Buscar

FITOTERAPIA-NAS-DESORDENS-ORGANICAS-1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
FITOTERAPIA NAS DESORDENS ORGANICAS 
1 
 
 
 
Sumário 
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL E SUA INFLUÊNCIA NAS 
PRÁTICAS DE SAÚDE ...................................................................................... 4 
SOBRE A HISTÓRIA DA UTILIZAÇÃO DOS FITOTERÁPICOS ............ 7 
IMPORTÂNCIA DA FITOTERAPIA ....................................................... 15 
COMO A FITOTERAPIA ESTÁ SENDO USADA .................................. 16 
OS BENEFÍCIOS DA FITOTERAPIA PARA O SISTEMA PÚBLICO DE 
SAÚDE ............................................................................................................. 17 
COMO CAPACITAR PROFISSIONAIS PARA A FITOTERAPIA ........... 18 
MEDIDAS PARA IMPLANTAÇÃO DA FITOTERAPIA NO SUS ............ 21 
ASPECTOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA FITOTERAPIA ....... 25 
PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPIA NA SAÚDE DA FAMÍLIA ..... 32 
A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE E A INTEGRAÇÃO DA 
MEDICINA TRADICIONAL, COMPLEMENTAR E ALTERNATIVA AOS 
SISTEMAS OFICIAIS DE SAÚDE .................................................................... 32 
POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS À INSERÇÃO DAS PLANTAS 
MEDICINAIS E FITOTERAPIA NOS CUIDADOS PRIMÁRIOS EM SAÚDE ... 44 
POLÍTICA NACIONAL DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E 
COMPLEMENTARES (PNPIC) NO SUS ......................................................... 45 
O DESENVOLVIMENTO DA POLÍTICA NACIONAL DE PRÁTICAS 
INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES NO SUS (PNPIC) ........................... 46 
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 52 
 
 
 
2 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
INTRODUÇÃO 
A fitoterapia e o uso de plantas medicinais fazem parte da prática da 
medicina popular, constituindo um conjunto de saberes internalizados nos 
diversos usuários e praticantes, especialmente pela tradição oral. 
Esta prática diminuiu frente ao processo de industrialização, ocorrido no 
país, nas décadas de 1940 e 1951. Trata-se de uma forma eficaz de atendimento 
primário a saúde, podendo complementar ao tratamento usualmente 
empregado, para a população de menor renda. 
A realização segura desses atendimentos está vinculada ao 
conhecimento prévio do profissional de saúde sobre a terapêutica com 
fitoterápicos ou plantas medicinais. 
A orientação para uma utilização adequada, sem perda da efetividade dos 
princípios ativos localizados nas plantas e sem riscos de intoxicações por uso 
inadequado é fundamental. 
Schenkel verificou que além da utilização dos medicamentos alopáticos, 
a população que busca atendimento nas unidades básicas de saúde (UBS) 
também utiliza plantas medicinais com fins terapêuticos, muitas vezes 
desconhecendo a possível existência de efeitos tóxicos, além de não ter 
entendimento quanto à sua ação terapêutica; qual forma mais correta de cultivo; 
preparo; quando cada planta pode ser indicada e em quais casos são 
contraindicadas. 
Tanto Schenkel quanto Marques sugerem a existência de uma crença de 
não haver nenhum efeito prejudicial à saúde com o emprego de fitoterápicos. 
Discussões em torno da implantação da fitoterapia na rede municipal de saúde, 
ou na atenção primária de saúde, se tornam contraditórias em relação aos 
preceitos da biomedicina, já que os discípulos desta doutrina se esforçam para 
eliminar as concepções curativas não baseadas em normas científicas. 
O crescimento do trabalho desenvolvido com plantas medicinais e 
fitoterápicos se apresenta como uma alternativa à referência biomédica de 
saúde, porém, ainda praticamente inexistente nos serviços de saúde tanto 
públicos como privados. 
4 
 
 
Observa-se um crescimento na utilização de fitoterápicos pela população 
brasileira. Dois fatores poderiam explicar este aumento. 
O primeiro seriam os avanços ocorridos na área científica, que permitiram 
o desenvolvimento de fitoterápicos reconhecidamente seguros e eficazes. 
O segundo é a crescente tendência de busca, pela população, por 
terapias menos agressivas destinadas ao atendimento primário. Porém como 
apontado por Leite, o interesse por parte dos gestores municipais na implantação 
de programas de uso de fitoterápicos na atenção primária a saúde, aparece 
associado apenas à concepção de que esta seria uma opção para suprir a falta 
de medicamentos. 
Segundo o autor, só são contabilizados ganhos em custos pela utilização 
de fitoterápicos e não os benefícios. A equipe de saúde assiste o paciente e 
muitas vezes seus familiares nas UBS. Portanto, com um planejamento 
adequado de assistência, levando em conta fatores culturais e utilizando os 
recursos fitoterápicos existentes, pode-se melhorar o nível de saúde da 
população. 
Para isso, se faz necessário um conhecimento por parte dos profissionais 
de saúde que atuam diretamente com os pacientes nas UBS, em relação às 
propriedades terapêuticas das plantas que são usadas por essa população. 
Conhecimentos técnicos, que vão desde o preparo para fins terapêuticos, 
indicações, cuidados e dosagem, e conhecimentos sobre a percepção quanto à 
relação saúde doença são imprescindíveis. 
 
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL E SUA INFLUÊNCIA NAS 
PRÁTICAS DE SAÚDE 
A Saúde Pública, a cada época, possuiu ligação com movimentos sociais 
e políticos, além de estar ligada à economia; acabando por seguir as tendências 
vigentes na sociedade e organizar-se de acordo com as necessidades e com 
contextos específicos. 
5 
 
 
Para Nunes, a saúde pública se estrutura de acordo com a política 
nacional de saúde desde o século XX, onde ocorreu a sistematização 
das práticas sanitárias. 
A indústria farmacêutica (IF), além das de equipamentos médico-
hospitalares também influenciaram o modelo de saúde a ser adotado. 
No caso do complexo da saúde, é necessário entender que a dinâmica e 
a evolução dos sistemas de saúde dependem de duas racionalidades, uma 
interna e outra externa ao sistema. 
A primeira é definida pela existência de um padrão de acumulação de 
capital, a partir de duas lógicas distintas – uma pública e outra privada. 
Já a segunda compreende o conjunto das demandas sobre o sistema de 
saúde que influenciam o modus operandi do sistema e de seus agentes. 
A implantação de um ensino que incorpora os avanços tecnológicos 
trouxe grandes benefícios no campo da assistência médica. Porém, como o 
enfoque do modelo hegemônico é na doença, acaba por levar a uma 
interpretação inadequada do processo saúde- doença, passando este somente 
ao campo biológico, sendo desconsiderados fatores sociais, culturais ou as 
causas multifatoriais prováveis. Neste caso, prevaleceuuma imposição quanto 
à formação dos profissionais de saúde, que deveria estar em consonância como 
o mercado de trabalho: na verdade, e da competência desse mercado traçar o 
perfil desses profissionais, não raro evidenciadas incoerências acerca do seu 
saber-fazer e dos resultados do seu trabalho. 
O que se tem observado é a mercantilização da saúde, que passa a ter 
um valor e lucro no mercado capitalista. Dessa forma, a sociedade foi 
incorporando as formas de assistência à saúde, predominantemente 
hospitalocêntrica, individual e com alta tecnologia”. 
Os profissionais de saúde acabavam por ter uma formação curativista, 
proveniente do modelo biomédico, onde valoriza-se dentro da ciência, o 
desenvolvimento tecnológico, buscando satisfazer uma sociedade altamente 
consumista. 
6 
 
 
Se o saber científico acaba sendo empregado em detrimento ao saber 
popular, as práticas de saúde que não são ditas “cientificas”, são excluídas. Os 
cuidados alternativos em saúde passam a não ter valor e surge uma 
dependência entre os médicos e os medicamentos industrializados, 
caracterizando o que chamamos de medicalização da sociedade. 
A formação dos profissionais contribui para a fragmentação. 
Aguiar afirma que nas escolas brasileiras, a exemplo do que acontece em 
outros países do mundo, existe grande número de estudantes considerados 
anônimos ou assoberbados de informações fragmentadas, vindas de aulas 
expositivas de qualidade variável, em processo que valoriza a memorização e 
não raciocínio crítico. 
Os profissionais de saúde não delegam valor ao tratamento por 
fitoterápicos. Em sua formação acadêmica não receberam conhecimento em 
relação a essa terapia e acabam criando uma posição de que tudo que é 
“natureba” não tem efeito farmacológico. Mas acredita-se na cura pelo consumo 
de medicamentos. 
O medicamento vira símbolo de saúde, a enfermidade, considerada fator 
orgânico, é enfrentada mediante seu uso, ficando de lado as esferas social e 
comportamental. 
Em 2004, com intuito de tentar resolver esse quadro de formação superior 
em saúde, lançou-se o “aprender SUS”. Esta proposta dos Ministérios da Saúde 
e da Educação tem como objetivo ampliar a qualidade de vida da população, 
para que as graduações em saúde passem a valorizar a integralidade, mudando 
com isso a formação profissional já no âmbito da graduação. 
Merhy et al. propõem, para a democratização da saúde, um modelo que 
chamam de técnico-assistencial em defesa da vida. 
A gestão democrática (cogestão entre usuários organizados, prestadores 
de serviços e governo); saúde como direito de cidadania e serviço público de 
saúde voltado para a defesa da vida individual e coletiva, seriam princípios 
norteadores deste modelo. 
7 
 
 
Paim e Merhy et al., sugerem como estratégias de enfrentamento desta 
situação, intervenções nos sistemas de saúde, objetivando a 
implantação de um modelo de assistência que vá além do conceito de 
saúde como mera cura de doenças, garantindo o direito de cidadania 
nos serviços públicos que estariam voltados para a defesa da vida. 
Para esses autores, essa é uma prática complexa a construir-se, que 
implicará em inúmeros fatores que hoje permeiam as discussões em 
relação ao SUS. 
 
