duplicação. Além disso, a própria água presente no ambiente intracelular pode induzir modificações espontâneas nas bases do DNA por reações de hidrólise. As lesões hidrolíticas mais comuns são a desaminação de bases (perda de um grupo amino) e a depurinação de bases (quebra da ligação N-glicosílica que une a base à pentose do nucleotídeo, levando à perda da base). Essas lesões ocorrem com citosinas, guaninas e adeninas, provocando comumente transições. Os átomos de hidrogênio podem se mover de uma posição para outra nas purinas e nas pirimidinas, resultando em flutuações químicas nas estruturas das bases que são denominadas modificações tautoméricas. As formas tautoméricas das bases apresentam os átomos de hidrogênio em regiões que prejudicam a estabilidade da molécula e, portanto, são pouco frequentes. No entanto, elas alteram o pareamento de bases convencional. Assim, as formas tauto- méricas presentes (mesmo que momentaneamente) durante a replicação podem ser incorporadas de forma incorreta e dar origem a substituições nos ciclos seguintes de replicação (WATSON et al., 2015). Mutação gênica6 Mutações induzidas por agentes físicos Alguns agentes externos são capazes de induzir mutações no DNA e, entre eles, encontramos agentes físicos. O princípio dos efeitos mutagênicos desses agentes está no fato de que eles provocam o aumento da reatividade da molécula de DNA, o que leva à indução de ligações incorretas e, consequentemente, às mutações. Pode-se dizer que os principais agentes físicos mutagênicos são as radiações ionizante e ultravioleta (UV) (ZAHA; FERREIRA; PASSAGLIA, 2014; BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013). A radiação ionizante é uma radiação de alta energia capaz de penetrar profundamente nos tecidos. Ela induz a ionização de componentes celulares que perdem elétrons e se tornam extremamente reativos. Esses componentes reativos se combinam ao DNA, podendo causar desde inserções e deleções de bases durante a replicação, até o rompimento das fitas de DNA. A radiação UV, por sua vez, não tem energia suficiente para induzir ioni- zação dos componentes celulares ou para penetrar profundamente os tecidos, mas é capaz de excitar os elétrons de átomos de moléculas biológicas, como o DNA, aumentando também a sua reatividade. Os resíduos de pirimidinas (especialmente as timinas) nas bases do DNA têm alta capacidade de absor- ver essa radiação e, com maior reatividade, reagem com as bases vizinhas, formando hidratos de pirimidinas ou dímeros de pirimidinas, os quais são incapazes de realizar pareamento de bases, distorcem a dupla-hélice de DNA e podem levar a diversas incorporações inespecíficas (Figura 3). Mutações induzidas por agentes químicos Diversos agentes químicos também são capazes de induzir alterações no DNA e, dessa forma, provocar mutações. Os principais deles podem ser classificados como análogos de bases, intercalantes de DNA ou agentes com ação direta sobre as bases (ZAHA; FERREIRA; PASSAGLIA, 2014; BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013). Os análogos de bases são substâncias que podem ser incorporadas por acidente à fita crescente de DNA durante a duplicação, em função de terem estruturas extremamente semelhantes às bases nitrogenadas. Os intercalantes de DNA são capazes de se posicionar entre duas bases adjacentes no DNA, provocando distorções na dupla-hélice, o que pode originar a inserção ou a deleção de bases durante a replicação. 7Mutação gênica Figura 3. A radiação UV tem como produto duas importantes alterações no DNA: os dímeros de timinas e a 6-4 timina-citosina. Essas estruturas são incapazes de realizar pareamento de bases e distorcem a dupla-hélice de DNA. Fonte: Zaha, Ferreira e Passaglia (2014, p. 141). Ligações duplas reativas Timinas adjacentes Grupos reativos Ligação entre o carbono 6 da pirimidina 5' e o carbono 4 da pirimidina 3' Timina (esquerda) e citosina (direita) adjacentes Produto 6-4 timina-citosina Ligações através dos carbonos 5 e 6 de cada anel das pirimidinas Luz UV Luz UV Dímero de timinas (T^T) P P P P P P P P P P P P 5 6 6 4 5 6 Outros agentes químicos, por sua vez, introduzem mutações por