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PROJETO MOBILIÁRIO II PROF.A MA. TALITA REZENDE TORCATO PEREIRA Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Luana Cimatti Zago Silvério Marta Yumi Ando Renata da Rocha Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Aliana de Araújo Camolez © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande re- sponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a socie- dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhec- imento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivên- cia no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de quali- dade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mer- cado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................5 1. ALÉM DO OBJETO: O MOBILIÁRIO COMO NECESSIDADE DE SE CRIAR O ESPAÇO INTERNO........................6 2. DA IDEIA AO PROJETO: PROJETAR COMO UM PROCESSO ................................................................................. 7 3. ETAPAS DE PROJETO .............................................................................................................................................. 10 3.1 LEVANTAMENTOS .................................................................................................................................................. 10 3.2 ESTUDOS PRELIMINARES ................................................................................................................................... 10 3.3 ANTEPROJETO ....................................................................................................................................................... 11 3.4 PROJETO EXECUTIVO ........................................................................................................................................... 11 4. CONCEPÇÃO DO PROJETO ..................................................................................................................................... 11 4.1 BRIEFING ................................................................................................................................................................ 12 CRIAÇÃO NO DESIGN MOBILIÁRIO: O INÍCIO E O PROCESSO PROF.A MA. TALITA REZENDE TORCATO PEREIRA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PROJETO MOBILIÁRIO II 4WWW.UNINGA.BR 4.2 ESTUDO DE CASO/ANÁLISE DE CORRELATOS ................................................................................................. 13 4.3 CONCEPT BOARD, MOOD BOARD, PAINEL SEMÂNTICO ................................................................................. 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................27 5WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Esta disciplina tem como propósito estudar a criação e a elaboração de projeto de mobiliário para o designer de interiores. Visto que o campo do design é bastante amplo e complexo, apresentamos de forma clara e gráfica a trajetória da criação de uma peça de design, desde a concepção da ideia até a sua produção. Tendo em vista que a disciplina anterior de projeto apresentou os conceitos fundamentais para o entendimento do design e do que é o mobiliário em relação ao espaço habitado, esta disciplina solidifica tais conceitos e os insere em normativas, desenhos e modelos, visando atingir o nível de projeto executivo. Nesta primeira unidade, discutiremos a criação como processo, suas etapas, fases e evoluções, o que devemos considerar quando pensamos em mobiliário e qual seu propósito, sem perdermos de vista o principal: o usuário. Observaremos as etapas de projeto e os estudos preliminares que dão suporte para todo o desenvolvimento do mobiliário. 6WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. ALÉM DO OBJETO: O MOBILIÁRIO COMO NECESSIDADE DE SE CRIAR O ESPAÇO INTERNO A partir do momento em que o ser humano deixou de ser nômade, por meio do domínio do plantio para subsistência, percebeu a necessidade de se fixar em um local para estabelecer um abrigo. As necessidades iam se alterando assim como as transformações no ambiente. Havia a agricultura, a domesticação dos animais e a comunidade. O interior do abrigo se transformava e evoluía para o local de habitar. O habitar uniu a técnica e as mudanças sociais. Aquilo que era visto apenas como utilidade de abrigar evoluía para espaço de convivência, alimentação, lazer, moradia (GLANCEY, 2001). O mobiliário foi fundamental para estabelecer essa relação de habitar, pois delimitou e classificou espaços, de forma a ser útil para as pessoas e compor ambientes. No caso da moradia, por exemplo, o mobiliário é determinante para as atividades do dia a dia. Os móveis, além de exercerem a função específica à qual são destinados – como uma cadeira que acomoda um indivíduo ou uma mesa de jantar que serve para o rito da alimentação em grupo – contribuem para compor física e esteticamente os ambientes. Ao tratar do ambiente doméstico, a escolha dos móveis tem a capacidade de tornar o espaço ‘habitável’, além de viabilizar e proporcionar conforto às tarefas domésticas, funciona como um veículo para expressar a personalidade do seu dono (FERNANDES, 2016, p. 49). O ambiente interior é mais do que abrigo, é determinante nas funções do dia a dia, local de relações sociais e de trabalho. Sua dinâmica foi se alterando conforme as mudanças sociais e econômicas. E foi a partir dos estudos das relações humanas com o espaço que os profissionais do design e da arquitetura começaram a entender a importância de promover os espaços. Até o século XIX, os estudos que envolviam o espaço e o ser humano eram pautados em dimensão do corpo, proporções, espaço e estrutura, partindo dos princípios de Vitrúvio – utilidade, beleza e solidez (PANERO; ZELNIK, 2013). As mudanças na arquitetura e no design se deram, com grande impacto, a partir do movimento moderno, iniciado na transição do século XIX para o XX, e no período pós-guerras. Tais mudanças promoveram questionamentos e estudos em torno da relação do homem com o trabalho e seus aspectos psicológicos (ARGAN, 1992; PANERO; ZELNIK, 2013). A arquitetura e o design de interiores foram – e são – determinantes para propiciar qualidade nos espaços internos. [...] ambientes físicos satisfazem nossa necessidade básica de abrigo e proteção; eles estabelecem o palco para maior parte de nossas atividades e influenciam suas formas; nutrem nossas aspirações e exprimem as ideias que acompanham nossas ações; afetam nossas vistas, humores e personalidades.O objetivo da arquitetura de interiores é, portanto, a melhoria funcional e a melhoria psicológica dos espaços internos (CHING; BINGELLI, 2015, p. 36). Logo, a partir do momento em que criamos ambientes, delimitamos espaços fisicamente. Esse é o principal foco e objeto do estudo do designer de interiores. O espaço externo não é esquecido, mas ele age como adversidade e interfere nas condições internas determinadas para o uso dentro de uma edificação (CHING; BINGELLI, 2015). 7WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA De forma resumida, o ambiente interno é resultado da relação entre usuários (suas percepções e necessidades), arquitetura, estrutura e mobiliário, a fim de proporcionar o melhor uso (ver Figura 1). Figura 1 – Diagrama de resumo do ambiente interno. Fonte: Adaptado de Ching e Bingelli (2015). Podemos concluir, junto de Booth e Plunkett (2015, p. 6) que, se não fosse o mobiliário, não haveria o interior, pois é a partir dele que ocorre “[...] a interação física entre os elementos internos e os usuários”, além do refinamento dos espaços internos de uma edificação, seja melhorando seu propósito funcional e/ou estético. 