Buscar

trabalho infantil

Prévia do material em texto

Universidade Norte do Paraná 
 SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO 
 BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL 
 
 
SAANE DA CRUZ SILVA RIBEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
INFÂNCIA PERDIDA – RETRATOS DO TRABALHO 
INFANTIL NO BRASIL 
 
 
 
 
 
 
 
Capim Grosso-BA 
2019 
 
 
SAANE DA CRUZ SILVA RIBEIRO 
 
 
 
 
 
INFÂNCIA PERDIDA – RETRATOS DO TRABALHO 
INFANTIL NO BRASIL 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como requisito 
para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. 
 
Orientadora: Prof.ª Mileni Alves Secon. 
 
 
 
 
 
 
 
Capim Grosso-BA 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao meu Deus, por ser tão presente e essencial 
em minha vida, o autor do meu destino, meu 
guia que nunca me abandonou... 
Dedico esse trabalho! 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço a Deus desde o primeiro momento em que fui abençoada ao ser 
aprovada no vestibular. Serei eternamente grata a Deus por todas as bênçãos sobre 
a minha família e por proporcionar tranquilidade aos corações daqueles que 
acompanharam a minha trajetória acadêmica. 
Agradeço a Deus também por ter me fortalecido ao ponto de superar as 
dificuldades e também por toda saúde que me deu e que permitiu alcançar esta etapa 
tão importante da minha vida. 
Foi um caminho árduo, mas finalmente consegui chegar ao final. Mas sei que 
nada disso seria possível sem algumas pessoas muito especiais. 
Sou grata, especialmente, a minha mãe Regina que tanto lutou pela minha 
educação e nunca me deixou perder a fé. 
A uma pessoa ESPECIAL Minha irmã Simone Cruz, obrigada minha irmã 
querida, por me ouvir nos momentos difíceis e me aconselhar a permanecer firme na 
faculdade. 
Não posso deixar de dedicar um agradecimento especial a você meu esposo 
Tiago Ribeiro nessa reta final que jamais me negou apoio, carinho e incentivo. 
Obrigado, amor da minha vida, por aguentar tantas crises de estresse e ansiedade. 
Sem você do meu lado esse trabalho não seria possível. 
Obrigada a todos por me transmitir força, foco e fé que me acompanharam ao 
longo desses anos e que não me permitiram desistir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Quando vejo uma criança, ela inspira-me dois sentimentos: 
ternura, pelo que é, e respeito pelo que pode vir a ser.” 
Louis Pasteur 
 
 
 
SILVA, Saane da Cruz. Infância perdida – Retratos do trabalho infantil no Brasil. 
2019. 35 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social) 
– Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Norte do Paraná 
– UNOPAR, Capim Grosso, 2019. 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho traz abordagens acerca do trabalho infantil no Brasil tendo como 
base a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e o Estatuto da Criança 
e do Adolescente (ECA). Trazer informações e reflexões sobre o trabalho infantil bem 
como suas consequências na trajetória de crianças e adolescentes constitui-se o 
objetivo desse estudo, que procura identificar os aspectos necessários para 
sensibilizar a sociedade na busca de ações concretas para erradicar o trabalho infantil, 
que tem roubado a infância de crianças e adolescentes. Constituído por pesquisa 
bibliográfica, o trabalho buscou autores e documentos que embasassem a temática, 
trazendo subsídios capazes de enriquecer as discussões e comprovar os fatos que 
envolvem essa problemática. Respeitando as leis de apoio, crianças e adolescentes 
podem ter uma vida digna, tendo seus direitos a educação, saúde, segurança e 
alimentação garantidos. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Trabalho Infantil; Criança e Adolescente; ECA; Direitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
 
FIGURA 1 – Mapa da localização do Município de Capim Grosso .......................................... 
FIGURA 2– Informações básicas de referência sobre crianças e adolescentes ocupados...... 
FIGURA 3 – Centros socioassistenciais do município de Capim Grosso- BA.......................... 
FIGURA 4 - Crianças e adolescentes ocupados e número de aprendizes............................. 
FIGURA 5 – Ações fiscais do Ministério do Trabalho e Previdência Social........................... 
FIGURA 6 - Panorama Brasil Trabalho Infantil – Crianças e Adolescentes de 5 a 17 anos por 
região......................................................................................................................................... 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho 
CM – Código de Menores 
CONAETI – Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil 
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente 
IBGE – Instituto Brasileiro de geografia e Estatística 
IPEC - Programa Internacional para Erradicação do Trabalho Infantil 
MTE – Ministério do Trabalho 
OIT – Organização Internacional do Trabalho 
ONU – Organização das Nações Unidas 
PNAD - Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios 
PNADC - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 
RAIS - Relação Anual de Informações Sociais 
SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial 
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial 
SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). 
SGD - Sistema de Garantia de Direitos 
SITI - Sistema de Informações sobre Focos de Trabalho Infantil no Brasil 
TIP - Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil. 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 NOTAS INTRODUTÓRIAS .................................................................................... 09 
2 DESENVOLVIMENTO............................................................................................10 
2.1 Conceito de Trabalho Infantil................................................................................10 
2.2. História dos direitos trabalhista do menor...........................................................11 
2.3 Marco Legal .........................................................................................................13 
3 O TRABALHO INFANTIL AO REDOR DO MUNDO..............................................18 
3.1 O trabalho infantil no Brasil..................................................................................18 
3.2 O Trabalho Infantil na Bahia.................................................................................20 
4 O TRABALHO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE CAPIM GROSSO- BA..................21 
4.1 Caracterização do município................................................................................21 
4.2 Dados do trabalho infantil no município de Capim Grosso-BA............................22 
5 AÇÕES PARA A ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL............................23 
5.1 O que ainda pode ser efeito para a erradicação do trabalho infantil...................24 
6 DIAGNÓSTICO: ANÁLISE SITUACIONAL DO TRABALHO INFANTIL NO 
BRASIL......................................................................................................................25 
7 COMPROMISSO BRASILEIRO NA ERRADICAÇÃO DO TRABALHO 
INFANTIL...................................................................................................................27 
7.1 Como proteger a criança do trabalho precoce?...................................................27 
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................28 
REFERÊNCIAS.........................................................................................................30 
ANEXOS....................................................................................................................32 
 
 
 
 
 