 
SOBRE A HISTÓRIA DA UTILIZAÇÃO DOS FITOTERÁPICOS 
Nos séculos de colonização, a utilização de plantas medicinais para 
tratamento das patologias era patrimônio somente dos índios e de seus pajés. 
A população em geral utilizava medicamentos provenientes de 
importações, especialmente da Europa. 
Não existia, ademais, um conhecimento em relação ao correto 
armazenamento das plantas, a fim de preservar suas propriedades medicinais, 
ou seja, seus princípios ativos. 
Muito tempo foi necessário para que as plantas medicinais do território 
brasileiro, usadas pelos estrangeiros para tratamento das mais diversas 
patologias, fossem conhecidas mundialmente. 
Muitos extratos já eram utilizados em território nacional, desde os 
primeiros séculos de colonização, para o tratamento de nosologias locais, e, em 
sua maioria, os medicamentos, utilizados eram fitoterápico. 
Para Grams “[...] a crença popular de que uma simples planta funcionava 
para tratar doenças aos poucos foi sendo substituída pelo forte apelo dos 
remédios [...], que causavam certa atração nos pacientes devido à promessa de 
uma cura rápida e total”. 
Este conceito vem sofrendo modificações já que os fitoterápicos têm 
conseguido espaço cada vez maior na comercialização de medicamentos. A 
ideia de que a utilização de uma gama de formulações para uma única doença 
8 
 
 
deixou de ser viável e a existência de um único medicamento para o tratamento 
de cada patologia, levou ao surgimento de medicação alopática nas décadas de 
1930 e 1940. 
Houve a descoberta de que existem princípios ativos dentro de cada 
planta e que a separação desses princípios ativos em forma de medicamento, 
possibilitava o tratamento das patologias e a cura dos sinais e sintomas 
característicos de cada uma. 
Apesar da grande diversidade presente na flora medicinal, o que ocorreu, 
a partir das décadas citadas anteriormente, foi uma diminuição de incentivos e 
iniciativas para a continuidade do cultivo e a utilização de plantas como 
tratamento. Descartava-se uma ampla possibilidade de expansão do uso destas, 
apesar da diversidade da flora em todo o território nacional. Por falta de 
desenvolvimento de pesquisas, a maioria dos medicamentos fitoterápicos 
usados no Brasil passou a ser elaborado a partir de plantas advindas de 
importação. 
Atualmente, percebe-se um desconhecimento entre os profissionais de 
saúde quanto a esta possibilidade terapêutica. 
De acordo com Tomazzoni et al., há descaso em relação à grande 
diversidade de tratamentos ainda não desenvolvidos, a partir das 
plantas existentes no território nacional e particularmente em relação à 
implantação desta terapêutica no SUS26. 
Para Turolla e Nascimento, ainda que exista um aumento da 
importância dos fitoterápicos, não existem estudos suficientes para a 
comprovação da eficácia e segurança da utilização de plantas 
medicinais como forma de medicamento, que continuam a ser 
utilizadas com base no conhecimento popular. Mas foram grandes os 
progressos nesta área. 
Yunes et al. e Ferro apontam para um cenário promissor, com avanços 
na área científica que levaram ao desenvolvimento de fitoterápicos 
seguros e eficazes. Nos países em desenvolvimento, entre eles o 
Brasil, bem como nos países desenvolvidos, a partir da segunda 
metade das décadas de 70 e 80, tem ocorrido um crescimento das 
“medicinas alternativas”, entre elas a fitoterapia. Matsuda indica que 
50% dos europeus e mais de 50% dos norte-americanos fazem uso de 
9 
 
 
fitoterápicos. No Brasil estima-se que o comércio de fitoterápicos seja 
na ordem de 5% do total de medicamentos, o que corresponde a mais 
de US$ 400 milhões/ano. 
Gullo e Pereira com base em dados da OMS apontam que, em 1980, 
o mercado mundial de fitoterápicos e produtos naturais movimentou 
500 milhões de dólares. Para o ano de 2000, a previsão era de que 
somente na Europa registrar-se-ia um volume de vendas de 500 
milhões de dólares. 
No Canadá as vendas crescem 15% ao ano e nos Estados Unidos 
chegam a 20%. Esse aumento de consumo de plantas medicinais deve-se a 
vários fatores. 
Para Lorenzi e Matos, as preocupações com a biodiversidade e as 
ideias de desenvolvimento sustentável despertaram interesse no uso 
das plantas. Neste trabalho, e também no realizado por Matsuda, 
relata-se que a população busca uma melhor qualidade de vida, com 
métodos mais naturais e saudáveis para a manutenção da saúde. 
Já para Simões et al., o interesse na utilização de plantas medicinais 
decorre também do o alto custo dos medicamentos industrializados, da 
crise econômica e da falta de acesso à assistência médica e 
farmacêutica, fatores que gerama procura dos consumidores por 
utilizar produtos naturais. 
A população passa a questionar o uso indiscriminado de medicamentos 
sintéticos e procura, alternativamente, os fitoterápicos. Além de todos esses 
fatores, a ação terapêutica tem sido comprovada com muitas plantas utilizadas 
popularmente. 
Leite assim resume a discussão: a “[...] insatisfação com o sistema de 
saúde oficial, a necessidade das pessoas da sensação de controle de seu 
próprio corpo e recuperação da saúde, tomando as práticas de saúde por si ou 
para sua família [...]”, são fatores que estão contribuindo para o aumento da 
utilização de fitoterápicos. 
Segundo Jorquera e Alves e Silva35, a Organização Mundial da Saúde 
(OMS) estima que 80% da população mundial não possuí acesso ao 
atendimento primário em saúde. 
10 
 
 
Na America Latina, 50% da população têm pouco ou nenhum acesso aos 
medicamentos, mas ainda é marginal o diálogo da política de saúde e o uso de 
fitoterápicos na atenção básica no SUS. 
Fitoterapia na atenção primária à saúde Na Conferência Internacional 
sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada em 1978, como parte do plano de 
ação da OMS para atender o objetivo “Saúde para todos no ano 2000”, foi 
incentivada a valorização das terapias tradicionais, entre elas a fitoterapia, 
reconhecidas como recursos possíveis, mais fáceis e economicamente viáveis 
de aumentar a cobertura de atenção primária à saúde. 
No Brasil, este tema foi discutido na 8ª. Conferência Nacional de Saúde, 
em 1986, quando se recomendava a introdução de práticas tradicionais de cura 
popular no atendimento público de saúde. 
Durante a 10 a Conferência Nacional de Saúde, em 1996, houve a 
proposta de incorporar no SUS as terapias alternativas e práticas populares, 
especificamente o incentivo à fitoterapia e à homeopatia na assistência 
farmacêutica pública. 
O uso da fitoterapia na atenção primária é tecnicamente apropriado, 
quando a prescrição não é feita de forma indiscriminada e quando os 
profissionais não incentivam a medicalização excessiva. 
A atenção às possibilidades alternativas de tratamento levaria a uma 
melhora no atendimento da população pelo Sistema Único de Saúde, em razão 
de proporcionar outra forma de tratamento e de prevenção. Leite resume, 
novamente, os pontos mais salientes dessa discussão: “[...] o interesse por parte 
de gestores municipais na implantação de programas de uso de fitoterápicos na 
atenção primária a saúde, muitas vezes aparece associado apenas à concepção 
de que esta é uma opção para suprir a falta de medicamentos na impossibilidade 
de disponibilização destes, já que na maioria das vezes contabilizam-se os 
ganhos em custos gerados pela utilização dos fitoterápicos”. Este autor afirma 
que além da viabilidade econômica e da ação terapêutica, a fitoterapia 
representa parte importante da cultura de um povo, que não pode ser 
desconsiderada. 
11 
 
 
No entanto, “a utilização de plantas medicinais tem sido muitas vezes 
considerada como fato desvinculado da assistência à saúde como um todo e 
vista como simples medicamentação”. 
Na mesma direção, Hufford pontua que “um sistema de saúde que 
adota a fitoterapia deve incorporar um conjunto de atitudes, valores e 
crenças que constituem uma filosofia de vida e não meramente uma 
porção de remédios”. Akerele sinaliza que o saber popular pode ser 
uma contribuição aos profissionais de saúde, na implantação de 
programas de fitoterapia na rede de atendimento básico de saúde. 
Torna-se possível, também, desenvolver o potencial econômico em 
relação às plantas com valor medicinal. 
A rede básica de atendimento à saúde deve proporcionar aos pacientes 
todos os recursos apropriados e disponíveis de assistência. O uso adequado das 
plantas medicinais é uma alternativa de tratamento à medicina alopática, mas 
não deve ser considerado um substituto desta. 
Para que o conhecimento científico seja mais bem difundido e se torne 
uma realidade, necessita-se de projetos tecnológicos e pesquisas que possam 
fundamentar e fortalecer a fitoterapia e possam fazer com que a Política Nacional 
de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos seja implementada em todo 
o território nacional, especialmente nas UBS. 
Está em jogo o que preceitua a política de desenvolvimento tecnológico, 
para a saúde: “Deverá ser continuado e expandido o apoio à pesquisa que vise 
o aproveitamento do potencial terapêutico da flora e fauna nacionais, enfatizando 
a certificação de suas propriedades medicamentosas”. 
Espera-se que a implantação dessa política de medicamentos 
fitoterápicos nos locais de atenção primária que atendem o SUS permita uma 
redução nos gastos com saúde no Brasil. 
O grande problema enfrentado pelas UBS, que sofrem com a falta de 
medicamento, poderá ser amenizado quando efetuada a complementação do 
medicamento convencional pelo fitoterápico, mediante uma orientação 
adequada. 
12 
 