2. DA IDEIA AO PROJETO: PROJETAR COMO UM PROCESSO Projetar é uma palavra que permeia diversos campos do conhecimento e ainda envolve muita discussão e questionamento em torno de sua definição. Cada profissional tem um olhar sobre sua conceituação e método. No entanto, há que se concordar que a ação exprimida por ela não ocorre de um “surto criativo”, e sim de um processo de vivência, pesquisas, aprendizado e estudos. O projeto carrega uma grande responsabilidade. Nele se concentram muitas expectativas, condicionantes e adversidades. Para visualizar e entender todo o processo de projeto de mobiliário, sugerimos o vídeo Design Além da Forma | Móveis e Imóveis/EP4 | Meio & Mensagem, o qual apresenta uma perspectiva do design que vai além do mobiliário como um objeto de interiores. Ele discute as novas necessidades dos clientes, o design como experiência e como o Brasil está projetando. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6f7nrUtXk-Q. 8WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA [...] vários tipos de projeto lidam com ideias precisas e vagas, exigem pensamento sistemático e caótico, precisam de ideias criativas e cálculos mecânicos. No entanto, um grupo de campos parece ficar próximo do meio dessa série de atividades que envolvem projetos. Os campos tridimensionais e ambientais da arquitetura, do design de interiores, do desenho industrial e de produto, do urbanismo e do paisagismo exigem todos que o projetista gere produtos finais belos e também úteis, práticos e que funcionem bem. Nesses campos, na maioria dos casos, é provável que projetar exija considerável especialização e conhecimento técnico, além de imaginação visual e capacidade específica. Os projetistas desses campos geram objetos ou lugares que podem ter grande impacto sobre a qualidade de vida de muita gente. Os erros podem causar inconveniências graves e custos elevados, e podem até mesmo ser perigosos. Por outro lado, projetos muito bons podem se aproximar do poder que as artes plásticas e a música têm de elevar o espírito e enriquecer a vida (LAWSON, 2011, p. 16-17). Mesmo que um projeto seja elaborado por um projetista individualmente ou por um grupo, haverá caminhos a serem seguidos para que se obtenha um bom projeto. Ressaltamos que o termo “bom” varia de acordo com o previsto pelo projetista, pelo cliente e pela equipe, pois os critérios de avaliação são bastante subjetivos e, de certa forma, individuais. Pode parecer óbvio, mas há estratégias a serem seguidas no decorrer do processo de projeto. As fases e condicionantes dessa trajetória devem estar bem claras e definidas. Ching e Bingelli (2015) acreditam que o processo de projeto é cíclico e que é preciso rever todas as fases até a elaboração de um produto final (ver Figura 2). Figura 2 – Diagrama do processo de projeto segundo Ching e Bingelli. Fonte: Ching e Bingelli (2015). Enquanto Ching e Bingelli (2015) acreditam que o processo é cíclico e sempre pode ser revisto, Lawson (2011) defende que os processos ocorrem com idas e vindas, norteados pela análise (ver Figura 3). 9WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 3 – Diagrama do processo de projeto segundo Lawson. Fonte: Lawson (2011). Alguns autores concebem o projeto como algo que tem começo e fim, entradas e saídas e, de acordo com a complexidade e o objetivo final, isso se altera (LAWSON, 2011). Todavia, o propósito, aqui, não é determinar um caminho regular a seguir, e sim condicionantes e objetivos a serem contemplados durante o percurso. Ching e Bingelli (2015, p. 45) elencam objetivos e critérios que podem nortear o projetista, tais como função e propósito; utilidade, economia e sustentabilidade; forma e estilo; imagem e significado. Em primeiro lugar, a função desejada do projeto deve ser atendida e seu propósito deve ser alcançado. Em segundo lugar, um projeto deve apresentar utilidade, honestidade, economia e sustentabilidade na seleção e no uso dos materiais. O próximo passo é ser esteticamente agravável aos olhos e aos demais sentidos. Finalmente, o projeto deve construir uma imagem e promover associações que tenham significados para as pessoas que o usam e experimentam. A ordem dos critérios importa. Função e o propósito são os fundamentais e norteadores de qualquer projeto, enquanto os seguintes têm menor influência. Para se aprofundar e estudar metodologias de projeto, visando estimular a criatividade e soluções projetuais em diferentes tipos de projeto, indicamos o capítulo 1 da parte 1 do livro O processo de projeto em Arquitetura: da teoria à tecnologia, escrito e organizado pelos autores Dóris C. C. Kowaltowski, Daniel de Carvalho de Moreira, João R. D. Petreche e Marcio M. Fabrício. Além de ser bibliografia complementar da disciplina, é bastante amplo, pois aborda desde de a teoria e a prática de projetos arquitetônicos e de áreas correlatas até o design de interiores. 10WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3. ETAPAS DE PROJETO A elaboração de um projeto passa por um caminho que envolve processos, pessoas, vontades, expectativas, cronogramas, entre outros. Neste tópico, vamos estudar, de forma concisa, as etapas que podem ser seguidas para a concepção de uma ideia de projeto até chegar à produção dessa ideia. A área de design tem uma gama infinita de processos e trajetos a serem perseguidos até o resultado final. Nossa proposta baseia-se em autores de perspectiva sistemática e em normativas existentes para se criar um padrão e para que seja possível visualizar em que consiste em cada etapa. Além de leituras da área de design de produto, adotamos leituras da área de arquitetura, por ser, em diversas vezes, mais próxima do designer de interiores. Os projetos de interiores pertencem ao projeto arquitetônico, assim como o projeto de mobiliário pertence ao projeto de interiores, isto é, andam juntos, integrados, mas não são a mesma coisa. Há muita especificidade em cada área e profissionais cada vez mais especializados nessas particularidades. 3.1 Levantamentos É a fase que antecede a ideia do projeto. É o início de tudo. Os levantamentos são fundamentais para visualizar o que será o projeto, levantar as condicionantes e problemáticas para, a partir dessas informações, iniciar os estudos e propostas. Pode ser uma conversa com cliente, medições e, também, a junção de informações necessárias para se começar a pensar em projeto. 3.2 Estudos Preliminares Essa é a fase do início do processo de projeto, na qual é possível identificar o propósito da elaboração de tal mobiliário, os problemas a serem resolvidos, a viabilidade, fazer pesquisa da produçãoexistente e das tendências de mercado e de consumo. É a concepção do projeto. Nesse primeiro momento, o foco é conhecer as necessidades, estudar e elaborar diretrizes para alcançar o produto final do processo. Trata-se do que chamamos de estudo preliminar por meio de desenhos projetivos. Entender as condicionantes e finalidade de um projeto é fundamental para o resultado final de uma boa peça de mobiliário. Por isso, um processo de criação feito com levantamentos e estudos detalhados podem evitar percalços no caminho e um projeto considerado inadequado ou insatisfatório, sem uso. Nessa fase preliminar se inserem o briefing, o estudo de caso/análise de correlatos, os esquemas (diagramas, fluxogramas, organogramas) e o estudo preliminar. No briefing, encontram-se os levantamentos, necessidades e condicionantes. O estudo de caso/análise de correlatos tem como foco pesquisa, entendimento e análise do que foi feito e do que será proposto inicialmente. Os esquemas (diagramas, fluxogramas, organogramas) são elementos gráficos, mas não desenhos projetivos, isto é, servem para organizar ideias, processos, caminhos de maneira gráfica, mas não com o propósito de serem desenhos técnicos com medidas, escalas, cotas etc. 11WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA No estudo preliminar, elaboram-se desenhos, diagramas e esquemas gerados a partir da leitura de todos os percursos da concepção de um mobiliário. Trabalharemos as especificidades de cada fase de projeto no decorrer de toda a disciplina. Nesse primeiro momento, é necessário entender apenas os passos para se pensar em um projeto de mobiliário. 