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GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DE FONTES ALTERNATIVAS W B A 04 62 _v 1. 0 2 Giancarlo Michelino Gaeta Lopes Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DE FONTES ALTERNATIVAS 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Nirse Ruscheinscky Breternitz Revisor Paulo Takao Okigami Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Lopes, Giancarlo Michelino Gaeta L864g Geração de energia elétrica de fontes alternativas/ Giancarlo Michelino Gaeta Lopes, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020. 42 p. ISBN 978-65-86461-17-6 1. Geração de energia. 2. Energia Renovável I. Lopes, Giancarlo Michelino Gaeta.Título. CDD 621.472 ____________________________________________________________________________________________ Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Energia eólica _______________________________________________________ 05 Energia solar fotovoltaica ___________________________________________ 20 Biomassa e energia geotérmica _____________________________________ 35 Geração distribuída _________________________________________________ 48 GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DE FONTES ALTERNATIVAS 5 Energia eólica Autoria: Giancarlo Michelino Gaeta Lopes Leitura crítica: Paulo Takao Okigami Objetivos • Compreender as características dos ventos a fim de saber definir a instalação de turbinas eólicas em determinada região. • Compreender o funcionamento das turbinas eólicas e aerogeradores, estudando as topologias e partes existentes. • Desenvolver conceitos que permitam a criação de sistemas de geração eólicos e conhecer as topologias elétricas utilizadas em tais sistemas. 6 1. Introdução e evolução histórica Com o passar dos anos a preocupação ambiental relacionada à geração de energia elétrica ficou cada vez mais evidente. Assim, surgiram novas fontes energéticas renováveis, que minimizaram ou acabaram com o impacto ambiental na geração. Uma dessas fontes é a eólica, que utiliza a energia presente nos ventos para gerar energia elétrica. Os ventos começaram a ser utilizados há mais de dois mil anos com a invenção dos moinhos, os quais o movimento das pás gerado pelo vento culmina no movimento vertical de um pistão contido dentro de um cilindro. Com o passar dos anos, os moinhos que tinham a função de processar alimentos foram refinados ao ponto de serem utilizados para gerar energia elétrica. Tal feito aconteceu em 1887, na Escócia, pelo engenheiro eletricista e professor James Blyth (PINTO, 2013). A criação de turbinas eólicas semelhantes às que encontramos atualmente ocorreu no final do século XIX e início do século XX, na Dinamarca, que financiou as pesquisas com o objetivo de levar energia elétrica para as áreas rurais do país. Devido ao incentivo do governo Dinamarquês, em 1909 já haviam sido construídas 72 turbinas eólicas que produziam energia em corrente contínua, com capacidade de gerar de 60 a 70 MWh por ano (PINTO, 2013). Atualmente, em capacidade instalada, a Europa figura como uma das regiões do mundo que mais utiliza a energia eólica na geração de energia elétrica, contribuindo com 11,6% de toda a demanda de eletricidade da União Europeia em 2017, ano em que foram gerados 336 TWh a partir dessa fonte de energia (IBERDROLA, 2020). No Brasil, em 2020, 9,04 % de toda a energia elétrica gerada advém de 629 centrais geradoras eólicas, totalizando uma potência instalada de cerca de 15.000 MW (ANEEL, 2020). 7 2. Caracterização dos ventos A instalação de uma turbina eólica para a geração de energia elétrica passa pelo estudo da intensidade e constância dos ventos no local de instalação desejado. Dessa forma, é importante conhecer como são realizadas essas medições, como os dados são disponibilizados e como os ventos são gerados. Os ventos podem ser definidos como sendo o movimento de massas de ar na atmosfera e são formados pela rotação e aquecimento da Terra, bem como pela influência de efeitos térmicos. De acordo com Fadigas (2011), eles podem ser classificados como: • Ventos de circulação local: que são as brisas marítimas e terrestres, geradas em áreas costeiras, devido à diferença na capacidade de absorção de calor da terra e do mar; e ventos das montanhas e vales, criados pela diferença de temperatura das massas de ar originada pela diferença de altitude. • Ventos de circulação global: que são gerados pelas variações de densidade, pressão e temperatura, causadas pelo aquecimento desigual da terra devido à radiação solar. Esses ventos também são afeados pela rotação da Terra. Dentro do Brasil, uma região que recebe destaque na geração de energia a partir dos ventos é o litoral norte da região Nordeste. Como a região está próxima da linha do Equador, a incidência de radiação solar é alta, causando uma grande diferença de temperatura entre a massa de ar sobre o oceano e a massa de ar sobre a terra, gerando ventos de grande intensidade. Dessa forma, os ventos de circulação local, que chegam próximos a 9 m/s (32,4 km/h) (AMARANTE et al., 2001), criam uma condição extremamente favorável para a instalação de turbinas eólicas. 8 Sabe-se que os ventos não possuem uma velocidade e direção constantes e que essas variações podem ser temporais ou espaciais, havendo diferentes parâmetros que influenciam o perfil do vento. Dentre as variações temporais existem as variações interanuais, sazonais, diárias e de curta duração. Já as variações espaciais, estão relacionadas à topografia e rugosidade do terreno, assim, os principais fatores espaciais que influenciam na velocidade do vento, são: os obstáculos, como edifícios, silos e árvores; a rugosidade do terreno, como o tipo de utilização da terra, construções e vegetação; e a orografia, que indica a existência de colinas e depressões (FADIGAS, 2011). A energia presente no vento, que será posteriormente convertida em energia elétrica em um aerogerador, é a energia cinética decorrente da movimentação das massas de ar. Assim, sabendo que a massa de ar que se movimenta em uma determinada área em um determinado intervalo de tempo é igual à massa específica do ar multiplicada pelo volume de ar que passa na área a cada segundo, é possível determinar a potência contida no vento, em Watts, como sendo (PINTO, 2013): (1) Onde ρ é a massa específica do ar em kg/m3, v a sua velocidade em m/s e A é a área em m2 por onde está passando o vento a ter a potência determinada. No caso de uma turbina com hélice de eixo horizontal, a área será o círculo formado pelas hélices. Analisando a Equação 1, fica clara a necessidade de ventos intensos para a geração de uma alta potência, o que justifica a instalaçãodas centrais eólicas em locais com ventos fortes. Além disso, como a energia é dada pela multiplicação da potência com o tempo, quanto maior o tempo de ventos intensos sobre um gerador eólico, maior será a energia gerada. Contudo, é importante ressaltar que a massa específica do ar varia conforme a localidade, fazendo com que locais que apresentem a 9 mesma velocidade média dos ventos apresentem diferentes potências eólicas. Isso pode ser confirmado matematicamente pela expressão que determina a massa específica do ar, dada pela Equação 2: (2) Onde P é pressão do ar em Pa, T é a temperatura do ar em escala absoluta, em K, e R é a constante geral dos gases em (Pa.m3)/(K.mol). Assim, é comum realizar a comparação do potencial eólico de diferentes locais por meio da densidade de potência, em W/m2, dada pela equação 3: (3) Desta forma, a densidade de potência determina a potência do vento que atinge a turbina, independentemente de seu tamanho. Atualmente, existem atlas eólicos que são capazes de indicar os locais com maior incidência de ventos, sua velocidade e constância (AMARANTE et al., 2001). A partir dessa informação, é possível determinar a região de instalação de uma central eólica. Porém, a definição precisa do local de instalação não deve se basear exclusivamente nesses dados, que na maioria das vezes não são resultantes de medições diretas, mas extrapolações e aproximações. Sendo assim, é necessário se instalar no local uma ou mais torres para a medição dos ventos, por um período mínimo de um ano. Tais torres são chamadas de torres anemométricas ou estações meteorológicas, onde são instalados os seguintes instrumentos: anemômetros, para a medição da velocidade do vento; lemes, para indicar a direção do vento; termômetro, para a medição da temperatura do ar; barômetro, para a medição de pressão do ar; e um sistema de aquisição e armazenamento dos dados. Com isso, tendo em mãos os dados coletados por tais equipamentos, é possível determinar a densidade de potência do vento em função do tempo e concluir com segurança sobre a instalação ou não de um aerogerador no local. 10 3. Turbinas eólicas As turbinas eólicas são equipamentos que possuem a função de converter a energia cinética presente no vento em energia mecânica, que posteriormente será convertida em energia elétrica por meio de um gerador elétrico acoplado em seu eixo. Esta conversão de energias pode ser visualizada na Figura 1. Figura 1 – Conversões de energias e partes principais de um aerogerador Fonte: Pinto (2013, p. 79). As turbinas eólicas podem ser classificadas em termos do eixo no qual as suas pás giram. A grande maioria das turbinas possui o eixo de rotação horizontal, paralelo ao solo, e é utilizada em locais com poucos obstáculos, já que requer um vento com característica laminar para ter máxima eficiência. Existem ainda modelos verticais, com o eixo de rotação perpendicular ao solo, que conseguem operar com ventos turbulentos e emitem um baixo nível de ruído, podendo ser utilizados em ambientes urbanos. A Figura 2 mostra esses dois tipos de turbina, horizontal e vertical. 