Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Enxertos Anatomia e Fisiologia •A pele representa aproximadamente 8% do nosso peso corporal total, com uma área de 1,2-2,2 m2. •A pele tem 0,5-4,0 mm de espessura e cobre toda a superfície externa do corpo. •A principal função da pele é proteger o conteúdo corporal do ambiente, inclusive contra agentes patogênicos, temperatura e perda hídrica em excesso. • Isolamento, regulação da temperatura, sensibilidade, imunidade e síntese de Vitamina D são funções cruciais da pele. Anatomia e Fisiologia •A pele apresenta uma estrutura tridimensional complexa, caracterizada por duas camadas sobrepostas: a epiderme e a derme. Epiderme •Epiderme é a camada externa ou superior da pele: um tecido fino, semi transparente e impermeável à água, que consiste principalmente em queratinócitos formando um epitélio estratificado queratinizado semelhante a uma parede de tijolos. •A membrana basal separa a epiderme do tecido dérmico e consiste em uma estrutura proteica produzida por queratinócitos basais, que fornecem a capacidade proliferativa e regenerativa ao epitélio cutâneo. •O epitélio é metabolicamente ativo e renova-se continuamente para manter uma função eficiente de barreira (28 dias). Epiderme •A diferenciação dos queratinócitos caracteriza-se pela produção progressiva de alfa-queratina, com migração em direção à superfície, até que as células perdem suas conexões intercelulares (desmossomos), morrem e se tornam lâmina córnea. Epiderme • A epiderme contém ainda melanócitos, células de Langerhans, células de Merkel e nervos sensoriais. Cerca de 10% das células epidérmicas são representadas por melanócitos, que derivam da crista neural. • Melanócitos: células dendríticas complexas produzem grânulos de melanina (contidos nos melanossomos), que são então transportados para queratinócitos através dos dendritos, conferindo cor à pele e protegendo núcleos epiteliais basais contra dano ultravioleta. • Células de Langerhans: são as células imunes da epiderme, importantes na geração de resposta a agentes estranhos e que desempenham um papel importante na rejeição de aloenxertos e dermatite de contato. • Células de Merkel: são comumente encontradas na epiderme da palma das mãos, da planta dos pés, do leito ungueal e das regiões oral e genital. Essas células atuam como mecanorreceptores, sendo assim responsáveis pela transmissão neurossensorial. Derme • A derme é um tecido fibroso resistente que confere à pele as características mecânicas. Composta principalmente de colágenos, glicosaminoglicanos e elastinas. • A parte superior da derme apresenta uma organização arquitetônica particular denominada papilar e contém vasos sanguíneos e fibras nervosas. • A camada papilar da derme consiste em fibras colágenas delicadas que formam uma interface ondulante entre a membrana basal sobrejacente e a epiderme. Essa estrutura aumenta a área de contato entre a derme e a epiderme, permitindo máxima estabilidade mecânica para as duas camadas e superfície de troca para difusão. • A derme reticular, mais profundamente, apresenta-se com fibras colágenas (principalmente do tipo I) cada vez mais espessas conforme nos deslocamos em direção ao tecido subcutâneo. • As propriedades mecânicas da derme são fundamentais para permitir movimentação, ao mesmo tempo em que proporcionam estabilidade e proteção contra traumatismos mecânicos. Suprimento sanguíneo e drenagem linfática • Vasos sanguíneos estabelecem um rico plexo superficial logo abaixo da membrana basal na derme papilar, facilitando o transporte de nutrientes para a epiderme. • Profundamente na derme está o plexo reticular, a partir do qual pequenos vasos distribuem-se para o tecido subcutâneo e os tecidos dérmicos profundos, a fim de vascularizar órgãos anexos, incluindo o bulbo do folículo piloso. • Capilares arteriais geram plexos venosos que apresentam a mesma distribuição da vasculatura