reagir diretamente com as bases do DNA, modificando-as. Os agentes alquilantes atuam transferindo grupamentos metílicos ou etílicos para as bases, ou para os grupos fosfato do DNA, e têm efeitos diversos, entre eles, a indução de transições de pares G-C para A-T. O ácido nitroso é outro agente de ação direta que atua provocando a desaminação de bases, transformando adenina em hipoxantina, guanina em xantina e citosina em uracila. Assim, a desaminação de bases pelo ácido nitroso pode provocar transições no DNA. Mutação gênica8 Moléculas que atuam como agentes mutagênicos químicos A 5-bromouracila é um análogo de base que se liga à desoxirribose, formando o nucleosídeo bromodesoxiuridina (BrdU). Esse análogo pode ser incorporado erro- neamente no lugar de timidinas e parear com resíduos tanto de adeninas quanto de guaninas, o que possibilita a transição de pares G-C para A-T na replicação do DNA. Os agentes denominados intercalantes de DNA, como o etídeo, a proflavina e a laranja de acridina, por outro lado, são moléculas aromáticas capazes de se posicionar entre duas bases adjacentes no DNA e provocar lesões de distorção na dupla-hélice (Figura 4). a OOBr H NN NN H guanina5-bromouracila (tautômero enol) 5-bromouracila (tautômero ceto) H HO OBr N N 45 6 3 1 2 H O N G N N NH2 etídeo laranja de acridina H2N C2H5 N + N(CH3)2(CH3)2N N H + proflavina NH2H2N N H + b Figura 4. (a) análogo de base 5-bromouracila; (b) intercalantes de bases etídeo, proflavina e laranja de acridina. Fonte: Watson et al. (2015, p. 324). Reparo biológico do DNA Como você viu neste capítulo, incorporações incorretas durante a própria replicação ou lesões no DNA geradas por agentes mutagênicos diversos podem, nos ciclos de replicação seguintes, ser responsáveis pela fixação de mutações 9Mutação gênica no DNA. Assim, mecanismos de reparo de DNA buscam reverter esses erros antes que eles sejam fixados em mutações permanentes no genoma (WATSON et al., 2015). O reparo de incorporações incorretas é realizado, em grande parte, durante a própria síntese de DNA. A DNA-polimerase desempenha um papel importante nessa etapa: sua atividade de exonuclease 3’5’ é responsável pela correção de erros de incorporação, enquanto a enzima se desloca pelo DNA, desfazendo ligações recém-estabelecidas entre a cadeia e o nucleotídeo mal pareado na extremidade 3’-OH da fita que está sendo sintetizada. Para lidar com as lesões provocadas pelos demais agentes endógenos e mesmo por fatores ambientais químicos e físicos, os sistemas biológicos desenvolveram estratégias diversas de reparo. Podemos dividir essas estra- tégias em mecanismos de reparo direto, reparo por excisão e reparo por recombinação (WATSON et al., 2015). Reparo direto Alguns mecanismos de reparo atuam pela simples reversão de lesões. É o caso da fotorreativação, que reverte diretamente a formação de dímeros de pirimidinas provocadas pela radiação UV e que é particularmente importante em organismosvegetais, os quais lidam com altos índices de radiação. Na fotorreativação, a enzima fotolíase captura a energia luminosa e a utiliza para quebrar as ligações formadas entre as pirimidinas adjacentes, desfazendo o dano às bases diretamente. Outro exemplo de reversão direta é a reparação enzimática de bases alquiladas. A base O6-metilguanina, formada a partir da metilação de guani- nas por agentes alquilantes, pareia com timinas no lugar de citosinas e, dessa forma, é responsável pela inserção de transições no DNA. Uma metiltransferase é capaz de remover esse grupo metil da base e reverter o dano no DNA, no entanto, a enzima transfere o grupo metil para um de seus resíduos cisteína e, depois da reação, não pode ser utilizada novamente (WATSON et al., 2015). Reparo por excisão No caso de algumas lesões, existe a necessidade de remover a região de fita- -simples afetada e ressintetizá-la. As maquinarias que realizam o reparo por excisão efetuam, basicamente, os seguintes passos: 1. reconhecimento da lesão presente em uma das fitas da dupla-hélice de DNA; Mutação gênica10 2. eliminação enzimática da lesão por endonuclease na fita lesionada; 3. síntese de uma nova fita de DNA na lacuna