11 Figura 2 – Turbinas eólicas horizontais e verticais Fonte: Pinto (2013, p. 80). As turbinas com eixo horizontal são majoritariamente baseadas em hélices, criando um conjunto com características que permite se sobressair em relação aos demais tipos. Nesse tipo de turbina, a velocidade do rotor e a potência de saída podem ser controladas pela variação do ângulo das pás, que podem ser otimizadas aerodinamicamente, a fim de aumentar a eficiência na conversão de energia. Conhecendo as energias associadas e as topologias das turbinas, é importante saber que há um máximo de potência que a turbina consegue extrair do vento. Assim, não é toda a potência do vento calculada pela Equação 1 que será convertida em potência mecânica no eixo da turbina. Isso ocorre, pois, após passar pela turbina, o vento tem velocidade e pressão reduzidas, fazendo com que o ar atrás da turbina se expanda. Essa expansão impossibilita a retirada de toda a potência. Utilizando cálculos matemáticos a partir da equação de Bernoulli, chega-se que o máximo de potência que uma turbina eólica pode retirar da potência disponível do vento é de 59,3% (PINTO, 2013). Perceba que essa eficiência está relacionada à conversão de energia cinética do vento em mecânica, portanto, a eficiência total do sistema eólico será ainda menor devido às perdas na conversão da energia mecânica em elétrica. 12 As turbinas eólicas são divididas em quatro classes em relação a seu projeto e condições de vento do local onde serão instaladas. O principal fator que determina a classe da turbina é o nível da velocidade do vento, sendo considerada a média anual do vento, a velocidade de rajada do vento e o percentual de turbulência (PINTO, 2013). Desta forma, no momento de se indicar o modelo de turbina a ser instalada, determinar a classe a ser utilizada é fundamental. Além das classes das turbinas em função da velocidade do vento, elas também são classificadas quanto a sua potência, sendo: turbinas de pequeno porte, para potências de até 100 kW; turbinas de médio porte, para potências entre 100 e 1.000 kW; e turbinas de grande porte para potências acima de 1.000 kW (FADIGAS, 2011). 4. Aerogeradores O aerogerador é definido como sendo todo o conjunto responsável por gerar energia elétrica a partir dos ventos, ele é composto pela turbina eólica e diversas outras partes, como pode ser visto na Figura 3. Os aerogeradores podem possuir potência de até 8 MW, com torres de até 170 metros de altura, com pás que podem chegar a até 85 m. Os modelos mais comuns possuem potência em torno de 4 MW, com 120 m de altura e pás de 60 m (PINTO, 2013). 13 Figura 3 – Partes de um aerogerador Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Wind_turbine_int_pt.svg. Acesso em: 14 jan. 2020. As principais partes que constituem os aerogeradores estão detalhadas a seguir: • Turbina eólica: é composta pelas pás, pelo cubo rotor e pelo mecanismo de controle de inclinação das pás. As pás são as estruturas movimentadas pelo vento, que ficam acopladas ao cubo rotor. Nesse acoplamento, existem mecanismos de controle de passo, responsáveis por controlar a inclinação das pás. Esse ajuste no ângulo das pás tem como objetivo controlar a potência e a velocidade da turbina, e é utilizado para frear aerodinamicamente o rotor quando necessário. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Wind_turbine_int_pt.svg 14 • Torre: é o elemento de sustentação do aerogerador. Pode ser do tipo tubular cônico (mais comum), construído em aço ou concreto, ou treliçado, construído em aço. • Nacela ou nacele: é a estrutura que abriga o gerador elétrico, a caixa de engrenagens da turbina e o gerador. Ela fica montada sobre a torre e possui um sistema de controle de direção, que possui a função de colocar a turbina e a nacela na direção do vento, de forma lenta, para evitar forças giroscópicas de grande intensidade. • Anemômetro: é o dispositivo responsável por medir a velocidade do vento. Junto a ele se encontra um dispositivo para a indicar a direção do vento (leme ou biruta). Esses equipamentos enviam dados para o sistema de controle geral alocado na base da torre, que monitora o desempenho do aerogerador e permite a sua supervisão e controle de forma remota. Os dados coletados por esses equipamentos também são utilizados pelo sistema de controle de direção da turbina e pelo sistema de controle de inclinação das pás. • Caixa de câmbio ou caixa de engrenagens: tem a função de transmitir a energia mecânica do eixo acoplado à turbina para o eixo do gerador elétrico. Nesse processo é realizada a multiplicação da velocidade, já que a velocidade de rotação da turbina eólica é limitada a valores entre 15 e 200 rpm, enquanto os geradores elétricos comerciais possuem rotações bem mais altas, como 1.800 rpm no caso de um gerador de quatropolos operando em 60 Hz. Vale ressaltar que existem modelos mais recentes de aerogeradores sem a caixa de engrenagens, onde o eixo do rotor eólico é acoplado diretamente ao eixo do gerador elétrico, que passa a ter um número maior de polos, permitindo a sua operação em uma velocidade mais baixa. • Freio: tem a função de manter o rotor parado para serviços de manutenção e auxiliar o freio aerodinâmico, especialmente em turbinas eólicas de menor capacidade, com a finalidade de evitar a sobrevelocidade do sistema. O freio utilizado pode ser a disco ou a embreagem. 15 • Gerador: é o elemento responsável pela geração da energia elétrica a partir da energia mecânica gerada pela turbina e transmitida pela caixa de engrenagens. Podem ser utilizados geradores de corrente contínua, de ímã permanente, síncronos e de indução (assíncrono). Mais detalhes sobre o processo geração estão citados na próxima seção. 5. Conexão de aerogeradores na rede elétrica Conhecendo as partes de um aerogerador e os tipos de geradores elétricos que são utilizados, resta saber como tais geradores operam para permitir a sua conexão à rede elétrica. Neste momento, é importante saber que dependendo da estratégia de controle utilizada, uma turbina eólica pode operar com velocidade fixa ou variável. Assim, o tipo de gerador utilizado e o modo de operação definem duas formas de conexão do aerogerador na rede elétrica: direta ou indiretamente acoplado à rede elétrica (FADIGAS, 2011). Baseado nessas informações, a seguir são apresentados os principais sistemas geradores utilizados, divididos na operação com velocidade fixa ou variável. 5.1 Sistemas geradores com velocidade fixa Uma das soluções mais simples e compatíveis com a tecnologia padrão atual de geradores trifásicos é utilizar um gerador síncrono acoplado diretamente na rede elétrica, conforme o esquema apresentado na Figura 4. Nesse caso, se faz necessária a caixa de engrenagens devido à grande diferença entre as velocidades do gerador e da turbina, o que garante a velocidade de rotação fixa da turbina, em conjunto com a frequência da rede e o número de polos do gerador. Uma desvantagem dessa topologia é a potência de saída altamente flutuante devido à rigidez do acoplamento dos rotores, que mantém a velocidade de rotação fixa. 16 Figura 4 – Gerador síncrono acoplado diretamente na rede elétrica Fonte: Fadigas (2011, p. 171). Uma outra topologia que pode ser utilizada é um gerador de indução com rotor de gaiola acoplado diretamente na rede elétrica. Nessa configuração, apresentada na Figura 5, também é necessária a caixa de engrenagens e a compensação de reativos deve ser feita por banco de capacitores. Além disso, as flutuações de potência devido ao vento também são transferidas à rede, porém, em uma forma levemente amortecida devido ao escorregamento do gerador. Figura 5 – Gerador de indução com rotor de gaiola acoplado diretamente na rede elétrica Fonte: Fadigas (2011, p. 173). 17 5.2 Sistemas geradores com velocidade variável Quando a operação da turbina acontece com velocidade variável, inevitavelmente a tensão de saída do gerador alternado terá uma frequência variável. Dessa forma, é necessário utilizar um inversor de frequência para adequar a frequência da corrente gerada, que varia, em uma corrente com frequência fixa para ser acoplada a rede. A operação com velocidade variável permite o melhor aproveitamento da aerodinâmica da turbina. Devido a isso, ela tem sido cada vez mais utilizada nos aerogeradores de grande porte, algo possível devido ao avanço da tecnologia dos inversores, que permite o desenvolvimento de conversores cada vez mais eficientes. A forma mais simples de operação de um aerogerador com velocidade variável é utilizando um gerador síncrono com inversor, como está apresentado na Figura 6. Nessa topologia, um inversor de frequência é utilizado, gerando um desacoplamento da velocidade do gerador e permitindo que haja uma variação na velocidade de rotação da turbina. O maior problema dessa e de outras topologias que usam inversores é as harmônicas que podem ser inseridas na rede, o que traz a necessidade de filtros e outros elementos. Figura 6 – Gerador síncrono com inversor Fonte: Fadigas (2011, p. 175). 