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Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Corrupção Sistêmica www.cenes.com.br | 1 DISCIPLINA SOCIOLOGIA E OS ASPECTOS DA SEGURANÇA PÚBLICA CONTEÚDO Corrupção: contextualização e combate Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Corrupção Sistêmica www.cenes.com.br | 2 A Faculdade Focus se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne à sua edição (apresentação a fim de possibilitar ao consumidor bem manuseá-lo e lê-lo). A instituição, nem os autores, assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoa ou bens, decorrentes do uso da presente obra. É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, fotocópia e gravação, sem permissão por escrito do autor e do editor. 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Coliseo - Centro Cascavel - PR, 85801-050 Tel: (45) 3040-1010 www.faculdadefocus.com.br Este documento possui recursos de interatividade através da navegação por marcadores. Acesse a barra de marcadores do seu leitor de PDF e navegue de maneira RÁPIDA e DESCOMPLICADA pelo conteúdo. http://www.cenes.com.br/ secretaria@cenes.com.br. http://www.faculdadefocus.com.br/ Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Corrupção Sistêmica www.cenes.com.br | 3 1 Sumário 1 Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 3 2 Corrupção Sistêmica -------------------------------------------------------------------------------------- 4 3 Brasil: Corrupção e Combate --------------------------------------------------------------------------- 4 3.1 Gênese da Corrupção no Contexto Brasileiro -------------------------------------------------------------------- 5 3.2 Corrupção, Código Penal e Constituição Federal ---------------------------------------------------------------- 6 3.2.1 Corrupção Ativa ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7 3.2.2 Corrupção Passiva ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 8 3.3 Práticas de Corrupção e Classes Hegemônicas ------------------------------------------------------------------- 9 3.4 Medidas Legais e Sistêmicas/Culturais --------------------------------------------------------------------------- 11 3.4.1 Atuação Legal: Órgãos que Combatem a Corrupção -------------------------------------------------------------------- 11 4 Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------------------- 16 5 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 17 Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Corrupção Sistêmica www.cenes.com.br | 4 2 Corrupção Sistêmica A corrupção pode ser definida como o ato ou o resultado de corromper, deturpar ou desvirtuar algo ou alguém. Na sociedade, apresenta-se na degradação dos costumes e valores morais ou no uso de meio ilícitos que pessoas envolvidas com serviços públicos fazem para obter vantagens e benefícios para si ou para terceiros. Chamamos de corrupção sistêmica aquela em que se observa o desvio de conduta no corpo social e na máquina pública e a utilização de estratégias para subverter os interesses coletivos. A corrução sistêmica se torna parte do sistema ou de um processo específico, mas está intrinsecamente atrelada a outro conceito, o de corrupção endêmica, presente no cotidiano da maioria das pessoas na sociedade de forma velada e frequentemente não reconhecida como tal. Neste material, veremos como a corrupção é entendida no Brasil e quais medidas legais são adotadas no combate a essa prática. 3 Brasil: Corrupção e Combate No contexto brasileiro, a corrupção é primariamente vista como um fator que ocorre através do desvio de recursos do orçamento público da União, Estados e Municípios, destinados à aplicação na saúde, educação, previdência, infraestrutura e programas sociais, para fins de interesse privado. No senso comum, associa-se muito o combate à corrupção a aspectos constitucionais e à imagem da polícia. No entanto, este combate não diz respeito unicamente a essas instituições e não se resume a uma solução simples a partir destes meios, pois envolve uma conjuntura muito mais complexa. Em 2004, por exemplo, a CGU elaborou o portal da transparência, ferramenta que visava tornar a informação referente à política em algo mais acessível e, como o próprio nome já diz, mais transparente. No entanto, tal ferramenta somente evidenciava um tópico que podemos chamar de paradoxo do combate à corrupção: ao passo que se desenvolvem ferramentas e recursos eficientes para denunciar tal prática, não se observa o mesmo investimento em ferramentas ou