Prévia do material em texto
Educação e Form ação em Tem pos de Pandem ia: deslocam entos e experiências em contextos situados Organização: Carla Figueira de Souza Maria do Socorro Estrela Paixão Marise Marçalina de Castro Silva Rosa O livro Educação e Formação em Tempos de Pandemia: deslocamentos e experiências em contextos situados reúne os estudos investiga- tivos, as vivências e desafios de vários autores e autoras cujos campos de pesquisa se ancoram na formação e práticas docentes com base no contexto mundial contemporâneo. Suas temáti- cas estão fundamentadas por meio do construc- to entre duas áreas do conhecimento educação e saúde que primam pelo percurso formativo docente em sinergia com as Tecnologias Digi- tais da Informação e Comunicação para promo- ver a inclusão/interação ente os sujeitos ensi- nantes/aprendentes. Márcia Regina Barbosa Profª Pós-doutora em Ciências da Educação Professora do DAEPE/Centro de Educação/UFPE A obra “Educação e Formação em Tempos de Pandemia: desloca- mentos e experiências em contex- tos situados” configura-se em uma coletânea de textos escritos e disponi- bilizados por autores pesquisadores no/do campo da Educação vinculados a instituições de educação básica e da educação superior situadas em dife- rentes realidades do nosso país. Os 15 (quinze) capítulos que a com- põem caracterizam-na como uma produção singular, porque, na sua maioria, os trabalhos disponibiliza- dos para a publicação são inéditos e resultado de pesquisas e relatos de experiências de professores. Impor- ta lembrar também que o modo par- ticular de situá-la tem relação direta com o seu nascedouro, ou seja, de uma relação profissional atravessada por uma situação pandêmica e de exposição de quarentenas históricas, sociais, políticas e culturais, em larga escala. O conjunto de textos materializa as inquietações dos autores a respeito das complexas problemáticas que envolvem o ensino não presencial, bem como sobre as condições para a efetivação de práticas educativas em tempos de pandemia da covid-19, que, de forma inesperada, alterou a rotina das pessoas em distintos am- bientes, especialmente o doméstico, já que profissionais, dentre eles, os professores, tiveram que se rein- ventar para conjugar ambiente pri- vado com o ambiente público, en- tender as mudanças e planejar situa- ções comprometidas com a forma- ção de seus alunos. Para tanto, professores e professoras foram desafiados a fazer uso de modo competente das tecnologias digitais da informação e comunicação como meio de encurtar as distâncias entre os colegas e alunos ao compartilha- rem saberes, sentimentos e conheci- mentos em prol tanto da continuida- de do processo ensino-aprendizagem como do de humanização. Por isso, esse conjunto de ideias, de argumen- tos, de análises e de proposições anunciadas no livro gera um convite de um “por de si”, a partir das leitu- ras que serão realizadas. Aurea da Silva Pereira Profª. Drª em Educação Professora Titular da Universidade do Estado da Bahia – (UNEB) capa-educacaoeformacaoemtemposdepandemia-160x230-240521.pdf 1 2021-05-24 16:05:34 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 2miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 2 2021-05-24 16:03:022021-05-24 16:03:02 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 3miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 3 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 Educação e formação em tempos de pandemia: deslocamentos e experiências em contextos situados souza, Carla Figueira (org.) paixão, Maria do Socorro Estrela (org.) rosa, Marise Marçalina de Castro Silva (org.) isbn: 978-65-5943-407-7 1ª edição, março de 2021. Editora Autografia Edição e Comunicação Ltda. Rua Mayrink Veiga, 6 – 10° andar, Centro rio de janeiro, rj – cep: 20090-050 www.autografia.com.br Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem prévia autorização do autor e da Editora Autografia. DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (EDOC BRASIL, BELO HORIZONTE/MG) E24 Educação e formação em tempos de pandemia: deslocamentos e experiências em contextos situados / Organizadoras Carla Figueira de Souza, Maria do Socorro Es- trela Paixão, Marise Marçalina de Castro Silva Rosa. – Rio de Janeiro, RJ: Autogra- fia, 2021. 220 p. : 16 x 23 cm ISBN 978-65-5943-407-7 1. Educação. 2. Pandemia. 3. Prática de ensino. I. Souza, Carla Figueira de. II. Paixão, Maria do Socorro Estrela. III. Rosa, Marise Marçalina de Castro Silva. CDD 371.72 Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 4miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 4 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 SUMÁRIO PREFÁCIO � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 9 APRESENTAÇÃO � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 13 SOBRE OS AUTORES � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �19 Formação Docente e Desafios Digitais A TEMATIZAÇÃO DA PRÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: COMO AS METODOLOGIAS ATIVAS PODEM CONTRIBUIR COM ESSE PROCESSO? � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �41 Hercilia Maria de Moura Vituriano Tyciana Batalha Vasconcelos LUGARES ENUNCIATIVOS EM TEMPOS DE DISTANCIAMENTO SOCIAL: UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO- PESQUISA EM SALA DE AULA VIRTUAL � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 51 Katia Cilene Ferreira França Maria Aparecida da Silva Miranda Maria Claudiane Silva de Souza ENSINANDO NA ADVERSIDADE: O FAZER DOCENTE MEDIADO PELAS TECNOLOGIAS DIGITAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �59 Iracy de Sousa Santos Delcineide Maria Ferreira Segadilha Francinete Soares da Silva miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 5miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 5 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 FORMAÇÃO DOCENTE E A UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS NO DESENVOLVIMENTO DA AÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DA PANDEMIA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 69 Francisca das Chagas dos Passos Silva Alexandrina Colins Martins Clenia de Jesus Pereira dos Santos Vanja Maria Dominices Coutinho Fernandes PEDAGOGIA/PARFOR EM TEMPOS DE PANDEMIA: DESAFIOS DE FORMAÇÃO E INCLUSÃO DIGITAL NOS TERRITÓRIOS URBANOS, QUILOMBOS, POVOADOS E ILHAS � � � � � � � � � � � � � � � � 79 Marise Marçalina de Castro Silva Rosa Natalia Ribeiro Ferreira Carlos Richard Soares Pinheiro A FORMAÇÃO DOS FORMADORES NO PROCESSO DO ENSINO NÃO PRESENCIAL: EXPERIÊNCIAS DE WEBINÁRIOS NA UFMA DURANTE A PANDEMIA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �91 Francimar Oliveira Miranda de Carvalho Naiacy de Souza Lima Costa TRABALHO REMOTO NO CONTEXTO DA PANDEMIA/ COVID-19: CONDIÇÕES E DILEMAS PARA A GESTÃO DA FORMAÇÃO E DOENSINO � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 101 Maria do Socorro Estrela Paixão Thays Silva Baldez Thayslanne Silva Baldez Práticas Pedagógicas em Tempos de Pandemia EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO E TRABALHO DOCENTE EM TEMPOS DE PANDEMIA: O ENSINO REMOTO EM QUESTÃO � � � � � � � � � � � � � � � � � �115 Cristina Cardoso de Araújo Alves Maria Márcia Melo de Castro Martins Maria do Socorro Pinheiro LITERATURA E FORMAÇÃO DOCENTE: EXPERIÊNCIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM TEMPOS DE PANDEMIA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 127 Aldenora Resende dos Santos Neta Leoneide Maria Brito Martins miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 6miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 6 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 DESAFIOS DE APRENDIZAGEM NO PERÍODO PANDÊMICO DA COVID-19: DESIGUALDADES E PERSPECTIVAS � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 137 Anny Ocoró Loango Carla Figueira de Souza Elisandra Barbosa Cabral Maria das Graças Souza Oliveira ABORDAGEM FAMILIAR: A PRECEPTORIA EM MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE NO CONTEXTO DA PANDEMIA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 147 Raphael Lacerda Barbosa Maria do Carmo Lacerda Barbosa Gabriela Cirqueira de Souza Barros Marcia Regina Barbosa FORMAÇÃO CONTINUADA E O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL: IMPOSIÇÕES E POSSIBILIDADES DE “TRANS-FORMAÇÕES” � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 157 Maria do Carmo Alves da Cruz Maria do Socorro Estrela Paixão FAMÍLIA MULTIFACETADA: DESAFIOS DA EDUCAÇÃO REMOTA EM TEMPOS DE PANDEMIA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 167 Aurea da Silva Pereira Anny Karine Matias N. Machado Karla Santos Simões Bastos Macedo ENSINAR E APRENDER PELA PESQUISA: A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ EM TEMPOS DE PANDEMIA � � � � � � 179 Elisangela André da Silva Costa Elcimar Simão Martins Maria Socorro Lucena Lima Maria Marina Dias Cavalcante OS (DES) CAMINHOS DA EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA: CONSTRUINDO ITINERÁRIOS FORMATIVOS NA EDUCAÇÃO BÁSICA E ENSINO SUPERIOR � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 189 Maria José dos Santos Maria Glêciane Maia de Macedo miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 7miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 7 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 8miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 8 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 9 PREFÁCIO O ano de 2020 trouxe consigo muitas questões. Tempos inéditos e de- safiadores, nos quais a humanidade reinventou as suas práticas sociais. A crise sanitária que assolou os quatro cantos da Terra gerou medo, inse- gurança e expôs o quão singela e importante que é a vida. Neste contex- to, amigos não se abraçam mais, avós não podem abençoar os netos com um carinhoso afago, aos casais não é permitida a troca de carícias nas despedidas, o vizinho não pode compartilhar o bolo no café da tarde, professores e alunos não podem partilhar emoções e afetos que subje- tivam os cotidianos das salas de aula. Por fim, as ruas, outrora movi- mentadas pelo vai e vem dos carros, permanecem desertas até que fosse minimamente seguro transitar pela cidade. Assim, o que parecia impossível tornou-se realidade. Os diversos es- paços educacionais que possibilitavam o aprender em conjunto, pelo compartilhamento de saberes e emoções, fecharam as portas. Cinemas, teatros, museus, escolas, universidade, creches dentre muitos outros aparelhos permaneceram vazios, cobertos por um silêncio estarrecedor. Desapareceram o sorriso das crianças, a conversa dos jovens, a cantoria do coral das igrejas, o batuque dos terreiros candomblés e a balbúrdia intelectual dos/nos pátios, corredores e salas de aulas das/nas univer- sidades. Vygotsky em seus estudos defendeu a aprendizagem enquanto fenô- meno histórico e social e a interação entre os sujeitos para a consolida- ção de novos conhecimentos. Embora seus achados e descobertas ainda miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 9miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 9 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 10 hoje embasem boa parte das correntes pedagógicas, nos vimos diante da necessidade do distanciamento e da reinvenção das práticas educacio- nais. O contato com o companheiro mais experiente tornou-se custoso, mediado por ferramentas digitais, por meio da internet. Nesse cenário, assistimos ao aumento da desigualdade no acesso aos bens econômicos e culturais, assim como a educação. A escola distan- ciou-se dos mais pobres, daqueles cujo acesso a tais ferramentas é há muito tempo negado. Muitas famílias, diante das dificuldades para aces- sar a tecnologia que se oficializou como uma ponte para a informação nesses árduos tempos, estiveram muito próximas de abandonar a educa- ção formal. A despeito do cenário complexo, os educadores não desistiram da educação. Esta publicação congrega pesquisadores que assumiram o compromisso de investigar possiblidades de educar e de formar profes- sores em tempos desafiadores de pandemia. Pesquisas que reafirmam a capacidade humana de transformar-se e de resistir às mais difíceis in- tempéries, reinventando suas práticas cotidianas e fortalecendo o seu lado humano. A obra está dividida em dois eixos. No primeiro, estão reunidos sete capítulos que discutem a formação inicial e continuada de professores e as experiências digitais, descortinando o movimento dos agentes edu- cativos no processo de construção do saber docente em meios às novas tecnologias. No segundo eixo, nove textos tratam das práticas em tempos de pan- demia, revelando o movimento de comunidades educativas que, embora estivessem alijadas de seus espaços, assim como do contato físico entre seus membros, durante um longo tempo, não pararam. Resistiram e in- sistiram em subsistir à ordem posta e às dificuldades materializadas pelo isolamento social. Educação e Formação em Tempos de Pandemia: deslocamentos e expe- riências em contextos situados, é uma obra forjada a partir da potência de seus autores, que embora tenham experimentado as dificuldades miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 10miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 10 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 11 inerentes a esses tempos, percebem a necessidade de enfrentar as desi- gualdades e promover a aprendizagem nesse novo normal. Pesquisadores que não se furtaram ao desafio de promover uma educação democrática, reflexiva e comprometida com a transformação da sociedade em que estão inseridos. Profª Drª Deise Guilhermina da Conceição Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2020. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 11miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 11 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 12miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 12 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 13 APRESENTAÇÃO A oportunidade de escrever a apresentação de um livro significa que, ao produtor desse texto é dado acesso antecipado às suas ideias e as suas proposições. Além disso, cabe-lhe a responsabilidade de divulgar a obra para as pessoas que desejam e/ou são orientadas a lê-la, interpretá-la e produzem conhecimentos. Contudo, é preciso admitir que o conteúdo apresentado, nesteespaço, de forma condensada e horizontal, deve ser entendido como o exercício indicador de um olhar pessoal que objetiva fazer conexões de sentidos entre que prefacia e quem escreve cada capí- tulo que compõe a obra. Seria um erro não admitir que essa produção acadêmico-científica se insere entre aquelas que emergiram recentemente, alargando os obje- tos de pesquisa de abordagem socio-pedagógica, no campo educacional, sobretudo aquelas que contemplam o desafio de ensinar e de aprender num contexto de pandemia, especificamente, pandemia ocasionada pelo “novo coronavírus”. Ao mobilizarem suas experiências profissionais situadas e relacio- nadas com atividades de ensino, pesquisa e extensão, os autores se reportam a pessoas, a eventos e a situações de gestão de atividades de ensino e de aprendizagem que fazem parte de suas trajetórias construídas por um caminhar nunca experimentado. O conjunto das análises presen- tes nos ensaios demonstra que o fundamento teórico-metodológico orientador das vivências, em questão, legitima a postura epistemológica miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 13miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 13 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 14 comprometida com a vida, pois “vidas sempre importam por não serem apenas números” e com uma práxis pedagógica que combina ação-refle- xão-ação. O texto, ora apresentado, é de uma audácia ímpar, visto que os auto- res não se deixam amordaçar. Em sendo sujeitos em destaque no estudo, se desnudam, ao mesclarem experiências com significações, sentidos e os feitos dos outros envolvidos, bem como os haveres das instituições pú- blicas a que pertencem, responsáveis principais pela oferta de propostas de ensino vinculadas ao ensino superior, básico e técnico em diferentes municípios e estados do Brasil. De modo sutil e criativo, as escritas dos textos refletem, analisam e documentam o processo constituinte do ensino não presencial vincula- do à ‘pedagogia do vírus’. Com isto, seu exercício contém um diálogo fértil, entre autores/as de obras sobre a problemática em discussão, os relatórios, produto de observações “on-line”, os documentos institucio- nais, textos produzidos no período em diferentes situações de ensino emergencial nos cursos, ao lado de outros textos decorrentes de pesqui- sas com os estudantes e professores. Coerente com este diálogo, a composição do livro “Educação e For- mação em Tempos de Pandemia: deslocamentos, experiências em con- textos situados” está estruturada em quinze capítulos, divididos em dois eixos, que por meio de um instrumental teórico privilegiado, materia- lizam vivências e experiências educativas, bem como conhecimentos construídos e acumulados como produtos de pesquisas e de estudos rea- lizados, em diferentes espaços sócio-político-culturais e formativos em que transitam, se formam e informam as/os autoras/es. Assim, o primeiro eixo, Formação Docente e Desafios Digitais, apresenta de modo plural, reflexões e ações a respeito da formação dos professores, do desenvolvimento profissional e dos desafios com/dos usos das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC’s) na realidade dos cotidianos pedagógicos. O primeiro capítulo, A Tema- tização da Prática na Formação de Professores: como as metodologias ativas miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 14miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 14 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 15 podem contribuir com esse processo?, tem as reflexões das autoras Hercilia Maria de Moura Vituriano e Tyciana Batalha. O segundo capítulo Luga- res Enunciativos em Tempos de Distanciamento Social: uma experiência de ensino-pesquisa em sala de aula virtual narra os desafios vivenciados pelas autoras Katia Cilene Ferreira França, Maria Aparecida da Silva Miranda e Maria Claudiane Silva de Souza. Já o terceiro capítulo, Aprendendo e Ensinando na Adversidade: o fazer docente mediado pelas tecnologias digi- tais em tempos de pandemia, aborda as práticas e enfrentamentos vividos pelo trio de autoras Iracy de Sousa Santos, Delcineide Maria Ferreira Segadilha e Francinete Soares da Silva. Formação Docente e a Utiliza- ção das Tecnologias Digitais: desafios e perspectivas no desenvolvimento da ação docente no contexto da pandemia é o quarto capítulo que traduz um fazer-querer das autoras Francisca das Chagas dos Passos Silva, Alexan- drina Colins Martins, Clenia de Jesus Pereira dos Santos e Vanja Maria Dominices Coutinho Fernandes. O quinto capítulo, Pedagogia/ParFor em Tempos de Pandemia: desafios de formação e luta por inclusão digital nos territórios urbanos, quilombos, povoados e ilhas, destaca a mirada dos autores Marise Marçalina de Castro Silva Rosa, Natalia Ribeiro Ferrei- ra e Carlos Richard Soares Pinheiro. O sexto capítulo, A Formação dos Formadores no Processo do Ensino Não Presencial: experiências de webiná- rios na UFMA durante a pandemia, evidencia as ponderações das auto- ras Francimar Oliveira Miranda de Carvalho e Naiacy de Souza Lima Costa. No sétimo capítulo, Trabalho Remoto no Contexto da Pandemia/ COVID-19: condições e dilemas para a gestão do ensino, as autoras Maria do Socorro Estrela Paixão, Thays Silva Baldez e Thayslanne Silva Baldez finalizam o primeiro eixo ao disponibilizarem contribuições critico-re- flexivas sobre a gestão do ensino não presencial. No segundo eixo, Práticas Pedagógicas em Tempos de Pandemia, temos o movimento de reinvenção/reconstrução do fazer pedagógico daqueles que atuam em um momento delicado e provocador, com des- taque para a preservação e valorização da qualidade da educação que acreditam e fazem, cotidianamente. O primeiro capítulo, Educação, miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 15miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 15 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 16 Formação e Trabalho Docente em Tempos de Pandemia, vem comparti- lhando as reflexões do trio de autoras Cristina Cardoso de Araújo Alves, Maria Márcia Melo de Castro Martins e Maria do Socorro Pinheiro. O segundo capítulo, Literatura e Formação Docente: experiências na educa- ção infantil em tempos de pandemia, é apresentado pelas autoras Aldeno- ra Resende dos Santos Neta e Leoneide Maria Brito Martins. O terceiro capítulo, Desafios de Aprendizagem no Período Pandêmico do COVID-19: desigualdades e perspectivas, é um compilado de ideias das autoras Anny Ocoró Loango, Carla Figueira de Souza, Elisandra Barbosa Cabral e Maria das Graças Souza Oliveira. O quarto capítulo, Abordagem Fami- liar: a preceptoria em medicina de família e comunidade no contexto da pandemia, contempla a discussão do quarteto de autores Raphael La- cerda Barbosa, Maria do Carmo Lacerda Barbosa, Gabriela Cirqueira de Souza Barros e Marcia Regina Barbosa. Já o quinto capítulo, Forma- ção Continuada em Tempos de Pandemia: imposições, trans(formações) e produção de saberes profissional, descreve a abordagem das autoras Maria do Carmo Alves da Cruz e Maria do Socorro Estrela Paixão. O sexto capítulo, Família Multifacetada: desafios da educação remota em tempos de pandemia, expressa o pensamento das autoras Aurea da Silva Pereira, Anny Karine Matias N. Machado e Karla Santos Simões Bastos Mace- do. O sétimo capítulo, Ensinar e Aprender pela Pesquisa: a experiência do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará em tempos de pandemia, expõe o vivenciado pelas (os) autoras (es) Elisangela André da Silva Costa, Elcimar Simão Martins, Maria Socorro Lucena Lima e Maria Marina Dias Cavalcante. O oitavo e último capí- tulo, (Des) Caminhos da Educação em Tempos de Pandemia: construindo itinerários formativos na educação básica e ensino superior, exibe os relatos das autoras Maria José dos Santos e Maria Glêciane Maia de Macedo. O resultado desta obra traz implícita a inquietação de autoras/es com a problemática do ensino não presencial e as condições para a efe- tivação em tempos de incertezas e de luta pela vida.Ao ler cada capítu- lo, identificamos os efeitos da dedicação e do compromisso profissional miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 16miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 16 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 17 das/os suas/es autoras/res. Por isso, cada escrita concretiza uma forma obstinada, com a temática, o que poderia ser entendida na linguagem certeauriana como uma verdadeira “operação de caça”, em que cada palavra, cada frase e cada período expressam fatos e tornam visíveis as pessoas e as suas intencionalidades, na construção de cada capítulo que compõe a obra. Por isso, aqui está o fascinante processo de uma das questões desa- fiadoras, ainda neste século, que é o exercício da docência não presen- cial, com ênfase no acesso e uso de plataformas, de ferramentas digitais, por estudantes e professoras/es no espaço acadêmico formativo. Assim, percebemos que a batalha pedagógica pela necessidade de uma Educa- ção e Formação em Tempos de Pandemia, com qualidade social não é uma mera expressão resolvida com “Normativas ou Resoluções institu- cionais”, mas uma situação que se impõe no momento, com demandas para profissionais e pesquisadoras/es comprometidas/os com proposi- ções inclusivas, com rigor científico e com a valorização da vida e do seu processo de humanização. As organizadoras miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 17miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 17 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 18miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 18 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 19 SOBRE OS AUTORES Aldenora Resende dos Santos Neta Pedagoga pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Mestra em Educação pela UFMA. Especialista em Psicopedagogia pela Universida- de Estadual do Maranhão (UEMA). Tem experiência na Formação de Professores da educação infantil e na docência na educação infantil, en- sino fundamental e ensino superior. Atualmente é professora substituta do Departamento de Educação I, DEEI/UFMA e formadora da ONG Avante (Educação e Mobilização Social). E-mail: aldenoraresendedossantosneta@gmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5263392835342847 Alexandrina Colins Martins Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Maranhão (PP- GEEB/UFMA). Especialista em Gestão Escolar e em Avaliação Educa- cional pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Professora do Curso de Pedagogia do Programa de Formação de Professores/PAR- FOR-UFMA. Professora dos anos iniciais da educação básica-SEMED São Luís e supervisora escolar com atuação no Instituto de Educação Ciência e Tecnologia do Maranhão-IEMA, na função de Gestora Pe- dagógica. Exerceu cargo de Superintendente de Gestão Educacional miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 19miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 19 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 20 - Secretaria Estadual de Educação do Maranhão (SEDUC-MA). Gesto- ra Escolar no ensino fundamental/ SEMED São Luís/MA. E-mail: acolinsmartins@gmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8233629667006297 Anny Karine Matias N. Machado Doutoranda em Crítica Cultural pela Universidade de Estado da Bahia (UNEB). Mestra em Educação pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Especialista em Educação a Distância pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Atualmente desenvolve pesquisas na área de Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação e Formação Docente. E-mail: annykarineee@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2958637740569850 Anny Ocoró Loango Doutora em Ciências Sociais e mestra em Ciências Sociais com Orien- tação em Educação pela Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales (FLACSO/Buenos Aires/Argentina). Atualmente é professora dos cur- sos de pós-graduação da FLACSO e da Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF/Buenos Aires/Argentina). Ministra a disciplina UNESCO “Educação Superior e Povos Indígenas e Afrodescendentes na América Latina”. Preside a Associação de Investigadores/as Afrola- tinoamericanos/as e do Caribe AINALC. Autora de vários artigos pu- blicados em revistas acadêmicas latinoamericanas sobre a temática afro- descendentes e políticas educativas com perspectiva étnico-racial e de gênero. Desenvolve pesquisas nos temas Afrodescendentes e Educação, Políticas Educativas com Perspectiva Étnico-Racial e de Gênero, Racis- mo e Educação, Feminismos Negros, G6enero, Racismo e Educação, Currículo e Diversidade Multicultural. E-mail: aocoro@flacso.org.ar miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 20miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 20 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 21 Aurea da Silva Pereira Graduada em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutora e mestra em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Atualmente é professo- ra titular da Universidade do Estado da Bahia, no Departamento de Educação, Campus II. Atua como professora permanente no Progra- ma de Pós-graduação em Crítica Cultural, na Linha 2: Letramentos, Identidades e Formação de Educadores. Tem experiência na área de Educação, Letramentos e Formação Docente com ênfase nos seguin- tes temas: letramentos em comunidades rurais; narrativas e memórias (auto)biográficas; alfabetização e letramentos nas escolas; memórias e envelhecimento. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8980-1709 E-mail: aureauneb@gmail.com Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/6924681447108127 Carla Figueira de Souza Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad Nacional de Rosario (UNR//Rosario/Santa Fe/Argentina). Mestra em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Especialista em Alfabetização das Camadas Populares pela Universi- dade Federal Fluminense (UFF/RJ). Graduada em Pedagogia, com habilitação em Administração Escolar e Magistério pela Universida- de Veiga de Almeida (UVA/RJ). Professora dos cursos de graduação e pós-graduação. Professora visitante da Faculdade de Tecnologia de Teresina (CET/Piauí). Tem experiência na área de Educação, com ên- fase em metodologia de ensino, psicopedagogia institucional e clí- nica, prática pedagógica, metodologia científica, alfabetização e le- tramento, cultura visual, educação infantil, formação de professores, currículo e cotidiano escolar, educação especial e inclusiva, psicomo- tricidade, gestão e planejamento educacional, orientação educacional miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 21miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 21 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 22 e pedagógica. Organizadora de livros no campo da Educação, da En- fermagem e do Direito. E-mail: carlafigueirade@gmail.com Currículo Lattes: http://lattes. cnpq.br/7144605188606017 Carlos Richard Soares Pinheiro Pedagogo com aprofundamento em Educação Especial pela Universi- dade Federal do Maranhão (UFMA). Pesquisador e extensionista no Projeto Escola Laboratório onde desenvolve estudos, ações e pesquisa nas áreas de Letramento, Alfabetização, Formação de Professores e Di- dática. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Alfabetização por Atos de Leitura Triangulada - GEP-Alfaletri. Possui experiência em: Pedagogia Hospitalar; Neuro reabilitação com foco em estudos na área de Psicologia da Aprendizagem; Formação de Agentes de Letramento; Coordenação do Ensino Superior. Atualmente é Assistente em Educa- ção na Coordenação do Curso de Pedagogia-Parfor. Seus eixos de inte- resse são nas áreas de: Alfabetização, Formação de Professores e Educa- ção Especial. E-mail: carlosrichard10@gmail.com - Currículo Lattes: http://lattes. cnpq.br/7633270756741781 Clenia de Jesus Pereira dos Santos Doutora em Ciências da Educação pela Universidade da Madeira - Por- tugal. Mestra em Educação pela Universidade Federal do Maranhão(UFMA). Especialista em Orientação Educacional. Graduada em Pe- dagogia. Professora da Secretaria Municipal e da Rede Estadual de En- sino. Professora seletivada do PARFOR/UFMA. Professora visitante da Escola Superior de Educação João de Deus - Portugal. Experiência na área de Educação, com ênfase em Metodologia da Pesquisa, Didática da Língua Portuguesa, Relações Étnico-raciais, Formação de Professores, miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 22miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 22 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 23 Currículo, Supervisão Organizacional, Orientação Educacional, Política Educacional Brasileira. Autora de vários artigos sobre Identidade Negra e Educação para as Relações Étnico-raciais. E-mail: cleniasantos@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0207025204079745 Cristina Cardoso de Araújo Alves Doutora em Educação pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Professora adjunta da UFMA, vinculada ao Curso de Peda- gogia. Atuou como docente e supervisora (coordenadora) da educação básica na Rede Estadual de Ensino do Maranhão. Supervisora da área de Educação Especial da Secretaria de Estado da Educação do Maranhão. Atua principalmente com os seguintes temas: Políticas Educacionais; Gestão Escolar, Gestão/coordenação de processos formativos na Educa- ção Básica, Estágios de formação de professores para a Educação Básica, Educação Especial/Inclusiva. Tem interesse nos estudos do campo da Ontologia do Ser Social (Ontologia marxiano-lukacsiana) e da Teoria da Atividade. E-mail: cc.araujo@ufma.br Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/84480587126442690 Delcineide Maria Ferreira Segadilha Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Mestra em Educação pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Graduada em História (Licenciatura) pela Uni- versidade Federal do Maranhão (UFMA). Graduada em Pedagogia pela Associação Unificada de Ensino Superior. Professora adjunta do Depar- tamento de Educação I da UFMA. Coordenadora do Grupo de Estu- dos e Pesquisas: Fundamentos e Metodologia do Ensino de História na miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 23miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 23 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 24 Educação Básica/ GRUPEHEB; Membro do Grupo de Estudo e Pes- quisa Investigações Pedagógicas Afro-brasileiras/GIPEAB. Atua princi- palmente nos seguintes temas: cultura escolar, ensino de História, Re- presentações sociais, Avaliação de Políticas e Instituições Educacionais, Relações Étnico-Raciais. E-mail: delcineide.mf@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4517242437763711 Elcimar Simão Martins Pós-doutor em Educação pela USP. Doutor e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Graduado em Letras pela Universi- dade Federal do Ceará e em Pedagogia pela Universidade Metodista de São Paulo. É professor adjunto da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), onde atua nos cursos de licenciatura do Instituto de Ciências Exatas e da Natureza; no Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis, no Mestrado Profissio- nal em Ensino e Formação Docente UNILAB/IFCE e como coordenador institucional do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - Pibid. Atua como professor colaborador no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará (PPGE-UECE). E-mail: elcimar@unilab.edu.br Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6354389593320758 Elisandra Barbosa Cabral Doutora em Ciências da Educação pela Universidad Nacional de Rosario (UNR/Rosario/Santa Fe/Argentina). Mestra em Linguística pela Univer- sidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Formação em Orientação Profissional pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Tem aperfeiçoamento em Motricidade Orofacial, com enfo- que na estética facial, pelo Centro de Especialização em Fonoaudiologia miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 24miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 24 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 25 Clínica (CEFAC). É fonoaudióloga pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás). Tem experiência nas áreas de educação, marketing digital, desenvolvimento de conteúdos para sites e mídias sociais e treina- mento in company. Ministra cursos de dicção e oratória e realiza palestras motivacionais. É instrutora de diversos cursos no Senac/GO. E-mail: elisandrabarbosacabral@gmail.com Currículo Lattes: http:// lattes.cnpq.br/1727753412684074 Elisangela André da Silva Costa Pós-doutora em Educação pela USP. Doutora em Educação pela Uni- versidade Federal do Ceará (UFC). Mestra em Educação pela Universi- dade Estadual do Ceará (UECE). Graduada em Letras pela Universida- de Federal do Ceará e em Pedagogia pela Faculdade Evangélica do Piauí. É professora adjunta da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), onde atua nos cursos de licencia- tura do Instituto de Ciências Exatas e da Natureza; no Mestrado Acadê- mico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis, no Mestrado Profissional em Ensino e Formação Docente UNILAB/IFCE e como coordenadora institucional do Programa Residência Pedagógica. Atua como professora colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Edu- cação da Universidade Estadual do Ceará (PPGE-UECE). E-mail: elisangelaandre@unilab.edu.br Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6038313468372950 Francimar Oliveira Miranda de Carvalho Universidade Federal do Maranhão (UFMA-Campus Bacanga/São Luís/Maranhão/ Brasil). Docente adjunta do Departamento de Educa- ção II– Curso de Pedagogia. Área de estudo Gestão Educacional e EAD. E-mail: francimar.oliveira@ufma.br Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0857630022713758 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 25miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 25 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 26 Francinete Soares da Silva Mestra em Educação pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Graduada em Direito pela Faculdade Santa Terezinha/CEST. Professora do Departamento de Educação I da UFMA. Membro dos grupos de estudos e pesquisas: Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Re- lações de Gênero, Étnico-raciais, Geracional, Mulheres e Feminismos/ GERAMUS; e Grupo de Estudos e Pesquisas Fundamentos e Metodo- logias do Ensino de História na Educação Básica/GRUPEHEB. Atua principalmente nos seguintes temas: Ensino de História; Ensino de Geografia e Direitos Humanos. E-mail: soares.francinete@yahoo.com.br Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4395812930046965 Francisca das Chagas dos Passos Silva Mestra em Educação pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Especialista em Gestão Educacional pela Faculdade de Ciências e Tec- nologia Albert Einstein. Pedagoga pela Universidade Federal do Mara- nhão (UFMA). Professora no Programa de Formação de Professores da Educação Básica (MEC/PARFOR). Experiência como gestora, profes- sora e supervisora na educação básica: Assessora no Gabinete da Secre- taria Adjunta da SAGEA/SEDUC/MA. Membro do Grupo de Estudo em Ensino de Língua Portuguesa nos anos iniciais do ensino fundamen- tal (GruPELPAI - UFMA) E-mail: fpassossilva@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7429612640768143 Gabriela Cirqueira de Souza Barros Médica pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Mes- tranda do Programa de Mestrado Profissional em Saúde da Família miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 26miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 26 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 27 - PROFSAÚDE - FIOCRUZ/UFMA. Atua em Equipe Saúde da Famí- lia, na cidade São Luís - MA. E-mail: gabrielacirqueira@yahoo.com.br Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4700234880171456Hercilia Maria de Moura Vituriano Pedagoga pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Douto- ra em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professora adjunta do curso de Pedagogia da Universidade Fe- deral do Maranhão (UFMA). Atua junto ao programa de Pós-graduação em Gestão de Ensino na Educação Básica (PPGEEB). E-mail: hercilia.maria@gmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3111752076395554 Iracy de Sousa Santos Doutora em Educação Escolar pela Universidade de Alcalá Espanha/UNES- PE São Paulo. Mestra em Pedagogia Profissional. Graduada em Pedagogia e Hotelaria. Docente adjunta IV do Departamento de Educação I – Curso de Pedagogia da UFMA. Vice-Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesqui- sas: Fundamentos e Metodologia do Ensino de História na Educação Básica/ GRUPEHEB. Com experiência em coordenação pedagógica na rede públi- ca municipal de São Luís/MA, docência da educação básica. Pesquisadora da área de formação inicial e continuada de professores, Didática e Metodologias. E-mail: iracysousa@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6427207669791460 Karla Santos Simões Bastos Macedo Graduada em Administração com Análise de Sistemas pela Faculda- de Santíssimo Sacramento. MBA em Gestão Estratégica em Recursos miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 27miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 27 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 28 Humanos pelo CENID Business School. Especialização em Metodolo- gia do Ensino Superior pela Faculdade Batista do Brasil. Mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Crítica Cultural (UNEB). Faz parte da Linha 2: Letramento, identidade e formação de educadores. E-mail: kssimoes@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3236689298791155 Katia Cilene Ferreira França Tem graduação em Letras pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Mestra em Educação pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Doutora em Estudos da Linguagem, área de concentração em estudos da Linguística Teórica e Descritiva, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Atualmente é professora de Língua Portugue- sa, do curso de Linguagens e Códigos, da UFMA- Campus São Bernar- do. Líder do Grupo de Estudos Escrita e Produção de Saberes (GEEPS), da UFMA. Membro do Grupo de Pesquisa em Estudo do Texto e do Discurso (GETED), da UFRN. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em escrita acadêmica, práticas de leitura e escrita na escola e na universidade, formação de professores de Língua Portuguesa. E-mail: katia.franca@ufma.br Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0151400085193018 Leoneide Maria BritoMartins Professora associada do Departamento de Biblioteconomia da UFMA. Doutora em Educação pela UNESP/Marília. Mestra em Educação pela UFMA. Especialista em Gestão Pública pela UFMA. Graduada em Biblioteconomia pela UFMA. Desenvolve estudos e pesquisas nas áreas de Leitura e Formação de Leitores; Mediação de Leitura; Biblio- tecas Públicas e Escolares; Formação e Desenvolvimento de Coleções; Letramento Literário; Literatura infantil e juvenil. Coordena projetos miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 28miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 28 2021-05-24 16:03:032021-05-24 16:03:03 29 de pesquisa e extensão nas áreas de leitura literária, formação de leito- res e mediação de leitura. E-mail: neidemartbrito2018@gmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5724033213034386 ORCID: http://orcid.org/ 0000-0001-7189-1611 Marcia Regina Barbosa Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mestra em Educação e Linguagem pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Doutora em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto – Portugal. Pós-doutora pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra - Portugal. E-mail: marcia46@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7373658007843360 Maria Aparecida da Silva Miranda Graduada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestra e doutora em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professora de Língua Portuguesa da Rede Estadual de Ensino da Educação Básica (SEEC/RN) e da Rede Municipal de João Câmara. Atualmente atua como assessora pedagógica pela 16 DIREC/ SEEC/RN e como coordenadora pedagógica na E.M. Professor Cícero Va- rela. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Teoria e Análise Linguística, atuando principalmente nos seguintes temas: escrita acadêmi- ca, heterogeneidade enunciativa, não-coincidências do dizer, processos de produção escrita acadêmica: paráfrase, alusão e simulacro. É integrante do Grupo de Pesquisa em Estudos do Texto e do Discurso (GETED). Publi- cou vários artigos científicos sobre a temática da escrita no ensino superior. E-mail: mirandamas@yahoo.com.br Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2430822626531031 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 29miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 29 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 30 Maria Claudiane Silva de Souza Graduada em Letras pela Universidade Potiguar (UNP). Especialista em Fun- damentos Linguísticos para o Ensino da Leitura e da Escrita (CEFLE) e mestra em Estudos da Linguagem com área de concentração em Estudos de Linguísti- ca Teórica e Descritiva. Professora de Língua Portuguesa na Secretária de Edu- cação do Estado do Rio Grande do Norte (SEEC-RN). É integrante do Grupo de Pesquisa em Estudos do Texto e do Discurso (GETED-UFRN) e do Grupo de Estudos Escrita e Produção de Saberes (GEEPS-UFMA). Tem experiência na área de Letramento discursivo-literário e interesse por Análise do Discurso. E-mail: claudiane.23@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5212723653158062 Maria das Graças Souza Oliveira Pós-doutora em Educação pela Universidad de Flores (UFLO-Buenos Aires/ Argentina). Doutora em Ciências da Educação pela Universidad Nacional de Rosario (Rosario/Santa Fe/Argentina). Pedagoga pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Especialista em Docência do Ensino Superior e em Psi- copedagogia Educacional e Clínica pelo Instituto de Ensino Superior Francis- cano (IESFMA). Especialista em Alfabetização e em Supervisão Pedagógica e Administração Escolar pela UFMA. Professora do ensino público da rede esta- dual do Maranhão e tutora em EAD do Núcleo de Tecnologias para Educação (UEMA/NET) da (UEMA). Tem experiência nas áreas de educação básica e ensino superior com metodologia da pesquisa, didática, estágio supervisiona- do e prática de ensino com ênfase em projetos e no ensino superior EAD. E-mail: gracinhasol@globo.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1094254976248430 Maria do Carmo Alves da Cruz Doutoranda em Educação, Ciências e Matemática pela REAMEC/UFMT. Mestra em Educação pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 30miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 30 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 31 Pedagoga pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Pesquisa forma- ção de professores que ensinam Matemática, Estágio em Docência, Ensino de Matemática na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. E-mail: docarmo_cruz@hotmail.com ORCID: 0000-0002-7928-1284 Maria do Carmo Lacerda Barbosa Médica pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Residência Médica em Reumatologia pelo Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Doutora em Biotecnologia pela Rede Nordeste de Biotecnolo- gia. Especialista em Formação de Educadores na Área da Saúde pela Uni- versidade Federal do Ceará (UFC). Especialização em Saúde Pública-Saú- de da Família pela Universidade Anhanguera – UNIDERP. Especialização em Docência na Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora do Departamento de Medicina I da UFMA e do mestrado pro- fissional em Saúde da Família (PROFSAUDE/FIO CRUZ/UFMA). E-mail: carminha13032009@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4044369922294105 Maria do Socorro Estrela Paixão Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Nor- te (UFRN). Mestra em Educação pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ma- ranhão (UEMA). Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade Atenas Maranhense (FAMA) e Supervisão Escolar e Educacio- nal pelo Salgado Filho. Gestora e professora do Departamento de Educa- ção I/DEEI. Coordena GEEFORMA, membro pesquisadora do projeto BNCC, currículo e docência: estratégias de pesquisa e formação docente. E-mail: mse.paixao@ufma.br Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1297954822381544 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 31miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 31 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 32 Maria do Socorro Pinheiro Pós-doutora em Linguagem e Ensino POSLE/UFCG. Doutora em Li- teratura e Interculturalidade pela UEPB. Professora da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu- FECLI/Universidade Estadual do Ceará (UECE) e do mestrado interdisciplinar em História e Letras (MIHL/UECE). Membro do Grupo de Pesquisa e Estudo em Edu- cação, Linguística e Letras (GPEL) do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia (IFC). E-mail: socorropinheiro2@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9177872356983979 Maria Glêciane Maia de Macêdo Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica pelo Insti- tuto Superior de Educação São Judas Tadeu (ISESJT/Floriano/PI). Especialista em Educação, Contemporaneidade e Novas Tecnologias pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF/Pe- trolina/PE). Especialista em Gestão e Avaliação da Educação Pública pela Universidade de Pernambuco (UPE/Recife/PE). Especialista em Coordenação Pedagógica pela Universidade Federal Rural de Pernam- buco (UFRPE/Recife/PE). Especialista em Mídias na Educação pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE/PE). Especialis- ta em Interdisciplinaridade na Educação Básica pelo Instituto Brasi- leiro de Pós-graduação e Extensão (IBEPX/Curitiba/PA). Graduada em Pedagogia pelo Instituto Superior de Educação São Judas Tadeu (ISESJT/Floriano/PI). Graduada em Geografia pela Universidade de Pernambuco (UPE/Petrolina/PE). Professora da educação básica há 30 anos. Possui experiência no ensino superior, desenvolvendo atividades de ensino (04 anos) na Faculdade Evangélica Cristo Rei (Picos/PI). Outras atividades: coorientadora de TCC na UFRPE e UPE. Experiência em Tutoria virtual curso técnico (IF/ SERTÃO). Tutora presencial no Curso de Geografia (FTC-EAD); no Curso de miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 32miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 32 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 33 Pedagogia (UFRPE); no IF-SERTÃO no Curso Agente Comunitário de Saúde. Atualmente exerce a função de educadora de apoio na Es- cola de Referência em Ensino Médio Professora Irene Maria Ramos Coelho – Afrânio-PE, e é tutora presencial do Curso de Graduação em História da UFRPE. E-mail: glecianemaiamacedo@gmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9127943757671866 Maria José dos Santos Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Mestra em Educação pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Especialista em Psicopedagogia pela FACINTER- IBPEX. Especialista em Programação de Ensino em Pedagogia, pela Universidade de Pernambuco (UPE). Graduada em Licenciatura em Pe- dagogia com Hab. em Educação de Adultos pela Universidade do Es- tado da Bahia (UNEB). Professora adjunta da Universidade Federal do Maranhão do Maranhão - Colegiado de Ciências Humanas/ Sociologia - Centro de Ciência, Educação e Linguagem (CCEL - Bacabal/MA). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Fundamentos da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: Fundamentos da Educação; Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação, mí- dia, tecnologias digitais, escola, cotidiano escolar e trabalho docente; violência (s) escolar e (IN) disciplina. Membro de projeto de pesquisa com ênfase em análise de periódicos maranhenses. Coordena projeto de pesquisa na área de tecnologias digitais e ensino de História na educação básica; membro do Grupo de Pesquisa Escrita e Produção e de Saberes (GEEPS). Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisa em políticas de For- mação e de Trabalho Docente (GEPP-Fortrad). Professora permanente do mestrado profissional em História (PROFHISTÓRIA) da UFMA. E-mail: mary.mjs.santos@gmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6481531342071371 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 33miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 33 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 34 Maria Márcia Melo de Castro Martins Doutora em Educação pela Universidade Estadual do Ceará. Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Ceará. Atualmente é professora assistente de Prática de Ensino, vinculada ao curso de Licencia- tura em Ciências Biológicas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI), campus da Universidade Estadual do Ceará (UECE). É membro do Grupo de Pesquisa Docência no Ensino Superior e na Edu- cação Básica (GDESB). Atua principalmente nos temas: Formação e Tra- balho Docente, Ensino de Biologia e Estágio de Docência. Tem interesse nos estudos do campo da Ontologia do Ser Social (Ontologia marxiano- -lukacsiana) e do Materialismo Histórico Dialético. E-mail: marcia.melo@uece.br Currículo Lattes: http://lattes.cnpq/6674565451622122 Maria Marina Dias Cavalcante Pós-doutora em Educação pela USP. Doutora e Mestra em Educação pela Uni- versidade Federal do Ceará (UFC). Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. É professora associada da Universidade Estadual do Ceará, onde atua no Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE-UECE). Líder do Grupo de Pesquisas Docência no Ensino Superior e na Educação Básica - GDESB. Membro do Grupo de Pesquisa em Ontologia do Ser Social, Ética e Formação Humana - GEPOS e do Corpo Editorial - Editora UECE. E-mail: maria.marina@uece.br Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5282528331075940 Maria Socorro Lucena Lima Pós-doutora e Doutora em Educação pela Universidade de São Pau- lo (USP). Mestra em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Graduada em Letras e em Pedagogia pela Universidade Re- gional do Cariri. É professora associada da Universidade Estadual do miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 34miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 34 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 35 Ceará, onde atua no Programa de Pós-Graduação em Educação (PP- GE-UECE). Atua, ainda, como professora colaboradora no Mestrado Profissional em Ensino e Formação Docente UNILAB/IFCE e no Mes- trado Profissional em Educação da Universidade Regional do Cariri. E-mail: socorro_lucena@uol.edu.br Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1596146508437623 Marise Marçalina de Castro Silva Rosa Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Mes- tra em Políticas Públicas, especialista em Alfabetização e graduada em Peda- gogia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Professora adjunta na UFMA. Coordenadora do projeto de extensão Escola-Laboratório da UFMA. Coordenadora do Curso de Pedagogia/ Parfor. Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Alfabetização e Letramentos Sociais por Atos de Leitura Triangulada-GEP-Alfaletri. Possui estudos e projetos articu- lados a extensão universitária, ensino e pesquisa. Estudiosa de Alfabetização, Estágio Supervisionado e Didática. Presidente da Rede Nordeste de Pesqui- sadores e Estudiosos de Estágio Supervisionado e Prática Pedagógica-Rede- nesp. Diretora de Dignidade Humana-APRUMA. Seção Sindical-Andes. Membro da Associação Brasileira de Pesquisa Autobiográfica-Abiograph. Membro da AssociaçãoBrasileira de Alfabetização-Abalf. E-mail: mmarcalina@yahoo.com.br Currículo Lattes: http://lattes. cnpq.br/482688376840813 Naiacy de Souza Lima Costa Universidade Federal do Maranhão (UFMA-Campus Bacanga, São Luís /Ma- ranhão /Brasil). Docente assistente do Departamento de Educação II– Curso de Pedagogia. Área de estudo: Formação de professor e Informática Educacional. E-mail: naiacy@gmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4413690454675589 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 35miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 35 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 36 Natalia Ribeiro Ferreira Mestra em Educação e especialista em Política de Igualdade Racial no Ambiente Escola pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Especialista em Docência do Ensino Superior pelo Instituto de Ensino Superior Franciscano; e em Pedagogia pela UFMA. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Alfabetização, Letramento e forma- ção de professores. Pesquisa os temas: alfabetização e letramento; ensi- no, pesquisa e extensão; formação de professores; vulnerabilidade social; e literatura africana e afro-brasileira. Membro do Projeto de Extensão Escola Laboratório, do grupo de pesquisa GEP-Alfaletri (Grupo de Al- fabetização e Letramento por Atos de Leitura Triangulada), do GIPEAB (Grupo de Estudo e Pesquisa Investigação Afro-brasileiras) e Grupelpai (Grupo de Pesquisa em Ensino da Língua Portuguesa nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental). Possui experiência em docência da educação básica e ensino superior. Atualmente é professora substituta do curso de Pedagogia da UFMA. E-mail: ntl22-2@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7964138321206448 Raphael Lacerda Barbosa Médico pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Residência em Medicina de Família e Comunidade pelo Grupo Hospitalar Con- ceição (Porto Alegre-RS). Atualmente é médico do referido hospital, atuando na Atenção Domiciliar. E-mail: raphael_lacerda.b@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7274201814230184 Thays Silva Baldez Mestra em Ciência dos Materiais pela Universidade Federal do Ma- ranhão (UFMA). Graduação em Engenharia Civil pela Universidade miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 36miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 36 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 37 Estadual do Maranhão (UEMA). Atua, desde 2016, como professora EBTT na área de Construção Civil no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), Campus Barra do Corda. E-mail: thays_baldez@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8605813851309766 Thayslanne Silva Baldez Pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pelo Insti- tuto de Educação Superior Franciscano (IESF). Graduada em Letras Português, Espanhol e suas Respectivas Literaturas pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Atualmente é professora de Língua Es- panhola do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA). E-mail: thayslanne_baldez@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2745570436477269 Tyciana Vasconcelos Batalha Pedagoga pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Especialis- ta em Alfabetização e Letramento pela Faculdade Futura. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Infância & Docência (GE- PEID) e do Grupo de Ensino da Leitura e da Escrita como Processos Dialógicos (GLEPDIAL) E-mail: pedagogatyci@gmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1376630555831292 Vanja Maria Dominices Coutinho Fernandes Doutora e mestra em Educação pela Universidade Estadual Paulista Jú- lio de Mesquita Filho (UNESP/Campus de Marília/SP). Pedagoga pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Professora adjunta do miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 37miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 37 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 38 Departamento de Educação I – UFMA. Vice - coordenadora e professo- ra permanente do Programa de Pós-graduação em Gestão de Ensino na Educação Básica (PPGEEB/UFMA) - mestrado profissional. Coordena- dora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Ensino de Língua Portuguesa nos Anos Iniciais (GruPELPAI). Com experiência e pesquisas nas áreas de Alfabetização, Formação de Professores, Coordenação Pedagógica e Ensino de Língua Portuguesa e Matemática. E-mail: vanjadominices@hotmail.com Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8685001139434354 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 38miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 38 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 FORMAÇÃO DOCENTE E DESAFIOS DIGITAIS miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 39miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 39 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 40miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 40 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 41 A TEMATIZAÇÃO DA PRÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: COMO AS METODOLOGIAS ATIVAS PODEM CONTRIBUIR COM ESSE PROCESSO? Hercilia Maria de Moura Vituriano Tyciana Batalha Vasconcelos INTRODUÇÃO O trabalho analisa algumas possibilidades no âmbito da organização, planejamento e implementação de ações de formação continuada de professores, situadas a partir de uma concepção de reflexão sobre a prá- tica pedagógica. Amplia as discussões buscando fundamentar, do ponto de vista teórico e prático, essa concepção, refletindo sobre perspectivas para a constituição de espaços formativos embasados numa abordagem centrada na tematização da prática. Alinhada a essa discussão apresentamos perspectivas para compreen- são de como tematizar a prática pedagógica na formação docente, a par- tir das Metodologias Ativas como dispositivo, potente e viabilizador de sua efetivação. A defesa e espaços formativos de professores que conside- ram a prática docente como componente fundamental e estruturante da composição dos conteúdos da formação. Reconhecemos os significativos avanços das produções acadêmicas em defesa da formação de Professores - inicial e continuada – como sendo um direito e, ao mesmo tempo, uma das condições fundamen- tais para profissionalização docente. Essas produções são conquistas importantes, mas é preciso ampliar os conhecimentos no campo do miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 41miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 41 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 42 desenvolvimento, gestão e planejamento desses espaços, analisar proce- dimentos e metodologias relacionados às concepções de formação do- cente sobre os conteúdos que devem ser abordados e do seu tratamento didático. Trata-se de questões fundamentais para orientar o trabalho dos formadores de professores. Esses profissionais precisam ter acesso cada vez mais aos conteúdos referentes aos processos de organização e imple- mentação de ações formativas, numa perspectiva teórico/prática. Nesse sentido, apresentamos a questão norteadora para condução das reflexões presentes nesse trabalho, compreendendo que, em certa medi- da, a resposta não pode ser construída na sua totalidade. Nesse contexto, apresentamos uma breve análise de um tema potente e atual, em que a inovação da prática pedagógica é uma necessidade. Assim, questiona- mos: como desenvolver situações de formação continuada na perspecti- va de tematização da prática pedagógica, considerando os pressupostos das Metodologias Ativas como viabilizadoras desse processo? Essa questão, ou seja, o tema desse trabalho, situa-se a partir do con- texto de mudanças sociais profundas que vivenciamos com a pandemia da COVID-19, as quais têm impulsionado reflexões constantes e neces- sárias sobre novas formas de ensinar a aprender, e, ao mesmo tempo, de ressignificação do papel da formação docente (inicial e continuada). De acordo com o documento do Conselho Nacional de Educação (Parecer n. 11/2020 - CNE/2020)1, cabe a cada segmento e etapas do Sistema EducacionalBrasileiro, situar seus desafios e, ao mesmo tempo, definir perspectivas para enfrentamento, implementando ações que viabilizem o processo de ensino e aprendizagem no momento atual. No que se refere à formação docente, o referido parecer evidencia que a formação de professores e funcionários é uma urgência e, ao mesmo tempo, uma das condições para o enfrentamento de muitas incertezas. O documento destaca que a formação deve ter como foco 1. Parecer 11/2020 CNE aprovado em 07/07/2020. Apresenta Orientações Educacionais para a Realização de Aulas e Atividades Pedagógicas Presenciais e Não Presenciais no contexto da Pandemia. Aponta os desafios de diferentes perspectivas. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 42miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 42 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 43 conteúdos voltados para a alfabetização, para o trabalho com ativi- dades não presenciais, incluindo a formação para o uso de metodo- logias inovadoras com uso de tecnologias digitais – ou não. Essas são condições indispensáveis para situar o processo de planejamento e de replanejamento curricular em tempos de pandemia e no momento de- signado de pós-pandemia. Portanto, é necessário ressignificar a atividade docente; para tanto, é necessária a participação efetiva dos professores nesse processo. Essa par- ticipação envolve assumir posições teórico/práticas que justificam suas escolhas. Revisitar práticas e rever posições tornam necessário o acesso a contextos de formação que possam contribuir para os docentes refleti- rem sobe todo esse processo. AS METODOLOGIAS ATIVAS E A TEMATIZAÇÃO DA PRÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Repensar saberes e fazeres docentes e processos de ensinar e aprender é uma das formas que temos para o enfretamento das incertezas atuais. A formação profissional do professor, no momento atual, precisa ser concebida não apenas como condição para conhecer sobre ferramen- tas digitais, seus usos, no processo de ensino e aprendizagem. É preciso ir além dessa questão, considerar sempre as implicações envolvidas na aprendizagem e, por sua vez, no ato de ensinar. Para Bacich (2017), é fundamental nesse processo a discussão sobre a utilização das Tecno- logias Digitais na Educação, reafirmar a centralidade na aprendizagem dos estudantes. Ao destacar alguns dados sobre pesquisas nessa área, a autora evidencia, a partir do trabalho de Jenkins (2006), que nenhuma ferramenta por si só promove mudança na educação, “[...] o que faz a mudança são as novas atitudes do professor que, ao planejar aulas, uti- lizam novas ferramentas, modifica sua maneira de ver as relações entre aprender e ensinar e, principalmente, modifica a forma como ele se situa frente aos alunos [...]” (p.72). miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 43miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 43 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 44 Nesse sentido, entendemos que a formação tem um papel funda- mental na promoção de reflexões sobre a necessidade de mudanças nas práticas de ensino. Na formação, a aprendizagem do professor precisa constituir-se como experiência social, mediada pela utilização de ins- trumentos e signos; é uma construção de significados. Por sua vez, a concepção de ensino situa-se, a partir da compreensão de que é neces- sário partir daquilo que os sujeitos possuem para ampliar e significar essa construção, antecipar as questões com as quais os sujeitos não são capazes de aprender sozinhos. Portanto, a mediação de um outro mais experiente é fundamental (VYGOTSKY, 1996). Com base nestes argumentos, situamos a formação como contexto de aprendizagem do professor. Lugar de aprender sobre a docência, sobre sua profissão. Para o formador é crucial ter clareza das concep- ções de aprendizagem, de ensino como eixos que contribuem para planejar suas atividades. A partir dessas concepções é fundamental definir e organizar os conteúdos, as estratégias de formação, ou seja, o percurso metodológico. Portanto, nosso trabalho foca nos aspectos de como favorecer espaços de aprendizagem da docência, nos quais a prática pedagógica profissional é o eixo articulador das atividades formativas. De acordo com Pereira (2012, p.6), as Metodologias Ativas podem ser entendidas como o [...] processo de “organização da aprendizagem - estratégias didáticas” cuja centralidade do processo esteja, efetivamente, no aprendiz. Dessa perspectiva, as Metodologias Ativas podem contri- buir significativamente para a efetivação de uma aprendizagem significa- tiva para os professores em formação. Tais metodologias situam o ato de aprender como ação que envolve: entrar em contato com desafios, com situações-problema, com os dilemas da profissão relacionados à realida- de dos sujeitos. Assim, compreendemos que a tematização da prática pe- dagógica na formação precisa de caminhos metodológicos mais claros e condizentes com a concepção de formação que defendemos – formação como reflexão teórico/prática. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 44miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 44 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 45 Dentre as Metodologias Ativas que podem promover uma aprendi- zagem ativa, e por sua vez, viabilizar a tematização da prática docente, destacamos - Gamificação; Sala de Aula Invertida; Aprendizado Baseado em Projetos (Project Based Learning); Aprendizado Maker; Aprendiza- do Baseado em Jogos (Game Based Learning); Aprendizado Baseado em Problemas (PBL – Problem Based Learning) ; Aprendizado Baseado em Fenômenos; Aprendizado em Pares ou Times (TBL – Team Based Lear- ning); Design Thinking e Estudo de caso (MORAN, 2018). São possibilidades metodológicas que têm como eixos estruturantes a autonomia, a participação, o trabalho em grupo, colaborativo, sem perder de vista a dimensão individual e a problematização de situações relacionadas com a vida dos sujeitos, das suas necessidades. Esse elemen- to da problematização é, para Vasconcellos, Berbel e Oliveira (2009), uma perspectiva que pode contribuir com a formação de um professor que investiga, que lança um olhar de pesquisa e de indagação sobre sua prática. Essa perspectiva é fundamental para os contextos de formação continuada, como definidora inclusive dos conteúdos centrais. Apresentamos algumas dessas possibilidades, problematizando o seu potencial como viabilizador de uma trajetória formativa situada na perspectiva de uma aprendizagem ativa da docência. Para Moran (2018), desenvolver processos de aprendizagem ativa exige percur- sos organizados em função da promoção da significação daquilo que aprendemos. Aprender é construir conhecimento investigando, refle- tindo sobre desafios e possibilidades. Nesse contexto, o formador de professores precisa garantir estratégias que possibilitem aos docentes em formação o desenvolvimento de habilidade de questionar, de in- terpretar, buscando possíveis soluções. E, nesse sentido, situamos algu- mas possibilidades a partir das Metodologias Ativas – apenas duas se- rão tematizadas nesse estudo por se tratar de uma introdução ao tema –, uma pequena introdução, diante das muitas possibilidades meto- dológicas para tematizar, a prática docente em espaços de formação continuada. Vejamos a seguir: miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 45miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 45 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 46 Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL, sigla que vem do Inglês problem-based learning). No Brasil ficou conhecida como ABProb. É uma potente metodologia que promove uma postura ativa do docen- te/aprendiz em contextos de formação. (BACICH E MORAN, 2018). É uma metodologia utilizada para formação em várias áreas como na medicina, engenharia, arquitetura, contudo se expande para outros campos. A centralidade da aprendizagem baseada em problemas con- sidera a necessidade de uma organização, planejamento das atividades por projetos. Assim, trazer uma situação-problemasignificativa para o grupo de professores é um desafio para o formador e ao mesmo tempo uma necessidade para o professor, especialmente para possibilitar a sua reflexão sobre a prática. Os docentes nesses contextos aprendem sobre a docência pela pesquisa, com a pesquisa, investigando sobre seu próprio fazer, sobre as questões que afetam seu trabalho cotidianamente. Moran (2018) apresenta as fases de organização de processos de Aprendizagem com essa Metodologia Ativa - Aprendizagem Baseada em Problemas, ou seja, evidencia uma trajetória que pode fornecer elemen- tos centrais para o planejamento da formação continuada para/com a tematização da prática pedagógica. Baseados no trabalho da escola de medicina de Howard, as fases de planejamento são: Fase I: Identifica- ção do(s) problema(s) – formulação de hipóteses – solicitação de dados adicionais – identificação de temas de aprendizagem – elaboração do cronograma de aprendizagem – estudo independente. Fase II: Retorno ao problema – crítica e aplicação das novas informações – solicitação de dados adicionais – redefinição do problema – reformulação de hipóteses – identificação de novos temas de aprendizagem – anotação das fontes. Fase III: Retorno ao processo – síntese da aprendizagem – avaliação. Cabe ao formador de professores situar essas fases como orientado- ras do processo de planejamento, sem perder de vista o que é neces- sário considerar para a tematização da prática pedagógica. A questão da problematização é central nas Metodologias Ativas, a aprendizagem de forma ativa, investigando, pensando, refletindo e buscando analisar miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 46miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 46 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 47 o que foi aprendido. A problematização é o fio condutor do processo de planejamento da atividade formativa. Outro percurso metodológico nesse contexto de Aprendizagem Ativa e que se articula com a (PBL) é a Aprendizagem Baseada em Projetos. Moran (2018) destaca que, a partir dessa metodologia, o foco central é o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo para resolver problemas. Algumas características des- sa metodologia são as seguintes: partir do pressuposto de que todo ser pode aprender sempre; a aprendizagem é ativa e que aprende deve estar envolvido diretamente no planejamento; elaborar boas provocações; de- finir boas ferramentas e bons recursos, tempo e planejamento das ações; identificar percursos para resolução dos problemas identificados. Não para no problema. Todas as Metodologias Ativas mencionadas nesse estudo têm o poten- cial de promover a aprendizagem da docência. Detalhamos apenas duas perspectivas, pois esse estudo apenas introduz uma discussão. Entende- mos que é uma questão instigante e importante para ser ampliada para fornecer mais elementos para os formadores de professores. Estamos nos colando na perspectiva de continuidade dessa discussão. O destaque nes- se estudo é um recorte acerca do potencial de apenas duas possibilidades, dentre tantas outras, apresentadas pelas Metodologia Ativas: Aprendiza- gem Baseada em Problemas (PBL) e a Aprendizagem Baseada em Pro- jetos. Tais percursos organizativos podem contribuir para a tematização da prática na formação docente. Essa análise acerca do potencial de cada uma delas fica evidente quando constatamos que, em seus pressupostos, o planejamento da formação tende a colocar as necessidades dos profes- sores, sua prática pedagógica, como eixo estruturante da formação. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dessa análise, evidenciamos possibilidades para o formador de professores refletir sobre seu trabalho com base nas necessidades reais ad- vindas da profissão docente. Dentre as necessidades dos professores em miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 47miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 47 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 48 formação, mencionamos o desafio da tematização da prática pedagógica para que os docentes possam desenvolver habilidades de investigação, de criação e de inovação, em um contexto em que ensinar e aprender vêm demandando aos educadores uma mudança de postura, de valores, sobretudo, de ressignificação dos modos de ensinar e aprender. A formação assume centralidade nesse contexto, pois tem a possi- bilidade de promover reflexões com os educadores sobre seus desafios, problemas, dilemas e de modo especial das condições sobre as quais a docência se constitui. Problematizar questões metodológicas nesse tra- balho é uma perspectiva que apresentamos para viabilizar essas questões, sobretudo facilitar o acesso ao professor aos conteúdos necessários e in- dispensáveis para uma pratica crítica e consciente. Dessa forma, proble- matizamos a formação continuada a partir das questões metodológicas, entendendo que é uma necessidade para aqueles que conduzem os espa- ços de formação - os formadores de professores. Desprezar a dimensão metodológica nas discussões sobre formação continuada é deixar de lado uma das variáveis importantes que pode tornar possível a constituição de espaços formativos, promotores da reflexão crítica sobre o ser/tornar- -se professor consciente do seu ofício – ensinar. Pensamento crítico, criatividade e colaboração são capacidades ba- silares das Metodologias Ativas. Tais metodologias associadas ao uso de Tecnologias da Informação e Comunicação torna-se uma possibili- dade alinhada às necessidades formativas do contexto atual (BACICH, 2018). Evidentemente que o trabalho com as Metodologias Ativas pode ser feito com ou sem a presença das ferramentas digitais. O importante é planejar boas situações de formação que possam contribuir com as reais necessidades dos professores. Necessidades formativas como sen- do um conjunto de desafios, desejos e problemas encontrados no de- senvolvimento do seu trabalho. Assim, os conteúdos da formação são situações reais e significativas para os professores. Tematizar a prática não se faz a partir de qualquer situação. Assim, o professor em formação estuda - refletindo – e aprende a olhar para sua prática como objeto miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 48miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 48 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 49 de investigação, atribuindo sentido às situações de formação. Pensar em possibilidades para que na formação possamos avançar na elaboração teórica e prática sobre os desafios da profissão (WEISZ, 2000). Afinal, articular formação reflexiva e trabalhar com Metodologias Ativas requer muitos arranjos e, ao mesmo tempo, uma transformação no grupo, uma mudança de valores, de postura e de concepção. Algumas dessas con- dições são: planejar as ações formativas definindo as bases teórico-práticas; situar a concepção de formação que embasa o processo; tematizar a prática considerando seus pressupostos, as condições para tal e a relação teoria e prática; investir em percursos metodológicos que colocam as necessida- des dos professores, como conteúdo da formação; envolvimento de toda a equipe da instituição, garantindo as condições materiais, favorecendo uma cultura de aprendizagem colaborativa; oportunizar espaços de troca de ex- periências com os pares, considerando a investigação e a problematização como base e fundamentos do percurso, a reflexão sobre a ação pedagógica em favor da ressignificação e da validação das ações formativas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BACICH, Lilian. Revista Pátio, nº 81, fev/abr, 2017, p. 37-39. Disponível em: ht- tps://loja.grupoa.com.br/revista-patio/artigo/13063/desafios-e-possibilidades-deinte- gracao-das-tecnologias-digitais.aspx. Acesso em 05 de setembro de 2020. BACICH, Lilian; MORAN, José. Metodologias Ativas para uma Educação Inova- dora: uma abordagem téorico-prática. (Orgs.). Porto Alegre: Penso, 2018. MORAN, José. Metodologias Ativas: uma aprendizagem profunda. In. BACICH, Lilian; MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação inovadora:uma abor- dagem téorico-prática. (Orgs.). Porto Alegre: Penso, 2018. BRASIL Conselho Nacional de Educação. Disponível em:< http://portal.mec.gov. br/busca-cne-aprova-diretrizes-para- > Acessado em 28 de agosto de 2020. JENKINS, H. Confronting the Challenges of Participatory Culture: media edu- cation for the 21st Century. MacArthur Foundation, 2006. Disponível em: http:// www.newmedialiteracies.org/wp-content/ uploads/pdfs/NMLWhitePaper.pdf. Acesso em 03 de setembro de 2020. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 49miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 49 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 50 PEREIRA, Rodrigo. Método Ativo: técnicas de problematização da realidade apli- cada à Educação Básica e ao Ensino Superior. In: VI Colóquio internacional. Edu- cação e Contemporaneidade. São Cristóvão, SE. 20 a 22 setembro de 2012. WEISZ, Telma. O Diálogo entre Ensino e Aprendizagem. São Paulo: Ática, 2000. VASCONCELLOS, Maura Maria Morita; BERBEL, Neusi Aparecida Navas; OLI- VEIRA, Cláudia Chueire. Formação de Professores: o desafio de integrar estágio com ensino e pesquisa na graduação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Bra- sília, v. 90, n. 226, p. 609-623, set./dez. 2009. VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. Rio de Janeiro: Martins Fon- tes, 1996. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 50miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 50 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 51 LUGARES ENUNCIATIVOS EM TEMPOS DE DISTANCIAMENTO SOCIAL: UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO-PESQUISA EM SALA DE AULA VIRTUAL Katia Cilene Ferreira França Maria Aparecida da Silva Miranda Maria Claudiane Silva de Souza INTRODUÇÃO Cada enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados. (BAKHTIN, 2003, p. 297) A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Dir-se-ia que tudo o que se passa está organizado para que nada nos aconteça. (LARROSA, 2017, p. 18) As palavras de Bakhtin e de Larrosa delimitam o ponto de vista que orienta nossa compreensão sobre a escrita deste trabalho. Trata-se da produção de um enunciado enquanto atividade dialógica que retoma enunciados e se propõe a ser ponto de partida para novos, que é a escrita de experiências de ensino as quais se definem enquanto algo cronologi- camente passado, mas que continua a nos tocar de um modo significati- vo. Escrevemos este texto a partir da posição enunciativa de professoras de língua portuguesa e pesquisadoras sobre os fenômenos da linguagem, miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 51miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 51 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 52 de sujeitos sociais implicados com o cenário de pandemia causado pela COVID-19. Um cenário mundial marcado por muitas incertezas, alto nível de contágio, sofrimento, mortes, isolamento social. Um tempo que não pode ser visto apenas sob o aspecto cronológico, mas como um tempo social, que solicita deslocamentos de diferentes naturezas. A ameaça de contágio por um novo vírus promove uma redefinição de cuidado con- sigo e com o outro, de práticas que envolvem a responsabilidade pes- soal de higienizar as mãos e usar máscaras, assim como uma posição de instituições governamentais de decretar isolamento social, de suspender atividades, dentre as quais estão aquelas desenvolvidas nas escolas e nas universidades. Essas medidas de segurança com a saúde, sustentadas pelo discur- so científico, orientadas pela OMS não circularam (e continuam a não circular) como portadoras de um único e transparente sentido; ao con- trário, em países como o Brasil, a voz dos cientistas com pesquisas e orientações sobre a ameaça do vírus encontraram rechaço orquestrado pelo presidente da república. Uma onda de enunciados, que nega a va- lidade da ciência, se instaura acintosamente, mas encontra resistência lúcida, responsável e em rede. Universidades e instituições de pesquisa encontram, nas plataformas digitais, o espaço de debates que extrapola espaços geográficos e que faz ecoar longe pesquisas das mais diferentes áreas de conhecimento e abordagem teórica. A escrita deste texto é o relato de uma experiência de lucidez e resis- tência, uma atividade responsiva e responsável de professoras-pesquisa- doras que se contrapõem ao discurso de negacionismo científico e que ensinam, pela pesquisa, sobre as formas de ler, interpretar e mobilizar a palavra alheia na construção do próprio dizer. A experiência de en- sino-pesquisa que exploramos trata-se de atividades do Webinário de Linguagens e Códigos, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), aulas: a) planejadas coletivamente pelas autoras deste trabalho, implica- das com a escrita acadêmica como objeto de estudo; b) pensadas para miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 52miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 52 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 53 futuros professores de Língua Portuguesa, os outros a partir da tela; c) realizadas em uma tela a partir de plataforma virtual. POSIÇÃO ENUNCIATIVA DO SUJEITO DA EXPERIÊNCIA No contexto pandêmico da COVID-19, as plataformas digitais torna- ram-se sala de aula possível. Essa realidade promoveu a suspensão do sentido de aula no que se refere ao espaço onde ela acontece, aos conteú- dos a serem explorados, ao tempo da aula, aos modos de recepção pelos alunos, considerando que o principal suporte é a pequena tela do celu- lar, e ainda ao conhecimento técnico para o uso de ferramentas digitais. A experiência que nos importa relatar refere-se às atividades que pen- samos e desenvolvemos no Webinário Linguagens e Códigos, promovi- do pela Licenciatura Interdisciplinar em Linguagens e Códigos – Lín- gua Portuguesa, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), com a finalidade de discutir sobre temas ligados à formação do professor de língua. O Webinário aconteceu virtualmente pela plataforma do Google Meet, com professores da UFMA e convidados de várias instituições na- cionais e internacionais. Um dos blocos temáticos chamado Diálogos so- bre a escrita acadêmica é o que vamos explorar neste trabalho, pois foram aulas planejadas e desenvolvidas em parceria pelas autoras deste relato. O Webinário de Linguagens foi uma atividade criada sem o com- promisso com conteúdos curriculares próprios das disciplinas ofertadas pelo curso, uma licenciatura que acontece no campus da UFMA, loca- lizado em São Bernardo, cidade do interior do estado do Maranhão. A proposta foi criar um espaço-tempo de encontro de diferentes perspecti- vas teórico-metodológicas de observação dos fenômenos da linguagem, um debate fértil sobre a produção científica na universidade, sobre ques- tões envolvendo língua e ensino. Ou seja, falar da aula não representa apresentar uma sequência di- dática, mas relatar reflexivamente sobre enfrentamentos em relação ao cenário de isolamento social e sobre deslocamentos quanto à construção miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 53miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 53 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 54 da aula, em tempos de ensino remoto e emergencial. O que ensinar? Como alcançar os alunos a partir de uma tela? Como ultrapassar as difi- culdades quanto ao uso de plataformas digitais? Como lidar com a nova configuração de sala de aula que se estabelece em um espaço-tempo que por um lado rompe limites espaciais? Foram questões que promoveram deslocamentos em nós e nos fizeram assumir posições enunciativas de professoras preocupadas em ensinar, de pesquisadoras empenhadas em problematizar, de alunas dedicadas a aprender e a encontrar saídas pau- tadas em saberes científicos enquanto ato ético e sensível. O conteúdo temático foram nossas aventuras no terreno da pesquisa sobre a escrita acadêmica, não no sentido de trabalhar com a revisão normativado texto, mas de realizar uma parada reflexiva sobre a presen- ça da palavra alheia na construção do próprio dizer. Nós nos preocupa- mos em construir uma aula voltada para a escuta dos discursos a partir das formas da língua. O que citar a palavra alheia quer dizer? O que essa citação diz sobre os modos como o sujeito lê, compreende e mobiliza discursos? Nossas aulas foram construídas a partir das perguntas e do convite para a reflexão sobre o sentido de citação na escrita acadêmi- ca. Um debate que consideramos fundamental, especialmente no atual cenário, em que vozes representantes do conhecimento científico são vilipendiadas. A delimitação dessa temática também liga-se à ideia de fazer pesqui- sa, de nos sentirmos instigadas a questionar, porque algo nos toca, nos acontece de modo singular. Não se trata de uma aula-manual sobre pro- cedimentos técnicos de investigação, mas uma aula como acontecimen- to (GERALDI, 2015), em que relatamos nossas experiências e assumi- mos a (ex)posição de aprendizes do ofício de professoras-pesquisadoras. Aliada à definição do conteúdo temático está a preocupação com o fun- cionamento da sala virtual que tem uma dinâmica própria. Não se trata de uma aula elaborada para acontecer na modalidade Educação a Distância, mas de um ensino remoto emergencial que acontece pelo distanciamento geográfico entre professores e alunos, ocasionado por uma questão de saúde miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 54miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 54 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 55 pública, pela pandemia da COVID-19. Um problema que deixa à mostra acintosamente as desigualdades sociais e de acesso a recursos tecnológicos, como é o caso do computador, em tempos de disseminação e produção de conteúdo digital. As pequenas telas de telefones móveis tornam-se salas de aula virtual, deixam visível a imagem corpórea tanto do enunciador quanto do interlocutor; esses dispositivos eletrônicos apresentam instabilidades nas interfaces de distribuição e visualização dos conteúdos a depender do for- mato de suas telas. Chartier (2003) chama atenção para esse aspecto quan- do diz que a forma como se dá a conhecer e a ler um discurso influencia, diretamente, no modo de apropriação e na maneira como são construídas as atribuições de sentido para com esse saber. Essa realidade digital passa a ilusória sensação de interação direta en- tre os sujeitos envolvidos na situação comunicativa, ao mesmo tempo impossibilita ao enunciador ter o controle sobre a quantidade de sujei- tos que sua enunciação alcança. Ou seja, precisamos assumir diferen- tes posições enunciativas ao elaborar uma aula virtual, posições com as quais não nos deparamos no ensino presencial. Aqui reside um proble- ma que exigiu de nós o cuidado sobre o como dizer, sobre as formas de recepção a partir de uma tela de celular, da duração da aula, de como interagir com um auditório visível-invisível. A sala de aula virtual, o auditório não presencial, esconde medos, incertezas e desejos latentes de estar diante do outro. Esse espaço discur- sivo-enunciativo é, em certa medida, expandido a partir da combinação de elementos virtuais, experiência vivida pelos sujeitos do discurso de forma virtual. Esse contexto situa professores e alunos em casas-salas-de- -aula e se aproxima do que diz Baudrillard (1981) sobre hiper-realidade, no sentido de que pessoas interagem remotamente com outras, em uma realidade não-real, mas localizada, por objetos ou modos de comuni- cação artificial. As salas de aula, ao mesmo tempo, são e não são; ora revelam os contornos, que geram distanciamento, ora convertem novos laços afetivos pelas formas de ler, interpretar e mobilizar a palavra alheia na construção do próprio dizer. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 55miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 55 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 56 A AULA SITUADA A aula, nesse sentido, se constitui como uma atividade que tanto reflete quanto refrata sentidos. Nossa proposta de trabalhar com a citação na escrita acadêmica, com os modos como os sujeitos leem e representam a palavra alheia na própria escrita, com a paráfrase enquanto operação lin- guístico-discursiva, ou seja, de tratar sobre a escrita sob a perspectiva da Linguística, exigiu de nós saberes específicos de uma disciplina científica e deslocamentos para o lugar do interlocutor, atenção para aquele cuja imagem chega refletida e refratada pela tela. Essa ida simbólica ao encontro do outro promove tensões, assim, oferece a observação da realidade a partir do lugar no qual o outro se en- contra. Não se trata de considerar o lugar físico, geográfico, dos alunos do curso de Linguagens e Códigos - Língua Portuguesa que moram no interior do Maranhão, mas levar em conta os lugares sociais que ocu- pam, especialmente em tempos de pandemia, que deixa à mostra vul- nerabilidades e resistências. A observação a partir da posição do outro é precedida do retorno, aquele que se desloca, ao retornar para o lugar de onde partiu, chega com um olhar ampliado, seu horizonte apreciativo é ressignificado pelo que Bakhtin (2003) chama de excedente de visão, de olhar exotópico. Nosso excedente de visão ganhou maior proporção no momento efetivo em que aula aconteceu virtualmente. As telas projetavam a imagem de alunos, ao vivo, em quintais, nos cômodos da casa como quartos, cozinhas, salas; mostravam os membros da família circulan- do pela casa, as mães acalmando o choro de filhos pequenos; revela- vam a falta de um lugar físico planejado para os estudos e de estantes com livros; projetavam a busca pela preservação da privacidade por meio da operação “desativar câmera”. O gesto de desativar é um jogo de contrários, pois, por um lado, preserva a intimidade do aluno, por outro, tira da aula a fundamental presença virtual do corpo, as rea- ções, as interlocuções face a face. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 56miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 56 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 57 A aula sobre os modos de representação do discurso alheio na escrita acadêmica foi atravessada por deslocamentos vários e por posicionamen- tos responsivos, reflexivos, responsáveis e éticos. Pensamos na importância e necessidade de uma apresentação esteticamente acessível ao interlocutor, no designer da informação que chegaria às telas de diferentes dimensões, no recorte de dados a serem apresentados, no modo de relacionar con- ceitos na análise dos dados. Considerando os participantes da aula, nos deparamos com novas questões relacionadas às condições sociais de pro- dução da escrita de alunos em tempos de pandemia, às práticas de leitura de textos científicos que, como diz Auroux (2008) é marcado por forte codificação, alto investimento de tempo e não acessível a todos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em suas várias fases de produção, a aula nos fez experienciar a cons- trução de um olhar exotópico de modo singular e ao mesmo tempo coletivo, uma vez que cada uma de nós sentiu-se implicada em produzir uma aula sobre escrita acadêmica enquanto produção de conhecimento, capaz de alcançar sujeitos de diferentes lugares geográficos e sociais, ca- paz de ajudar alunos a identificarem e analisarem discursos, a assumirem uma posição responsiva e responsável enquanto professores problemati- zadores em formação, enquanto sujeitos no mundo portadores de vozes contrárias às formas de exclusão social, de manipulação de discursos e sentidos, de negação da validade do discurso científico, de manipulação de discurso em prol de um projeto político de poder autoritário e movi- do pela cegueira da lucidez, pela escassez de empatia e responsabilidade social com o outro. Nossa intenção estava em construir uma aula que não se configuras- se como exposição de informações, mas como experiência de algo que aconteceu na sala de aula virtual com dia e horário marcado, mas não acabou, pois, em algumamedida, continua a ressoar. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 57miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 57 2021-05-24 16:03:042021-05-24 16:03:04 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUROUX, S. A questão sobre a origem das línguas seguido de a historicidade das ciências. Campinas, SP: Editora RG, 2008. BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. CHARTIER, R. Formas e Sentido: cultura escrita entre distinção e apropriação. Campinas - São Paulo: Mercado das Letras, 2003. IMBERNÓN, F. Inovar o Ensino e a Aprendizagem na Universidade. Cortez Edi- tora, 2017. NÓVOA A. Formação de Professores e Profissão Docente. Lisboa: Educa, 1992. LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. 1ª. ed. 3. reimp. Belo Horizon- te: Autêntica, 2017. GERALDI, J. W. A aula como acontecimento. 2. ed. São Carlos, SP: Pedro e João Editores, 2015. BAUDRILLARD, J. Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio D’água, 1981. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 58miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 58 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 59 ENSINANDO NA ADVERSIDADE: O FAZER DOCENTE MEDIADO PELAS TECNOLOGIAS DIGITAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA Iracy de Sousa Santos Delcineide Maria Ferreira Segadilha Francinete Soares da Silva INTRODUÇÃO Atualmente passamos por um momento de crise mundial, por conta da pandemia da COVID-19 gerada pela disseminação do novo coronaví- rus, em que todos os setores da sociedade foram afetados. No campo educacional convivemos com a insegurança, o medo e as incertezas que paralisaram não só as instituições de ensino, mas todas as pessoas que fazem parte da comunidade educativa. Esta realidade nos levou a pensar, questionar e buscar saídas para conti- nuar trabalhando em um contexto para o qual não estávamos preparados, e também não tivemos tempo de planejar, pois a nossa atividade exige intencionalidade, planejamento, reflexão sistemática com vistas à projeção de futuro, em relação ao processo ensino e aprendizagem. O que fazer? Como fazer? Por que fazer? Tais interrogações nos conduziram para o uni- verso das tecnologias e mídias digitais, que hoje fazem parte da vida de todos/as, seja em menor ou maior intensidade, via rede mundial de com- putadores, internet, mídias sociais e aplicativos diversos. Neste capítulo temos como objetivo refletir sobre a urgência de uti- lizarmos as tecnologias digitais na educação, com base em experiências miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 59miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 59 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 60 de ensino não presencial na Universidade Federal do Maranhão/UFMA, trazendo questionamentos sobre o processo de democratização e acesso às tais tecnologias, a partir do entendimento de que esse desafio passa pela necessidade de questionarmos as condições de docentes e discen- tes como usuários críticos destas novas ferramentas, assim como sobre a formação do/a educador/a para enfrentar as demandas postas pela socie- dade na conjuntura atual. Partimos de uma concepção de pesquisa qualitativa, visto que discorre- mos sobre o objeto levando em conta a sua complexidade. Usamos como abordagem procedimental o relato de experiências seguindo com as in- terpretações. Como referencial teórico utilizamos autores/as, como: Levy (2000); Nóvoa (1995); Cunha(2016); Fino (2008) e Dubet (2008). Consideramos relevante, especialmente neste momento complexo de nossas vidas, reflexões que sintetetizem ações emergenciais do campo da educação, atentando a elementos explícitos e implícitos do fenômeno ensino e aprendizagem, na medida em que muito do que foi e será expe- renciado nesse processo poderá continuar presente na prática docente, assim como no âmbito da elaboração de políticas educacionais. ENSINO E APRENDIZAGEM MEDIADOS PELAS TECNOLOGIAS: REFLEXÕES E EXPERIÊNCIAS A inserção efetiva das novas tecnologias na escola tem sido também jus- tificada por razões culturais e psicológicas, onde notadamente percebe- mos duas posições: há posições que resistem e até agem com indiferença no tocante à entrada destas na área educacional, enquanto outras são marcadas por propostas da sociedade de consumo, acreditando que as tecnologias irão resolver os problemas cruciais dos atrasos no setor edu- cacional. Existem fatores internos e externos que, diretamente, constituem de- safios para que as novas tecnologias sejam efetivadas na prática educati- va, demandando especial atenção aos docentes e discentes como sujeitos miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 60miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 60 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 61 principais deste processo. Isso implica pensar em uma nova concepção de educação, de ensino e de aprendizagem; significa assumir uma for- mação docente que supere o modelo de racionalidade técnica que tem sido tradicionalmente empregado na formação de professores/as. Reverter esta postura sugere a existência de um ambiente em condi- ções socioemocionais e tecnológicas favoráveis para que o aluno desen- volva projetos próprios de aprendizagem mediados pelos professores/as tendo como foco a produção de conhecimento que garanta a sua auto- nomia e potencialize o trabalho docente. Este processo de formação supõe uma competência técnica que não se desvincula da realidade e que permita a interação nos diferentes as- pectos da tarefa docente, estabelecendo a mediação entre o pedagógi- co, técnico-científico, sociopolítico e cultural; pois, como reitera Levy, (2000, p.79): “O professor torna-se o ponto de referência para orientar seus alunos no processo individualizado de aquisição de conhecimentos e, ao mesmo tempo, oferece oportunidades para o desenvolvimento do processo de construção coletiva do saber.” O que deverá ocorrer no sen- tido do acompanhamento e na gestão da aprendizagem. Educadores/as críticos têm consciência das vantagens e desvantagens da utilização das tecnologias na sua prática pedagógica. Porém, neste momento, utilizá-las faz-se necessário não especificamente como ino- vação pedagógica, mas pelas condições que estamos vivendo em funçáo da pandemia, pois, em nossa concepção, inovação pedagógica é um pro- cesso complexo e emancipador, ultrapassa o simples uso de feramentas tecnológicas e midiáticas. Em prosseguimento, passaremos, então, à descrição de algumas das atividades realizadas na UFMA, especialmente no Curso de Pedagogia, durante os primeiros meses de isolamento social em função da pande- mia da COVID-19 provocada pela disseminação do novo coronavírus. Trabalho docente não presencial, uma realidade a ser experienciada por todos/as os/as envolvidos/as em instituições de ensino. Neste tex- to apresentamos as nossas inquietações, incertezas e questionamentos miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 61miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 61 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 62 – formação de professores/as, acesso democrático à educação, condições de trabalho com segurança e inclusão digital para todos/as – a respeito das condições de exercício de uma prática docente para a qual não está- vamos preparados/as. Assim, considerando as demandas institucionais de ordem legal, administrativa e pedagógica, que agora seriam execu- tadas de forma não presencial, pontuamos a urgência de situar o nosso “fazer docente,” nesta nova realidade de distanciamento físico, porém necessário de interações socioemocionais, indispensáveis ao processo en- sino e aprendizagem. Academicamente tivemos que exercer nossas funções junto à ins- tituição atuando mais intensamente em nossas atividades de Ensino e Pesquisa, posto que são o foco principal do nosso labor funcional. A universidade, no seu próprio Sistema Integrado de Gestão de Ativida- des Acadêmicas/SIGAA, possui ferramentas tecnológicas que permitem desenvolver muitas atividades de forma remota, além de disponibilizar outras ferramentasem plataformas de internet que nos permitem infor- mar, comunicar, pesquisar e ministrar aulas. Assim, a UFMA passou a oferecer cursos on-line e webinários para instrumentalizar a comunidade acadêmica, objetivando atender às demandas postas pela pandemia. O impacto inicial paralisou a grande maioria, mas, aos poucos, co- meçamos retomar nosso trabalho focados em ações de muita reflexão para expressarmos o nosso estado de perplexidade, porém, com deter- minação no sentido de manutenção da vida e bem estar de todos/as. A retomada exigiu planejamento, reuniões de departamentos, colegiados, comissões e NDEs. Realizamos também estudos sistemáticos nos gru- pos de pesquisas, orientações de monografias, dissertações de mestrado, defesas por videoconferências de graduação e pós-graduação e ministra- ção de disciplinas. Todas essas atividades executadas de forma remota. Os docentes, mesmo em condições não favoráveis, se reinventa- ram para atender aos estudantes da forma mais inclusiva possível, pos- to que, neste momento, docentes e discentes encontram-se fragiliza- dos. Na pós-graduação, de forma colaborativa, concluímos disciplinas miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 62miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 62 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 63 anteriormente iniciadas, enfrentando, claro, muitos desafios, porém, conseguindo fazer acontecer o processo ensino e aprendizagem. Sobre as experiências de conclusão de disciplinas na pós-graduação foi necessário um replanejamento que permitisse a utilização das fer- ramentas do SIGAA, pelo qual disponibilizamos materiais de estudo, orientações sistemáticas para produção escrita, utilização de vídeos e áu- dios para promover a interatividade de conhecimento. Realizamos ainda fóruns e aulas virtuais via google meet. Ressaltamos que este processo foi desafiador, pois não estávamos preparadas para desenvolvê-lo. Tivemos que considerar o princípio da flexibilidade, principalmente com os mes- trandos da área da saúde, médicos/as, enfermeiros/as, fisioterapeutas/as, para citar alguns, pois se encontravam envolvidos com seus pacientes, alguns atuando em hospitais no interior do estado onde a precariedade das redes de internet na sua grande maioria se configura obstáculo quase intransponível. Nestes casos, a comunicação foi estabelecida desde tele- fone convencional até correios eletrônicos. Sem perder de vista os princípios básicos do trabalho pedagógico, executamos processos metodológicos ativos e avaliamos partindo de uma concepção de avaliação formativa, realizada processualmente a cada atividade, com ênfase na autoavaliação de produções propostas aos estudantes. Determinamos critérios específicos que indicassem a apreen- são do conhecimento e a solidez da aprendizagem. Ao término desta experiência foi possível constatar que conseguimos ensinar e aprender utilizando as tecnologias digitais, isto é, por ensino não presencial, con- figuração razoável em momentos de pandemia. Contudo, mesmo em nível de pós-graduação, as dificuldades estruturais representam uma di- ficuldade exponencial para o desenvolvimento de um trabalho com a qualidade exigida a um processo de formação profissional humanizador. Em relação ao trabalho com os grupos de pesquisa, em função do perfil da grande maioria ser de pessoas já inseridas no mercado de tra- balho e alunos de pós-graduação, as dificuldades maiores foram com os/ discentes da graduação, pois estes ainda não possuem independência miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 63miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 63 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 64 financeira que lhes permita reunir as condições materiais exigidas para o desenvolvimento exclusivo de atividades não presenciais de estudo. As- sim, ressaltando-se as perdas relativamente aos integrantes do grupo de pesquisa que não conseguiam realizar acompanhamentos síncronos das atividades, o trabalho transcorreu no sentido de nos mantermos próxi- mos/as um dos/as outros/as, pontuando os entraves que precisam ser superados pela universidade, Estado e sociedade como um todo. Como última atividade a ser mencionada, temos o planejamen- to de retorno às aulas sistemáticas da graduação da UFMA, em que o NDE do Curso de Pedagogia considerando a Instrução Normativa nº 02/2020, da Pró-Reitora da Universidade, desenvolveu uma Proposta Curricular de Ensino não Presencial Emergencial para ser desenvolvida no contexto da pandemia da COVID-19. A referida proposta buscou atender à Resolução nº 1.892/CONSEPE, que trata das normas regula- mentadoras dos cursos de graduação da UFMA e o Parecer CNE/CP nº 5/2020 que aborda a reorganização do calendário escolar. Apesar da construção da referida proposta de ensino, muitas inquie- tações e incertezas permeavam as diversas reuniões realizadas pelos do- centes e discentes do Curso de Pedagogia: desenvolvimento de um tra- balho com qualidade e inclusão digital discente e também docente. Verdadeiramente, a realidade presente, impactada pela pandemia, colocou para todas as instâncias de produção da vida humana o desa- fio da reinvenção, estando o campo da educação formal e dos cursos de formação de professores bem no centro desse desafio. Contudo, se- ria preciso não perder vista a natureza presencial do Curso de Pedago- gia/UFMA e as dificuldades de acesso digital de um grande número de nossos/as discentes. Um quadro de reflexão e reconstrução das práticas educacionais para o atendimento de uma circunstância emergencial que afeta sobretudo a formação de futuros docentes e coloca em evidência a inovação de práticas pedagógicas, associando-se à formação de novos/as docentes, de modo ético e humanizador, as possibilidades existentes do uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC’s). miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 64miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 64 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 65 Uma ação que se insere no que podemos chamar de inovação peda- gógica? De certo modo sim, contudo, precisamos ser cuidadosos sobre como compreendemos o processo de inovar pedagogicamente. Segundo Nóvoa (1995, p.141), atualmente é notório que é no cenário da organi- zação escolar que as inovações são capazes de estabelecer-se e desenvol- ver-se. Contudo, é relevante conceber as possibilidades organizacionais para que a inovação ocorra, para que as experiências pedagógicas não sejam “sistemicamente destruídas com argumentos burocráticos para que os profissionais do ensino sintam-se motivados e gratificados por participarem em dinâmicas de mudança”. Contrários ao entendimento de uso da tecnologia pela tecnologia, o conceito de inovação pedagógica com o qual coadunamos está além da noção de que os recursos tecnológicos em si possam significar inovação, visto que entendemos que os indivíduos criam, especialmente no que se refere aos seus comportamentos, posturas e atitudes (VASCONCEL- LOS; SANTIAGO, 2018). Nesse direcionamento, a inovação pedagó- gica significaria: “[...] ruptura paradigmática que exige dos professores reconfiguração de saberes e reconhecimento da necessidade de trabalhar no sentido de transformar [...] a inquietude em energia emancipatória.” Passa por estabelecerem-se diferentes relações com o conhecimento, mudanças nas bases epistemológicas da prática pedagógica (CUNHA, 2016, p. 8). Nesse sentido, reafirmamos que inovar pedagogicamente representa mudanças qualitativas das práticas escolares. Essas mudanças que conti- nuamente são exigidas da profissão. Conforme Fino (2008, p. 01), ino- vação consiste em uma disposição “crítica, explícita ou implícita, face às práticas pedagógicas tradicionais [...]. Se quisermos colocar a questão em termos de ruptura [...] a inovação pedagógica pressupõe um salto, uma descontinuidade” (FINO, 2008, p. 01). Para Fino (2008, p. 05), “[...] a inovação pedagógica só se pode co- locar em termos de mudança e de transformação”, nãoé quantificável, estando à frente da ideia tecnicista que, por muitas vezes, se agrega à miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 65miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 65 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 66 educação, envolve construção da autonomia docente, centralmente de ações que objetivem o trabalho de uma educação marcada por valores representativos da condição humana, da formação de sujeitos/agentes cada vez mais comprometidos com uma transformação social em uma perspectiva da igualdade e da justiça social. Para Dubet (2008, p. 49), a educação pode contribuir com uma igual- dade distributiva das oportunidades, sendo esta “necessária, uma vez que mobiliza princípios e postulados morais fundamentais numa sociedade democrática”. A inovação pedagógica encontra-se nesse bojo como possi- bilidade de luta pela conquista de uma educação de qualidade e justa. Quanto à inclusão digital discente, consideramos relevante obser- var que há a necessidade iminente de realização de mapeamento dos/ as discentes no que se refere às suas condições de acesso à internet, visto que muitos residem em locais onde não existe sinal de internet. Tal cir- cunstância coloca para a universidade o desafio de promoção de uma inclusão verdadeiramente abrangente, dado que já é tempo de se fazer concretizar nossos discursos de oferta de uma educação democrática. É preciso que a universidade não se configure instrumento de aprofunda- mento das desigualdades sociais. Portanto, a partir do exposto, reiteramos que o esforço por uma prá- tica pedagógica inovadora comporta exigências de cunho administrativo e acadêmico, ao passo que é preciso que se reconheça que a formação de professores/as passa primordialmente por pensar-se e operacionaliza- rem-se espaços democráticos e inclusivos. CONSIDERAÇÕES FINAIS As experiências de Ensino Não Presencial desenvolvidas na UFMA nos permitiram constatar a alarmante exclusão digital em que estão imer- sos/as os/as discentes e também docentes, tornando explícito o quadro carente da educação pública brasileira e maranhense no que se refere às políticas educacionais. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 66miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 66 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 67 Consideramos que as políticas de formação de professores, sejam elas iniciais e/ou continuadas, assumem um caráter curricular e permanen- te, posto que as tecnologias se desenvolvem em uma velocidade muito grande e os professores necessitam de condições de trabalho e aperfei- çoamento para garantir a sua inserção neste processo de produção de conhecimentos de forma crítica. De igual modo, ressaltamos a necessidade de programas de assistência es- tudantil realmente abrangentes, capazes de atender às demandas dos setores mais vulneráveis da sociedade. Condições que permitam dinamizar a práti- ca pedagógica tendo como cerne a produção de conhecimento que garanta a autonomia discente e a elevação da qualidade do processo educativo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Parecer nº 052020/CNE/CP. Dispõe sobre a reorganização do Calendário Acadêmico das Universidades Federais. CUNHA, M, I. Inovações na Educação Superior: impactos na prática pedagógica e nos saberes da docência. Em Aberto, Brasília, v. 29, n. 97, p. 87-101, set./dez. 2016. DUBET, F. O que é uma escola justa?: a escola das oprtunidades. São Paulo: Cor- tez,2008. FINO, C. N. Inovação Pedagógica: significado e campo (de investigação). In: MENDONÇA, A. & BENTO, A. V. (Org). Educação em Tempo de Mudança (pp. 277-287). Funchal: Grafimadeira, 2008. LEVY, P. Cibercultura. Rio de Janeiro: Ed.34, 2000. NÓVOA, A. As Organizações Escolares em Análise. Lisboa, Dom Quixote, 1995. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO/UFMA. Instrução Normativa nº 02/2020, da Pró-Reitoria da UFMA. Dispõe sobre o retorno às aulas por Ensino Re- moto e/ou Híbrido dos cursos de Graduação e Pós-Graduação da UFMA. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO/UFMA. Resolução nº 1.892/Con- sepe. Dispõe sobre as normas regulamentadoras dos cursos de graduação da UFMA. VASCONCELLOS, M; SANTIAGO, M. Grupo de Pesquisa “Formar”: inovação ou reinvenção de saberes. Educação e Fronteiras On-Line, Dourados/MS, v.8, n.22, p.35-46, jan./abr. 2018. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 67miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 67 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 68miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 68 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 69 FORMAÇÃO DOCENTE E A UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS NO DESENVOLVIMENTO DA AÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DA PANDEMIA Francisca das Chagas dos Passos Silva Alexandrina Colins Martins Clenia de Jesus Pereira dos Santos Vanja Maria Dominices Coutinho Fernandes INTRODUÇÃO No bojo da história da educação, o ano letivo de 2020 vai demarcar uma nova era no âmbito educacional mundial, pois se caracterizou como o ano mais atípico dos últimos cem anos, com reflexos em todos os continentes, em quase todos os países, e em quase a totalidade das escolas do planeta o ano foi interrompido e em algumas localidades nem iniciado. Esse fato foi originado pela instalação, do final de 2019 para início de 2020, da pandemia do novo coronavírus – COVID-19, que obrigou o mundo a parar, a entrar, seja no isolamento social, ou no dis- tanciamento social, como medida de segurança, proteção e contenção da pandemia instalada. É nesse contexto pandêmico que se insere este texto, o qual apresenta o resultado de uma pesquisa de campo realizada com docentes do ensi- no médio em uma instituição escolar pública estadual de tempo integral localizada no município de São Luís, Estado do Maranhão, no primeiro semestre de 2020. O objetivo foi conhecer os desafios e as perspectivas miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 69miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 69 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 70 dos/as professores/as para manter a continuidade do processo de ensino e aprendizagem no período letivo do ano de 2020 por meio do ensino remoto. Para geração dos dados, utilizou-se como instrumento um questio- nário aplicado de forma remota por meio do google forms. Os dados gerados e analisados estão organizados de modo que inicialmente se apresenta o cenário da instalação da pandemia e seus efeitos na educa- ção mundial e brasileira, e, em seguida, os desafios encontrados pelos/ as docentes para a utilização das mídias digitais como ferramentas de mediações tecnológicas na construção do planejamento e execução das atividades pedagógicas nas escolas. Também fará parte dos resultados obtidos com a pesquisa algumas perspectivas já vislumbradas para a uti- lização das mídias digitais de forma constante nas escolas no período pós-pandemia. O CENÁRIO MUNDIAL INSTALADO A PARTIR DA DISSEMINA- ÇÃO DO VÍRUS E SEUS EFEITOS NA EDUCAÇÃO No dia 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial de Saúde emi- tiu alerta sobre os casos de pneumonia na cidade de Wuhan na Chi- na. De forma muito rápida o vírus foi se disseminando pelos diferentes continentes do mundo, causando incerteza e medo, e as consequências foram se avolumando, deixando um saldo apavorante, pois muitas vidas foram ceifadas. A pandemia pela COVID-19 disseminada no mundo no início do ano de 2020 marcará a história da Humanidade por ser a maior crise sa- nitária dos últimos cem anos, impactando fortemente a vida nos aspec- tos socioemocionais, econômicos, políticos e educacionais da população mundial. No Brasil, ela escancarou as desigualdades sociais, expondo-as de forma mais visível, revelando como é perversa e brutal a condição em que muitos brasileiros vivem. Lamentavelmente no ato da escrita deste texto, no cenário mundial, o Brasil ocupa o segundo lugar em número miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 70miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd70 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 71 de mortos pela COVID-19. Milhares de vidas perdidas, famílias dilace- radas, histórias interrompidas. Além das trajetórias de vidas interrompidas, os efeitos da pande- mia no mundo originaram uma crise sem precedentes, de proporções globais, atingindo todas as áreas, sendo a educacional uma das mais afetadas, [...] a pandemia não tem como foco só a questão da saúde da população; ela coloca em jogo vários outros aspectos. Um deles é a educação, e o outro se refere às desigualdades sociais que afloraram com todos esses problemas gerados por ela. Isso faz com que tenhamos que ampliar um pouco o de- bate sobre o que está acontecendo com a gente, essa conjuntura que nós nunca tivemos e nunca vivenciamos, que nos impõe diferentes desafios e escancara os problemas existentes na sociedade brasileira, nas diferentes re- giões do país. (CERICATO; SILVA, 2020, p. 4). O relatório da UNESCO aponta que a COVID-19 deixou 1,57 bi- lhão de estudantes em 191 países fora da escola. No Brasil, 52,8 milhões de estudantes ficaram fora das salas de aula, incluindo todos os níveis e etapas da educação infantil ao ensino superior, em atendimento aos pro- tocolos de distanciamento social a fim da preservação do bem supremo da vida. Governos, gestores educacionais, profissionais da educação e famílias, todos foram surpreendidos e passaram a viver uma situação de imprevisibilidade (UNESCO, 2020). A esse contexto educacional de incertezas e perdas somam-se outros aspectos que concorrem para maximizar as suas fragilidades, como os dois a seguir: os descaminhos da educação brasileira decorrentes da ins- tabilidade ocasionada pelas várias gestões conturbadas que estiveram à frente do Ministério da Educação - MEC no governo Bolsonaro entre os anos de 2018 a 2020 e a ausência de um Sistema Nacional de Educa- ção, o que acabou por atribuir aos estados e municípios a total respon- sabilidade pela gestão de suas redes de ensino durante a pandemia sem miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 71miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 71 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 72 qualquer orientação nessa direção em âmbito nacional. É importante pontuar, ainda, as dimensões geográficas do país, as desigualdades regio- nais, os vários cortes e desvios das verbas federais destinadas ao segmen- to educacional. No Maranhão, a Portaria nº. 474, de 17 março de 2020 suspendeu as aulas presenciais nas unidades escolares da rede estadual de ensino. A Portaria nº. 506 de 30 de março de 2020, SEDUC/MA, institui no âmbito da rede estadual de ensino, em razão da situação emergencial de saúde pública causada pela pandemia da COVID-19, e em atendimento ao Art. 3º da Resolução CEE/MA Nº 94, de 26 de março de 2020, o regime especial de realização das atividades curriculares não presenciais, nas etapas e modalidades da educação básica, em prosseguimento ao cumprimento do calendário escolar do ano letivo de 2020. Para atender à nova configuração do processo educacional, foi ne- cessária a utilização da mediação tecnológica, exigindo do professor habituado ao cotidiano do ensino presencial adaptações e reinvenção pessoal e profissional para atender às novas demandas sociais da apren- dizagem interativa, por meio da utilização das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC’s). Nessa perspectiva, os sujeitos envolvidos passam a ter a necessidade de desenvolverem outras racio- nalidades, ritmos de vida e relações com os objetos e com as pessoas (MARTÍN-BARBERO, 2008). Nesse sentido, as “TDIC’s deixam de ser meramente instrumental para converterem-se em ações que possi- bilitem a expressão de sentimentos, de partilhas e de conhecimentos” (GOEDERT; ARNDT, 2020, p. 6). Dessa forma, se fez necessário realizar enfrentamentos e adaptações nunca vividos, o trabalho remoto (home office), utilizando plataformas digitais foi um aprender na urgência: Meet, Hangouts, Zoom, uso do one, e google drive, chamadas de vídeos, uso mais intenso do whatsapp, google class, google forms. Estas ferramentas invadiram a vida dos professores subitamente. Estes, acometidos pelo medo da doença e emocionalmente fragilizados com os desafios impostos, com as novas formas de interagir, miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 72miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 72 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 73 de ensinar e aprender, veem sua rotina bruscamente alterada, transfor- mando sua vida profissional e pessoal. Corroboramos com o pensamento mencionado inferindo que: “saí- mos do mundo de certezas e circulamos de forma on-line, por um mundo em que tudo e todos passam por um processo de reinvenção”. (GOEDERT; ARNDT, 2020, p.8). REINVENTANDO A DOCÊNCIA EM TEMPOS DE PANDEMIA: O QUE DIZEM OS PROFESSORES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE SUAS AÇÕES PEDAGÓGICAS? A formação docente foi colocada à prova, pois, mesmo compreendendo que esta é composta de um conjunto de saberes como afirma Gauthier (1998), que é necessário que o/a docente mobilize um repertório de saberes, os quais formam uma espécie de reservatório, através do qual ganham musculatura, robustez para atender as exigências do ensino, o cenário desafiador e urgente em que professores/as mergulharam neste início da década de 20 do século XXI os levou a mobilizarem deste re- servatório de saberes àqueles oriundos dos saberes disciplinares, curricu- lares, das ciências da educação, da tradição pedagógica, experienciais e os saberes da ação pedagógica na intenção de dar conta de tamanho de- safio, deslocar o tempo e o espaço de interação com os alunos do plano presencial para o plano virtual. Nesse sentido, “O papel da teoria é oferecer aos professores perspecti- vas de análises para compreender os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais, e de si mesmos como profissionais” (PIMENTA, 2005, p. 26), e é assim que, para resolver os problemas e desafios postos com a conjuntura da pandemia no universo educacional, estes profissionais têm se reinventado para dar continuidade às ações educativas, fato que solicita uma investigação mais apurada e aprofundada nesta realidade. Para isso a pesquisa em cena concentrou-se em uma escola de tempo integral de grande porte da rede pública estadual de ensino na cidade de miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 73miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 73 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 74 São Luís, Estado do Maranhão. Os dados foram gerados com o apoio da tecnologia digital por meio da ferramenta Google Forms a partir de um questionário online com 10 (dez) questões. Contou-se com um grupo de 32 (trinta e dois) professores respon- dentes todos do ensino médio, com formação superior com titulações em especialização, mestrado e doutorado. A faixa etária desse público concentra entre profissionais de 25 a 55 anos, sendo que a maior con- centração de idade está entre aqueles que têm de 45 a 55 anos, alcançan- do um percentual de 49,9%. A maioria possui vínculo efetivo na rede, contemplando um percentual de 87,5% do total investigado. Os resultados da pesquisa indicaram que o contexto da pandemia atin- giu a vida dos professores tanto no aspecto emocional quanto profissio- nal. Esse movimento na rotina dos docentes comprometeu a saúde física e mental. O confinamento prolongado, o isolamento social das pessoas, o fato de transformar a casa em um local provisório de trabalho, as mudan- ças de hábitos e alterações da rotina, convergem para o desenvolvimento de um quadro de estresse em que o professor precisa adequar-se e adap- tar-se aos novos tempos passando “por um processo de reinvenção” (PAS- CHOALINO; RAMALHO; QUEIROZ, 2020, p. 127). É conveniente destacar o compromisso ético-profissional e a coragem para o enfrentamento dos desafios postos. Para além disso, é necessário estimular a solidariedade entre os educadores, a comunidade escolar e as famílias, ainda que remotamente.É salutar nesse momento de reinvenção construir uma rede de apoio colaborativa para dar continuidade às relações sociais entre professores, equipe gestora, estudantes e suas famílias. Estes aspectos contribuem para “minorar o impacto psicológico negativo da pandemia, evidenciando o distanciamento social, não o isolamento social para todos, condição está muito adversa, pois suscita solidão, abandono. Agora, importa prevenir e reduzir os níveis elevados de ansiedade, depres- são e estresse que o confinamento provoca”. (DIAS; PINTO, 2020, p. 2). A pesquisa também revelou que a ferramenta mais utilizada pelos do- centes para dar continuidade ao trabalho educativo foi o computador, miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 74miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 74 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 75 com 93,8% da totalidade das respostas; no entanto, há um percentual considerável, 87,5% que utilizam smartphone. Quando desvelamos os dados, percebe-se a complexidade dessa informação, pois o uso do smar- tphone restringe o acesso às plataformas e a efetividade de atividades que só são viáveis com a utilização do computador, comprometendo o pro- cesso ensino-aprendizagem. No que concerne ao apoio e/ou formações para o desenvolvimento do trabalho remoto, 90,66% informam que não houve suporte instru- cional para utilização das tecnologias digitais. O dado confronta duas situações extremamente difíceis: de um lado, as condições precárias de acesso às tecnologias e à internet pelos estudantes, e, de outro, os professores que não foram formados para exercer a docência com foco na utilização das tecnologias digitais e precisam revisitar o repertório de saberes Gauthier (1998), para reinventar-se e adequar-se ao novo cenário com vistas a desenvolver o planejamento das aulas para o for- mato on-line, que inclui: gravação de videoaulas, organizar roteiros de estudos, participar de lives, orientar os estudantes a utilizarem as pla- taformas e outras ações correlatas. Estas questões “requerem análises cuidadosas sobre os desafios e possibilidades pedagógicas relacionados ao advento das mídias digitais”. (GOEDERT; ARNDT, 2020, p. 8). Sobre esse assunto, Buckingham (2010, p. 53) acrescenta, O advento da mídia digital apresenta desafios ainda mais amplos para a escola enquanto instituição. Uma questão-chave, levantada por vários au- tores, concerne ao seu papel no enfrentamento das desigualdades de acesso à tecnologia surgida na sociedade. Acesso, neste sentido, é mais do que disponibilidade de equipamento, ou uma questão de habilidades técnicas: é também uma questão de capital cultural – a capacidade de usar formas culturais de expressão e comunicação. Os dados gerados corroboram com o pensamento supracitado quan- do se constata que apenas 46,9% dos respondentes declararam obter miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 75miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 75 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 76 familiaridade no manuseio das tecnologias. Esta informação associa-se a outras revelações como falta de oferta de formação de professores pela Secretaria de Estado da Educação em relação ao uso destas ferramentas. Os dados também constataram que 81% das dúvidas para utilização das ferramentas tecnológicas foram dirimidas entre os próprios professores, formando uma rede colaborativa nas escolas. Os professores, apesar de apontarem desafios em suas respostas, também apresentam perspectivas, pois 78,1% concebem este momento como desa- fiador e visualizam, nas tecnologias, alternativas para atenderem o ensino de emergência no contexto de pandemia. Nessa direção, acredita-se na efetiva- ção dos usos das tecnologias digitais para o exercício da docência, pois [...] percebemos que a pandemia é um alerta para a criação, ampliação e consolidação das políticas de inclusão digital no cotidiano escolar; a valo- rização do aprendizado através de mídias; a aplicação de softwares educati- vos; o auxílio na aquisição de notebooks/computadores; a disponibilização de pen drives; o auxílio para contratação de pacote de dados/serviços de internet; a implementação de serviços de teleconferência; a criação de tele- centros e de Centros Vocacionais Tecnológicos; a oferta de oficinas, treina- mentos e cursos de qualificação/aperfeiçoamento para otimização do uso dos recursos tecnológicos etc. (SILVA; SOUSA, 2020, p. 972). Dessa forma, a pandemia trouxe à tona desafios que impactaram o contexto educacional em virtude da falta de formação dos docentes, das poucas informações sobre a utilização das ferramentas tecnológicas, do acesso à internet e para o exercício das atividades docentes no ensino remoto. Entretanto, não podemos perder de vista as perspectivas que culminam para reflexão da prática do professor neste processo de re- invenção. Além disso, desvelam a necessidade de implantação e imple- mentação de políticas digitais para oportunizar a promoção de forma- ções que subsidiem a qualificação docente no cenário da pandemia e para além dela, pois a prática docente será redesenhada. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 76miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 76 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 77 CONSIDERAÇÕES FINAIS Mediante o que foi analisado nesta pesquisa, concluímos que a incorpo- ração das tecnologias digitais na formação e no planejamento docente é uma das dimensões imprescindíveis para fortalecer os saberes, a autono- mia e as competências básicas para atender às demandas no contexto de pandemia no qual a educação brasileira se encontra. Assim, as interpretações que os docentes fazem do cenário em que vivem, dos desafios que convergem para dificultar a sua prática docen- te em virtude das mudanças ocasionadas pela COVID-19 em todos os âmbitos, e mais focalmente na vida pessoal conforme mencionado neste artigo, concorrem com as expectativas apontadas por eles, que talvez seja um ponto que mereça atenção porque nessas expectativas residem a esperança, a crença de que devemos continuar a reinventar-se a partir do caos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 188, de 3 de fevereiro de 2020. Declara Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) em Decorrência da Infecção Humana pelo Novo Coronavírus (2019-nCoV). Diário Oficial da União, fev. Edição: 24-A, Seção: 1 – Extra. Página:1. Disponível em: <https://www.in.gov.br/ en/web/dou/-/portaria-n-188-de-3-de-fevereiro-de-2020-241408388>. BUCKINGHAM, D. Cultura Digital, Educação Midiática e o Lugar da Escola- rização. Educ. Real., Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 37-58, set./dez., 2010. Disponível em: <https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/view/13077/10270>. Acesso em 27 ago. 2020. CERICATO, I. L.; SILVA, J. L. B. da. Educação e Formação em Tempos e Cená- rios de Pandemia. Olhares: Revista do Departamento de Educação da Unifesp, 8(2), 2020. 3-14. Disponível em: <https://periodicos.unifesp.br/index.php/olhares/article/ view/10700/7885>. Acesso em 26 ago. 2020. DIAS, E.; PINTO, F. C. F. A Educação e a COVID-19. Ensaio: aval.pol.públ.Educ., Rio de Janeiro, v. 28, n. 108, pág. 545-554, setembro de 2020. Disponível em <http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010440362020000300545&ln- g=en&nrm=iso>. Acesso em: 01 set. 2020. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 77miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 77 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 78 GAUTHIER, C. Por uma Teoria da Pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí: Unijuí, 1998. GOEDERT, L.; ARNDT, K. B. F. Mediação Pedagógica e Educação Mediada por Tecnologias Digitais em Tempos de Pandemia. Criar Educação, Criciúma, v. 9, nº2, Edição Especial 2020. PPGE/UNESC. p. 104-121. Disponível em: <http://periodicos.unesc.net/criaredu/article/view/6051/5402>. MARANHÃO. Resolução CEE Nº 94 DE 26/03/2020. Fixa orientações para o de- senvolvimento das atividadescurriculares e a reorganização dos calendários escolares, ex- cepcionalmente, enquanto permanecerem as medidas de prevenção ao novo Coronavírus - COVID-19, para as Instituições integrantes do Sistema Estadual de Ensino do Mara- nhão, e dá outras providências. Disponível em:<https://www.legisweb.com.br/legisla- cao/?id=391990>. Acesso em 31 ago. 2020. MARANHÃO. Secretaria de Estado da Educação. Portaria n.º 474, de 17 de março de 2020. Disponível em: <https://www.educacao.ma.gov.br/files/2020/03/Portaria- -n%C2%BA-474-2020-Suspens%C3%A3o-de-aulas.pdf>. Acesso em 20 ago. 2020. MARANHÃO. Secretaria de Estado da Educação. Portaria n.º 506, de 30 de mar- ço de 2020. Disponível em: < https://www.educacao.ma.gov.br/files/2020/03/Por- taria-n%C2%BA-506-2020-Regulamenta-Resolu%C3%A7%C3%A3o-CEE-n%- C2%BA-94-2020.pdf>. Acesso em 20 ago. 2020. MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos Meios às Mediações: comunicação, cultura e he- gemonia. 5ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2008. PASCHOALINO, J. B. de Q.; RAMALHO, M. L.; QUEIROZ, V. C. B. de. Traba- lho Docente: o desafio de reinventar a avaliação em tempos de pandemia. Revista LABOR, Fortaleza (CE), v. 1, n. 23, p. 113-130, jan./jun. 2020. PIMENTA, Selma Garrido. O Estágio na Formação de Professores: unidade teórica e prática. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005. SILVA, D. dos S. V.; SOUSA, F. C. de. Direito à Educação Igualitária e(m) Tempos de Pandemia: desafios, possibilidades e perspectivas no Bra- sil. RJLB, Ano 6 (2020), nº 4 Disponível em:<https://www.cidp.pt/revistas/ rjlb/2020/4/2020_04_0961_0979.pdf>. UNESCO. A Comissão Futuros da Educação da Unesco apela ao planejamento antecipado contra o aumento das desigualdades após a COVID-19. Paris: Unesco, 16 abr. 2020. Disponível em: <https://pt.unesco.org/news/comissao–futuros–da–edu- cacao–da–unesco–apela–ao–planejamento–antecipado–o–aumento–das>. Acesso em: 31 ago. 2020. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 78miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 78 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 79 PEDAGOGIA/PARFOR EM TEMPOS DE PANDEMIA: DESAFIOS DE FORMAÇÃO E INCLUSÃO DIGITAL NOS TERRITÓRIOS URBANOS, QUILOMBOS, POVOADOS E ILHAS Marise Marçalina de Castro Silva Rosa Natalia Ribeiro Ferreira Carlos Richard Soares Pinheiro INTRODUÇÃO Neste capítulo discutimos experiências de formação de professores no curso de Pedagogia vinculado ao Programa Especial de Formação de Professores da Universidade Federal do Maranhão-UFMA-PARFOR/ PROFEBPAR. Em dez anos este programa já formou mais de quarenta e três mil professores de educação básica em todo o Brasil e mais de trinta mil encontram-se em processo de formação. No Maranhão, mais de dois mil professores já foram formados e dois mil trezentos e trinta e dois, aproximadamente, estão em processo de formação inicial, o que demonstra o grande alcance social desta política. Para tanto, em tempos de pandemia, situamos a realidade social dos discentes, as lutas e os enfrentamentos de estudantes, coordenadores e docentes do curso no processo de formação nos lugares e territórios que apresentam os maiores desafios de acesso e uso de mídias digitais para o ensino não presencial e/ou remoto. Neste caso, nos referimos aos es- tudantes residentes no continente onde o curso de Pedagogia consegue chegar, povoados distantes da sede, pontas de terra, quilombos e ilhas do miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 79miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 79 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 80 município de Cururupu que demandam internet via satélite, o que carac- teriza um desafio por inclusão digital e, consequentemente, a continui- dade da formação docente neste momento de pandemia da COVID-19. Para a escrita deste capítulo consideramos uma pesquisa feita pelo Google forms online com estudantes de doze turmas do curso de Pedagogia distri- buídas em dez polos e em aproximadamente treze municípios, alcançando mais de duzentos e noventa e sete professores em formação no PARFOR. Tivemos por objetivos investigar as condições objetivas da participação dos/ das estudantes em atividades formativas numa perspectiva não presencial e, por meio de ferramentas digitais, sondar sobre os impactos da pandemia da COVID-19 com o isolamento social e as condições financeiras, familiares e de saúde mental. Tivemos, ainda, com esta pesquisa, a finalidade de mapear o uso e a familiaridade com as tecnologias digitais, acesso e desafios para o ensino não presencial ou remoto. Neste questionário, indicamos questões abertas de escuta e coleta de informações sobre a percepção do curso em desenvolvimento e o envio de mensagens para a coordenação. Trataremos os dados da referida pesquisa por meio da organização em gráficos, classificação das informações, discussões e análise relacional para serem interpretados e apresentados em forma de relatório e artigos científicos que contribuam para o conhecimento e a compreensão do processo de formação em contextos situados, resistência e lutas por in- clusão digital de estudantes/professores/as que residem em centros urba- nos, quilombos, povoados e ilhas com limitações de acesso. O CURSO DE PEDAGOGIA/PARFOR EM TEMPOS DE PANDE- MIA: EXPERIÊNCIAS SITUADAS DE FORMAÇÃO EM TRAVESSIA O impossível aconteceu, nosso mundo parou. Agora precisamos fazer o impossí- vel para evitar o pior. — Zizek, Slavoj A pandemia da COVID-19 desencadeou mundialmente uma crise huma- nitária sem precedentes. Segundo estudos do COLEMARX, (p.7, 2020): miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 80miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 80 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 81 A humanidade está diante da maior catástrofe desde a Segunda Guer- ra Mundial. É tempo de emergência. A escola neoliberal não sabe (e não pode) indicar qualquer alternativa. O governo atual, contudo, reafirma seu credo ultraneoliberal que não contempla soluções para os problemas de saúde e da crise econômica, e, por isso, naturaliza o darwinismo social, embora custe vidas de pessoas reais, é a alternativa possível para manter o mercado em atividade. O consórcio de veículos de imprensa vem divulgando o levantamen- to da situação da pandemia de coronavírus no Brasil a partir de da- dos das secretarias estaduais de Saúde. Segundo o mesmo, já somam-se 125.584 mortes pela COVID-19 e 4.086.716 infectados pelo novo co- ronavírus; assim aponta o balanço do consórcio de veículos de imprensa (G1, 03/09/2020). O Brasil é a segunda nação do mundo mais afetada pela doença. Os Estados Unidos seguem em primeiro, com 6.132.074 casos e 186.173 mortes. A Índia vem em terceiro lugar: bem próxima do Brasil em contaminações (3.936.747) e com 68.472 óbitos. Os dados são das autoridades federais de saúde dos países. De forma explicita e sólida, o cenário contextual da pandemia já é considerado um marco na reconfiguração da sociabilidade contemporâ- nea, aguçando, ainda mais, as contradições entre a educação, economia e saúde, fatores imponentes à formação social brasileira. Já não se pode mais pensar num futuro a retornar à normalidade anterior a pandemia. Nestes termos, considera-se refletir que O regresso à «normalidade» não será igualmente fácil para todos. Quan- do se reconstituirão os rendimentos anteriores? Estarão os empregos e os salários à espera e à disposição? Quando se recuperarão os atrasos na edu- cação e nas carreiras? Desaparecerá o Estado de excepção que foi criado para responder à pandemia tão rapidamente quanto a pandemia? Nos ca- sos em que se adoptaram medidas de proteção para defender a vida acima dos interesses da economia, o regresso à normalidade implicará deixar de miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 81miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 81 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 82 dar prioridade à defesa da vida? Haverá vontade de pensar em alternativas quando a alternativa que se busca é a normalidade que se tinha antes da quarentena? Pensar-se-á que estanormalidade foi a que conduziu à pande- mia e conduzirá a outras no futuro? (SANTOS, 2020, p. 29) Conforme colocado acima, há de se considerar a existência de novos parâmetros de normalidade para a vida em sociedade. De igual forma, há necessidade premente de repensar a formação e os paradigmas que constituem o currículo atualmente. Até então o Curso de Pedagogia/PARFOR se desenvolve em Projetos Pedagógicos de Cursos (PPC’s) que datam de 2015 e 2018. Em ambos os casos, o curso é desenvolvido de forma presencial e com foco nas práticas pedagógicas, com bastante ênfase nos estágios (em docência, formação e gestão), extensão universitária, pesquisa. Por razões diversas o currículo, até então, não previa atividades remotas, como as que estão sendo exigidas neste período, tampouco tem em sua matriz de recursos suporte suficiente para este tipo de atividade. Dentre vários fatores a serem ponderados, podemos destacar como maiores desafios revelados pela pesquisa: a dificuldade integração e ade- quação dos discentes a um possível novo formato, as deficiências de es- trutura dos polos, as metodologias docentes para o ensino remoto. Esses fatores são pontos de uma extensa pauta que vem sendo discutida entre coordenação, corpo estudantil e corpo docente do curso, considerando sempre como premissas formativas: a educação democrática, o trabalho colaborativo, e uma formação crítica, inovadora, socialmente referen- ciada, transformadora e atenta aos saberes docentes (NÓVOA, 1992, 2009; FREIRE, 1996; IMBERNÓN, 2009, 2017) O Curso de Pedagogia/PARFOR no Maranhão, coordenado pelo Polo São Luís, atualmente atende a 12 turmas, distribuídas em 10 mu- nícios, quais sejam: Buriti Bravo, Codó, Cururupu, Lago da Pedra, Lagoa Grande do Maranhão, Monção, Pio XII, Poção de Pedras, San- ta Inês e Urbano Santos. Destes municípios, apenas Codó possui um miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 82miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 82 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 83 campus da Universidade Federal do Maranhão; nos demais municípios a oferta do curso ocorre em escolas cedidas pela rede municipal ou esta- dual de educação. Assim, temos um panorama de dificuldades que an- tecedem a pandemia, mas que se tornam mais evidentes agora, como a falta de estrutura adequada para as atividades (principalmente remotas) e dificuldades impostas pela pandemia, em especial a grupos específicos. Refere-se Santos (2020) quando diz que qualquer quarentena (ou esta- do pandêmico) sempre será discriminatória, mais difícil para uns grupos sociais do que para outros. Nesta perspectiva, podemos enfatizar que o corpo estudantil do PARFOR é composto de agentes que integram co- letivos sociais que, ainda de acordo com o Santos (2020), estão “ao sul da quarentena”: mulheres (mais de 90% dos/as discentes), idosos (10%), trabalhadores informais, desempregados e trabalhadores que ficaram em situação vulnerável em virtude da pandemia (totalizam cerca de 35%). O alerta que Boaventura de Sousa Santos (2020) faz ao classificar que estes coletivos sociais estão ao sul da pandemia é de que estes e ou- tros coletivos, não apenas no caso do chamado grupo de risco (como é o caso dos idosos), estão mais vulneráveis aos efeitos da injustiça social neste período. O autor tem usado o conceito de sul global para carac- terizar os grupos que vivem algum tipo de marginalização social, como as relacionadas à etnia, gênero, sexualidade, posição nas relações de tra- balho, entre outras, ou seja, essa localização não é geográfica, mas sim sociocultural. Boaventura ressalta ainda que: Por um lado, ao contrário do que é veiculado pela mídia e pelas organiza- ções internacionais, a quarentena não só torna mais visíveis, como reforça a injustiça, a discriminação, a exclusão social e o sofrimento imerecido que elas provocam. Acontece que tais assimetrias se tornam mais invisíveis em face do pânico que se apodera dos que não estão habituados a ele. A partir deste cenário até aqui contextualizado, faz-se necessária a se- guinte reflexão: como continuar com as travessias formativas outrora já miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 83miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 83 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 84 construídas e sistematizadas, especificamente pensando a realidade dos estudantes do Curso de Pedagogia/PARFOR? Afinal, as travessias e lutas pela formação crítica agora serão de fato inclusivas de forma remota? TEMPOS DE PANDEMIA: PERSPECTIVAS DE LUTA E RESISTÊN- CIA POR INCLUSÃO DIGITAL Que é, pois, o tempo? Quem seria capaz de explicá-lo de maneira breve e fácil? Quem pode concebê-lo, mesmo no pensamento, bastante nitidamente para exprimir por meio de palavras a ideia que dele faz? — Santo Agostinho (1964, p. 348) Em analogia à epígrafe acima, nos questionamos, o que é o tempo de pandemia? Quem seria capaz de explicá-lo de maneira fácil e breve sem recorrer aos dados trágicos e devastadores da vida humana em 2020, com a COVID-19? Quem pode concebê-lo e exprimir por meio de palavras a ideia que dele faz diante de tamanha crise sanitária, social, econômica e educacional? Por que é importante resistir e lutar por inclusão digital? O ano de 2020 teve seu início com o desencadeamento de uma gran- de crise sanitária mundial em função da pandemia da COVID-19, ine- xistência de uma vacina e de protocolos de tratamento mais seguros. Com o tempo, fomos compreendendo a gravidade e as consequências dessa crise para a educação, dessa forma, para a formação de professo- res/as, já que as escolas e as universidades, dentre outras instituições, tiveram que decretar quarentena e isolamento social como medida de enfrentamento aos avanços da pandemia. Nessa perspectiva, após discussões e deliberações do colegiado e do NDE do curso de Pedagogia/Parfor, foi feita uma pesquisa para que ti- véssemos dados que nos permitissem propor atividades de formação, acolhimentos e continuidade das atividades formativas. Alguns alunos colocaram suas impressões sobre a possibilidade de ensino remoto e, com isto, a necessidade de resistência e luta para conseguirem concluir o curso de formação. Dentre essas afirmações, destacam-se: miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 84miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 84 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 85 Não posso pagar internet e não tenho computador e nem condições de estar em lan house; Tenho dificuldade em manipular alguns meios de tec- nologia e bom por que não precisaríamos sair de casa; A dificuldade que encontraria seria que na minha casa há só um computador, pois outras pes- soais também tem acesso. Não tenho muita intimidade com tecnologia, mas se for preciso, teria que me aprofundar mais e encarar o desafio; Te- ria muita dificuldade! Pois sou péssima com relações às tecnologias, mas tudo é questão de necessidade e esforço; Já estamos prejudicados mesmo, este ano é praticamente um ano perdido. Para mim seria inviável por estar trabalhando diuturnamente nesta pandemia; Não tenho notebook, Seria melhor para mim se eu tivesse, pois no telefone não tem o mesmo rendi- mento; Tenho um pouco de dificuldade de concentração acho que se tiver aulas online vai ser um desafio pra mim; Na verdade, as aulas. remotas, nem sempre, vão suprir todas as nossas necessidades, mas devido a pandemia o que temos é que nos reinventarmos. Entretanto, eu tenho uma dificuldade em relação ao acesso a internet, pelo fato da área no meu povoado que é péssima; Por conta disso, a facilidade não vem até a mim. Como podemos perceber nesses depoimentos, há uma característica comum nos mesmos: grande parte dos alunos reside em territórios dis- tantes, possui vulnerabilidade em termos de condições materiais e finan- ceiras, tem dificuldades no uso das ferramentas digitais e um sentimento de incapacidade de continuar se não houver uma política de que garanta inclusão digital de todos. Neste depoimento, “Gostariaque essa pesqui- sa pudesse nos ajudar promovendo estratégias que favoreçam a todos, pois este curso é muito importante para mim e devido as dificuldades em acesso à internet não quero ser prejudicada pois quero muito finali- zar este curso”, fica evidente o desejo e a necessidade de acessibilidade e permanência no curso. Neste sentido, a Universidade Federal do Maranhão-UFMA, por meio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis-PROAES, fez o lançamen- to de dois editais de Auxílio Inclusão Digital para alunos regularmente miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 85miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 85 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 86 matriculados nos cursos de graduação presenciais da instituição. Os edi- tais correspondem a duas modalidades de auxílio: empréstimo de tablets com acesso à internet e pacote de dados para acesso à internet, que pode ser utilizado em aparelhos celulares. A luta foi grande para que os alunos do PARFOR pudessem participar deste edital e concorrer em nível de igualdade. No momento, estamos aguardando o resultado da última etapa do referido edital. Com isto, es- peramos que os alunos possam ter mais oportunidade de prosseguimento no curso e que ninguém seja impedido ou excluído desse processo. FORMAÇÃO NOS TERRITÓRIOS URBANOS, QUILOMBOS, PO- VOADOS E ILHAS: CONCEITOS DE ENSINO REMOTO E HÍBRIDO Uma revolução na educação precisa romper com a mesmice da escola, trabalhar conteúdos que impulsione a construção da cidadania, ou seja, os interesses indi- viduais e sociais. — Claitonei de S. Santos (2020) Com a proliferação do novo coronavírus, diversos setores tiveram mu- danças em suas rotinas. A área da educação podemos considerar que foi uma daquelas que mais tiveram mudanças, principalmente para alunos e professores. Pensando em todas as transformações nas instituições de ensino (bá- sico ou superior), iniciaram um processo de adaptação para que a conti- nuidade dos trabalhos, que antes eram presenciais, pudessem acontecer de forma remota, isto é, na maioria dos casos em ambientes virtuais, o que gerou a confusão de nomenclatura entre ensino remoto e EAD. No ensino remoto, é preconizada a transmissão das aulas em tempo real. Aqui, a ideia é que professores e alunos possam seguir uma rotina de estudos em horários que as aulas das respectivas disciplinas acontece- riam, com desenvolvimento e interações dos participantes. Já o ensino a distância ou EAD se caracteriza por ser uma modalida- de de ensino que tem uma estrutura política e didática. Sendo assim, é miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 86miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 86 2021-05-24 16:03:052021-05-24 16:03:05 87 totalmente pensado para atender um conjunto de alunos, em horários flexíveis e com metodologias adequadas para os discentes estudar quan- do e onde quiser. Dispõem-se no processo de aprendizagem videoaulas, tutores, fóruns de discussão, atividades em formatos variados, ambiente virtual de aprendizado, além de outros recursos tecnológicos. Nesse sentido, podemos considerar que esses dois modelos de apren- dizagem são diferentes. No primeiro, as transmissões são ao vivo ou gra- vação das aulas em dias e horários que aconteciam no presencial – segue se uma rotina. No segundo, é priorizado o uso de gravações de videoau- las e disponibilidade de materiais, podendo as atividades serem feitas a qualquer hora (modo assíncrono) , por meio de um processo autoins- trucionais – adequa a rotina dos usuários. Levando em consideração essas questões, acreditamos que o ensino remoto seria um grande facilitador para os discentes do curso de peda- gogia PARFOR, principalmente se utilizarmos o ensino híbrido – que mescla aulas online e off-line. Se tomarmos por referência a pesquisa desenvolvida pela coordenação aos discentes do curso pedagogia/PARFOR, podemos observar que um número significativo já possui acesso à wi-fi ilimitada (41%) e ilimitado (26%). Entretanto, docentes e a coordenação devem considerar, no de- senvolvimento das metodologias, que existe uma parcela que usa dados moveis ilimitados (23%) e limitados (8%), e dois 2% não possuem acesso. Nesse sentido, o retorno é necessário, formas de ensino não presen- ciais serão fundamentais para atender as necessidades educacionais do programa e dos discentes. No entanto, devemos considerar que docentes e discentes, bem como a coordenação, terão um grande desafio, atender inclusive àqueles que não têm acesso à internet de forma adequada. Para isso, poderão ser desenvolvidos diversos movimentos nesse sentido. Caberá aos organizadores pensar na utilização dos modelos, obede- cendo principalmente as necessidades dos educandos e modelo de for- mação, podendo ser por Modelos de Rotação (rotação por estações, la- boratório rotacional, sala de aula invertida, rotação individual), Modelo miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 87miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 87 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 88 Flex, Modelo à la carte e Modelo virtual enriquecido (CHRISTEN- SEN; HORN; STAKER, 2013). À GUISA DE CONCLUSÃO “O real não está no início nem no fim, ele se mostra pra gente é no meio da travessia.” — Guimarães Rosa (1996) Estamos no meio da pandemia da COVID-19, em plena travessia, e apesar da mobilização para continuarmos vivos, podemos nos considerar sobreviventes de uma tragédia humana com grandes consequências para novas formas de vida no planeta. Impossível concluir. Por isso nos per- mitimos viver os processos de desenvolvimento humano de forma ética, colaborativa e situada, resistir aos desafios e lutar por inclusão digital de todos os lugares e territórios, urbano, povoados, ilhas e quilombos. Portanto, pensar em ações efetivas que gerem aprendizagens signifi- cativas a todos os discentes será o desafio da coordenação e dos docen- tes, pois não podemos olhar para o futuro sem fazer uma reflexão do presente, analisar o passado e as ações desenvolvidas. Assim, precisamos estabelecer novas formas de ensinar que impulsio- ne a criatividade dos discentes, inserido em seu cotidiano uma educação que valorize a reflexão, a autonomia, aptidão para resolução de proble- mas, a colaboração, senso crítico, protagonismo, empatia, responsabi- lidade e senso crítico. Para isso, é fundamental a não permanência em práticas tradicionais de ensino e avaliação, e pensar a formação a partir territórios urbanos, quilombos, povoados e ilhas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHRISTENSEN, C. M.; HORN, M. B.; STAKER, H. Ensino Híbrido: uma ino- vação disruptiva? Uma introdução à teoria dos híbridos. 2013. Disponível em: ht- tps://www.christenseninstitute.org/publications/ensino-hibrido/. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 88miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 88 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 89 COLEMARX. Em Defesa da Educação Pública Comprometida com a Igual- dade Social: porque os trabalhadores não devem aceitar aulas remotas. PPGE: UFRJ, 2020. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 35. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. IMBERNÓN, F. A Educação no Século XXI. Artmed Editora, 2009. IMBERNÓN, F. Inovar o Ensino e a Aprendizagem na Universidade. Cortez Edi- tora, 2017. NÓVOA, A. Imagens do Futuro Presente. Lisboa: Educa, 2009. NÓVOA, A. Formação de Professores e Profissão Docente. Lisboa: Educa, 1992. SANTOS, B. de S. A Cruel Pedagogia do Vírus. São Paulo: Boitempo, 2020. SANTOS, C. de S. Educação Escolar no Contexto de Pandemia: algumas refle- xões. Gestão & Tecnologia Faculdade Delta Ano IX, V. 1 Edição 30 jan/jun. de 2020. Disponível em: < http://www.faculdadedelta.edu.br/revistas3/index.php/gt/article/ download/52/41> miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 89miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 89 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 90miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd90 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 91 A FORMAÇÃO DOS FORMADORES NO PROCESSO DO ENSINO NÃO PRESENCIAL: EXPERIÊNCIAS DE WEBINÁRIOS NA UFMA DURANTE A PANDEMIA Francimar Oliveira Miranda de Carvalho Naiacy de Souza Lima Costa INTRODUÇÃO O presente artigo aborda a formação em exercício e as relações pedagó- gicas dos docentes de diversos cursos de graduação da UFMA (Univer- sidade Federal do Maranhão) a partir da ótica do uso das TIC’s, mais precisamente das ferramentas digitais, como agora compreendidas sob a nomenclatura de TDIC’s (tecnologias digitais da informação e co- municação), onde a compreensão do uso e aplicabilidade destas pas- sam a constituir-se como um desafio para o desenvolvimento de uma perspectiva metodológica diferenciada no ensino não presencial. Desta maneira, apresenta-se entre os entraves referentes à inclusão digital na própria UFMA. As configurações que o trabalho docente está tendo que tomar na atualidade por causa da pandemia da COVID-19, nos cursos de gra- duação, têm provocado tensos e intensos debates em face das mudanças necessárias, dentre outros fatores, o ensino presencial se reinventando e a prática docente vem a constituir-se o desafio de uma práxis emanci- padora mediada por linguagens e tecnologias. Como parte do desafio atual, há a necessidade do deslocamento do foco no ensino presencial miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 91miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 91 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 92 para o não presencial, sem perder o compromisso com a aprendizagem, adequação entre suportes tecnológicos, expressividade mediática e con- teúdo. Entretanto, há de se ter compreensão de que não estamos a rea- lizar EAD, mas atividades curriculares e ou disciplinas não presenciais. Neste sentido, a UFMA tem promovidos webinários acerca da tecno- logia na educação e a inclusão digital na prática docente, visando que, com o domínio técnico presente no contexto pedagógico das práticas docentes, venha a permitir que a partir da formação provindas dos we- binários na UFMA possa contribuir no processo de ensino-aprendiza- gem de forma significativa e inovadora, nessa conjuntura compreendida como uma ação emergencial para tentar sanar algumas das dificuldades dos docentes em lidar com as TIC’s, principalmente as digitais enquan- to ferramentas pedagógicas para o ensino não presencial. Para Lyotard (1993, p. 18): O grande desafio da espécie humana na atualidade é a tecnologia. Segundo ele, a única chance que o homem tem para conseguir acompanhar o movi- mento do mundo é adaptar-se à complexidade que os avanços tecnológicos impõem a todos, indistintamente. Este é também o duplo desafio para a educação: adaptar-se aos avanços das tecnologias e orientar o caminho de todos para o domínio e a apropriação crítica desses novos meios. Neste contexto, as políticas educacionais de democratização e opor- tunidades educacionais não podem se perder, pois há que demandar atenção e vigilância das regulamentações e desenvolvimento de medi- das a despeito do contexto epidêmico, uma vez que as dificuldades que envolvem a ação educacional neste cenário e permeiam as ações dos envolvidos, ora como restrições sociais, física, econômicas, legais e psi- cológicas que estão a afetar continuamente, ora como mecanismo ins- titucionais que influenciam a tomada de decisão. E essas ações que es- tamos a assumir direcionaram o nosso fazer e atuar político pedagógico e, ao escolhermos entre alternativas para iniciarmos esse “novo normal”, miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 92miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 92 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 93 estamos traçando propósitos em direção ao fazer pedagógico diferente ao que habitualmente fazíamos. As dimensões pedagógicas relacionadas aos desafios da mediação tec- nológica que hoje nos é imposta face ao contexto atual e considerando o espaço que se dará as relações de ensino e aprendizagem e geradores de um entramado de enunciações sobre esse novo modo de fazer ensino, criou-se uma verdadeira rede da qual emergem comunicação e saber, marcas e re- ferências de implementos tecnológicos, a exigir de alunos e professores o reinventar-se. Precisamos compreender e conhecer os meios tecnológicos, mas assegurar a nossa condição de protagonistas, ativos, e não apenas con- sumidores desta tecnologia e reprodutores de suas informações. Lembran- do que, conforme Freire (2003, p.22), “ensinar não é transmitir conheci- mento, mas criar as possibilidades para a sua construção”, não e a simples transposição de conteúdos e métodos presenciais para meios digitais ou de acesso remoto que vão configurar esse “novo normal”. EXPERIÊNCIAS DE WEBINÁRIOS NA UFMA DURANTE A PANDEMIA A realização dos webinários ocorreu através de inscrições na plataforma do SIGEVENTOS da UFMA, durante os meses de junho, julho e agos- to. Durante esse período também foi indicada pela reitoria a possibili- dade de realização de atividades acadêmicas não presenciais e não obri- gatórias como eventos e seminários online. As aulas foram transmitidas através do Google Meet e ficaram gravadas durante duas semanas para visualização posterior. Esse projeto iniciou-se durante o mês de junho com a temática “O Papel do Design Instrucional na Educação à Distân- cia “. As aulas dos webinários promovidas pela Diretoria Interdisciplinar de Tecnologia na Educação - DINTE/UFMA e Grupo Saúde, Inovação, Tecnologia e Educação - SAITE foram desenvolvidas no formato de ofi- cinas online, tinham em média 04 horas de duração e contavam com explicações sobre um tema ou ferramenta específica com espaço para que fossem tiradas dúvidas sobre o assunto tema. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 93miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 93 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 94 Entre as ferramentas abordadas nos webinários da UFMA houve a escolha dentre as mais ferramentas mais comuns e utilizadas para su- porte de atividades pedagógicas. Dentre estas estavam principalmente as ferramentas Google e o Sistema Integrado de Gestão acadêmica – SI- GAA, além do Saitebooker para criação de e-books no formato epubs. Dentre as ferramentas do Google ocorreram oficinas no formato webi- nários abordando o Google Meet, Google Classroom, Google Drive, Goo- gle Planilhas, Google Documentos, Google Formulários, Gmail, dentre outros. O uso do SIGAA fez parte de um dos webinários, onde foram colo- cadas as próprias limitações do sistema, que não possui as características de um LMS, ainda que contemple algumas ferramentas como fórum e chat. Sem o recurso de ferramentas externas, a possibilidade de de- senvolver conteúdos não presenciais utilizando somente esse sistema se mostrou inexequível. Além das temáticas relacionadas à formação docente para o uso dos meios digitais através de ferramentas mediáticas, também ocorreram minicursos de temáticas diversas, além de seminários realizados por gru- pos de pesquisa quem mantiveram suas atividades durante o tempo de recesso das aulas presenciais por conta da pandemia. As atividades aca- dêmicas de pesquisa e extensão prosseguiram desse modo através da rea- lização de webinários. Os cursos, oficinas, seminários e minicursos não presenciais foram disponibilizados para toda a comunidade acadêmica. Neste cenário de webinários na UFMA, entre a dificuldade está a compreensão de não se tratar de implementação de EAD (Educação a Distância), pois a perspectiva de que trata a Educação a distância é muito mais complexa e exige um processo de elaboração muito mais detalhado. EAD e ensino não presencial não são de forma alguma a mesma coisa. São concepções diferentes do uso de tecnologias para fins educacionais. Enquanto EAD se trata de uma modalidade de ensino que inclusive consta de legislação própria com definições de que níveis de ensino são aplicáveis a essa modalidade, as propostas de ensino não miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd94miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 94 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 95 presencial surgem com caráter emergencial e sem grandes preocupações com aspectos de flexibilização do ensino, do seu planejamento, mate- riais adequados e mesmo público alvo, causando muitas críticas e reve- lando a própria dificuldade da compreensão e uso adequado das TDIC’s com fins pedagógicos, por isso compreender o enfoque metodológico e o uso da tecnologia como ferramentas digitais de mediação no proces- so de ensino possibilita uma ampla reflexibilidade nas ações docentes contribuindo de forma significativa para o processo de aprendizagem e consequentemente construção do conhecimento. Por isso há de se pensar para além da exclusão digital e da própria ne- cessidade de letramento digital tanto de alunos e professores. É preciso estar atento aos riscos da precarização do trabalho pedagógico sob a égi- de do ensino não presencial, que reporta a muitas questões significativas que perpassam desde repensar processo aprendizagem e avaliativo, até o próprio caráter da produção de conteúdo e de como a adaptação a essa nova realidade pedagógica tão complexa e desafiadora. Segundo Kleiman (1995, p.19): “podemos definir hoje o letramen- to como um conjunto de práticas sócias que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos”. Assim, o simples uso dos espaços virtuais não vem se tornar relação de ensino, mas o uso deste espaço como chave que pos- sibilita uma grande apropriação do conhecimento por meio do uso do ambiente virtual vai possibilitar um olhar mais culto em relação à tecno- logia e sua amplificação no processo de ensino e aprendizagem. Outro aspecto a considerar: este contexto e a formação inicial dos docentes de diversos cursos de graduação da UFMA (Universidade Fe- deral do Maranhão) não contemplavam o uso das TIC’s e ou TDIC’s, apresentando, assim, mais um entrave para o desenvolvimento de uma perspectiva metodológica desafiadora do ensino não presencial. No to- cante à inclusão digital na UFMA, partimos do início de que o pró- prio acesso à internet ainda é bastante limitado até mesmo no espaço físico dos prédios da universidade; o atual sistema de gestão acadêmica miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 95miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 95 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 96 (SIGAA) não comporta o uso de ferramentas interativas de ensino. Foi possível perceber diversas dificuldades no desenvolvimento dos webiná- rios, que nessa conjuntura podem ser compreendidos como uma ação emergencial para tentar sanar algumas das dificuldades dos docentes em lidar com as mídias digitais enquanto ferramentas pedagógicas para o ensino não presencial. Em linhas gerais, notamos a falta de sistemati- zação pedagógica na organização da maioria dos minicursos oferecidos, onde a ênfase era no uso das TDIC’s pelo simples motivo de estarem sendo necessárias neste momento, ou seja, a tecnologia pela tecnologia ou mero consumo. Desta forma, o que está a acontecer neste momento é o “treinamento” para o uso do aparto tecnológico e não como esse aparato possa propiciar conhecimentos de modo interativo com a plu- ralidade do “novo normal” e as diferentes formas de reconhecer e inter- pretar este reinventar didático a que o cenário atual está a impor, (re) significando o conhecimento científico que “ensinar a viver e traduz-se num saber prático” Santos (1997, p.55). Por mais que a perspectiva do ensino não presencial seja apresenta- da como solução emergencial, o imediatismo deve ser abandonado por uma análise crítica da sua aplicabilidade com respeito ao trabalho do- cente e a própria complexidade do processo formador, que não pode abrir mão de critérios que a EAD já definiu como essenciais ao desen- volvimento da aprendizagem à distância. Com os meios digitais percebe-se que há uma nova possibilidade de oferta pedagógica que didaticamente possibilita o crescimento cognitivo dos alunos e a apropriação do uso das ferramentas midiáticas e do letra- mento contribuirá de forma importante para aprendizagem, para a es- truturação e efetivação do conhecimento e de uma condição pedagógica diferenciada, Para Soares (1998, p. 148): […], embora se reconheça que a análise da interação on-line (os chats, o e-mail, as listas de discussão, os fóruns, entre outros) seria elucidativa para melhor compreensão do conceito de letramento, confrontando-se essas miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 96miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 96 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 97 modalidades de interação entre as pessoas com as modalidades de interação face-a-face ou por meio da escrita no papel, renuncia-se a incluí-la neste texto, porque esse uso da tecnologia digital suscita questões específicas de natureza diversa, [...]. Estamos em uma era digital, um cenário contemporâneo com um gi- gantesco movimento social por meio do mundo virtual. O sistema de com- putação vem ficando cada vez mais indissociável da vida cultural do ser hu- mano e as pessoas passam a olhar o contexto de mundo, não só como um contexto estético e físico, mas como um conjunto de relações de rede que vem contribuindo para a construção do conhecimento cientifico de forma simultânea. De acordo com o pensamento de Levy (1993, p.148): Inclui as tecnologias de escrita entre as tecnologias intelectuais, responsá- veis por gerar estilos de pensamento diferentes (observa-se o subtítulo de seu livro As tecnologias da inteligência: “o futuro do pensamento na era da informática”); esse autor insiste, porém, que as tecnologias intelectuais não determinam, mas condicionam processos cognitivos e discursivos. A partir dessas reflexões traçamos a necessidade de conhecimento de ferramentas que podem contribuir para a construção de uma perspecti- va de ensino não presencial mais interativa, mas também inclusiva e que não retire do professor a autonomia do processo de construção de uma proposta coerente de ensino aprendizagem, para além das imposições do “ensino não presencial”. Uma metodologia de ensino que privilegia como princípio educativo a construção de conhecimentos compartilhados focado nas necessida- des de aprendizagem dos estudantes, considerando o perfil cultural e as necessidades próprias da formação e a integração recursos tecnológicos em uma perspectiva pedagógica, possibilitando o desenvolvimento e uso crítico das TDIC’s no compartilhamento e produção colaborativa de conhecimentos. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 97miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 97 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 98 CONSIDERAÇÕES FINAIS Deve-se levar em conta que o objetivo dos webinários era a prepara- ção de um enfoque metodológico na mediação de ferramentas digitais. Entretanto, o enfoque observado foi a da tecnologia pela tecnologia, carecendo de uma abordagem de como a mediação das ferramentas se integra ao processo de ensino para a promoção da aprendizagem. A adoção de soluções EAD precarizadas pode inclusive aumentar ainda mais a exclusão na universidade e ainda causar uma rejeição a fer- ramentas digitais para uma proposta consistente e elaborada com crité- rios adequados. A formação docente e as relações pedagógicas nos cursos de licencia- tura da UFMA, a partir da ótica dos discentes das licenciaturas, diante das dificuldades encontradas por eles em seus respectivos percursos de formação. Educar é um ato complexo, que exige mudanças e mudan- ças significativas que perpassa pela formação de professores, o conhe- cimento e domínio dos processos tecnológicos e da relação pedagógi- ca. Se tivermos investimentos na formação humanizada de professores e no domínio tecnológico, podemos avançar mais para uma educação de transformação e formação. Precisamos ter uma relação harmônica, racional, sensorial, emocional e ética na integraçãodo homem e do tec- nológico Nesta perspectiva, compreendemos a importância de ser profes- sor-pesquisador para se refletir e repensar a prática docente no ensino superior. Além de discutir as dificuldades e desafios que esta reflexão apresenta e de sua importância para a formação de futuros docentes que ainda venham também, despertar a necessidade de adotar as práticas de reflexão-ação. Desse modo, o reinventar da prática docente é um ato complexo, que exige mudanças e mudanças significativas que perpassam pela formação dos docentes o conhecimento e domínio dos processos tecnológicos e da relação pedagógica. Neste, o propósito primordial é que os professo- res sejam maduros intelectualmente e emocionalmente, e pesquisadores miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 98miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 98 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 99 que saibam motivar e dialogar com seus alunos. Olhar as possibilidades e não somente as dificuldades para que tornem o ato de ensinar uma ação de mudança e consequentemente um processo de construção e não somente de transmissão de informação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 28ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. SANTOS, B. de S. Um discurso sobre as ciências. 9ª ed. Porto: Afrontamento,1997. SOARES, M. Letramento: como definir, como avaliar, como medir. In: Soares, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998ª, p. 61-115. LYOTARD, J. F. O Inúmero: considerações sobre o tempo. Lisboa: Estampa, 1988. LÉVY, P. As Tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da infor- mática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. KLEIMAN, A. Modelos de Letramento e as Práticas de Alfabetização na Escola. In: Kleiman, A. (Org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995, p. 15-61. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 99miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 99 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 100miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 100 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 101 TRABALHO REMOTO NO CONTEXTO DA PANDEMIA/ COVID-19: CONDIÇÕES E DILEMAS PARA A GESTÃO DA FORMAÇÃO E DO ENSINO Maria do Socorro Estrela Paixão Thays Silva Baldez Thayslanne Silva Baldez “A pandemia confere à realidade uma liberdade caótica, e qualquer ten- tativa de aprisionar analiticamente está condenada ao fracasso, dado que a realidade vai sempre adiante do que pensamos ou sentimos sobre ela (SANTOS, 2020, p.13)”. INTRODUÇÃO A tese de Santos demarca o entendimento que orienta a escrita deste texto que tem como destaque condições e dilemas interligados à gestão do trabalho pedagógico, num contexto de processos interativos e de so- breposição de crises e quarentenas. Assim, é assertivo mencionar que há tempos insatisfações são iden- tificadas em relação à gestão do ensino, gestão da/na formação básica e superior. As políticas e as práticas relacionadas à gestão cada vez mais se estreitam com o modelo de organização social de cada contexto, entendi- do este como lugar situado pela inter-relação de fatos num tempo e num espaço. Em nosso caso, a relação é com a pandemia da COVID-19, que aprofunda um estado de crise a que a população mundial está sujeita des- de a década de 1980. Nas palavras de Santos (2020, p. 05), essa sujeição miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 101miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 101 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 102 acontece “à medida que o neoliberalismo se foi impondo como a versão dominante do capitalismo e este se foi sujeitando mais e mais à lógica do sector financeiro–, o mundo tem vivido em permanente estado de crise”. A constatação adverte para a sua periculosidade específica, o que Santos (2020, p. 05) denomina de “A normalidade da excepção”. Com base no estreitamento da lógica do setor financeiro com a po- lítica pública para a formação e também com base nas históricas insa- tisfações em relação a sua gestão, nasce a decisão de trazer para o debate essas questões e agregá-las a outras de ordem teórico-metodológica e éti- ca. A motivação para o exame são as demandas e orientações da gestão superior para o desenvolvimento de atividades sociopedagógicas num tempo descrito como de profunda crise, cheio de dilemas porque “[...] os docentes estão com dificuldade para se concentrarem em atividades laborais, a maior preocupação é a luta para manter a vida, luta pela so- brevivência, o Estado do Maranhão a curva de contágio e de morte con- tinua subindo” (UFMA, 2020a, p.3). Assim, trazemos para a análise realidades convergentes vivenciadas em instituições de ensino, a Universidade Federal do Maranhão/UFMA, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão/ IFMA e o Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Ma- ranhão/IEMA. Justificamos a temática pela pertinência e pelo entendi- mento de que a questão se encontra na ordem do dia, por isso a amplia- ção da reflexão torna-se urgente e necessária. O texto analisa orientações da gestão superior para o retorno das atividades de ensino, no ano de 2020, especialmente, no semestre especial - compreendido entre maio e junho -, e suas implicações para o trabalho docente. Para tanto, como questão principal, destacamos os dilemas, as condições objetivas e subje- tivas relacionadas às demandas e às proposições da gestão, para o retor- no do ensino em tempos da pandemia da COVID-19. Como intenção mais ampla, esclarecemos processos e interações vinculadas às orien- tações da referida gestão para o planejamento e o desenvolvimento de atividades de ensino, num tempo de crise socioindividual causada pela miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 102miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 102 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 103 pandemia e pela versão dominante do capitalismo, esta última gerada pela sujeição social, política e profissional ao setor financeiro. Para auxiliar a discussão, partimos do pressuposto de que o retorno das atividades de ensino, remotas ou híbridas, acontecem num momen- to marcadamente assimétrico, que, simultaneamente, pressupõe apro- ximações e distanciamentos entre as pessoas, tendo em vista os riscos de contágios em ambos os casos. Oxímoro legítimo manifestado pelos possíveis riscos de contaminação que a aproximação e o isolamento po- dem trazer: a contaminação pelo vírus causador da pandemia e a conta- minação pelas fraturas nas relações sociais e profissionais em função do distanciamento social. Pela compreensão de que existe uma complexidade inerente às análi- ses neste ensaio, apoiamos-nos em Kincheloe (2012) para escolher uma metodologia, com destaque para a bricolagem, que por sua natureza subversiva deixa clara a viabilidade de se construir argumentos e siste- matizações a partir de ferramentas de acesso e da fuga das amarras redu- cionistas desnecessárias: “[...] trata-se de uma postura que pretende não excluir, da lógica da vida dos sujeitos, o complexo enquanto suposição de significação e sentido do fenômeno educativo e seus estruturantes” (PAIXÃO, 2019, p.433). Para tanto, utilizamos dispositivos admitidos pela Metodologia da Entrevista Compreensiva (KAUFMANN, 2013; PAIXÃO, 2015), a saber: a análise de falas e de documentos, organizados em planos evo- lutivos de escrita, cujos eixos centrais encontram-se condensados em vi- vências e em posturas identificadas em atos, em discursos de diferentes sujeitos convocados para participar e/ou legitimar o processo de plane- jamento da retomada das atividades de ensino num momento de plena ascensão da pandemia, no Estado do Maranhão, conforme boletins da Secretaria de Saúde do Estado, com destaque para o maior contágio em mulheres. Como dispositivos para a realização dasanálises, o fundamen- to são documentos (escritos e falas), produtos de reuniões coletivas em processos de planejamentos nas instituições de ensino. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 103miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 103 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 104 Decerto, o texto convida para uma travessia, mergulhada em ondas de sentimentos, motivações, orientações, proposições, conflitos, acertos, dilemas e medos, experiências educacionais resultantes de deslocamen- tos necessários, na conjuntura acadêmica, porém, com armadilhas, seja pela ignorância em relação à rota a seguir ou pelo esforço para fortale- cer um projeto social de poucos privilegiados, condição sedimentada numa condição social, cultural e política amparada pela dominação de uma minoria constituída, legitimada e legalizada. Por isso, a decisão por analisar o conteúdo e intenções de algumas legislações (UFMA, 2020b; UFMA, 2020d; IFMA 2020; MARANHÃO, 2020) e das decisões su- periores para o coletivo profissional, especialmente para profissionais que não fazem parte do quadro efetivo. GESTÃO DA FORMAÇÃO E DO ENSINO NA PEDAGOGIA DA COVID-19 Na atualidade, pesquisadores discutem ou comparam o funcionamento das instituições de ensino, em especial as públicas. A comparação dar-se em como são assistidas em tempos de atividades ordinárias e extraor- dinárias, ambas com suas quarentenas. Nas atividades ordinárias, ditas normais, como explica Santos (2020, p. 32), essas instituições convivem e expõem um estado “de quarentena política, cultural e ideológica de um capitalismo fechado sobre si próprio e das discriminações raciais e sexuais sem as quais ele não pode subsistir”. A quarentena gerada pela pandemia do ‘novo coronavírus’ figura-se como uma quarentena sobre outra quarentena histórica e crônica que, mesmo exposta no contexto atual pelas condições exigidas para a retomada segura do trabalho e do ensino, não apresenta sinais de desaparecimento, seja pelo não atendi- mento às exigências sanitárias para evitar o contágio, seja pelo fim desse tempo pandêmico, pela garantia do princípio da isonomia. Decerto, mesmo antes da pandemia da COVID-19 já se ouviam frequentes críticas em relação às orientações das políticas públicas para a formação inicial e continuada profissional (PAIXÃO, 2019), pelos miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 104miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 104 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 105 impactos no desenvolvimento e nos fundamentos das práticas educati- vas fomentadas por estas em distintos ambientes formativos. Em acordo com Gatti et al (2019), lembramos que, neste cenário, tanto a formação inicial como a formação continuada padecem com a precarização, com o aligeiramento e com a desarticulação entre teoria e prática, principal- mente quando não há valorização de experiências consideradas exito- sas no campo da pesquisa, da formação e da didática. Assim, as parcas condições intersubjetivas para o retorno das atividades de ensino nas instituições, em virtude das incertezas, das inesperadas e quantitativas necessidades geradas pelo estado de isolamento social, esse estado pode fortalecer as críticas e o modelo de política para a formação profissional em questão. Na conjuntura em análise, por não serem recomendados por autori- dades sanitárias nem pelo bom senso coletivo, a oferta de atividades pre- senciais, assim como o uso de seus dispositivos pedagógicos habituais contrário à valorização de experiências acima desejada, percebemos uma tendência para o uso de pacotes à pronta entrega, disponíveis nos meios virtuais (no mercado), nas plataformas de instituições formadoras. Saída encontrada para resolver problemas relacionados à formação docente e a realização do trabalho remoto emergencial, uma espécie de pedagogia da pandemia. Em consequência do deslocamento sugerido pela pedagogia do vírus, aos docentes é solicitada a implementação de atividades de ensi- no, de pesquisa e de extensão de forma remota, sem o necessário amparo profissional, dito de outro modo, sem garantias de formação qualificada para o trabalho, sem garantia de equipamentos e ambientes acadêmicos compatíveis com as contingências do contexto pandêmico. Subjacente às orientações e deslocamentos requeridos, observamos uma disposição para o convencimento de que as ferramentas da EAD são análogas às do Ensi- no Remoto Emergencial/ERE e que são de fácil acesso e uso. No inciso primeiro do Art. 8º, da Resolução Nº 2.078/20/CONSE- PE/UFMA há uma indicação das ferramentas institucionais de apoio ao trabalho docente emergencial, o SIGAA, o Google Suite, MS Teams e o miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 105miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 105 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 106 portal “EAD Para Você”. É importante registrar que dentre os apresen- tados, o SIGAA é a única ferramenta já utilizada dentro do período re- cortado nesta discussão. É usada de forma parcial pelos docentes, tendo em vista as limitações, tanto do sistema como de usuários. A portaria do IFMA Nº 2.618, de junho/2020, no anexo I, determina que roteiros, materiais e atividades devem ser compartilhados com os estudantes via Google Classroom, sendo o registro dos diários feitos no SUAP EDU e/ ou Q - Acadêmico e as aulas online ministradas via Google Meet, como recomendação/determinação de que as aulas online sejam gravadas para que possam ser posteriormente acessadas. Nos atos normativos do go- verno do Estado do Maranhão (decretos, normativas, MP, portaria e leis) de acesso público que orientam o ensino remoto no IEMA, não identificamos a proposta de ferramentas de auxílio didático-pedagógicas para a realização das atividades docentes. Segundo depoimento docente, as ferramentas utilizadas são o “Google Classroom, Google Meet, sistema IBUTUMY, Aula invertida pelo Whats App e as avaliações são através do Google Forms”, aos docentes cabe providenciar e adaptar-se. As leituras de documentos, de orientações e de depoimentos docen- tes dimensionam o nível de qualidade dispensada para a formação pro- fissional e para as condições objetivas congêneres. Corrobora a figuração avessa à formação docente propositiva e crítica, as defesas que conside- ram suficientes treinamentos rápidos e práticos, por meio de lives, webi- nários, e/ou buscas no YouTube para esse fim tão complexo. A concep- ção de formação sugerida reafirma a anterior alegação de aligeiramentos da formação por meio de treinamentos e seminários, ao mesmo tempo em que desvaloriza as pesquisas recentes sobre o ensino como prática so- cial que se realiza pela ação docente, pela relação com contextos sociais mais amplos, por isso “exige preparo, compromisso e responsabilidade” (VEIGA, 2012, p.290). Na mesma direção, notamos que a pressa por respostas e justificativas dos custos financeiros com servidores, principalmente com os temporá- rios, bem como a ausência de uma política institucional com projeções miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 106miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 106 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 107 idealizadas para dirimir situações emergenciais coletivas, inviabilizou a devida atenção para com o modelo, a concepção de formação conti- nuada docente. Ao se ponderar sobre as opções de práticas educativas assinaladas, constatamos que a formação sugerida para o uso de novas tecnologias e ferramentas pedagógicas para o ensino emergencial remoto corresponde àquela, que por meio da técnica antiga de “treinamento” lança mão da máquina para a utilização de pacotes educativos previa- mente definidos e programados. Esse caráter identitário formativo pode ser entendido como um retorno à concepção tecnicista da educação e da prática de formação (PAIXÃO, 2012). Reconhecemos que a proposta disponibilizada é díspar daquelas con- tidas nos projetos pedagógicos dos cursos de formação profissional, es-pecialmente no Brasil, concepção com embasamento na pedagogia da libertação, da formação política dos cidadãos, da participação e desen- volvimento comunitário, oriundas de pesquisas e práticas colaborativas, coletivas (PAIXÃO, 2019). Esse modo recente de entender a prática educativa nos grupos de pesquisas e no exercício da docência “[...] tem como característica principal a dialogicidade entre quem interpreta e quem é interpretado, entre quem educa e quem é educado, quem ensina e quem é ensinado, quem forma e quem é formado” (PAIXÃO, 2019, p.433-434), modo de ser que dispensa qualquer prática pedagógica mo- tivada por mera repetição, que aconteça de forma descontextualizada e que desconsidere a situação do coletivo envolvido. De posse desse entendimento, cabe indagar como se explica a prefe- rência de instituições públicas bem-conceituadas por essa concepção de formação e de ensino. Seria fragilidade ou deficiência de fundamentos teórico-metodológicos para atender com qualidade social as pretenções de diferentes cursos da graduação, de pós-graduação, de cursos técni- cos e da educação básica? Ou poderia se considerar o argumento da APRUMA, Seção Sindical, em 29/07/2020, (p.1) “[...] dificuldade da Administração Superior em aceitar as críticas e fazer, de fato, uma ges- tão democrática, com participação efetiva da comunidade”? Ou uma miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 107miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 107 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 108 imposição legitimada pelo coletivo com finalidade institucional específi- ca? Ficam as indagações e a confiança que a História e as leituras futuras do presente mostrem respostas com possibilidades para a elaboração de outras questões. Como forma de facilitar a leitura do presente, é ade- quado lembrar que nas legislações é descrito que os setores, as unidades e subunidades acadêmicas, por meio de representações, têm autonomia para planejarem e realizarem as ofertas de atividades de ensino, confor- me especificidades. De modo contraditório definem com rigor ações e cumprimento de prazos. Uma ilustração para o acima citado é a Resolução nº 1.999-CON- SEPE/2020, que, em virtude da situação do novo coronavírus (SAR- S-COV-2 /COVID-19), faculta aos docentes a adesão ou não quanto à oferta de atividades de ensino remoto, no semestre especial, ao mes- mo tempo em que considera essa adesão como uma ‘oportunidade de treino’ para o semestre seguinte. A sugestão de treino acontece num “momento em que o Maranhão, em especial, a sua capital, encontra-se em plena curva ascendente de contágio e com muitas perdas” (UFMA, 2020a, p.3). Pelas proposições, a impressão é que, de forma perspicaz, são oferecidas opções que, de certa forma, responsabilizam-nos pelo su- cesso ou insucesso das suas práticas pedagógicas, aspecto reforçado na fala: “esse projeto seletivo de sociedade, [...] pretende, de forma desumana implantar uma responsabilização individual a questões coletivas e públicas” (idem, p.4). Outra ilustração importante é a recorrente alegação para o retorno do ensino de forma remota, a aproximação e apoio aos estudantes e, tam- bém, satisfações para a sociedade sobre os fazeres docentes. Argumento sem eco porque, mesmo em isolamento social, profissionais trabalham à distância. Como implicadas no processo, concordamos com a afirmação sindical já citada, que a “rotina de trabalho dos docentes da instituição não se resume a ministração de aulas, tampouco a presença física nas dependências das unidades” (APRUMA, p.01). É de conhecimento da gestão que, além disso, os docentes realizam lives, minicurso, avaliações miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 108miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 108 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 109 de progressões, fóruns de discussão, reuniões, planejamentos, reuniões de grupos de estudos, de extensão e de pesquisas, deliberam em colegia- dos de cursos regulares presenciais e não presenciais, de programas insti- tucionais, realizam orientações de projetos, programas e TCCs (UFMA, 2020e). Quanto aos alunos, aqueles com acesso à internet, a distância se reduz no momento em que são contactados, consultados e respondem a diferentes pesquisas, quando discutem com direções, docentes e coor- denações de cursos sobre as atividades de ensino e sobre possibilidades de retorno remoto. Assim como docentes, estudantes acenam para os dilemas, para as condições objetivas e subjetivas para efetivar as proposi- ções de ensino, indicadas pela gestão superior em tempos da pandemia da COVID-19 (UFMA, 2020a). A justificada preocupação de ambos é com a precarização do ensino, com a exclusão de alunos e a exposição de um e de outro quando não dominam as ferramentas da pedagogia da pandemia e seus fundamentos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A paisagem em pauta revela que, em tempos ditos “normais”, e agora em tempos de rearranjos sociais e formativos, por causa do isolamento social e da individualização de responsabilidades, urge que se discuta com parcimônia e de forma atenta às sutilezas, às fragilidades e imposi- ções imersas nos discursos dos deslocamentos sugeridos e oferecidos pela gestão da educação e da formação profissional nos centros acadêmicos. De igual modo, é necessário fincar a atenção nas fragilidades e nas duplicidades de sentidos das orientações legais como resoluções, nor- mativas, decretos, pareceres, entre outros, que chegam acompanhadas de justificativas que valorizam a economia, em detrimento da vida e do bem-estar humano, ao optarem por atender e responder de forma célere a exigências e imposições de órgãos de controle. Além disso, esse bem olhar também é indispensável pelas armadilhas, impactos e possíveis perdas de caras conquistas trabalhistas e de conhecimentos produzidos miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 109miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 109 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 110 nas vivências do ensino, pesquisa e extensão, na educação superior, na educação básica. Nesta perspectiva, compreendemos que as ações e as intenções da gestão da formação e do ensino começam a ser planejadas ou desati- vadas conforme as exigências da organização social e política em vigor. Significa que as políticas educacionais que sinalizam o que, como, quem e quando devem ser realizadas as ações, bem como os projetos, os pro- gramas, a organização curricular e do trabalho docente, materializados por meio da gestão, mantêm relação direta com a dinâmica sociocultu- ral e com as representações legitimadas pelo Estado em cada contexto (PAIXÃO, 2015). A dinâmica acenada expõe uma organização social e política desuma- na, responsável por inúmeras quarentenas, isolamentos e diferenças en- tre homens e mulheres, que há muito se empenham para construir uma formação e desenvolver uma prática profissional com qualidade social. O fundamento da dinâmica social analisada é o incentivo e a conservação do pensamento homogeneizador de descaso pelo humano. Essa máxima pre- tende ignorar diferenças, padronizar estilos de vida e de práticas, incen- tivar a competitividade entre os pares, individualizar questões coletivas, privatizar decisões, manter no poder privilegiados e deixar trabalhadores à margem do processo produtivo e criativo. Essa ordem não aconselhada caracteriza-se como dilemas implicados nas condições que inviabilizam o atendimento, a contento das demandas e proposições da gestão para o retorno do ensino em tempos da pandemia da COVID-19. Referências Bibliográficas APRUMA. Nota sobre os Fatos Ocorridos Durante a Solenidade Virtual de Lan- çamento dos Editais, Referente ao Auxílio Inclusão Digital aos Discentes pela PROAES/UFMA. Apruma Seção Sindical, São Luís, 29 de julho de 2020. GATTI, B. A. et al. Professores do Brasil: novos cenários de formação. Brasília, DF: Unesco. [S.l: s.n.], 2019. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 110miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd110 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 111 IFMA. Portaria/Reitoria Nº 2.618, de 12 de junho de 2020. KAUFMANN, J.C. A Entrevista Compreensiva: um guia para pesquisa de campo. Petrópolis: Vozes; Maceió: Edufal, 2013. KINCHELOE, J. L. Tecendo a Colcha de Retalhos: a bricolagem como alternativa para a pesquisa educacional. Educação e Realidade, Porto Alegre, vol.37, n.2, maio/ ago. 2012. MARANHÃO. ATOS NORMATIVOS, São Luís, 2020. Disponível em: <https:// www.corona.ma.gov.br/atos-normativos>. Acesso em: 15 de julho de 2020. PAIXÃO, M. S. E. A Prática do Estágio em Formação Continuada e a sua Relação com os Saberes Docentes. In Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, 16 Anais, Campinas, 2012. PAIXÃO, M. S. E. Trajetórias Construídas em Caminhos (Não)planejados: os sentidos formativos da escrita no estágio supervisionado obrigatório do curso de Pedagogia da UFMA. 2015. 188f. Tese (Doutorado em Educação) - Centro de Edu- cação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015. PAIXÃO, M. S. E. Estado Capitalista e Gestão da Educação no Contexto Neoliberal. In CASTRO, A. M. D. A.; STAMATTO, M. I. S. (Org.). A GESTÃO DA EDUCA- ÇÃO BRASILEIRA: políticas e programas. Natal, RN: EDUFRN, 2015. p. 43-64. PAIXÃO, M. S. E. Formação Colaborativa no Cotidiano do Estágio. In SOUZA, C. F. et al (Org.). Cotidianos Educacionais: fazeres, imagens e formação docente. Rio de Janeiro: Autografia, 2019. p. 430-440. SANTOS, B. S. A Cruel Pedagogia do Vírus. Coimbra: Almedina, 2020. VEIGA, I. P. A Aventura de Formar Professores. Campinas, SP: Papirus, 2012. UFMA. Ata da Assembleia Extraordinária do Departamento de Educação I e II, 21 de maio, São Luís-MA, 2020a, 5p. UFMA. Resolução – CONSEP/ nº 1.999, 18 de maio de 2020b. UFMA. Resolução – CONSEP/ nº 2.078-CONSEPE, 17 de julho, 2020c. UFMA. Instrução Normativa nº 2/2020/PROEN, 26 de junho, São Luís-Ma, 2020d. UFMA. Relatório Departamental de Atividades Docentes, 19 de junho, São Luís- -Ma, 2020e. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 111miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 111 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 112miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 112 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM TEMPOS DE PANDEMIA miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 113miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 113 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 114miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 114 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 115 EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO E TRABALHO DOCENTE EM TEMPOS DE PANDEMIA: O ENSINO REMOTO EM QUESTÃO Cristina Cardoso de Araújo Alves Maria Márcia Melo de Castro Martins Maria do Socorro Pinheiro INTRODUÇÃO O capítulo tece considerações sobre a realidade imposta pela pande- mia da COVID-19 ao complexo da Educação em suas relações com outros complexos sociais necessários à reprodução social, como a for- mação e o trabalho docente, e com o comprometimento do processo de ensino e aprendizagem na educação básica e superior. O isolamen- to e o distanciamento social como medidas de prevenção de contágio pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) têm mudado nossas vidas e a forma de nos relacionarmos. Somente no Brasil, mais de 420.000 vidas foram ceifadas pela CO- VID-19, decorridos um ano e três meses desde o primeiro caso da doen- ça, identificado em fevereiro de 2020. É nesse aterrador contexto de perdas de vidas humanas, de uma crise sanitária sem previsão de térmi- no, agravada “[...] por uma crise política gerada pelas ações e/ou inércia do (des) governo Bolsonaro” (LARA; HILLESHEIM, 2020, p. 11), em que nós, docentes, temos tentado sobreviver e desenvolver nosso traba- lho junto aos estudantes. Trabalho que tem evidenciado as contradições do capital desnudadas pela pandemia, fazendo-se sentir visceralmente as consequências das desigualdades sociais. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 115miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 115 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 116 No campo educacional, a situação em questão tem revelado que uma importante parcela de estudantes e professores da educação básica e do ensino superior estão desprovidos de acesso à internet, instrumentos e ferramentas adequadas para realizar atividades remotas, além da neces- sidade que o atual cenário tem imposto à formação docente para dar conta do ensino nesse formato, ainda que em situação de excepcionali- dade, por meio das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC’s). Essas questões têm suscitado a necessidade de investigações, discus- sões e reflexões, diante das implicações da pandemia, em especial, dos processos de ensino e aprendizagem, que, para sua objetivação, tem sido posto como alternativa predominante o ensino remoto assentado nas TDIC’s. Nesse sentido, partimos do pressuposto de que é preciso apreender a gênese, o desenvolvimento e a função social dos complexos sociais, em especial, das instituições formadoras, a exemplo da universi- dade, dos sistemas de ensino e escolas. Ancoradas na “dialética materialista histórica, ou, mais precisamente, no materialismo histórico” (FRIGOTTO, 2002, p.72) como método de análise do real, tomamos como categorias a totalidade, a contradição e a mediação para pensarmos as relações entre trabalho, Educação e a formação de professores, considerando o contexto atual. Entendemos, pois, que formar professores para o desenvolvimento do trabalho remo- to exige uma compreensão da totalidade da qual somos partícipes, das contradições que permeiam os processos educativos e das mediações ne- cessárias para a superação dessas contradições. Coerente, ainda, com essa perspectiva teórica, podemos dizer que es- sas categorias “[...] são capazes de traduzir, aproximadamente, o objeto de estudo, tendo por base a realidade exterior com sua forma e materia- lidade” (CIAVATTA, 2015, p.28). No caso deste estudo, de desvelar o modo como a Educação e, consequentemente, a formação e o trabalho docente têm se materializado no contexto da pandemia e nos exigido refletir sobre as alternativas que têm sido postas pelos governos para a miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 116miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 116 2021-05-24 16:03:062021-05-24 16:03:06 117 objetivação da educação básica e superior, dentre as quais predomina o ensino remoto. Como atingir a finalidade da Educação no que diz respeito à formação de estudantes da escola básica e do ensino superior, particularmente dos licenciandos, mediada pelo ensino remoto com uso das TDIC’s, considerando a necessária apropriação do conhecimento sistematizado e historicamente acumulado? A análise da atual situação pressupõe compreendermos a Educação, a formação e, por conseguinte, o trabalho que os docentes desenvol- vem nos diferentes níveis, etapas e modalidades de ensino. Para tanto, tomamos como eixo de análise a categoria trabalho como protoforma do ser social, portanto, modelo de toda práxis humana. Nesse sentido, o estudo ora apresentado objetiva problematizar o ensino remoto pro- palado em tempos de pandemia a partir da relação entre os complexos da Educação, formação e trabalho docente, ancorados no materialismo histórico dialético, na perspectiva onto-histórica. É sobre esse delicado e difícil contexto que vimos dialogar. TRABALHO E EDUCAÇÃO: FUNDAMENTOS ONTO-HISTÓRICOS DA FORMAÇÃO E DO TRABALHO DOCENTE Para Lukács (2010), o trabalho enquanto transformação da natureza pelo homem é a protoforma do agir humano, em que o homem, ao transformar a natureza, transforma a si mesmo. No entanto, vale dizer que nesse movimento, que se dá dialeticamente, o conjunto dos atos humanos não é redutível ao trabalho, haja vista a necessidade e impor- tância de outros complexos sociais, que, como o trabalho, embora exer- cendo outras funçõesespecíficas, medeiam a relação entre os homens. Sendo assim, o processo de humanização não se esgota na relação meta- bólica homem-natureza, pois podemos dizer que historicamente e para- lelo ao desenvolvimento do complexo do trabalho, surgiu a necessidade de outros complexos para garantir a reprodução social, dentre os quais a Educação, complexo no qual situamos a formação e o trabalho docente. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 117miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 117 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 118 De acordo com Marx (2015), o trabalho na sociedade de classes, particularmente a capitalista, pode ser apreendido em um duplo sen- tido: como objetivação e, ao mesmo tempo como alienação e negação do homem. Ou seja, a “[...] alienação consiste em o trabalho, atividade vital do homem, sua essência, passar a ser apenas meio de sua existência (p. 312). Baseado em Marx, Tonet (2013, p.257) destaca que “[...] a alienação caracteriza-se pelo fato de forças sociais se tornarem estranhas e hostis ao homem, dificultando a sua construção como ser autentica- mente humano”. Do mesmo modo que o trabalho, os outros complexos sociais fundamentais à constituição do ser social e da generidade huma- na, como a Educação, a formação de professores e o trabalho docente, encontram-se alienados, uma vez que o atual modo de sociabilidade cria limites para que a atividade humana seja livre (MARX, 2015). No que tange ao processo de autoconstrução humana, quer dizer, ao modo como nos tornamos humanos, mediados pelo complexo do traba- lho, Leontiev (2004), ancorando-se em Marx e Engels, destaca também que não nascemos humanos, mas nos tornamos no decurso do desen- volvimento sócio-histórico e cultural. O que a natureza nos dá, segundo esse psicólogo russo, é insuficiente para que essa humanidade se concre- tize, o que exige, na sua perspectiva, que a criança, o ser humano, entre “[...] em relação com os fenômenos do mundo circundante através de outros homens, isto é, num processo de comunicação com eles. Assim, a criança aprende a atividade adequada” (LEONTIEV, 2004, p.290, grifo do autor). Segue o autor na sua assertiva, destacando, ainda, que “[...] pela sua função este processo é, portanto, um processo de educação” (Idem, Ibidem). Nessa direção, assumimos a Educação como importante complexo mediador no processo de formação humana e, consequentemente, como possibilidade de superação, a partir da articulação com os demais com- plexos sociais, das contradições postas no interior da sociedade de clas- ses, o que pressupõe compromisso com a superação da alienação e com a constituição de outra forma de sociabilidade, radicalmente nova, em miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 118miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 118 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 119 que o ser humano possa desenvolver plenamente suas potencialidades, ou seja, uma sociedade verdadeiramente emancipada, em que o traba- lho, livre da exploração capitalista, não seja mais a fonte de alienação da humanidade. E que, por se constituir como eterna necessidade dos seres humanos, seja desenvolvido como atividade livre, consciente, universal e coletiva, como mediação ao processo de autoconstrução humana. Nesse sentido, a Educação, a formação e o trabalho docente, como objetivações humanas, alienadas na atual forma de sociabilidade, po- dem, contraditoriamente, contribuir para a superação dessa alienação, como uma possibilidade onto-histórica. No plano educacional, Braga (2011) ressalta a importância da luta contra os paradigmas e políti- cas que contribuem para a deformação da personalidade do indiví- duo, negando seu pleno acesso ao patrimônio genérico historicamente construído pela humanidade e entravando a formação de sua cons- ciência de classe. A partir do entendimento dos fundamentos apre- sentados, reconhecemos que o momento requer serenidade e decisões coletivas, de modo que, como universidades e escolas públicas, não reforcemos a exclusão neste momento extremamente delicado da nos- sa existência. FORMAÇÃO E TRABALHO DOCENTE: O ENSINO REMOTO EM QUESTÃO O trabalho remoto, assim como o teletrabalho, emergiu no século pas- sado como modalidades que flexibilizam as relações de trabalho im- postas pelo sistema capitalista de produção, em constantes crises. Essas crises, que na acepção de Mészáros (2000) são estruturais, evidenciam que “[...] o trabalho remoto ganhou muito maior relevância no contex- to contemporâneo das sociedades onde o modo de produção capitalista tornou-se flexível” (NOGUEIRA; CAMPOS, 2012, p.125). A flexibi- lidade como eixo estruturante dessas modalidades de trabalho no mun- do, em plena pandemia da COVID-19, escancarou a desvalorização do miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 119miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 119 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 120 trabalho, mas, ao mesmo tempo, a sua importância e relevância para o processo de produção e reprodução social em suas relações com outros complexos, a exemplo da Educação, área “[...] em que mais se eviden- ciou o uso da força de trabalho por meio do teletrabalho ou trabalho remoto” (LARA; HILLESHEIM, 2020, p.14). Nesse cenário, o ensino remoto se apresenta, tanto no âmbito da educação básica como no ensino superior, como uma possibilidade de manter os estudantes ativos, em aula, com os professores trabalhando em uma situação de excepcionalidade, uma vez que nesse período de pandemia a Educação presencial se encontra interditada, como decla- rou Saviani ao Portal Vermelho (2020). Contudo, tal proposta, embora venha sendo implementada nos diversos níveis, etapas e modalidades de ensino, esbarrou nas condições objetivas e subjetivas de vida, formação e trabalho de docentes, estudantes e de seus familiares. Essas condições, de modo geral, se expressam principalmente na pre- cariedade do acesso dos estudantes à internet de banda larga, compu- tadores, celulares e/ou equipamentos similares; na formação e trabalho dos professores que são desafiados a lançarem mão das TDIC’s com fins didático-pedagógicos, de forma a garantir, minimamente, a aprendiza- gem dos estudantes, uma vez que não estavam formados para a reali- zação desse tipo de trabalho “[...] adaptado de qualquer jeito para dar consecução a propostas pedagógicas que não haviam sido estruturadas para serem implementadas por meio não presencial” (LARA; HILLE- SHEIM, 2020, p.14); nas condições socioeconômicas das famílias, gravemente afetadas pela pandemia, o que evidencia que o uso des- sas tecnologias “[...] não pode ser pensado de modo desvinculado das condições de habitação dos estudantes da Educação Básica e Superior” (COLEMARX, 2020, p.16). Podemos dizer que a pandemia desvelou cenários muito precários de ensino e aprendizagem e, ao mesmo tempo, de vida, já que desnu- dou mais ainda as desigualdades socioeconômicas. E nos pôs diante de tomadas de decisões difíceis, mais ainda porque a base material da miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 120miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 120 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 121 atual forma de sociabilidade não nos permite superar, de imediato, tais desigualdades. Segundo dados do Observatório Social da COVID-19, recém-criado pelo Departamento de Sociologia da Faculdade de Filo- sofia e Ciências Humanas (FAFICH- UFMG), podemos observar que no Brasil: [...] 20% dos domicílios brasileiros – o equivalente a 17 milhões de uni- dades residenciais – não estão conectados à internet, o que impossibilita o acesso de alunos ao material de ensino a distância disponibilizado em seus portais por muitas escolas públicas do ensino fundamental e do ensino médio. Vivem nesses domicílios cerca de 42 milhões de pessoas, entre as quais, 7 milhões são de estudantes, 95% matriculados em escolas públicas e 71% cursando o ensino fundamental. Mais de 40% das residências não possuem computadore, entre os que possuem, poucos possuem softwares atualizados e capacidade de armazenamento. E são de uso comum de 3 ou mais pessoas. A maior parte do acesso à internet é realizada por meio de celulares, o que não assegura conectividade compatível com as plataformas de EaD (COLEMARX, 2020, p.16). A adesão ao ensino remoto pelas secretarias de educação básica e por universidades parece não ter levado em consideração os aspectos que apontamos e que precisariam ser garantidos para não reforçar ainda mais processos de exclusão social, sobretudo no atual cenário, tão da- noso à saúde física e mental da população mundial; e, em particular, da classe trabalhadora e periférica, haja vista as condições objetivas de vida, melhor dizendo, estruturais, necessárias à continuidade das atividades laborais. No âmbito da Educação, essa situação articula-se a outras conse- quências da pandemia da COVID-19, evidenciando adoecimento psi- cossocial de parte dessa população, provocado, particularmente, pelo isolamento social. Além do fato de que o ensino remoto tem imposto aos docentes sobrecarga de trabalho no tocante ao planejamento das miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 121miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 121 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 122 atividades, uma vez que nem sempre podem contar com apoio técnico para a produção de materiais didáticos, dentre outras demandas dessa proposta de ensino. Entendemos com Dal Rosso (2008, p.21) que a intensificação do trabalho se estabelece quando é exigido do trabalhador “[...] algo a mais, um empenho maior, seja física, seja intelectual, seja psiquicamente, ou alguma combinação desses três elementos”. Embora a continuidade do ato de ensinar e aprender se apresente como uma exigência, mesmo em tempos de pandemia, não podemos perder de vista tais questões, nem ignorar desdobramentos do ensino remoto para a Educação, de modo geral, e para a formação e o trabalho docente em termos formativos, socioemocionais, cognitivos, etc., mas, principalmente, no que diz respeito ao mundo do trabalho, como des- tacamos. No que tange à formação no âmbito da educação superior, e especificamente no contexto das licenciaturas, cursos de formação para o trabalho docente, nos deparamos ainda com a demanda pela realiza- ção da Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado. Estas atividades pressupõem a inserção dos futuros professores no espaço escolar, bem como parte dos componentes curriculares/disciplinas que encerra carga horária de práticas de laboratório, dentre outros elementos. Ao mobili- zarmos o ensino remoto nas atuais circunstâncias, devemos estar cons- cientes das implicações que essa modalidade de trabalho apresenta à for- mação e ao trabalho dos docentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos dizer que são diversos os paradigmas educacionais que funda- mentam a formação e o trabalho docente, dentre os quais temos aqueles que buscam “[...] instrumentalizar o professor para lidar com as novas exigências postas à educação e ao ensino” (GOMES, 2012, p.196), in- clusive na atual conjuntura. No campo da formação e do trabalho do- cente, essas concepções paradigmáticas têm desdobramentos nos pro- cessos de ensino e aprendizagem, principalmente quando consideramos miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 122miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 122 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 123 os interesses de grandes conglomerados que tomam a Educação como serviço, ou seja, como mercadoria que, por meio do ensino remoto, se apresenta como oportunidade de ampliar a oferta desse serviço, via pla- taformas digitais, dessa forma multiplicando seus lucros. Ao retornarmos às aulas por meio do ensino remoto, com a utiliza- ção das novas TDIC’s, na instituição ou fora dela, mediados pelo uso dos artefatos eletrônicos e distantes fisicamente dos estudantes, preci- samos pensar nos fundamentos e práticas educacionais que poderão ser materializadas nesse contexto, bem como nos estudantes que não têm acesso ao conjunto dessas tecnologias, já que no Brasil, conforme destacou a professora e pesquisadora Magali Aparecida Silvestre, em entrevista concedida a Cericato e Silva (2020), o ensino remoto “[...] acontecerá por meio do celular, por meio de uma banda larga precária e que atingirá somente 70% da população” (p.7). Diante da realidade explicitada, nossas atividades didático-pedagógicas precisam ser quantas forem as diferentes realidades de nossos alunos, pois corroboramos com a referida pesquisadora que “[...] A discussão sobre a possibilidade de desenvolver o ensino remoto ou não deve levar as diferenças regionais em consideração” (p.6). É preciso pensarmos, criticamente, possibilidades de superação das diversas questões que se desdobram a partir da impossibilidade de aulas presenciais, sem contudo deixarmos de problematizar nossa formação e condições de trabalho; em outras palavras, sem descuidar da valori- zação dos trabalhadores da educação e, em especial, da aprendizagem dos alunos, senão corremos o risco de reforçar uma educação fragmen- tada, improvisada, precária pela falta de condições objetivas e subjetivas de trabalho e vida, necessárias à formação e desenvolvimento humano. Não podemos, pois, desvincular deste momento pandêmico as relações entre o ensino remoto e a jornada de trabalho, em especial de docen- tes, pois como destaca Magali Silvestre “[...] do ponto de vista do tra- balho docente, o ensino remoto se configura como uma nova forma de organização do trabalho que amplia a própria jornada de trabalho” miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 123miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 123 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 124 (CERICATO; SILVA, 2020, p.8). E, ao mesmo tempo, a intensifica, como destacamos. Ademais, as implicações da atual situação sobre nossa profissão são preocupantes. Se aderirmos, sem resistirmos, a essas propostas de en- sino, em particular, ao remoto, estaremos sinalizando para o governo, outros órgãos e corporações que a formação presencial e o trabalho dos docentes são dispensáveis, que nossos cursos podem, tranquilamente, se transformarem em cursos à distância (EaD), os quais funcionam com quadro docente extremamente reduzido e precarizado, sem garantias trabalhistas. Por isso, questionamos: em tempos tão difíceis, de incertezas, medo e morte, quantos trabalhos nossas mãos tecem? O que nosso coração sente? Que sentimentos doravante passam a nos acompanhar na vida e no trabalho docente? Pois, apesar de fragilizados pelas vicissitudes, leva a efeito várias reflexões em tempos de pandemia, em que cabe perguntar ainda: que conteúdos precisamos aprender e ensinar neste momento tão extremado de nossa existência? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRAGA, Samara Almeida Chaves. Elementos Introdutórios ao Complexo da Alie- nação na Ontologia de Lukács: um estudo fundado na possibilidade de emanci- pação. 2011. 59f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2011. CERICATO, Itale Luciane.; SILVA, Jorge Luiz Barcellos da. Educação e Formação em Tempos de Pandemia: entrevista com Magali Aparecida Silvestre. Revista Olha- res, v. 8, n. 2, Guarulhos, ago., 2020. CIAVATTA, Maria. O trabalho docente e os caminhos do conhecimento: a histori- cidade da Educação Profissional. Rio de Janeiro: Lamparina, 2015. COLETIVO DE ESTUDOS EM MARXISMO E EDUCAÇÃO - COLEMARX. Em defesa da Educação Pública Comprometida com a Igualdade Social: porque os trabalhadores não devem aceitar aulas remotas. Disponível em: http://www.cole- marx.com.br/wp-content/uploads/2020/04/Colemarx-texto-cr%C3%ADtico-EaD-2. pdf Acesso em: 06.ago. 2020. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 124miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 124 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 125 DAL ROSSO, Sadi. Mais Trabalho! A Intensificação do Labor na SociedadeCon- temporânea. São Paulo: Boitempo, 2008. FRIGOTTO, Gaudêncio. O Enfoque da Dialética Materialista Histórica na Pes- quisa Educacional. In: FAZENDA, I. (Org.). Metodologia da Pesquisa Educacional. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2002. GOMES, Valdemarin Coelho. O Ajuste das Políticas Educacionais às Determina- ções do Capital em Crise. In: BERTOLDO, Edna.; MOREIRA, Luciano Accioly Le- mos.; JIMENEZ, Susana. (Org.) Trabalho, e Formação Humana frente à necessidade histórica da revolução. São Paulo: Instituto Lukács, 2012. LARA, Ricardo; HILLESHEIM, Jaime. Modernização Trabalhista em Contexto de Crise Econômica, Política e Sanitária. In: Comitê do Sistema Único de Assistência Social- SUAS/SC-COVID19: em defesa da vida. Disponível em: https://suassccovid19.files.wordpress.com/2020/07/artigo_modernizaccca7acc83o_ trabalhista.pdf Acesso em 10.ago.2020. LEONTIEV, Alexis. O Desenvolvimento do Psiquismo. 2 ed. São Paulo: Centau- ro, 2004. LUKÁCS, Gyorgy. Prolegômenos para uma Ontologia do Ser Social: questões de princípios para uma ontologia hoje tornada possível. São Paulo: Boitempo, 2010. MARX, Karl. Cadernos de Paris & Manuscritos Econômicos Filosóficos de 1844. São Paulo: Expressão Popular, 2015. Tradução [de] José Paulo Netto e Maria Antônia Pacheco. MÉSZÁROS, István. A Crise Estrutural do Capital. Revista Outubro, n. 4, 2000. NOGUEIRA, Arnaldo Mazzei; CAMPOS, Aline Patini. Trabalho Remoto e Desa- fios dos Gestores. RAI - Revista de Administração e Inovação, v. 9, n. 4, octubre-di- ciembre, 2012, pp. 121-152 Universidade de São Paulo São Paulo, Brasil Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/973/97324897007.pdf Acesso em 10.ago.2020. PORTAL VERMELHO. As Implicações da Pandemia para a Educação, segun- do Dermeval Saviani. Disponível em: https://vermelho.org.br/2020/07/30/as- -implicacoes-da-pandemia-para-a-educacao-segundo-dermeval-saviani/ Acesso em: 13.ago.2020. TONET, Ivo. Educação, Cidadania e Emancipação Humana. 2. ed. Maceió: EDU- FAL, 2013. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 125miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 125 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 126miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 126 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 127 LITERATURA E FORMAÇÃO DOCENTE: EXPERIÊNCIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM TEMPOS DE PANDEMIA Aldenora Resende dos Santos Neta Leoneide Maria Brito Martins INTRODUÇÃO “As palavras da literatura revelam seu poder naquilo que há de mais humano em nós: a metáfora e a capacidade de transcender a realidade (LOIS, 2001, p. 25)”. A literatura é a arte feita de palavras, imagens, sons e gestos. Como lin- guagem artística, o texto literário dialoga com a subjetividade dos leito- res, com a sensibilidade estética, com a beleza e a emoção. A leitura lite- rária amplia a experiência de mundo, conecta com a nossa humanidade e desenvolve o pensamento crítico. É uma arte que favorece a liberdade, a sensibilidade com o outro, de compreender o mundo, de se relacionar no mundo e de se educar para a diversidade cultural. Nesta perspectiva, este artigo discute a “leitura literária na formação das professoras da Educação Infantil”, experiência decorrente de um curso on-li- ne ofertado pelo curso de Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), na modalidade EAD, no período de 26 junho a 7 de agosto de 2020, que incluiu, também, a transmissão de lives pela mídia social Instagram. Assim, o curso ocorreu durante o contexto da pandemia do novo coro- navírus (COVID-19) – por questões sanitárias de proteção à vida, exigiu-se o isolamento social e, por extensão, a impossibilidade do desenvolvimento de atividades presenciais nos diferentes espaços formativos –, a modalidade miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 127miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 127 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 128 virtual foi uma alternativa encontrada de criar/retomar espaços de diálogos para aprofundar os estudos, e, também, pensar na saúde psíquica das/os envolvidos, haja vista que a leitura é um recurso terapêutico ao longo da história, capaz de alterar nossas estruturas emocionais. Dessa forma, o objetivo do texto é refletir sobre a experiência da leitura literária como uma forma sensível de ampliação do repertório cultural e estético das professoras cursistas e equipe mediadora, pelo en- tendimento de que a arte literária aproxima as pessoas, preenche o ócio, permite um mergulho íntimo de si mesmo, possibilita o acesso aos bens culturais e cria vínculos em tempos de isolamentos sociais. Partimos da concepção defendida pelo professor de Filosofia Jorge Larro- sa, que descreve a experiência como a “possibilidade de algo nos aconteça ou toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm” (2015, p.25). O autor adverte que a informação não é experiência, nem o excesso de opinião e de trabalho, pois não dão lugar para a interrupção, a inferência, a pausa, a delicadeza, a arte do encontro com algo que se experimenta, que se prova. Sensações essas mais próximas da literatura. Portanto, apresentamos neste texto um recorte de uma parte da expe- riência do curso, já que consideramos que este afetou de alguma forma os envolvidos, de modo que destacamos alguns pontos de vista, depoi- mentos e vivências literárias registradas pelas professoras e graduandas que integraram a programação do curso. A TRAJETÓRIA DO CURSO SOBRE A LEITURA LITERÁRIA: OS PER- CURSOS FORMATIVOS DAS PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL “O sujeito da experiência tem algo desse ser fascinante que se expõe atravessando um espaço indeterminado e perigoso, pondo-se nele à prova e buscando nele sua oportunidade, sua ocasião”. (LARROSA, 2015, p.25) A literatura é fascinante, mas sua travessia exige caminhos e descami- nhos que, muitas vezes, são difíceis e árduos. Dessa forma, precisávamos miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 128miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 128 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 129 pensar em uma direção, ou em várias direções, considerando as múl- tiplas possibilidades que a literatura proporciona aos indivíduos e sua relação com o nosso processo formativo de “ser professora”, em que muitas vezes somos levados a navegar no mar do desconhecido que pre- cisa ser desbravado. Aqui, acenamos para o encontro da leitura literária diante do desafio de um curso na modalidade EaD, uma experiência nova e ao mesmo tempo desafiadora. Portanto, como trazer a literatura infantil para o convívio das professoras de uma forma que pudesse tocar, emocionar, sensibilizar o olhar e a experiên- cia estética na formação docente? Quais seriam os caminhos possíveis para esse encontro entre professores da educação infantil no contexto de pande- mia, em que o medo, as incertezas e as tristezas por tantas vidas perdidas invadiram nossas casas, nossas famílias, nossas vizinhanças, nossos amigos? Nesta perspectiva, definimos questões norteadoras para a pesquisa: qual o lugar da literatura na formação e na prática docente? Qual a con- cepção de literatura infantil e o papel da leitura literária na educação infantil? Quais práticas literárias podemos pensar e inserir na escola da infância? É possível ler literatura com as crianças pequeninas sem as amarras da didática do ensinar a ler, a escrever e a desenhar? Para o desenvolvimento do curso em EaD, iniciamos com cards de mobilização para a inscrição pelo SIGeventos, no portal UFMA, sendo que em dois dias de inscrições houve um número de 90 matriculados, mas participaram regularmente do curso um total de 60 pessoas, na sua maioria estudantes de Pedagogia da UFMA, professoras da rede munici- pal de São Luís, duas bibliotecárias e mediadoras de leitura. O curso teve uma carga horária de 40 horas e foi construído com base em quatro módulos: a) o papel da leitura literária na educação in- fantil; b) linguagem imagéticae suas narrativas; c) os bebês, a leitura e a literatura; d) práticas de leitura literária na educação infantil. Foi de- senvolvido na Plataforma Classroom com o propósito de disponibilizar textos para aprofundamento, vídeos de formação, listas de referências bibliográficas e fóruns de discussão. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 129miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 129 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 130 Foram realizados 3 encontros on-line pelo Google Meet (apenas para as cursistas), com carga horária de 3h por encontro; 6 lives pelo Instagram (aberto ao público), com uma média de 50 a 60 pessoas participando por live. As 6 lives foram organizadas por dois Ciclos de Diálogos com o tema intitulado “As diferentes leituras”, com especialistas convidadas com vistas a aprofundar as temáticas do curso, cujos temas foram os seguintes: “Para além da palavra, leituras infantis em creches e pré-escolas” (Profª. Drª. Ana Lúcia Goulart de Faria); “Linguagens visuais na Educação da pequena in- fância” (Profª. Drª. Fabiana Canavieira); “Meu quintal é maior do que o mundo: por que ler Manoel de Barros para bebês?” (Profª. Mª. Renata Dias); “Pereguedé na literatura infantil: identidade e cultura popular” (Profª. Mª. Nathalia Ferreira, e a contadora e autora de livros Camila Reis); “A lei- tura literária na pequena infância” (Profª. Drª. Monica Samia); “Experiência literária: múltiplos lugares muitos espaços” (Profª. Mª. Edith Ferreira). Diante do exposto, analisamos alguns registros dos fóruns de discus- sões, os conteúdos tratados nos encontros on-line e nas lives, a fim de refletir o sentido da literatura na formação e no trabalho das professoras, na perspectiva de situar a literatura como legado afetivo, simbólico e cultural, de fundamental importância na formação humana e nas práti- cas formativas na educação infantil. MEMÓRIAS E VIVÊNCIAS LITERÁRIAS: UMA REFLEXÃO DOS RE- GISTROS DAS PARTICIPANTES NOS FÓRUNS DE DISCUSSÃO “Sonhar histórias, contar histórias, redigir histórias, ler histórias são artes com- plementares que dão voz à nossa percepção da realidade e podem nos servir como conhecimento vicário, transmissão de memórias (MANGUEL, 2008, p.19) ”. Os diálogos e registros das memórias e vivências literárias das partici- pantes do curso se constituíram de grande relevância para compreender o lugar de fala, os sentidos que a literatura significou e significa na vida das professoras e/ou graduandas, o modo de olhar e de ressignificar o miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 130miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 130 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 131 mundo e as relações que estabelecemos com a arte da palavra, as ima- gens, sons e gestos inimagináveis que marcaram os percursos e trajetó- rias de vida de cada uma, somados pelo conjunto de textos, palestras e análises críticas das especialistas que participaram das lives, os livros de literatura infantil, depoimentos, histórias contadas e cantadas, vídeos e outros materiais que o grupo teve acesso durante o curso. Neste sentido, reconhecendo que todas (os) têm uma experiência para narrar e para se emocionar a partir do contato com a literatura infantil, as histórias contadas pelas mães, pais, avós, professoras, as brincadeiras da infância, as marcas que pausadamente fomos reconstituindo em nossas memórias e lembranças da infância, histórias vividas na família, na escola e nas relações construídas no percurso das experiências literárias, fomos tecendo o encontro e o reencontro com a leitura literária na infância de cada participante e as emoções que marcaram suas trajetórias de leitoras. Desse modo, na primeira infância, os relatos apontaram para a impor- tância e influência da família, sobretudo a presença da mãe, no encontro com as histórias infantis, em maior proporção com os contos de fadas que encantam as crianças e as diferentes formas de incluir os pequenos no incrí- vel mundo da literatura infantil. Nesse sentido, a literatura oral, por meio de histórias contadas reais ou imaginárias, com os livros literários ou in- ventadas pelos adultos eram motivos suficientes para encantar as crianças e promover a reunião em família e aumentar os laços de afetividade que a literatura possibilita, o encontro que encanta, diverte, informa e educa. A minha lembrança mais remota talvez seja o contato com os clássicos. Minha mãe sempre gostou de ter uma biblioteca em casa com diversos gêneros literários e, [...] meu irmão e eu tínhamos à nossa disposição os clássicos infantis tanto em formato de livro quanto contados através de discos de vinil. (Professora A). Minha mãe tem pouco conhecimento, [...] por isso não tinha incentivo à leitu- ra, mas na escola era o momento especial quando minha professora contava as histórias infantis como chapeuzinho vermelho. (Professora B). miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 131miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 131 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 132 Minha mãe professora [...] comprava os clássicos da literatura como Chapeu- zinho Vermelho, Os três porquinhos, O patinho feio e outros. Cada vez que viajava para a capital São Luís, esperava ansiosa o seu retorno porque sabia que ela ia trazer livros, vinis de músicas infantis, gibis, e também maçãs. O cheiro das maçãs na sua mala era maravilhoso. O meu imaginário comia, comia ... maçãs e livros. (Professora C). Alguns participantes ressaltaram que só tiveram acesso ao livro literá- rio na escola ou na biblioteca pública da cidade que moravam ou em al- gumas bibliotecas escolares. Nem todas as professoras tiveram na infân- cia o acesso aos livros literários, por questões de dificuldade econômica ou ausência de bibliotecas nas escolas, mas a maioria relatou que teve experiências prazerosas na infância com a literatura infantil, destacando histórias que marcaram essa fase da vida que se ampliou com a vontade de ler outros gêneros literários e outros autores, conforme se ressalta: [...] entrei no espaço da biblioteca e andei em meio aquelas estantes enormes, cheias de livros. Encontrei um espaço, uma sala pequena, repleta de livros in- fantis. Foi ali que começou uma verdadeira paixão. Minhas aulas ocorriam duas vezes na semana, aprendi a ir sozinha para a escola e chegava mais cedo só para ler os livros antes da aula. (Professora D). Fica evidenciado o poder de sedução e de emoção com que as narrati- vas das professoras cursistas foram se constituindo por meio de suas me- mórias afetivas, lembrando de pessoas queridas, seja de vínculo familiar ou escolar, lugares, brincadeiras, dando voz às suas percepções da realidade, ao mesmo tempo em que apresentam representações simbólicas frente a um mundo de possibilidades, pois a literatura e a leitura da palavra escrita e imagética registram a memória da humanidade e nos permite mergulhar na nossa capacidade de sentir, pensar, sonhar, criar e recriar. Antonio Candido (2011, p.175) descreve que a “literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 132miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 132 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 133 de vivermos dialeticamente os problemas”, ou seja, “humaniza no sen- tido mais profundo”. A força da literatura e da poesia nos suspende da vida cotidiana, nos desloca do espaço e tempo, atravessa o nosso ser. Por isso, nem sempre nos traz conforto e calmaria, mas possibilita (re)pensar sobre os nossos conflitos, os problemas do mundo, confrontar-se com a experiência do outro e construir o seu próprio sentido, mas para isso não tem idade. O autor afirma que a literatura é um direito humano e, acrescentamos ainda, a arte literária deveria estar ao acesso de todos por se constituir um bem cultural público. CONSIDERAÇÕES FINAIS O ano de 2020 ficará marcado na historiografia mundial, sobretudo pela pandemia dacovid- 19 que afetou o mundo inteiro, deixando con- sequências nefastas para a humanidade, em que cada cidadã e cidadão, profissionais de diferentes áreas de conhecimento, empresas, famílias, escolas e universidades tiveram que se reinventar e se autossustentar para se adaptarem aos novos tempos, ao “novo normal”. E, nesses tempos de coronavírus, a literatura assumiu um papel fun- damental na vida das pessoas e nunca foi tão necessária! A literatura não tem a pretensão de substituir as mazelas deixadas pela pandemia e mui- tas vezes pela ingerência das autoridades políticas, nem de curar as dores da humanidade diante de tantas vidas interrompidas, mas certamente nos possibilita trilhar por caminhos de esperança, de entretenimento, de conhecimento e de reflexão crítica para compreendermos melhor o mundo, o atual contexto e o porvir, os dramas, tragédias e histórias que imitam a nossa própria vida e, nesse universo de solidariedade e empa- tia, nos tornamos mais humanos, mais sensíveis e criativos para rein- ventar e buscar alternativas de vida e de sobrevivência nesse mundo tão diverso e imprevisível. A realização do curso “Leitura Literária na Educação Infantil” em tempos de pandemia foi uma experiência ímpar que reuniu diálogos miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 133miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 133 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 134 científicos, culturais e literários, em que o compartilhamento de sabe- res e fazeres dos professores especialistas, dos/as autores/as dos textos, das palestrantes e debatedoras, da participação ativa das alunas/cursistas, mediados pela tecnologia das mídias sociais e da educação a distância, elucidou novas oportunidades e ampliou novas alternativas de processos de educação continuada e de deleite em relação ao poder da leitura li- terária, da literatura infantil em suas múltiplas diversidades de gêneros textuais, formatos, imagens e temáticas abordadas, voltadas para alcan- çar a primeira infância. É o começo de outras modalidades de ensino universitário, em que o presencial e o virtual se complementam para democratizar o acesso ao conhecimento e a troca e intercâmbio de experiências educativas e literárias. Acreditamos que, conforme os registros escritos nos fóruns, os de- poimentos, e questões abordadas nas lives e nos encontros on-line e avaliações apresentadas pelas professoras da educação infantil e demais público participante do curso, a iniciativa de formação continuada pro- movida pelo Curso de Pedagogia da UFMA alcançou seus objetivos de sensibilizar o olhar para a leitura literária na educação infantil e deixou a vontade de ampliarmos essas oportunidades à comunidade universitá- ria, em parceria com as instituições escolares da infância. Enfim, a literatura na formação docente foi/é uma possibilidade de não nos educarmos apenas com o conteúdo apresentado nos livros, mas nos educarmos com o estímulo à experiência estética, que enriquece os saberes, a subjetividade, o repertório cultural, a práxis docente e reflexão contínua sobre o fazer pedagógico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CÂNDIDO, Antônio. Vários Escritos. 5 ed. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2011. LARROSA, Jorge. Notas sobre a Experiência e o Saber da Experiência. Revista Bra- sileira da Educação, Rio de Janeiro, n. 19, jan/abr. 2002. Disponível em: http://www. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 134miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 134 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 135 anped.org,br/rbe/rbedigital/RBDE19/RBDE19_04_LARROSA_BONDIA.P DF. Acesso: ago 2020. LOIS, Lena V. Teoria e Prática da Formação do Leitor. Salvador: Instituto Newton Rique, 2001. MANGUEL, Alberto. A Cidade das Palavras: as histórias que contamos para saber quem somos. São Paulo: Cia das Letras, 2008. REYES, Yolanda. A Casa Imaginária: leitura e literatura na primeira infância. São Paulo: Global Ed., 2010. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 135miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 135 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 136miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 136 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 137 DESAFIOS DE APRENDIZAGEM NO PERÍODO PANDÊMICO DA COVID-19: DESIGUALDADES E PERSPECTIVAS Anny Ocoró Loango Carla Figueira de Souza Elisandra Barbosa Cabral Maria das Graças Souza Oliveira INTRODUÇÃO A pandemia da COVID-19 (CORONA VIRUS DISEASE - Doença do Coronavírus, 2019) em pouco tempo gerou muitas transformações. Não sabemos se serão transitórias ou se, pelo contrário, chegaram para ficar. Esta é uma crise que tem, e terá, consequências humanitárias, de saúde, econômicas, culturais e sociais de grande magnitude para boa parte da população mundial. Em vários países da América Latina a pandemia também revela a fra- gilidade dos Estados em atender igualmente as suas populações e, espe- cialmente, aos grupos sociais mais vulneráveis. O objetivo deste texto é refletir sobre a questão das desigualdades educacionais, desde o primeiro olhar sobre os desafios da aprendizagem no período da pandemia da COVID-19, até a atual e imprescindível exigência de novas atitudes por parte de todos os cidadãos; afinal, o “iso- lamento social” é uma necessidade de tentar conter uma situação global crítica de risco e de letalidade. Assim, o capítulo foi estruturado em três partes: a primeira aborda o isolamento social, a segunda aborda as desigualdades educacionais na era miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 137miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 137 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 138 COVID-19, e a terceira os desafios das aulas virtuais, os usos das tecno- logias digitais de informação e comunicação (TDICs) e a aprendizagem. ISOLAMENTO SOCIAL Já se passaram oito meses desde que os cidadãos dos cinco continentes do planeta começaram a mudar, pensar e/ou rever suas atitudes para o impacto social devastador da COVID-19, que acentuou a crise de saú- de, tanto na esfera pública quanto na privada. A Organização da Pan-Americana da Saúde e a Organização Mun- dial da Saúde (OPAS/OMS) afirmaram em 30 de janeiro de 2020 que o surto da doença causado pelo novo coronavírus (COVID-19) constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional – o mais alto nível de alerta da Organização, conforme previsto no Regula- mento Sanitário Internacional. Em 11 de março de 2020, a OMS ca- racterizou a COVID-19 como uma pandemia. Especialmente porque a COVID-19 é a doença infecciosa causada pelo novo coronavírus, iden- tificado pela primeira vez em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, capital da província de Hubei/China. Desta forma, algumas medidas de proteção foram importantes para frear o contágio como: lavar as mãos com frequência com água e sabão ou álcool gel e cobrir a boca com o antebraço ao tossir ou espirrar (ou usar um lenço descartável e, depois de tossir ou pulverizar, jogá-lo fora e lavar as mãos). “Manter-se vivo e saudável” tornou-se a expressão mais viralizada nas redes sociais e nos demais meios de comunicação, independentemente da resistência dos sujeitos irresponsáveis e arrogantes que não acreditam no poder letal de um vírus invisível a olho nu, que está no processo de devastação da humanidade. Nesse cenário de emergência em saúde, as doenças pré-existentes que afetam a região intensificam o drama hospitalar em que não há pro- fissionais, leitos e aparelhos respiratórios para atender à demanda dos pacientes acometidos pela COVID-19. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 138miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 138 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 139 Trata-se de uma crise que não só tem consequências econômicas, culturais, educacionais, políticas e sociais de grande magnitude, ela vai além, e as possibilidades de lidar com tal em hospitais com condições precárias de atenção à população,devido aos efeitos das políticas neoli- berais que tornam essa questão ainda mais complexa e assustadora. O acesso a alimentos, à saúde, à moradia, à educação, à cultura, ao lazer e ao trabalho tornou-se um problema sério para os mais desfavo- recidos e percebemos que não há políticas públicas que possam bene- ficiá-los em termos de ficarem em casa para prevenirem o processo de infecção pelo coronavírus. A questão de “ficar em casa” é, na verdade, evitar ter que ir a um hos- pital para atendimento médico, pois sabemos que existem muitos países onde o sistema público de saúde é precário e não pode efetivamente cui- dar de pessoas necessitadas, o que, automaticamente, gera uma situação caótica. Seus efeitos começam a serem efetivamente sentidos e vividos com força em países cujos governos têm priorizado os interesses dos setores econômicos focados na saúde e no bem-estar de sua população. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi- mento (PNUD, 2019), a América Latina continua sendo a região com maior grau de desigualdade em todas as áreas, o que apresenta conse- quências para o impacto da pandemia, especialmente para aqueles que possuem menos recursos. O lema “fique em casa” não significa o mesmo para toda a sociedade, pois ele varia de acordo com o poder aquisitivo de cada família, ou seja, ele não se aplica a todos os tipos de realidades. Para os setores mais desfavorecidos da sociedade que sofrem desigual- dades, principalmente econômicas e, em muitos casos, a situação é mui- to mais dramática porque realmente significa não ter o suficiente para comer e alimentar a família. Esta é a realidade de grande parte da popu- lação negra, de imigrantes africanos, peruanos e venezuelanos da região. O impacto da pandemia também deve ser analisado do ponto de vista interseccional. Os temas de classe, gênero, “raça” e território são miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 139miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 139 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 140 de dimensões que, quando analisadas em conjunto, simultaneamente e interrelacionadas, permitem ver como as populações afrodescendentes e indígenas estão realmente desprotegidas contra a pandemia. A gravidade da situação enfrentada pelos Estados Unidos é bastante ilustrativa no contexto dos casos globais. As desvantagens históricas cau- sadas pelo racismo deixam essa população em uma situação de grande vulnerabilidade a um sistema de saúde privatizado, cada vez mais distan- te e nada humanitário. Isso deve silenciar aqueles que pretendem insta- lar critérios genéticos para analisar um problema claramente estrutural. No caso do Brasil, há um significativo abandono da população e uma falta de respeito por parte do governo central, que não acredita na le- talidade do vírus. Durante uma coletiva de imprensa em 18 de março, para falar sobre medidas para conter a epidemia de coronavírus, foi dita a seguinte frase: “Isto é apenas uma gripezinha!”. Tal fato gerou reper- cussões negativas e destacou o menosprezo do Presidente aos demais ci- dadãos, e, ao mesmo tempo, fortaleceu a ignorância entre aqueles que se acham imortais. A atitude de usar uma máscara paras proteger o nariz e a boca, álcool em gel como agente para higienizar as mãos e manter a distância entre os outros é uma das maneiras de preservar a vida. Hoje, todas as medidas protetivas envolvem respeito a si mesmos e aos demais cidadãos. O interesse em reabrir o mercado e movimentar a economia também foi visível, sem considerar que essa atitude afetará o aumento do núme- ro de mortes da COVID-19 que o país vem sofrendo. O slogan “fique em casa” não significa o mesmo para todos. Esses sujeitos sofrem desigualdades territoriais e, em muitos casos, superpo- pulação, e não têm onde morar e manter distância da casa. Vemos que a América Latina continua sendo a região mais desigual do mundo (PNUD, 2019) e isso tem implicações para o impacto da pandemia, especialmente para aqueles com menor poder aquisitivo. Não será fácil lidar com essa situação em países com uma ordem so- cial desigual, onde grande parte da população está abaixo da linha da miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 140miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 140 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 141 pobreza e sobrevive com o que recebe todos os dias, seja por meio de doações, esmolas e/ou trabalho no setor terciário. A deterioração da economia é uma realidade que piora em uma re- gião na qual as políticas neoliberais têm afetado a qualidade de vida de grande parte da população. Lembremos que, na América Latina e no Caribe, o modelo neoliberal de governo propôs receitas para ajuste fiscal e retração de alguns setores do Estado. DESIGUALDADES EDUCACIONAIS VISIBILIZADAS EM TEMPO DA COVID-19 Crianças indígenas e afrodescendentes não só depois entram no siste- ma educacional, como também têm dificuldade em permanecer nele. Essa situação é mais preocupante para os adolescentes afrodescendentes, cujos níveis de deserção são altos em quase todos os países da região. Há também lacunas significativas no acesso ao ensino superior que eviden- ciam o aumento das desigualdades. Assim, “as chances de uma pós-graduação de nível médio continuar no ensino superior são persistentemente menores entre a população indígena e afrodescendente” (SITEAL 2012, p.18). O Banco Mundial (2018) também observou que, na maioria dos países da região, a população afrodescendente tem níveis de escolaridade mais baixos do que outros grupos e que essas desigualdades são muito mais acentuadas nas escolas primárias das áreas rurais. A COVID-19 não está apenas desafiando o formato escolar tradicio- nal, como também está deixando desnudada as desigualdades educacio- nais e as iniquidades estruturais existentes na região. Além disso, há falta de acesso às tecnologias digitais de informação e comunicação por parte de professores e alunos, configurando-se em mais uma dificuldade para o desenvolvimento educacional. Hoje, as salas de aula acontecem por meio de dispositivos tecnológicos, aos quais nem todos têm acesso. Diante dos novos formatos digitais, as miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 141miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 141 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 142 respostas dos alunos são diferentes e nem todos conseguem manter o vín- culo pedagógico da mesma forma. No entanto, “a tecnologia é uma ferra- menta poderosa que tem sido apresentada como facilitadora do processo de comunicação entre indivíduos” (SOUZA, 2019, p. 150). Considere, por exemplo, as profundas barreiras e desigualdades ter- ritoriais, culturais e digitais existentes na região. Muitos alunos não têm conexão com a internet, especialmente nas áreas rurais. Além disso, muitas vezes eles não têm um espaço habilitado em suas casas, ou ca- minhos familiares ou capitais culturais para ajudá-los a sustentar esses novos formatos escolares. Dado que a pobreza rural é muito maior do que a pobreza urbana, e que cerca de metade da população indígena e afrodescendente vive nas áreas rurais, o contexto atual aprofunda as desigualdades educacionais existentes nas populações afrodescendentes. Essa conjuntura acentua as desvantagens estruturais históricas que afetam populações afrodes- cendentes, tão puníveis pelo racismo estrutural; o mesmo que viveu há muito tempo em nossas sociedades. Nesta pandemia também podemos ver como o pensamento colonial e racista ainda vive e se manifesta fortemente. Dois médicos do Insti- tuto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França (INSERM) pro- puseram que o teste de possíveis vacinas para combater a COVID-19 fossem realizados em países africanos. Essa ideia não é nova, e os países africanos têm sido usados infamemente por potências coloniais para ex- perimentar drogas e tratamentos desmedidos, em suas populações como cobaias, sendo tal proposta de completo desrespeito aos Direitos da Pes- soa Humana(MELO, 2020). O que é surpreendente é a leveza com que isso é proposto hoje, as- sumindo que os povos africanos são populações residuais que podem ser experimentadas para que outros possam viver. Como é possível que tais posições sejam apoiadas publicamente no século XXI? Esta é a ve- lha receita biopolítica de fazer alguns morrerem para outros viverem. A miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 142miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 142 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 143 velha receita que agora, como Mbembe (2011) apresentou com razão, implanta e espalha sua necropolítica, sua política de morte sobre popu- lações negras. Fatos como este nos mostram como é urgente que a história da Áfri- ca, o berço da humanidade, seja parte do conhecimento comum das pessoas. É essencial conhecer, valorizar e disseminar a história dos povos africanos, que está bem antes da infame dominação escrava e colonial que trouxe tantos benefícios aos europeus. Para isso, é imprescindível que a escola seja capaz de avançar em dire- ção a um currículo justo e inclusivo que leve em conta as contribuições dos povos africanos e sua diáspora para a história da humanidade. É essencial que, a partir do currículo, os alunos possam contribuir para o processo crítico das relações coloniais e imperiais, e para desconstruir a imagem desumana, estereotipada e eurocêntrica que existe sobre os po- vos africanos e sua diáspora global. Finalmente, nos perguntamos até que ponto o novo formato edu- cacional da sala de aula digital favorecerá alguns conteúdos em relação aos outros, agravando ainda mais a baixa presença da perspectiva étnico- -racial em nosso currículo educacional. Lembremos que a desigualdade educacional em que essas populações vivem também se manifesta na falta de inclusão de sua história, religião, cultura e epistemologias nos planos curriculares. Historicamente, o currículo reafirmou visões eurocêntricas e tem sido marcado pela matriz colonial, racista e patriarcal que manteve a história das populações indígenas e afrodescendentes na subalternidade. Isso destaca a necessidade de não negligenciar, no contexto dessa cri- se, políticas educacionais que garantam a inclusão do conteúdo afro-his- pânico nos novos formatos educacionais digitalizados, que hoje ganha- ram destaque em nossas sociedades. Entendemos que fazê-lo faz parte do direito à produção de diversos saberes que reflete a pluralidade social e cultural de nossas sociedades e contribui para um mundo mais justo e igualitário. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 143miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 143 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 144 OS DESAFIOS DAS AULAS VIRTUAIS A nova pandemia do coronavírus explodiu o uso de sistemas e aplicações desenvolvidas para atividades educativas a distância. O fenômeno acelerou na rede de ensino básica após o Conselho Nacional de Educação (CNE) dar luz verde, em 18 de março, às aulas online do ensino fundamental. A declaração social como medida efetiva para prevenir e reduzir os efeitos da pandemia COVID-19 criou a importância do acesso à Inter- net e do fornecimento de computadores, tablets e outros equipamentos em instituições de ensino por professores e alunos. No entanto, a estra- tégia adotada destaca a desigualdade e as dificuldades enfrentadas pelos alunos e professores das escolas públicas: acesso limitado à internet, falta de computadores e espaço em casa, problemas sociais, excesso de traba- lho, baixa escolaridade dos familiares e falta de motivação para que os alunos continuem seus estudos em casa. Deve-se notar que é na escola que muitos alunos comem suas refeições diárias, sendo a comida um dos fatores importantes para mantê-los estudando e, ao mesmo tempo, reduzir esse problema. É também na época escolar que muitos alunos estão protegidos e longe da vulnerabilidade das drogas. Com escolas fechadas pela política de isolamento social, o uso maci- ço de ferramentas digitais para substituir as aulas presenciais destacou as deficiências da educação a distância (EaD) no país. Alguns deles são a falta de formação específica de professores e o acesso precário da popu- lação aos recursos tecnológicos, como computadores e internet de quali- dade. Um dos problemas visíveis é o fato de que alguns professores que não foram preparados para ensinar online e têm dificuldades em adaptar os conteúdos no modo virtual. Especialistas também temem que as políticas oficiais cedam aos inte- resses das fundações privadas e das grandes plataformas digitais para na- turalizar o uso do EaD na educação básica após a pandemia. Motivados por uma situação excepcional, o uso subsequente em larga escala da mo- dalidade poderia servir para reforçar a formação pragmática e criticada pela Organização das Nações Unidas (ONU). miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 144miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 144 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 145 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do exposto, concluímos que o momento é de um olhar mais humanitário e delicado, que precisa do esforço e conscientização de to- dos os lados, como o compromisso das autoridades em amparar a popu- lação, o aprofundamento da qualidade do processo de ensino e aprendi- zagem, as políticas públicas para qualificar a formação dos professores, o sistema de saúde e um olhar mais humanitário para os mais vulneráveis, para que possam sair bem dessa situação devastadora. Com a pandemia da COVID-19, os professores buscam alternativas para desenvolver o ensino online e a luta para se adaptar ao conteúdo para que os alunos possam continuar seus estudos, além de tudo o que representa a real situação de cada casa, bem como que eles próprios não tenham sido preparados/treinados para ensinar online. Sabe-se que a educação, o processo de aprendizagem ao longo do tempo, vem passando por transformações, e, com o advento da internet, evoluiu com a incorporação de tecnologias digitais disponíveis, e mes- mo que haja resistência para se apropriar dessa modalidade, hoje é uma realidade que convida a reflexão sobre formas de ensinar e socializar in- formação e conhecimento. A virtualidade possui características únicas em termos de recursos, tempos, espaços, informação, comunicação e interação. É fundamental pensarmos nas diferentes formas de construção e socialização do conhe- cimento, pois há também a incongruência de que nem sempre o que funciona no ensino presencial tem a mesma repercussão no virtual. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANCO MUNDIAL. Afrodescendentes na América Latina em Direção a um Marco de Inclusão. Disponível em: <http://documents1.worldbank.org/curated/ en/316161533724728187/pdf/129298-7-8-2018-17-30-51-AfrodescendientesenLa- tinoamerica.pdf>Acesso em 05 de março. 2020. MBEMBE, A. Necropolítica. Barcelona: Melusina, 2011. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 145miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 145 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 146 MELO, J. Proposta de teste de vacina contra a COVID-19 na África causa revolta na França. Disponível em: https://outroladodanoticia.com.br/2020/04/11/Proposta de teste de vacina contra a COVID-19 na África causa revolta na França - O outro lado da notícia (outroladodanoticia.com.br) >Acesso em 20 de junho de 2020. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS) E A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL AS SAÚDE (OMS). OMS Declara Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional por Surto de Novo Coronavírus. Disponível em: OPAS/ OMS Brasil - OMS declara emergência de saúde pública de importância internacional por surto de novo coronavírus (paho.org) >Acesso em 16 de maio de 2020. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Visão Geral - Re- latório de Desenvolvimento Humano 2019. Além da renda, além das médias, além do presente: Desigualdades do desenvolvimento humano no século XXI. Nova York: ONU, 2019. Sistema de Información de TendenciaEducativa en America Latina (SITEAL). La Si- tuación Educativa de la Población Indígena y Afrodescendiente en América Lati- na. In CUADERNO nº 14, ISSN 1999-6179 / noviembre, Buenos Aires, Argentina, 2012. Disponível em: http://www.iipe-oei.org/sites/default/files/cuaderno14_20121019.pdf >Acesso em 15 de julho de 2020. SOUZA, C. F. de. Desafios Educacionais: interações entre docência, tecnologias e saberes. In Educação: cultura juvenil, tecnologias e saberes. (Org.) Carla Figueira de Souza ... [et al.]. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Autografia, 2019. p.141-152. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 146miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 146 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 147 ABORDAGEM FAMILIAR: A PRECEPTORIA EM MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE NO CONTEXTO DA PANDEMIA Raphael Lacerda Barbosa Maria do Carmo Lacerda Barbosa Gabriela Cirqueira de Souza Barros Marcia Regina Barbosa INTRODUÇÃO A preceptoria em medicina de família e comunidade é uma tarefa de- safiadora, especialmente no desenvolvimento de atividades integrado- ras (CASTELLS; CAMPOS; ROMANO, 2016). A pandemia da CO- VID-19 aumentou este desafio em virtude da necessidade de medidas sanitárias rigorosas (BRASIL, 2020). Neste contexto, considerando que a presença da preceptoria é con- dição indispensável à manutenção das atividades práticas dos programas de residência na área da saúde, o Conselho Nacional de Saúde (CNS), (2020), recomendou a observância do Parecer Técnico nº 106/2020, que dispõe sobre as orientações ao trabalho e a atuação dos Residentes em Saúde, no âmbito dos serviços de saúde, durante a emergência em saúde pública de importância nacional em decorrência da Doença por Coronavírus-COVID-19. Entre as várias recomendações específicas, o Parecer Técnico nº 106/2020, dispõe que os Residentes em Saúde da Família precisam cons- truir modos de lidar com as circunstâncias cada vez maiores de pessoas miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 147miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 147 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 148 constrangidas ao isolamento social, sob abandono e solidão, em pânico. Dentre todas as questões sociais emergentes nessa hora, o estado de in- certezas e inseguranças requer um novo perfil de presença dos profissio- nais de saúde, na saúde das famílias ou em família (CNS, 2020). Desta forma, o presente trabalho apresenta uma proposta de intervenção, a partir de um estudo de caso, com o objetivo de sugerir e analisar possíveis adaptações para as etapas do processo formativo em Abordagem Familiar. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo, com apresentação de propostas de inter- venções alternativas às estratégias habitualmente utilizadas em Abordagem Familiar nos campos de prática de Medicina de Família e Comunidade, nas seguintes etapas do processo formativo em abordagem familiar. a) Atividades Teóricas; b) Atividades de Práticas Ambulatoriais; c) Atividades de Prática domiciliares; d) Avaliação. A proposta de intervenção teve como base o caso complexo Maria, descrito por Filipak et al (2019), que retrata um exemplo de situação em que a abordagem familiar permite a ampliação do entendimento do con- texto familiar da paciente e a construção de uma rede de apoio. Doenças crônicas, que acabam por necessitar de acompanhamento contínuo, ade- são medicamentosa de longo prazo e mudanças comportamentais, bene- ficiam-se de abordagens que vão além da do atendimento clínico padrão (MOREIRA et al, 2018). RESULTADOS E DISCUSSÃO – DESCRIÇÃO DA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO O Caso Maria, retrata a partir da condição clínica de uma pacien- te, a complexidade das mudanças fisiológicas em pacientes idosos que miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 148miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 148 2021-05-24 16:03:072021-05-24 16:03:07 149 favorecem o desenvolvimento de doenças crônicas, a polifarmácia e as condutas na Atenção Primária à Saúde. Considerando-se a complexidade deste momento, em virtude da pandemia da COVID-19 é indispensável construir estratégias para ob- ter as informações necessárias para fornecer a Atenção Integral ao caso em estudo, sem perder de vista a proposição do conceito de Cuidado. A proposição do conceito de Cuidado emerge no contexto mais tar- dio da reforma sanitária brasileira como movimento reconstrutivo, no qual a humanização deve responder à duas ordens de motivações, simul- taneamente, práticas (éticas, morais e políticas) e instrumentais (cogniti- vas, técnicas, administrativas). Em última instância, o Cuidado promete tornar integral e humanizada a atenção à saúde por movimentos que não objetivam cuidar somente do biológico (doenças, órgãos afetados, funções alteradas, ações limitadas) (AYRES, 2009). Uma das estratégias que foi proposta como ferramenta foi uma ade- quação no processo de confecção de um Genograma e Círculo Familiar (MINIZL; EISENSTEIN, 2009; MOREIRA et al, 2018). Assim, na impossibilidade de contato com os familiares, as informações devem ser colhidas e o genograma construído em conjunto com a paciente para, através deste, identificar elementos de apoio dentro da rede familiar e conhecer o papel e a influência de cada membro no processo saúde- -doença de Maria, tendo como referência as competências escolhidas pela preceptoria e residente em questão. O genograma é uma ferramenta de grande importância e impacto, capaz de trazer múltiplas informações e ser terapêutico em si. A cons- trução do genograma com a paciente Maria poderá permitir, tanto para a equipe quanto para ela, identificar seus familiares, a relação entre eles, revisitar suas histórias de vida e identificar indivíduos que porventura apresentem quadros de saúde semelhantes ao seu (KRUGER; WER- LANG, 2008). No caso em estudo, da paciente Maria, ter familiares com patologias como hipertensão arterial sistêmica (HAS), permite discutir sobre sua miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 149miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 149 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 150 experiência como familiar dessas pessoas, suas impressões, críticas, co- nhecimento acerca dos cuidados e evolução da doença, como também usar como ponte para discutir os seus cuidados e a sua experiência, sem contudo, necessitar da presença dos familiares, o que não seria possível nesta situação de pandemia da COVID-19. Ademais, usando as informações do genograma também é possível agregar dados sobre quem é sua rede de apoio e como seus familiares impactam e influenciam em suas condições de saúde atual (WENDT; CREPALDI, 2008). O instrumento Círculo Familiar então entra como mais um recurso na abordagem familiar. Enquanto o Genograma é útil para identificar as relações e ligações dentro do sistema multigeracional da família, o Círculo Familiar e o Ecomapa servem para reconhecer re- lações e ligações entre os familiares e da família com outras pessoas ou com instituições do meio onde habitam (MS, 2013). Apesar de se desenhar linhas de relações entre as pessoas no genogra- ma, o círculo familiar é uma ferramenta onde a pessoa livremente dese- nha e identifica familiares seus, tendo a distância do centro, que repre- senta a pessoa em si, significado de proximidade e distância nas relações. As pessoas desenhadas mais próximas do centro representam então os indivíduos de fato mais presentes na vida de Maria e com quem ela e a equipe podem acionar como rede de apoio. Se Maria adoece, para quem ela pode ligar para pedir ajuda? Assim essas perguntas vão se responden- do mais facilmente. Além disso, o instrumento permite identificar pes- soas mais afastadas que com algumas intervenções podem ser agregadas nesta rede de apoio (MOREIRA et al, 2018). Vale ressaltar que na Atenção Domiciliar (AD) habitualmente a equi- pe se depara com situações em que não basta apenas compreender os mecanismos fisiopatológicos das doenças e fazer uma abordagem tecni- cista para encontrara solução de um problema e orientar quanto ao cui- dado necessário. É preciso utilizar ferramentas que possibilitem o enten- dimento sobre as famílias e facilitem a compreensão de alguns agravos a saúde que muitas vezes são percebidos como não colaboração, descaso miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 150miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 150 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 151 ou incapacidade. Cuidar do indivíduo é sem dúvida acolher sua família, respeitando-a, bem como a seus valores e crenças (MS, 2013). Desta forma, para atender às medidas sanitárias de segurança contra a COVID-19, de acordo com o disposto no Parecer Técnico nº 106/2020 (CNS, 2020), foram propostas diversas adequações para serem utiliza- das pelos preceptores como estratégias de ensino para os residentes de medicina de família e comunidade na condução do Cuidado em Abor- dagem Familiar com casos complexos, à semelhança do Caso Maria. Contudo, antes de descrevermos as propostas de adequações, apre- sentamos, de forma didática, as etapas do ensino na abordagem domi- ciliar (MOREIRA et al, 2018; CASTELLS; CAMPOS; ROMANO, 2016, MINIZL; EISENSTEIN, 2009;): 1. Momento Teórico (envolvendo os demais residentes e preceptoria): O (A) residente responsável pela paciente apresenta o seminário sobre as ferra- mentas Genograma e Círculo Familiar e o caso clínico. Deve ser interativo, com uma apresentação breve e concluir fazendo a exposição de suas ideias sobre como as ferramentas podem beneficiar o caso em questão. Esta es- tratégia de ensino estimula o (a) residente a estudar sobre as ferramentas e associar o conhecimento teórico a uma situação prática, construindo suas próprias propostas de intervenção. E, envolvendo os demais residentes e a preceptoria, cria-se um espaço para discussão, retirada de dúvidas e com- partilhamento de experiências. 2. Momento Prático Ambulatorial – Observação Direta (preceptoria da re- sidente): Em um segundo momento, o (a) residente em um atendimento ambulatorial constrói e inicia o genograma da paciente Maria, sob observa- ção direta da preceptoria. Ao final, é realizado um feedback da preceptoria para a residente. Neste espaço, o (a) residente pode compartilhar suas di- ficuldades e potencialidades na realização do genograma, suas impressões sobre o mesmo e o que mudou em sua percepção do caso com as novas informações. A preceptoria com a observação direta consegue ter suas miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 151miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 151 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 152 impressões sobre o (a) residente em relação a esta competência. Pode ser utilizado um instrumento como Mini-cex nesta etapa (NAIR et al., 2008). 3. Momento Prático Domiciliar – Observação Direta (residente e precepto- ria): Considerando que o (a) residente possui pouca experiência com aten- dimento domiciliar, este (a) observa o preceptor durante um atendimento domiciliar, envolvendo-se no processo, como organização prévia da visita, definição do objetivo da visita (por exemplo, organização da terapêutica farmacológica), coleta de informações com a presença do agente comuni- tário de saúde e outros profissionais, as etapas da visita em si, e o pós visita, quando deverá ser traçado e reorganizado o plano terapêutico singular. O momento prático da Assistência Domiciliar é o momento no qual precisa-se utilizar de maneira apropriada os recursos e as ferramentas que permitam estabelecer o plano terapêutico singular sem o envolvimento dos familiares e de pessoas próximas ao convívio da paciente (MS, 2013). Assim sugere-se que durante a visita, seja reservado um momento para que o (a) residente construa a ferramenta círculo familiar, de forma isolada, com a paciente. Com estes dados, pode-se identificar um fami- liar mais próximo que auxiliará nos cuidados da paciente Maria, ajudan- do-a inclusive com a organização dos medicamentos. Tendo em vista que na etapa posterior a esta visita será realizado um novo momento de deliberação sobre esta paciente e sua família, a abordagem fa- miliar, com a construção dos instrumentos, fornecerá uma gama nova e rica de informações para o planejamento e realização de intervenções. Como método de avaliação do(a) residente, tendo em mente a com- plexidade desta competência, o residente realiza a sua autoavaliação, após feedback da preceptoria sobre a abordagem familiar, seguindo critérios pré-estabelecidos, com as opções de satisfatório – regular – insatisfató- rio: Construção das Ferramenta Genograma; Construção da Ferramenta Círculo Familiar; Identificação da Rede de Apoio; Uso da Abordagem Familiar para Construção de Estratégias de Intervenção. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 152miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 152 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 153 A partir da autoavaliação, novas propostas de estratégias de ensino podem ser programadas para seguimento da abordagem familiar dentro do Programa de Residência. Conhecendo então, as estratégias habituais da Abordagem Familiar, trataremos das possíveis adequações que a preceptoria da Residência de Medicina de Família e Comunidade poderia realizar. Com a pandemia COVID-19, há necessidade de algumas modifica- ções para segurança dos residentes, da equipe e da comunidade. Neste período, fatores psicossociais como ansiedade, estresse, perda de renda familiar, isolamento e/ou conflitos familiares acentuam-se e tem impac- to direto nas doenças crônicas como hipertensão e diabetes mellitus. Neste cenário, a abordagem familiar pode ser adaptada: 1. O momento teórico pode ser realizado através de plataformas de video- conferências, com presença dos outros residentes e da preceptoria. Dentro das limitações dos seminários virtuais, a aula programada pelo residente responsável pode ocorrer sem problemas. 2. Para o momento prático ambulatorial, os instrumentos podem ser construí- dos por ligação telefônica ou, se disponível, videoconferência. Dessa forma, parte da vivência de realização do genograma pode ocorrer e ter as informa- ções coletadas. Um segundo cenário seria aproveitar um momento de consul- ta-dia, por uma questão aguda, para colocar em prática esta programação. Um terceiro cenário seria programar uma consulta ambulatorial, tomando as pre- cauções de contato, já que se trata de uma paciente com HAS não controlada e que há riscos de se prolongar um período sem avaliações de saúde. 3. O momento prático domiciliar, dos três, seria algo a se evitar. Maria não corresponde a uma paciente com necessidades estritas de visita domiciliar, sendo de risco para a equipe e para Maria, um atendimento domiciliar. Mas isto não é algo imutável, pois a depender da situação de isolamen- to, das dificuldades de utilização de tecnologias de comunicação, pode ser miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 153miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 153 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 154 programado uma visita domiciliar. Neste caso, os momentos ambulatoriais e domiciliares seriam combinados criteriosamente para que não houvesse contatos desnecessários. 