9 
1. NOTAS INTRODUTÓRIAS 
 
 
Trabalho infantil é toda e qualquer atividade realizada por crianças e 
adolescentes com idade inferior a 16 anos. Essa é a regra geral no ordenamento 
jurídico brasileiro,prevista no artigo 7º, inciso XXXIII da Constituição da República e 
que define o conceito de trabalho infantil. 
O presente trabalho aborda o conceito de trabalho infantil e suas raízes, tanto 
no Brasil como ao redor do mundo, podendo esclarecer onde, quando, como e o 
porquê tudo isso começou. Também serão abordados os princípios relacionados a 
esse assunto, como o da dignidade da pessoa humana, por exemplo. Princípios estes 
previstos na Constituição Federal (1988), a lei máxima e determinada entre todos os 
cidadãos e no Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), no qual dispõe sobre a 
integral proteção dos menores. 
A pesquisa tem como objetivo geral analisar o trabalho infantil no Brasil, 
buscando identificar como tem sido tratada a questão da exploração de crianças no 
trabalho e os aspectos necessários para a sua erradicação; os objetivos específicos 
são promover a reflexão sobre o trabalho infantil no Brasil, identificar as causas e 
consequências do trabalho infantil e pesquisar as estratégias de erradicação do 
trabalho infantil no Brasil. 
A escolha do tema “Infância perdida – Retratos do trabalho infantil no Brasil” 
justifica-se pela necessidade de compreender as razões que ainda levam crianças e 
adolescentes a realizarem trabalhos que lhes exploram e roubam de sua infância os 
direitos a educação e a brincadeira. O objeto de estudo constitui-se em problemática 
social em flagrante contraste com os direitos humanos consagrados universalmente, 
e no Brasil, vincula-se diretamente ao Estatuto da Criança e do Adolescente e à 
Constituição Federal Brasileira. 
Quanto aos métodos de procedimentos operacionais (técnicas), que 
compreendem as estratégias de coletas de dados, lançará mão dos seguintes 
instrumentos: pesquisa em meio eletrônico via Internet em documentos oficiais, 
publicações de ONGs voltadas para a problemática do trabalho infantil, estudos 
realizados pelos institutos de pesquisa oficiais, visitas a sites da UNESCO, OIT, 
Ministério Público do Trabalho, etc. Pesquisa bibliográfica, consultas ao Estatuto da 
10 
Criança e do Adolescente, Constituição Federal Brasileira, artigos científicos, revistas 
especializadas, livros, jornais, informativos, folhetos, etc.). 
A estrutura da pesquisa está assim distribuída: 1. Introdução – onde é 
demonstrada a composição do trabalho, o tema, o objetivo, a justificativa, a 
problemática, a metodologia e a relevância da pesquisa; 2. Desenvolvimento – Onde 
se discorrem temáticas, como: O conceito de trabalho infantil; O trabalho infantil ao 
redor do mundo; O Trabalho infantil no município de Capim Grosso/BA; Ações para a 
erradicação do trabalho infantil; Diagnóstico: análise situacional do trabalho infantil no 
Brasil; Compromisso brasileiro na erradicação do trabalho infantil; Considerações 
Finais – onde sintetizamos os resultados da pesquisa. 
 
 
2. DESENVOLVIMENTO 
 
2.1 Conceito de trabalho infantil 
 
O termo “trabalho infantil” refere-se às atividades econômicas e/ou atividades 
de sobrevivência, com ou sem finalidade de lucro, remuneradas ou não, realizadas 
por crianças ou adolescentes em idade inferior a 16 (dezesseis) anos, ressalvada a 
condição de aprendiz a partir dos 14 (quatorze) anos, independentemente da sua 
condição ocupacional. Destaca-se que toda atividade realizada por adolescente 
trabalhador, que, por sua natureza ou pelas circunstâncias em que é executada, possa 
prejudicar o seu desenvolvimento físico, psicológico, social e moral, se enquadra na 
definição de trabalho infantil e é proibida para pessoas com idade abaixo de 18 
(dezoito) anos. 
A exceção prevista é o trabalho na condição de aprendiz a partir dos 14 anos 
de idade. Por se tratar de uma excepcionalidade, o contrato de aprendizagem requer 
algumas condições que asseguram a formação educacional pelo e com o trabalho, 
evitando que, por meio de um artifício legal, o trabalho de quem ainda tem menos de 
16 anos seja explorado. 
Mesmo com essa proibição, o Brasil conta com cerca de três milhões e 
setecentos mil pequenos trabalhadores, que integram a população de cerca de 
duzentos e quinze milhões de crianças que trabalham ao redor do mundo. 
11 
No plano internacional, além de sistemas normativos de proteção específicos, 
como as Convenções 138 e 182, estabelecendo, respectivamente, a idade mínima em 
que se tolera o trabalho e suas piores formas, a Organização Internacional do 
Trabalho – OIT desenvolve o Programa Internacional para Erradicação do Trabalho 
Infantil (IPEC). 
O trabalho nas piores formas, conforme previstas pela Convenção 182 da OIT, 
é considerado trabalho infantil, mesmo que o trabalhador conte com idade até 18 anos. 
No Brasil, essa Convenção encontra-se regulamentada pelo Decreto 6481/2008, que 
inclui, entre as piores formas, o trabalho doméstico. O trabalho doméstico no Brasil, 
portanto, só é permitido a partir dos dezoito anos. A proibição do trabalho precoce tem 
razões que vão muito além da mera questão legal, de regulamentação ou da proteção 
jurídica, porque estão relacionadas com a necessidade de assegurar a plenitude da 
infância para todas as crianças. 
O cansaço físico gerado pelo trabalho leva a um baixo rendimento escolar e 
dificuldade de aprendizagem, além de roubar a possibilidade do brincar, que é muito 
mais do que uma atividade de lazer: é o momento em que a criança constrói um 
mundo seu e interage com seus iguais para projetar sua personalidade futura. O 
trabalho precoce determina uma deturpação no desenvolvimento psicológico, gerando 
baixa autoestima, autoimagem negativa e frustrações que podem levar ao consumo 
de drogas, álcool e condutas violentas. 
A criança que trabalha, normalmente, tem pais que foram trabalhadores 
precoces e, por isso, analfabetos, sem qualificação para competir no mercado de 
trabalho, desempregados ou que recebem salários indignos e estão na informalidade 
ou no subemprego. 
As políticas de distribuição de renda do governo federal minimizam os efeitos 
do problema, mas estão muito longe de ser uma solução ou a resposta necessária 
para uma sociedade mais justa e igual. É, portanto, um problema social, econômico e 
político. 
2.2 História dos direitos trabalhista do menor 
 
Baseado nos ensinamentos de Tavares (2001) pode-se verificar que nos povos 
antigos, os filhos menores sequer eram considerados sujeitos de direito, mas sim, 
servos da autoridade paterna. O filho vivia sob o poder absoluto do seu senhor, como 
12 
coisa de sua propriedade, sendo objeto de direito e não sujeito de direito. 
De acordo com Vianna (2004) “o trabalho infantil ficou visível na Revolução 
Industrial, ocorrida na Inglaterra, no século XVIII, onde os menores começavam a 
trabalhar por volta dos seis anos de idade, com funções extenuantes, sem repouso 
e recebendo cerca de ¼ do salário garantido a um adulto.” 
Em 1802, no Reino Unido, foi criada a primeira lei de proteção ao trabalho do 
menor, que definiu como idade mínima para o trabalho a de oito anos e proibiu o 
trabalho noturno ao menor. No entanto, longe das zonas industriais, as crianças se 
ocupavam da agricultura e dos trabalhos domésticos. 
Ao tratar sobre a evolução do direito do menor, Tavares (2001) especificou 
os grandes avanços que ocorreram, sendo que no Brasil, o Decreto nº. 1313, de 
1891, limitou a idade mínima para o trabalho do menor em doze anos, admitindo, 
porém, o trabalho do menor a partir dos oito anos, na função de aprendiz, nas 
fábricas de tecidos. O limite da jornada de trabalho era de sete horas diárias para o 
trabalhador menor de quatorze anos e de nove horas para o trabalhador que 
possuísse entre quatorze e dezoito anos. 
Já em 1917, esse limite foi unificado em seis horas diárias. Mas foi em 1924 
em Genebra, na Suíça, que a Liga das Nações deu o ponto de partida para o avanço 
dos direitos infantis, com a Declaração dos Direitos da Criança. Em1948, ao publicar 
a Declaração dosDireitos Humanos, a ONU ampliou tais direitos. 
O maior avanço mundial em relação aos direitos trabalhistas do menor ocorreu 
no ano de 1959 quando a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou a 
Declaração Universal dos Direitos da Criança, que foi adotada como lei em quase 
todas as nações filiadas à ONU. 
A referida Declaração, em seu artigo nove, define que: 
A criança deve ser protegida contra toda forma de abandono, crueldade e 
exploração. Não será objeto de nenhum tipo de tráfico, bem como, não se 
deverá permitir que a criança trabalhe antes de uma idade mínima 
adequada; em caso algum será permitido que a criança se dedique, ou a ela 
se imponha qualquer ocupação ou emprego que possa prejudicar sua saúde 
ou sua educação, ou impedir seu desenvolvimento físico, mental ou moral. 
 