 
No Paraná, uma experiência com programa de fitoterápicos na rede 
pública deu-se no município de Curitiba, onde as plantas medicinais e os 
fitoterápicos são usados como recurso terapêutico desde 1990. 
Neste município existe o projeto Verde Saúde, que preconiza a utilização 
de plantas medicinais. 
Em 2001, 82% das unidades de saúde já utilizavam a fitoterapia como 
opção terapêutica. Outros municípios paranaenses implantaram o programa de 
uso de fitoterápicos na rede básica. Londrina, Toledo e Foz do Iguaçu avaliam 
os resultados desse programa como satisfatórios para o serviço e para os 
usuários do Sistema Público de Saúde. 
A equipe de saúde assiste ao paciente, à família e à comunidade, planeja 
a assistência com base na cultura da população, utiliza os recursos disponíveis, 
ajudando dessa forma a comunidade a melhorar seu nível de saúde. Para isso, 
necessita de conhecimento das propriedades terapêuticas das plantas a serem 
usadas, do preparo, da indicação, dos cuidados e da dosagem. 
De acordo com Furnham e Bragrath, o uso de plantas com fins 
medicinais vem de uma população insatisfeita, muitas vezes devido a 
reações adversas causadas pelos medicamentos; ou ainda da busca 
por soluções alternativas para as doenças. Com isso, a prática do uso 
de plantas permanece presente, dentro do crescente uso das terapias 
não convencionais. 
 Mas, ainda existe uma crença difundida de que o que é natural não faz 
mal, que as plantas apenas curam, o que acaba por direcionar ainda mais ao 
consumo e à aceitação das terapias alternativas, especialmente da fitoterapia o 
que ainda é referido pelos mesmos autores. 
A fitoterapia apresenta-se como uma possibilidade de atuar como 
coadjuvante nos tratamentos alopáticos, desde que sejam levadas em 
consideração suas possíveis complicações. Faz-se necessário um 
conhecimento por parte dos profissionais de saúde que estarão atuando e 
indicando a terapia aos pacientes. Essas considerações, entre muitas outras, 
levaram ao desenvolvimento deste trabalho, que buscou levantar desde 
13 
 
 
aspectos da implantação da política de fitoterápicos até a extensão dos 
conhecimentos dos profissionais de saúde, em relação à fitoterapia nas UBS. 
A experiência já está presente nos municípios de: Londrina, Maringá, 
Curitiba, Toledo e Foz do Iguaçu e ainda não foi implantada no município de 
Cascavel, no estado do Paraná. Esta pesquisa teve por intenção servir de apoio 
e incentivo à implantação da fitoterapia nas UBS como atendimento primário, 
visando à melhora da qualidade de vida aos usuários do SUS. 
Esta terapêutica, quando baseada em sólidos conhecimentos científicos, 
amplia o acesso às populações carentes, afetadas por não terem condições de 
adquirir os medicamentos industrializados, não disponíveis no SUS. Este 
trabalho pretendeu ser objeto de inspiração para novas pesquisas na área de 
atuação da saúde, a fitoterapia, visando uma possível ampliação do uso de 
fitoterápicosna rede básica de saúde, a fim de aumentar o acesso a 
medicamentos na atenção primária. 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) constatou que práticas não 
convencionais de saúde, tais como acupuntura, fitoterapia e técnicas 
manuais estão em desenvolvimento, ganhando espaço de modo 
complementar às terapias medicamentosas alopáticas (OMS, 2008). 
Para grande parte da população o uso de plantas medicinais é visto como 
uma integrativa histórica à utilização de medicamentos sintéticos, visto que os 
últimos são considerados mais caros e agressivos ao organismo. 
A disseminação do uso de plantas medicinais, assim como a 
automedicação deve-se principalmente ao baixo custo e fácil acesso à grande 
parcela da população (OMS, 2008). 
Visando o custo de desenvolvimento dessa categoria de produtos, os 
países subdesenvolvidos como o Brasil oferecem integrativa terapêutica 
bastante promissora para a população. 
O país é visto em destaque por possuir um terço da flora mundial, além 
de ser a Amazônia a maior reserva de produtos naturais com ação fitoterápica 
do planeta. 
14 
 
 
Esta intensa presença vegetal faz com que as pesquisas e o próprio 
desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos possam ocorrer como destaque 
no cenário científico mundial (Yunes et al., 2001; França et al., 2008). 
Desde a década de 80, vários documentos vêm sendo elaborados a fim 
de enfatizar o uso de fitoterápicos na atenção básica no sistema de saúde 
pública com o intuito de priorizar a melhoria dos serviços, o aumento da 
resolutividade e o incremento de diferentes abordagens (Matos, 1998). 
O Ministério da Saúde através da Portaria nº 971 de 3 de maio de 2006 
disponibiliza opções terapêuticas e preventivas aos usuários do SUS, dentre elas 
o uso de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos além de afirmar, 
baseado em levantamento realizado em 2004, que 116 municípios de 22 estados 
brasileiros fazem uso da fitoterapia (Brasil, 2006a). 
Portanto, os tratamentos medicinais de origem vegetal são amplamente 
utilizados no Brasil como integrativa terapêutica, em destaque por aqueles que 
estão em tratamento de doenças crônicas e fazendo uso de outros 
medicamentos (Alexandre et al., 2008). 
Embora existam vários estudos a respeito do uso, da toxicidade e da 
eficácia das plantas medicinais, a literatura científica ainda é precária no sentido 
de se conhecer como elas estão sendo usadas, quais são os benefícios e como 
se poderá capacitar os profissionais para o aconselhamento da utilização como 
medicina integrativa no SUS. 
Diante desta abordagem, o objetivo desta pesquisa é fazer levantamento 
bibliográfico, a respeito dos temas como importância da fitoterapia; como ela está 
sendo usada; benefícios que a mesma oferece ao Sistema Público de Saúde; 
capacitação dos profissionais nesta área e programas e leis para a 
implementação no SUS. 
Trata-se de estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado 
através de levantamento bibliográfico relacionado ao tema "A fitoterapia como 
medicina integrativa no Sistema Único de Saúde". Os descritores utilizados 
durante toda a pesquisa foram fitoterapia, medicamentos fitoterápicos, medicina 
15 
 
 
integrativa, medicamentos, medicina herbária, fitoterapia no SUS, medicina 
integrativa e sistemas públicos de saúde e planta medicinal. 
 
 
IMPORTÂNCIA DA FITOTERAPIA 
A revitalização das práticas médicas antigas, hoje consideradas medicina 
integrativa, é um fenômeno que contribui para a forma hegemônica gradual 
destas modalidades, uma vez que sua organização mais ampla e integrada 
permite respostas mais apropriadas aos problemas gerados pela mecanicista 
especialização excessiva dos métodos médicos convencionais (Queiroz, 2000). 
A fitoterapia vem sendo a medicina integrativa que mais cresce ao logo 
dos anos. No mercado mundial de medicamentos a comercialização de 
fitofármacos gira em torno de 15 bilhões de dólares. 
O fator mais relevante para tal crescimento se resume na evolução dos 
estudos científicos, em destaque a descoberta da eficácia de plantas medicinais, 
principalmente as utilizadas pela população com finalidade terapêutica, através 
dos estudos químicos e farmacológicos (Cechinel-Filho & Yunes, 1998). 
A população em geral confunde a fitoterapia com o uso de plantas 
medicinais. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) considera 
como medicamento fitoterápico aquele obtido exclusivamente de matérias-
primas de origem vegetal, com qualidade constante e reprodutível e que tantos 
os riscos quanto à eficácia sejam caracterizados por levantamentos 
etnofarmacológicos, documentações técnico científicas em publicações ou 
ensaios clínicos (Nicoletti et al., 2007). 
As profundas raízes culturais da população brasileira facilitaram a 
sobrevida da Fitoterapia até os dias atuais, uma vez que a consciência popular 
reconhece a eficácia e legitimidade desta modalidade terapêutica (Sacramento, 
2000). 
16 
 
 
A crença popular em Curandeiros, raizeiros, parteiras, médiuns e a própria 
tradição oral ancestral transforma o uso de plantas medicinais em verdadeiro 
sincretismo de concepções (Santos et al., 1995). 
Além disso, a fitoterapia faz com que o ser humano volte a se conectar 
com a natureza e assim buscar na vegetação uma forma de ajudar o organismo 
em vários sentidos, como a restaurar a imunidade enfraquecida, normalizar 
funções fisiológicas, desintoxicar órgãos e até mesmo para rejuvenescer (França 
et al., 2008). 
 
 
COMO A FITOTERAPIA ESTÁ SENDO USADA 
Desde a antiguidade as pessoas utilizam plantas com a finalidade de tratar 
e curar enfermidade. Hoje podemos encontrar nas grandes e pequenas cidades 
brasileiras a comercialização de plantas medicinais livremente em feiras livres, 
mercados populares, quitandas residenciais e em outros estabelecimentos 
(Maciel et al., 2002). 
Esses produtos são comercializados por ervanários e raizeiros que não 
cumprem com os critérios de adequação à saúde nem atendem ao binômio 
segurança e eficácia exigidos nos demais produtos, mostrando assim uma 
comercialização inadequada e consequentemente má utilização das plantas 
medicinais, já que essas, neste caso, não passam por sistemas de qualificação 
da farmacovigilância (Brandão et al., 1998). 
Rang et al. (2007) relatam que "A utilização de chás, de forma 
indiscriminada, em crianças portadoras de enfermidades hepáticas, 
renais ou outras doenças, poderá lhes trazer sérias consequências 
para sua saúde se não houver acompanhamento médico". 
Wong (2003) afirma que a utilização indiscriminada de remédios e 
associação de fármacos aumenta em toda a população o risco de 
17 
 
 
morbimortalidade causados pelos efeitos adversos e toxicidade 
provocada por estes produtos. 
Antes de serem utilizadas pela população é necessário que as plantas 
medicinais passem por vários processos que no final vão chegar a formulações 
com indicações de uso seguro e adequado para assim fornecer resultados 
desejados a quem for utilizá-la. 
Tais processos englobam a química orgânica, fitoquímica (onde ocorre o 
isolamento, purificação e caracterização de princípio ativo), a farmacologia 
(investigando farmacologicamente os extratos e os constituintes químicos 
isolados), a química orgânica sintética (fazendo as transformações químicas de 
princípios ativos) a química medicinal e farmacológica (estudando a relação 
estrutura/atividade e os mecanismos de ação dos princípios ativos) e por fim a 
preparação de formulações para a produção do fitoterápico (Maciel et al., 2002). 
 