arterial. • Estruturas linfáticas em fundo cego estão presentes na derme, de onde se conectam ao plexo reticular e a vasos maiores no tecido subcutâneo. Anexos da pele •Estruturas anexas da pele são derivações epidérmicas que invaginam na derme com um revestimento de células epiteliais. Incluem folículos pilosos, glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas. Essas estruturas fornecem a base para a reepitelização que se segue após a coleta de um EPEP. Definição •O enxerto de pele tem como definição a transferência de um segmento avascularizado de pele (de espessura parcial ou total) de uma região doadora para outra receptora. •O procedimento cirúrgico permite cobertura quase imediata de grandes áreas feridas. Classificação dos enxertos Quanto à origem: • Autoenxertos: obtidos do mesmo indivíduo, são utilizados para a cobertura temporária ou para a reparação definitiva de uma área cruenta. • Homoenxertos: obtidos de indivíduo diferente, porém da mesma espécie. Retirados de cadáver, são o curativo biológico gold standard. Podem ser utilizados apenas para a cobertura temporária de extensas áreas cruentas, uma vez que ocorre rejeição imunológica tardia com perda completa do enxerto. • Xenoenxertos: retirados de outras espécies. Geralmente de pele de porco ou rã, têm grande papel em áreas extensas como curativo biológico, contribuindo para a estimulação de tecido de granulação no leito receptor Classificação dos enxertos Quanto à espessura: •Espessura parcial: formados pela epiderme e parte da derme. Permitem a cobertura de extensas áreas corporais. Quanto mais fino o enxerto, ele apresentará: menor contração primária e maior secundária, piores resultados estéticos, maior facilidade de integração ao leito receptor e maior comprometimento funcional da área enxertada. • Fino (0,015 a 0,020 cm) - Thiersch-Ollier • Intermediário (0,020 a 0,035 cm) - Blair-Brown • Espesso (0,035 a 0,053 cm) - Padgett Classificação dos enxertos •Espessura total (Wolfe-Krause): formados pela epiderme e totalidade da derme. Não permitem a cobertura de áreas extensas, uma vez que são retirados de áreas doadoras limitadas que não se reepitelizam. Esses enxertos têm maior contração primária e menor secundária, melhor resultado estético, maior dificuldade de integração ao leito receptor, que precisa ser bem vascularizado, e menor comprometimento funcional local, pois, além de causarem menor contratura cicatricial, fundamental em articulações, ainda podem carrear anexos cutâneos e apresentar retorno sensitivo nas áreas enxertadas. Classificação dos enxertos Classificação dos enxertos Quanto à forma: • Enxertos em estampilha: de espessura parcial, em pequenos fragmentos, muito utilizados para reparar grandes áreas de perda de substância; têm resultado estético muito pobre pela proliferação epitelial geralmente hipertrófica entre uma estampa e outra. • Enxertos em malha: de espessura parcial, usados com um expansor de pele tipo Tanner ou Zimmer, que faz cortes em toda a superfície do enxerto, ampliando o fragmento de 1,5 a 9 vezes. Apresentam mau resultado estético, que piora com o grau de expansão. Úteis para cobertura de áreas extensas. • Enxertos laminados ou em tiras: enxertos de pele parcial que são obtidos com aparelhos próprios (dermátomos ou facas manuais) e implantados diretamente nas áreas receptoras. Apresentam melhores resultados estéticos, com superfícies contínuas. Enxertos cutâneos •EPEPs finos incluem a epiderme e uma camada fina de derme. EPEPs são comumente tirados do tronco e das laterais das coxas. Eles não incluem a extensão total de apêndices, sendo, portanto, improvável que cresçam pelos ou se desenvolva a função completa das glândulas sudoríparas . A principal vantagem de EPEPs finos é a menor morbidade na área doadora, além da possibilidade de realizar várias coletas da mesma área cerca de 2 semanas depois de uma coleta anterior. Enxertos cutâneos • EPEPs