A mesma Organização, na Convenção das Nações Unidas sobre os direitos 
da criança e do adolescente, que ocorreu em 20 de novembro de 1989, publicou 
documento, que em seu artigo 32 prevê a obrigatoriedade de o Estado proteger a 
criança do trabalho que constitui uma ameaça à sua saúde, educação e ao seu 
desenvolvimento, estabelecendo idades mínimas para a admissão em emprego e 
13 
regulamentação das condições permitidas para o trabalho do menor. 
 
2.3 Marco legal 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente vislumbra educação em seu sentido 
mais amplo, englobando o ensino regular e atividades educativas informais. A 
Constituição Federal define ainda, a necessidade da educação para o trabalho. 
A lei cita o termo ensino metódico, que deve ser ministrado em entidades 
apropriadas, como os SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), SENAI 
(Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e SENAR (Serviço Nacional de 
Aprendizagem Rural). 
O Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 53 prevê os direitos da 
criança e do adolescente, da seguinte forma: 
A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno 
desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e 
qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: 
I- igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
II- direito de ser respeitado por seus educadores; 
III- direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias 
escolares superiores; 
IV- direito de organização e participação em entidades estudantis; 
V- acesso à escola, pública e gratuita próxima de sua residência. 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 54 define os deveres do 
Estado em relação à criança e ao adolescente: 
É dever do Estado, assegurar à criança e ao adolescente: 
I- Ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não 
tiverem acesso na idade própria; 
II- progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade do ensino médio; III- 
atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, 
preferencialmente na rede regular de ensino; 
IV- atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de 
idade; 
V- acesso aos níveis mais elevados de ensino, de pesquisa e da criação 
artística, segundo a capacidade de cada um; 
VI- oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente 
trabalhador; 
VII- atendimento no ensino fundamental, através de programas 
suplementares de material didático- escolar, transporte, alimentação e 
assistência à saúde. 
Parágrafo 1º- O acesso ao ensino público e gratuito é direito público subjetivo; 
Parágrafo 2º- O não- oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público 
ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente. 
 
A legislação brasileira, a respeito do trabalho infantil, orienta-se pelos princípios 
estabelecidos na Constituição Federal de 1988, que estão harmonizados com as 
14 
disposições da Convenção dos Direitos da Criança, da Organização das Nações 
Unidas (ONU) e das Convenções nº138 e 182 da OIT. 
Na Convenção dos Direitos da Criança e do Adolescente, de 1989, da ONU, 
ficou estabelecida a proibição de qualquer tipo de exploração econômica de crianças, 
considerando como exploração qualquer espécie de trabalho que prejudique a 
escolaridade básica. 
A Convenção nº138, de 1973, ratificada pelo Brasil em 28 de junho de 2001, 
estabelece que todo país que for signatário dos termos ali estabelecidos deve 
especificar, em declaração, a idade mínima para admissão ao emprego ou trabalho 
em qualquer ocupação, ao não admitir nenhuma pessoa com idade inferior à definida 
em qualquer espécie de trabalho. 
Em 1999, a OIT aprovou a Convenção nº182 sobre as piores formas de trabalho 
infantil que, assim como a Convenção nº138, faz parte da lista de oito Convenções 
Fundamentais que integram a Declaração de Princípios Fundamentais e Direitos no 
Trabalho da OIT (1998) com o propósito de suplementar e priorizar os esforços de 
erradicação e prevenção do trabalho infantil. 
A Convenção nº182, ratificada pelo Brasil em 2 de fevereiro de 2000, nasceu 
da consciência de que, embora todas as formas de trabalho infantil sejam 
indesejáveis, algumas são hoje absolutamente intoleráveis. 
Promulgada a nova Constituição Federal, em 1988, iniciou-se a elaboração do 
ECA, aprovado dois anos depois. Estavam dadas as condições sociais e legais 
mínimas para a introdução de um novo paradigma de abordagem do trabalho infantil 
no país. 
A partir da década de 1990, o tema do trabalho infantil passou a ocupar lugar 
de destaque na agenda nacional. A mídia passou a tratá-lo de maneira mais crítica. 
Pesquisadores se dedicaram a estudá-lo, o que gerou uma reflexão teórica e histórica. 
O fenômeno também passou a ser pauta de diversas políticas públicas. Contudo, a 
observação do nosso entorno reflete a forte existência de elementos do velho 
paradigma. 
Mesmo depois de muitos anos de luta contra o trabalho infantil, a mentalidade 
que, durante séculos, levou crianças ao trabalho precoce ainda está presente em 
muitos setores da sociedade brasileira. Crianças e adolescentes submetidos à 
criminalidade, ao narcotráfico, à exploração sexual e a condições análogas à 
escravidão, dentre outras atividades classificadas como as piores formas de trabalho 
15 
infantil, revelam a persistência de uma mentalidade perversa no país, capaz de negar 
a condição de ser humano às novas gerações de cidadãos e cidadãs. 
Segundo a Constituição Brasileira de 1988, é proibido qualquer tipo de trabalho 
até os 16 anos. A única exceção, a partir dos 14 anos, são as atividades remuneradas 
na condição de aprendiz, com formação técnico-profissional, frequência à escola, 
carteira assinada e direitos trabalhistas garantidos. Até os 18 anos são proibidos os 
trabalhos insalubres, perigosos ou noturnos. 
A Constituição também diz que é dever da família, sociedade e Estado 
assegurar à criança e ao adolescente o seu direito à vida e o seu bem-estar, além de 
protegê-los das violações. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, assegura a proteção 
integral à população infanto-juvenil e a prioridade absoluta dessa faixa etária. O ECA 
reforça as regras colocadas na Constituição a respeito do trabalho infantil. 
As normas que tratam das questões trabalhistas no país também determinam 
que está proibido o trabalho para pessoas menores de 16 anos no Brasil: 
Art. 403. É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo 
na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos. 
As Convenções Internacionais são instrumentos decisivos para a garantia dos 
direitos das crianças e dos adolescentes ao redor do mundo. As mais especificamente 
voltadas para a prevenção e eliminação do trabalho infantil são as Convenções 138 e 
182 da OIT. As Convenções 29 e 105 da OIT sobre trabalho forçado, e outros 
instrumentos da Organização das Nações Unidas (ONU) que tratam da proteção 
integral das crianças também estabelecem obrigações de proteção integral contra a 
exploração da criança e do adolescente.A Convenção 138, adotada em 1973, estabelece diretrizes para a idade mínima 
para admissão ao trabalho. Diz em seu Artigo 1°: 
Todo Estado-membro, no qual vigore esta Convenção, compromete-se a 
seguir uma política nacional que assegure a efetiva abolição do trabalho 
infantil e eleve, progressivamente, a idade mínima de admissão a emprego 
ou a trabalho a um nível adequado ao pleno desenvolvimento físico e mental 
dos adolescentes. 
 