 
OS BENEFÍCIOS DA FITOTERAPIA PARA O SISTEMA PÚBLICO 
DE SAÚDE 
No ocidente, considera-se a Alemanha como primeiro e maior 
incentivador das terapias naturais, notadamente a Fitoterapia, uma vez que no 
receituário alemão os produtos florais chegam a ocupar cerca de 40% das 
prescrições. 
Há também países como a França, Bélgica, Suécia, Suíça, Japão e 
EstadosUnidos onde se enfatiza a técnica fitoterápica e onde os trabalhos 
científicos sobre o tema são publicados. 
A China é campeã na utilização de medicamentos naturais. Naquele País 
só se recorre à alopatia quando não se encontra um substituto de tal 
medicamento na flora chinesa (Leão & Ribeiro, 1999). 
18 
 
 
Visando a eficácia e o baixo custo operacional da utilização de plantas 
medicinais nos programas de atenção primária à saúde, pode-se considerar uma 
integrativa terapêutica muito útil e importante. 
A facilidade para adquirir essas plantas e a compatibilidade cultural são 
fatores de extrema relevância para o progresso dessa medicina, principalmente 
no Nordeste brasileiro onde na cultura é comum o uso das mesmas na 
preparação de remédios caseiros para tratar várias enfermidades. Além disso, o 
fato de plantas medicinais poderem ser usadas através de formulações caseiras, 
de fácil preparo, se reveste de grande importância, pois ela pode suprir a crônica 
falta de medicamentos nos serviços de saúde (Matos, 1998). 
Essa ideia vem sendo desenvolvida já algum tempo. Segundo Boas e 
Gadelha (2007), o relatório final da 10ª Conferência Nacional de Saúde, em 
1998, determina que os gestores do SUS devam estimular e ampliar pesquisas 
realizadas em parceria com universidades públicas, promovendo ao lado de 
outras terapias complementares a fitoterapia. 
No Brasil, diretrizes do Ministério da Saúde determinaram prioridades na 
investigação das plantas medicinais e implantando a fitoterapia como prática 
oficial da medicina, orientando as Comissões Interinstitucionais de Saúde (CIS) 
a buscarem sua inclusão no SUS. Para que essa inclusão ocorra é essencial que 
os profissionais da área de saúde conheçam as atividades farmacológicas e a 
toxicidade das plantas medicinais de cada bioma brasileiro, de acordo com os 
costumes, tradições e condição socioeconômica da população. Alguns trabalhos 
já são realizados em estados como o Ceará com o objetivo de desvendar o uso 
de plantas medicinais pela população, encontrando alta prevalência de uso 
(Silva et al., 2006). 
 
COMO CAPACITAR PROFISSIONAIS PARA A FITOTERAPIA 
Embora a área de fitoterápicos esteja cada vez mais conhecida e 
desenvolvida, a disponibilidade de produtos fitoterápicos no mercado brasileiro 
19 
 
 
ainda é bastante preocupante na visão do controle de qualidade desde a 
produção até a comercialização e uso pela população, pois a capacitação de 
profissionais nesta área ainda é escassa (Calixto, 2000). 
Guiados pela mídia, as pessoas utilizam os produtos provenientes do 
reino vegetal sob a forma de complementos e suplementos alimentares, sem 
levar em consideração o potencial curativo destes medicamentos. 
Outros fatores que influenciam na preconcepção mistificadora ocidental é 
a associação direta dos fármacos fitoterápicos com práticas integrativas de 
medicina, como a Medicina Chinesa, a Medicina Holística, Macrobiótica entre 
outras (Camargo, 1985). 
A fitoterapia é considerada pela OMS uma prática da medicina tradicional 
(Simon, 2001). Todavia, o uso deve ser precedido por criteriosa identificação e 
classificação botânica a fim de evitar a indução de erros e problemas durante a 
utilização. Muitas vezes os profissionais de saúde associam o uso destes 
medicamentos com os medicamentos alopáticos (França et al., 2008), o que 
pode gerar riscos, uma vez que diversas interações têm sido descritas entre 
fitoterápicos e fármacos quimicamente definidos, algumas associadas à 
modulação da atividade enzimática no sítio de atuação (Franco, 2003). 
Há preocupação ainda maior quanto aos herbolários (pessoas que 
comercializam plantas medicinais), pois estes obtêm os conhecimentos 
geralmente advindos da tradição oral, sem o adequado respaldo científico. 
Muitos deles não estão preparados para avaliar critérios importantes no 
tratamento medicamentoso como o armazenamento, uso, indicações e 
contraindicações das plantas medicinais. Em estudo realizado na cidade de 
Campina Grande - Paraíba foi demonstrado que poucos herbolários associam o 
conhecimento adquirido com a tradição oral à literatura acerca do tema (França 
et al., 2008). 
Os profissionais de saúde devem levar em conta que uma gama de fatores 
interfere na atuação do complexo ativo obtido diretamente dos vegetais. 
Aspectos genéticos dos indivíduos podem expressar diferentes atividades das 
20 
 
 
substâncias bioativas presentes, e estes podem ser afetados também por 
condições climáticas como luminosidade, índice pluviométrico, condições do 
solo e outros fatores. Faz-se necessário conhecer mais acerca da taxonomia do 
material botânico a ser utilizado, uma vez que os fitoterápicos apresentam altos 
risco de efeitos colaterais e intoxicações (França et al., 2008). 
Segundo a Política Nacional de Práticas Integrativas e 
Complementares (PNPIC) no SUS, a capacitação, na área de "Plantas 
medicinais e Fitoterapia", deve ser realizada através de curso básico 
interdisciplinar comum a toda a equipe, visando à sensibilização dos 
profissionais a respeito dos princípios e diretrizes do SUS, das políticas 
de saúde, das Práticas Integrativas no SUS, das normas e 
regulamentação e dos cuidados gerais com as plantas medicinais e 
fitoterápicos; cursos específicos para profissionais de saúde de nível 
universitário, detalhando os aspectos relacionados à manipulação, 
fitoterápicos, de acordo com as categorias profissionais e cursos 
específicos para profissionais da área agronômica detalhando os 
aspectos relacionados a toda cadeia produtiva de plantas medicinais 
(Brasil, 2006a). 
A fim de seguir as recomendações da PNPIC, o Ministério da Saúde, 
responsável pela Política de Educação na Saúde, conta com estratégias para 
formação e educação dos profissionais de saúde, como o Sistema Universidade 
Aberta do SUS (UNA-SUS); o Programa Nacional de Telessaúde; o Programa 
de Educação Permanente pelo Trabalho para a Saúde; Cursos de 
Especialização e Mestrado Profissionalizante; entre outros. Além de contar com 
essas estratégias o Ministério da Saúde tem incentivado a inclusão de disciplinas 
de interesse do SUS nos currículos dos cursos de graduação na área da saúde 
e inserido disciplinas sobre fitoterapia e outras práticas integrativas e 
complementares nos cursos de especialização que por eles são financiados 
(Simoni, 2010). 
 
 
21 
 
 
MEDIDAS PARA IMPLANTAÇÃO DA FITOTERAPIA NO SUS 
Com o crescimento da utilização e desenvolvimento de medicamentos 
fitoterápicos, a OMS tem demonstrado crescente interesse em melhorar as 
condições que garantam qualidade, segurança e eficácia destes produtos, 
focando especialmente o seu uso em países em vias de desenvolvimento 
(BRASIL, 2000). Com o objetivo de evitar efeitos irracionais e danos que possam 
ser causados pelo mau uso desta modalidade terapêutica, o Ministério da Saúde 
tem estabelecido políticas que encorajam o desenvolvimento de estudos com 
plantas medicinais objetivando colocar em prática os benefícios advindos destas 
pesquisas (Franco, 2003). 
O governo tem mostrado interesse no desenvolvimento de políticas e 
programas que associem o conhecimento popular com o científico, assim ao 
longo de vários anos vem sendo criado portarias e programas relacionados a 
plantas medicinais e fitoterápicos no SUS. Dentre estes merecem destaques: 
· O Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais (PPPM) da Central de 
Medicamentos (CEME), criado pelo ministério da saúde e vigente durante 15 
anos (1982 e 1997), teve como objetivo principal estudar 55 plantas medicinais 
com o intuito de determinar a ação terapêutica, que estas plantas tinham 
segundo a população, a partir de estudos científicos e assim desenvolver uma 
terapia alternativa e complementar (Simoni, 2010). Cinco anos após a PPPM 
iniciar, foi criado a Resolução da Comissão Interministerial de Planejamento e 
Coordenação (CIPLAN) nº 08, em 08 de marçode 1988, que determinava 
procedimentos e rotinas relativas à prática da Fitoterapia nas Unidades 
Assistenciais Médicas e consequentemente regulamentava a prática de 
Fitoterapia nos serviços de saúde (Brasil, 1988). 
· No ano de 1998 foi aprovado a Política Nacional de Medicamentos, Portaria 
nº 3916, que estabelecia a expansão do apoio às pesquisas destinadas a 
fitoterápicos, visando o potencial terapêutico da flora e fauna nacionais, uma vez 
que o Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta (Brasil, 1998). Em 
meados de em 2001, o Ministério da Saúde realizou um Fórum para formulação 
da proposta da Política Nacional de Plantas Medicinais e Medicamentos 
22 
 
