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Módulo 1 – A economia política como gênese das Ciências Econômicas: a análise de textos primários e o papel dos comentadores. Texto 1 Em primeiro lugar, quando as ciências econômicas passam a existir como área específica do conhecimento e do saber? É geralmente aceito pelos economistas que a economia ganha corpo e musculatura com o advento da Revolução Industrial e com o desenvolvimento dos mecanismos de mercado de formação de preço e alocação dos recursos de produção. Seu estatuto de ciência é estabelecido já no século XIX e, desde então, economistas debatem incansavelmente sobre seu objeto de estudo, sua metodologia, seu campo de atuação e seus limites, o que só demonstra a vitalidade e a energia desse corpus científico. Em segundo lugar, os atos econômicos precedem a existência da economia como ciência. Do ponto de vista antropológico, o ser humano vem estabelecendo relações de troca com seu grupo e com a natureza desde sempre, assim o fazendo, em parte, para garantir as condições materiais necessárias à sua sobrevivência. Havia, em período anterior ao século XVIII (data que marca o nascimento da economia), atividade econômica, e sobre ela foram escritas obras e realizados estudos. Por que, então, entender que a economia investiga uma determinada forma de organização econômica, qual seja, aquela que resulta das relações existentes no mercado? Uma resposta possível é que, apenas a partir do nascimento da economia de mercado tornou-se possível falar em atos econômicos com interesses e objetivos essencialmente econômicos; as relações sociais passaram a ser explicadas em função de um sistema econômico organizado. Antes disso, seriam as relações sociais as variáveis explicativas das formas de produção material. Do ponto de vista histórico afirma-se que a humanidade conseguiu resolver os problemas de produção e distribuição de apenas três maneiras. Ou seja, dentro da enorme diversidade das instituições sociais que guiam e dão forma ao processo econômico, o economista descortina apenas três tipos abrangentes de sistemas que, separadamente ou em combinação, habilitam a humanidade a resolver seu desafio econômico. Esses três grandes tipos sistêmicos podem ser designados como economias governadas pela Tradição, pelo Mando e pelo Mercado, na visão de Robert Heilbroner em seu A construção da sociedade econômica . I Antes da economia de mercado, o chefe de família provê sua prole porque isso é o que a sociedade espera dele. As trocas se realizam não para o lucro, mas para a sobrevivência material. O governo distribui a riqueza para os cidadãos, porque esse é o seu papel. É apenas com o advento do capitalismo que os fatores de produção (mão de obra, terra, conhecimento técnico, capacidade empresarial e dinheiro, entre outros) não apenas se dirigem ao mercado, mas fazem mesmo parte dele. O que fazer, então, com os atos econômicos anteriores às sociedades capitalistas, ou que nelas não estejam inseridos? Normalmente são transferidos, como objeto de estudo, para os antropólogos econômicos, embora essa transição não ocorra de forma tranquila, nem para os economistas tampouco para os antropólogos. Digamos então que, para fins desta disciplina, basta não confundirmos a economia (ciência) com o próprio sistema de mercado. Não há relação de sinonímia entre as duas. Economia é (ou tem a pretensão de ser) a ciência que investiga como fatores escassos de produção são alocados para a produção de bens e serviços que se destinam a saciar necessidades ilimitadas. Economia de mercado, por outro lado, é a maneira pela qual – nas sociedades capitalistas – a reprodução material das sociedades passou a se processar, por meio de instituições orientadas exclusivamente para objetivos econômicos, como os mercados (Cerqueira, 2001). Nestes, o padrão implica a existência de trocas que produzam preços, ou seja, “trocas realizadas como resultado de barganha, de uma negociação, em que cada parte é livre para buscar sua vantagem e não tem que se submeter, por exemplo, a preços preestabelecidos por algum agente regulador externo” (ibidem, p. 400). Texto 2 Portanto, compreenderemos que, na economia de mercado, toda a organização da produção é confiada aos mercados, que compõem um sistema autorregulado: indivíduos perseguindo apenas seu interesse pessoal ofertam e demandam mercadorias, fazendo com que estes bens alcancem um preço determinado. As decisões sobre o que e quanto produzir serão tomadas como base apenas nos preços informados pelos mercados, que sinalizam as expectativas de ganho em cada processo produtivo. Da mesma maneira, a distribuição do produto depende apenas de preços, já que eles formam os rendimentos de cada indivíduo: aluguel e salários são os preços do uso da terra e da força de trabalho; o lucro é a diferença entre o preço do produto e os preços dos insumos necessários para sua produção. Em resumo, a reprodução material da sociedade depende de que tudo alcance um preço, ou seja, se comporte como uma mercadoria, inclusive a terra e o trabalho (ibidem, p. 402). Em nossa opinião, a economia surge como ciência não apenas porque a estrutura econômica passa a ser a de mercado (quer dizer, porque finalmente há o que se investigar), mas porque as condições do pensamento científico daquele momento permitem que ela, como um saber, se organize de forma sistemática e autônoma, e porque, àquele momento (e, de forma hegemônica, até os dias de hoje), o que se há para investigar são justamente as relações que se estabelecem no mercado. Isso quer dizer que, embora isso acrescente dificuldade à investigação econômica, há que se considerar, porém, que o sistema de mercado em bases capitalistas foi historicamente construído, não sendo “uma entidade acima do tempo e do espaço” (Silveira, 2007, p. 8). Da mesma forma, os pressupostos comportamentais de racionalidade econômica (autointeresse e propensão para o lucro) não são “naturais”, mas socialmente construídos. Finalmente, há economia sem mercado? Apesar de a antropologia ter demonstrado a existência de outras racionalidades socioeconômicas, “é intrínseca à racionalidade econômica moderna, como uma espécie de monopólio epistemológico e moral, a desvalorização dos outros modos de vida diferentes do conduzido pela lei do valor” (ibidem, p. 7). Os economistas não são unânimes na resposta a essa pergunta, mas, a despeito de ser extremamente interessante, esse debate extrapola os limites da nossa disciplina. Assim, assumiremos que, segundo os parâmetros científicos da modernidade, a economia nasceu à época de Adam Smith, no século XVIII, sendo Riqueza das nações um texto fundador, obra que marca “uma mudança na natureza da reflexão sobre os temas econômicos não tanto pela criação de novos conceitos, mas pelo estabelecimento de um novo arranjo dos conceitos, de um novo ponto de vista” (Cerqueira, 2001, p. 397). A compreensão desse entorno conceitual resulta em tarefa de extrema complexidade: se