espessos incluem mais derme, com uma quantidade maior de folículos pilosos completose estruturas glandulares. Esses enxertos provavelmente desenvolverão algum crescimento piloso e função de glândula sudorípara cerca de 2-3 meses depois da enxertia. • EPEPs espessos são comumente selecionados para cobrir áreas de intensa fricção mecânica, como articulações, plantas dos pés e palmas das mãos. • Como o crescimento de pelos é comum em EPEPs espessos, a área doadora deve ser cuidadosamente escolhida para evitar crescimento piloso desagradável. • Sensibilidade e função de glândulas sudoríparas frequentemente são melhores em EPEPs espessos do que em EPEPs finos. • Devido à reduzida difusão de nutrientes, enxertos espessos requerem um leito receptor melhor do que enxertos finos durante o processo de revascularização. Enxertos cutâneos Considerando- se a elastina e o colágeno presente na derme, o enxerto cutâneo apresentará: •Contração primária: secundária à ação imediata da elastina sobre o segmento removido do organismo, o enxerto sofrerá maior contração quanto maior for a sua espessura da derme, que representa maior concentração de elastina. •Contração secundária: devido à ação de miofibroblastos durante o processo de cicatrização no leito receptor. Quanto mais fina a camada de derme e, consequentemente, menor a capacidade estrutural do segmento por baixa densidade de colágeno, maior será a sua deformação por influência de forças externas. Aplicação Clínica • Feridas cutâneas que se estendem para a derme profunda fecham por meio de mecanismos de cicatrização e contração da ferida. Em feridas grandes, esse processo expõe o organismo ao risco de infecção, e quando isso ocorre ao redor de articulações, pode levar a contraturas cicatriciais importantes, que afetam a funcionalidade. •O transplante de pele ainda é o padrão-ouro para cobrir áreas grandes de perda cutânea. •O conceito é tirar a pele de uma região onde a área doadora vai fechar com um mínimo de cicatriz e transplantá-la para uma área de necessidade. Área doadora Pele parcial: •A área doadora cicatriza por segunda intenção, através da regeneração da epiderme por imigração epitelial dos anexos da pele presentes na derme. É possível a realização de várias retiradas na mesma área; entretanto, deve-se aguardar a reepitelização desta, uma vez que o número de retiradas depende da espessura da pele na área doadora e da espessura do enxerto retirado, porque a derme nunca se regenera. •A retirada pode ser de qualquer região do corpo, preferencialmente de áreas cobertas, sendo as regiões mais utilizadas as que possuem um bom apoio ósseo. Área doadora Pele total: •Retirada com extensão limitada, uma vez que não ocorre repitelização da área doadora. •Deve estar localizada em áreas pouco visíveis, para evitar comprometimento estético adicional, assim como respeitar as linhas de tensão cutânea. As principais áreas doadoras são: regiões retroauricular, pré-auricular, supraclavicular, inguinal, palpebral, abdominal, areolar, dobras articulares e grandes lábios. •No pós-operatório é realizado curativo oclusivo simples com gaze e micropore. Área receptora •Deve ter boa vascularização; não podem ser utilizados como áreas receptoras o tendão sem paratendão, a cartilagem sem pericôndrio e o osso cortical sem periósteo; nesse caso, o osso poderá ser raspado para exposição da medular que possui boa vascularização e permite a enxertia. •Precisa estar limpa, sem tecidos desvitalizados ou infecção bacteriana. •O controle da hemostasia é um fator importante a ser considerado, uma vez que o hematoma é o principal responsável pela perda do enxerto Área receptora •As comorbidades clínicas do paciente também devem ser levadas em consideração para avaliar a qualidade da área receptora. •No caso de granulação exuberante, ela deverá ser raspada e nivelada. • Seromas ou hematomas sob o enxerto, observados após a retirada do