estratégias que poderiam, de fato, combatê-la; nos deparamos com uma população Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Brasil: Corrupção e Combate www.cenes.com.br | 5 que pede pelo combate jurídico, mas que obtém como resposta práticas não combativas. Quando se fala no combate à corrupção, é muito reducionista relacioná-lo com um combate pura e unicamente sistêmico, ou seja, referente e de responsabilidade única dos mecanismos legais – como o Código Penal e a Constituição Federal – afinal, a lei não é o único fator relevante para este combate. É necessário pensar em um combate contra a corrupção enquanto em uma visão e percepção mais geral, considerando os diferentes tipos de comportamentos e atitudes que são esperados da comunidade. O efetivo combate à corrupção só é possível mediante uma mudança cultural cultivada na sociedade, pois de nada adianta termos mecanismos que denunciam a corrupção, se não houver a mentalidade para combatê-la e um olhar atento às próprias ações cotidianas. 3.1 Gênese da Corrupção no Contexto Brasileiro A origem da corrupção no Brasil não é algo realmente certo, mas levanta-se a possibilidade de ser um vício herdado da Espanha e de Portugal, resultante de uma ética de patrimonialismo, na qual não há distinções entre o público ou privado, ou ainda da criação de relações de clientelismo – aquelas nas quais há trocas de favores; além das relações com o exercício da prática ilegal de nepotismo – o emprego ou escolha de algum parente, unicamente por conta do parentesco, para que ocupe determinado cargo e que demande tal indicação. Segundo Alexandre Guerra (2017), “se tomarmos o termo corrupção em um sentido mais amplo, isto é, que se refere às estratégias privadas que pretendem subverter os interesses coletivos de uma determinada comunidade, então encontraremos casos de corrupção tão antigos quanto a própria história”. Os primeiros indícios de nepotismo podem ser observados na primeira carta escrita por Pero Vaz de Caminha ao Rei D. Manuel, na qual solicitaque mandasse “vir buscar da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro”, indicando a presença de familiares Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Brasil: Corrupção e Combate www.cenes.com.br | 6 na política. No ano de 1655, o padre Antônio Vieira, um importante missionário, fez uma denúncia à corrupção ao proferir o Sermão do Bom Ladrão, no qual expôs os desmandos que eram praticados por colonos e administradores no Brasil. Neste sermão o padre pontua a existência de dois tipos de ladrão: aquele que rouba por necessidade e aquele que rouba por ganância, sendo este último o pior deles. Este posicionamento fica bastante claro no seguinte trecho: O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera [...] os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. — Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. Conforme explica Deltan Dallagnol (2017), “Laurentino Gomes, em seu livro 1808, conta que, entre 1816 e 1822, época em que D. João VI e, em seguida, o príncipe regente D. Pedro I governaram o Brasil como um Reino Unido a Portugal e Algarve, corriam os seguintes versos pelo Rio de Janeiro: “Quem furta pouco é ladrão, Quem furta muito é barão, Quem mais furta e esconde, Passa de barão a visconde.” Este verso clássico tanto ironizava como criticava a nobreza brasileira, na época detentora de títulos e privilégios. A crítica apontava, sem rodeios, que quanto mais desvios eram feitos, mais vantagem se obtinha, caracterizando a corrupção como um desvio de caráter que se baseava na existência de um corrupto e de um corruptor. 3.2 Corrupção, Código Penal e Constituição Federal O Código Penal e a Constituição Federal apresentam algumas vias para o combate Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Brasil: Corrupção e Combate www.cenes.com.br | 7 institucionalizado ou legalizado da corrupção. Além disso, definem e caracterizam algumas formas de corrupção. Dentre eles, podemos citar a corrupção ativa e a corrupção passiva. 3.2.1 Corrupção Ativa O art. 333 do Código Penal descreve o crime de corrupção ativa como a iniciativa de oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionários públicos com o intuito de tirar proveito ou benefício da situação. Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício. Pena. Reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. Fonte: Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), 2014. Conforme explica Victor Eduardo Gonçalvez (2020), “na oferta, o agente coloca dinheiro ou valores à imediata disposição do funcionário”, podendo o crime ser praticado de diversas formas. O autor ainda reitera que “só existe corrupção ativa quando a iniciativa é do particular, pois somente nesse caso sua conduta pode fazer com que o funcionário se corrompa. Quando é este quem toma a iniciativa de solicitar alguma vantagem, nota-se que ele já está corrompido, de modo que, se o particular Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Brasil: Corrupção e Combate www.cenes.com.br | 8 entrega o que foi solicitado, não comete o crime de corrupção ativa”. 3.2.2 Corrupção Passiva A corrupção passiva é descrita no art. 317 do Código Penal como a solicitação ou recebimento de vantagem indevida para si próprio ou para outras pessoas por parte do funcionário público. A pena cominada é de reclusão, variando de 2 a 12 anos, e multa, podendo ser aumentada ou modificada enquanto nas condições dispostas pelos parágrafos deste artigo. Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena. Reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. §1º. A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. §2º. Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena. Detenção, de três meses a um ano, ou multa. Gonçalvez (2020) explica que “tais condutas típicas referem-se, necessariamente, a uma vantagem indevida em razão do cargo. Assim, na corrupção passiva, a vantagem deve ser indevida porque tem a finalidade de fazer com que o funcionário público beneficie alguém em seu trabalho por meio de ações ou omissões. Ocorre uma espécie de troca entre a vantagem indevida visada pelo agente público e a ação ou omissão funcional que beneficiará o terceiro”. Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Brasil: Corrupção e Combate www.cenes.com.br | 9 Fonte: Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), 2014. Podemos perceber que os aspectos legais permitem tratar o fator da corrupção enquanto um conceito que está intimamente relacionado à degradação dos valores morais do indivíduo. Por isso, a corrupção no Brasil pode ser entendida como um fator sistêmico, que depende não somente da legislação, mas também das questões referentes ao caráter e moral dos indivíduos, que devem ser modificadas para que se possa criar uma recusa por parte de quem receberia indevidamente alguma vantagem, além de uma obrigação moral de não-oferta por parte daquele que a sugeriria. Para um combate efetivo à corrupção, não bastam leis, cada indivíduo, por si só, deve seguir com as obrigações éticas e morais que contribuem para tornar a sociedade mais transparente e menos corrupta. 3.3 Práticas de Corrupção e Classes Hegemônicas As práticas de corrupção e o comportamento ilegal têm caracterizado a ação de classes hegemônicas em sociedades por todo mundo, além do próprio Brasil. Tanto nações mais ricas e desenvolvidas, como os Estados Unidos, quanto nações que demonstram o inverso a este desenvolvimento, como diversas das nações africanas, demonstram ser afetadas por estas práticas. Conseguimos encontrar os principais integrantes das classes hegemônicas pulverizados em diferentes setores na sociedade, adotando comportamentos que Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Brasil: Corrupção e Combate www.cenes.com.br | 10 resultam em um prejuízo erário público. Os principais integrantes dessas classes hegemônicas são: • Grandes proprietários rurais. • Donos de grandes bancos e instituições financeiras. • Proprietários de grandes empresas industriais e de serviços. • Donos de grandes meios de comunicação. • Os principais rentistas. • Executivos de grandes empresas nacionais e estrangeiras. • Seus representantes no Poder Legislativo, no Poder Executivo e no Poder Judiciário. Ainda neste sentido, notamos duas vias da corrupção: aquela na qual o agente público possui influências ou interesses sobre o ente privado, e aquelas nas quais o próprio ente privado busca pelo agente público, a fim de garantir que tal corrupção ocorra. Independente do contexto em que a corrupção ocorre, seja por conta de um corrupto ou de um corruptor, é um fato inegável que ela existe, sendo imprescindível combatê- la, assim, dentre os comportamentos corruptos,observamos: • As práticas de “engenharia financeira” para evitar ou reduzir o pagamento de impostos. • A pressão sobre os Governos para reduzir legalmente os impostos que incidem sobre os mais ricos. • A evasão de impostos. • Os recursos enviados e depositados em “paraísos fiscais”, em geral decorrentes de atividades ilícitas. • As fraudes praticadas por empresas para obter