a economia surge por meio do esforço de se distinguir da história, da sociologia, da ética, da filosofia moral e da política, poderíamosser levados a crer que ela não deveria ter qualquer compromisso com essas áreas, especialmente do ponto de vista da delimitação do seu objeto de estudo ou da determinação de sua metodologia de investigação. Módulo 2 – O pensamento de Marx: crítica à economia clássica; mercadoria, valor, valor de uso e valor de troca; trabalho útil e trabalho abstrato. Texto 1 Marx, o mais influente de todos os socialistas, dizia em suas obras que o capitalismo, com suas contradições, chegaria inevitavelmente à sua destruição. Baseando seu estudo da sociedade capitalista numa abordagem metodológica conhecida como materialismo histórico e, focando sua atenção nas relações que determinavam a direção geral dos movimentos dos sistemas sociais, “procurou simplificar as complexas relações de causa e efeito que interligavam as múltiplas facetas dos sistemas sociais, isto é, a teia de idéias, leis crenças religiosas, códigos morais, instituições econômicas e sociais presentes em todos os sistemas sociais” (HUNT & SHERMAN, 1992: 91/92). Marx afirmava que a base econômica de uma sociedade, ou seu modo de produção, que era composto pelas forças produtivas e pelas relações de produção, exercia influência poderosa sobre todas as instituições sociais. Identificando também quatro modos de produção (comunismo primitivo, escravismo, feudalismo e capitalismo), em todos eles apontava contradições entre as forças produtivas e as relações de produção, que se manifestavam sob a forma de luta entre suas respectivas classes sociais. Porém, “duas características essenciais diferenciavam o capitalismo dos outros sistemas econômicos: (a) a separação do produtor dos meios de produção, dando origem à classe de proprietários dos meios de produção, ou seja, capitalista, e uma classe de trabalhadores que se distinguia da outra classe por ter sua força de trabalho por ela controlada e explorada; (b) a infiltração do mercado, ou do nexo monetário, em todas as relações humanas, tanto na esfera da produção, quanto na esfera da distribuição” (HUNT & SHERMAN, 1992: 94) Influenciado pela teoria do valor de Adam Smith e de David Ricardo, procura refinar tais teorias para seu tempo, interessado em explicar a natureza da relação social entre capitalistas e trabalhadores. Sua maior crítica será com os clássicos Malthus e Say, principalmente, por entender que para aqueles faltava perspectiva histórica vez que não conseguiam entender que a produção é uma atividade social. Tinham dificuldades em separar/diferenciar características específicas da produção capitalista de outros modos de produção. O que estudava a economia política, até então? A economia política da época estava preocupada somente com as trocas, reduzindo todos os fenômenos econômicas à trocas. Portanto, a troca era a única relação econômica percebida pelos clássicos. Nesse sistema, de trocas, os indivíduos começam com as mercadorias que possuem, mercadorias essas que têm incorporado um valor: valor de troca, inclusive o trabalho. Para tal escola de pensamento: Trabalho = Valor de Troca =Mercadoria Para a escola clássica, com tal igualdade, desaparece toda e qualquer distorção econômica, social e política entre os homens mas, por outro lado, pode ser considerada como uma igualdade abstrata pois cada indivíduo é um trocador igual a qualquer outro. Não há qualquer diferença. Tal igualdade retrata a economia de liberdade de Adam Smith e sua “mão invisível”. Assim, a principal crítica a ser efetuada por Marx é a não consideração dos efeitos da moeda em tal sistema de trocas. Texto 2 Marx (1996: livro 1, volume I, 44-46) estava interessado em estudar e analisar as mercadorias e a esfera de circulação das mesmas. Acreditava que o valor de troca de uma mercadoria era determinado pelo tempo de trabalho necessário para produzi-la, percebendo também que o tempo de trabalho despendido na produção de uma mercadoria inútil, criaria uma mercadoria cujo valor de troca não corresponderia ao tempo de trabalho englobado nela. No entanto, o desejo de maximizar lucros levaria o capitalista a evitar a produção de mercadorias de baixa procura. Assim, o nível de procura no mercado determinaria que mercadorias seriam produzidas, e em que quantidades. Na análise de Marx, a mercadoria reúne algumas características: 1 – é uma coisa que satisfaz necessidades humanas, tem utilidade. 2 – é depositária material de valor de troca enquanto medida de quantidade. 3 - todas as mercadorias apresentam valor de uso . 4 – todas as mercadorias eram produzidas pelo trabalho humano (elemento comum a todas as mercadorias). Vamos melhor entender os termos grifados. A mercadoria é o mesmo que uma coisa qualquer, desde que tal coisa apresente alguma utilidade. Para Araújo (1989, p. 58), “valor de uso é a capacidade de um bem responder a necessidades específicas” enquanto “valor de troca representa a qualidade de um bem ser equivalente a outro com o qual pode ser trocado.” O que é o trabalho humano? “O trabalho ... que forma a substância do valor é trabalho humano homogêneo, o gasto de uma força de trabalho uniforme” (HUNT, 1982). O trabalho humano será entendido como o trabalho que é despendido por um homem na produção de alguma mercadoria, e trabalho incorporado. Marx aborda dois diferentes tipos de trabalho: trabalho útil (concreto) e trabalho abstrato. O trabalho útil produz valor de uso sendo a causa do valor de uso de todas as mercadorias. Representa suas características específicas com suas qualidades diferenciadoras e particulares. Um artesão trabalha de forma diferente da de um padeiro, que trabalha de forma diferente de um ferramenteiro, que trabalha de forma diferente de um maquinista e assim por diante. Portanto, o trabalho concreto, útil, é produzido pelo homem, força de trabalho. Já o trabalho abstrato, o trabalho que determina o valor de troca representa o gasto da força humana de trabalho. Módulo 3 - O pensamento de Marx: Processo de circulação de mercadorias. Esse módulo apresenta considerações acerca do processo simples de circulação de mercadorias bem como da circulação capitalista. Texto 1 Para Marx, no processo simples de circulação de mercadorias, ou processo não capitalista de circulação da produção, as mercadorias eram produzidas para venda e, como fruto da venda, possibilidade de aquisição de outras mercadorias para uso. Assim, o processo pode ser descrito da seguinte forma: M – D – M O que se entende por tal processo? M, representa a mercadoria. D o dinheiro. Assim, uma mercadoria, ao ser produzida, incorporava valor de troca e seria trocada por certa quantidade de dinheiro. O antigo possuidor da mercadoria, agora possuidor do dinheiro pode utilizar o dinheiro para trocar por qualquer outra mercadoria que achar necessário ou que apresente valor de uso. Portanto, a produção era encarada como fonte de aquisição pois o fruto da produção