a prescrição contiver o nome genérico, o farmacêutico pode somente dispensar o medicamento referência ou o genérico. Nesse caso, não pode ser dispensado o medicamento similar. Entre os anos de 1999 e 2014, a única possibilidade de troca (intercambialidade) entre medicamentos era do genérico para medicamento de referência e vice- versa. Com a publicação da RDC n. 58 de 2014 (ANVISA, 2014b), as empresas que detinham registros de medicamentos similares foram autorizadas a registrar esses produtos como similares intercambiáveis aos medicamentos de referência, desde que feitos os testes de equivalência farmacêutica e bioequivalência nos mesmos moldes de como já era realizado com os medicamentos genéricos. Registrado como intercambiável, entra na lista de medicamentos similares e seus respectivos medicamentos de referência (ANVISA, 2014a). Essa lista deve ser consultada pelo farmacêutico no ato da dispensação, para que ele saiba se pode fazer a troca entre o medicamento referência e o similar intercambiável e vice-versa. A troca não pode ser feita caso o médico faça alguma restrição por escrito na receita. Bioequivalência e biodisponibilidade. Esses testes devem ser feitos em centros cadastrados na Rede Brasileira de Laboratórios em Saúde. O teste deve demonstrar que a biodisponibilidade do medicamento genérico/similar (medicamento teste) com a biodisponibilidade do medicamento de referência, de acordo com critérios estatísticos Medidas pós-registro: a empresa deve entregar à Anvisa: Comprovação da distribuição dos três primeiros lotes de fabricação (Anvisa recolhe amostras para controle de qualidade); Resultados e avaliação final do estudo de estabilidade de longa duração dos três primeiros lotes; Relatório de incidência de reações adversas e ineficácia terapêutica, entre outros. Judicialização: ocorre quando o paciente não encontra seu medicamento, insumo ou tratamento e busca seu direito por meio do poder judiciário. É a última alternativa que o paciente tem para que o seu direito à saúde seja garantido, por meio do artigo n. 196 da nossa Constituição Federal: “a saúde é direito de todos e dever do Estado”. Crescimento exponencial nas últimas décadas, aumentando os gastos das três esferas de governo. Esse grande impacto no orçamento causa problemas para a saúde pública, pois fazer a gestão da saúde em um ambiente com muitos gastos extras, não programados, é complexo Muitas das ordens judiciais chegam ao poder público em caráter emergencial. Nessas condições, a compra deve ser feita de forma apressada, não havendo tempo de se fazer, por exemplo, tomada de preços, que é uma modalidade de licitação regida pela lei n. 14.133 de 2021 (BRASIL, 2021). Muitos dos medicamentos são de custo elevado e, com essa compra de forma emergencial, a tendência é que não se consiga bons preços. O Ministério da Saúde tem uma verba anual programada para todos os gastos em saúde e, durante esse período, ocorre um aumento nas demandas judiciais, o resultado é que boa parte do dinheiro é direcionado às demandas judiciais. Portanto a pequena parcela da população com acesso a advogados e com maior renda acaba sendo atendida, porém, esse dinheiro faz falta à outra parcela da população mais carente. Uma maneira de se tentar diminuir a judicialização, foi a instituição da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), que existe desde 2011. Essa comissão assessora o Ministério da Saúde ao recomendar ou não a inclusão de medicamentos, tratamentos etc. ao SUS, em prazo máximo de 180 dias. A decisão da incorporação das tecnologias é feita com base em critérios técnicos, como eficácia, segurança e farmacoeconomia (relação entre custos e eficácia). A Conitec, por meio de seus relatórios, pode qualificar as decisões judiciais e reduzir os impactos da judicialização. O município pode ter que comprar medicamentos de responsabilidade do estado ou do governo federal e vice-versa. Esse é um outro ponto que pode dificultar a gestão dos recursos financeiros. A via judicial acaba se tornando uma alternativa para medicamentos indisponíveis no SUS, mas também para medicamentos que faltam nas unidades de saúde por vários motivos, e que têm relação com algum problema no ciclo da AF: Seleção; Programação; Aquisição; Armazenamento; Distribuição; Dispensação. A União vem aumentando o investimento na compra de medicamentos ao longo dos anos. Em 2008, foram gastos R$ 9,1 bilhões, em 2013, R$ 14,9 bilhões, e, em 2019, R$ 19,8 bilhões. Como consequência, a porcentagem correspondente ao orçamento do Ministério da Saúde também aumentou de 9,9% em 2008 para 14,6% em 2019. Há um aumento no investimento na compra de medicamentos, e um crescimento exponencial de gastos com as demandas judiciais. No início do SUS, década de 1990, as primeiras demandas estavam mais relacionadas à medicamentos para tratamento de HIV/aids. Com o passar dos anos, as demandas foram se modificando e outros medicamentos passaram a ser muito solicitados Em relação às patologias, o maior número de ordens judiciais é para hemofilias (26,6%), câncer (24,9%) e doenças metabólicas (17,5%). Além dos custos diretos da judicialização com a compra de medicamentos, existem os custos indiretos com a estrutura que deve ser montada para atender as ordens judiciais. Há necessidade de farmacêuticos e profissionais administrativos para realizar as compras. A judicialização pode desestruturar a organização e o orçamento público. Os farmacêuticos podem contribuir nessa área, na análise dos pedidos judiciais. Os farmacêuticos podem atuar nas fases pré- processuais, produzindo pareceres técnicos, com o objetivo de sanar o conflito antes da instalação do processo judicial. As áreas de atuação podem ser núcleos de conciliação, secretarias de saúde, CIM e defensoria pública. Também há possibilidade de os farmacêuticos trabalharem no Núcleo de Apoio Técnico (NAT-JUS), na fase processual. O NAT-JUS é uma equipe multidisciplinar ligada ao Poder Judiciário estadual, em que o farmacêutico fornece pareceres técnico-científicos (PTC) para ajudar o juiz de direito a tomar as decisões. Ações dos farmacêuticos na área de judicialização: Busca evidências científicas em fontes confiáveis; Identifica os medicamentos durante o atendimento; Orienta o paciente a acessar o medicamento na rede SUS; Orienta pacientes e prescritores sobre as justificativas que devem ser dadas para medicamentos prescritos fora de protocolos clínicos; Informa o paciente sobre modo de uso, reações adversas e interações medicamentosas; Faz pareceres técnico-científicos (PTC). O farmacêutico, com seu conhecimento técnico, atuando principalmente na fase préprocessual, pode diminuir ou qualificar as demandas. O problema pode ser resolvido apenas com a orientação de onde o paciente pode conseguir o medicamento. Solicitações de medicamentos em que o farmacêutico que trabalha na judicialização atua: Medicamentos integrantes da lista do componente especializado da assistência farmacêutica (Ceaf);Medicamentos pertencentes à Remume; Medicamentos experimentais, off label (uso que não consta em bula), sem registro na Anvisa. O ciclo da assistência farmacêutica compreende as atividades de gerenciamento de medicamentos com os processos de: seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição e utilização, o que inclui a dispensação. Atividades assistenciais estão presentes dentro do processo de dispensação. Dispensação: ocorre a atenção farmacêutica, também denominada de cuidado farmacêutico, o que inclui, além da entrega dos medicamentos, as ações de orientação farmacêutica e acompanhamento farmacoterapêutico