18 Como forma de reduzir o custo do gerador e aumentar a sua robustez, mantendo a possibilidade de operação com velocidade variável da turbina, pode-se optar pela substituição do gerador síncrono da topologia anterior por um gerador de indução com rotor de gaiola, o que elimina a necessidade da excitatriz. Nessa configuração o controle de reativos passa a ser feito pelo inversor e a caixa multiplicadora de velocidades ainda é necessária. Também é possível encontrar topologias que realizam o acoplamento do rotor da turbina diretamente no gerador elétrico, sem a necessidade da caixa de engrenagens. Isso se torna possível quando a corrente na saída do gerador é contínua e se aplica um conversor CC/CA para permitir a sua ligação com a rede. O grande problema dessa topologia é o custo mais alto do gerador CC e maiores necessidades de manutenção. Uma outra possibilidade de se eliminar a necessidade da caixa de engrenagens é utilizar um gerador síncrono com uma grande quantidade de polos, em uma topologia semelhante à apresentada na Figura 6. A desvantagem fica novamente por conta do gerador, que tem seu tamanho e peso aumentados consideravelmente com o aumento da potência, inviabilizando a instalação sobre a torre. Uma última opção é utilizar um gerador síncrono com ímã permanente, conforme a topologia apresentada na Figura 7. A grande vantagem está na eliminação da excitatriz e na alta eficiência que o gerador possui. Além disso, a alta densidade do material magnético utilizado para gerar o campo do rotor torna o equipamento compacto, o que tem motivado os fabricantes de aerogeradores a optarem por essa topologia, utilizando múltiplos geradores com ímãs permanentes. Perceba que com essa topologia tem-se um gerador mais compacto e eficiente e não há caixa de engrenagens, o que reduz o tamanho da nacela e consequentemente o peso da estrutura, impactando em um custo geral menor do aerogerador. 19 Figura 7 – Gerador síncrono com ímã permanente acoplado diretamente à turbina Fonte: Fadigas (2011, p. 180). Dentre as fontes de energia renováveis, a energia eólica desempenha um papel importante. Assim, foram apresentadas nessa Leitura Digital conceitos que permitem o conhecimento das tecnologias empregadas nessa forma de geração de energia elétrica, trabalhando com aqueles que permitem desde a determinação do local de instalação de uma central eólica até a forma de conexão dos aerogeradores na rede elétrica. Referências bibliográficas AMARANTE, O. A. C. do; BROWER, M.; ZACK, J.; SÁ, A. L. de. Atlas do potencial eólico brasileiro. Brasília, DF, 2001. Disponível em: http://www.cresesb.cepel. br/publicacoes/download/atlas_eolico/Atlas%20do%20Potencial%20Eolico%20 Brasileiro.pdf. Acesso em :14 jan. 2020. ANEEL. Sistema de Informações de Geração da ANEEL – SIGA. 2020. Disponível em: https://www.aneel.gov.br/siga. Acesso em: 18 jun. 2020. IBERDROLA. Evolução da energia eólica na Europa: o vento, a melhor forma de apostar no futuro. 2020. Disponível em: https://www.iberdrola.com/meio-ambiente/ evolucao-energia-eolica-europa. Acesso em: 27 jan. 2020. PINTO, M. O. Fundamentos de energia eólica. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013. http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/atlas_eolico/Atlas%20do%20Potencial%20Eolico%20Brasileiro.pdf https://www.aneel.gov.br/siga https://www.iberdrola.com/meio-ambiente/evolucao-energia-eolica-europa 20 Energia solar fotovoltaica Autoria: Giancarlo Michelino Gaeta Lopes Leitura crítica: Paulo Takao Okigami Objetivos • Compreender o funcionamento de uma célula solar e de fatores que determinam a sua eficiência na produção de energia elétrica. • Conhecer os equipamentos e fluxo de projeto de um sistemade geração fotovoltaico autônomo. • Estudar a topologia e característica de um sistema de geração fotovoltaico conectado à rede elétrica. 21 1. Introdução e evolução histórica A energia solar pode ser utilizada para diversos fins, como em processos de aquecimento residencial e industrial, dessalinização e para a geração de energia elétrica (KALOGIROU, 2016). Nesse último, quando se deseja fazer a conversão direta de energia solar para elétrica, se faz necessária a utilização de módulos fotovoltaicos que possuem diversas especificações e parâmetros que determinam a sua eficiência e forma de instalação, com o objetivo de maximizar a conversão de energia. Por ser uma forma de geração de energia elétrica limpa e sustentável, o seu uso está se expandindo a cada dia, em especial nos pequenos geradores independentes. A motivação dessa expansão também se deve principalmente à redução do custo dos módulos fotovoltaicos, que animou os consumidores a instalar sistemas fotovoltaicos em suas residências e empreendimentos a fim de minimizar suas contas de energia. O primeiro pesquisador a trabalhar com a energia fotovoltaica foi o francês Alexandre-Edmond Becquerel, que em 1839 inseriu duas placas de latão em um líquido condutor e visualizou uma luz saindo das placas, bem como a geração de uma corrente elétrica. Tal experimento iniciou o desenvolvimento da tecnologia dos sistemas fotovoltaicos, culminando com a construção da primeira célula solar em 1880 por Charles Fritts. Porém, a maior evolução ocorreu da década de 1950 quando os cientistas dos Laboratórios Bell descobriram que o silício dopado é responsivo à luz, o que permitiu a criação de células solares mais baratas e eficientes (BALFOUR et al., 2016). Atualmente, o Brasil possui 3.870 centrais de geração fotovoltaicas, que totalizam uma potência de aproximadamente 2.500 MW, correspondendo a cerca de 1,5 % da capacidade de geração do país (ANEEL, 2020). Vale ressaltar que esse número não contempla os sistemas de geração privados instalados nos consumidores. Assim, o número total de centrais fotovoltaicas no país é muito maior. 22 2. Módulos solares e regras de instalação Quando a luz ou a radiação eletromagnética do Sol incide sobre uma célula composta de materiais semicondutores com propriedades específicas, acontece o efeito fotovoltaico, permitindo a conversão direta da luz em eletricidade. É a partir desse efeito que as células fotovoltaicas funcionam. Uma célula solar fotovoltaica é composta por duas camadas de materiais semicondutores tipo N e P, depositados sobre uma base metálica e com uma grade de coletores metálicos em sua superfície. Assim, quando a luz solar atinge a célula, os elétrons e lacunas dos materiais semicondutores saltam a barreira de potencial criada na junção e geram corrente elétrica. Esses elétrons em movimento são coletados pelos eletrodos metálicos. A partir desse princípio de funcionamento, existem diversos tipos de células solares, que utilizam diferentes tecnologias de fabricação. As mais comuns de serem encontradas são (VILLALVA; GAZOLI, 2012): • Silício monocristalino: desenvolvido a partir de blocos de silício ultrapuros, aquecidos a altas temperaturas e submetidos a um processo de cristalização. Os lingotes formados nesse processo geram finas placas de silício puro (wafers), que recebem impurezas em ambas as partes, criando as camadas de material P e N que são a base da célula fotovoltaica. Então, a célula semiacabada recebe uma película metálica em uma das faces, uma grade metálica na outra e um material antirreflexivo na face que irá receber luz. • Silício policristalino: nesse tipo de célula, os lingotes que geram os wafers são formados por um aglomerado de pequenos cristais, com tamanhos e orientações diferentes. O processo de dopagem e acabamento é semelhante ao que ocorre no silício monocristalino. 23 • Filmes finos: fabricados a partir da deposição de finas camadas de materiais (silício e outros) sobre uma base. Podem ser encontrados células com filmes finos de silício amorfo, silício microcristalino, telureto de cádmio e CIGS (cobre-índio-gálio-selênio). As células de silício monocristalino são as mais eficientes disponíveis comercialmente em larga escala, com um rendimento que chega a até 19%. Porém, seu custo é mais alto que as de silício policristalino, que podem chegar a um rendimento de até 17% (VILLALVA; GAZOLI, 2012). Assim, essas duas tecnologias são as mais comuns de se encontrar no mercado, sendo produzidas por diversos fabricantes. Um painel, placa ou módulo solar fotovoltaico é composto por um arranjo de diversas células solares e outros elementos, como pode ser visto na Figura 1. Podem ser encontrados comercialmente painéis com potências a partir de 1 W, utilizados em sistemas embarcados, a até cerca de 400 W. Os modelos mais comuns utilizados em sistemas de geração elétrica são de 270 W e 330 W, possuem tensão de saída em torno 37 V e corrente que varia conforme a sua potência (VILLALVA; GAZOLI, 2012). Figura 1 – Partes de um painel solar Fonte: adaptada de alejomiranda/iStock.com. 24 É importante saber que um módulo fotovoltaico não apresenta uma tensão de saída constante em seus terminais, sendo que ela é dependente de sua corrente e vice-versa. Assim, o ponto de operação do painel depende da carga que está conectada a ele. Desta forma, é possível traçar curvas que indicam a relação entre corrente e tensão, e potência e tensão em um painel fotovoltaico, como estão apresentados na Figura 2. Analisando as curvas é possível perceber três pontos distintos: o ponto de máxima potência, onde idealmente o painel deve operar para maximizar a sua eficiência; a corrente de curto-circuito, que ocorre quando os terminais do módulo são curto-circuitados, atingindo a sua máxima corrente; e a tensão de circuito aberto, obtida com a medição dos terminais do módulo sem carga, indicando a maior tensão que ele pode fornecer. Figura 2 – Curvas características de um painel fotovoltaico: (a) corrente e tensão e (b) potência e tensão Fonte: Villalva e Gazoli (2012, p. 77). Além da carga, a eficiência de um painel fotovoltaico depende de dois fatores fundamentais, a radiação solar e a temperatura, e ambos impactam na corrente gerada pelo painel. A radiação solar ideal para a operação de um módulo deve ser de ao menos 1000 W/m2, fazendo com que ele consiga fornecer a corrente máxima especificada em sua folha de dados. Uma redução na radiação causa uma redução na corrente 25 gerada, como pode ser visto na Figura 3(a). Na condição ideal de radiação solar, a corrente nominal do módulo acontece na temperatura de 25 °C. Temperaturas superiores a essa também causam uma redução na corrente gerada, como pode ser visto na