curativo, devem ser sempre drenados com uma agulha. Área receptora •O curativo pós-operatório deve ter imobilização e compressão adequadas para permitir a integração do enxerto e evitar a formação de seroma ou hematoma: • Enxertos de pele parcial, pode-se utilizar a oclusão com rayon embebido em solução salina, gaze, algodão e faixa crepe ou micropore, exercendo-se certa pressão local por período de 5 dias. Após esse período, pode ser feito um curativo de proteção ou a área pode ser mantida aberta. • Enxertos de pele total, deve-se fixar, com pontos de sutura à área enxertada, o curativo revestido com rayon embebido em solução salina (curativo tie-over) por um período de 3 a 5 dias. Mecanismos de integração de enxertos de pele Embebição plasmática (nas primeiras 48 horas): • Oxigênio e nutrientes difundem-se pelo plasma entre o enxerto e o leito da ferida. • Transformação de fibrinogênio em fibrina, fixando o enxerto no leito da ferida. • Presença de edema (até 40% do seu peso ideal) Mecanismos de integração de enxertos de pele Inosculação 48h – 5 a 6 dias: • Anastomose – processo de reconexão entre os vasos sanguíneos do leito da ferida na área receptora e do enxerto. Mecanismos de integração de enxertos de pele •Revascularização – a partir de 5 a 6 dias: • Neovascularização - crescimento de vasos novos no enxerto a partir da área receptora • Crescimento celular endotelial – proliferação celular endotelial e deslizamento a partir da área receptora, utilizando a lâmina basal vascular preexistente como um arcabouço, enquanto no enxerto as células endoteliais gradativamente degeneram. • Início da regressão do edema. Maturação do enxerto •Vascularização do enxerto de pele contribui para evitar a contração do tecido subjacente. • Fibroblastos dos tecidos circundantes e da corrente sanguínea tornam-se ativados e repovoam a ferida na interface entre o enxerto e a área receptora. À medida que o colágeno se deposita, a reação cruzada permite que a matriz extracelular resista a insultos mecânicos. •Diferenciação de fibroblastos em miofibroblastos e a contração da ferida. Aspectos práticos – Métodos de coleta Aspectos práticos – Métodos de coleta Aspectos práticos – Métodos de coleta Aspectos práticos – Métodos de coleta Aspectos práticos – Métodos de coleta Aspectos práticos – Fixação do enxerto Complicações •Hematoma (hemostasia, orifício em enxerto para drenagem, curativo compressivo, substâncias farmacológicas) • Seroma (enxerto em malha ou orifícios no enxerto) • Infecção (drenagem da secreção precoce, curativos com nitrato de prata ou acetato de mafenida) • Falha na integração (desnutrição, vasculite, esteroides, etc.) •Contração da ferida • Instabilidade (forças de cisalhamento – imobilização do enxerto) •Cosméticas Enxertos compostos de pele •Condrocutâneos ou condromucosos: • Reconstrução estrutural nasal e palpebral. • Áreas doadoras como as diversas regiões do pavilhão auricular externo (hélix, anti-hélix e concha) e septo nasal. •Dermogordurosos (derme e gordura) •Ósseo •Muscular • Fáscia Substitutos de pele São uma opção ao enxerto cutâneo. Genericamente categorizados em três grupos quanto à sua durabilidade: •Temporários: permanecem na ferida até a sua cicatrização. • Semipermanentes: permanecem na lesão até, eventualmente, serem substituídos por um autólogo. •Permanentes: apresentam componentes dérmicos e epidérmicos e são designados para substituir os enxertos cutâneos autólogos. Substitutos de pele Quanto à sua composição: • Bilaminados: apresentam uma camada externa, que mimetiza a epiderme, e uma camada interna, que mimetiza a derme. • Biobrane • Integra • Apligraft • Compostos de colágeno: apresentam apenas o componente que representa a derme; necessitam de cobertura adicional para a camada externa se forem usados como curativos definitivos (como homoenxerto de pele parcial fina ou cultura de queratinócitos). • Dermagraft T.C • AlloDerm
Compartilhar