geraria um processo de trocas. Podemos escrever tal processo com outras letras: Me – Mo –Me onde, Me = mercadoria e Mo – dinheiro, moeda. O resultado de tal processo é o de que: há troca de mercadoria por outra, vez que a moeda também é encarada como mercadoria (que apresenta características específicas e diferentes de todas as outras mercadorias); há circulaçãode trabalho materializado por meio do trabalho concreto incorporado às mercadorias pelo processo de produção; é um sistema baseado no princípio de vender para comprar. No processo de circulação capitalista o tratamento deve ser diferenciado e o processo pode ser descrito da seguinte forma: Mo – Me - Mo Tal processo, em que Mo representa a moeda e Me representa mercadoria, faz mais sentido. Trata-se de transformação de moeda em mercadorias e transformação de mercadorias novamente em moeda ou seja, comprar para vender. Texto 2 No processo de circulação capitalista, a forma Mo, dinheiro, é o desdobramento da forma mercadoria simples, Me, e esta é o gérmen da forma dinheiro. Assim, Marx chega à forma de dinheiro na qual todas as mercadorias têm seu valor representado numa mercadoria de aceitação geral que assume a função de dinheiro. O dinheiro é mercadoria geral que funciona como materialização do trabalho humano abstrato. Mas qual o lugar da mercadoria nessa história? Para Marx, a mercadoria desempenha papel fundamental no sistema de trocas pois, sem elas, o sistema de trocas não acontece. Mas e o papel do dinheiro nesse processo? Também é importante pois sem o dinheiro o processo de trocas também não ocorre. Então, os homens trabalham por dinheiro e, com seu uso, conseguem adquirir as mercadorias que desejam. Nesse aspecto, Marx desenvolve raciocínio peculiar que é o do fetichismo da mercadoria. Em que reside tal raciocínio? Reside em que quando o homem lança-se ao sistema de trocas de mercadorias, como tanto como comprador quando como vendedor, pouco se preocupa com as relações sociais existentes naquele momento e antes desse momento acontecer pois, simplesmente, está preocupado com seu consumo ou sua venda. Mas as mercadorias para serem produzidas, passam por um processo de produção, um processo de organização da produção e, no momento das trocas, desaparece. Assim, entende-se por fetichismo da mercadoria relação material entre pessoas e relação social entre coisas. No modo de produção capitalista, Mo – Me – Mo, a mercadoria torna-se um meio sendo o dinheiro somente o que interessa. Com relação do fetichismo da mercadoria, conforme Feijó (2001, 213), a argumentação de Marx é muito peculiar: “Diz que a mercadoria é uma coisa muito complicada, cheia de sutileza metafísica e manhas teológicas. Os homens trabalham uns para os outros, e o trabalho adquire uma forma social. O trabalho ganha um caráter enigmático quando assume a forma de mercadoria. As relações entre produtores tornam-se relação social entre mercadorias, uma relação existente fora deles, uma relação entre objetos. O complexo de trabalhos privados transforma-se em trabalho social total e o fetichismo adere aos produtos do trabalho.” Para Marx, mercadoria não é sinônimo de produto ou bem. Mercadoria é o produto que se destina à troca no mercado. Uma sociedade que só produz para seu próprio consumo não produz mercadorias, mas bens ou produtos. Uma sociedade que consome o fruto de sua produção não produz mercadorias. Módulo 4 – O pensamento de Marx: mais valia, troca e esfera de circulação. Texto 1 Lembrando do processo de circulação, Mo – Me – Mo, transformação de moeda em mercadorias e a transformação de mercadorias novamente em moeda, tal sistema somente fará sentido numa sociedade capitalista se for repensado. No modo de produção capitalista, os detentores de capital dirigem-se aos mercados para adquirir mercadorias com a finalidade de aumentar o dinheiro inicialmente empregado no sistema de trocas. Assim, o processo de circulação capitalista deve ser reescrito: Mo – Me – Mo’ Onde: Mo = Moeda Me – Mercadoria Mo’ – Moeda Ou então simplesmente podemos escrever que o dinheiro (D) é transformado em mercadoria (M) e que a mercadoria, quando oferecida e vendida nos mais diversos mercados, é transformada em mais dinheiro (D´). Reescrevendo: D – M – D’ Assim, num sistema de trocas capitalista, o dinheiro inicialmente empregado será transformado em mercadoria e, ao ser vendida, gera ao seu possuidor um dinheiro maior do que o anteriormente empregado. Parece fazer mais sentido. D – M – D’ assume a fórmula geral do capital e aparece dentro da esfera de circulação. Entende-se por esfera de circulação o processo de trocas de mercadorias. Portanto, a esfera de circulação ocorre nos mercados. Se em qualquer mercado as mercadorias são trocas por seu mesmo valor, há trocas de valores equivalentes, jogo de soma zero. Se num mercado qualquer determinada mercadoria é trocada por valor abaixo do que o produzido, há ganhos para o comprador e perdas para o vendedor. Se determinada mercadoria é trocada por valor acima do que o produzido, há elevação de poder de troca para o vendedor. Dessa forma, na esfera de circulação existe obtenção de lucros com o capital comercial, ou seja, com o capital que está disponível para trocas comerciais mas não geração de lucros pelo capital Para Marx, na esfera da circulação, onde os agentes compram para vender mais caro, existe somente trânsito de capital dos comerciantes que, para Marx, é “capital parasita”, capital que não gera nada além do que trocas. Esse capital não está envolvido com o processo de geração de lucros, na está envolvido com a esfera da produção que é a fonte geradora de mais valia. Texto 2 É na esfera da produção que está inserido o capital industrial e esse sim é responsável pela geração de mais valia. Conforme Araújo (1986, p.64), “É importante salientar que a mais-valia não é criada na esfera da distribuição. Não é porque o industrial resolve fixar um preço acima do valor para seu produto que ele obtém mais-valia. Num regime de concorrência isto é impossível, porque todo vendedor é também comprador e este industrial não é exceção. Não será só ele que terá esta idéia. E assim o ganho que ele obterá na venda de seu produto será anulado pela perda que ele terá ao comprar produtos de outro. Todos pensarão como ele e os ganhos tenderão a se anular.” Na esfera da produção, para Marx a mais importante, o capital industrial constitui o mecanismo em que a mais valia era criada e expropriada no capitalismo. Para tanto, é necessário entender como o capital industrial se insere no esquema de circulação bem como na esfera da produção. É na esfera da produção que o dinheiro assume a forma de capital. A forma que assume o dinheiro-capital no esquema de circulação torna necessário reescrever o sistema de trocas: D – M . . . P . . . M’ –D’ Onde: D – dinheiro capital inicial investido M – mercadoria representando meios de produção (matéria prima, máquinas e equipamentos, mão-de-obra) P – processo de produção (combinação