contratos públicos e em sua execução. • A conivência dos grandes bancos com a movimentação de recursos provenientes de atividades ilícitas, inclusive do narcotráfico. • O financiamento de campanhas políticas para eleger indivíduos que vêm a constituir bancadas no Congresso para a defesa de legislação de interesse econômico e político dessas classes hegemônicas. No Brasil, podemos até mesmo quantificar o prejuízo causado por essa classe hegemônica: por ano, estima-se que atinja entre 1% e 2,5% – variando, ainda, de acordo com alguns dados, até 3% – sobre o PIB brasileiro. Este prejuízo é muitas vezes Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Brasil: Corrupção e Combate www.cenes.com.br | 11 causado por conta da corrupção presente em atos como o desvio de dinheiro, o superfaturamento de obras, do cumprimento com interesses de uma população restrita e que não atendem ao bem coletivo, entre outras razões. 3.4 Medidas Legais e Sistêmicas/Culturais É importante que o sujeito tenha consciência da complexidade do fator corrupção, assim como das diferentes perspectivas das quais se pode partir para abordá-la. Neste sentido, podemos falar da corrupção sob um prisma filosófico, especulando sobre valores morais e éticos, tentar entendê-la a partir de uma perspectiva econômica, compreendendo-a como um subproduto do capitalismo, ou ainda partir de uma noção político-cultural, indagando certos aspectos que nos levam a pensar, por exemplo, o motivo pelo qual em determinados países a corrupção é punida por penas mais rígidas, enquanto em outros recebe punições mais brandas, isso quando não deixa de ser punida. No Brasil, uma visão muito comum que se tem acerca da corrupção é de que esta constitui somente um tema criminal, sendo entendida simplesmente como uma infração da norma penal, assim descartando outras considerações ou questionamentos filosóficos, econômicos e político-culturais mais profundos e menos reducionistas. 3.4.1 Atuação Legal: Órgãos que Combatem a Corrupção No portal “Politize!”, Bruno André Blume traz um conteúdo muito interessante sobre este assunto, explicando que no combate legal à corrupção, destacam-se cinco órgãos principais. A seguir, veremos sobre cada um deles e sobre as funções por eles exercidas. 3.4.1.1 Controladoria-Geral da União – CGU A CGU é um órgão do Governo Federal designado para assistir o Poder Executivo nos assuntos relativos à defesa do patrimônio público, promovendo a transparência da gestão pública. As principais atividades deste órgão são: Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Brasil: Corrupção e Combate www.cenes.com.br | 12 • Controle interno (financeiro). • Auditoria pública. • Ouvidoria. • Correição (punição de infrações disciplinares no contexto da Administração Pública). • Prevenção e combate à corrupção. A Controladoria-Geral da União é uma engrenagem que funciona como um centro de ações focadas no combate à corrupção, fiscalizando, recebendo denúncias e reclamações, punindo funcionários públicos e promovendo a transparência no contexto da Administração Pública. A CGU é um órgão relativamente recente, que deu início às suas atividades em 2003, após ser criada por medida provisória pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Como uma das maiores ações promovidas pela CGU, pode-se destacar o lançamento do Portal da Transparência, em 2004, uma iniciativa internacionalmente premiada. A ouvidoria da CGU mantém um portal de denúncias e manifestações, o e-Ouv, que recebe diversas sugestões, reclamações e elogios, como uma forma de o cidadão registrar fatos importantes relativos ao trabalho dos agentes, órgãos e entidades no contexto do Poder Executivo Federal. 3.4.1.2 Departamento de Polícia Federal – DPF A Polícia Federal é o principal órgão policial do Brasil, sendo subordinada ao Ministério da Justiça. O DPF apura infrações penais cometidas contra a ordem política e social, ou ainda em detrimento de bens, serviços e interesses, além de prevenir e reprimir o tráfico de drogas e o contrabando, exercendo funções de polícia marítima, de fronteiras e aeroportuária. Dentre outras atribuições demonstradas pelo DPF, é também feito o combate e repressão: Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Brasil: Corrupção e Combate www.cenes.com.br | 13 • à pedofilia. • ao terrorismo. • aos crimes cibernéticos. • aos crimes contra povos indígenas. • ao desvio de recursos públicos. • aos crimes ambientais. • aos crimes políticos. Além disso, a Polícia Federal exerce a função de polícia judiciária da União com exclusividade, o que significa dizer que ela apura aqueles crimes que são cometidos no contexto da União (Governo Federal), ocasionando a descoberta de grandes escândalos de corrupção que se dão através de operações especiais, como a Lava- Jato, por exemplo. 