4. A avaliação não precisaria ser modificada, respeitando as medidas de pro- teção individual entre a (o) residente e a preceptoria. As medidas de prevenção adotadas devem seguir as recomendadas por órgãos governamentais em vigência da Pandemia COVID-19, atendendo também as especificidades dos trabalhadores da saúde (FILHO et al, 2020). Isto significa não aglomeração de residentes para as atividades de ensino, que estão ocorrendo preferencialmente por meio virtual; fluxos separados de atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) para pacientes com e sem sintomas respiratórios; uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados ao tipo de atendimento, como uso de máscaras, e lavagem adequada das mãos e instrumentos utilizados para atendimento. CONSIDERAÇÕES FINAIS Planejaratividades de ensino é sempre uma tarefa desafiadora, em es- pecial as atividades integradoras durante o período de pandemia CO- VID-19, sendo indispensável uma dose extra de criatividade e cuidado. A Abordagem Familiar deve ser intensamente treinada pelos Resi- dentes de Medicina de Família e Comunidade para permitir o desenvol- vimento desta competência. A experiência no exercício desta especiali- dade médica tem mostrado que as ferramentas de abordagem familiar, como genograma e círculo familiar, são essenciais para o atendimento de casos complexos como “caso Maria”. São instrumentos considerados estáticos, uma fotografia daquele momento, mas que possuem muitos elementos dinâmicos em sua construção e abrem outras possibilidades de exteriorizar informações que na maioria das vezes não seriam identi- ficadas em um atendimento clínico tecnicista. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 154miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 154 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 155 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AYRE, J. R. D. C. M. O Cuidado e o Espaço Público da Saúde: virtude, vontade e reconhecimento na construção política da integralidade. In: PINHEIRO, R.; SIL- VA JUNIOR, A. G. (org.). Cidadania do Cuidado: o universal e o comum na integra- lidade das ações de saúde. 1. ed. Rio de Janeiro: CEPESC - IMS/UERJ ABRASCO, 2011. p. 27–44. BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório de Cobertura da Atenção Básica. Brasí- lia, DF: Ministério da Saúde, 2020. Disponível em: https://egestorab.saude.gov.br/ paginas/acessoPublico/relatorios/relHistoricoCoberturaAB.xhtml. Acesso em: 21 abr. 2020. CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Recomendação nº 018, de 26 de março de 2020. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 26 mar. 2020. Disponível em: http:// conselho.saude.gov.br/recomendacoes-cns/1086-recomendacao-n-018-de-26-de-mar- co-de-2020. Acesso em: 07 set. 2020. CASTELLS, M. A.; CAMPOS, C. E. A.; ROMANO, V. F. Residência em Me- dicina de Família e Comunidade: atividades da preceptoria. Revista Bra- sileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v.40, n. 3, p. 461-469, set. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pi- d=S0100-55022016000300461&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 07 set. 2020. FILHO, J. M. J. et al. A Saúde do Trabalhador e o Enfrentamento da CO- VID-19. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 45, abr. 2020. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0303-76572020000100100&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 07 set. 2020. FILIPAK, A. et al. Caso Maria. Acervo de Recursos Educacionais em Saúde. Por- to Alegre: UNA-SUS/UFCSPA, preceptoria, 2019. Módulo EAD. Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/11447/1/Caso_12_MARIA_VALEN- DO_novo.pdf. Acesso em: 7 set. 2020. KRUGER, L. L.; WERLANG, B. S. G. O Genograma como Recurso no Espaço Conversacional Terapêutico. Avaliação Psicológica, Porto Alegre, v. 7, n. 3, p. 415- 426, dez. 2008. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo. php?script=sci_ art- text&pid=S1677-04712008000300013&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 07 set. 2020. MINIZL, J. R.; EISENSTEIN, E. Genograma: informações sobre família na (in) formação médica. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 33, n. 1, p. 72-79, mar. 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/ pdf/rbem/ v33n1/10.pdf. Acesso em: 07 set. 2020. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 155miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 155 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 156 MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE, DEPAR- TAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA. Caderno de Atenção Domiciliar. Melhor em casa: a segurança do hospital no conforto do seu lar Brasília: Ministério da Saúde, v.2, 2013. Disponível: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ caderno_atencao_ domiciliar_melhor_casa.pdf. Acesso em: 07 set. 2020. MOREIRA, L. T. et al. Abordagem Familiar: quando, como e porquê? Um caso prático. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Lisboa, v. 34, n. 4, p. 229-236, ago. 2018. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/rpmgf/v34n4/ v34n4a07.pdf. Acesso em: 07 set. 2020. NAIR, N. B. et al. O mini exercício de avaliação clínica (mini-CEX) para avaliar o desempenho clínico de graduados médicos internacionais. The Medical Journal of Australia, Austrália, v. 189, e. 3, p. 159–161, 2008. Disponível em: https://on- linelibrary.wiley.com/doi/full/10.5694/j.1326-5377.2008.tb01951.x. Acesso em: 07 set. 2020. WENDT, N. C.; CREPALDI, M. A. A Utilização do Genograma como Instru- mento de Coleta de Dados na Pesquisa Qualitativa. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 21, n. 2, p. 302-310, 2008. Disponível https://www.scielo.br/ scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722008000200016. Acesso em: 07 set. 2020. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 156miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 156 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 157 FORMAÇÃO CONTINUADA E O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL: IMPOSIÇÕES E POSSIBILIDADES DE “TRANS-FORMAÇÕES” Maria do Carmo Alves da Cruz Maria do Socorro Estrela Paixão INTRODUÇÃO Na emergente crise sanitária mundial, a obrigação de distanciamento social como prevenção e diminuição dos efeitos da pandemia da CO- VID-19 despontou a importância do acesso à internet e da disposição de computadores, tablets e outros equipamentos nas instituições educa- cionais, por professores e estudantes. No mesmo cenário, índices de con- tágio oscilam, perdas de vidas humanas são desbotadas em quantitativos oficiais, carecendo de um grupo de voluntários espalhados por todo o País para transformar números em nomes por meio do Memorial Inumerá- veis. Paralelo a tudo isso, algumas palavras tomaram conta contextos de ensino e de aprendizagem e, sem sombra de dúvidas, invadiram domicí- lios. Conceitos como ensino remoto, ensino híbrido, google meet, google classroom, lives, plataformas digitais, link da reunião, atividades síncronas, assíncronas entre outras, passaram a ser musicalizados e relacionados em conversas, reuniões de professores e de alunos, demandando atenção para a formação continuada, dada a urgência destes profissionais, os professo- res, em se apropriarem dessa cultura virtual na essência e na prática. Desse modo, com as novas propostas de ensinar e de aprender, novo for- mato de trabalho surge e logo é imposto a quem ensina e a quem aprende. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 157miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 157 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 158 Com esse formato aparece a necessidade de formação continuada como um processo contínuo de “trans-formação”, no sentido de transformar formando, voltada cada vez mais para processos dialógicos e colaborativos (PAIXÃO, 2019), situação que requer o estabelecimento de parcerias entre professores e alunos. Nessa acepção, se faz necessário recorrer ao centro das discussões pedagógicas atuais – o Ensino Remoto Emergencial/ERE. É pertinente lembrar que as instituições educacionais públicas e pri- vadas, desde a educação básica à pós-graduação, passaram a exigir habili- dades até então desconhecidas por muitos profissionais. Consideradas as dimensões do Brasil, as realidades escolares, escolas quilombolas, indíge- nas, de assentamento, de educação do campo, de periferias, dos grandes e dos pequenos centros urbanos, as comunidades ribeirinhas e de praia, entre outras, entendemos que a legislação, as leis complementares e toda a estrutura discursiva e executiva não conseguem efetivar as políticas de acesso e, consequentemente, oportunizar as diversas experiências que a cultura digital proporciona e demanda. Diante dos fatos constatados e de imensuráveis incertezas sobre os novos modelos de formação que se apresentam instantaneamente, colo- camo-nos na tentativa de responder como a formação continuada ofer- tada remotamente tem contribuído nas transformações para o exercício da docência. A partir dessemergulho, objetivamos discutir as experiên- cias vivenciadas durante este período como discente do doutorado em Educação em Ciências e Matemática, da Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática-REAMEC, e também como docente do cur- so de Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão - UFMA, cam- pus Dom Delgado, na cidade de São Luís. Nesse sentido, no intuito de responder o questionamento, utilizamos como método a Investigação da Própria Prática-IPP, ancorada em Ponte (2002, p. 2), que esclarece: “[...] a investigação sobre a sua prática é, por consequência, um processo fundamental de construção do conhecimento sobre essa mesma prática e, portanto, uma atividade de grande valor para o desenvolvimento pro- fissional dos professores que nela se envolvem ativamente”. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 158miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 158 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 159 O pensamento de Ponte (2002) e Lima e Nacarato (2009) justificam a pesquisa da própria prática com três apontamentos: permite ao do- cente apropriar-se como protagonista do desenvolvimento curricular e profissional; fortalece o desenvolvimento profissional, atua como trans- formador da cultura escolar e evidencia elementos que promovem maior compreensão dos problemas educacionais e da cultura profissional. Pela compreensão que essa investigação envolve a Educação a Dis- tância/ EAD, o Ensino Remoto Emergencial /ERE e a formação con- tinuada docente, defendemos ser oportuno apontar as imposições e as possibilidades de transformações decorrentes das demandas postas por este contexto de pandemia do novo coronavírus e que tem impacto di- reto no processo de ensinar e de aprender. EAD, ERE E A FORMAÇÃO CONTINUADA DOCENTE: IMPOSI- ÇÕES E POSSIBILIDADES DE TRANSFORMAÇÕES Segundo Moran (2002), a Educação a Distância (EaD) é uma modali- dade de ensino e aprendizagem em que professores e alunos não estão juntos fisicamente, mas podem estar conectados por tecnologias. Nesse contexto, ressaltamos que esta modalidade de ensino no Brasil data pos- sivelmente do século XIX. Alves (2001) sinaliza que em 1891 os jornais já faziam anúncios de ensino por correspondência; em 1904 foram ins- taladas as denominadas escolas internacionais, instituições privadas que ofereciam cursos por tal modalidade. No entanto, Santos (2008) explica que o marco do uso da EaD no país aconteceu em 1936, com a radiodifusão com fins educativos, di- fundida pelo professor, médico, escritor e antropólogo Edgard Roquete Pinto, a chamada rádio Rádio-Escola. Em 1939 fundaram o Instituto Monitor, que oferecia cursos técnico-profissionais por correspondência, considerados os mais antigos e conhecidos cursos à distância no país. Sa- lienta que a EaD possibilitou um aumento considerável nas matrículas na educação básica, por meio dos vários programas de educação básica miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 159miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 159 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 160 em rede, pela possibilidade de ser dinamizada e chegar a seus destinatá- rios pelo correio, rádio, televisão, vídeos e, contemporaneamente, em tempo real por meio de telefones celulares e diversas tecnologias digitais incorporadas e presentes no cotidiano. Nas atuais circunstâncias, estas tecnologias digitais são aliadas para a implantação e implementação do ERE. Embora as duas palavras te- nham o mesmo radical, a primeira está relacionada ao ato de iniciar o processo e a segunda de colocá-lo em prática. Assim, aproveitamos para reiterar que o termo “remoto” significa que professores e alunos não es- tão em contato físico, que as aulas são transmitidas em tempo real e as interações são realizadas de maneira simultânea, cujos horários são os mesmos da disciplina presencial. Dado esse contexto, de maneira emer- gencial, da noite para o dia, o planejamento pedagógico do ano letivo de 2020 teve que ser reorganizado (BEHAR, 2020). Para o planejamento e o exercício da docência no ERE, a formação continuada é condição sine qua non, por este ensino se constituir como espaço planejado para provocar novas aprendizagens e transformações na prática docente. Assim, a formação continuada docente foi trazida também de maneira emergencial. Isto porque a adoção do ensino remo- to emergencial pelas instituições de ensino superior, durante a pandemia da COVID-19, expôs fragilidades e dificuldades para fazer uso dos apa- ratos tecnológicos e em rede, bem como em administrar os novos ce- nários oriundos de uma cultura digital de nativos e imigrantes digitais, práticas que têm sido discutidas em diversas áreas de conhecimento, não restritas à Educação. Nesse contexto simbólico e prático, reconhecemos nas reclamações de todas as ordens que ouvimos as dificuldades de adaptação de docen- tes e alunos para ministrarem e assistirem aulas. As reclamações estão vinculadas ao uso internet, de aplicativos, utilização dos espaços das re- des sociais. Quanto às dificuldades, exemplificamos a falta de acesso à internet, de local adequado para estudos em casa, a ausência de retorno por parte de docentes. Tais dificuldades vão desde as de comunicação ao miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 160miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 160 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 161 de planejamento, são corriqueiras e parecem fazer parte desse novo nor- mal, em que o professor se percebe envolvido da noite para o dia. É importante destacar que formação é uma palavra com duplo sig- nificado: é experiência pessoal, única e intransferível de aprendizagem, mas pode ser entendida como uma ação planejada para suprir necessida- des de experiências (SOLIGO, 2015). Nesta significação, nos dois cená- rios temos um elevado nível de complexidade para os envolvidos atual- mente, seja para apender a operacionalizar as tecnologias digitais, seja para ressignificar suas práticas remotamente, pela imposição e/ou pela necessidade de transformações. De acordo com Aulete (2005), imposi- ção é uma obrigação, determinação, estipulação, sobreposição. Obser- vamos que foi isto que a formação continuada sofreu com a chegada da pandemia da COVID-19. Isto porque foi exigido dos docentes saberes não elaborados que, por via de regra, não fazem parte do seu repertório formativo. De igual modo, na urgência em se reinventar, para dinami- zar os processos pedagógicos e não deixar de atender as exigências, estes convivem com uma sobrecarga de trabalho, ao mesmo tempo em que tentam se proteger de diferentes contaminações profissionais provenien- tes da pedagogia do vírus. Além deste aspecto, concordamos com Nóvoa (2001, p. 25) que: A formação não se constrói por acumulação de cursos, de conhecimentos ou técnicas ou técnicas, mas sim através de um trabalho de reflexibilidade crítica sobre as práticas e de re-construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir na pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência Na esteira do pensamento do autor português, sem o saber da expe- riência, os professores receberam e continuam recebendo uma overdose de cursos on-line e demonstrações de técnicas ministradas em lives, por meio de plataformas digitais ou grupos de Whats App, orientações de como ensinar remotamente, sem tempo para críticas, reflexões, debates, miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 161miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 161 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 162 ou alguma coisa parecida. Aqui o saber da experiência encontra alguns contratempos porque, de forma simultânea às orientações de como en- sinar remotamente, vem a responsabilidade deste profissional pela ro- teirização, gravação, edição e pela postagem de vídeos nas diversas pla- taformas digitais, alinhada com o pleno domínio das suas abas, de suas infinitas possibilidades de comunicação com os alunos. As consequên- cias são poucas análises, nenhumareflexão, sem críticas propositivas e muita frustração por não exercer com maestria a sua profissão. Aos pro- fessores a única certeza é que as atividades precisavam e devem ser reto- madas urgentemente e com as possibilidades existentes. Quanto à oferta de cursos de formação docente, em alguns casos, a impressão de que nem mesmo as ministrantes têm segurança das pro- posições realizadas, por ser algo desconhecido, inimaginável até o iní- cio do ano, tanto para aprendentes como para ensinantes. Neste sen- tido, cabe enfatizar as funções das instituições educacionais na oferta do conhecimento científico, que o sociólogo britânico Michael Young (1915-2002) define como poderoso. Para esse autor, é um conceito que abarca o conhecimento realmente especializado, fornecendo explicações confiáveis ou novas formas de se pensar o mundo. Acredita que quando “[...] os pais fazem sacrifícios para manterem os filhos na escola: que eles possam adquirir o conhecimento poderoso que não está disponível em casa” (2007, p. 1294), máxima que se estende à formação continuada docente se o desejo for o exercício da docência com qualidade social. A partir dessa caracterização de contextos e exigências sem histórico, a docência provoca constantes mudanças e adaptações, e o ensino remo- to emergencial é uma dessas, além de alternativa para a continuação das atividades educativas. Entretanto, não podemos negligenciar que, em determinados momentos, a aprendizagem foi e é prejudicada por diver- sas questões. Destacamos, dentre elas, o tempo excessivo na frente do computador, sinalizando problemas oftalmológicos; a dispersão durante o desenvolvimento das aulas, pelo fato de estarem em casa com toda a sua dinâmica “não escolar”, com as demandas cotidianas. Destacamos miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 162miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 162 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 163 ainda que, em alguns casos, muitos docentes ministram suas aulas admi- nistrando os afazeres domésticos. Paralelamente a esse cenário desafiador, exigindo disciplina e maior concentração nos processos de ensino e aprendizagem, alguns bene- fícios foram possíveis para o espaço em análise, como, por exemplo, participar de eventos acontecendo transnacionalmente, cujos pesqui- sadores são referências nas áreas de pesquisa e estudo; participação em bancas de defesas de trabalhos de pesquisa, dissertações e teses; participação em reuniões de grupos de pesquisas em outros estados; cursar disciplinas nos Programa de Pós-graduação em todo o território e até internacionalmente, cujos participantes são oriundos de diversas realidades, lugares e vivências. Tal movimento evidenciou alternativas para alguns problemas de ordem financeira, recorrentes no contexto da pesquisa no Brasil, sobretudo na pós-graduação. Contudo, não po- demos negar que há um processo de exclusão, especialmente, dos mais pobres, das pessoas com deficiência e outras. Cada grupo de excluídos, na era remota, historicamente, os são no ensino presencial. No caso da Universidade Federal do Maranhão, embora tenha subsidiado acesso às tecnologias por meio da compra de tablets com chips, nem todos os alunos foram contemplados, lógica que ratifica a negação à universali- zação do acesso à educação. Portanto, entendendo experiência a partir do conceito de Bon- día (2002, p. 26), como “[...] aquilo que nos passa, que nos toca, que nos acontece, e, consequentemente, forma e transforma”, cabe exclusivamente ao sujeito da experiência estar aberto à sua própria transformação. Neste contexto pandêmico, a experiência em partici- par de formações continuadas, ora como docente, ora como aluna de doutorado, tem uma complexidade de significados, perpassados por angústias, desafios, contradições e exclusões e deslumbramento com tantas aprendizagens e possibilidades, ainda que desafiadoras e que requerem reinvenção profissional e pessoal, como agentes em contí- nua construção. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 163miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 163 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 164 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar dos esforços, algumas lacunas ficam no percurso. Isto porque a for- mação continuada, sobretudo a destinada aos docentes da educação supe- rior, não é uma temática presente como política institucional. Reiteramos que não estamos incluindo os mestrados e doutorados, e sim da ausência de política de formação continuada para lidar com as adversidades cotidia- nas, com foco em nosso curso de licenciatura em Pedagogia. É pertinente indagar qual a nossa participação na formação conti- nuada das redes públicas de ensino. Há uma parceria com municípios, Estado e/ou de instituições parceiras? As indagações permitem um re- torno à inicial eleita para a discussão, de como a formação continua- da ofertada remotamente tem contribuído nas transformações para o exercício da docência. Afirmamos que o modo e o modelo disponível e de fácil acesso nos remete a muitos desafios, mas também nos induz questionar sobre as incertezas e sobre os conflitos da docência. Que não importa os anos de experiências, sempre haverá necessidade de ressigni- ficação a partir das leituras e dos debates nas aulas, que é preciso dialo- gar com os pares, encontrar alternativas individuais e coletivas. Retomando a tese de Paulo Freire sobre ninguém estará totalmen- te pronto, adaptamo-na com a afirmação de que nenhum docente está pronto, ele carrega consigo um devir, mudanças constantes que são um contínuo de si e dos externos a si, porém os encontros e desencontros com as diferentes vertentes teórico-metodológicas podem conduzir as práticas para caminhos diversos. Para o desenvolvimento de uma pos- tura epistemológica que apresenta atividades desafiadoras, que agucem a curiosidade e a vontade de buscar o novo, se impõe como condição a apropriação de conceitos, se despir de preconceitos e julgamentos sobre a EaD, e se alinhar com planejamentos favoráveis a uma práxis situada. Mergulhar em novas experiências a partir da experimentação, da utili- zação da imaginação criativa e da polissemia didático-pedagógica é uma possibilidade para novas construções e para sair da zona de conforto que em alguns casos, aprisiona ou poda. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 164miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 164 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 165 Por fim, a escrita de si é uma tentativa de instigar a tomada de consciên- cia de que cada profissional é único e age conforme suas crenças, valores e valorações, todas fundamentadas em experiências de ordem teórico-me- todológicas e práticas. Esta escrita deste ensaio é apenas um filete de uma realidade lida com lentes que carecem de um pouco mais de tempo para precisar sobre o ensino remoto emergencial, no contexto da pandemia da COVID-19, de crise que requer de todos “trans-formações” para o ontem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, L. Educação a Distância: conceitos e história no Brasil e no mundo. Revis- ta Brasileira de Aprendizagem Aberta e A Distância, São Paulo, v. 10, n. 01, p.83-92, 01 jan. 2011. Anual. Disponível em:<http://www.abed.org.br/revistacientifica/Revis- ta_PDF_Doc/2011/Artigo_07.pdf>. Acesso em: 07 set. 2020. BONDÍA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Tradução: João Wanderley Geraldi. Revista Brasileira de Educação, n. 19, p. 20-28, abr. 2002. Dispo- nível em: < https://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/>. Acesso em: 10 agosto. 2020. BEHAR, P, A. O Ensino Remoto Emergencial e a Educação a Distância. Jornal da Universidade, Curitiba-PR, 6 de julho de 2020. Disponível em https://www.ufrgs. br/coronavirus/base/artigo-o-ensino-remoto-emergencial-e-a-educacao-a-distancia/ . Acesso em: 07 de set.2020. LIMA, C. N. M. F. L; NACARATO, A. M. A investigação da própria prática: mobi- lização e apropriação de saberes profissionais em Matemática. Educação em Revista, Belo Horizonte, v.25,n. 2, p.241-266, ago. 2009. Disponível em: <http://www.scielo. br/scielo.php?script=sc i_arttext&pid=S0102=46982009000200011-&lng=en&nrm- iso>. Acesso em: 20 agost. 2020. MORAN, J. M. “O que é educação a distância. 2002.” Disponível em: <http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/dist. pdf>. Acesso em: 12 agosto. 2020. PAIXÃO, M. do S. E. Formação Colaborativa no Cotidiano do Estágio In Cotidia- nos Educacionais: fazeres, imagens e formação docente.Org. SOUZA, Carla Figueira de... [et al]. Rio de Janeiro: Autografia, 2019. PONTE, J. P. Investigar a Nossa Prática. In: GTI – Grupo de Trabalho e Investiga- ção (Org). Reflectir e investigar sobre a prática profissional. Portugal: Associação de professores de Matemática, 2002. p. 5-55. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 165miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 165 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 166 SANTOS, C. de A. A expansão da educação superior rumo à expansão do capital: interfaces com a educação a distância no Brasil, 2008. Tese (Doutorado) – Facul- dade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). São Paulo. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-25092009-163728/pt-br. php. Acesso em: 10 agosto. 2020. SOLIGO, R. Metodologias Dialógicas de Formação. Gepec. Unicamp. julho/2015. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 166miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 166 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 167 FAMÍLIA MULTIFACETADA: DESAFIOS DA EDUCAÇÃO REMOTA EM TEMPOS DE PANDEMIA Aurea da Silva Pereira Anny Karine Matias N. Machado Karla Santos Simões Bastos Macedo CONSIDERAÇÕES INICIAIS A pandemia ocasionada pela COVID-19 ordena mudanças sociais e educacionais nos modos de ensinar e aprender que precisavam aconte- cer para atender as novas configurações impostas pelo fenômeno viral. Essa nova configuração exigiu das instituições educacionais e públicas a reorganização de suas atividades, bem como pensar em outras atitudes para repensar possibilidades de atividades pedagógicas para estarem sen- do ofertadas ao seu público. Sabe-se, portanto, que estamos vivendo muitos desafios neste tempo de pandemia no mundo, fomos informados através das mídias e meios de comunicação que o mundo precisava paralisar suas atividades por causa de um vírus altamente contagioso e razoavelmente letal. A presen- ça desse vírus invisível em todos os espaços sociais provoca uma trans- formação imaginável na sociedade e nos modos de vida das pessoas. O medo da morte, o desamparo social e o descaso com a saúde pú- blica geram insegurança nas pessoas. O isolamento social se constitui em uma das estratégias utilizadas para prevenção do contágio com a COVID-19. Muitos espaços comerciais, culturais, sociais, políticos e educacionais fecharam suas portas por um determinado período até miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 167miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 167 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 168 que o governo liberasse a abertura de grande parte dos espaços públi- cos e privados. Porém as universidades e escolas públicas e privadas, considerados como espaços de aglomerações e alto contágio, conti- nuam fechadas. O presente texto pretende discutir os desafios enfrentados por crian- ças e pais no processo de aprendizagem de ensino remoto em tempos de pandemia. A pesquisa pauta-se na abordagem qualitativa, com ênfase em entrevistas episódicas de duas famílias (envolvendo os responsáveis, os pais e as crianças). Os dados revelam os desafios que os pais, respon- sáveis pelas crianças e as crianças estão enfrentando no cotidiano das aulas online com a mediação dos professores. PANDEMIA E ENSINO REMOTO Percebemos que de todas as preocupações experienciadas por nós nes- se momento de pandemia, um dos espaços mais afetados foi o espa- ço escolar, acadêmico. Esses espaços de aprendizagem e produção do conhecimento sofreram muitas mudanças e com isso as professoras e os professores, famílias e responsáveis pelas crianças, adolescentes e jovens precisaram aprender a lidar com as ferramentas digitais, além das mudanças de hábitos. Mudaram drasticamente a rotina diária para conseguirem conciliar estudo, trabalho e atividades domésticas. Mas o que virá na pós-pandemia é um dos nossos questionamentos. Uma das preocupações de Agamben (2020, p.13) é “O que é uma sociedade que não tem outro valor que não seja a sobrevivência?”. Para o autor, a úni- ca coisa que interessa aos governantes é a sobrevivência do povo. Não há nenhum tipo de estranhamento de nossa parte quando nos depara- mos com o discurso de grande parte dos nossos estudantes da educação básica que tem medo de ir à escola, outros tiveram que trabalhar para contribuir com o orçamento da família, pois muitas famílias foram afe- tadas com o desemprego. Esse é o quadro do ensino público de grande parte do estado da Bahia e do País. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 168miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 168 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 169 Não sabemos ainda que as famílias e os estudantes oriundos de clas- ses menos favorecidas pensam sobre o ensino remoto nas escolas públi- cas. A sensação que temos é que o estudante de escola pública pudesse esperar mais um pouco para retomar as atividades e os estudantes dos espaços privados tivessem a necessidade de retomar tão logo ao ensino remoto, porque há uma prestação de conta e serviços para aqueles que pagam escolas e faculdades privadas. Assim sendo, observamos que as instituições educacionais de ensino privado buscaram meios de resolver as questões das aulas online e ensino remoto, mas não houve uma formação e negociação de como o ensino online aconteceria. É sabido que muitos professores e as professoras ti- veram uma formação básica com o suporte técnico. Os/as estudantes, famílias e acompanhantes das crianças precisaram aprender na prática como mediar as aulas online. Vivemos tempos de exceção. A disseminação do coronavírus – COVID-19 em níveis globais promoveu mudanças inesperadas nas relações sociais. Segundo Souza Santos (2020), o vírus desvela po- tencialidades que envolvem a normalidade da exceção, enquanto cri- se social permanente; a elasticidade do social, demonstrando a per- manência da mudança e necessidade de reflexão em torno de nossos modos de vida e consumo e uma sociologia das ausências desvelando a transparência da desigualdade social, em que os grupos mais atingi- dos pela pandemia pertencem já ao quadro daqueles com maior vul- nerabilidade social. Neste ínterim, o isolamento necessário ao com- bate ao vírus, para não colapsar o sistema de saúde, obrigou as escolas a pararem suas atividades e assim a educação foi uma das áreas que mais sofreu impacto. A pandemia exige uma reinvenção da educação e da escola de modo a promover uma adequação emergencial das atividades ao ensino re- moto. Os documentos oficiais que orientam as propostas de atividades remotas e adequação do calendário tardaram em chegar. O Conselho Nacional de Educação – CNE publicou o Parecer n°9/2020, favorável miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 169miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 169 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 170 apenas em 28 de abril do 2020, cuja homologação pelo Ministério da Educação ocorreu em despacho no dia 29 de maio de 2020. O parecer orienta a reorganização dos calendários escolares pelas re- des, contudo não questiona as condições de acesso e qualidade das ações e atividades envolvidas. As possibilidades de adequação do calendário abarcam a reposição de carga horaria presencial após pandemia; a rea- lização de atividades pedagógicas não presenciais mediadas por tecno- logias e a ampliação da carga horaria por meio de atividades pedagógi- cas não presencias concomitantes após o retorno. Segundo o parecer, as atividades remotas objetivam que se evite retrocesso de aprendizagem,perda de vínculo com a escola, práticas ligadas ao abandono e evasão. No âmbito do ensino fundamental anos iniciais, as orientações reco- nhecem as dificuldades de acompanhamento das atividades on-line pelas crianças dessa faixa etária da alfabetização, incitando a necessidade de acompanhamento e supervisão. Define que nesta etapa: [...] as atividades devem ser mais estruturadas, para que se atinja a aquisição das habilidades básicas do ciclo de alfabetização. Sugere-se, no período de emergência, que as redes de ensino e escolas orientem as famílias com ro- teiros práticos e estruturados para acompanharem a resolução de atividades pelas crianças. No entanto, as soluções propostas pelas redes não devem pressupor que os “mediadores familiares” substituam a atividade profissio- nal do professor. As atividades não presenciais propostas devem delimitar o papel dos adultos que convivem com os alunos em casa e orientá-los a organizar uma rotina diária. (MEC, 2020, P. 12) Assim, as orientações indicam distintas possibilidades a serem ade- quadas pelas redes de ensino, indicando os seguintes caminhos: a for- mação docente por meio de cursos on-line; vídeo aulas; avaliação a distância; lista de atividades e exercícios; orientações aos pais e guias de orientação aos pais e estudantes sobre a organização das rotinas diá- rias; indicações de leitura para que os pais realizem com seus filhos; a miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 170miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 170 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 171 utilização de horários de TV aberta com programas educativos compa- tíveis com as crianças desta idade; elaboração de materiais impressos; distribuição de vídeos educativos de curta duração através de plataforma on-line; realização de atividades on-line síncronas; oferta de atividades on-line assíncronas regulares em relação aos conteúdos; estudos dirigidos com supervisão dos pais; exercícios e dever de casa de acordo com os materiais didáticos utilizados pela escola; organização de grupos de pais, por meio de aplicativos de mensagens instantâneas e guias de orientação às famílias e acompanhamento dos estudantes. Com a urgência de prestação de conta e de serviços a sociedade, os mantenedores de escolas e instituições privadas precisavam criar meca- nismos com mediação tecnológica para retomar as atividades pedagógi- cas que precisaram acontecer rapidamente e sem planejamento. Desse modo, as instituições reorganizaram suas ações pedagógicas ofertando aos estudantes o que foi denominado ensino remoto. Para que essa nova modalidade de ensino e aprendizagem funcionasse de forma regular, os professores, atores na linha de frente da educação, tiveram que aprender a usar as ferramentas necessárias. Mas os pais que estão acompanhan- do seus filhos na condução das atividades tiveram de forma rápida que aprender a lidar com as novas tecnologias para orientar seus filhos nas atividades de ensino. É em nome da sobrevivência que os governantes governam, observa o autor, ao nos interrogar acerca das concessões à liberdade a que estamos dispostas em função do risco. Estaria esse risco justificando o rompimento do “limiar que separa a humanidade da barbárie?” (AGAMBEN, 2020, p.14). Seria possível dizer que estamos sobrevivendo ou vivendo mediante essa turbulência de informação e novos modos de vida? Como as famílias estão lidando com a educação dos seus filhos e suas filhas? O que pensam os pais e as mães dos estudantes de escolas públicas e de escolas particulares. Para responder alguns dos nossos questionamentos, procuramos, nesse momento, ouvir duas famílias que têm crianças estudando em es- colas particulares, haja vista que as escolas públicas de nossas cidades miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 171miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 171 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 172 ainda não retornaram as atividades escolares. Mas as escolas particula- res buscaram ferramentas digitais para atender aqueles que pagam as mensalidades escolares e que de certa formam mantêm as instituições privadas funcionando. Assim sendo, no processo de construção do estudo, buscamos in- vestigar o cotidiano de duas famílias que acompanham suas crianças nesse processo de ensino remoto. Na condução da pesquisa, selecio- namos duas mães que se constituem como colaboradoras da pesquisa. Apropriamo-nos dos pressupostos da pesquisa qualitativa, com ênfase no estudo de caso de duas famílias que narram o cotidiano de acompa- nhamento pedagógico do ensino remoto com suas crianças. Para coleta de dados, utilizamos a entrevista narrativa de Cristiane1 e de Paula2. As duas crianças chamadas de João3 e Juliane4 são estudantes de escolas par- ticulares do município de Alagoinhas-BA. PERCEPÇÕES DAS FAMÍLIAS SOBRE AS AULAS ONLINE Das narrativas escritas por duas mães acerca das aulas, podemos obser- var que emergem quatro categorias que consideramos importante desta- car: o papel do professor no chão da sala para as telas; cumprimento da agenda de conteúdos em tempos de pandemia; a voz da criança através do olhar materno. O papel do professor no chão da sala para as telas. Hoje, em suas aulas eles já sabem que para falar precisam ter a sua vez, e as- sim os microfones ficam desativados, só sendo ativados quando solicitados pela professora. Apesar de serem no formato virtual as aulas são bastante interativas, a pró escreve o conteúdo numa lousa, explica pausadamente, 1. Nome fictício da mãe. 2. Nome fictício da mãe. 3. Nome fictício da criança. 4. Nome fictício da criança. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 172miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 172 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 173 repete sempre que há alguma intercorrência na comunicação, principal- mente queda de internet, dá tempo especifico para que eles leiam, respon- dam, e depois corrige, toma leitura de cada um deles. (Cristiane/Juliane) Percebemos que de acordo com o excerto textual de Juliane, há pac- tos firmados durante as aulas, uma imposição rigorosa às crianças que nos conduz a Foucault (2002, p.118), podendo chamar isso de “disci- plinas”, “fórmulas gerais de dominação”. Então, precisa impor regras, seja através da negociação e/ou da imposição; as crianças são obrigadas a ficarem quietas e obedientes durante as aulas virtuais para que aconteça de fato a “tão esperada aprendizagem”. A disciplina fabrica corpos submissos e exercitados, corpos “dóceis”. A dis- ciplina aumenta a força do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminuem essas mesmas forças (em termos político de obediência). Em uma palavra: ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma “apti- dão” uma “capacidade” que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição estrita. Se a exploração econômica separa a força e o produto do trabalho, digamos que a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coer- citivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada. (FOU- CAULT, 2002, p. 119). Interessante observar que a professora também obedece a disciplina escolar e os modos impostos pelo ensino remoto ou online e os pais compactuam com o formato de aula em nome de educação neoliberal capitalista. O que está por trás das aulas online que aparentemente satis- faz aos pais, preocupados com os conteúdos curriculares para prestar ao sistema caótico que estamos vivendo? Faz-se necessário pensar no que os pais pensam sobre esse tipo de escolarização. O que pais e mães querem que seus filhos e suas filhas aprendam na escola nesse tempo de pande- mia? O que é mais urgente para nós? miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 173miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 173 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 174 Foucault (2002) denomina essa técnica utilizada pelas instituições de microfísica do poder, pois desdeo século XVIII vem ganhando espaço. Parece que há prazer na obediência e na servidão, como uma teia sobre todo corpo social e educacional. Nesse momento tão sombrio, as ins- tituições de ensino, em busca de alternativas para continuar prestando seus serviços, abraçam esse formato como modelo de salvação. É um modelo astuto com aparência angelical que pode custar muito caro para os professores na pós-pandemia, se é que vamos chegar lá. A COVID-19 aponta para o imprevisto, pois, de acordo com Santos (20205), “as pandemias mostram de maneira cruel como o capitalismo neoli- beral incapacitou o Estado para responder as emergências”. Pensemos então que se recuperarão os atrasos na educação e nas carreiras? Quando professores e estudantes terão prazer em suas aulas? Quando as salas de aulas sairão do virtual para a escola viva? Uma das descobertas do momento é que o Estado é incapaz de gerenciar a educação pública e orientar as instituições privadas. CUMPRIMENTO DA AGENDA DE CONTEÚDOS EM TEMPOS DE PANDEMIA Outra categoria analisada abarca a percepção das mães acerca da dificul- dade no processo de adaptação e planejamento para o ensino remoto, provenientes em grande medida pela ausência de formação docente para lidar com a tecnologia, mas também que envolvem a ausência de recur- sos ou a improvisação nos ambientes tecnológicos, falta de levamento prévio das condições de atendimento, acompanhamento e acesso as fa- mílias. Isso tudo é percebido pela mãe nos excertos: Quando relato a dificuldade de adaptação do tempo, porque a instituições edu- cacionais não procuraram saber a realidade das famílias. Eu particularmente 5. https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/coronavirus-sociologo-ve-capitalismo-neoliberal-a- -incapacitar-o-estado. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 174miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 174 2021-05-24 16:03:082021-05-24 16:03:08 175 tive que adaptar a minha rotina a determinação da escola. Outro ponto inquie- tante está relacionado ao que se tem disponível em casa de tecnologia, onde não tivemos escolha a não ser providenciar uma internet mais veloz, um computa- dor que suportasse as benditas plataformas de vídeo aulas (Paula/João) É possível inferir a partir das narrativas que as aulas online figuram como meras transposições do ensino presencial para esta modalidade. Assim, boa parte das indicações promovidas na portaria que regulamen- ta a reposição do calendário segue de modo muito diverso de cumpri- mento da agenda de atividades remotas. A voz da criança através do olhar materno Como acredito na fala da criança, o quanto eles conseguem expressar seus sentimentos e posição à todos e qualquer assunto, que buscam a todo mo- mento respostas para suas perguntas e contra argumentam quando neces- sário, quando algo não é suficiente para ela, vou descrever as respostas para uma única pergunta que eu fiz para ele desde o início das aulas remotas, as respostas descritas foram dos primeiros 15 dias, assim consegui observar o seu estado emocional diante do novo. (Paula/João) Mãe: O que achou da aula? Filho responde: Dia 01 - Regular Dia 02 - Regular Dia 03 - Boa Dia 04 - Satisfatório Dia 05 - Legal Dia 06 - Legal Dia 07 e Dia 08 - Legal Dia 09 – Legal Dia 10 – Foi boa! (Paula/João) miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 175miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 175 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 176 Percebemos com a fala da mãe Cristiane que é muito importan- te levar em consideração os relatos das crianças, pois através deles conseguimos identificar os pontos fortes e fracos do processo. Mas alguns podem dizer: Qual o saber que a criança tem que pode in- fluenciar na tomada de decisão de algumas ações? Será que não irá se sobrepor ao adulto, já que hierarquicamente o mais velho domi- na o mais novo? “[...] As relações de poder não estão em posição de superestrutura, com um simples papel de proibição ou de recon- dução; possuem, lá onde atuam, um papel diretamente produtor” (FOUCAULT, 1997, p. 90). Diante da questão acima, entendemos que as relações de poder, neste caso mãe e filho, se constituem como algo respeitoso, que pensa no bem estar do sujeito. No momento que a mãe busca saber da crian- ça sobre as aulas remotas, fica claro que a mãe entende que a crian- ça está em processo de construção do letramento, por isso consegue discernir a realidade que elas estão vivendo agora. Para Terzi (1995), os benefícios de um ambiente familiar rico em eventos de letramento resultam em maior sucesso no desenvolvimento inicial da leitura e, consequentemente, maior sucesso nas primeiras séries do ensino fun- damental, onde ocorre a alfabetização. Ouvir e discutir textos com adultos letrados pode ajudar a criança a estabelecer conexões entre a linguagem oral e as estruturas do texto escrito, facilitando o processo de aprendizagem do mundo escrito. Como a criança é verdadeira nas suas colocações e ações e a cada dia ela possui um posicionamento em relação às situações, validade de acompanhar o processo e buscando nelas o como elas se sentem é bem interessante, porque a partir do feedback algumas práticas podem ser modificadas, mantidas, melhoradas ou até mesmo eliminadas. O que pudemos observar é que durante o período de acompanhamento houve uma evolução do que se considerava a aula; é uma prova de que o pro- fessor estava correspondendo às expectativas da criança, o que pode ser observado no relato da mãe. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 176miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 176 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 177 CONSIDERAÇÕES – PARA PENSAR EM UM APROFUNDAMEN- TO DO DEBATE Percebemos que a pandemia impõe um modelo de educação que pode se dizer excludente para o momento. No privado professores, pais e es- tudantes buscaram meios e ferramentas de atender as aulas emergenciais do ensino remoto ou aulas online, mas as escolas públicas ficaram de fora do uso das tecnologias digitais por várias questões. Percebemos com isso que pandemia “escancara” as fragilidades educacionais da educação pública. As secretarias de educação municipal e estadual apresentam-se inoperantes no contexto regional municipal, regional em que estamos inseridos. Professores sem formação adequada para lidar com as novas ferramentas, pais que deixavam seus filhos à disposição da escola e dos cursos de reforço escolar e crianças, adolescentes e jovens que estavam acostumados a experienciar outras relações de afetividade e ludicidade com seus colegas e professores, mas que neste momento estão confina- dos em frente ao computador, celular ou tablet para atender as ativida- des escolares. Percebemos nas narrativas dos pais que professores e instituições ti- veram que se adequar ao novo formato de escolarização. Os sujeitos e instituições tiveram que se adequar sem saber realmente como funcio- naria e que seria viável fazer essa mudança, principalmente com crianças em processo de alfabetização. Para ter que cumprir uma agenda deter- minada pelo MEC, os pais tiveram que aceitar as determinações, sem nenhum tipo de ponderação devido às relações de poder. A adequação ao ensino remoto está sendo um desafio, pois viemos de uma escola tradicional, presencial, onde o professor e aluno fazem o papel de mediação do aprendizado, e que este foi transferido aos pais a partir do momento em que iniciou o ensino remoto. A pandemia mos- tra como o processo de escolarização está deficitário, principalmente para aqueles que não detêm as tecnologias, pois existe uma barreira que separa a acessibilidade tecnológica. Para que o aprendizado flua essas ferramentas são primordiais para o desenrolar das aulas. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 177miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 177 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 178 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGAMBEN, G. Reflexões sobre a Peste – Ensaios em Tempos de Pandemia. 1ª ed. Trad. IsabellaMarcatti. São Paulo: Boitempo, 2020. AVELAR, R. Coronavírus: Boaventura Santos vê o capitalismo neoliberal a in- capacitar o estado. Disponível: https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/coronavi- rus-sociologo-ve-capitalismo-neoliberal-a-incapacitar-o-estado. Acesso: 13 de maio de 2020. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE n°5 de 30 de abril de 2020. Dispõe sobre a Reorganização do Calendário Escolar e da possibilidade de cômpu- to de atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual, em razão da Pandemia da COVID-19. Disponível em: < http://portal.mec. gov.br/conselho-nacional-de-educacao/atos-normativos--sumulas-pareceres-e-resolu- coes/33371-cne-conselho-nacional-de-educacao/85201-parecer-cp 2020#:~:text=Pa- recer%20CNE%2FCP%20n%C2%BA%205,da%20Pandemia%20da%20COVI- D%2D19.>. Acesso em: 15de set. 2020. FOUCAULT, M. Vigiar e Punir. 26ª edição. Trad. Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 2002. FOUCAULT, M. A História da Sexualidade. 12.ed: Graal, V.1- A Vontade de Saber. Rio de Janeiro: 1997. SOUZA SANTOS, B. de. A Cruel Pedagogia do Vírus. Coimbra: Editora Almedi- na, 2020. Disponível em: < http://afipeasindical.org.br/content/uploads/2020/04/A- -Cruel-Pedagogia-do-V%C3%ADrus-Boaventura-de-Sousa-Santos.pdf >. Acesso em: 27 de maio. 2020. TERZI, S. B. A Oralidade e a Construção da Leitura por Crianças de Meios Ile- trados. In: KLEIMAN, Â. B. (Org.). Os significados do letramento. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 1995. Coleção Letramento, Educação e Sociedade. Cap. 2. p. 91-117. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 178miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 178 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 179 ENSINAR E APRENDER PELA PESQUISA: A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ EM TEMPOS DE PANDEMIA Elisangela André da Silva Costa Elcimar Simão Martins Maria Socorro Lucena Lima Maria Marina Dias Cavalcante INTRODUÇÃO Recorrentemente acessamos estudos que problematizam as relações que se estabelecem entre o ensino e a pesquisa no contexto da pós-graduação stricto sensu, buscando superar a herança da perspectiva objetivista da ciência que reduz o professor a um objeto de investigação e distancia as experiências formativas dos cursos de mestrado e doutorado da preocu- pação com o exercício da docência. Nossa vinculação à linha de pesquisa Formação, Didática e Traba- lho Docente, no Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual do Ceará – PPGE - UECE, tem nos permitido a vivência de propostas formativas pautadas na defesa do professor como um intelectual, como pesquisador e como pessoa. Esse conjunto de referências ilumina os pro- cessos de planejamento e tem colaborado com a apropriação crítica e refletida, por parte dos pós-graduandos, dos conhecimentos relativos à construção do conhecimento científico, sem perder de vista a identidade dos mesmos como professores. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 179miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 179 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 180 Com a emergência do ensino remoto, ocasionada pelo distanciamen- to social exigido pela pandemia de COVID-19, fomos convidados a re- ver, de forma rápida, as estratégias metodológicas a serem vivenciadas no contexto da disciplina Pesquisa Educacional, ofertada a mestrandos ingressantes no Programa no semestre 2020.1. Assim, no presente texto, objetivamos refletir sobre os limites e pos- sibilidades da pesquisa como elemento de formação do professor-pes- quisador no PPGE-UECE, situado no cenário de tensões e contradições postos pelo atual contexto brasileiro. Para tanto, apresentaremos discus- sões teóricas sobre a teoria, a prática e a práxis na formação do profes- sor-pesquisador e, em seguida, elementos presentes no desenvolvimento da disciplina que articulam compromissos, expectativas e resultados, ex- pressos através de documentos produzidos por professores e estudantes, como o programa da disciplina e diários de formação. TEORIA, PRÁTICA E PRÁXIS NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR PESQUISADOR A formação do professor-pesquisador, no contexto da pós-graduação stricto sensu no Brasil é cercada por diferentes desafios políticos, pe- dagógicos e epistemológicos que colocam em discussão as relações que se estabelecem entre a teoria e a prática no processo de construção do conhecimento. Tal fenômeno é fruto da trajetória de constituição da universidade no Brasil, que historicamente vem promovendo a cisão en- tre teoria e prática, entre ensino e pesquisa, entre graduação e pós-gra- duação, resultando, em última instância, na desvalorização da docência. Atualmente, pesquisas desenvolvidas por diferentes estudiosos apon- tam ao mesmo tempo para a centralidade das preocupações da pós- -graduação stricto sensu com a pesquisa e para o distanciamento no processo de planejamento dos componentes curriculares dos cursos de mestrado e doutorado do debate sobre as especificidades da docên- cia. Esse movimento decorre, além da tradição franconapoleônica e da miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 180miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 180 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 181 influência estadunidense (PIMENTA; ANASTASIOU, 2014) presentes nas instituições de ensino superior, da lógica produtivista estabelecida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), à qual estão submetidos os cursos de mestrado e doutorado. Como resultado desse processo, o exercício da docência é, recorrente- mente, tratado como objeto de investigação, distante das práticas dos estudantes e dos professores da pós-graduação, o que dificulta a forma- ção dos docentes para atuação na educação superior. Os desafios de formação do professor pesquisador no contexto da pós-graduação são apontados por Soares e Cunha (2010, p. 590), quan- do afirmam que “parece ser um equívoco pensar que os saberes inerentes à pesquisa se transferem automaticamente para o ensino. Eles não são suficientes para assegurar a qualidade da docência universitária”. Diante desta reflexão, as autoras indicam a necessidade de articulação entre o ensino e a pesquisa como alternativa de valorização e desenvolvimento dos conhecimentos de natureza pedagógica, necessários ao exercício da docência. A articulação entre os processos investigativos e formativos vem se constituindo como princípio que fundamenta experiências vivenciadas por diferentes estudiosos, como Ghedin, Oliveira e Almeida (2018, p. 13) que afirmam que o ensino com pesquisa na formação de professo- res “[...] caracteriza-se por uma atitude interdisciplinar que privilegia a pesquisa durante a sua prática, dialogando com os outros saberes para produzir um novo conhecimento”, assim como Lima e Costa (2018, p. 502), quando indicam “que o pesquisador também é protagonista da pesquisa pois, ao construir saberes, constitui sua identidade a partir da premissa de que o pesquisador é sujeito de sua própria prática”. As interrelações estabelecidas entre a teoria e prática na problemati- zação, leitura crítica e análise da formação e da profissão professor efeti- vam tanto os movimentos de apropriação, quanto de construção de no- vos conhecimentos, nutrindo, desse modo, a compreensão da docência como práxis (VAZQUEZ, 1977). miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 181miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 181 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 182 Parece ser consenso o fato de que a pós-graduação vive desafios para efetivar os processos de formação de professores, tendo em vista a tra- dição dos programas se constituírem como espaços de formulações teóricas, por meio de pesquisas e distantes das preocupações com suas próprias práticas formativas e, ainda, que a articulação entre o ensino e a pesquisa é potencialmente uma alternativa para a superação desse desafio. Contudo, as formas de organização metodológica dessas expe-riências precisam de maior divulgação e debate, para que seus limites, possibilidades e fundamentos possam servir de referência para a formu- lação de novas experiências que venham a contribuir efetivamente com a transformação das denúncias em anúncios. Com base nessas reflexões e nos desafios adicionais vivenciados por nós, como professores, no contexto da pandemia de COVID-19, a par- tir dos quais fomos convocados a transformar rapidamente o modelo presencial de ensino em um modelo remoto, mobilizamos nossos co- nhecimentos e experiências para formular uma proposta formativa ca- paz de reafirmar a defesa que fazemos da docência como práxis e do professor como um intelectual que constrói conhecimentos relevantes sobre sua profissão. ENTRE O DITO E O FEITO: COMPROMISSOS E VIVÊNCIAS DA DISCIPLINA PESQUISA EDUCACIONAL A disciplina pesquisa educacional constitui-se como componente cur- ricular obrigatório ofertado aos mestrandos que ingressam no Progra- ma de Pós-Graduação da Universidade Estadual do Ceará e tem como ementa “Paradigmas e metodologias de pesquisa em educação. Fontes, técnicas de coleta e análise de dados. Práticas de pesquisa” (UECE, 2020, p. 01). Diante dos desafios formativos vividos por nós, docentes, em relação à pós-graduação, que trazia marcas da distância existente entre as prá- ticas de formação para a pesquisa e a compreensão das mesmas como miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 182miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 182 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 183 possibilidade de fortalecimento da identidade profissional e da autono- mia como professores, resolvemos agregar metodologicamente à disci- plina a dimensão experiencial (SOUZA, 2006). A partir da reflexão permanente dos mestrandos sobre os conhe- cimentos e vivências relativas à pesquisa, fomos tecendo uma rede de diálogos intersubjetivos que proporcionaram aos estudantes a percep- ção de si mesmos como professores pesquisadores em formação. Este movimento foi desenvolvido a partir da escrita de diários de formação que estimularam o exercício da autoria, configurada por Costa e Lima (2019, p. 06) como “uma atividade complexa que permite aos escritores a tomada de consciência acerca dos desafios presentes em sua trajetória formativa e na (re)construção de sua identidade pessoal e profissional”. Durante o semestre 2020.1, os estudantes escreveram sobre temáti- cas variadas, sendo estimulados, sempre, a expressar seus pensamentos, desafios e reflexões diante da aprendizagem da/pela pesquisa, sem deixar de se posicionar quanto ao contexto em que realizavam essa formação e aos conhecimentos teóricos com os quais tinham contato. O planejamento da caminhada inspirou-se na dialogicidade freiriana que propõe, antes do início de qualquer processo formativo, a aproxi- mação com os sujeitos, para conhecer um pouco de sua trajetória, expe- riências, contexto de vivência e expectativas (FREIRE, 1967). A primei- ra atividade foi a aplicação de um questionário eletrônico para levantar o perfil da turma, suas experiências com pesquisa, as concepções que traziam sobre conhecimento científico, suas propostas de investigação, suas expectativas em relação ao mestrado e à disciplina de pesquisa. A partir do resultado, identificamos uma diversidade de experiên- cias de vida, formação e profissão, dentre as quais destacamos as que se apresentaram como desafios para o ingresso, permanência e sucesso na pós-graduação: 67% dos estudantes são trabalhadores e não foram totalmente liberados de suas funções para investir na formação; do total de estudantes 53% são responsáveis pelo sustento de suas famílias; 23% dos estudantes não dispunham de experiência com pesquisa e já estavam miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 183miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 183 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 184 há pelo menos cinco anos distantes do contexto acadêmico. Tais caracte- rísticas, consideradas pelos próprios estudantes como fatores limitantes de sua formação, foram ressignificadas e a experiência de cada sujeito valorizada nos processos de construção das atividades, com as possibili- dades de diálogo entre os que dispunham de significativa experiência em pesquisa e os que dispunham de vasta experiência profissional. A valo- rização das singularidades e o respeito às diferenças estimularam a par- ticipação dos estudantes nos diálogos sobre as diferentes temáticas, na problematização da realidade, na manifestação de dúvidas e na expres- são das dificuldades. Assim, equipes compostas no início do semestre permaneceram até o final, dialogando, trabalhando e aprendendo juntas nas aulas, compreendidas como uma construção dialógica e colaborativa (RIOS, 2008). Na medida em que as temáticas foram avançando, foram vividas es- tratégias diversas: leitura e discussão de textos; fichamentos; descons- trução de textos; análises de dissertações e teses; análise dos próprios projetos de pesquisa; composição de textos coletivos; apresentação de se- minários; realização de entrevistas; além das convencionais aulas exposi- tivas. O desafio final de sistematização do conhecimento foi a produção de artigos para a publicação de um e-book, reafirmando a perspectiva da autoria e da pesquisa como princípios formativos (COSTA et al, 2019). O OLHAR DOS ESTUDANTES SOBRE A EXPERIÊNCIA Considerando a escrita dos diários como um eixo formativo na expe- riência da disciplina pesquisa educacional, durante a pandemia da CO- VID-19, apresentamos recortes dos diários de formação dos estudantes, que nos permitem avaliar os limites e possibilidades do exercício da es- crita para sua formação como professores pesquisadores. Diferentes foram as perspectivas apresentadas pelos estudantes, o que nos levou a selecionar apenas alguns dos registros escritos para ilustrar as reflexões por eles deixadas. Um grupo de estudantes fez destaque aos miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 184miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 184 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 185 diálogos estabelecidos entre o exercício de autoria presente na escrita dos diários que se estendeu à autoria das próprias práticas profissionais. A escrita dos diários me fez descobrir a minha essência na escrita, o jeito livre e subjetivo de ser me levou a experimentar outras formas de também ensinar, de ser autora das reflexões geradas em minhas aulas (E1). A disciplina de Pesquisa Educacional, mais do que nunca, me fez perceber sobre a importância do meu dia-a-dia no processo da pesquisa, em como os conteúdos por nós trabalhados estão entrelaçados com nossa vida para além dos muros da universidade. O exercício dos diários de formação trouxe esse aprendizado, um professor pesquisador constrói sua prática na conexão entre vários domínios da sua vida (E4). A percepção de si mesmos como intelectuais capazes de produzir co- nhecimentos e anunciá-los através da escrita, inclusive nos espaços de vivência da profissão, pode ser compreendida como uma importante contribuição da experiência. O exercício da organização do pensamen- to, de forma criativa e livre das amarras da formalidade que muitas ve- zes aprisionam a expressão dos sujeitos pela preocupação excessiva com regras de formatação, estimulou os estudantes a promoverem diálogos entre textos científicos e poesias, músicas, cordéis entre outras tantas formas de expressão capazes de tornar mais acessível o conteúdo dos es- critos àqueles que se encontram em outros espaços que não a academia (FREIRE, 1967). A dimensão formativa da escrita foi destacada por outro grupo de estudantes, indicando a importância do permanente exercício de pro- dução dos diários para o anúncio das compreensões e reflexões sobre os diferentes temas estudados. No movimento de redigir os textos, são fortalecidas as capacidades críticas e analíticas de cada um, promovendo a assimilação dos conteúdos e a articulação entre elementosteóricos e práticos da realidade. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 185miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 185 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 186 A redação dos diários foi uma grata descoberta, [...] uma forma poderosa de fixação do conteúdo e comunicação com os envolvidos no processo de ensino [...] (E2). [...] destaco os próprios diários de formação como uma das mais relevantes ex- periências, devido seu caráter disciplinador, encorajador e preparatório para a indispensável missão de registrar os resultados de nossa pesquisa numa disserta- ção (E3). Aqui eu pude realmente me enxergar como professor-pesquisador, pude apro- fundar meus conhecimentos sobre pesquisa [...] foi possível compreender o quão significativo é a produção acadêmica para a educação (E5). O movimento realizado junto aos mestrandos, articu lando a fun- damentação teórica proposta pela formação do professor pesquisador à reflexão sobre as práticas e as experiências pessoais e profissionais, opor- tunizou que os mesmos encontrassem sentido e significado nas leituras, discussões e produções, de modo que valorizassem não só o acesso aos conteúdos, mas os diálogos estabelecidos com sua vida, profissão e for- mação, enquanto forma de aprender pela pesquisa (GHEDIN; OLI- VEIRA; ALMEIDA, 2018; LIMA; COSTA, 2017). O caráter longitudinal da experiência permitiu aos mestrandos a per- cepção das mudanças vividas por eles a partir da escrita diários e ex- pressas também no estilo deles próprios como autores, o que foi sendo lapidado ao longo do processo. Após tantas leituras e escritas, percebo como esses diários me permitiram ter um olhar mais crítico sobre o que escrevo, afinal não queria me expor diante de meus colegas, preocupação que foi se transformando em algo mais elaborado, ou seja, não se tratava mais de temer me expor, mas, a cada escrita, de me questio- nar como eu poderia contribuir, também, com a formação daquele que estava contribuindo para a minha (E6). miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 186miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 186 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 187 [...] a progressividade da intensidade das atividades propostas, assim, nos foi lançado o desafio da construção de um artigo em grupo. Mais um novo cami- nho a trilhar, é como construir uma nova letra de uma canção, respeitando seus limites e possibilidades [...] (E7). Os registros escritos a partir das colocações feitas pelos mestrandos constituem-se, também, como oportunidade de autoavaliação (COSTA; LIMA, 2019), na qual se encontram expressos os limites e as possibilida- des, assim como os modos como cada um foi recebendo os desafios e arti- culando conhecimentos distintos para superá-los, reafirmando que a pro- dução de conhecimento é também autoconhecimento (SOUZA, 2006). CONSIDERAÇÕES FINAIS O movimento de ensinar pela pesquisa permitiu o exercício do acolhi- mento, o respeito às limitações tecnológicas, físicas e emocionais dos es- tudantes, que se constituíram como desafios a serem superados coletiva- mente, de modo que a compreensão da educação como um direito fosse profundamente respeitada e tomada como referência para que nenhum/a estudante desistisse de continuar na caminhada em decorrência da falta, mesmo que momentânea, das condições para participar das atividades. Entre os achados desse estudo, destacamos: o exercício da autoria revela a indissociação entre ensino e pesquisa; a contribuição para a for- mação do pesquisador crítico-reflexivo, que problematiza teoria e práti- ca a partir de sua realidade profissional; o caráter permanente de (auto) avaliação favoreceu um movimento constante que foi do individual ao coletivo; a experiência emergencial do ensino remoto apresentou diver- sos desafios, mas os compromissos políticos e pedagógicos estabelecidos com a formação do professor pesquisador prevaleceram. Que a valorização do professor como pessoa e como intelectual possa guiar outras tantas experiências formativas na pós-graduação e colaborar com o de- bate sobre a formação de professores, não só para a pesquisa, mas pela pesquisa. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 187miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 187 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 188 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA, Elisangela André da Silva; LIMA, Maria Socorro Lucena. Bases Teóricas e Metodológicas da Escrita na Formação do Pesquisador: um olhar sobre os diários de formação. Notas de aula. Redenção: Mestrado Profissional em Ensino e Formação Docente – UNILAB-IFCE, 2019. COSTA, Elisangela André da Silva; LIMA, Maria Socorro Lucena; MARTINS, Elci- mar Simão; ALMEIDA, Sinara Mota Neves de. Diálogo Pedagógico na Formação de Professores: elementos teóricos e metodológicos. In: COSTA, Elisangela André da Silva; LIMA, Maria Socorro Lucena; MARTINS, Elcimar Simão (Org.). Diálogos Pedagógicos na Formação de Professores. Articulações Entre Ensino, Pesquisa e Exten- são. 1ed., Fortaleza: Imprece, 2019. FREIRE, Paulo. Educação como Prática de Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Ter- ra, 1967. GHEDIN, Evandro; OLIVEIRA, Elisangela Sousa; ALMEIDA, Whashington. Está- gio com Pesquisa. São Paulo: Cortez, 2018. LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Aprendizagem da Profissão Docente. Bra- sília: Liber Livro, 2012. LIMA, Maria Socorro Lucena; COSTA, Elisangela André da Silva. Condições de Vida e Trabalho como Ponto de Partida para a Formação do Professor Pesquisa- dor. Rev. Eletrônica Pesquiseduca, v. 09, n. 19, p .492-505. set.- dez. 2017. PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Docência no Ensino Superior. 5 Ed. São Paulo: Cortez, 2014. RIOS, Terezinha Azeredo. A Dimensão Ética da Aula: ou o que fazemos com eles? VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org.) Aula: gênese, dimensões, princípios e práticas. Campinas: Papirus, 2008, p. 73-93. SOARES, Sandra Regina. CUNHA, Maria Isabel da. Programa de Pós-Graduação em Educação: lugar de Formação da Docência Universitária? Revista Brasileira de Pós-Graduação. Brasília, v.7, n.14, p. 577-604, 2010. SOUZA, Elizeu Clementino. A Arte de Contar e Trocar Experiências; reflexões teó- rico-metodológicas sobre histórias de vida em formação. Educação em Questão. v.25, p.22-39, 2006. UECE. Programa da Disciplina Pesquisa Educacional do Mestrado Acadêmico em Educação – PPGE – UECE. Fortaleza: UECE, 2020. VAZQUEZ, Adolfo Sanchez. Filosofia da Práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 188miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 188 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 189 OS (DES) CAMINHOS DA EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA: CONSTRUINDO ITINERÁRIOS FORMATIVOS NA EDUCAÇÃO BÁSICA E ENSINO SUPERIOR Maria José dos Santos Maria Glêciane Maia de Macedo INTRODUÇÃO Iniciamos este diálogo refletindo sobre a educação enquanto processo de formação humana. É na e pela educação que nos humanizamos, nos formamos humanos. Seja na sua forma institucionalizada, nas relações pedagógicas, pessoais ou na relação social coletiva, a educação tem papel fulcral na formação humana, “[...] a interação docente é considerada mediação universal e insubstituível dessa formação, tendo-se em vista a condição da educabilidade do homem”. (SEVERINO, 2006, p. 621). Cotidianos escolar/acadêmico de professoras, suas relações com a docência, as transformações no fazer pedagógico ocasionadas nos des- locamentos provocados pela pandemia da COVID-19 (COVID - CO- rona VIrus Disease - Doença do coronavírus, “19” se refere a 2019), compõem o cenário de discussão deste trabalho. São contextos distin- tos, situados em lugares também distintos – num contexto, a docente/ coordenadora pedagógica da educação básica do estado de Pernambuco, em outro, a professora adjunta da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em Bacabal. Assim, falamos de experiências e saberes produ- zidos nas vivências, com/a partir de itinerários formativos instituídose em construção, os quais passam obrigatoriamente por ressignificações miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 189miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 189 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 190 de práticas e fazeres docentes, uma vez que o cenário tanto na sua forma como nos sentidos que vêm/podem produzir, modifica/transforma as relações de trabalho e de vida no tempo presente. SITUANDO OS CONTEXTOS: A CONCRETUDE DA PANDEMIA E OS DESLOCAMENTOS NO COTIDIANO ESCOLAR/ACADÊMICO DOCENTE Março de 2020 marca um período sem precedentes na história da socie- dade brasileira. A crise sanitária que assolou o mundo, pela ação nefasta da COVID-19, chega ao Brasil e mais rapidamente do que se podia imaginar, vai alterando o cotidiano e as rotinas no país, traçando um caminho cruel e de muita dor para muitas famílias em todo território nacional. Os efeitos da pandemia são catastróficos e se espalham tão rápidos quanto o vírus. Cultura, política e economia são profundamente alteradas em seus cursos. Em meio ao caos dos acontecimentos, é preciso gestar o social, construir um “novo” normal, ao que tecemos críticas, por não termos vivido uma normalidade anteriormente. A desigualdade existente, tor- nada abissal, se torna visível, e é desvelada em sua face mais cruel, pois que naturalizada no cotidiano das pessoas. A desigualdade e seu apro- fundamento histórico produz o que Jessé de Souza vem categorizando como subcidadania, produzida em processos de subjetivações que faz crescer um exército de subcidadãos. Trata-se de uma relação perversa em que interesses de grupos domi- nantes vão sendo difundidos e incorporados pelos valores que atestam a necessidade de manutenção de uma ordem colocada como natural, ins- tituindo formas de compreensão do problema da desigualdade que não permitem visualizar as implicações políticas e ideológicas subjacentes aos discursos que a mantém. Tais práticas constituem espaços de manu- tenção da ordem vigente e do crescente interesse em forjar subjetivida- des que corroborem esse discurso, submetendo-se aos ditames de uma lógica instaurada. (SANTOS, MOTA & SILVA, 2013). miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 190miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 190 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 191 No campo educacional, assim como nos demais setores da sociedade, não é diferente. O abalo provocado não encontra ainda precedentes de análise, mas já se pode conjecturar, considerando algumas das medidas veiculadas nos discursos e já postas em prática em alguns estados e mu- nicípios. As aulas e o cumprimento de carga horária ocupam o centro dos debates, sem que se perceba ou por “simples” naturalizações das rea- lidades distintas de estudantes que passam a ter aulas em casa, por via remota, com a mediação das tecnologias da informação e comu nicação (TIC’s) e tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC’s), quando não dispõem de equipamentos e internet compatível com o re- querido. Destarte, é imperativo rever as práticas escolares, refazer caminhos, ressignificar modelos. O modelo de sala de aula tradicional com seus tempos e espaços não cabe no cenário de isolamento físico, sendo, por- tanto, urgente implantar outros processos formativos que passam pelo uso de redes online, pela mediação tecnológica, que assumem a centrali- dade nesse momento. (BONILLA, PRETTO & SENA, 2020). Em que pese o cenário e seu descortinamento, é oportuno desta- car como os organismos internacionais, a exemplo do Banco Mundial e da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico (OCDE), encontram lastro para disseminação e implantação de suas políticas. [...] os atuais organismos internacionais, a pretexto da pandemia, tentam difundir um modelo de educação e de escola que é a anos defendido pelo capital: um modelo referenciado na agenda empresarial (balizada pelo capital humano e pelas competências), uma pedagogia que tentam viabilizar à revelia das/dos professoras/es e das/os estudantes. (COLEMARX, 2020, p. 09). Importa, portanto, questionar os interesses subjacentes às orienta- ções que vêm sendo adotadas principalmente no Brasil, nos diferentes estados da federação, pela aquisição dos pacotes pedagógicos de ensino, miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 191miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 191 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 192 pacotes com materiais didáticos pré-fabricados, veiculação de pacotes de conteúdos por canais de TV, e uma infinidade de ofertas de grandes corporações que disputam o mercado educacional, fortemente ativado em tempos de isolamento físico, uma vez que as interações ocorrem por meio de TIC’s e TIDC’s.\ (COLEMARX, 2020). Estamos diante de uma conjuntura complexa, que busca reestrutu- rar-se em todos os campos, frente a uma realidade em que, a educação pública não encontrou ainda os espaços de reflexão na possibilidade de construção coletiva de novos itinerários, em redes de colaboração, que considerem prioritariamente a vida e sua preservação. Uma educação voltada para formação humana e humanizadora. CONTEXTOS DISTINTOS, GEOGRAFICAMENTE SITUADOS: PROXIMIDADES E DISTANCIAMENTOS EM PRÁTICAS LOCALI- ZADAS O cotidiano escolar/acadêmico atual reflete/fala sobre os (des) caminhos da educação pela instituição/produção de itinerários formativos em ce- nários adversos, diante de questões que se complexificam. É nesse con- texto que as vivências da professora/coordenadora da Escola de Referên- cia Professora Irene Maria Ramos Coelho (EREMPIMRC), localizada no município de Afrânio-PE, no interior do estado de Pernambuco, dis- tante cerca de 700 km da capital do estado, se situam. Para governos e União é peremptório o cumprimento de cargas ho- rárias e dias letivos, mesmo que com concessões. Oficializam o ensino remoto ou educação remota, conceito ainda sem uma significação clara, consensual, mas que emerge como uma forma diferenciada da Educa- ção a distância, apresentada como alternativa principal ou única para o momento. Assim, as “[...] as aulas são transmitidas em tempo instantâneo por sistemas de web conferências, as chamadas lives, que permitem que pro- fessores e alunos tenham condições de realizar interações e organizarem miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 192miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 192 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 193 seus tempos de aprendizagem da forma mais próxima à educação pre- sencial” (ARRUDA, 2020, p. 262). O cenário provoca imbricamentos e não podemos desconsiderar a re- levância das tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC’s), tanto nas interações pessoais e interpessoais, como nas práticas de cons- trução de conhecimento, nos processos de ensino e aprendizagem, “[...] Ciência, arte e cultura são indissociáveis das tecnologias que, por isso, devem ser incorporadas no fazer escolar (COLEMARX, 2020, p. 08)”. Entretanto, há que se pensar sobre modos e formas de inserções e nos aligeiramentos amparados por decretos e portarias e resoluções. Nesse ínterim, o Estado de Pernambuco, por meio da Secretaria de Estado de Edu cação, edita a Portaria SEE Nº 1160 DE 01 DE ABRIL DE 2020, Art. 01 decretando a reorganização do calendário escolar: As unidades escolares da Rede Estadual de Educação Básica de Pernam- buco, tendo em vista a compreensão de que as atividades escolares não se resumem ao espaço físico de uma sala de aula, deverão reorganizar seus ca- lendários escolares durante o período que durar a suspensão das atividades presenciais. (PERNAMBUCO/SEE/D.O, 2020, p. 01). Ainda, no parágrafo 2º, destaca: Para os fins desta Portaria, consideram-se atividades não presenciais as ativi- dades de oferta de conteúdos programáticos, de disciplinas, de matérias, de componentes curriculares, fora da sede acreditada, de forma a integralizar a matriz curricular, conforme resolução do Conselho Estadual de Educação nº 3/2020. A determinaçãolegal instaura/implementa outros itinerários for- mativos a serem construídos a partir das residências de estudantes e professores, pois atividades escolares podem ser compreendidas para além do espaço físico da sala de aula. A coordenadora pedagógica da miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 193miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 193 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 194 EREMPIMRC, então, passa a orientar para atividades não presenciais, no intuito de atender à demanda de integralização da matriz curricular, conforme estabelecido. Entretanto, esse é um exercício que se constrói em meio a muitas dúvidas e incertezas quanto a seus resultados, aliado a questões de ordem psíquico e emocionais. Mas, está acontecendo! A escola organizou grupos de estudantes por série, horários dos professores e responsáveis por turmas, para acompanha- mento e monitoramento das atividades enviadas via internet pelos aplica- tivos e plataformas: Whats App, Facebook, Youtube, e-mails, entre outros. A impressão é de que tudo está se encaixando, no entanto, “[...] o trabalho docente remoto exige também que na outra ponta as condições de sua rea- lização estejam asseguradas. Nesse sentido, não basta que somente os (as) professores(as) possuam os meios necessários para sua realização, mas é in- dispensável que os estudantes também o possuam.” (CNTE, 2020, p.12). Os dois polos do processo ensino-aprendizagem, independentemen- te do formato de ensino, precisam ser considerados. Sendo, portanto, necessário assegurar condições de possibilidades aos docentes e discen- tes, o que implica aquisição de equipamentos tecnológicos compatíveis com as atividades e internet com/de velocidade/qualidade. Outra medida visando a garantir a aprendizagem dos estudantes foi a produção do documento de reorganização curricular, contendo as com- petências e habilidades a serem trabalhadas em toda a educação básica durante as atividades remotas (PERNAMBUCO/SEDUC, 2020). Compreendemos haver um choque de realidades. Corrobora as preo- cupações a existência de mapeamento adequado das condições para ope- racionalizar aulas remotas pelos professores e de interagir, corresponden- do ao solicitado pelos alunos. Não dispomos ainda de dados reais. Ao se buscar legitimar itinerários formativos online, na materialização de práticas bastante questionáveis, quando construídas nas (in) compreen- sões subjacentes ao modelo remoto de ensino. Experiências síncronas e assíncronas que precisam ser gestadas, mesmo sem a devida formação para tal. Concordamos que miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 194miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 194 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 195 [...] O contexto de pandemia não pode ser argumento, nem tampouco um motivador para que façamos agora, de forma desorganizada e imediatista, como se tem feito até aqui, [...] arranjos para que gestores, professores e alunos possam, neste momento, atuar com as tecnologias digitais, como se fossem ações absolutamente normais no cotidiano de todos. (BONILLA, PRETTO & SENA, 2020, p.12). A portaria supracitada normatiza os trabalhos no âmbito das escolas. No entanto, a EREPIMRC iniciou os trabalhos de forma virtual antes mesmo da publicação do decreto, sem, portanto, deixar de se preocupar com a aprendizagem dos estudantes, diante da constatação que “[...] 1 a cada 3 estudantes não possui acesso aos recursos para acompanhamento das aulas e realização das atividades.” Ainda, “[...] A situação é melhor no Ensino Médio, com o menor percentual de respondentes (32,5%), avaliou que os estudantes NÃO tinham acesso aos recursos para acom- panhar as aulas remotas (CNTE, 2020, p.12)”. O contexto familiar também sofre alterações. Estudar em casa, assis- tir a aulas virtuais e produzir com os recursos tecnológicos disponíveis – às vezes um celular com internet de pacote de dados é cenário pelo Brasil afora. Questiona-se, nessa relação, competências/habilidades para o uso das TDIC’s pais e familiares de alunos que precisam acompanhá- -los nas tarefas. Os equipamentos ou sua ausência, espaço físico adequa- do com privacidade para estudos, reflexões. Retratos da desigualdade existente, independentemente de nível de ensino. O ensino superior segue um percurso similar ao esboçado. As atividades acadêmicas e o calendário escolar também ocupam o centro dos debates. Há que se restabelecer a interação com os alunos, porém, importa ampliar esse debate para questões de acolhimento que tome a vida e sua continui- dade como primordial, sem a qual todo o resto perde o significado. Entretanto, na UFMA, em meio a Minutas – maio/2020 e Resoluções (1998/2020 CONSEPE) vai sendo instituído o ensino remoto e híbrido, sem um debate amplo com a comunidade acadêmica. Os intervalos exíguos miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 195miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 195 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 196 entre um documento e o outro são reveladores de certa pressa em garantir o cumprimento do calendário, de forma excepcional, emergencial. Diferen- temente do estado de Pernambuco, que suspendeu aulas presenciais, mas, de imediato, iniciou aulas remotas, na universidade, até junho/2020, não houve aulas em nenhum formato. Foram mantidas atividades burocráticas, e promoção de formações para uso de ferramentas digitais. A Resolução 1998/2020 retoma as atividades acadêmicas virtual- mente, antecipando-se o calendário 2020.3, em caráter experimental. Perpassa nesse documento a ideia de flexibilização por se considerar o caráter emergencial e a excepcionalidade do momento. Institui-se tam- bém o uso de plataformas e ferramentas digitais disponibilizadas pelo G-Suite – serviço do Google, adquiridos pela Universidade. Pode-se destacar que a disponibilização da G Suite, serviço do Google, que oferece vários produtos Google que podem ser personalizados de forma in- dependente com o nome de domínio do cliente, possibilitou a conquista de uma antiga demanda da comunidade acadêmica de nossa Instituição, a de um e-mail institucional seguro, que ainda vem acompanhado de uma gran- de capacidade de armazenamento no Google Drive, entre outros valiosos benefícios dos produtos Google. (PORTAL UFMA, online). As implicações de tais aquisições, o favorecimento alargado de em- presas privadas detentoras do monopólio das comunicações no país, ins- taladas em todos os setores educacionais, atravessam o vivido. Importa entender que o cenário é favorável e que os espaços vêm sendo ocupa- dos. Os resultados? A história dirá. CONSIDERAÇÕES FINAIS A construção de outras formas pedagógicas, de se pensar a escola e sua relação com as tecnologias, se apresenta como iminente e urgente. Esta- mos nesse processo, o que não implica abrir mão do debate. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 196miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 196 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 197 As mudanças previstas e em curso na/para educação pública são preocupantes e podem inferir um eventual desmonte, com adoção de projetos antigos que antes não tinham muito espaço, como privatiza- ções e ampliação dos espaços da educação a distância. As fragilidades ultrapassam o aspecto cognitivo. Estão na ordem do emocional, do afetivo, das relações que nos constituem e nos subjeti- vam. Cabe questionar a aprendizagem, seus desdobramentos e garan- tias. Urge um olhar pedagógico e humanizado que perpasse por todas as ações já implementadas pelo governo de Pernambuco, do Maranhão e demais estados da Federação. O estabelecimento de parceria de redes de colaboração que ampliem os acessos e diminua as distancias entre grupos sociais no país, é um dos caminhos possíveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRUDA, Eucídio Pimenta. Educação Remota Emergencial: elementos para polí- ticas públicas na educação brasileira em tempos de COVID-19. EmRede, v. 7, n. 1, p. 257-275. Disponível em: https://www.aunirede.org.br/revista/index.php/emrede/article/view/621. Acesso em 04 de ago. 2020. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO – CNTE. Trabalho Docente em Tempos de Pandemia: relatório técnico. GESTRA- DO, UFMG. Disponível em: https://www.cnte.org.br/images/stories/2020/cnte_re- latorio_da_pesquisa_covid_gestrado_julho2020.pdf. Acesso em o4 de ago. de 2020. COLEMARX. Em Defesa da Educação Pública Comprometida com a Igualdade Social: por que os trabalhadores não devem aceitar aulas remotas. Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: http://www.colemarx.com.br/wp-content/uploads/2020/04/ Colemarx-texto-cr%C3%ADtico-EaD-2.pdf. Acesso em: 22/07/2020. BONILLA, Maria Helena Silveira, PRETTO, Nelson de Luca & SENA, Ivana Paula Frei- tas de Sousa. (orgs). Educação em Tempos de Pandemia: reflexões sobre as implicações do isolamento físico imposto pela COVID-19. – Salvador: edição do autor, 2020. PERNAMBUCO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E ESPORTES. PORTARIA SEE Nº 1160 DE 01 DE ABRIL DE 2020. Diário Oficial de Pernambuco. 02 de abr. 2020. Disponível em: https://anec.org.br/wp-content/uploads/2020/03/DOE- -PE-02.04.2020.pdf. Acesso em 03 de agos. 2020. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 197miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 197 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 198 PERNAMBUCO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E ESPORTES. Documento de Reorganização Curricular- 2020. Disponível em: http://www.educacao.pe.gov.br/ portal/upload/galeria/21557/REORGANIZA%C3%87%C3%83O%20CURRICU- LAR%20-%20ARQUIVO%20COMPLETO.pdf. Acesso em 30 de jul. 2020. SEVERINO, Antônio Joaquim. A Busca do Sentido da Formação Humana: tarefa da Filosofia da Educação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.3, p. 619-634, set./dez. 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ep/v32n3/a13v32n3.pdf. Acesso em 20 de agos. de 2019. SANTOS, Luane Neves, MOTA, Alessivânia Márcia Assunção & SILVA, Marcus Vi- nícius de Oliveira. A Dimensão Subjetiva da Subcidadania: considerações sobre a desigualdade social brasileira. PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2013, 33 (3), 700-715. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pcp/v33n3/v33n3a14.pdf. Acesso em 15 de jun. 2020. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. CONSELHO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO. Resolução nº 1998/2020 de 15 de maio de 2020. Dis- põe sobre o Calendário Acadêmico de 2020, as atividades de pós-graduação e o traba- lho remoto, no âmbito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em virtude da situação decorrente do Coronavírus (SARS-COV-2/COVID-19). Disponível em: http://www.ufma.br/portalUFMA/arquivo/JPlriC5dduZJRGW.pdf. Acesso em 27 de jul. de 2020. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. MATOS, Marcos Fábio Belo. Di- retora da DINTE Destaca Iniciativas, Novidades e Conquistas do Ensino Remoto e da EAD-UFMA. Disponível em: https://portais.ufma.br/PortalUfma/paginas/noti- cias/noticia.jsf?id=56347. Acesso em 30 de jul. de 2020. miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 198miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 198 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 199miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 199 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09 Este livro foi composto em Adobe Garamond Pro pela Editora Autografia e impresso em papel offset 75 g/m². miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 200miolo-educacaoeformacaoemtemposdepandemia.indd 200 2021-05-24 16:03:092021-05-24 16:03:09