Figura 3(b). Figura 3 – Influências na operação de um painel fotovoltaico: (a) radiação solar e (b) temperatura Fonte: Villalva e Gazoli (2012, p. 80). A fim de otimizar a radiação solar recebida pelos módulos, é importante saber que existem diversas características que afetam a captação de energia dos módulos solares. Elas estão relacionadas à inclinação do eixo de rotação da Terra, o ângulo da altura solar, o ângulo azimutal do Sol e o ângulo de inclinação dos módulos. Assim, a partir dessas características, existem algumas regras que devem ser seguidas para a instalação dos módulos solares: • Para maximizar a produção média diária de energia, sempre que possível, o módulo deve ser instalado com a sua face voltada para o norte geográfico. • O ângulo de inclinação do módulo deve ser ajustado conforme o ângulo da latitude geográfica onde o sistema será instalado, 26 seguindo a Tabela 1, a fim de otimizar a produção no decorrer do ano. Lembrando que, na prática, o instalador deve calcular a altura da haste de fixação (h) em um triângulo pitagórico, sendo função do comprimento do módulo (L) e do ângulo escolhido (ϕ), conforme a relação (VILLALVA; GAZOLI, 2012):(1) Tabela 1 – Determinação do ângulo de inclinação do módulo Latitude geográfica do local de instalação Ângulo de inclinação do módulo 0º a 10º 10º 11º a 20º Latitude 21º a 30º Latitude + 5º 31º a 40º Latitude + 10º 41º ou mais Latitude + 15º Fonte: adaptada de Villalva e Gazoli (2012, p. 59). Com o objetivo de aumentar a potência total, um sistema fotovoltaico pode utilizar um grande número de módulos, conectados em série, paralelo ou mesclando essas duas formas de conexão. As principais características de cada uma dessas formas de conexão são: • Conexão de módulos em série: a tensão de saída do conjunto (string) corresponde à soma da tensão de saída de cada módulo. A corrente que circula pelo conjunto é a mesma para todos os módulos. • Conexão de módulos em paralelo: a tensão de saída do conjunto é igual à tensão de um módulo individual. A corrente total de saída é a somatória das correntes dos módulos. • Conexão de módulos em série e paralelo: os módulos são conectados em série e depois em paralelo. Conforme o arranjo, há a somatória das correntes e tensões dos módulos. 27 3. Sistemas fotovoltaicos autônomos Também chamados de sistemas fotovoltaicos isolados, os sistemas autônomos são aqueles que não são ligados na rede elétrica, por isso, em inglês, recebem o nome de offgrid. Usualmente, tais sistemas são utilizados em locais que não são atendidos pela rede elétrica, como por exemplo em zonas rurais remotas ou comunidades isoladas da Amazônia. Eles são usados, inclusive, para o fornecimento de energia para veículos terrestres e náuticos ou para a alimentação de pequenos aparelhos eletrônicos portáteis. Quando tratamos de um sistema fotovoltaico autônomo que tem por objetivo substituir ou compensar a falta da rede elétrica em um local, ele deve ser composto, basicamente, por: painéis solares, banco de baterias, controlador de carga e inversor. Nesse sistema, a energia é gerada em corrente contínua pelos painéis e armazenada nas baterias, que tem seu processo de carregamento regulado pelo controlador de carga. Para ser utilizada na alimentação dos equipamentos que encontramos em nossas residências, a energia passa pelo inversor, que converte a corrente contínua armazenada nas baterias e gerada pelos painéis em corrente alternada. 3.1 Baterias Em um sistema autônomo, a geração de energia, que varia durante o dia devido à radiação solar, dificilmente coincide com o consumo. Assim, é necessário um elemento que seja capaz de armazenar a energia gerada, a fim de proporcionar o fornecimento de energia para o usuário, mesmo em momentos em que a geração seja mínima ou inexistente, como no período da noite ou em dias nublados e chuvosos. O elemento responsável por isso é a bateria. Com o objetivo de aumentar a capacidade de armazenamento do sistema, podem ser utilizados bancos de baterias, que podem ser 28 agrupadas em série, permitindo a obtenção de tensões maiores, ou em paralelo, aumentando a capacidade de corrente. Pode ainda ser feita uma mescla entre as duas formas de ligação. Vale ressaltar que podem ser encontradas no mercado baterias de 12 V, 24 V e 48 V, e que a capacidade de tensão e corrente do banco devem entender as especificações de operação do controlador de carga e do inversor. Existem diversos tipos de baterias que podem ser utilizadas em um sistema autônomo e a mais conhecida e utilizada é a de chumbo ácido, que pode ser de ácido líquido ou em gel, seladas ou abertas. Essas baterias são constituídas de placas de chumbo mergulhadas em uma solução ácida e a energia é carregada e descarregada por meio de reações químicas do chumbo com o ácido. As baterias com eletrólito em gel possuem maior vida útil e permitem um maior número de ciclos de carga e descarga quando comparadas com as de eletrólito líquido. Já a vantagem das seladas é que não necessitam de manutenção, ao passo que as abertas requerem a adição periódica de água. Normalmente, os modelos com eletrólito em gel são seladas e são chamadas de VRLA (do inglês, valve regulated lead acid) devido à presença de uma válvula de segurança que permite a liberação de gases no caso de sobrecarga. Vale ressaltar que as baterias de chumbo ácido utilizadas em sistemas autônomos são do tipo estacionárias, portanto, diferentes daquelas utilizadas em automóveis. As baterias estacionárias são desenvolvidas especialmente para sistemas que necessitam do fornecimento de corrente durante um longo período de tempo, diferentemente do que ocorre nos modelos veiculares, nos quais a bateria é acionada somente no momento da partida do veículo, por um curto intervalo de tempo. Além das baterias de chumbo ácido, podem ser encontradas no mercado baterias de NiCd (níquel-cádmio), NiMH (níquel-metal-hidreto) e lítio, que são mais leves, compactas, confiáveis, porém possuem um custo mais elevado. Dentre elas, as que mais se destacam são as de lítio, que estão se popularizando no mercado devido à grande quantidade de ciclos que suportam e sua capacidade de descarga. 29 3.2 Controlador de carga O controlador de carga é o dispositivo que faz o controle da carga do banco de baterias de um sistema autônomo, evitando que a bateria seja sobrecarregada ou excessivamente descarregada. Especificamente, as funções que o controlador de carga desempenha são (BALFOUR et al., 2016): • Proteção de sobrecarga: impede que a bateria seja sobrecarregada, monitorando o valor da tensão nos terminais da bateria e impedindo que ela continue sendo carregada quando a tensão de carga é atingida. • Proteção de descarga excessiva: faz com que o consumo de energia do sistema seja interrompido quando a bateria atinge um nível crítico de carga. • Gerenciamento de carregamento: recurso presente em alguns controladores que gerencia o carregamento respeitando o perfil de carga da bateria, criando múltiplos estágios de carregamento. Uma bateria de chumbo ácido possui três estágios: de carregamento pesado, no qual a corrente é levada ao máximo suportado pelo controlador; de absorção, quando a bateria está praticamente carregada e é aplicado um carregamento lento para que carga chegue até seu máximo; e de flutuação, no qual o controlador apenas mantém a bateria carregada. Os controladores de carga comerciais possuem três conjuntos de terminais para a conexão do painel solar, da bateria e a saída para o inversor ou cargas alimentadas em corrente contínua. Eles são encontrados com capacidades de corrente entre 10 e 60 A e operam com diferentes tecnologias, as principais estão destacadas a seguir (BALFOUR et al., 2016): • Controladores Liga/Desliga: são os modelos mais simples que existem e têm a função de desconectar a bateria dos painéis quando ela está completamente carregada e desconectá-la da 30 carga quando descarregada. Podem ser construídos com a chave que conecta os painéis à bateria em série ou em paralelo. • Controlador eletrônico com PWM (pulse width modulation, ou, modulação por largura de pulso): no lugar de chaves simples que somente abrem ou fecham, esse controlador possui circuitos eletrônicos que permitem o controle das correntes de carga, com a aplicação de uma onda PWM sobre as chaves. Esse tipo de controle aumenta a vida útil e maximiza o uso da bateria. • Controlador eletrônico com PWM e MPPT (maximum power point tracking, ou, rastreamento do ponto de potência máxima): acrescenta ao controlador PWM o módulo MPPT, fazendo com que o painel fotovoltaico opere sempre em seu ponto de máxima potência, independente da radiação solar e de sua temperatura de trabalho. Geralmente esse tipo de controlador gera uma eficiência 30% maior na produção de energia que os demais modelos. 3.3 Inversor Dentro de um sistema fotovoltaico, o inversor tem a função de converter e adequar os níveis de tensão e de corrente contínua (CC) em tensão e corrente alternada (CA). Ele é necessário pois a grande maioria dos equipamentos que conhecemos é construída paratrabalhar em tensão alternada (127 V ou 220 V) a 60 Hz. Podem ser encontrados diversos tipos de inversores, que variam conforme o formato da onda de saída, que podem ser um dos tipos apresentados na Figura 4. Os inversores de menor custo são os que possuem ondas semiquadradas em sua saída, podendo ser uma onda quadrada ou uma senoidal modificada. Os modelos com saída senoidal pura produzem tensões com o formato de uma senoide com baixa distorção harmônica, entregando uma energia de qualidade. 