de todos os fatores de produção utilizadas no processo de produção de mercadorias) M’ – mercadoria acabada pronta para ver vendida D’ – dinheiro capital retirado do mercado por meio das vendas da mercadoria Qual a origem, então, da mais valia? O capitalista adquire um conjunto de mercadorias (M) e vende um conjunto diferente de mercadorias (M’). É na transformação de meiosde produção em mercadoria que surge a mais valia. Módulo 5 - O Pensamento De Marx: Acumulação E Concentração De Capital. Texto 1 Marx, o mais influente de todos os socialistas, dizia em suas obras que o capitalismo, com suas contradições, chegaria inevitavelmente à sua destruição. Baseando seu estudo da sociedade capitalista numa abordagem metodológica conhecida como materialismo histórico e, focando sua atenção nas relações que determinavam a direção geral dos movimentos dos sistemas sociais, “procurou simplificar as complexas relações de causa e efeito que interligavam as múltiplas facetas dos sistemas sociais, isto é, a teia de idéias, leis crenças religiosas, códigos morais, instituições econômicas e sociais presentes em todos os sistemas sociais” (HUNT & SHERMAN, 1992: 91/92). Marx afirmava que a base econômica de uma sociedade, ou seu modo de produção, que era composto pelas forças produtivas e pelas relações de produção, exercia influência poderosa sobre todas as instituições sociais. Identificando também quatro modos de produção (comunismo primitivo, escravismo, feudalismo e capitalismo), em todos eles apontava contradições entre as forças produtivas e as relações de produção, que se manifestavam sob a forma de luta entre suas respectivas classes sociais. Porém, “duas características essenciais diferenciavam o capitalismo dos outros sistemas econômicos: (a) a separação do produtor dos meios de produção, dando origem à classe de proprietários dos meios de produção, ou seja, capitalista, e uma classe de trabalhadores que se distinguia da outra classe por ter sua força de trabalho por ela controlada e explorada; (b) a infiltração do mercado, ou do nexo monetário, em todas as relações humanas, tanto na esfera da produção, quanto na esfera da distribuição” (HUNT & SHERMAN, 1992: 94) Influenciado pela teoria do valor de Adam Smith e de David Ricardo, procura refinar tais teorias para seu tempo, interessado em explicar a natureza da relação social entre capitalistas e trabalhadores. Sua maior crítica será com os clássicos Malthus e Say, principalmente, por entender que para aqueles faltava perspectiva histórica vez que não conseguiam entender que a produção é uma atividade social. Tinham dificuldades em separar/diferenciar características específicas da produção capitalista de outros modos de produção. O que estudava a economia política, até então? A economia política da época estava preocupada somente com as trocas, reduzindo todos os fenômenos econômicas à trocas. Portanto, a troca era a única relação econômica percebida pelos clássicos. Nesse sistema, de trocas, os indivíduos começam com as mercadorias que possuem, mercadorias essas que têm incorporado um valor: valor de troca, inclusive o trabalho. Para tal escola de pensamento: Trabalho = Valor de Troca =Mercadoria Para a escola clássica, com tal igualdade, desaparece toda e qualquer distorção econômica, social e política entre os homens mas, por outro lado, pode ser considerada como uma igualdade abstrata pois cada indivíduo é um trocador igual a qualquer outro. Não há qualquer diferença. Tal igualdade retrata a economia de liberdade de Adam Smith e sua “mão invisível”. Assim, a principal crítica a ser efetuada por Marx é a não consideração dos efeitos da moeda em tal sistema de trocas. Texto 2 Marx (1996: livro 1, volume I, 44-46) estava interessado em estudar e analisar as mercadorias e a esfera de circulação das mesmas. Acreditava que o valor de troca de uma mercadoria era determinado pelo tempo de trabalho necessário para produzi-la, percebendo também que o tempo de trabalho despendido na produção de uma mercadoria inútil, criaria uma mercadoria cujo valor de troca não corresponderia ao tempo de trabalho englobado nela. No entanto, o desejo de maximizar lucros levaria o capitalista a evitar a produção de mercadorias de baixa procura. Assim, o nível de procura no mercado determinaria que mercadorias seriam produzidas, e em que quantidades. Na análise de Marx, a mercadoria reúne algumas características: 1 – é uma coisa que satisfaz necessidades humanas, tem utilidade. 2 – é depositária material de valor de troca enquanto medida de quantidade. 3 - todas as mercadorias apresentam valor de uso . 4 – todas as mercadorias eram produzidas pelo trabalho humano (elemento comum a todas as mercadorias). Vamos melhor entender os termos grifados. A mercadoria é o mesmo que uma coisa qualquer, desde que tal coisa apresente alguma utilidade. Para Araújo (1989, p. 58), “valor de uso é a capacidade de um bem responder a necessidades específicas” enquanto “valor de troca representa a qualidade de um bem ser equivalente a outro com o qual pode ser trocado.” O que é o trabalho humano? “O trabalho ... que forma a substância do valor é trabalho humano homogêneo, o gasto de uma força de trabalho uniforme” (HUNT, 1982). O trabalho humano será entendido como o trabalho que é despendido por um homem na produção de alguma mercadoria, e trabalho incorporado. Marx aborda dois diferentes tipos de trabalho: trabalho útil (concreto) e trabalho abstrato. O trabalho útil produz valor de uso sendo a causa do valor de uso de todas as mercadorias. Representa suas características específicas com suas qualidades diferenciadoras e particulares. Um artesão trabalha de forma diferente da de um padeiro, que trabalha de forma diferente de um ferramenteiro, que trabalha de forma diferente de um maquinista e assim por diante. Portanto, o trabalho concreto, útil, é produzido pelo homem, força de trabalho. Já o trabalho abstrato, o trabalho que determina o valor de troca representa o gasto da força humana de trabalho Esse módulo apresenta considerações acerca do processo simples de circulação de mercadorias bem como da circulação capitalista. Texto 3 Para Marx, no processo simples de circulação de mercadorias, ou processo não capitalista de circulação da produção, as mercadorias eram produzidas para venda e, como fruto da venda, possibilidade de aquisição de outras mercadorias para uso. Assim, o processo pode ser descrito da seguinte forma: M – D – M O que se entende por tal processo? M, representa a mercadoria. D o dinheiro. Assim, uma mercadoria, ao ser produzida, incorporava valor de troca e seria trocada por certa quantidade de dinheiro. O antigo possuidor da mercadoria, agora possuidor do dinheiro pode utilizar o dinheiro para trocar por qualquer outra mercadoria que achar necessário ou que apresente valor de uso. Portanto, a produção era encarada como fonte de aquisição pois o fruto da produção geraria um processo de trocas. Podemos escrever tal processo com