3.4.1.3 Tribunal de Contas da União – TCU O TCU tem o papel de realizar o controle externo das contas do Governo Federal, em conjunto com o Congresso Nacional. Suas competências estão previstas nos artigos 71 a 74 da Constituição de 1988, dentre as quais podemos citar: • apreciar as contas do presidente da república todos os anos. • julgar as contas dos administradores públicos. • promover inspeções e auditorias a pedido do congresso ou por iniciativa própria. • fiscalizar a aplicação de recursos da união que são repassados para Estados e Municípios. O TCU se evidenciou na mídia no ano de 2015, em razão de um parecer negativo sobre as contas do governo Dilma Rousseff, sendo uma das principais razões para tal rejeição as pedaladas fiscais, manobras fiscais que embasaram a abertura do processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff. 3.4.1.4 Ministério Público – MP O Ministério Público é uma instituição autônoma e independente, que se mostra indispensável para o desempenho da função jurisdicional do Estado brasileiro, ou seja, Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Brasil: Corrupção e Combate www.cenes.com.br | 14 para a função de julgar. O MP atua em defesa: • da ordem jurídica. • do regime democrático de direito. • dos direitos sociais. Em suma, o trabalho do MP é de garantir que os direitos constitucionais sejam cumpridos através de um Ministério Público Federal, com representações em todos os estados, e por meio do Ministério Público próprio de cada estado. A grande missão do MP é realizar a defesa à sociedade de forma coletiva, se dispondo a atender os cidadãos que estejam sofrendo alguma violação que não atinja unicamente a ele, mas a toda a sociedade. Para que o cidadão possa receber tal atendimento, dispõe de um instrumento jurídico muito importante, a ação civil pública. No entanto, caso sua ação se direcione para fatos que exercem impacto sobre interesses coletivos, o cidadão tem a possibilidade de agir sem precisar ser acionado. Dentre os casos em que o Ministério Público pode atuar, podemos citar: • Ações que envolvem o Presidente da República, senadores, deputados ou outros agentes políticos que possuem foro privilegiado. • Infrações que podem vir a causar prejuízo ao erário, como a prática de desvio de dinheiro público. • Crimes políticos praticados contra a União, contra empresas públicas ou autarquias. 3.4.1.5 Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF O COAF foi criado em 1998, sendo vinculado ao Ministério da Fazenda. Sua principal missão é de coibiro crime de lavagem de dinheiro, ao disciplinar e aplicar penas administrativas, além de receber, examinar e identificar ocorrências suspeitas de atividades ilícitas relativas à lavagem de dinheiro. Para que possa realizar tal feito, o conselho fiscaliza vários setores da economia, como: Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Brasil: Corrupção e Combate www.cenes.com.br | 15 • o sistema financeiro. • o mercado imobiliário. • o mercado de seguros. • as juntas comerciais. • o transporte. • a guarda de valores. Para além dos assuntos já citados, o COAF também é responsável por investigar os casos de financiamento do terrorismo. Somente em 2015, 166.571 comunicações foram recebidas pelo COAF sobre operações financeiras atípicas, sendo este número, em 2014, maior que 1,5 milhão, o que rendeu a aplicação de multas em um valor próximo a 1,3 milhão. Todos estes órgãos dependem de ações coordenadas entre os órgãos de acusação – como o Ministério Público e o TCU – e de investigação – como a Polícia Federal – que possam ser julgados pelas instâncias competentes, conforme a área de atuação dos crimes que se suspeita terem sido cometidos. 