31 Figura 4 – Formas de onda que podem ser encontradas na saída de um inversor Fonte: Villalva e Gazoli (2012, p. 124). Quando se deseja adquirir um inversor para um sistema autônomo, além do tipo de onda de saída, devem ser consideradas diversas especificações e características, como a potência nominal e máxima, tensão de saída CA, frequência de saída, regulação de tensão, eficiência, distorção harmônica e proteções contra curto-circuito e reversão de polaridade. Especificando corretamente o inversor, há a garantia de que os equipamentos ligados a ele irão funcionar sem problemas. 3.4 Dimensionamento do sistema Para se fazer o dimensionamento de um sistema fotovoltaico autônomo, o primeiro passo é determinar o consumo energético que ele deverá suprir, considerando a potência dos equipamentos e por quanto tempo eles ficam ligados por dia. Feito isso, devem ser especificadas as seguintes características: • Qual a tensão de alimentação dos equipamentos (cargas) que serão ligados ao sistema? • Quantos dias as baterias devem sustentar o sistema? • Qual tipo de bateria utilizar, tensão e máximo de descarga, bem como a tensão e arranjo do banco de baterias? 32 • Qual o tipo de controlador e suas especificações? • Qual a potência necessária dos painéis, indicando qual modelo será utilizado, quantos serão necessários e como será feita a associação deles? • Qual modelo de inversor utilizar? 4. Sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica Um sistema fotovoltaico conectado à rede elétrica, ou sistema ongrid, opera em paralelo com a rede elétrica, com o objetivo de gerar energia para o consumo local, reduzindo ou eliminando o consumo de energia da rede, ou até gerando excedente de energia. Atualmente, tais tipos de sistemas estão sendo largamente instalados por consumidores a fim de minimizar a sua conta de energia, sendo que, durante o dia, com o sistema em operação, é gerada uma quantidade de energia excedente, que é injetada na rede. No período na noite, o excedente inserido é consumido, gerando um balanço energético, que torna a fatura de energia extremamente baixa (ZILLES, 2012). Vale ressaltar que esse tipo de sistema também pode ser utilizado na construção de usinas de geração de energia, que caracterizam sistemas com potência acima 1 MW. Porém, tais sistemas possuem a topologia de diversos sistemas de minigeração ligados em conjunto. Dessa forma, conhecer a topologia de sistemas com potências menores é suficiente para o projeto de sistemas maiores. Lembrando que um sistema é caracterizado como sendo de microgeração quando possui uma potência instalada de até 100 kW, já um sistema de minigeração possui potência instalada superior a 100 kW e menor ou igual a 1 MW (ANEEL, 2014). A topologia de um sistema fotovoltaico de microgeração conectado à rede elétrica está apresentada na Figura 5. A principal característica 33 de tal sistema é a sua modularidade, permitindo que novos painéis e inversores sejam acrescentados em paralelo com o sistema, de acordo com a capacidade de geração desejada. Figura 5 – Topologia de um sistema fotovoltaico de microgeração conectado à rede elétrica Fonte: Villalva e Gazoli (2012, p. 153). Dentro do sistema apresentado na Figura 5, o inversor tem o papel de realizar a ligação dos painéis que trabalham em CC com a rede elétrica que opera em CA. Assim, preferencialmente devem ser utilizados inversores que tenham saída senoidal pura. Além disso, vale ressaltar que os inversores para a operação ongrid são diferentes daqueles utilizados no sistema offgrid, sendo que no primeiro caso ele opera como uma fonte de corrente e no segundo como uma fonte de tensão. O inversor ongrid funciona apenas quando está conectado à rede elétrica, assim, caso ela não esteja disponível, garante a segurança de equipamentos que estão ligados na instalação elétrica e outros usuários da rede. Desta forma, cabe ao instalador especificar o modelo correto de inversor a ser utilizado, dependendo do tipo de sistema de geração. 34 As características dos inversores ongrid são diversas e as que requerem maior atenção no momento da aquisição são: faixa útil de tensão contínua na entrada; tensão contínua máxima de entrada; número máximo de strings de entrada; tensão de operação na conexão com a rede; frequência da rede elétrica; distorção da corrente injetada na rede; potências CC de entrada e CA de saída; e rendimento. Assim, conhecendo as características desse tipo de inversor, é possível chegar a sua especificação. Nessa Leitura Digital foram apresentados conceitos relacionados à geração de energia elétrica a partir da energia solar fotovoltaica. Foram trabalhados conceitos sobre os painéis solares e formas com que eles podem ser utilizados na geração de energia, operando de forma autônoma ou ligados à rede. Estudou-se, ainda, os principais dispositivos que são encontrados nas duas formas de operação, permitindo uma visão geral sobre as características e passos de projeto desse tipo de sistema de geração. Referências bibliográficas ANEEL. Sistema de Informações de Geração da ANEEL – SIGA. 2020. Disponível em: https://www.aneel.gov.br/siga. Acesso em: 18 jun. 2020. ANEEL. Micro e minigeração ditribuída: sistema de compensação de energia elétrica. 1. ed. Brasília: ANEEL, 2014. Disponível em: https://www2.aneel.gov.br/ biblioteca/downloads/livros/caderno-tematico-microeminigeracao.pdf. Acesso em: 7 fev. 2020. BALFOUR, J.; SHAW, M.; NASH, N. B. Introdução ao projeto de sistemas fotovoltaicos. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. KALOGIROU, S. A. Engenharia de energia solar: processos e sistemas. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. VILLALVA, M. G; GAZOLI, J. R. Energia solar fotovoltaica: conceitos e aplicações. 1. ed. São Paulo: Érica, 2012. ZILLES, R. et al. Sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica. 1. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2012. https://www.aneel.gov.br/siga https://www2.aneel.gov.br/biblioteca/downloads/livros/caderno-tematico-microeminigeracao.pdf 35 Biomassa e energia geotérmica Autoria: Giancarlo Michelino Gaeta Lopes Leitura crítica: Paulo Takao Okigami Objetivos • Compreender como é feito o processamento da biomassa e como ela é uma importante fonte energética no cenário nacional. • Conhecer os tipos e como funcionam as usinas termoelétricas que podem utilizar a biomassa como combustível. • Conhecer a energia geotérmica e como ela pode ser utilizada para a geração de energia elétrica. 36 1. Biomassa Apesar de não ter grande destaque dentro do cenário mundial de fontes renováveis de geração de energia elétrica, a biomassa desempenha papel fundamental, sendo uma fonte altamente sustentável. Isso também é válido para os biocombustíveis utilizados em veículos, como o etanol e o biodiesel, que se enquadram em fontes de energia derivadas da biomassa. A biomassa é definida como sendo toda matéria orgânica, de origem vegetal ou animal, existente na natureza ou gerada pelo homem/animais, que pode ser utilizada na geração de energia elétrica. Como exemplos podemos citar os resíduos urbanos, rurais e agroindustriais, óleos vegetais e combustíveis produzidos com base em culturas agrícolas e resíduos. Além disso, também é importante saber que a energia derivada da biomassa é chamada de bioenergia (MOREIRA, 2019). Dentro do cenário nacional, uma das aplicações clássicas da utilização da biomassa para a geração de energia elétrica acontece no setor sucroalcooleiro,que utiliza o bagaço da cana para a cogeração de eletricidade. Algo semelhante ocorre em indústrias de papel e celulose, que utilizam os resíduos do processo de produção (resíduos de madeira e licor negro) na cogeração. Nessas indústrias e em outras que possuem cogeração, a energia gerada é utilizada para a alimentação da própria indústria e o excedente é injetado na rede. Porém, também podem ser encontradas no Brasil centrais geradoras elétricas que operam tendo como fonte a biomassa (ANEEL, 2008). No Brasil, 8,77% de toda a energia gerada advém da biomassa, com um total de 571 centrais geradoras termoelétricas, que somadas possuem uma potência instalada de aproximadamente 15.000 MW. Para operar essas termoelétricas com biomassa, são utilizadas fontes variadas, como o biogás advindo de resíduos animais, florestais, agroindustriais e sólidos urbanos, etanol e óleos vegetais, casca de arroz, capim elefante, licor negro e como principal fonte de biomassa, o bagaço de cana de 37 açúcar. Somente o bagaço de cana de açúcar responde por 6,47% de toda a energia elétrica gerada no país, sendo a fonte de biomassa mais utilizada, com uma capacidade de geração de aproximadamente 11.500 MW distribuída em 405 usinas termoelétricas (ANEEL, 2020). Vale ressaltar que a utilização do bagaço de cana como fonte geradora de eletricidade é interessante dentro do cenário nacional devido à periodicidade das safras de cana e o período de chuvas. No período de estiagem, a geração de energia por fonte hídrica, que corresponde a aproximadamente 61% da capacidade de geração do país (ANEEL, 2020), fica limitada devido aos baixos níveis dos reservatórios. Porém, nesse mesmo período acontece a safra da cana de açúcar, período no qual há a maior oferta de matéria-prima para as termoelétricas movidas com o bagaço da cana. Desta forma, a utilização do bagaço em larga escala pode compensar a baixa dos reservatórios e evitar a utilização de combustíveis fósseis nas termoelétricas, mostrando-se uma estratégia interessante, considerando a matriz geradora de energia elétrica do Brasil. 1.1 Formas de geração de energia elétrica a partir da biomassa Dependendo do tipo e quantidade disponível de biomassa e a potência a ser instalada, existem diferentes tecnologias que podem ser utilizadas para a geração de energia elétrica. Basicamente, para sistemas pequenos, menores de 200 kW, utiliza-se sistemas de gaseificação de pequeno porte. Para sistemas acima de 200 kW, majoritariamente, se opera com ciclos a vapor. A operação de grande porte é baseada nas usinas termoelétricas, que realizam a queima do combustível para a geração de calor, que consequentemente aquece um fluido, responsável por acionar uma turbina. Essas usinas podem operar utilizando combustíveis fósseis ou utilizando biomassa como fonte de energia. 