3.3 Anteprojeto É a etapa de desenvolvimento dos processos que foram discutidos e aprovados na etapa anterior e no estudo preliminar. De acordo com Odebrecht (2006), depois de todos os estudos realizados e da ideia formada, esse projeto precisa ser detalhado e representado conforme as normas técnicas. Dessa forma, o anteprojeto é a fase em que serão definidas as soluções projetuais e em que se iniciam os desenhos técnicos com rigor. Na Unidade III, trabalharemos todos os desenhos fundamentais para o anteprojeto de mobiliário. Abordaremos vistas, perspectivas, detalhamentos, memoriais. Os diagramas, esquemas, croquis e representações mais artísticas podem ser apresentados, mas o foco nessa etapa é o desenho técnico. 3.4 Projeto Executivo A etapa final e de detalhamento de um projeto é denominado projeto executivo. Nela se contemplam todos os desenhos e informações fundamentais para que o projeto seja realizado, com rigor técnico e detalhes mínimos. Caso a fase de anteprojeto tenha sofrido alteração em relação a alguma diversidade, no projeto executivo essa solução deve ter sido resolvida, pois não há mais tempo nem possibilidade de alteração. Vale sempre lembrar que a linguagem do projetista é o desenho técnico. Um projeto resolvido e bem detalhado, conforme as normas técnicas, será fielmente executado. Mesmo que o projetista não fale verbalmente com o executor do projeto, o mobiliário sairá conforme o projetado. Atente-se sempre ao desenho técnico! 4. CONCEPÇÃO DO PROJETO Adotamos a concepção do projeto como o início da materialização da ideia através de processo. É posterior aos levantamentos e pode ser denominada como o início da fase de estudos preliminares. 12WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4.1 BRIEFING Aprofundando-nos nas etapas de projeto, o briefing se insere nos estudos preliminares e no levantamento de um projeto. É o começo. A palavra briefing é derivada da palavra brief, que significa breve, curto, conciso, resumido. Briefing, de modo simplificado, é o ato de resumir, tornar algo conciso. No design, é uma das etapas dos projetos. Nela se definem os caminhos a serem tomados de acordo com o tipo de projeto, o prazo, o orçamento, as necessidades do cliente ou do produto, entre outros fatores. Geralmente, é aplicado por e em equipes de projetos. No caso do design, tem como objetivo visualizar a complexidade de todo o processo até chegar no produto final, evitando erros ou perdas, seja de verba ou de tempo. Para alguns profissionais da criação, o briefing é uma lista com descrição de tarefas, ou seja, um roteiro com ordem de afazeres, os quais devem ser ticados conforme sua realização. De fato, é uma ferramenta para que o planejamento estratégico funcione dentro da elaboração de uma peça ou produto de design (PHILLIPS, 2017). Na arquitetura e no design de interiores, o briefing é conhecido como Programa de Necessidades. Documento preliminar do projeto que caracteriza o empreendimento ou o projeto objeto de estudo, que contém o levantamento das informações necessárias, incluindo a relação dos setores que o compõem, suas ligações, necessidades de área, características gerais e requisitos especiais, posturas municipais, códigos e normas pertinentes (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1994, p. 2). Entretanto, ressaltamos aqui a diferença. O Programa de Necessidade é estabelecido pela ABNT em forma de norma e consiste em um documento exigido na apresentação técnica em arquitetura e urbanismo e é focado, basicamente, em estabelecer, de forma técnica, a quantidade de áreas e ambientes a serem contemplados num projeto. Exclui questões como orçamento e prazos no decorrer do processo de projeto. Todavia, como vimos anteriormente, o processo de criação não é linear e claro. Assim sendo, há entradas e saídas de ideias, prazos e alterações, os quais não eram possíveis prever no início do processo e na elaboração do briefing. De acordo com Phillips (2017, p. 26), “[...] não há formula única e universal para o briefing de design”, muito menos um padrão definido, mas ele poderá variar conforme a “[...] complexidade de um projeto e das especificações necessárias em cada caso” (PHILLIPS, 2017, p. 27). Ressaltamos, também, a importância de perceber que o briefing não é algo imutável, pois, se houver contratempos – muito comuns no processo de criação e no dia a dia dos profissionais de criação –, ele se transforma e se adapta para poder cumprir o objetivo inicial estabelecido pela equipe e ou pelo projetista (PHILLIPS, 2017). Diante disso, podemos entender o briefing como o ponto de partida para a descoberta de conceitos criativos. Ele pode ser realizado individualmente ou em equipe, pode ser forma de diagrama ou escrito. Em qualquer caso, é uma importante ferramenta no processo da elaboração de uma peça de design. E isso não se restringe ao design de mobiliário. Afinal, como saber se um briefing está correto? Basicamente, não há uma resposta direta para essa pergunta. O que é possível visualizar – principalmente após o término de um trabalho – é quando um item ou alguma adversidade deixou de ser contemplada no projeto e em todo o seu processo de desenvolvimento. Em se tratando de produto de design, é possível entender o erro de briefing quando o objeto materializado e comercializado não tem o impacto previsto inicialmente. Um bom briefing é aquele que consegue contemplar e alinhar a necessidade do mercado, as expectativas do cliente e como isso será realizado pelo projetista (ou equipe). 13WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O briefing deve auxiliar na construção do processo de criação e dar suporte. Nesse sentido, unindo as leituras de Phillip (2017) e de Ching e Bingelli (2015), chegamos aos pontos essenciais de um briefing para assessorar na elaboração de um projeto de mobiliário. • Natureza do projeto e contexto: Diz respeito a entender as necessidades do cliente, as oportunidades do mercado, os objetivos a serem cumpridos, os resultados desejáveis, as responsabilidades da equipe e a função de cada um (delegar tarefas). • Pesquisas: As pesquisas são realizadas para estabelecer referências, inspirações e, até mesmo, descartaras ideias daquilo que já foi realizado. Consistem em conhecer tudo que foi realizado sobre determinado assunto ou produto da natureza do projeto a fim de buscar inovação. • Público-alvo: Conhecer as características do público contemplado pelo projeto: sexo, gênero, idade etc. • Principais resultados visados pelo projeto: Compreender as restrições físicas, estéticas e técnicas, tendo em vista a expectativa e a realidade do cliente. • Tempo x orçamento: Alinhar prazos, tarefas e orçamento para tornar o projeto viável. • Apresentação: Organizar o que será exposto para o cliente, quais materiais devem ser elaborados e como devem ser apresentados. É claro que isso pode variar conforme sua aplicabilidade. Por exemplo, em um briefing de design gráfico, poderá ser contemplado o prazo de distribuição dos materiais, enquanto que no de design de mobiliário, o foco poderá ser orçamento. Existem profissionais que optam por fazer do briefing um checklist, isto é, uma listagem de tarefas, necessidades do cliente e afazeres, tornando o trabalho mais objetivo e direto. Em contraposição, Phillips (2017) afirma que isso pode prejudicar o andamento do processo e causar erros e perda de integração em um determinado projeto. 4.2 Estudo de Caso/Análise de Correlatos O verbo projetar vai muito além da ideia de “surto criativo”. Claro que as áreas de criação têm um cunho artístico muito evidente, mas o artista como alguém impulsivo, que sonha com projetos inovadores é algo mais distante do que se imagina. O projeto é resultado da construção de um caminho que envolve pesquisas, conversa com cliente e equipe para entender as necessidades, análise dos dados obtidos, processo de produção e, é claro, a intuição do profissional. A pesquisa é uma das fases fundamentais e recorrentes em todo o processo de criação, seja de uma peça ou de um projeto. Está inserida em quase todos os processos de criação, mesmo que intuitivamente. Além disso, a pesquisa é fundamental para se entender o que já foi feito sobre determinado assunto, o que deu certo ou não, quais materiais podem ser aplicados para determinados usos, tendências estéticas. A pesquisa é pertencente ao processo de projeto na elaboração do briefing e também em todo o percurso de elaboração de uma peça e/ou objeto de design. Aqui optamos por especificá- la em um item à parte, pois propomos um método no qual a pesquisa é aplicada no estudo de caso e na análise de correlato. Essa fase é fundamental e norteadora para o projeto, pois é nesse momento que se buscam referências estéticas ou soluções projetuais. 14WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Os termos estudo de caso e análise do correlato são usados, principalmente, nas áreas de arquitetura e urbanismo e de design de interiores. Consistem em uma pesquisa esmiuçada de um determinado tema, técnica ou material para que seja possível adotá-lo no projeto ou como inspiração. É uma pesquisa na qual é feita uma análise crítica a respeito de tudo que foi realizado sobre um determinado tema, a fim de absorver soluções que foram efetivas e descartar as que deram errado. Sua finalidade é entender como isso tudo pode ser aplicado em um projeto e como pode nos auxiliar com a elaboração do nosso produto final, seja projeto, peça ou objeto. De forma simplista e resumida, a análise de correlato seria a somatória da observação, da análise e da crítica de um projeto para se chegar a sua contextualização. Outro ponto importante é que a análise e/ou o estudo de correlatos não são feitos em projetos ou objetos escolhidos a esmo, pois há a necessidade de se estabelecerem critérios em relação ao tipo do projeto, à finalidade, ao uso, bem como se é compatível com a proposta de estudo preliminar. Caso contrário, essa análise pode não contribuir para seu desenvolvimento e processo de criação. Por exemplo, um projetista é convidado para projetar mobiliários flexíveis para habitações de interesse social. Foram estabelecidas duas condicionantes: baixo custo do mobiliário e flexibilidade de uso. Para que esse projetista possa ter referências úteis, aconselharíamos a buscar correlatos com materiais alternativos, soluções sustentáveis e projetos focados em áreas reduzidas de baixo custo. Identificar aquilo que se pode aproveitar de projetos já realizados é diferente de copiar soluções, implica aprimorar resultados bem-sucedidos já alcançados e pode auxiliar o projetista em ideias inovadoras. A seguir, temos um exemplo de análise de correlato de uma obra do arquiteto Le Corbusier. O estudante fez uma pesquisa sobre o profissional, a obra, sua localização, identificou condicionantes, áreas e setores, analisou a forma para entender o que o profissional havia pensado e como ele resolveu em projeto (ver Figura 4). 15WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Há uma tendência de estudos de caso de acompanhar as mudanças sociais e ambientais no mundo, de forma a encontrar na natureza soluções para problemas das pessoas no cotidiano. É o biomimetismo. Tal ideia consiste em identificar soluções de projetos e processos na natureza que podem ser aplicadas em áreas como design, arquitetura e engenharia. A palavra biomimetismo é derivada de “vida” e de “imitação”. Assim, pode ser entendida como a apropriação de soluções criadas pela natureza e a transposição para a sua área de conhecimento. Um exemplo aplicado no design de mobiliário é a poltrona Fago. Projetada pela dupla brasileira Roberto Hercowitz e Mariana Betting, do escritório emDoisdesign, essa poltrona se baseou na estrutura do casulo que protege a mariposa. Eles se inspiraram tanto na estrutura em trama, a qual confere leveza e sustentação, quanto na forma do casulo, que oferece conforto e proteção a quem estiver dentro do invólucro (ver Figura 5). Para saber mais, leia o texto Aliando teoria e prática: um exame da metodologia de ‘Análise Arquitetônica’ aplicada em disciplinas de Teoria e História de Arquitetura, publicado na Revista de Arquitetura IMED. Disponível em: https://seer.imed.edu.br/index.php/arqimed/article/view/1930. Figura 4 – Análise de correlato em arquitetura. Fonte: Gurgel (2017). 16WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 5 – Casulo de mariposa. Fonte: Cremer (2019). Os sócios do emDoisdesign projetaram a poltrona Fago utilizando o casulo como solução técnica e formal. A justificativa adotada por eles foi que, no período de elaboração do projeto, havia uma crise econômica ecoando no mundo e as pessoas precisavam se sentir protegidas e abraçadas. Dessa forma, pensaram em um mobiliário que servisse de conforto e proteção por meio do design do casulo. Utilizaram como matéria prima a madeira, que possui uma boa resistência mecânica e é bastante acessível no Brasil, promoveram a flexão de peças finas para alinhá-las ao formato curvo, de forma a apresentar um leve e resistente, tanto no aspecto estrutural quanto estético (ver Figuras 6 e 7). Esta poltrona foi criada seguindo a tendência de cocooning, ou seja, as pessoas, em tempos de crise e instabilidade financeira, tendem a buscar recolhimento, aconchego e sensação de conforto. É isso que apresentamos aqui. Uma peça que envolve o usuário sem sufocá-lo, utilizando-se da leveza e sinuosidade formada pelas ripas curvadas de madeira e aproveitando para auxiliar uma vez mais na preservação ambiental, fazendo uso de pouca matéria prima na construção do móvel (EMDOISDESIGN, 2011). 17WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 6 – Frente da poltrona Fago. Fonte: emDoisdesign (2011). Figura 7 – Face posterior da poltrona Fago. Fonte: emDoisdesign (2019). 18WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Em 2011, na Alemanha, a peça concorreu ao IF Product Design Award –o maior prêmio do design mundial – e foi vencedora. Concluímos que a pesquisa é uma das fases mais importantes na elaboração de um projeto, pois dá o suporte e a sustentação de todo o processo criativo. É nela que se estabelecem os caminhos a seguir, as soluções mais viáveis, a estética adotada, o gasto em decorrência de determinada solução adotada. Diante disso, desmistifica-se a ideia de que a criação é resultado de um “surto criativo” e evidencia-se que ela é, na verdade, produto de um processo de estudo. 4.3 Concept Board, Mood Board, Painel Semântico O concept board, ou mood board, ou painel semântico são os nomes dados a um quadro de ideias e inspirações que não tem sua origem em algum campo específico, mas é largamente utilizado por profissionais de todos os âmbitos da criação. Apesar de a nomenclatura e tradução se alterarem, os termos exprimem o mesmo propósito e objetivo. Sua nomenclatura se altera conforme a área. É uma das estratégias projetuais mais comuns utilizadas por profissionais da arquitetura, do design de interiores, do design de mobiliário, do design gráfico, da moda etc. A finalidade é expor, de forma gráfica, o pensar criativo para um determinado projeto, peça ou objeto. Nele, as restrições e variáveis de prazo e custo não são expostas, porém, devem ser tratadas nas possibilidades de escolha dos materiais. Isto é, a escolha de um material para pode ser mais viável tendo em vista o custo, a retirada e aplicabilidade em relação a outro. O mais viável pode ser o mais adequado para a inserção no projeto e aplicado no quadro semântico. De acordo com Arruda (2019), o mood board também é conhecido como “painel conceitual” e pode ser elaborado de forma intuitiva com o propósito de expor ideias e combinar texturas e padrões para facilitar na visualização de um projeto ou de um objeto. Auxilia o profissional e/ou equipe a visualizar os caminhos e pretensões a serem seguidos para determinado trabalho. Pode ser alterado no meio do processo de criação e não é necessária sua apresentação ao cliente. Ele é útil no sentido de ajudar a entender o caminho tomado durante o processo criativo. A montagem do concept board, mood board ou painel semântico nada mais é do que expor, de forma gráfica, em um quadro, as inspirações, texturas, cores, tema e o que for visualmente relevante para se apresentar ao descrever o caminho que foi percorrido para chegar a um determinado modelo ou tipo (ver Figura 8). Figura 8 – Mood board de um ambiente interno. Fonte: Arruda (2019). 19WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA No mood board da Figura 8, os recortes e objetos de um ambiente interno não são apenas referências ligadas ao design, como o mapa-múndi, as plantas, as pedras etc. São, antes disso, um padrão, pois não há necessidade de expor elementos que tenham relação direta com o design de mobiliário ou interiores, e sim que façam alusão às ideias pensadas pelo projetista. A criação por meio de recortes e colagens em quadro é um dos artifícios mais utilizados como metodologia de projeto pela designer britânica Ilse Crawford. Atualmente, ela é diretora criativa e proprietária do estúdio que leva seu nome, Studio Ilse, em Londres. Em um recente documentário, apresentou seu processo de criação concept board, o qual classifica como fundamental para desenvolver projetos e os apresentar à sua equipe como forma de expressar aquilo que vislumbra para cada interior projetado. Na Figura 9, é possível identificar um concept board de um de seus projetos. Ele contém referências que vão de cor e textura a cenas de filmes, estilos, sentimentos e emoções. Figura 9 – Quadro de referências do projeto Kettners afixado nas paredes do Studio Ilse. Fonte: Meredith (2010). Recomendamos que assista ao documentário citado. Foi produzido pela Netflix, em 2017, e se chama Abstract: The Art of Design. A participação da designer Ilse Crawford se dá no episódio final. 20WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Falando brevemente do projeto do Kettners, esse espaço era um lendário restaurante inglês, cujo dono era chef de Napoleão na França, e precisava de uma repaginada, sem deixar que sua história, iniciada em 1867, se perdesse. O projeto consistiu em trazer a nostalgia dos tempos passados com elementos contemporâneos, criando uma atmosfera clássica, a fim de que as pessoas tivessem uma experiência relacionada àqueles tempos gloriosos do passado (KOMNINOU, 2010). Veja informações detalhadas e justificativa da escolha do design para os ambientes do projeto Kettners. Disponível em: https://www.yatzer.com/KETTNERs-by-studioilse-Reinventing-a-Legend. Como forma de treinar o olhar crítico em torno processo de concepção a partir de um painel semântico, veja as Figuras 10 e 11, que representam um dos ambientes do projeto, e faça um comparativo com o concept board da Figura 9. Pense em como as referências gráficas exploradas pela designer foram absorvidas e apresentadas no projeto. 21WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 10 – Champagne bar do Kettners, por Studio Ilse. Fonte: Raeside (2010). 22WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 11 – The Brasserie do Kettners, por Studio Ilse. Fonte: Raeside (2010). 23WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Desenhos não Projetivos: Diagramas, Esquemas, Fluxogramas e Organogramas A adoção da nomenclatura “desenhos não projetivos” é decorrente da NBR 1067/1989, a qual define os termos no desenho técnico e descreve tais desenhos como representações gráficas de desenvolvimento de projeto. Os desenhos não projetivos são fundamentais para a elaboração do projeto. No entanto, se forem suprimidos, não atrapalharão na leitura do produto final. Neles estão incluídos os diagramas, esquemas, ábacos ou nomogramas, fluxogramas, organogramas e gráficos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1989). Odebrecht (2006) classifica esses itens na fase dos estudos preliminares e os denomina como “esquematizações”, que são diagramas, esquemas, fluxogramas e organogramas. Apesar de não serem consideradas obrigatórias no projeto executivo, essas representações são importantes para descrever a trajetória percorrida para a solução adotada em um determinado projeto. É importante salientar que esses desenhos não são exclusivos da fase de estudos preliminares, pois podem ser artifícios de representação gráfica para a apresentação ao cliente na fase de anteprojeto. No caso de concursos, esses desenhos são importantes para enaltecer as soluções projetuais adotadas e esclarecer o caminho adotado pelo projetista. Da necessidade de conceituar, expor e abstrair, foi que as pessoas que trabalham com criação aderiram a novos modos de expressar os caminhos e decisões acerca do desenvolvimento de um projeto. Os diagramas vêm da necessidade de sistematizar e expor as adversidades e pensamentos projetuais. São instrumentos que auxiliam na elaboração de um projeto e podem ser um dos pontos de partida para a concepção de uma ideia (MONTANER; PAZ, 2017). Já os esquemas são representações com foco em explicitar as relações e funções de determinado projeto (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1989). Apesar da nossa necessidade de classificação única e objetiva, Montaner e Paz (2017) acreditam que há muitas definições e abordagens para diagrama, e isso exige cuidado. [...] deve-se ter cautela com a diversidade de usos e conceito. O significado de diagrama, portanto, não é unívoco, e sim polissêmico, não é estático, e sim evolutivo: os diagramas fazem parte de um contínuo cognitivo em evolução e são de caráter vetorial. Em geral, existe uma grande variedade de diagramas, expressa em atividades e disciplinas muito diversas (MONTANER; PAZ, 2017, p. 9-10).A seguir, um diagrama de conclusão de uma tese sobre a flexibilidade do mobiliário e a experiência do usuário, no qual a autora identifica os requisitos e as condicionantes e os relaciona, utilizando como método o diagrama, para expor as relações entre as variáveis e como o design de mobiliário de uso flexível se insere no todo (ver Figura 12). 24WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 12 – Diagrama de enquadramento temático das conclusões da tese sobre mobiliário de uso flexível. Fonte: Gomes (2017). E para demonstrar que diagramas também podem ser aplicados em relação ao estudo da composição, trouxemos uma representação de evolução do estudo um projeto arquitetônico (Figura 13). Ele mostra três primas assimétricos compondo um único elemento, de modo a se priorizarem determinadas faces para contemplar as soluções de fluxo pensadas pelo projetista. Figura 13 – Diagrama de composição, forma e fluxo. Fonte: AD Magazine (2019). 25WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O organograma é uma representação gráfica bastante utilizada em áreas da administração de empresas, ramos empresariais, marketing com o propósito de representar uma estrutura com hierarquia, funções, seguindo uma ordem. No design de interiores, a utilização do organograma consiste em organizar por ordem hierárquica o processo de projeto ou a disposição do ambiente interno (ver Figura 14). Figura 14 – Exemplo de diagrama. Fonte: Higgins (2012). Fluxograma consiste em [...] um esquema, representado graficamente através de setas, que demonstra a quantidade ou o roteiro de fluxo de pessoas, de materiais, de operações ou de produtos. É uma sequência de atividades ou de rotinas de trabalho. Devem ser analisados aspectos de sobreposição, cruzamentos e intensidade de fluxos (ODEBRECHT, 2006, p. 25). 26WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 15 – Exemplo de fluxograma. Fonte: Higgins (2012). Para melhorar a representação de esquemas e diagramas visando à apresentação de projeto, leia o artigo Esquemas e diagramas: 30 exemplos de como organizar, analisar e comunicar projetos, de Fabian Dejtiar. Disponível em https://www.archdaily.com.br/br/870168/esquemas-e-diagramas-30-exemplos- de-como-otimizar-a-organizacao-analise-e-comunicacao-do-projeto?ad_ medium=gallery. 27WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta primeira unidade da disciplina de Projeto de Mobiliário II, falamos sobre a evolução do espaço interior, que foi de abrigo para habitação, e como o mobiliário teve extrema importância para determinar isso. Posteriormente, vimos que projetar vai além do “surto criativo”, envolve processos os quais, muitas vezes, ocorrem concomitantemente. Além disso, classificamos as etapas de projeto – levantamentos, estudos preliminares, anteprojeto e projeto executivo – a fim de dar suporte para o entendimento inicial a respeito de cada processo. Por fim, a Unidade I tratou da concepção do projeto. Para isso, retomamos os conceitos inicialmente abordados, com ênfase no processo de concepção do projeto, e definimos as abordagens e ferramentas para o desenvolvimento dessa fase. Fizemos aplicações e sugestões de modos de trabalhar a partir da bibliografia referenciada. 