Em complemento a essa Convenção, considerando a necessidade de adotar 
novos instrumentos para proibição e eliminação das piores formas de trabalho infantil 
como a principal prioridade de ação nacional e internacional, é adotada, em 1999, a 
16 
Convenção 182, sendo citada como Convenção sobre as Piores Formas de Trabalho 
Infantil. 
Em atenção a essas Convenções da OIT, o Brasil publicou o Decreto nº 6.481 
de 12 de junho de 2008, trazendo a lista de quais as ocupações são proibidas para as 
pessoas com menos de 18 anos de idade, sendo conhecida como Lista TIP – Lista 
das Piores Formas de Trabalho Infantil. 
O ECA é considerado um marco na proteção da infância e tem como base a 
doutrina de proteção integral, reforçando a ideia de “prioridade absoluta”, inspirado 
pelas diretrizes fornecidas pela Constituição Federal de 1988, que determina que haja 
prioridade absoluta na proteção da infância e na garantia de seus direitos, não só por 
parte do Estado, mas também da família e da sociedade. 
O ECA traz uma mudança de mentalidade da sociedade e paradigmas em 
relação às crianças e adolescentes, pois trata dos direitos conferidos a todas as 
classes sociais. O CM (Código de menores) era dedicado àqueles em “situação 
irregular”, com caráter discriminatório, associando a pobreza à delinquência, 
encobrindo as reais causas das dificuldades vividas por esse público, a desigualdade 
de renda e a falta de alternativas de vida. 
O reconhecimento da criança como um sujeito de direitos é um passo enorme 
para proteção daqueles que estão vulnerabilizados pela sua violação. Com isso, a 
expressão “menor” também foi substituída por “criança e adolescente”, para negar o 
conceito de incapacidade na infância, uma vez que “menor” está ligado a “não ter” 18 
anos. “O respeito aos direitos humanos fundamentais das crianças e adolescentes e 
o combate ao trabalho infantil é um desafio de todos, principalmente do Estado 
Brasileiro.” 
“Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno 
desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e 
qualificação para o trabalho…” 
 “Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade.” 
 
Após a Emenda Constitucional 98, ficou estabelecida a proibição de trabalho 
noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores 
de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos. O ECA 
não incorporou a alteração, mas a Constituição Federal, que está no topo da 
hierarquia das leis, é o que prevalece. 
“Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação especial, 
sem prejuízo do disposto nesta Lei.” 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/trabalho-infantil/motivos/
17 
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), entre os artigos 402 e 441, 
estabelece as condições para a atuação profissional de jovens de 14 anos a 17 anos 
no Brasil. E inclui redações dadas por outros textos legais, como a Lei do Aprendiz 
(10.097/2000) e o decreto federal e 5.598/2005. 
Art. 62. Considera-se aprendizagem a ministrada segundo as diretrizes e 
bases da legislação de educação em vigor. 
“Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos seguintes princípios: 
I – garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular; 
II – atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente; 
III – horário especial para o exercício das atividades. 
 
As formações técnico-profissionais, descritas no decreto federal 5.598/2005, 
são realizadas por programas de aprendizagem desenvolvidos por entidades do 
Sistema Nacional de Aprendizagem: SENAI, SENAC, SENAR, SENAT e SESCOOP. 
Quando o jovem não tem acesso a essas instituições, a lei aceita programas 
oferecidos por escolas técnicas e entidades sem fins lucrativos que prestem 
assistência ao adolescente e à educação profissional, desde que registradas nos 
conselhos municipais dos direitos da criança e do adolescente. 
“Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurada bolsa de 
aprendizagem.” 
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são assegurados 
os direitos trabalhistas e previdenciários. 
 
Em outras palavras, o trabalho deve observar que o adolescente está em 
processo de formação em todos os aspectos (fisiológicos, psicológicos e sociais). Já 
a capacitação adequada, como ocorre nos cursos de formação de aprendizagem, 
deve se destinar ao desenvolvimento profissional do jovem, considerando seu direito 
de inserção no mercado de trabalho. 
Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no 
trabalho, observados os seguintes aspectos, entre outros: 
I – respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento; 
II – capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho. 
 
Colocar os direitos de crianças e adolescentes como ações prioritárias no 
campo das políticas públicas faz parte da agenda dos direitos humanos, que 
permitiram ver, além do olhar triste e resignado, uma possibilidade de resgatar uma 
“infância perdida” porque não basta apenas indignar-se, é preciso agir! 
 
 
 
 
18 
3. O TRABALHO INFANTIL AO REDOR DO MUNDO 
 
Em nível mundial, embora as estatísticas mostrem que o número de crianças 
trabalhando tenha diminuído em 47 milhões entre 2008 e 2012, o trabalho infantil 
permanece comum e tem crescido no setor de serviços, saltando de 26% para 32% 
no mesmo período. Esse resultado mostra que a mão de obra infantil é utilizada fora 
da agricultura, principalmente em países como Brasil, México e Indonésia. 
A OIT tem uma classificação das piores formas de trabalho infantil. 
A Convenção 182, adotada por diversos países, define as atividades que mais 
oferecem riscos à saúde, ao desenvolvimento e à moral das crianças e adolescentes. 
Entre elas, estão o trabalho nas ruas, em carvoarias e lixões, na agricultura, com 
exposição a agrotóxicos e o trabalho doméstico. Segundo a INTERNATIONAL 
LABOUR ORGANIZATION: 
 Em 2016, 152 milhões de crianças entre 5 e 17 anos eram vítimas de 
trabalho infantil no mundo - 88 milhões de meninos e 64 milhões de meninas. 
 Quase metade dessas crianças (73 milhões) realizavam formas 
perigosas de trabalho, sendo que 19 milhões delas tinham menos de 12 anos 
de idade. 
 O maior número de crianças vítimas de trabalho infantil foi encontrado 
na África (72,1 milhões), seguida da Ásia e do Pacífico (62 milhões), das 
Américas (10,7 milhões), da Europa e da Ásia Central (5,5 milhões) e dos 
Estados Árabes (1,2 milhões). 
 O trabalho infantil está concentrado principalmente na agricultura 
(71%), seguida do setor de serviços (17%) e do setor industrial (12%). 
 O fato de que a maior parte (58%) das crianças vítimas de trabalho 
infantil eram meninos pode refletir uma subnotificação do trabalho infantil 
entre as meninas, principalmente com relação ao trabalho doméstico infantil. 
 