formada, na qual são inse- ridos os nucleotídeos complementares aos da fita-molde intacta. Nucleases: enzimas que degradam DNA Muitas das enzimas envolvidas no reparo de DNA têm atividade de nuclease, ou seja, elas são capazes de clivar ligações fosfodiéster no DNA e, assim, remover nucleotídeos incorretos. As nucleases capazes de degradar o DNA apenas a partir de uma extremi- dade são chamadas de exonucleases e endonucleases. Exonucleases: a própria DNA-polimerase tem atividade de exonuclease no sentido 3’5’, que é importante para a remoção de incorporações incorretas durante a síntese de DNA. Endonucleases: são capazes de clivar a fita de DNA no meio e, portanto, são impor- tantes para a remoção de nucleotídeos, não nas extremidades, mas, sim, no interior da dupla-hélice (WATSON et al., 2015). Esse processo pode ser de reparo por excisão de bases, no qual são cor- rigidas as alterações no DNA que foi alvo de hidrólise, de oxidação ou de agentes químicos de ação direta. As enzimas reconhecem as bases alteradas no DNA e as removem por meio da hidrólise da ligação glicosídica entre a base e a pentose do nucleotídeo alterado, liberando-o. As endonucleases são responsáveis pela clivagem da fita-simples de DNA para a remoção do nucleotídeo sem a base e então a região é ressintetizada. Os mecanismos pelos quais as glicosilases monitoram bases danificadas no interior da dupla-hélice, no entanto, ainda são desconhecidos (WATSON et al., 2015). No reparo por excisão de nucleotídeos, por sua vez, as enzimas de re- paro não identificam lesões específicas nas bases, mas, sim, distorções na dupla-hélice, tais como as provocadas por dímeros de pirimidina (BORGES- -OSÓRIO; ROBINSON, 2013). A região de fita-simples lesionada é reconhecida e removida por proteínas diversas e então o DNA é ressintetizado. Reparo por recombinação No reparo por excisão, o DNA fita-simples lesionado pode ser degradado e ressintetizado a partir da existência de uma fita complementar intacta, a qual 11Mutação gênica pode ser utilizada como molde. Algumas vezes, no entanto, tal molde não está disponível e, nesses casos, os sistemas de reparo por recombinação podem atuar. Quando, por exemplo, uma lesão do tipo dímeros de pirimidinas — que não foi corrigida a tempo pelos sistemas de reparo por excisão — está presente durante a replicação do DNA e impede uma das fitas-simples de atuar como molde, a polimerase é forçada a pular a região lesionada, dando origem a uma dupla-hélice filha lesionada e com uma lacuna na fita complementar (Figura 5). Os sistemas de reparo de excisão não podem atuar sobre essa nova fita. Para recuperá-la, a dupla-hélice irmã gerada com a replicação pode ser utilizada. A recombinação entre as hélices filhas permite que a fita lesionada obtenha uma complementar intacta para atuar como molde em um futuro reparo por excisão (ZAHA; FERREIRA; PASSAGLIA, 2014). O reparo por recombinação não atua apenas no caso de lesões em uma das fitas do DNA. Se as bases de um par complementar estiverem lesionadas ou até mesmo se a dupla-hélice for quebrada, toda a informação do sítio lesionado é perdida e pode ser recuperada apenas com a presença de outra molécula idêntica de DNA. Em todos esses casos, os sistemas de reparo por recombinação são úteis. Figura 5. Reparo por recombinação de lesão no DNA. A replicação de uma região lesionada pode dar origem a uma dupla-hélice 1 com a lesão e uma lacuna na fita complementar à região lesionada e dupla-hélice 2 normal. Os mecanismos de reparo por excisão não podem agir sobre a dupla-hélice 1, dado que não há uma fita complementar para atuar como molde. É necessário, no entanto, utilizar a dupla-hélice 2 para recuperar a fita complementar por meio de recombinação. Dessa forma, os sistemas de reparo por excisão podem atuar sobre a dupla-hélice 1 pós-recombinação lesionada, mas com uma fita complementar intacta, enquanto a lacuna restante na dupla-hélice 2 pós-recombinação pode ser ressintetizada. Fonte: Adaptado de Zaha, Ferreira e Passaglia (2014, p. 152). Lesão Replicação Recombinação Dupla-hélice 1: lesionada e incompleta Dupla-hélice 2: normal Recombinação Dupla-hélice 1: lesionada