2828WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 30 1. PESSOA COMO CONDICIONANTE: O DESIGN É PARA QUEM? ......................................................................... 31 1.1 ANTROPOMETRIA E ERGONOMIA ..................................................................................................................... 31 1.1.1 COMO APLICAR OS DADOS ANTROPOMÉTRICOS NO DESENVOLVIMENTO DE UM MOBILIÁRIO? ........ 34 1.2 DESENHO UNIVERSAL ........................................................................................................................................ 35 1.2.1 COMO OS SETE PRINCÍPIOS DO DESENHO UNIVERSAL SE APLICAM AO PROJETO DE UM MOBILIÁRIO?.. ........................................................................................................................................................... 35 1.2.2 COMO APLICAR O DESENHO UNIVERSAL EM PROJETO DE INTERIORES E MOBILIÁRIO? ..................... 36 1.3 LEGISLAÇÕES ........................................................................................................................................................ 37 1.3.1 NBR 9050 ............................................................................................................................................................ 37 OS USUÁRIOS, AS CONDICIONANTES E O MOBILIÁRIO: ERGONOMIA, ESTÉTICA, FUNÇÃO E FATORES ECONÔMICOS PROF.A MA. TALITA REZENDE TORCATO PEREIRA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PROJETO MOBILIÁRIO II 29WWW.UNINGA.BR 1.3.2 NR 17 ................................................................................................................................................................... 37 2. ESTÉTICA ............................................................................................................................................................... 38 2.1 FORMA ................................................................................................................................................................... 38 2.2 CORES E TEXTURAS ............................................................................................................................................ 39 3. FUNÇÃO .................................................................................................................................................................. 45 4. FATORES ECONÔMICOS ...................................................................................................................................... 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................................... 48 30WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Se na unidade anterior autores como Booth e Plunkett (2015) afirmam que sem mobiliário não há espaço interno, aqui vamos ao cerne da questão ao levantar a importância do usuário no mobiliário. Afinal, sem o usuário não existiria a necessidade de desenvolver mobiliário. Para isso, precisamos entender como as pessoas usam o mobiliário, quem são essas pessoas, suas particularidades e necessidades. Dessa forma, entender as pessoas e as condicionantes que as influenciam, tanto na percepção quanto em suas relações sociais e com o espaço, é fundamental para a elaboração de um projeto de mobiliário. A afirmação de Gurgel (2014, p. 149, grifo nosso) resume bem o que vamos discutir nesta unidade: “[...] ao escolher o mobiliário para um projeto, leve em conta suas características ergonômicas, sua composição estrutural, seu impacto visual e psicológico e sua relação custo- benefício”. Concordamos com a autora e acrescentamos: para projetar um mobiliário, devemos considerar as características ergonômicas e a antropometria dos usuários, a composição estrutural integrada à escolha do material, o impacto visual e psicológico, sem nos esquecermos da relação custo-benefício e da sustentabilidade. 31WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. PESSOA COMO CONDICIONANTE: O DESIGN É PARA QUEM? Conforme visto na unidade anterior, a pessoa foi considerada uma condicionante. No entanto, a pessoa é mais que isso, pois é para ela que se projeta, é de acordo com o seu ponto de vista que um designé bom ou ruim e é ela que vai utilizar ou não determinado objeto ou peça. A pessoa é fundamental em todos os projetos, visto serem afetados por sua visão, sua experiência, suas necessidades e suas diferenças. Não é possível generalizar nem imaginar que todos tenham a mesma necessidade, mas todos têm o mesmo direito à autonomia para desenvolver suas tarefas diárias e viver de forma livre. Quando pensamos em design de mobiliário, devemos considerar as particularidades das pessoas, como gênero, idade e mobilidade. As diferenças apontadas interferem diretamente nas dimensões dos objetos a serem projetados, sem contar que diferentes locais do mundo têm pessoas com diferentes estaturas. Logo, devemos considerar a localização onde determinado projeto de mobiliário será realizado, assim como a cultura e o comportamento, a fim de desenvolver um projeto que seja adequado para determinadas condicionantes e, principalmente, utilizado pelos usuários. 1.1 Antropometria e Ergonomia Para se projetar pensando nas pessoas, suas individualidades e necessidades, há que se levar em consideração fatores dimensionais, como é o caso da ciência denominada antropometria. Nem sempre conseguimos contemplar as medidas de todos os públicos para projetar um determinado móvel, mas temos de levar em consideração as adversidades e possibilidades que a antropometria propõe para elaborar um bom projeto. Sobre isso, definem Panero e Zelnik (2013, p. 38): “[...] os dados antropométricos adequados baseiam-se no problema específico de cada projeto. Se o projeto requer que o usuário alcance algo a partir de uma posição em pé ou sentada”. A função do mobiliário e o entendimento do seu público-alvo são determinantes para saber quais medidas antropométricas adotar para o projeto. O que chamamos de público-alvo Panero e Zelnik (2013) definem como fatores de influência. Esses são os diferentes perfis, culturas, gêneros e idades das pessoas. Apesar disso, os autores enfatizam que as medidas corporais mais importantes são altura, peso, altura quando sentado, comprimento nádegas-joelho e espaço livre para as pernas, conforme demonstrado na Figura 1. 32WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 1 – Medidas corporais de maior uso dos designers. Fonte: Panero e Zelnik (2013). Os autores Panero e Zelnik (2013) e Ching e Bingelli (2015) definem a antropometria como o estudo e especificações das dimensões humanas para diferentes públicos e indivíduos e classificam essas dimensões em estruturais, funcionais e ocultas. As dimensões estruturais são consideradas estáticas; são as medidas da cabeça, do tronco, dos membros em posições padronizadas. As dimensões funcionais são dinâmicas, isto é, medidas tomadas em posições de trabalho ou durante um movimento associado a uma tarefa (ver Figura 2). 33WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 2 – Dimensões estruturais e funcionais. Fonte: Ching e Bingelli (2015). As dimensões ocultas são as medidas aplicadas em escala de aproximação e tipo, ou seja, podem se alterar nos âmbitos íntimo, pessoal, social e público (PANERO; ZELNIK, 2013). Ching e Bingelli (2015, p. 51) definem a antropometria similarmente a Panero e Zelnik (2013) e a classificam como: • Zona íntima: permite o contato físico; a invasão por um estranho pode resultar em desconforto. • Espaço pessoal: permite a aproximação dos amigos e possivelmente o ingresso breve nos limites mais íntimos; é possível conversar em níveis baixos de voz. • Zona social: apropriada para negociações informais, sociais e profissionais; a comunicação ocorre sob níveis de voz normais a aumentados. • Zona pública: aceitável para relacionamentos de comportamento formal ou hierárquico; são necessários níveis de voz mais altos com enunciados mais claros. No âmbito das medidas aplicadas à antropometria, Panero e Zelnik (2013) estabelecem duas categorias, medidas interpessoais e movimento corporal, a fim de se projetar pensando nas pessoas, suas relações sociais e esferas sociais e privadas no espaço. As medidas interpessoais são relacionadas a sentimentos, conforme as relações humanas. São subjetivas, mas quantificadas, com o propósito de aplicá-las no mobiliário por meio de um design mais assertivo (Figura 3). 34WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 3 – Dimensões das relações sociais. Fonte: Gurgel (2014). Movimento corporal é a dimensão quantificada enquanto as pessoas se movimentam, sozinhas ou quando praticando interações sociais (PANERO; ZELNIK, 2013) (ver Figura 4). Figura 4 – Dimensões mínimas das pessoas em movimento. Fonte: Gurgel (2014). 1.1.1 Como aplicar os dados antropométricos no desenvolvimento de um mobiliário? Após o estudo das relações pessoais e o entendimento da função a ser aplicada ao projetar determinado mobiliário, chegamos à ergonomia. A ergonomia é o estudo das dimensões dos seres humanos, nas esferas pública e privada, quantificadas de modo a promover o melhor desenvolvimento das atividades do cotidiano (GURGEL, 2014). A ergonomia e a proporção das variáveis acima trabalhadas são determinantes para o desenvolvimento de um mobiliário. 35WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.2 Desenho Universal Sabendo que projetar consiste em um campo amplo e complexo, com variáveis subjetivas e também quantificáveis, um designer precisa conhecer as particularidades do que o cerca para projetar de forma a atender a todos os usuários. Um desses propósitos é denominado desenho universal. Esse conceito foi utilizado pela primeira vez na década de 1990, nos Estados Unidos, quando um grupo de arquitetos e designers, defensores de um design mais humano, reivindicaram e estabeleceram parâmetros para um desenho que pudesse atender a todos, sem restrições (SÃO PAULO, 2010). O grupo determinou sete princípios do desenho universal, que são: • Uso equitativo: Consiste em promover o uso de espaços, objetos e produtos para todas as pessoas, independentemente de sua capacidade ou necessidade. O propósito é evitar segregação, tornar todo usuário autônomo e de forma segura. • Uso flexível: Tem como propósito tornar espaços, sistemas e objetos flexíveis e adaptáveis às diferentes necessidades de usuários com diferentes habilidades e preferências. • Uso simples e intuitivo: Consiste em desenhar de forma clara e sem complicações, visando a uma fácil compreensão e apreensão do usuário perante espaço, objeto, independentemente de sua experiência, de seu grau de conhecimento e habilidade. • Informação de fácil percepção: Facilitar a utilização de espaços e produtos, disponibilizando meios de comunicação que sejam claros e fáceis, principalmente para usuários com dificuldade de audição, visão, cognição ou pessoas que não se comunicam em nossa língua nativa, como estrangeiros. • Tolerância ao erro: Priorizar a segurança dos usuários na utilização de espaços e objetos, além de minimizar riscos de acidentes, por meio da escolha de elementos, acabamentos e materiais seguros. • Esforço físico mínimo: Como o nome define, esse princípio consiste em “[...] dimensionar elementos e equipamentos para que sejam utilizados de maneira eficiente, segura, confortável e com o mínimo de fadiga” (SÃO PAULO, 2010, p. 20). • Dimensionamento de espaços para acesso e uso abrangente: Projetar e dimensionar espaços de forma que seu uso e seu acesso sejam confortáveis para todos, independentemente necessidade ou habilidade, possibilitando a autonomia do usuário; proporcionar o uso de acomodações cujas dimensões ergonômicas permitam diversos usos. 1.2.1 Como os sete princípios do desenho universal se aplicam ao projeto de um mobiliário? Antes de tudo, vale a pena lembrar que um projeto de mobiliário tem o propósito inicial advindo do cliente ou de uma necessidade. Apesarde ser preciso projetar pensando em todos os públicos e necessidades, há projetos que não contemplam os princípios de desenho universal, por não o terem como propósito inicial. Por exemplo, um cliente solicita a elaboração de uma chaise longue conceitual para uma exposição temporária. O projeto da peça se assemelhará a uma obra de arte. Logo, talvez não contemple a utilização por parte de todos os públicos. Todavia, salientamos que isso é excepcional. 36WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.2.2 Como aplicar o desenho universal em projeto de interiores e mobiliário? Os princípios do desenho universal são preceitos estabelecidos não apenas no desenho, mas na sociedade como um todo. Tornar a vida das pessoas mais inclusiva, fácil e autônoma é função social de um profissional do design. Afinal, desenho e projeto são feitos por pessoas e para pessoas. Em contrapartida, há normas que estabelecem determinados fatores e dimensões para que isso se torne possível e obrigatório. Um exemplo é a altura de armários e gavetas nos mobiliários. No caso da cozinha da Figura 5, a altura ideal para a utilização do móvel por uma pessoa usuária de cadeira de rodas tem de respeitar o alcance de suas mãos, assim como o gaveteiro da mesa de escritório da Figura 6. Ambos têm de ser pensados para promover a autonomia. ] Figura 5 – Cadeirante realizando atividades cotidianas na cozinha de forma autônoma. Fonte: São Paulo (2010). Figura 6 – Cadeirante utilizando armário. Fonte: São Paulo (2010). 37WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.3 Legislações As legislações servem para tornar regulares as necessidades e preceitos básicos para a vida em sociedade. No campo do mobiliário, somado às condicionantes, encontram-se duas normativas fundamentais, a ABNT NBR 9050, denominada Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos e a Norma Regulamentadora 17 - Ergonomia. 1.3.1 NBR 9050 A Norma Brasileira 9050, cuja última edição foi em 2015, estabelece [...] critérios e parâmetros técnicos a serem observados quanto ao projeto, construção, instalação e adaptação do meio urbano e rural, e de edificações às condições de acessibilidade. [...] Esta Norma visa proporcionar a utilização de maneira autônoma, independente e segura do ambiente, edificações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2015, p. 1). Ela contempla, basicamente, o que foi previsto nos preceitos de desenho universal, mas com o caráter de normativa, isto é, obrigatoriedade do seu cumprimento em projetos, construções etc. Ela abrange mobiliários urbanos, mobiliários para espaços públicos e mobiliários do dia a dia. Mais do que o dimensionamento do mobiliário, essa norma estabelece distâncias mínimas de circulação para todos os tipos de pessoas e necessidades, propõe tipos de acabamentos e materiais adequados para diferentes panoramas e necessidades (ver Figura 7). Figura 7 – Dimensões mínimas das pessoas que utilizam bengalas, andadores e muletas para se locomover. Fonte: Gurgel (2014). 1.3.2 NR 17 As Normas Regulamentadoras (NR) são um conjunto de requisitos relativos à segurança e medicina do trabalho, de aplicação obrigatória em todas as empresas (privadas, públicas e órgãos do governo) (BRASIL, 1978). A NR 17 consiste em estabelecer [...] parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente (BRASIL, 1978). Essa norma aplica a ergonomia com o propósito de promover qualidade no desenvolvimento das ações no trabalho e reduzir acidentes. 38WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Sobre os mobiliários, a norma prevê que devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura, visualização e operação, conforme dados antropométricos e ergonômicos (BRASIL, 1978). A seguir, lemos o item 17.3 da NR 17, que trata do mobiliário dos postos de trabalho: 17.3.1 Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para esta posição. 17.3.2 Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé, as bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura, visualização e operação e devem atender aos seguintes requisitos mínimos: a) ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura do assento; b) ter área de trabalho de fácil alcance e visualização pelo trabalhador; c) ter características dimensionais que possibilitem posicionamento e movimentação adequados dos segmentos corporais. 