outras letras: Me – Mo –Me onde, Me = mercadoria e Mo – dinheiro, moeda. O resultado de tal processo é o de que: há troca de mercadoria por outra, vez que a moeda também é encarada como mercadoria (que apresenta características específicas e diferentes de todas as outras mercadorias); há circulação de trabalho materializado por meio do trabalho concreto incorporado às mercadorias pelo processo de produção; é um sistema baseado no princípio de vender para comprar. No processo de circulação capitalista o tratamento deve ser diferenciado e o processo pode ser descrito da seguinte forma: Mo – Me - Mo Tal processo, em que Mo representa a moeda e Me representa mercadoria, faz mais sentido. Trata-se de transformação de moeda em mercadorias e transformação de mercadorias novamente em moedaou seja, comprar para vender. Texto 4 No processo de circulação capitalista, a forma Mo, dinheiro, é o desdobramento da forma mercadoria simples, Me, e esta é o gérmen da forma dinheiro. Assim, Marx chega à forma de dinheiro na qual todas as mercadorias têm seu valor representado numa mercadoria de aceitação geral que assume a função de dinheiro. O dinheiro é mercadoria geral que funciona como materialização do trabalho humano abstrato. Mas qual o lugar da mercadoria nessa história? Para Marx, a mercadoria desempenha papel fundamental no sistema de trocas pois, sem elas, o sistema de trocas não acontece. Mas e o papel do dinheiro nesse processo? Também é importante pois sem o dinheiro o processo de trocas também não ocorre. Então, os homens trabalham por dinheiro e, com seu uso, conseguem adquirir as mercadorias que desejam. Nesse aspecto, Marx desenvolve raciocínio peculiar que é o do fetichismo da mercadoria. Em que reside tal raciocínio? Reside em que quando o homem lança-se ao sistema de trocas de mercadorias, como tanto como comprador quando como vendedor, pouco se preocupa com as relações sociais existentes naquele momento e antes desse momento acontecer pois, simplesmente, está preocupado com seu consumo ou sua venda. Mas as mercadorias para serem produzidas, passam por um processo de produção, um processo de organização da produção e, no momento das trocas, desaparece. Assim, entende-se por fetichismo da mercadoria relação material entre pessoas e relação social entre coisas. No modo de produção capitalista, Mo – Me – Mo, a mercadoria torna-se um meio sendo o dinheiro somente o que interessa. Com relação do fetichismo da mercadoria, conforme Feijó (2001, 213), a argumentação de Marx é muito peculiar: “Diz que a mercadoria é uma coisa muito complicada, cheia de sutileza metafísica e manhas teológicas. Os homens trabalham uns para os outros, e o trabalho adquire uma forma social. O trabalho ganha um caráter enigmático quando assume a forma de mercadoria. As relações entre produtores tornam-se relação social entre mercadorias, uma relação existente fora deles, uma relação entre objetos. O complexo de trabalhos privados transforma-se em trabalho social total e o fetichismo adere aos produtos do trabalho.” Para Marx, mercadoria não é sinônimo de produto ou bem. Mercadoria é o produto que se destina à troca no mercado. Uma sociedade que só produz para seu próprio consumo não produz mercadorias, mas bens ou produtos. Uma sociedade que consome o fruto de sua produção não produz mercadorias. Módulo 6 - O Pensamento De Marx: Da Acumulação Primitiva À Tendência Ao Declínio Da Taxa De Lucro. Texto 1 Lembrando do processo de circulação, Mo – Me – Mo, transformação de moeda em mercadorias e a transformação de mercadorias novamente em moeda, tal sistema somente fará sentido numa sociedade capitalista se for repensado. No modo de produção capitalista, os detentores de capital dirigem-se aos mercados para adquirir mercadorias com a finalidade de aumentar o dinheiro inicialmente empregado no sistema de trocas. Assim, o processo de circulação capitalista deve ser reescrito: Mo – Me – Mo’ Onde: Mo = Moeda Me – Mercadoria Mo’ – Moeda Ou então simplesmente podemos escrever que o dinheiro (D) é transformado em mercadoria (M) e que a mercadoria, quando oferecida e vendida nos mais diversos mercados, é transformada em mais dinheiro (D´). Reescrevendo: D – M – D’ Assim, num sistema de trocas capitalista, o dinheiro inicialmente empregado será transformado em mercadoria e, ao ser vendida, gera ao seu possuidor um dinheiro maior do que o anteriormente empregado. Parece fazer mais sentido. D – M – D’ assume a fórmula geral do capital e aparece dentro da esfera de circulação. Entende-se por esfera de circulação o processo de trocas de mercadorias. Portanto, a esfera de circulação ocorre nos mercados. Se em qualquer mercado as mercadorias são trocas por seu mesmo valor, há trocas de valores equivalentes, jogo de soma zero. Se num mercado qualquer determinada mercadoria é trocada por valor abaixo do que o produzido, há ganhos para o comprador e perdas para o vendedor. Se determinada mercadoria é trocada por valor acima do que o produzido, há elevação de poder de troca para o vendedor. Dessa forma, na esfera de circulação existe obtenção de lucros com o capital comercial, ou seja, com o capital que está disponível para trocas comerciais mas não geração de lucros pelo capital Para Marx, na esfera da circulação, onde os agentes compram para vender mais caro, existe somente trânsito de capital dos comerciantes que, para Marx, é “capital parasita”, capital que não gera nada além do que trocas. Esse capital não está envolvido com o processo de geração de lucros, na está envolvido com a esfera da produção que é a fonte geradora de mais valia. Texto 2 É na esfera da produção que está inserido o capital industrial e esse sim é responsável pela geração de mais valia. Conforme Araújo (1986, p.64), “É importante salientar que a mais-valia não é criada na esfera da distribuição. Não é porque o industrial resolve fixar um preço acima do valor para seu produto que ele obtém mais-valia. Num regime de concorrência isto é impossível, porque todo vendedor é também comprador e este industrial não é exceção. Não será só ele que terá esta idéia. E assim o ganho que ele obterá na venda de seu produto será anulado pela perda que ele terá ao comprar produtos de outro. Todos pensarão como ele e os ganhos tenderão a se anular.” Na esfera da produção, para Marx a mais importante, o capital industrial constitui o mecanismo em que a mais valia era criada e expropriada no capitalismo. Para tanto, é necessário entender como o capital industrial se insere no esquema de circulação bem como na esfera da produção. É na esfera da produção que o dinheiro assume a forma de capital. A forma que assume o dinheiro-capital no esquema de circulação torna necessário reescrever o sistema de trocas: D – M . . . P . . . M’ –D’ Onde: D – dinheiro capital inicial investido M – mercadoria representando meios de produção (matéria prima, máquinas e equipamentos, mão-de-obra) P – processo de produção (combinação de todos os fatores de produção utilizadas