38 A maioria das usinas termoelétricas que utilizam a biomassa como fonte na geração de energia elétrica se baseiam na transformação de calor em trabalho útil, operando como máquinas térmicas. A grande maioria das máquinas térmicas opera segundo um determinado ciclo termodinâmico e depende de uma fonte ou reservatório térmico de fornecimento de calor de alta temperatura, um reservatório ou absorvedouro de rejeição de calor de baixa temperatura e da máquina de conversão de calor em trabalho útil, a qual fica ligado um gerador elétrico. Tais componentes estão relacionados entre si, conforme mostra a Figura 1. Figura 1 – Esquema do princípio de funcionamento de uma máquina térmica genérica Fonte: Moreira (2019, p. 32). As máquinas térmicas operam em ciclos que possuem interações de trabalho e calor. Nessas máquinas, o transporte de energia entre os reservatórios é feito por um fluido de trabalho, comumente a água, proporcionando a conversão de energia térmica em trabalho de forma contínua. A seleção de um ciclo de trabalho específico depende, dentre outros fatores, das temperaturas e pressões envolvidas até os custos de instalações. 39 Um dos ciclos utilizados em centrais termoelétricas é o ciclo de Rankine, que possui diversas variações. O ciclo de Rankine simples faz somente algumas alterações no ciclo de Carnot, que é o ciclo ideal, a fim de torná-lo realizável na prática. Contudo, esse ciclo possui susceptibilidade ao aparecimento de erosões na turbina, o que é evitado no ciclo de Rankine com superaquecimento, que tem os componentes e fases do ciclo apresentados na Figura 2a. Comparando o esquema da Figura 2a com o gráfico da Figura 2b, que relaciona a temperatura em função da entropia específica, é possível identificar em quais pontos do ciclo se encontram os elementos necessários para o seu funcionamento e estabelecer uma ordem para o fluxo do fluido no sistema. O processo se inicia com a bomba injetando o líquido no gerador de vapor, que joga o vapor gerado ao superaquecedor, que por sua vez aplica o vapor na turbina. Após passar pela turbina e gerar trabalho, o vapor segue para o condensador, onde volta a se tornar líquido, encerrando o ciclo. Lembrando que o gerador elétrico é acoplado à turbina e que o calor utilizado no gerador de vapor e no superaquecedor advêm da queima da biomassa ou combustível fóssil. Figura 2 – (a) componentes do ciclo de Rankine com superaquecimento e (b) gráfico das fases do ciclo Fonte: Moreira (2019, p. 37). 40 As biomassas que possuem as melhores características para a combustão e utilização no ciclo de Rankine são as de estado sólido, como o bagaço de cana de açúcar. No caso de biomassas em estados gasosos, como o biogás e outros gases obtidos em processos de gaseificação, a melhor opção é utilizar o ciclo de Brayton. O ciclo de Brayton é considerado o ciclo padrão de uma turbina a gás, que pode ser classificada como industrial ou aeroderivativa. Neste ciclo, um compressor comprime o ar de admissão, que é levado para a câmara de combustão, onde o combustível é queimado. O ar aquecido é comprimido e sofre uma expansão na turbina de força, gerando trabalho e movendo o gerador elétrico. No mesmo eixo da turbina onde está acoplado o gerador, também está acoplado o compressor, como pode ser visto na Figura 3 que mostra o diagrama com os componentes básicos de uma termoelétrica a gás. Figura 3 – Elementos básicos de uma termoelétrica com ciclo Brayton Fonte: Moreira (2019, p. 43). Os produtos da combustão de uma turbina a gás possuem uma temperatura relativamente elevada e em um sistema de geração isolado eles são lançados para a atmosfera. Contudo, o calor presente nesses gases pode ser utilizado em outro sistema, como na produção de vapor para o acionamento de uma turbina a vapor. Com isso, é possível 41 criar um ciclo combinado, formado por uma turbina a gás e uma turbina a vapor, chamado de Brayton-Rankine, que tem seu diagrama apresentado na Figura 4. Essa combinação tem como objetivo maximizar o aproveitamento dos combustíveis e da energia térmica gerada no processo geração. Figura 4 – Diagrama do ciclo combinado Brayton-Rankine Fonte: Moreira (2019, p. 53). Analisando a Figura 4, é possível perceber que são necessários dois geradores elétricos para o sistema de ciclo combinado. Além disso, dependendo da temperatura dos gases que saem da turbina a gás, pode ser necessária a queima de outro combustível sólido a fim de aumentar a temperatura no trocador de calor, para que seja possível a geração de vapor a ser utilizado no ciclo de Rankine. Porém, vale ressaltar que o combustível consumido será bem menor se comparado ao utilizado no ciclo de Rankine isolado. 42 A partir dos ciclos apresentados, a tecnologia mais eficiente para a conversão termoelétrica é a de ciclo combinado. Porém, a produção de gás de síntese para operacionalizar um sistema de ciclo combinado de grande porte não tem se mostrado viável, devido à dificuldade de limpeza adequada dos gases após o processo de gaseificação da biomassa sólida. Assim, atualmente, a maioria das termoelétricasde grande porte que operam com biomassa como fonte de energia utilizam o ciclo de Rankine como base, ao passo que os outros ciclos estão sendo utilizados em sistemas de pequeno porte (MOREIRA, 2019). Como foi dito, para uma central de geração de pequeno porte, o uso de sistemas de ciclo combinado é uma opção. Dessa forma, é importante conhecer o processo de gaseificação, que gera como produto final o gás de síntese utilizado em tais sistemas. A gaseificação utiliza a decomposição da matéria orgânica para transformar o carbono presente nas estruturas químicas dos elementos em gás de síntese. Os principais gases presentes no gás de síntese são o dióxido de carbono, metano, hidrocarbonetos leves e nitrogênio. Essa composição depende de alguns fatores, como o tipo de gaseificador, tempo de retenção, sistema de retirada de gases e da matéria orgânica utilizada. Além disso, na maioria dos casos, o processo de gaseificação utiliza como agente gaseificador o ar e operam sob pressão atmosférica. Os principais tipos de gaseificadores são (MOREIRA, 2019): • Gaseificadores de leito fixo: é a tecnologia mais difundida, onde a biomassa a ser gaseificada se move por ação da gravidade, sendo sustentada por uma grelha fixa. O preaquecimento da biomassa em conjunto com o ar gera o gás de síntese. • Gaseificadores de leito fluidizado: o material é mantido em suspensão em um leito de areia, mantido em movimento por um fluxo de ar. Com o movimento, a biomassa é arrastada e o gás é gerado. 43 Além da utilização de máquinas térmicas e turbinas a gás, uma central geradora que utiliza a biomassa como fonte de energia pode trabalhar baseada em motores de combustão interna. Nesse caso, podem ser utilizados diversos tipos de biomassa, como etanol, biodiesel e biogás. Os motores de combustão podem trabalhar em vários ciclos térmicos, de modo que os mais difundidos são os ciclos de Otto e de Diesel. Nesse tipo de motor, um ciclo de trabalho se completa a cada uma ou duas voltas do eixo do motor, sendo constituído por diferentes etapas de funcionamento. Além disso, um motor de combustão pode ser classificado de duas formas, conforme a sua construção (MOREIRA, 2019): • Motor de dois tempos: o ciclo do motor é completo a cada volta do eixo e o próprio pistão atua como válvula, realizando a abertura e fechamento das janelas presentes na câmara. Isso torna a máquina mais simples, compacta e leve, contudo, os índices de poluição e consumo são altos devido à queima parcial do combustível que entra na câmara. • Motor de quatro tempos: o ciclo do motor se completa a cada duas voltas do eixo, onde, para um pistão, em uma volta ocorre a admissão e compressão e na volta seguinte acontece a combustão e escape. Devido a isso, são necessárias válvulas sincronizadas com o movimento do motor. Na prática, os motores de dois tempos são utilizados somente em máquinas de pequeno porte, como equipamentos de jardinagem. Para a geração de energia elétrica, utiliza-se majoritariamente motores de quatro tempos, que são acoplados diretamente a geradores elétricos e possuem um sistema de controle de sua velocidade de rotação, a fim de garantir estabilidade na frequência da tensão gerada pelo gerador. Em um motor que opera em quatro tempos, o trabalho é produzido em apenas um tempo do motor, quando há a combustão do combustível. Nos outros tempos são realizadas as operações para completar o 44 ciclo de funcionamento. Assim, um motor de quatro tempos possui as seguintes fases de operação: admissão, na qual o pistão em deslocamento descendente aspira a mistura de ar e combustível através da válvula de admissão; compressão, quando o pistão atinge a sua excursão mínima, ele começa a subir, comprimindo a mistura de ar e combustível; combustão, em que próximo do pistão atingir o nível máximo, ocorre a combustão, o que impulsiona o pistão para baixo; exaustão, na qual o pistão atinge o seu nível mínimo após a combustão e se abre a válvula de exaustão, que serve de caminho para a descarga dos produtos da combustão. Quando o motor de combustão opera baseado no ciclo de Otto, a combustão interna é gerada pela centelha de uma vela, podendo ter como combustível o etanol, bem como outros combustíveis não renováveis, como a gasolina ou gás natural. Já quando o motor opera baseado no ciclo de Diesel, a ignição acontece de forma espontânea, sem a necessidade de vela, pela compressão do combustível. Esse tipo de motor pode utilizar como combustível o biodiesel e com algumas modificações, por ser uma mistura de biogás e biodiesel, além de suas variantes não renováveis. É importante frisar que dependendo do tipo de biomassa utilizada para a produção do biogás, ele terá uma composição diferente, o que impacta no seu poder calorífico quando queimado. Assim, existem gases que são mais recomendados para serem utilizados em motores à combustão interna, ao passo que existem outros mais recomendados para serem utilizados em turbinas a gás. Para a geração do biogás são utilizados biodigestores, onde os resíduos urbanos, rurais ou agroindustriais são inseridos e digeridos, gerando o gás. Dependendo do tipo de resíduo, existe um tipo de biodigestor mais recomendado. Para resíduos rurais e de esgoto sanitário urbano, o biodigestor Rafa (Reator Anaeróbico de Fluxo Ascendente) é o mais utilizado. Esse biodigestor possui uma camada de iodo que permite 45 a passagem dos líquidos e faz a remoção dos nutrientes orgânicos, gerando o gás. Para resíduos sólidos urbanos, o biogás pode ser coletado de um aterro sanitário. Este tipo de resíduo também pode ser incinerado, e o calor gerado na queima aproveitado para a geração de energia elétrica (MOREIRA, 2019). 