 
3.1 O trabalho infantil no Brasil 
 
O Brasil tem avanços significativos no combate ao trabalho infantil, dentre 
esses, a ratificação das convenções da OIT número 138, sobre a idade mínima, e a 
número 182, sobre as piores formas de trabalho infantil. Mesmo assim, o problema 
ainda é muito sério. De acordo com os dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil são mais de 3,4 milhões de crianças e 
adolescentes, entre 10 e 17 anos, em situação de trabalho. 
https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/trabalho-infantil/estatisticas/https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/trabalho-infantil/piores-formas/
http://www.oitbrasil.org.br/node/518
19 
Na Região Nordeste é mais de um milhão nessa mesma faixa etária, sendo a 
região com maior número de crianças entre 10 a 13 anos nessa situação, faixa etária 
que não deve ser admitida em situação de trabalho sob nenhuma hipótese. 
Essa realidade é encontrada em várias áreas, como setores agrícolas, de 
serviços, de comércio, de produção de manufaturas, de construção civil e no trabalho 
doméstico. Além disso, o trabalho de meninos e meninas é diferente. A maioria dos 
meninos trabalha no campo e na cidade, enquanto a maioria das meninas é de 
trabalhadoras domésticas. O trabalho infantil também afeta mais crianças e 
adolescentes negros que os não negros. 
De acordo o IBGE, 2.778 milhões de adolescentes de 14 a 17 anos estavam 
em situação de trabalho no Brasil em 2014. Porém, apenas 503 mil estavam no 
trabalho permitido por lei, sendo 212 mil na condição de aprendiz e outros 291 mil 
como empregados não aprendizes. Os demais (82%) estavam trabalhando sem 
proteção social, fora da escola e/ou nas piores formas de trabalho infantil. 
A contratação de aprendizes é uma política pública fundamental para o 
combate ao trabalho infantil. O adolescente que hoje está em situação de trabalho 
desprotegido, se for contratado com aprendiz, terá assegurados os direitos à 
educação, à profissionalização e à proteção social: educação, porque a frequência 
escolar é obrigatória até concluir o ensino médio; profissionalização, porque ele deve 
ser matriculado em curso de aprendizagem profissional; proteção social, porque ele 
tem direito à carteira assinada, com garantia de todos os direitos trabalhistas e 
previdenciários assegurados aos demais empregados. Infelizmente, as maiorias dos 
adolescentes que hoje trabalham têm esses direitos violados. Conforme o PNAD 
2015, 
 Entre 1992 e 2015, 5,7 milhões crianças e adolescentes deixaram de 
trabalhar no Brasil, o que significou uma redução de 68%. 
 Entretanto, ainda há 2,7 milhões de crianças e adolescentes em 
situação de trabalho infantil no país. 
 59% das crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil são 
meninos e 41% são meninas. 
 A maioria da população ocupada entre cinco e 17 anos está nas 
regiões Nordeste (852 mil) e Sudeste (854 mil), seguidas das regiões Sul 
(432 mil), Norte (311 mil) e Centro-Oeste (223 mil). 
 Todas as regiões apresentam maior incidência de trabalho infantil em 
atividades que não são agrícolas, exceto a região Norte. 
https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/legislacao/eca-e-outras-leis/
https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/trabalho-infantil/piores-formas/
20 
 A maior concentração de trabalho infantil está na faixa etária de 14 a 
17 anos (83,7%). 
 O trabalho infantil entre crianças de cinco a nove anos aumentou 
12,3% entre 2014 e 2015, passando de 70 mil para 79 mil. 
O trabalho infantil é causa e efeito da pobreza e da ausência de oportunidades 
para desenvolver capacidades. Ele impacta o nível de desenvolvimento das nações 
e, muitas vezes, leva ao trabalho forçado na vida adulta. Por todas essas razões, a 
eliminação do trabalho infantil é uma das prioridades da OIT. 
 
 
3.2 O Trabalho Infantil na Bahia 
 
O trabalho infantil diminuiu na Bahia, tomando como referência o último censo 
do IBGE de 2010. Essa trajetória de declínio é resultado de um novo modelo de 
desenvolvimento, baseado na distribuição, implementação de políticas públicas e um 
importante movimento da sociedade civil. Apesar desse declínio, os esforços para a 
Erradicação do Trabalho Infantil não devem diminuir e, no Estado da Bahia, é 
necessário estar atentos a algumas especificidades ainda mais preocupantes, 
relacionadas com as atividades agrícolas e com trabalho doméstico. 
Isso mostra a necessidade de continuar a mobilização social no sentido de 
garantir trabalho decente para os jovens e a Erradicação do Trabalho Infantil no 
Estado, buscando e promovendo parcerias e políticas públicas com esse foco. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) propõe a estruturação de um 
Sistema de Garantia de Direitos (SGD) que estabelece um novo modelo nos campos 
jurídico e social, criando normas legitimadas pelos envolvidos no SGD, que 
assegurem a efetividade dos direitos de crianças e adolescentes. Esse sistema deve 
ser entendido como um conjunto ordenado de atores e instituições responsáveis pela 
garantia e operacionalização desses direitos, ou seja, além de garantir a sua 
existência, proporcionar que esse sistema funcione. 
O SGD define papéis e responsabilidades pessoais, familiares, profissionais e 
institucionais em diferentes níveis e âmbitos: executivo, legislativo, judiciário; governo 
e sociedade; e as esferas de poder federal, estadual e municipal. O sentido é garantir 
que não haja violação dos direitos das crianças e dos adolescentes. 
Assim, o SGD promove e concretiza os direitos previstos em lei, tornando 
operativas as políticas públicas de atendimento à criança e ao adolescente, cuja 
21 
execução deve ser feita de forma articulada e integrada, formando uma rede para uma 
atuação em parceria. 
 
 
4. O TRABALHO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE CAPIM GROSSO- BA 
 
4.1 Caracterização do município 
 
Capim Grosso é um município brasileiro do estado da Bahia. Sua população foi 
estimada em 30 662habitantes, conforme dados do IBGE de 2019, sendo o terceiro 
maior município da microrregião de Jacobina. 
A cidade encontra-se posicionada numa excelente localização geográfica no 
cruzamento das BRs 407 e 324 que fazem a ligação entre a capital do estado da 
Bahia, Salvador, com a região central da Bahia e com as regiões oeste da Bahia e 
norte do país. 
O município é banhado pelas Barragens do Distrito de Pedras Altas e do 
município de São José do Jacuípe que atualmente abastece vinte e três municípios e 
mais de uma centena de localidades. A barragem está implantada no rio Itapicuru – 
Mirim. O sistema principal é vinculado a nove subsistemas, que atendem os 
municípios de Capim Grosso, São José do Jacuípe, Capela do Alto Alegre/Pintadas; 
Gavião; São Domingos/Ouro Verde/Santa Rita/de Valente; Nova Fátima; 
Barreiros/Terra Branca/Peões; Pé de Serra/Tabuleiro de Santo Agostinho/ SAA de 
Aparecida; Riachão do Jacuípe/Chapada/Itamar/Ichu/Candeal. 
A atividade econômica se concentra em atividades de comércio e prestação de 
serviços. Destacam-se os serviços automotivos devido ao grande fluxo de veículos 
que transitam pelas rodovias que cortam a cidade. O comércio tem maior movimento 
às segundas-feiras dia no qual se realiza a maior feira livre da região. 
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica registrado no município em 
2017 foi de 4,4 pontos, superando a meta estabelecida de 4,2 e em ascensão, desde 
2005. (Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre). 
 
 
 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Munic%C3%ADpio
https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil
https://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_do_Brasil
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bahia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Microrregi%C3%A3o_de_jacobina
https://pt.wikipedia.org/wiki/BR-407
https://pt.wikipedia.org/wiki/BR-324
https://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_(Bahia)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Com%C3%A9rcio
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dndice_de_Desenvolvimento_da_Educa%C3%A7%C3%A3o_B%C3%A1sica
22 
4.2 Dados do trabalho infantil no município de Capim Grosso-BA 
 