 
Fitoterápicos, porém esta só foi aprovada no ano de 2006 pelo decreto 
Presidencial nº 5.813, de 22 de junho de 2006 (Brasil, 2006b). 
A fim de definir e pactuar as ações que visam o uso de plantas medicinais e 
fitoterápicos no processo de atenção à saúde, respeitando desde o 
conhecimento tradicional até o uso da biodiversidade do país, o Conselho 
Nacional de Saúde em 2004 aprovou a Política Nacional de Assistência 
Farmacêutica com a resolução nº 338. 
· 1ª Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica no ano 
de 2005 aprovou 48 recomendações, e entre elas a implantação de programas 
para uso de medicamentos fitoterápicos nos serviços de saúde, diante disto em 
2006, através da portaria MS nº 971, foi aprovada a Política Nacional de Práticas 
Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, que trata das diretrizes, ações 
e responsabilidades dos três governos, federal, estadual e municipal, os quais 
devem ofertar nos serviços de saúde: serviços e produtos homeopáticos, plantas 
medicinais e fitoterápicos, medicina tradicional chinesa/acupuntura, entre outros. 
Deve ficar claro que a essa política tem o objetivo de ampliar o acesso a opções 
de tratamentos com produtos e serviços seguros, eficazes e de qualidade, de 
forma integrativa e complementar e não em substituição ao modelo 
convencional, por tanto estes programas devem dispor de profissionais 
devidamente capacitados, e os produtos devem atender obrigatoriamente os 
critérios de segurança, qualidade e eficácia terapêutica (Simoni, 2010). 
· A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, aprovada pelo 
Decreto Presidencial nº 5.813, de 22/06/2006, foi elaborada por Grupo de 
Trabalho Interministerial (GTI) o qual contempla diretrizes que vão desde a 
cadeia produtiva de plantas medicinais ate os produtos fitoterápicos (Brasil, 
2006b). Essa política fez surgir um novo GTI para elaborar o Programa Nacional 
de Plantas Medicinais e Fitoterápicos cuja proposta foi submetida à consulta 
pública e aprovado em 09/12/2008, por meio da Portaria Interministerial nº 2.960, 
que além de criar essa GTI, criou o Comitê Nacional de Plantas Medicinais e 
Fitoterápicos com a missão de monitorar e avaliar a implantação da Política 
Nacional. 
23 
 
 
· Com a finalidade de instituir o programa Farmácia Viva no Sistema Único de 
Saúde (SUS) em 2010 foi aprovada a Portaria nº 886/GM/MS. O programa 
Farmácia Viva foi criado pelo professor Francisco José de Abreu Matos da 
Universidade Federal do Ceará, que estudou por mais de 50 anos plantas 
medicinais e originou vasta e reconhecida literatura científica sobre estas plantas 
e uso. O programa foi o primeiro de assistência farmacêutica baseado no 
emprego científico de plantas medicinais desenvolvido no Brasil, tendo por 
objetivo produzir medicamentos fitoterápicos acessíveis à população (Matos, 
1998) e realizar todas as etapas do cultivo, coleta, processamento, 
armazenamento de plantas medicinais, manipulação, dispensação de 
preparações magistrais até oficinas de plantas medicinais e produtos 
fitoterápicos (Simoni, 2010). 
Nas duas últimas décadas, alguns estados e municípios brasileiros vêm 
realizando a implantação desses programas e portarias na atenção primária à 
saúde, com o intuito de suprir as carências medicamentosas de comunidades, e 
muitos desses programas estão, atualmente, vinculados ao programa saúde da 
família (Ogava et al., 2003; Michilis, 2004). 
Diante da biodiversidade do Brasil e do objetivo de melhorar a saúde da 
população, o Ministério da Saúde vem investindo no uso da fitoterapia como 
complemento para o SUS. Entretanto, para que isso ocorra de forma correta e, 
principalmente, segura são necessários profissionais capacitados, que 
compreendam a química, toxicologia e farmacologia das plantas medicinais e 
princípios ativos sem desconsiderar o conhecimento popular. 
Existem diversos programas de fitoterapia implantados ou em fase de 
implantação, em todas as regiões do Brasil. Isto se deve a busca das Secretarias 
Municipais de Saúde em facilitar o acesso da população às plantas 
medicinais/fitoterápicos visando o uso correto das mesmas. Está pratica está 
sendo, à priori, implantada no Programa Saúde da Família (PSF) de diversos 
estados. 
Apesar da crescente busca por integrativas medicamentosas, os estudos 
acerca da fitoterapia ainda são precários no Brasil, sendo necessário o 
24 
 
 
desenvolvimento de pesquisas nesta área, que enriqueceriam o conhecimento 
dos profissionais e estudantes da saúde, auxiliando e tornando mais seguras e 
eficazes a implementação das práticas fitoterápicas no SUS. 
As Práticas Integrativas e Complementares se enquadram no que a 
Organização Mundial de Saúde (OMS) denomina de medicina tradicional e 
medicina complementar e alternativa (MT/ MCA) e, sobre esse tema, a OMS 
recomenda aos seus Estados membros a elaboração de políticas nacionais 
voltadas à integração/inserção da MT/MCA aos sistemas oficiais de saúde, com 
foco na Atenção Primária à Saúde (APS). 
No Brasil, em consonância com as recomendações da OMS, foi aprovada, 
em 2006, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS 
(PNPIC), contemplando, entre outras, diretrizes e responsabilidades 
institucionais para implantação/adequação de ações e serviços de medicina 
tradicional chinesa/acupuntura, homeopatia, plantas medicinais e fitoterapia, 
além de instituir observatórios em saúde para o termalismo social/crenoterapia 
e para a medicina antroposófica no Sistema Único de Saúde (SUS). 
A aprovação da PNPIC desencadeou o desenvolvimento de políticas, 
programas e projetos em todas as instâncias governamentais, pela 
institucionalização dessas práticas no SUS. 
Na instância federal, destaca-se a Política Nacional de Plantas Medicinais 
e Fitoterápicos, aprovada também em 2006 por decreto presidencial, com 
diretrizes e ações para toda a cadeia produtiva de plantas medicinais e 
fitoterápicos. 
As plantas medicinais e seus derivados estão entre os principais recursos 
terapêuticos da MT/ MCA e vêm, há muito, sendo utilizados pela população 
brasileira nos seus cuidados com a saúde, seja na Medicina Tradicional/Popular 
ou nos programas públicos de fitoterapia no SUS, alguns com mais de 20 anos 
de existência. 
25 
 
 
Entre as Práticas Integrativas E Complementares no SUS, as plantas 
medicinais e fitoterapia são as mais presentes no Sistema, segundo diagnóstico 
do Ministério da Saúde, e a maioria das experiências ocorrem na APS. 
As ações para implementação das diretrizes dessas políticas nacionais 
buscam ampliar a oferta de serviços e produtos relacionados à fitoterapia no 
SUS, de forma segura e racional, por profissionais de saúde qualificados, 
considerando o sujeito em sua singularidade e inserção sociocultural, 
promovendo a integralidade da atenção. 
 
 
ASPECTOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA FITOTERAPIA 
A utilização da natureza para fins terapêuticos é tão antiga quanto a 
civilização humana e, por muito tempo, produtos minerais, de plantas e animais 
foram fundamentais para a área da saúde. Historicamente, as plantas medicinais 
são importantes como fitoterápicos e na descoberta de novos fármacos, estando 
no reinovegetal a maior contribuição de medicamentos. 
O termo fitoterapia foi dado à terapêutica que utiliza os medicamentos 
cujos constituintes ativos são plantas ou derivados vegetais, e que tem a sua 
origem no conhecimento e no uso popular. As plantas utilizadas para esse fim 
são tradicionalmente denominadas medicinais (DE PASQUALE, 1984). 
A terapia com medicamentos de espécies vegetais é relatada em 
sistemas de medicinas milenares em todo o mundo, por exemplo, na medicina 
chinesa, tibetana ou indiana-ayurvédica. 
A ayurveda (medicina tradicional indiana) é, talvez, mais antiga do que 
todas as tradições medicinais e do que a medicina tradicional chinesa. As 
civilizações da China e da Índia estavam florescendo e já possuíam inúmeros 
escritos sobre plantas medicinais, enquanto modestas culturas sofisticadas 
começavam a se desenvolver na Europa. 
26 
 
 
O lendário imperador Shen Nung discutiu plantas medicinais em suas 
obras, as quais, pela medicina tradicional chinesa, foram sistematizadas e 
escritas entre 100 e 200 a.C. 
A referência mais completa sobre prescrição de ervas chinesas é a 
enciclopédia chinesa Modern Day, de matéria médica publicada em 1977. Essa 
obra lista quase 6.000 medicamentos, dos quais 4.800 são de origem vegetal. 
Como em outras culturas de cura, receitas tradicionais são usadas 
preferencialmente contra as doenças crônicas, enquanto as doenças graves ou 
agudas são curadas por medicamentos ocidentais. 
A difusão da medicina tradicional chinesa, na maioria dos continentes, 
sem dúvida contribuiu para a popularidade atual dos medicamentos fitoterápicos 
em todo o mundo. Exemplos de ervas medicinais chinesas famosas são Angelica 
polymorpha var. sinensis (Danggui, Dongquai), Artemisia annua (qing ha), 
Ephedra sinica (ma huang), Paeonia lactiflora (Bai shao yao), Panax ginseng 
(ren shen) e Rheum palmatum (da huang) (ALONSO, 1998; CARNEIRO, 2001). 
Na história do Brasil, há registros de que os primeiros médicos 
portugueses que vieram para cá, diante da escassez na colônia de remédios 
empregados na Europa, muito cedo foram obrigados a perceber a importância 
dos remédios de origem vegetal utilizados pelos povos indígenas. 
Os viajantes sempre se abasteciam deles antes de excursionarem por 
regiões pouco conhecidas. As grandes navegações trouxeram a descoberta de 
novos continentes, legando ao mundo moderno um grande arsenal terapêutico 
de origem vegetal até hoje indispensável à medicina. 
Dentro da biodiversidade brasileira, alguns exemplos importantes de 
plantas medicinais são: Ilex paraguariensis (mate), Myroxylon balsamum 
(bálsamo de Tolu), Paullinia cupana (guaraná), Psidium guajava (guava), 
Spilanthes acmella (jambu), Tabebuia sp. (lapacho), Uncaria tomentosa (unha-
de-gato), Copaifera sp.(copaíba) (GURIB-FAKIM, 2006). 
A magnitude da biodiversidade brasileira – conjunto de todos os seres 
vivos com a sua variabilidade genética integral – não é conhecida com precisão 
27 
 