3.4.1.6 Casos mais recentes e polêmicas – Restrição do Foro Privilegiado Presidentes, deputados, senadores, governadores, ministros e ocupantes cargos de confiança têm direito ao chamado foro privilegiado, um mecanismo por meio do qual se altera a competência penal sobre ações movidas contra estas autoridades públicas. O nome técnico para esta prática é foro especial por prerrogativa de função, e funciona da seguinte forma: uma ação penal que é movida contra uma autoridade pública, a exemplo dos parlamentares, não será julgada pela justiça comum, como aconteceria com outros cidadãos, mas sim por tribunais superiores. Em 2018, o Supremo Tribunal Federal decidiu, por unanimidade, reduzir o alcance do foro privilegiado de deputados e senadores, passando a ser aplicável somente para aqueles processos sobre crimes ocorridos durante o mandado, e que estivessem relacionados ao exercício do cargo parlamentar. A exemplo, temos o caso do ex-presidente Michel Temer, preso em março de 2019 Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Conclusão www.cenes.com.br | 16 por intermédio da Operação Lava Jato, sendo investigado em outros nove inquéritos. No período em que era Presidente da República, Michel Temer tinha os casos julgados pelo STF em decorrência foro privilegiado, no entanto, desde que deixou o Planalto, não mais teve acesso a tal benefício, passando a ser julgado pela justiça comum. A partir do mês de abril de 2018, a legislação brasileira passou a apresentar uma exigência na qual prefeitos, governadores e presidente da República que demonstrem interesse para concorrer a cargos diferentes daquele que ocupam deveriam renunciar, em até seis meses antes da eleição, os cargos então ocupados, para que somente assim pudessem concorrer. Além disso, também deveriam deixar os postos aqueles candidatos que sejam servidores ou tenham cargos de confiança em órgãos públicos, como ministros e secretários. A exemplo de indivíduos que sofreram com tal legislação, temos os governadores Geraldo Alckmin, Beto Richa, Marconi Perillo e Raimundo Colombo. Todos eles foram citados ou denunciados pela Operação Lava Jato, mas, por terem renunciado o atual cargo a fim de concorrer a outros na eleição, perderam o benefício do foro privilegiado, estando sujeitos a ter seus processos enviados à primeira instância, não mais sendo julgados pelo STJ. Quanto aos deputados federais e senadores, os quais também possuem foro privilegiado, estes não precisam renunciar para que possam concorrer a qualquer outro cargo eleitoral. Os congressistas que estiverem sendo investigados somente perderão o foro nos casos em que não consigam se reeleger. 4 Conclusão Nesta aula, vimos que o fator corrupção está enraizado na sociedade em seus mais diversos nichos, atingindo a própria justiça e as instituições do Estado. Entendemos que embora existam medidas legais para o combate contra a corrupção, nem sempre são eficazes, pois este conceito está atrelado não somente à esfera governamental, mas à estrutura da nossa sociedade, podendo ser visualizada de forma explícita ou velada em ações e comportamentos cotidianos. Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Referências Bibliográficas www.cenes.com.br | 17 Dessa forma, compreendemos que para que o problema da corrupção possa ser efetivamente solucionado, são necessárias mudanças em todos os âmbitos da sociedade, além de maior conscientização quanto à noção de cidadania e dos constructos culturais que nos influenciam e são propulsores da corrupção. Devemos lembrar, contudo, que a corrupção ”não está só no indivíduo que a pratica”, por isso é fundamental que, acima de tudo, as circunstâncias que favorecem a corrupção no Brasil deixem de existir (DALLAGNOL, 2017). 5 Referências Bibliográficas BLUME, André Bruno. Os 5 órgãos mais importantes no combate à corrupção no Brasil, 2017. Disponível em: <https://www.politize.com.br/corrupcao-no-brasil-5- orgaos-combate/>. Acesso em: 06 de jun. de 2021. DALLAGNOL, Daltan. A luta contra a corrupção [recurso eletrônico]. Rio de Janeiro: Primeira Pessoa, 2017. GUERRA, Alexandre; et. al. Poder e corrupção do capitalismo. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2017. GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal esquematizado: parte especial. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública | Referências Bibliográficas www.cenes.com.br | 18 1 Sumário 2 Corrupção Sistêmica 3 Brasil: Corrupção e Combate 3.1 Gênese da Corrupção no Contexto Brasileiro 3.2 Corrupção, Código Penal e Constituição Federal 3.2.1 Corrupção Ativa 3.2.2 Corrupção Passiva 3.3 Práticas de Corrupção e Classes Hegemônicas 3.4 Medidas Legais e Sistêmicas/Culturais 3.4.1 Atuação Legal: Órgãos que Combatem a Corrupção 3.4.1.1 Controladoria-Geral da União – CGU 3.4.1.2 Departamento de Polícia Federal – DPF 3.4.1.3 Tribunal de Contas da União – TCU 3.4.1.4 Ministério Público – MP 3.4.1.5 Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF 3.4.1.6 Casos mais recentes e polêmicas – Restrição do Foro Privilegiado 4 Conclusão 5 Referências Bibliográficas
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