2. Energia geotérmica O calor oriundo do subsolo terrestre apresenta potencial para a geração de energia elétrica, além dos fins não elétricos que já eram utilizados há muito tempo, como o cozimento de alimentos ou uso medicinal. Os primeiros projetos de geração de eletricidade aproveitando a energia geotérmica são datados de 1904, em Lardarello (Itália), e de 1950 na cidade de Wairakei (Nova Zelândia). Nos Estados Unidos essa fonte de energia começou a ser utilizada em 1960, com o projeto Geysers, na Califórnia. Dele resultou o Campo Geyser, que possui uma potência instalada de 2.800 MW, sendo a central de geração geotérmica mais desenvolvida no mundo. Por estar distante de falhas geológicas, o Brasil não possui projetos de usinas geotérmicas. Aqui, a energia geotérmica é utilizada somente na forma de água aquecida para fins medicinais e de lazer, como acontece em alguns parques termais (REIS, 2011). As principais vantagens da utilização da energia geotérmica estão no fato dela ser uma energia renovável, que causa um impacto ambiental reduzido, e por não depender de condições climáticas, como acontece com a energia eólica, hidráulica e solar. Os principais impactos dessa forma de geração acontecem na instalação da central geradora, pelas perfurações e rebaixamento do solo. Após a instalação, o impacto está relacionado aos resíduos gerados pelos gases não condensados e pela água condensada, que possuem alguns poluentes como o gás carbônico e metais pesados. Porém, esses elementos gerados no processo são reinjetados no solo, minimizando o impacto. 46 A energia geotérmica pode ser utilizada para a produção de energia elétrica quando o vapor está disponível a altas temperaturas (150 ºC a 200 ºC). Assim, também estando em alta pressão, o vapor aciona uma turbina, que está acoplada a um gerador elétrico. O vapor e a água quente gerados pela energia geotérmica podem estar disponíveis em rochas superficiais, podendo ser utilizados diretamente para a produção de eletricidade ou em locais onde não há reservatórios subterrâneos naturais. Nesse último caso, a água fria é bombeada para dentro das rochas quentes, retirada via tubulação e então utilizada na geração de energia elétrica. A partir desses princípios deutilização da energia geotérmica, podem ser elencadas algumas vias utilizadas na conversão da energia geotérmica em elétrica, que indicam as possíveis formas de aproveitamento da energia geotérmica pelas centrais geradoras (REIS, 2011): • Energia hidrotérmica: advém de reservatórios de água quente e/ou vapor presentes entre rochas ou sedimentos. Ela pode ser aproveitada de duas formas: vapor quente, que tem a sua liberação feita por um tubo inserido no reservatório, onde o vapor, após passar por um processo de filtragem, é utilizado para acionar uma turbina ligada a um gerador elétrico; e água aquecida, da qual é separado o vapor que aciona a turbina, podendo a água restante ser injetada novamente na terra (método flash) ou ser utilizada para aquecer outro líquido em um outro processo de vaporização e geração de eletricidade (método ciclo binário). • Rocha quente e seca: aplicado em locais onde não há reservatórios subterrâneos. Nesse caso é perfurado um poço e injetada água, que quando aquecida é levada à superfície para gerar eletricidade. • Reservatórios geopressurizados: se encontram em rochas sedimentares e contêm uma mistura de água e metano, sob pressão elevada. 47 • Magma: em algumas localizações é possível extrair calor diretamente do magma, injetando água, que se solidifica e fratura, criando um buraco trocador de calor. Esse calor é então aproveitado para gerar eletricidade. Analisando as quatro formas de aproveitamento da energia geotérmica, se percebe que o maior custo associado à instalação e operação de uma central geotérmica acontece com o aproveitamento do magma, que requer um processo delicado para a utilização do calor. Por outro lado, a forma mais comum é com o aproveitamento da energia hidrotérmica, que utiliza a estrutura geológica pré-existente como reservatório. Nessa Leitura Digital foram tratadas duas importantes fontes de energia renováveis, a biomassa e a energia geotérmica. Foram apresentadas as formas de biomassa disponíveis e como é operacionalizada uma usina termoelétrica que utiliza essa fonte, indicando os tipos de processos e ciclos que podem ser utilizados, além da aplicabilidade dessa fonte no cenário nacional. Sobre a energia geotérmica, foram apresentadas as formas de aproveitamento dessa energia em usinas que utilizam essa fonte e uma visão geral sobre sua aplicabilidade. Referências bibliográficas ANEEL. Sistema de Informações de Geração da ANEEL – SIGA. 2020. Disponível em: https://www.aneel.gov.br/siga. Acesso em: 18 jun. 2020. ANEEL. Atlas de energia elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília: Aneel, 2008. Disponível em: http://www2.aneel.gov.br/arquivos/PDF/atlas3ed.pdf. Acesso em: 3 fev. 2020. MOREIRA, J. R. S. [org.] Energias renováveis, geração distribuída e eficiência energética. 1. ed. [Reimpr.]. Rio de Janeiro: LTC, 2019. REIS, L. B. dos. Geração de energia elétrica. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2011. https://www.aneel.gov.br/siga http://www2.aneel.gov.br/arquivos/PDF/atlas3ed.pdf 48 Geração distribuída Autoria: Giancarlo Michelino Gaeta Lopes Leitura crítica: Paulo Takao Okigami Objetivos • Relacionar os diferentes tipos de fontes alternativas de energia com a sua aplicabilidade dentro do sistema elétrico e a forma que elas podem ser conectadas à rede. • Conhecer a geração distribuída, suas normas regulamentadoras, vantagens e desvantagens, formas de tarifação e como ela afeta o sistema elétrico de potência. • Conhecer artifícios que permitam a aplicação da geração distribuída em larga escala, como as redes inteligentes, e refletir sobre a sua aplicabilidade. 49 1. Introdução As fontes renováveis apresentam um papel fundamental na matriz energética encontrada no Brasil, em especial quando tratamos da fonte mais utilizada no país, a fonte hidráulica. Quando tratamos de fontes alternativas, menos usuais, como a solar, eólica e biomassa, é importante saber que elas são utilizadas majoritariamente em pequenas centrais de geração. Essa fragmentação na geração é o ponto de estudo da geração distribuída. Com diversas unidades geradoras de pequeno porte instaladas próximas ou nas propriedades dos consumidores finais, o setor elétrico passa a ter uma estruturação diferente daquela que se via nas últimas décadas, principalmente no sistema de distribuição. Isso se torna cada vez mais evidente quando temos noção da quantidade de sistemas solares fotovoltaicos que estão sendo instalados pelos consumidores com a finalidade de minimizar suas faturas de energia elétrica. E é justamente essa forma de geração que tem mudado o panorama do sistema elétrico e gerado novas normas e resoluções do órgão regulamentador do setor elétrico nacional, a Aneel (agência nacional de energia elétrica). Assim, conhecer as resoluções normativas e aspectos relacionados à geração distribuída é essencial para o profissional que trabalha com sistemas de geração de energia elétrica a partir de fontes alternativas. A geração distribuída apresenta diversas vantagens e desvantagens para o setor elétrico. A principal vantagem está nos custos de expansão do sistema de transmissão, que são evitados, já que os geradores estão próximos aos consumidores. As desvantagens estão relacionadas à qualidade da energia presente na rede, como a presença de harmônicos, que podem ser causados por inversores de sistemas fotovoltaicos sem filtragem, por exemplo, e possíveis variações de tensão. Além disso, se torna necessário um reforço da rede de distribuição, que passa a ter um fluxo bidirecional (BAJAD et al., 2018). 