no processo de produção de mercadorias) M’ – mercadoria acabada pronta para ver vendida D’ – dinheiro capital retirado do mercado por meio das vendas da mercadoria Qual a origem, então, da mais valia? O capitalista adquire um conjunto de mercadorias (M) e vende um conjunto diferente de mercadorias (M’). É na transformação de meios de produção em mercadoria que surge a mais valia. Módulo 7 - Teorias imperialistas e sua importância: Hobson e Hilferding Texto 1. Inicialmente, é preciso entender o que se entende por imperialismo. Uma das definições possíveis para essa palavra é a forma de política aplicada por um Estado em relação a outro cujo objetivo é se expandir via dominação territorial ou econômico ou político ou social ou cultural. Esse conceito foi bastante usado entre 1890 e 1914 para exemplificar as práticas militares e culturais que Estados mais fortes econômico e politicamente exerciam sobre Estados que eram independentes politicamentee eram dominados. No início do século XX, 26 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, 93% do território africano, tinham sido colonizado por países imperialistas. A França tinha dominado cerca de 40% desse território (em grande parte no deserto do Saara); a Inglaterra, cerca de 30%, e os 23% restantes tinham ficado com a Alemanha, Bélgica, Portugal e Espanha. No final do século XIX, quase todo o restante do território asiático estava repartido entre as potências capitalistas europeias. Em 1878, os ingleses dominaram o Afeganistão e colocaram-no sob o governo hindu, que era dominado pela Inglaterra. Em 1907, a Pérsia foi dividida entre a Inglaterra e a Rússia. Em 1887, foi a vez de toda a Indochina ser colonizada pela França. A península e o arquipélago da Malásia (com uma extensão de quase cinco mil quilômetros) foram subjugados e retalhados. Os ingleses tomaram Cingapura e a Malásia, a parte setentrional de Bornéu e o sul da Nova Guiné. A outra parte da Nova Guiné ficou subjugada aos alemães e quase todas as demais ilhas (uma área equivalente a dois milhões de quilômetros quadrados) ficaram com os holandeses. O imperialismo norte-americano também avançou bastante naquele período. Na primeira guerra mundial, eles invadiram e dominaram a Samoa, a Ilha Midway, o Havaí, Porto Rico, Guam, as Filipinas, Tutuíla, Cuba, República Dominicana, Haiti, Nicarágua e a Zona do Canal do Panamá. O economista inglês John Atkinson Hobson foi o primeiro de forma sistemática as características do imperialismo. Segundo esse autor, esse período corresponde à passagem do capitalismo concorrencial – período marcado principalmente na primeira metade do século XIX - para o capitalismo monopolista, ou seja, da passagem do século XIX para o XX. Essa fase seria marcada por novas características do sistema capitalista. Esse estágio teria sido marcado pela crescente concentração do capital, pelo monopólio das patentes, pelo poder de monopsônio sobre os mercados de trabalho e de matérias-primas. Hobson analisou o período a partir dos relatórios oficiais do governo britânico. O material coletado estava embasado em fatos e dados territoriais e populacionais. De acordo com o levantamento dele, principalmente a partir de 1870, várias nações europeias dominaram colônias na África e na Ásia, sob diferentes formas de domínio. Assim, podemos definir o termo imperialismo como uma submissão de uma colônia ao poder da metrópole como forma de absorção política de terras, subjugando trabalhadores, industriais e comerciantes aos mandos do império. Texto 2 Rudolf Hilferding nasceu em Viena, Áustria, em 10 de agosto de 1877. Após estudar – obteve o título de doutor em 1901 - e exercer a atividade da medicina até aproximadamente 1906, Hilferding que também se dedicava a estudar economia desde a juventude, começou a escrever estudos econômicos. Já, a partir de 1902, era colaborador na área econômica do jornal Die Neue Zeit , principal jornal dos pensadores marxistas na época. Ficou bastante conhecido após publicar, em 1904, uma réplica à crítica do austríaco da escola marginalista Böhm-Bawerk à análise da economia política de Marx. Em 1910, Hilferding publicou “O capital financeiro” com o intuito de resgatar diversos problemas citados por Marx em O capital , mas que não tinham sido atualizados diante da nova dinâmica capitalista naquele momento. Esse estudo foi concebido como um desenvolvimento da teoria de Marx diante das mudanças ocorridas na economia capitalista. De acordo com a introdução da obra, ela estava centrada na análise econômica da fase capitalista e não exatamente na análise pormenorizada do imperialismo. Novos conceitos e formulações foram elaborados a partir da análise inicial do autor sobre dinheiro e crédito. Em seguida, investigou sobre o crescimento das sociedades anônimas, dos cartéis e dos trustes, identificando a particularidade do capitalismo do início do século XX, que tendia a monopolizar o mercado. Após isso, concentrou-se no estudo das crises econômicas e, por final, descreveu uma teoria do imperialismo. Na investigação sobre o surgimento e a expansão das sociedades anônimas, Hilferding destacou temas importantes como o processo crescente de concentração e centralização de capital nas grandes empresas, a formação de carteis e trustes, o papel dos bancos – que também passavam pelo processo de expansão e fusão – na formação das grandes empresas monopolistas. A partir disso, o autor explorou os efeitos econômicos e políticos relacionados às transformações na estrutura da economia capitalista. A fusão do capital industrial, diante do processo de concentração e centralização, com o capital bancário constituiu aquilo que Hilferding cunhou o termo o capital financeiro . A consequência desse processo seria a formação de oligopólios e a diminuição da concorrência no mercado interno, resultando numa tendência de aumento de preços. O autor chama a tenção para o caráter improdutivo do movimento de ações, pois o movimento da ação enquanto um título de rendimento já não o mesmo que o movimento do capital – industrial que na concepção de Marx passava pelo D – M – D’ – mas apenas compra e venda de títulos de rendimento que buscam se valorizar, sem necessariamente passar pelo mundo da produção. As oscilações dos preços das ações não afetam diretamente o capital industrial realmente ativo, ou seja, aquele disponível para realizar investimento produtivo. Hilferding exemplificou esse processo, então vejamos como o lucro do fundador aparece com um exemplo adaptado à nossa realidade: Digamos que uma empresa brasileira tenha um capital de R$ 1 milhão em estrutura produtiva. Suponha também que a taxa de lucro seja de 15%, ou seja, de um capital de um milhão, o lucro seria de R$ 150 mil. Agora vamos imaginar quanto seria necessário de capital para garantir esse lucro. Esse lucro se aplicado em algum título que remunere a taxa de juros anual de 5%, teremos que ter R$ 3 milhões. Se você quiser checar, basta fazer uma regra de três simples: se 