A partir dos dados do Censo 2010, o município de Capim Grosso apresentava 
432 crianças e adolescentes entre 10 e 15 anos ocupados. Isso corresponde a 14,4% 
da população nessa mesma faixa etária (Taxa de ocupação). Os dados indicam que 
mais da metade (51,9%) das crianças e adolescentes ocupados desse contingente 
(10 a 15 anos) tinham entre 10 e 13 anos. 
Em relação ao local de residência, 53,4% do total de crianças e adolescentes 
ocupados e 10 a 15 anos residiam em áreas urbanas.Um dado que chama a atenção e o número de crianças e adolescentes entre 
10 e 17 anos ocupados no trabalho doméstico (47), o que corresponde a 5,6% da 
população total ocupada nessa faixa etária. De acordo com o Decreto n° 6.481 de 
2008, o trabalho infantil doméstico se enquadra como das Piores Formas de Trabalho 
Infantil e por essa razão, não e permitido para crianças e adolescentes abaixo de 18 
anos. 
O eixo de proteção social busca promover ações integradas entre os serviços 
socioassistenciais e ações da rede de políticas setoriais de saúde, de educação, do 
trabalho, de cultura, de esporte e de lazer para atendimento integral às crianças e aos 
adolescentes identificados em situação de trabalho infantil e às suas famílias, 
registradas no Cadastro Único. 
Com base nas informações da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 
do MT, o município não possuía aprendizes contratados no ano de 2015. O Censo 
2010 registrava 207 crianças e adolescentes ocupados entre 14 e 15 anos de idade, 
sendo que nesta idade, segundo a legislação nacional, o trabalho é permitido apenas 
na condição de aprendiz. Mesmo tratando-se de informações referentes a períodos 
distintos, nesse município não havia aprendiz, indicando, portanto, que o total das 
crianças e adolescentes ocupados nessa faixa etária encontrava-se em situação 
irregular de trabalho. 
Ainda de acordo com o Censo 2010, na faixa etária entre 16 e 17 anos, 406 
adolescentes estavam ocupados na semana de referência, embora as informações 
da RAIS apontem que nenhum era contratado na condição de aprendiz. É importante 
ressaltar que a aprendizagem não é a única modalidade de ocupação permitida em 
lei para essa faixa etária. Por outro lado, também não é possível afirmar com base 
nesses dados que o restante das pessoas ocupadas nesse grupo esteja contratado 
23 
dentro da legalidade, considerando especialmente as Piores Formas de Trabalho 
Infantil, que são vedadas a menores de 18 anos. 
Conforme dados do Sistema de Informações sobre Focos de Trabalho Infantil 
no Brasil (SITI), do MT, foram realizadas 25 ações de fiscalização no município entre 
jan./2012 e dez/2016. Por meio destas, foram localizadas 4 crianças e adolescentes, 
de 0 a 17 anos, em situação irregular de trabalho, com predomínio para a faixa etária 
de 16 e 17 anos (3). A atividade de Trabalho de manutenção, limpeza, lavagem ou 
lubrificação de veículos... Foi aquela que mais absorveu crianças e adolescentes (3) 
nas atividades da lista TIP (Piores Formas). Além de fornecer dados atualizados, as 
informações do SITI são estratégicas na identificação dos focos de trabalho infantil e 
características das crianças e adolescentes afastadas de situações irregulares. 
 
5. AÇÕES PARA A ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL 
 
Desde a década de 1990, uma série de ações de combate ao trabalho infantil 
foram responsáveis por uma considerável redução do problema. A principal política 
pública do governo federal nessa área é o Programa de Erradicação do Trabalho 
Infantil (PETI), criado em 1996, como resultado da mobilização social. Ele é baseado 
no seguinte tripé: transferência de renda para as famílias de crianças e adolescentes 
em situação de trabalho; atividades de lazer, esportivas, culturais e de reforço escolar 
no contra turno escolar; e ações socioeducativas e de geração de renda para as 
famílias. Em 2005, integrou-se ao Bolsa Família. Outro ponto forte são as ações de 
fiscalização do trabalho, realizadas no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego 
(MTE). De 2005 a 2012, foram mais de 21 mil ações, que afastaram mais de 43 mil 
crianças e adolescentes de situações irregulares de trabalho. 
O MTE também instituiu a Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho 
Infantil (CONAETI) em 2002, formado por diversas organizações governamentais e 
não governamentais. A comissão foi responsável por coordenar a elaboração do 
primeiro e do segundo Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho 
Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente, além de zelar pelo cumprimento 
desses planos, fazer sua avaliação e revisão. 
 
 
24 
5.1 O que ainda pode ser efeito para a erradicação do trabalho infantil 
 
O trabalho infantil é um problema complexo e multifacetado, que requer uma 
série de medidas para ser erradicado, muitas delas gerais e outras específicas para 
cada tipo de atividade. Entre as mais abrangentes, podemos destacar: Melhor 
articulação entre as políticas públicas existentes em diferentes áreas (educação, 
saúde, assistência social, trabalho, direitos humanos, esporte, justiça), e maior 
interação entre os órgãos públicos nos vários níveis da administração, municipal, 
estadual e federal, assim como com a sociedade civil; Educação pública de qualidade 
e em tempo integral para todos e todas, que leve em conta o contexto social e cultural. 
Uma escola atraente, acolhedora, que encante meninos e meninas e promova 
uma educação completa, com atividades esportivas, culturais, de lazer; Atendimento 
permanente às famílias, no sentido de favorecer que elas busquem autonomia, 
qualificação profissional e sejam incluídas em programas de geração de renda; 
Distribuição de renda, por meio do aumento do salário mínimo; Participação de 
crianças e adolescentes nesse debate, consultando-os na tomada de decisões que 
lhes dizem respeito, ouvindo seus anseios e levando em conta suas opiniões na 
elaboração e na avaliação de políticas públicas voltadas a essa faixa etária, com todos 
os devidos cuidados e a proteção necessária; Ações de inserção digna e ativa no 
mundo do trabalho, iniciativas para a transição entre escola e mercado com foco em 
oportunidades de trabalho decente em diversas modalidades (emprego assalariado, 
economia solidária, emprego rural, associativismo, cooperativismo e 
empreendedorismo); Responsabilização de empresas que se beneficiem do trabalho 
infantil em alguma etapa de suas cadeias produtivas. Muitas vezes elas compram dos 
pequenos produtores sem levar em conta as condições dessa produção. Uma das 
medidas nesse sentido pode ser a suspensão do financiamento público a essas 
empresas; Campanhas educativas que desnaturalizem o trabalho infantil, esclareçam 
e sensibilizem a população, mostrando seus malefícios, e busquem provocar uma 
mudança cultural em relação a essa questão. 
 
 
 
 
 