 
tal à sua complexidade, estimando-se mais de dois milhões de espécies distintas 
de plantas, animais e micro-organismos. Isso coloca o Brasil como detentor da 
maior diversidade biológica do mundo (WILSON, 1997). 
Apesar disso e de toda a diversidade de espécies existentes, o potencial 
de uso de plantas como fonte de novos medicamentos é ainda pouco explorado. 
Entre as 250 mil e 500 mil espécies de plantas estimadas no mundo, apenas 
pequena percentagem tem sido investigada fitoquimicamente, fato que ocorre 
também em relação às propriedades farmacológicas, nas quais, em muitos 
casos, existem apenas estudos preliminares. 
Em relação ao uso médico, estima-se que apenas 5 mil espécies foram 
estudadas (RATES, 2001). No Brasil, com cerca de 55 mil espécies de plantas, 
há relatos de investigação de apenas 0,4% da flora (GURIB-FAKIM, 2006). 
Estima-se que pelo menos 25% de todos os medicamentos modernos são 
derivados diretamente ou indiretamente de plantas medicinais, principalmente 
por meio da aplicação de tecnologias modernas ao conhecimento tradicional. No 
caso de certas classes de produtos farmacêuticos, como medicamentos 
antitumorais e antimicrobianos, essa percentagem pode ser maior que 60% 
(WHO, 2011). 
Já o mercado mundial de fitoterápicos movimenta hoje cerca de US$ 44 
bilhões, segundo a consultoria Analize and Realize, que atende algumas das 
maiores indústrias farmacêuticas do mundo. 
Segundo a Associação Brasileira de Empresas do Setor Fitoterápico, 
não existem dados oficiais sobre o tamanho desse mercado brasileiro, 
e as estimativas variam entre US$ 350 milhões e US$ 550 milhões. 
Apesar da rica biodiversidade, o Brasil tem hoje um fitoterápico 
baseado na flora brasileira, onde todas as fases de desenvolvimento 
ocorreram em território nacional e, dos fitoterápicos registrados na 
Anvisa, uma pequena parte é oriunda de espécies nativas, o que 
demonstra necessidade de investimentos em pesquisas com espécies 
da flora nacional (MIOTO, 2010). Além disso, paradoxalmente ao 
potencial e oportunidades que oferece – como o parque científico e 
tecnológico para o desenvolvimento de fármacos –, o País representa 
o décimo mercado farmacêutico mundial e importa cerca de 100% de 
28 
 
 
matéria-prima utilizada na produção de fitoterápicos (ADAME; 
JACCOUD; COBRA, 2005). 
A seleção de espécies vegetais para estudo farmacológico pode ser 
baseada no seu uso tradicional por sociedades tradicionais, no conteúdo químico 
e toxicidade, na seleção ao acaso ou pela combinação de vários critérios. Uma 
das estratégias mais comuns é o estudo da medicina tradicional e/ou popular em 
diferentes culturas, conhecida como etnofarmacologia. 
Estratégias de busca de medicamentos com base nessa linha de atuação 
têm sido aplicadas no tratamento de diferentes doenças, tais como o câncer 
(KINGHORN, 2003; BALUNAS; KINGHORN, 2005). 
A abordagem das plantas medicinais, a partir da adoção por sociedades 
autóctones de tradição oral, pode ser útil na elaboração de estudos 
farmacológicos, fitoquímicos e agronômicos sobre elas, evitando perdas 
econômicas e de tempo e demonstrando que é possível planejar a pesquisa a 
partir do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais, consagrado pelo 
uso contínuo nas sociedades tradicionais (AMOROZO,1996 apud RODRIGUES 
et al., 2002). 
A alopatia moderna aponta geralmente para o desenvolvimento de uma 
única substância patenteável que irá tratar circunstâncias específicas. Na 
maioria das sociedades de hoje, os sistemas alopáticos e tradicionais da 
medicina ocorrem lado a lado, de maneira complementar. 
A medicina tradicional visa a frequentemente restaurar o equilíbrio usando 
plantas quimicamente complexas ou misturando diversas plantas diferentes a 
fim de maximizar um efeito sinergético ou melhorar a probabilidade de interação 
com um alvo molecular relevante. Esse tipo de tratamento é extremamente 
importante para os países em desenvolvimento, onde as plantas medicinais são 
amplamente utilizadas na Atenção Primária à Saúde (APS). Nesses países, elas 
são utilizadas na forma bruta (não processadas), como chás ou decocções, 
como fitoterápicos (extratos padronizados e formulados de plantas) e como 
alternativa popular aos produtos medicinais alopáticos (GURIB-FAKIM, 2006). 
29 
 
 
A Organização Mundial da Saúde (OMS), considerando as plantas 
medicinais como importantes instrumentos da assistência farmacêutica, por 
meio de vários comunicados e resoluções, expressa sua posição a respeito da 
necessidade de valorizar a sua utilização no âmbito sanitário ao observar que 
70% a 90% da população nos países em vias de desenvolvimento depende delas 
no que se refere à Atenção Primária à Saúde (WHO, 1993; 2011). 
Em alguns países industrializados, o uso de produtos da medicina 
tradicional é igualmente significante, como o Canadá, França, Alemanha e Itália, 
onde 70% a 90% de sua população tem usado essesrecursos da medicina 
tradicional sobre a denominação de complementar, alternativa ou não 
convencional (WHO, 2011). 
De forma semelhante no Brasil, cerca de 82% da população brasileira 
utiliza produtos à base de plantas medicinais nos seus cuidados com a saúde, 
seja pelo conhecimento tradicional na medicina tradicional indígena, quilombola, 
entre outros povos e comunidades tradicionais, seja pelo uso popular na 
medicina popular, de transmissão oral entre gerações, ou nos sistemas oficiais 
de saúde, como prática de cunho científico, orientada pelos princípios e diretrizes 
do Sistema Único de Saúde (SUS). 
É uma prática que incentiva o desenvolvimento comunitário, a 
solidariedade e a participação social (RODRIGUES; DE SIMONI, 2010). 
No SUS, as ações/programas com plantas medicinais e fitoterapia, 
distribuídos em todas as regiões do País, ocorrem de maneira diferenciada, com 
relação aos produtos e serviços oferecidos e, principalmente, às espécies de 
plantas medicinais disponibilizadas, em virtude dos diferentes biomas. 
Uns Estados/municípios já com muitos anos de existência possuem 
políticas e legislação específica para o serviço de fitoterapia no SUS e 
laboratórios de produção, disponibilizando plantas medicinais e/ou seus 
derivados, prioritariamente, na atenção básica, além de publicações para 
profissionais de saúde e população sobre uso racional desses produtos. 
30 
 
 
Quanto aos produtos, os serviços disponibilizam plantas medicinais em 
uma ou mais das seguintes formas: planta medicinal in natura, planta medicinal 
seca (droga vegetal), fitoterápico manipulado e fitoterápico industrializado 
(RODRIGUES; SANTOS; DE SIMONI, 2011). 
Muitos foram os avanços nas últimas décadas com a formulação e 
implementação de políticas públicas, programas e legislação com vistas à 
valoração e valorização das plantas medicinais e derivados nos cuidados 
primários com a saúde e sua inserção na rede pública, assim como ao 
desenvolvimento da cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos 
(RODRIGUES; SANTOS; AMARAL, 2006). 
Atualmente, os principais instrumentos norteadores para o 
desenvolvimento das ações/programas com plantas medicinais e fitoterapia são: 
a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, com 
diretrizes e linhas de ação para “Plantas Medicinais no SUS”, e a “Política 
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos”, com abrangência da cadeia 
produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos. 
Essas políticas foram formuladas em consonância com as 
recomendações da OMS, os princípios e diretrizes do SUS, o potencial e 
oportunidades que o Brasil oferece para o desenvolvimento do setor, a demanda 
da população brasileira pela oferta dos produtos e serviços na rede pública e 
pela necessidade de normatização das experiências existentes no SUS. Essas 
políticas nacionais têm convergência e sintonia com outras, como a Política 
Nacional de Saúde, de Atenção Básica, de Educação Permanente, de 
Assistência Farmacêutica, de Povos e Comunidades Tradicionais, de 
Biodiversidade e a Política Industrial Tecnológica e de Comércio Exterior. 
As ações decorrentes são imprescindíveis para a melhoria da atenção à 
saúde da população, ampliação das opções terapêuticas aos usuários do SUS, 
uso sustentável da biodiversidade brasileira, fortalecimento da agricultura 
familiar, geração de emprego e renda, desenvolvimento industrial e tecnológico, 
inclusão social e regional. 
31 
 