5% está para R$ 150.00, então x está para 100%. A partir dessa conta, você chegará nos R$ 3 milhões. Digamos que essa aplicação tenha um certo risco e que a instituição bancária queira pagar algo por precaução, ou seja, a instituição paga um prêmio de risco de 2% e cobra uma taxa de administração de R$20.000. Então, agora o lucro disponível para ser aplicado será reduzido dos R$ 20.000, resultando em R$ 130.000 que serão remunerados a uma taxa de rendimento de 7% (5% de taxa de juros mais 2% de prêmio de risco). Fazendo novamente a regra de três simples, temos um capital que será distribuído na forma de ações de R$ 1,9 milhão. Observe que, para gerar um lucro de R$ 150mil, foi necessário um capital de R$1 milhão. Em relação aos R$1,9 milhão levantados com a venda de ações, quando a empresa abriu seu capital, sobram R$ 900 mil (R$ 1,9 milhão menos R$ 1 milhão) que agora estão liberados para serem aplicados pelo empresário, pois o capital industrial se transformou em capital portador de juros ou de dividendos (no caso de ações). Esse R$ 900 mil representam a diferença entre um capital que gera um lucro de 15% e a mesma quantia que remunera a 7%. Esse R$ 900 mil nada mais é que o lucro do fundador, ou seja, o resultado da transformação do capital gerador de lucros em capital portador de juros. O autor enfatizou que o lucro do fundador não é nenhuma fraude ou indenização, mas uma categoria econômica suis generis. Mòdulo 8 - Teorias imperialistas e sua importância: Luxemburg e Lenin. Texto 1 Rosa Luxemburg nasceu em 5 de março de 1870 no vilarejo Zamosc, Polônia, que estava sob domínio da Rússia czarista. A família judia mudou-se para Varsóvia para proporcionar melhores estudos aos filhos. Ainda muito jovem, Rosa fazia resistência na escola por conta do número limite de estudantes judeus que a escola aceitava. Em 1889,ela já na militância política, foi para o exílio em Zurique, Suíça. No exílio, militou nos movimentos suíço e polonês, de forma bastante combativa. (SINGER, 1985) Em 1899, publicou o livro “ Reforma ou revolução?” que era um conjunto de artigos sobre o debate que ela havia estabelecido com Eduardo Bernstein, cuja tese era que o capitalismo se desenvolvia com diversos mecanismos de adaptação de maneira a evitar crises futuras e, portanto, os movimentos socialistas deveriam rever suas táticas. Ele ficou conhecido como um revisionista que propunha pequenas mudanças de maneira a melhorar as condições de vida da classe trabalhadora. A tese de Rosa era que a luta proletária prepararia as condições para a revolução e que a evolução do capitalismo o levaria à sua própria destruição. Era dirigente da ala de esquerda do Partido social-democrata alemão e militou também na formulação da revolução russa de 1905 ao lado de Lênin, Trotsky e Parvus. Ela se opunha à tática de greve de massa como arma revolucionária, entre outros motivos, destaca a aliança entre o proletariado e o campesinato, pois esse segundo, de acordo com a pensadora, era pequeno-burguês, defendendo a propriedade privada da terra e a economia de mercado. Em 1907, Rosa Luxemburg substituiu Hilferding na escola de formação de quadros em Berlim. Ao se deparar com o problema de análise do processo de reprodução ampliada, ela se dedicou a investigar de forma crítica as teorias clássicas e a obra de Marx. Assim, o livro “ A acumulação do capital: contribuição ao estudo econômico do imperialismo ” surgiu como produto desses estudos da autora e foi publicado em 1913. Esse livro constitui uma das obras primas para os que se dedicam a estudar o capitalismo de forma crítica. Nela, Luxemburg buscava popularizar a teoria de Marx, além de superar os esquemas de reprodução d’O Capital de Marx. Mas, ao buscar isso, contribuiu imensamente para a análise da acumulação do capital. O livro começa problematizando a reprodução ampliada, os seus traços gerais e específicos do modo de produção capitalista. Reforça que no capitalismo, a realização não se dá no consumo ou na satisfação de necessidades, como em sistemas anteriores, mas na apropriação da mais-valia, enquanto condição essencial para a acumulação do capital. Então, o limite da expansão capitalista estava centrado na capacidade que a sociedade tem para vender a mais-valia e não na capacidade de extração da mais-valia, ou seja, o que interessa é a conversão da mais-valia em mercadoria realizada ou em moeda. Em A Acumulação de Capital , com base no modelo de dois setores de reprodução capitalista ampliada, de Marx, a autora tinha como propósito apontar que, em uma sociedade dividida em capitalistas e trabalhadores, o crescimento econômico equilibrado seria impossível, conforme as teorias liberais nos mostravam. Então, a autora nos mostrou que, quando ambos os setores crescessem, ou seja, o setor I produzindo os meios de produção e o setor II produzindo os bens de consumo, havia, inevitavelmente, desequilíbrio entre os dois, algo inerente ao próprio funcionamento e desenvolvimento do capitalismo. Particularmente, esse desequilíbrio entre os setores era dado pela impossibilidade da demanda por bens de consumo produzidos no setor II crescer tão depressa quanto a capacidade de produção desses bens, nesse setor. Diante disso, a proposta dela era demonstrar que o capitalismo precisa incessantemente buscar novos mercados não capitalistas, para escoar a produção excedente de mercadorias, pois sem isso os capitalistas poderiam perceber lucros inferiores. Nas primeiras fases do capitalismo, segundo a argumentação dela, havia sobrevivido muitos resquícios da produção não capitalista no interior de todo país capitalista, portanto a expansão capitalista ocorria no interior da própria nação. Portanto, não havia a necessidade de expansão territorial para além das fronteiras nacionais, uma vez que havia condições de explorar as áreas de produção com base em trabalhos artesanais ou na produção em escala reduzida e independente de alguns produtos como na agricultura. Entretanto, à medida que o capitalismo foi se expandindo, essas fontes potenciais de domínio da produção capitalista foi se esgotando. Desse modo, a expansão imperialista para além da fronteira nacional tornou-se mandatória para a continuidade do capitalismo. Texto 2 Em 1970, nasceu em Simbirsk, na Rússia, Vladimir Ilitch Ulianov que mais tarde ficou mundialmente conhecido como Lenin. Desde muito jovem Lenin participava de atividades políticas revolucionárias junto com um dos irmãos, Alexandre Ulianov. Após o irmão ser morto por ordem do czar Alexandre III, Lenin continuou seus estudos e teve contato com as obras de Marx e Engels a partir de Plekhanov, considerado o pai do marxismo russo. E foi estudar direito na Universidade de São Peterburgo. Por conta de suas atividades de militância política, foi preso numa manifestação e, em 1892, traduziu o Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels para o russo. Lenin foi um dos maiores seguidores da obra de Marx e Engels e tinha uma preocupação que era