25 
6. DIAGNÓSTICO: ANÁLISE SITUACIONAL DO TRABALHO INFANTIL NO 
BRASIL 
 
A temática trabalho infantil é um desafio para as políticas públicas no Brasil. O 
compromisso internacionalmente assumido na Agenda 2030 exige esforços e ações 
redobradas para eliminar todas as formas de trabalho infantil no país. Apesar de uma 
redução relevante no índice de crianças e adolescentes trabalhando no país, a 
situação permanece crítica. Observando-se os dados recentes da Pesquisa Nacional 
de Amostra de Domicílios (PNAD), elaborada pelo IBGE, o quantitativo de crianças e 
adolescentes identificados como ocupados reduziu nos últimos 23 anos. 
De 1992 a 2015, houve uma redução de 65,62% no número de crianças e 
adolescentes em situação de trabalho infantil. Em números absolutos, isso equivale a 
uma redução de 5.101 milhões de casos (de 7,8 milhões, em 1992, para 2,7 milhões, 
em 2015). Entretanto, ainda há um número elevado de crianças e adolescentes nessa 
situação no país. 
Faz-se necessário, portanto, conhecer o perfil e as características desse 
público, para criar indicadores e estratégias que orientem o combate ao trabalho 
infantil e a proteção ao adolescente trabalhador. Nesse sentido, informações da PNAD 
como escolaridade, idade e cor ou raça propiciam subsídios para elaboração de ações 
e/ou políticas de trabalho decente e para a eliminação das piores formas de trabalho 
infantil. 
É importante ressaltar que as atuais informações estatísticas analisadas neste 
plano são baseadas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – 
PNADC 2016. Oconceito de “trabalho infantil” foi modificado nessa PNADC para 
adequá-lo a padrões internacionais. Isso ocasionou alteração substancial no número 
de crianças e adolescentes em trabalho infantil em relação à PNAD 2015, que utilizava 
a antiga metodologia. Tal alteração tem, pois, fundamento na mudança de 
metodologia, uma vez que, em 2015, o IBGE encerrou uma série histórica do 
Informativo de Trabalho Infantil, buscando aproximar os dados estatísticos brasileiros 
dos parâmetros internacionalmente divulgados. 
Nesse sentido, no relatório de apresentação da PNADC 2016, divulgado pelo 
IBGE, uma parcela dos dados, antes considerados como trabalho infantil até a PNAD 
2015, passou a ser apresentada como “outras formas de trabalho”, o que inclui a 
categoria: “produção para próprio consumo”. Portanto, para fins estatísticos deste 
26 
Plano, serão considerados não somente os dados da categoria “trabalho infantil”, 
assim definido pelo IBGE, mas também a população de crianças e adolescentes na 
categoria “produção para próprio consumo”, uma vez que, neste Plano, busca-se a 
erradicação do trabalho infantil, tal como aqui conceituado. 
Nessa perspectiva, no Brasil, em 2016, segundo dados da PNAD Contínua, de 
um total de 40,1 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos, 1,8 milhões 
estavam no mercado de trabalho. Isso significa dizer que a taxa de trabalho infantil no 
Brasil, em 2016, era de 4,6%. Porém, considerando a “produção para o próprio 
consumo”, 716 mil crianças de 5 a 17 anos também realizaram trabalhos. Destaca-se 
que, para fins deste Plano, 2 milhões 390 mil crianças aproximadamente estavam no 
mercado de trabalho, o que implica uma taxa de trabalho infantil de 5,96%. 
Sobre a tabela 1(em anexo), vale explicar que a soma dos números da coluna 
de crianças e adolescentes ocupados com os números da coluna “próprio uso” não 
coincidem com o quantitativo da coluna “todos em trabalho infantil”. Isso se deve ao 
fato de que há intersecção entre os dados, uma vez que uma mesma criança, segundo 
questionário do IBGE, poderia se enquadrar tanto na situação de ocupação quanto na 
de próprio uso. 
Dito isso, vale destacar que a tabela 1(em anexo) demonstra que, dentre os 
adolescentes de 16 e 17 anos, 1,3 milhões estavam em situação de trabalho irregular. 
Ou seja, dos 2.390.846 crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, 
57,07% têm 16 ou 17 anos. Por sua vez, de 14 e 15 anos, aproximadamente, 575 mil 
encontravam-se em trabalho infantil em 2016 (24,05%). Já no grupo de 10 a 13 anos, 
eram, aproximadamente, 374 mil (14,51% do total do trabalho infantil se encontra 
nessa faixa etária) e, entre as de 5 a 9 anos, notou-se um quantitativo aproximado de 
104 mil crianças em trabalho infantil (4,35%). 
Do total de crianças e adolescentes que estavam no mercado de trabalho em 
2016, 36% (aproximadamente, 839 mil) eram mulheres e 67% (aproximadamente, 1,5 
milhões) eram homens, como ilustra o gráfico 2 (em anexo): 
Cabe ainda ressaltar que, em uma análise das regiões do Brasil, verifica-se que 
o Nordeste tem a maior proporção de trabalho infantil: 33% das crianças e 
adolescentes que trabalhavam em 2016 (aproximadamente, 356 mil). Logo em 14 
seguida, destaca-se a região Sudeste com 28,8% (aproximadamente 689 mil). 
Ao fazer um recorte do cenário anterior, para que se analise somente o caso 
das crianças e adolescentes entre 5 e 13 anos, o Nordeste ainda se mantém como 
27 
foco do trabalho infantil, uma vez que concentra 41,2% (aproximadamente 186 mil) da 
população dessa faixa etária que trabalhava em 2016. Entretanto, ao contrário do que 
ocorre no cenário anterior, em vez do Sudeste (19,8% - 89 mil aproximadamente), o 
Norte passa a ser o foco do trabalho infantil nesse grupo etário (23,5% - 
aproximadamente 106 mil). O Gráfico 3 (em anexo), ilustra esta diferença. 
 
 
7. O COMPROMISSO BRASILEIRO NA ERRADICAÇÃO DO TRABALHO 
INFANTIL 
 
O Brasil se comprometeu com a comunidade internacional a eliminar as piores 
formas de trabalho infantil até 2016 e a erradicar a totalidade dessa prática até 2020. 
É signatário dos seguintes tratados, que dispõem sobre o combate ao trabalho infantil: 
Convenção da ONU sobre os Direitos das Crianças: Estados-Partes devem 
garantir o direito da criança a não ser explorada e não desempenhar qualquer trabalho 
que a coloque em risco. Convenção 138 sobre a Idade Mínima de Admissão no 
Emprego da Organização Internacional do Trabalho (OIT): todo Estado- membro 
se compromete a abolir o trabalho infantil e a elevar a idade mínima para a admissão 
de jovens em empregos. Convenção 182 sobre Proibição e Ação Imediata para a 
Eliminação das Piores Formas de Trabalho Infantil da OIT: todo Estado-membro 
deve garantir a eliminação das piores formas de trabalho infantil. 
 
 
7.1 Como proteger a criança do trabalho precoce? 
 
Antes de tudo, por meio da educação universal e de qualidade, principal 
instrumento de combate à exploração do pequeno trabalhador. Como cidadãos, 
precisamos exigir a implementação de políticas que garantam cada vez maior acesso 
às escolas públicas de qualidade. 
Os programas sociais paliativos de distribuição de renda não preenchem 
integralmente esse vazio e podem provocar a saída das crianças de suas casas, para 
buscarem o sustento que seria, numa sociedade equilibrada economicamente, de 
responsabilidade de seus pais. Dispomos de instrumentos suficientes, tanto na 
legislação brasileira como nas normas do direito internacional, para enfrentar essa 
28 
grave chaga social. Se antes a criança só era objeto de preocupação do Direito 
quando se achava em situação irregular – ou por ter cometido ato infracional, ou por 
abandono, colocação em situação de vulnerabilidade – hoje ela é titular de direitos, 
sempre. Vem daí a necessidade de proteção integral e prioritária, que lhe deve a 
sociedade como um todo, não apenas o Estado ou a família. 
De um lado, pela cultura da não autorização para o trabalho antes dos 14 anos. 
De outro, pela rigorosa análise das situações de aprendizagem, com vistas a 
desmascarar as situações de exploração mediante fraude, com aparência de bom 
direito. 
Impor condenações severas, que correspondam à gravidade do problema 
social, quando nos defrontarmos com ações em que se postulam indenização e 
reparação dos danos causados pela exploração indevida de crianças e pelo 
desrespeito à formação dos adolescentes. 
 