 
No que diz respeito à legislação do setor, a Anvisa, baseada nas diretrizes 
das políticas nacionais, promoveu ampla revisão das legislações para o setor, 
elaborou novas normas, como a RDC nº 10/2010, que dispõe sobre a notificação 
de drogas vegetais, assim como promoveu, por meio da Farmacopeia Brasileira, 
a revisão das monografias de plantas medicinais. 
Com certeza, todas essas normas apresentam avanço no setor de 
regulamentação brasileiro, sendo importantes para vários segmentos desde as 
Farmácias Vivas até o industrial. 
Outros avanços oriundos da indução das políticas nacionais que merecem 
destaque são: 
- Ampliação da oferta de serviços e produtos da fitoterapia na rede pública; 
- Instituição de grupos técnicos para definição de normas e produtos para o SUS; 
- Aprovação do Programa Nacional e instituição do Comitê Nacional de Plantas 
Medicinais e Fitoterápicos; 
- Inclusão de oito fitoterápicos no Elenco de Referência Nacional de 
Medicamentos e Insumos Complementares para a assistência farmacêutica na 
atenção básica; 
- Incentivo à pesquisa e desenvolvimento de plantas medicinais e fitoterápicos, 
pelo Ministério da Saúde, em parceria com outros órgãos de fomento; 
- Inclusão do tema na Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde e 
na Rede de Pesquisas em Atenção Primária à Saúde; 
- Publicação da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse para o SUS 
(RENISUS) como estratégia para priorizar a alocação de recursos e pesquisas 
em uma lista positiva de espécies vegetais medicinais com vistas ao 
desenvolvimento de fitoterápicos; - Instituição da Farmácia Viva no âmbito do 
SUS; 
- Aprovação de políticas e programas estaduais e municipais. 
32 
 
 
 
 
 
PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPIA NA SAÚDE DA FAMÍLIA 
Diante dos avanços e do potencial do nosso país para o crescimento do 
setor, ficam os desafios da alocação de recursos específicos para o 
desenvolvimento das ações dessas políticas; da formação/qualificação de 
profissionais de saúde; da definição de normas específicas para o serviço no 
SUS; da ampliação do investimento em Pesquisa & Desenvolvimento; da 
ampliação da oferta de serviços e produtos na rede pública; entre outros. Nesse 
sentido, as políticas nacionais são imprescindíveis e estabelecem 
estrategicamente o fortalecimento e desenvolvimento de toda a cadeia produtiva 
de plantas medicinais e fitoterápicos, para que os usuários do Sistema tenham 
acesso a serviços e a esses produtos com qualidade, eficácia e segurança. 
 
 
A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE E A INTEGRAÇÃO DA 
MEDICINA TRADICIONAL, COMPLEMENTAR E ALTERNATIVA 
AOS SISTEMAS OFICIAIS DE SAÚDE 
A medicina tradicional e a medicina complementar e alternativa (MT/MCA) 
e seus produtos, principalmente plantas medicinais, cada vez mais têm se 
tornado objeto de políticas públicas nacionais e internacionais, incentivadas pela 
Organização Mundial da Saúde (OMS), a partir da criação do seu “Programa de 
Medicina Tradicional” nos anos 70. 
Um dos mais importantes documentos oriundos desse programa foi a 
“Estratégia da OMS para a Medicina Tradicional para 2002-2005”, contemplando 
33 
 
 
diagnóstico, desafios e potencialidades da MT, assim como o papel e objetivos 
da Organização. 
Nesse documento, a OMS se propôs a respaldar os países de modo a: 
- Integrar a MT/MCA nos sistemas nacionais de saúde, desenvolvendo e 
implementando políticas e programas nacionais; 
- Promover a segurança, eficácia e qualidade da MT/MCA, ampliando a base de 
conhecimento sobre essas medicinas e fomentando a orientação sobre pautas 
normativas e de controle de qualidade; 
- Aumentar a disponibilidade e acessibilidade da MT/MCA, com ênfase ao 
acesso pelas populações pobres; e 
- Fomentar o uso racional da MT/MCA tanto pelos provedores quanto pelos 
consumidores (OMS, 2002a). 
Ainda na Estratégia, a OMS (OMS, 2002a) apresenta os desafios para a 
MT/MCA de acordo com os quatro propósitos citados, oriundos do diagnóstico 
realizado com seus Estados membros. 
Para o tema política nacional e marco regulatório, destaca, entre outros, 
a falta de integração da MT/ MCA aos sistemas nacionais de saúde e de 
mecanismos regulatórios. 
Sobre segurança, eficácia e qualidade, cabe destacar a ausência de 
metodologia de pesquisa, de evidências para as terapias e produtos de MT/MCA, 
de normas e registros adequados com base em plantas medicinais, afalta de 
registro dos provedores de MT/MCA e os insuficientes recursos para a pesquisa. 
Quanto ao uso racional, entre os desafios apresentados pela OMS, 
destaca-se a falta de formação dos provedores de MT/MCA e para os médicos 
alopáticos, além da falta de informação ao público sobre o uso racional da MT/ 
MCA (OMS, 2002a). 
34 
 
 
A Organização Mundial da Saúde recomenda que tanto as políticas 
nacionais como a regulamentação para os produtos oriundos das práticas 
tradicionais contemplem, entre outros, os conceitos de medicina tradicional e 
medicina complementar/alternativa. 
Em seus documentos, considera medicina tradicional como o “conjunto de 
conhecimentos, habilidades e práticas baseados em teorias, crenças e 
experiências indígenas de diferentes culturas, explicáveis ou não, utilizadas na 
manutenção da saúde, tão bem quanto em prevenções, diagnósticos ou 
tratamentos de doenças físicas e mentais”. Já a medicina 
complementar/alternativa frequentemente se refere ao conjunto de práticas de 
cuidado em saúde que não são parte da tradição própria do país e não são 
integradas dentro do sistema de saúde dominante. 
Outros termos algumas vezes usados para essas práticas de cuidado 
incluem “medicina natural”, “medicina não convencional” e “medicina holística” 
(WHO, 2005). 
A despeito da existência e uso contínuo dos produtos e práticas das 
medicinas tradicionais por muitos séculos, a história das normas e regulação do 
uso é comparativamente curta. 
Em muitos países, tanto desenvolvidos como em desenvolvimento, as 
práticas e os produtos da medicina tradicional não são ainda normatizados 
(WHO, 2011). 
Houve progresso na definição de diretrizes, normas, políticas, entre outras 
recomendações da OMS, pelos Estados membros nas últimas décadas, 
demonstrado pelos diagnósticos realizados pela Organização, a fim de verificar 
a situação mundial com respeito à MT/MCA e medicamentos oriundos de plantas 
medicinais – fitoterápicos, no Brasil. 
Em 2005, dos 191 Estados membros, 45 afirmaram possuir Política 
Nacional de MT/MCA e, quanto à situação regulatória para medicamentos 
oriundos de plantas medicinais, 92 possuem leis ou regulamentos para esses 
medicamentos, onde se inclui o Brasil. 
35 
 
 
Quanto à existência de farmacopeias nacionais, elas estavam presentes 
em 34 dos países membros, sendo que aqueles que não possuem as utilizam 
de outros países, principalmente as farmacopeias europeia, britânica e 
americana (WHO, 2005). 
Posteriormente, em outro levantamento realizado pela Organização, em 
2007, o número de Estados membros com política em MT/MCA foi ampliado para 
48; com normatização para fitoterápicos, para 110; e, com Instituto Nacional de 
Pesquisa em MT/MCA, para 62 (BRASIL, 2008). 
Os produtos (medicamentos) tradicionais fazem parte do extenso campo 
da medicina tradicional, além dos procedimentos e praticantes (detentores do 
conhecimento). Entre os produtos (recursos terapêuticos), aqueles oriundos de 
plantas medicinais (herbal medicines1) são os mais largamente utilizados nas 
medicinas tradicionais e, para eles, a OMS relata que os desafios mais 
importantes são os critérios de segurança, eficácia e qualidade e a definição de 
regulamentação sanitária adequada (WHO, 2005). 
Os países precisam formular padrões para qualidade e segurança na 
oferta dos produtos e práticas da MT, assim como políticas e denominadas pela 
OMS como material ou preparações derivadas de plantas com terapêutico ou 
outro benefício à saúde humana, os quais contêm ingredientes ou são 
processados de uma ou mais plantas. 
Em algumas tradições, material de origem animal ou inorgância pode 
também estar presente (WHO, 2005). 
A avaliação da qualidade, segurança e eficácia baseada em pesquisas é 
necessária para ampliar o acesso a esses medicamentos, numa situação 
histórica de recursos públicos e privados insuficientes. Sobre o segundo desafio, 
a situação regulatória e as terminologias (conceitos) associadas variam muito 
entre os países, onde as plantas medicinais e seus derivados (fitoterápicos) são 
usados como medicação prescrita ou sem receita, automedicação ou 
autocuidado, remédio caseiro, ou como suplemento dietético, alimentos para a 
36 
 
 
saúde, alimentos funcionais, fitoprotetores, e outros tipos em diferentes locais 
(WHO, 2011). 
Em cooperação com os escritórios regionais e Estados membros, a OMS 
tem produzido uma série de documentos técnicos, como publicações de Boas 
Práticas Agrícolas de Plantas Medicinais e Boas Práticas de Manufaturação, 
junto a outras técnicas de suporte, para assistir com padronização e criação de 
produtos de alta qualidade. 
Países como a China, Índia e África do Sul dispõem de modelos, como 
elaborar guias (guidelines) para regulação e registro de medicamentos 
tradicionais ou fitoterápicos, produzidos nos escritórios da OMS nas regiões da 
África, Leste Mediterrâneo e Sudoeste Asiático e União Europeia (WHO, 2011). 
A OMS também promove eventos/reuniões técnicas com os Estados 
membros para formular documentos, discutir estratégias e promover a 
cooperação entre os países para o desenvolvimento da MT. Entre eles, cabe 
destacar a reunião técnica ocorrida em Genebra – Suíça, de 12 a 14 de junho de 
2006, sobre o tema “Integração da Medicina Tradicional aos Sistemas Nacionais 
de Saúde”, promovida pela Organização após diagnóstico situacional realizado 
por questionário enviado aos países membros. 
Sob coordenação do Departamento de Cooperação Técnica para Drogas 
Essenciais e Medicina Tradicional da OMS, os representantes discutiram o 
status da MT/MCA nos sistemas oficiais de saúde dos países membros e os 
passos para integrá-la nesses sistemas. Na oportunidade, o Brasil passou a 
fazer parte do grupo de países que possuem políticas nacionais de MT/MCA, 
com a aprovação da Política Nacional de Práticas Integrativas e 
Complementares no SUS, apresentada nesse evento. 
Com relação às diretrizes para formação/qualificação de profissionais de 
saúde e provedores de MT, cabe destacar a reunião técnica promovida pela 
OMS, em parceria com o governo da Lombardia, também no ano de 2006, em 
Milão, Itália, onde foram discutidos documentos técnicos contendo as diretrizes 
para capacitação (treinamento) básica e segurança em fitoterapia, nas áreas de 
37 
 