50 2. Impacto das fontes renováveis de energia no sistema elétrico A matriz energética brasileira é composta em sua maioria por fontes renováveis, o que contribui para um impacto ambiental menor que o gerado com a queima de combustíveis fósseis. O grande problema é que diversas dessas fontes renováveis são intermitentes, ou seja, a sua capacidade de geração varia ao longo do ano, como nas usinas hidroelétricas a fio d’agua, e ao longo do dia, como nas centrais fotovoltaicas e eólicas. Assim, para que o sistema elétrico possa suportar uma grande quantidade de fontes renováveis intermitentes e consiga suprir a demanda, devem ser tomadas algumas medidas. Para solucionar o problema, pode-se optar por um sistema de geração superdimensionado, o que é inviável devido ao custo elevado, ou possuir um sistema flexível para absorver a intermitência das fontes renováveis. Uma forma de garantir essa flexibilidade é utilizar fontes flexíveis como termoelétricas a gás ou hidroelétricas com armazenamento (BAJAD et al., 2018). O grande problema da dependência de hidrelétricas com armazenamento é a capacidade dos reservatórios, que sofrem nos períodos de estiagem. Portanto, para garantir o equilíbrio dos reservatórios e absorver a intermitência de outras fontes renováveis, a utilização de termoelétricas que operam com combustíveis fosseis é inevitável. A partir dessa reflexão, é possível concluir que as fontes renováveis alternativas (eólica, solar fotovoltaica e biomassa) são importantes para garantir a variabilidade da matriz energética, porém, elas não conseguem suprir a demanda constante em sua totalidade. A partir do exposto, fica claro que um sistema elétrico baseado em fontes renováveis deve ser altamente flexível. Tal flexibilidade é dependente de quatro fatores principais: 51 • Plantas de geração altamente despacháveis: são plantas que podem rapidamente aumentar a sua capacidade produtiva, partindo de sua capacidade mínima de geração até atingir a sua potência instalada (máximo que pode ser gerado). Quanto maior essa diferença entre o máximo e mínimo de geração, mais despachável é a planta. • Interconexões de regiões e mercados consumidores: garantir que o máximo de consumidores estejam conectados em um mesmo sistema, de forma que o aumento da demanda de algumas regiões possa ser compensado com a queda no consumo de outras. • Mecanismos de resposta da demanda: comoincentivar o uso de equipamentos eficientes energeticamente, reduzindo o consumo nos períodos em que são utilizados, ou a tarifação variável ao longo do dia e do ano, para reduzir o consumo nos horários em que a tarifa é alta. • Estocagem ou armazenamento: que pode ser em forma de energia cinética ou potencial, como reservatórios de usinas hidroelétricas ou volantes de inércia; eletroquímicos, em baterias e células combustíveis; químicos, com estoque de hidrogênio gerado pela eletrólise da água, dentre outros. Tendo em vista o panorama futuro de crescimento da geração distribuída, impulsionada pela geração solar fotovoltaica em pequena escala, é perceptível que o sistema elétrico deverá passar por mudanças, a fim de absorver uma situação até então inédita dos consumidores gerando a sua própria energia. Por consequência, o sistema de distribuição será o mais afetado. Por isso, já estão sendo aplicadas novas tecnologias, como a implantação das redes inteligentes (smart grids), que será discutida mais à frente. 52 3. Geração distribuída de energia elétrica A geração distribuída é caracterizada pela conexão de uma fonte de geração de energia elétrica diretamente à rede de distribuição. Além disso, esse tipo de geração tem a característica de possuir uma pequena capacidade instalada, onde a geração ocorre próxima ao seu ponto de consumo, podendo ser integral ou parcialmente consumida no próprio local de geração e com excedente injetado na rede (MOREIRA, 2019). Com a geração distribuída, há uma mudança na estrutura convencional de um sistema de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, onde as unidades geradoras ficam alocadas distantes dos grandes centros de consumo, tornando necessária uma grande estrutura de transmissão. Na geração distribuída, a geração passa a ser descentralizada, com diversas centrais de pequeno porte próximas aos consumidores. No Brasil, as principais tecnologias utilizadas para a geração distribuída de médio porte são: instalações de cogeração, como de indústrias sucroalcooleiras; pequenas centrais hidrelétricas; centrais solares fotovoltaicas; centrais eólicas; e termoelétricas a biogás. Na geração de pequeno porte, a principal tecnologia são os painéis solares fotovoltaicos, contudo, também se encontram as termoelétricas a biogás. Além das fontes renováveis, existem algumas centrais termoelétricas a gás natural, de pequeno e médio porte. Perceba que associar a geração distribuída somente a fontes renováveis não é correto, já que algumas centrais de geração utilizam combustíveis fósseis (ANEEL, 2019). Para compreender como a geração distribuída é regulamentada no Brasil, é importante conhecer alguns termos e classificações importantes. Uma dessas classificações são as classes de consumo dos consumidores de energia elétrica, que estão apresentadas no Quadro 1 e determinam como é feita a tarifação. Analisando o quadro, 53 é perceptível que a classificação depende do nível de tensão de alimentação, potência instalada dos sistemas e energia consumida, ao passo que a divisão é feita em dois grandes grupos. O grupo B é tarifado somente pelo consumo efetivo da energia (tarifa monômia), em kWh ou MWh, e é composto por unidades consumidoras alimentadas com tensão inferior a 2,3 kV. No grupo A, composto por unidades consumidoras atendidas com tensão maior ou igual a 2,3 kV, além do consumo, também é tarifada a demanda contratada (tarifa binômia) (ANEEL, 2010). Quadro 1 – Classificação de consumidores de energia elétrica Subgrupo consumidor Tipo de consumidor e tensão de fornecimento A1 Tensão de fornecimento igual ou maior que 230 kV A2 Tensão de fornecimento de 88 kV a 138 kV A3 Tensão de fornecimento de 69 kV A3a Tensão de fornecimento de 30 kV a 44 kV A4 Tensão de fornecimento de 2,3 kV a 25 kV AS Tensão de fornecimento inferior a 2,3 kV a partir de sistema subterrâneo de distribuição B1 Residencial B2 Rural B3 Demais classes B4 Iluminação pública Fonte: adaptado de Aneel (2010). No Brasil, existe um total de 188.110 unidades consumidoras (UCs) com geração distribuída, que geram créditos para 249.226 UCs (ANEEL, 2020). Do total de UCs com geração distribuída, a maioria se enquadra na classe de consumo Residencial (B1), porém, a classe Comercial (B3) também apresenta uma participação importante, como pode ser visto na Tabela 1. Vale ressaltar que os números apresentados são atualizados constantemente e o aumento na quantidade de novas UCs com geração distribuída aumenta a cada dia, assim, os números apresentados refletem a situação de quando esse material foi escrito. 54 Além disso, é possível que um consumidor industrial ou comercial se enquadre em diferentes subgrupos de consumo, desta forma, a Tabela 1 apresenta os números por classe econômica, sem considerar a classificação de grupos do Quadro 1. Tabela 1 – Classes de unidades consumidoras com geração distribuída Classe de consumo Quantidade Quantidade de UCs que recebem créditos Potência instalada (kW) Comercial 33.758 59.983 941.260,24 Iluminação pública 11 15 309,10 Industrial 5.044 7.300 243.607,07 Poder Público 764 1.066 32.467,62 Residencial 136.377 162.505 849.920,00 Rural 12.075 18.272 281.604,52 Serviço Público 81 85 2.456,87 Fonte: Aneel (2020). Além dos grupos consumidores considerados na tarifação de energia, é importante conhecer outras definições relacionadas à geração distribuída, que são utilizadas para diferenciar o tamanho da unidade geradora, além de outros termos importantes, são eles (ANEEL, 2012): • Microgeração distribuída: central geradora de eletricidade, com potência instalada menor ou igual a 75 kW, que utilize fontes renováveis ou cogeração qualificada, conectada à rede por meio de instalações de unidades consumidoras. • Minigeração distribuída: central geradora de eletricidade, com potência instalada superior a 75 kW e menor ou igual a 5 MW, que utilize fontes renováveis ou cogeração qualificada, conectada à rede por meio de instalações de unidades consumidoras. • Sistema de compensação de energia elétrica: sistema em que a energia elétrica excedente de uma unidade consumidora com microgeração ou minigeração é cedida à distribuidora local e 55 posteriormente consumida. Esse sistema é base de operação de centrais fotovoltaicas instaladas nos consumidores, que durante o dia injetam o excedente de produção na rede e, quando não há geração (momentos sem sol ou à noite), consomem energia da rede. • Geração compartilhada: é o agrupamento de diversos consumidores, dentro de uma área de concessão ou permissão, por meio de consórcio ou cooperativa, que possua sistemas de microgeração ou minigeração distribuída em um local diferente daquele que será utilizado na compensação da energia excedente. Esse tipo de geração é aplicado, por exemplo, quando um grupo de pessoas cria um sistema de minigeração na zona rural e utiliza o excedente gerado para compensar o consumo de suas residências na zona urbana da cidade. • Autoconsumo remoto: caracterizado por unidades consumidoras que possuam microgeração ou minigeração distribuída em locais diferentes de outras unidades consumidoras onde a energia excedente será compensada, sendo todas as unidades de mesma titularidade e dentro de uma área de concessão ou permissão. Essa situação acontece, por exemplo, quando uma empresa instala um sistema de minigeração em uma de suas sedes e utiliza o excedente gerado para compensar o consumo em outra sede, dentro da mesma cidade. Os termos apresentados podem ser aplicados em consumidores pessoa física e pessoa jurídica. Considerando os consumidores pessoa física, que majoritariamente são atendidos dentro do grupo B1 e B2, a instalação de um sistema de microgeração ou minigeração distribuídos de pequeno porte é suficiente para atender o seu consumo. Como para essas situações a fonte mais utilizada é a fotovoltaica, tais sistemas operam no sistema de compensação de energia
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