 
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O trabalho infantil é uma violação dos diretos humanos, uma vez que, na 
infância se desenvolve a criatividade, e obrigar crianças e adolescentes a trabalhar 
significa impedi-las de desenvolver a capacidade de criar, limita a sua utilização do 
tempo entre lazer e escola, condições essenciais para a garantia de seu o pleno 
desenvolvimento para a vida adulta. No entanto, o que se verifica é que ainda há uma 
longa caminhada para a erradicação do trabalho infantil. No Brasil ainda existe um 
contingente de 3,6 milhões de crianças e adolescentes em situação de trabalho, sendo 
que a maior parte desse contingente está localizada na região Nordeste (35,0%) ou, 
em números absolutos, igual a 1.284.123) e, na Bahia, 363 mil. 
Infelizmente, o trabalho infantil ainda persiste em nosso país, o que reflete 
prejuízos à saúde das crianças e adolescentes, que estão muito mais expostas à 
riscos que o ambiente laboral pode trazer em relação a um adulto, justamente em 
razão de estarem passando por um processo de desenvolvimento. Além do mais, 
diversos problemas podem ser ligados à incidência do trabalho infantil como baixa 
escolarização, ou escolarização insuficiente, pouca ou inexistente profissionalização, 
doenças, problemas osteomusculares, problemas psicológicos... Sob esse prisma,a 
29 
prevenção e erradicação do trabalho infantil se caracterizam como princípio e direito 
fundamental do trabalho. 
Ao lado disso, ao longo da história o arcabouço jurídico brasileiro construído 
em relação ao tema do trabalho infantil evoluiu gradativamente. Porém, se percebe 
que as normas jurídicas não conseguem surtir efeitos sozinhas como se pretendia ao 
prescrevê-las. Nesse sentido, que se busca como instrumento efetivo de combate e 
erradicação do trabalho infantil políticas públicas intersetoriais, as quais devem surtir 
efeitos nos mais diversos campos como saúde, educação, serviço social, e o direito. 
Nesse sentido, o direito da criança e do adolescente possui um potencial que 
abarca uma visão multidisciplinar e democrática, uma vez que, necessita da 
participação dos diversos atores sociais. Além do mais, o Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA), aliado a Constituição Federal, atribuem responsabilidade 
compartilhada ao Estado, à família e à sociedade em relação a efetivação dos direitos 
das crianças e adolescentes. 
No Brasil, existem os programas de transferência condicionada de renda, como 
o Programa Bolsa Família – PBF, que exige das famílias, dentre outras contrapartidas, 
a frequência escolar e a não ocorrência de trabalho infantil e o Programa de 
Erradicação do Trabalho Infantil - PETI, que também é um programa de transferência 
de renda, que repassa à família uma bolsa/renda mensal para que a criança e/ou o 
adolescente, retirados do trabalho, frequentem a escola e sejam incluídos em 
atividades socioeducativas e de convivência. Neste último caso, há uma 
intencionalidade bastante específica, que é a retirada do trabalho e a substituição da 
remuneração recebida pela criança. 
Assim, se vê potencial nas políticas públicas educacionais, como instrumentos 
eficientes para combater a exclusão e garantir a cidadania, de fato e de direito das 
crianças e adolescentes. Devendo, contudo, contar com a participação do Estado, da 
sociedade, da família, e da iniciativa privada. 
Infelizmente, ainda é impossível, no contexto atual, a erradicação da 
exploração do trabalho infantil, pois a mesma tem origem no atroz sistema capitalista. 
A luta das Nações Unidas, da Comissão dos Direitos Humanos, bem como das 
políticas de governos pela erradicação da pobreza e miséria extrema, igualdade social 
e paz mundial não passa de uma utopia. Mas a luta continua, porque acima de tudo 
somos seres humanos e quando se trata de uma criança, o sangue ferve diante das 
injustiças, pois são sujeitos de direitos, dignas de proteção e respeito. 
30 
Com essa pesquisa foi possível analisar a situação do trabalho infantil no Brasil, 
identificando as causas e consequências do mesmo na vida de crianças e 
adolescentes. Dessa forma, pode-se afirmar que o objetivo proposto foi alcançado, 
pois nos foi permitido, com esse trabalho, conhecer um pouco mais a fundo a 
problemática e, com isso, obter argumentos pautados na lei para proteger as crianças 
e adolescentes que se encontram em situação ilegal de trabalho. 
Em suma, esse trabalho tem relevância social e acadêmica na medida em que 
apresenta uma visão sobre o trabalho infantil no Brasil e fornece informações 
importantes sobre os vários problemas que isso acarreta na vida de crianças e 
adolescentes vítimas desse contexto. O mesmo pode servir como subsídio para 
educadores, assistentes sociais, pais e responsáveis na busca de soluções para essa 
problemática. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA - ANDI. Piores formas de 
trabalho infantil. Um guia para jornalistas. In: OIT – Secretaria Internacional do 
Trabalho. 1 ed. Brasília. 2007, p. 17-18. Disponível em: 
<http://www.andi.org.br/publicacao/piores-formas-de-trabalho-infantil-um-guia-para-
jornalistas>. Acesso em: 10 set. 2019. 
 
ASSEMBLEIA DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração dos Direitos da Criança. 
Brasil. 20 de novembro de 1959. Disponível em: 
<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Crian%C3%A7a/declaracao-dos-
direitos-da-crianca.html>. Acesso em: 15 set. 2019. 
 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 13 
set. 2019. 
 
BRASIL, Consolidação das leis Trabalhistas, 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2004; 
 
BRASIL, Constituição Federal, 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2002; 
31 
 
BRASIL. Lei Federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. ECA _ Estatuto da Criança e 
do Adolescente. 
 
MARÇURA, Jurandir Norberto; CURY, Munir; DE PAULA, Paulo Afonso Garrido. 
Estatuto da Criança e do Adolescente Anotado. 3º Ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2002; 
 
TAVARES, José de Farias. Direito da Infância e da Juventude. Belo Horizonte: Del 
Rey, 2001; 14 
 
VIANNA, Guarani de Campos. Direito Infanto Juvenil: Teoria, prática e aspectos 
multidisciplinares. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2004; 
 
GADELHA, Graça. Sistema de Garantia de Direitos. Projeto Cata Vento: 
OIT/Instituto Aliança, 2010. 
 
Cartilha Saiba Tudo Sobre o Trabalho Infantil – Ministério do Trabalho e Emprego. 
Disponível em: http://portal.mte. 
gov.br/data/files/8A7C812D307400CA013075FBD51D3F2A/trabalhoinfantil-mte- 
web.pdf 
 
SILVEIRA, Luciana. Guia passo a passo: prevenção e erradicação do trabalho 
infantil na cidade de São Paulo / Luciana Silveira. —— São Paulo: Associação 
Cidade Escola Aprendiz, 2019. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://portal.mte/
32 
 
ANEXOS 
 
FIGURA 1 – Mapa da localização do Município de Capim Grosso 
 
 
Fonte: IBGE, 2010 
 
FIGURA 2 – Informações básicas de referência sobre crianças e adolescentes 
ocupados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
224 
 11,1% 
207 
21% 
432 
14,4%
% 
53,4%
% 
46,6%
% 
33 
FIGURA 3 – Centros socioassistenciais do município de Capim Grosso- BA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIGURA 4 - Crianças e adolescentes ocupados e número de aprendizes 
 
 
 
 
 
 
 
FIGURA 5 – Ações fiscais do Ministério do Trabalho e Previdência Social. 
 
 
 
 
 
1 
1 
0 
0 
0 
0 
207 406 
0 0 
25 4 
34 
GRÁFICO 1 – Redução do quantitativo de crianças e adolescentes ocupado no 
Brasil entre 1992 e 2015. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: IBGE – Série Histórica Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD -1992-2015). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
GRÁFICO 2 – Distribuição de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos por sexo 
- Brasil 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: IBGE – PNAD Contínua 2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
FIGURA 6 - Panorama Brasil Trabalho Infantil – Crianças e Adolescentes de 5 
a 17 anos por região. 
 
 
 
 
 
 
 
 
14,9% 
7,2% 
33% 
28,8% 
16,1% 
Fonte: IBGE – PNAD Contínua 
2016 
 
 
 
 
 
 
37 
GRÁFICO 3 – Distribuição de crianças de 5 a 13 anos em Trabalho infantil por 
região 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: IBGE – PNAD Contínua 2016

Continue navegando