Dupla-hélice 2: incompleta5’ 5’ 5’ 5’ 5’ 5’ 5’ 5’ 5’ 5’ 5’ 5’ 5’ 5’ Mutação gênica12 1. As denominadas substituições de bases são mutações pontuais no DNA que, quando ocorrem em regiões gênicas, podem ter diversas consequências para os produtos dos genes (as proteínas). A respeito desse tipo de mutação, assinale a afirmativa correta. a) As substituições podem envolver a adição ou a deleção de pares de base e ter como consequência a troca de fase de leitura durante a tradução do produto gênico mutado. b) As substituições podem ser do tipo transições ou transversões e ter como consequência a troca de fase de leitura durante a tradução do produto gênico mutado. c) As substituições são do tipo transição quando não envolvem alteração na natureza química dos nucleotídeos: de purinas para pirimidinas ou vice-versa. d) As substituições são do tipo transversão quando envolvem alteração na natureza química dos nucleotídeos: de purinas para pirimidinas ou vice-versa. e) As substituições de um par G-C por um par A-T são do tipo transversão. 2. Considere que as sequências normais e alterações no DNA do tipo transição (A e B), transversão (C) e adição de bases (D) têm diferentes consequências para o produto gênico. As bases e os resíduos de aminoácidos alterados estão indicados em vermelho. 13Mutação gênica Avalie as consequências das alterações A, B, C e D e assinale a afirmativa correta. a) Na transição A ocorre uma mutação silenciosa.. b) Na transição B ocorre uma mutação nonsense. c) As alterações B, C e D envolvem uma mutação missense. d) As alterações B e C afetam um único resíduo de aminoácido na proteína resultante. e) Na transversão em C ocorre uma mutação frameshift, com troca de fase de leitura da sequência do DNA. 3. Há uma série de fatores celulares endógenos que são capazes de inserir mutações no genoma. As alterações moleculares induzidas por esses componentes endógenos são chamadas de espontâneas e podem ocorrer devido: a) à presença de radiação ionizante e aos radicais livres do metabolismo energético celular. b) aos radicais livres do metabolismo celular e a deslizes da DNA-polimerase na replicação do DNA. c) aos radicais livres provenientes da incidência de radiação ionizante e aos erros durante a replicação do DNA em função da presença de tautômeros de bases. Mutação gênica14 d) aos dímeros de timina provocados pela incidência de radiação UV e às reações de desaminação de bases provocadas por ácido nitroso. e) às reações de desaminação nas bases do DNA provocadas pelo ambiente aquoso intracelulare à presença dos agentes químicos análogos de bases que induzem erros na replicação do DNA. 4. Em relação à lesão no DNA ilustrada na figura a seguir, quais são as estratégias de reparo biológico de DNA que podem ser empregadas na remoção dessa lesão? 3’ O O O O P P P 5’ N N N N T T T N N N N NN N H H A O O O CH3 CH3 CH3 dímero de timina anel ciclibutano Fonte: Zaha, Ferreira e Passaglia (2014, p. 141). a) Reparo direto de bases alquiladas e reparo por excisão de bases. b) Reparo direto de bases alquiladas e reparo por excisão de nucleotídeos. c) Reparo direto por fotorreativação e reparo por excisão de bases. d) Reparo direto por fotorreativação e reparo por excisão de nucleotídeos. e) Recombinação e reparo por excisão de bases. 5. As endonucleases são enzimas que degradam DNA e desempenham um papel importante no reparo de lesões no DNA. Em relação às etapas de reparo, em quais destas as endonucleases atuam? I. Da correção de erros pela DNA-polimerase durante a síntese de DNA. II. Dos sistemas de reparo por excisão. III. Dos sistemas de reparo direto de nucleotídeos. Selecione a alternativa que apresenta a(s) afirmativa(s) correta(s) a) Apenas I. b) Apenas II. c) I e II. d) I, II e III. e) Apenas III. 15Mutação gênica BORGES-OSÓRIO, M. R.; ROBINSON, W. M. Genética humana. 3. ed. Porto Alegre: Art- med, 2013. WATSON, J. D. et al. Biologia molecular do gene. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. ZAHA, A.; FERREIRA, H. B.; PASSAGLIA, L. M. P. (Org). Biologia molecular básica. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Mutação gênica16 Conteúdo:
Compartilhar