incorporar à prática a base teórica. Um de seus jargões mais conhecido é “sem teoria revolucionária, não há prática revolucionária”. Em 1893, mudou-se para São Petersburgo e, posteriormente, fundou a Liga da Luta pela Emancipação da Classe Operária. Em dezembro de 1895, ficou preso por quatorze meses por conspirar contra Alexandre III. Após isso, a partir de fevereiro de 1897, ficou exilado na Sibéria. Sua primeira obra sobre a realidade russa foi “O desenvolvimento do capitalismo na Rússia”, publicada em 1899. Após esse exílio, em 1900, Lenin foi para Munique, fundou o jornal Iskra – publicação Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR) - junto com Martov. Em 1902, mudou-se para Londres. É neste mesmo ano que ele publicou “ Que fazer? ”, uma obra de cunho principalmente político em que o autor propõe um novo tipo de partido revolucionário. Após isso, ele passou a liderar a ala bolchevique ("maioria", em russo) contra os mencheviques ("minoria"). Após um interregno em Genebra, entre 1903 e 1905, ele voltou à Rússia para participar da Revolução de 1905 como grande líder. Em 1906, foi eleito presidente do POSDR, porém precisou se exilar diante das perseguições czarista contra a revolução. Em 1917, ele volta ao seu país e cooperou na liderança da revolução de outubro. Em 1917, ele publicou “ Imperialismo, fase superior do capitalismo ”. Nesta obra, o autor resgatou os escritos de Marx para analisar o capitalismo no seu tempo. Assim como Marx, Lenin buscou expor a estrutura e a dinâmica de funcionamento do capitalismo, seja na esfera da produção como na da circulação. No prefácio da edição russa, Lenin advertiu que a obra foi escrita no primeiro semestre de 1916 sob censura czarista, portanto, diante tal limitação política e material, a obra faria uma análise exclusivamente teórica e, principalmente, econômica do fenômeno daquele momento. Ademais, chamou a atenção para a influência que Hobson exercera sobre sua interpretação. O objetivo de Lenin era elucidar os fundamentos econômico-sociais do imperialismo e explicitar a sua particularidade histórica. Um destaque importante foi colocar o imperialismo como uma fase histórica particular do desenvolvimento capitalista, cuja origem estaria em torno de 1880. De acordo com autor, houvera muitas formas de imperialismo na história, mas esse era um imperialismo particular, um imperialismo capitalista. É notável considerar que a fase imperialista, além de preservar o conteúdo fundamental do capitalismo, elevou as suas contradições a um novo e mais elevado nível, gerando violência e guerra. Para ele, o imperialismo era o estágio mais recente do capitalismo naquele momento e os cinco traços fundamentais eram: ● Concentração da produçãoe do capital – com papel decisivo na dinâmica econômica; ● Fusão do capital bancário e do capital industrial – formação de uma “oligarquia financeira”; ● Exportação de capitais (diferente da simples exportação de mercadorias); ● Formação de associações monopolistas internacionais; ● Partilha territorial do mundo entre potências capitalistas (as mais importantes). No primeiro capítulo, “A concentração da produção e os monopólios”, o autor, assim como Hobson, inicia o capítulo tratando do processo capitalista de concentração industrial - da produção e do capital - do final do século XIX e início do XX “o enorme aumento da indústria e o processo notavelmente rápido de concentração da produção em empresas cada vez maiores constituem uma das particularidades mais características do capitalismo.” (LENIN, 2012, p.37). A partir de dados concretos estatísticos, ele destacou a situação, principalmente, na Alemanha, nos Estados Unidos da América e nos demais países capitalistas industrializados para explicar o surgimento dos monopólios, dos oligopólios, das estratégias de carteis e trustes. Ademais, o autor destacou, assim como Hobson, Hilferding, a importância dos bancos e do capital financeiro no processo imperialista: À medida que os bancos se desenvolvem e se concentram num número reduzido de estabelecimentos, eles convertem-se de modestos intermediários que eram, em monopolistas onipotentes que dispõem de quase todo o capital-dinheiro do conjunto dos capitalistas e de pequenos patrões, bem como da maior parte dos meios de produção e das fontes de matérias-primas de um ou de muitos países. Esta transformação dos numerosos intermediários modestos num punhado de monopolistas constitui um dos processos fundamentais da transformação do capitalismo em imperialismo capitalista [...] (LENIN, 2012, p.55) Para o autor, essa crescente importância dos bancos, constituindo o capital financeiro, estava relacionada a uma tendência histórica em que os capitalistas tinham se afastado da administração dads tarefas diárias do processo produtivo, entregando essa atividade a uma classe de administradores profissionais. Enquanto isso, os capitalistas constituíam uma classe que progressivamente vivia de rendas, ou seja, parasitária em relação à acumulação de capital industrial. Já a classe dos administradores ficava subjugada à classe capitalista. Era função de alguns capitalistas controlar ou gerenciar essa classe não capitalista de maneira a garantir os interesses dos capitalistas. Quem exercia essa atividade, segundo o autor, era o setor bancário ou financeiro. Portanto, o capital financeiro ao supervisionar os interesses de todos os capitalistas, controlava o capital industrial. Essa seria uma das peculiaridades dessa fase imperialista do desenvolvimento capitalista, o que a tornava distinta da fase anterior concorrencial. Lenin (2012, p. 89) destacou esse processo: É próprio do capitalismo, em geral, separar a propriedade do capital da sua aplicação à produção; separar o capital-dinheiro do industrial ou produtivo; separar o rentista, que vive apenas dos rendimentos provenientes do capital-dinheiro, do industrial e de todas as pessoas que participam diretamente na gestão do capital. O imperialismo, ou domínio do capital financeiro, é o capitalismo no seu grau superior, em que essa separação adquire proporções imensas. O predomínio do capital financeiro sobre todas as demais formas do capital implica o predomínio do rentista e da oligarquia financeira [...]. Nessa fase do capitalismo, a superioridade do capital financeiro era desempenhada pelo domínio de uma rede complexa e interligada de controles sobre as empresas industriais e comerciais. Isso ocorria a partir da propriedade de ações e por intermédio da arquitetura de diretorias interligadas dos bancos com as demais empresas não bancárias. Simultaneamente, desenvolve-se, por assim dizer, a união pessoal dos bancos com as maiores empresas industriais e comerciais, a fusão de uns com as outras mediante a aquisição das ações, mediante a participação dos diretores dos bancos nos conselhos de supervisão (ou de administração) das empresas industriais e comerciais, e vice-versa. (LENIN, 2012, p.68).
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