 
medicina tradicional chinesa, ayurveda, naturopatia, medicina unani 
(RODRIGUES; BARBANO, 2007). 
Como iniciativa brasileira para discussão da integração da MT/MCA aos 
sistemas nacionais de saúde, cabe destacar o Seminário Internacional de 
Práticas Integrativas e Complementares, realizado em 2008 e promovido pelo 
Ministério da Saúde, onde a coordenadora do Departamento de Medicina 
Tradicional da OMS, a Dra. Zhang, descreveu como objetivo da OMS, a curto e 
médio prazo, o apoio aos Estados membros, no sentido de: 
- Expandir o reconhecimento da MT/MCA; 
- Apoiar a integração da MT/MCA aos sistemas nacionais de saúde, baseados 
na circunstância de usá-la nesses países; 
- Fornecer informações e orientações técnicas a fim de propiciar a prática em 
MT/MCA de forma eficaz e segura; 
- Preservar e proteger os conhecimentos em MT e fitoterapia para o uso 
sustentável delas (BRASIL, 2008). 
Segundo a coordenadora da OMS, tanto os sistemas de MT/MCA 
quanto da biomedicina têm suas vantagens e desvantagens, e a 
MT/MCA será progressivamente integrada aos sistemas nacionais de 
saúde e os pacientes terão acesso aos benefícios dos dois tipos de 
práticas médicas (BRASIL, 2008). 
Como recomendações desse seminário internacional, podem ser citadas: 
incrementar intercâmbio internacional no campo das PICs; ampliar o escopo das 
PICs na PNPIC com novas modalidades de práticas de eficácia comprovada; 
divulgar experiências bem-sucedidas em curso nos Estados e municípios, além 
daquelas de outros países; realizar eventos de integração e intercâmbio; 
incrementarqualitativa e quantitativamente a inserção das PICs no SUS; formar 
e capacitar recursos humanos; divulgar o uso racional das PICs; ampliar 
recursos para pesquisa nas diferentes etapas do processo de produção e 
consumo de PICs; e instituir centro colaborador em medicina 
tradicional/medicina complementar alternativa no Brasil (BRASIL, 2008). 
38 
 
 
O mais recente congresso sobre medicina tradicional promovido pela 
OMS ocorreu em Pequim, China, em novembro de 2008, com a presença de 
ministros de Estado e técnicos de diversos países, que debateram sobre a 
situação e propostas para a MT no mundo. Desse evento resultou a Declaração 
de Beijing, baseada nas recomendações de Alma-Ata, nos documentos e 
recomendações da OMS, na importância da MT/MCA para a saúde da 
população, entre outros. 
Entre as recomendações, podem ser citadas: 
- O conhecimento da medicina tradicional, tratamentos e práticas devem ser 
respeitados, preservados e amplamente divulgados, levando-se em conta as 
circunstâncias de cada país; os governos têm responsabilidade pela saúde de 
sua população e devem formular políticas nacionais, regulamentos e normas, 
como parte dos sistemas nacionais de saúde abrangentes, para garantir a 
adequada, segura e efetiva utilização da medicina tradicional; os governos 
devem estabelecer sistemas de qualificação, acreditação ou licenciamento dos 
praticantes da medicina tradicional; e a comunicação entre a medicina tradicional 
e a convencional deve ser reforçada nos programas de formação adequados e 
ser incentivada para profissionais de saúde, estudantes de medicina e 
pesquisadores relevantes. (Tradução de parte do material distribuído no evento) 
(BRASIL, 2010). 
Neste contexto, cabe destacar a resolução da Assembleia Mundial de 
Saúde, 2009, que recomenda aos países: respeitar, preservar e disseminar os 
conhecimentos sobre MT, assim como formular políticas e regulamentação 
nacionais para promover a segurança e uso racional; ampliar o desenvolvimento 
da MT baseado em pesquisa e inovação; e incluí-la nos sistemas oficiais de 
saúde. 
Além disso, recomenda aos Estados membros estabelecer cooperações 
e socializar conhecimentos sobre MT/MCA enquanto trabalham para ampliar a 
comunicação entre praticantes da MT e profissionais da medicina convencional 
(WHO, 2011). 
39 
 
 
A Atenção Primária à Saúde (APS), definida como o primeiro contato do 
usuário com a rede assistencial do sistema de saúde, é complexa e demanda 
intervenção ampla em diversos aspectos para que possa ter efeito positivo sobre 
a qualidade de vida da população, exigindo um conjunto de saberes para ser 
eficiente, eficaz e resolutiva. Caracteriza-se, principalmente, pela continuidade e 
integralidade da atenção, coordenação da assistência dentro do próprio sistema, 
atenção centrada na família, orientação e participação comunitária e 
competência cultural dos profissionais (STARFIELD, 2004). Dessa forma, são 
definidos os quatro atributos essenciais da APS: o acesso de primeiro contato 
do indivíduo com o sistema de saúde, a longitudinalidade e a integralidade da 
atenção, e a coordenação do cuidado dentro do sistema. 
A adoção dos princípios da atenção básica na organização dos sistemas 
de saúde é uma tendência mundial, justificada pelas evidências de que países 
cujos sistemas de saúde se organizam a partir desses princípios alcançam 
melhores resultados em saúde, menores custos, maior satisfação dos usuários 
e maior equidade mesmo em situações de grande desigualdade social 
(STARFIELD, 1994, 1998 apud STARFIELD, 2002). 
No Brasil, no processo histórico, a atenção básica foi gradualmente se 
fortalecendo e se constitui como porta de entrada preferencial do Sistema Único 
de Saúde, sendo o ponto de partida para a estruturação dos sistemas locais de 
saúde, seguindo tendência mundial. 
Os seus fundamentos, diretrizes e normas foram contemplados em uma 
política nacional, aprovada pelo Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº 
648/GM, em maio de 2006, atualizada pela Portaria nº 2.488, de 21 de outubro 
de 2011, a qual caracteriza atenção básica como: [...] conjunto de ações de 
saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da 
saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a 
redução de danos e a manutenção da saúde, com o objetivo de desenvolver uma 
atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e 
nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. 
40 
 
 
É desenvolvida por meio do exercício de práticas de cuidado e gestão, 
democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a 
populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a 
responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território 
em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de cuidado complexas e 
variadas que devem auxiliar no manejo das demandas e necessidades de saúde 
de maior frequência e relevância em seu território, observando critérios de risco, 
vulnerabilidade, resiliência e o imperativo ético de que toda demanda, 
necessidade de saúde ou sofrimento devem ser acolhidos. 
É o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde (BRASIL, 
2011). A atenção básica se orienta pelos princípios da universalidade, da 
acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da 
atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação 
social. Considera o sujeito em sua singularidade e na inserção sociocultural, 
buscando produzir a atenção integral (BRASIL, 2011). 
O Brasil, desde 1994, adotou a Saúde da Família (SF) como estratégia de 
reorganização da atenção básica, caracterizada como porta de entrada 
prioritária de um sistema de saúde hierarquizado e regionalizado, o que vem 
provocando importante movimento de reorientação do modelo de atenção à 
saúde no SUS. 
A Estratégia se consolidou como eixo estruturante do SUS, por um 
movimento de expressiva expansão de cobertura populacional, atualmente 
presente em 5.284 municípios, com 32.079 equipes implantadas, aprimorando 
em muito o acesso da população às ações de saúde (SIAB, agosto/2011). 
Todos os ganhos em saúde aliados ao potencial da SF/atenção básica na 
resolubilidade da maioria dos problemas de saúde, reduzindo a necessidade da 
atuação nos demais níveis de atenção, consolidaram a atenção básica como 
prioridade de governo. 
As ações com plantas medicinais e fitoterapia, há muito inseridas no SUS, 
acontecem prioritariamente na Saúde da Família, pelos fundamentos e princípios 
41 
 
 
desse nível de atenção/Estratégia e pela característica da prática da fitoterapia, 
que envolve interação entre saberes, parcerias nos cuidados com a saúde, 
ações de promoção e prevenção, entre outras. 
As relações entre elas proporcionam o fortalecimento mútuo, pois a 
expansão da SF facilita a implementação dos programas de fitoterapia, 
principalmente pela inserção das equipes nas comunidades, por meio de 
práticas de aproximação da população, como a visita domiciliar e as atividades 
de educação em saúde, facilitadoras da troca entre os saberes. 
De forma complementar, as ações da fitoterapia promovem o 
fortalecimento do vínculo dos usuários e da comunidade com as equipes, a 
participação popular, a autonomia dos usuários e o cuidado integral em saúde. 
(SOUZA, 2008 apud RODRIGUES, 2011). 
Nesse sentido, a ampliação da cobertura da Estratégia Saúde da Família 
(ESF) nas diversas regiões e biomas denota potencial para o desenvolvimento 
de ações com plantas medicinais e fitoterapia nos serviços de saúde, nos 
diversos níveis de complexidade em que a fitoterapia pode ser ofertada. 
Oportunidade também para o desenvolvimento de ações com plantas medicinais 
e fitoterapia na atenção básica foi incrementada com a criação dos Núcleos de 
Apoio à Saúde da Família

Continue navegando