17.3.2.1 Para trabalho que necessite também da utilização dos pés, além dos requisitos estabelecidos no subitem 17.3.2, os pedais e demais comandos para acionamento pelos pés devem ter posicionamento e dimensões que possibilitem fácil alcance, bem como ângulos adequados entre as diversas partes do corpo do trabalhador, em função das características e peculiaridades do trabalho a ser executado. 17.3.3 Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos mínimos de conforto: a) altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida; b) características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento; c) borda frontal arredondada; d) encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar. 17.3.4 Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados sentados, a partir da análise ergonômica do trabalho, poderá ser exigido suporte para os pés, que se adapte ao comprimento da perna do trabalhador. 17.3.5 Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de pé, devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante as pausas (BRASIL, 1978). 2. ESTÉTICA As condicionantes atuam diretamente na produção do produto final. A estética paira no campo da subjetividade, contempla forma, cor, textura e o olhar artístico do designer. É resultado das referências pessoais de cada projetista e das pesquisas e análise de correlatos, como abordamos na unidade anterior. 2.1 Forma É gerada a partir do plano do desenho. Pode se iniciar de pontos e linhas e evoluir para figuras, composições, volumes etc., a depender do modo de representação. Se for bidimensional, as formas são expressas por desenhos, por exemplo. Se for tridimensional, são expressas por volume, maquete. Na Figura 8, Montenegro (2007) define que o bidimensional seria o plano, enquanto o tridimensional seria o espaço. Dessa maneira, a representação de uma forma no plano pode ser por meio de: 39WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA • Pontos. • Linhas (retas e curvas). • Figuras (simples, compostas, pedaços de planos). No espaço, as formas são denominadas: • Superfícies: cônicas, cilíndricas, esféricas, reversas. • Volumes: lâminas, barras, cubos, primas, cilindros e cones. Figura 8 – Resumo das formas. Fonte: Montenegro (2007). 2.2 Cores e Texturas Quem trabalha com cores deve conhecer seu poder de influência nos sentimentos. As cores podem atuar a fim de produzir determinados efeitos. Por exemplo, aplicar cores fortes e contrastantes em locais de longa espera pode gerar incômodo em vez de tranquilidade. Em relação ao mobiliário, um exemplo seria a aplicação de um mobiliário da mesma cor neutra do ambiente em um local que deveria atrair crianças em processo de formação cognitiva. A criança é, em geral, atraída por de cores primárias e sólidas(HELLER, 2013). 40WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Além do mais, é necessário considerar a cultura do local e as vivências do público-alvo que irá frequentar determinado ambiente, pois “[...] pessoas de diferentes culturas e backgrounds respondem de maneiras diversas, física e psicologicamente, às cores, formas e texturas empregadas” (GURGEL, 2014, p. 61). Os resultados de pesquisas demonstram que cores e sentimento não se combinam ao acaso nem são uma questão de gosto individual – são vivências comuns que, desde a infância, foram ficando profundamente enraizadas em nossa linguagem e nosso pensamento (HELLER, 2013, p. 17). Embora as cores e suas combinações sejam infinitas, há doze matizes que compõem o círculo cromático (ver Figura 9). Compõe-no as cores primárias (vermelho, amarelo e azul), as secundárias (laranja, violeta e verde) e as terciárias (vermelho-alaranjado, vermelho-violeta, amarelo-alaranjado, amarelo-esverdeado, azul-violeta e azul-esverdeado) (GURGEL, 2014). Figura 9 – Círculo cromático. Fonte: Gurgel (2014). O círculo cromático possibilita a combinação de cores conforme a posição delas no círculo. Assim, temos as cores complementares, cores análogas, cores quentes e cores frias (ver Figura 10). Figura 10 – Círculo cromático com as combinações. Fonte: Adaptado de Gurgel (2014). 41WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA As cores análogas são as cores vizinhas no círculo cromático. Já as complementares são as opostas. As cores quentes transmitem sensação de calor, são associadas a elementos quentes ou que emitem luz, como o fogo, o Sol. As cores frias transmitem sensação de frio, são associadas à água, ao mar, ao céu. Gurgel (2014) classifica as cores conforme seus atributos: os matizes (o círculo cromático) o valor tonal e a saturação. O valor tonal consiste na variação dos tons e na inserção de branco ou preto na cor pura. A saturação não apresenta alteração de cor, o que muda é sua intensidade (ver Figura 11). Figura 11 – Valor tonal e saturação. Fonte: Amopintar (2019). Vamos transpor esses conceitos para um ambiente interior. A Figura 12 mostra um ambiente composto de cores complementares, no qual a predominância do amarelo, em um tom menos saturado nas paredes e mobiliários, contrasta com detalhes em roxo e amadeirado nos mobiliários e acessórios. 42WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 12 – Ambiente de cores complementares. Fonte: Filipe (2019). As Figuras 13 e 14 retratam o ambiente exterior. Percebe-se a composição com cores análogas, o vermelho e o rosa, em boa parte do espaço, chegando até a tons de laranja e amadeirado. Figura 13 – Ambiente de cores análogas. Fonte: Souza (2018). 43WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 14 – Detalhe do ambiente e sua decoração com cores análogas. Fonte: Souza (2018). As texturas são parte integrante de todos os materiais. Até na superfície plana se encontra textura: lisa. De acordo com Gurgel (2014, p. 36), a “[...] textura pode atuar como estímulo sensorial, como ornamento ou como estímulo visual”. Apesar de a autora se referir aos espaços interiores como um todo, essa definição também se aplica aos mobiliários. Gurgel (2014) ainda classifica texturas em duas vertentes: visuais ou táteis. As visuais são aquelas possíveis de serem vistas, mas não necessariamente sentidas pelo toque, como no caso das padronagens (Figura 15). As táteis são tridimensionais e sensíveis ao toque (Figura 16). 44WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 15 – Sofá e almofadas estampadas com padronagem da marca Marimekko. Fonte: WGSN-HBL (2011). Na Figura 16, vemos elementos decorativos elaborados pelo artista e designer Domingos Tótora, que utiliza materiais da natureza e reciclados para a elaboração de suas peças. Percebe-se a impressão de uma textura tridimensional em formato sinuoso. Figura 16 – Mobiliário desenvolvido com biomateriais pelo artista Domingos Tótora. Fonte: Mudatudo (2017). 45WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3. FUNÇÃO É a primeira condicionante – e fundamental – em um projeto, pois sem função não há design ou propósito para se projetar (CHING; BINGELLI, 2015). Todavia, ela sozinha não incorpora a essência de um bom design, pois um projeto deve contemplar a função somada à estética visando ao uso, com o propósito de oferecer a melhor experiência para o usuário. 4. FATORES ECONÔMICOS Apesar de não ser um dos assuntos mais atrativos para um designer, de acordo com Phillips (2017), é um dos fatores que condicionam a tomada de decisões e soluções a serem aplicadas em um projeto. Como vimos na Unidade I quando falamos de briefing, fatores econômicos são determinantes na escolha dos materiais, no prazo e nas técnicas a serem adotadas (PHILLIPS, 2017). Vale ressaltar que, atualmente, além da questão econômica, é indispensável pensar na sustentabilidade. O consumo consciente, o reuso e o incentivo a produções locais (materiais e mão de obra) são aspectos que podem fazer diferença no custo final de um projeto. Pensar no futuro não é opção, mas dever do profissional. Um exemplo é o do designer Domingos Tótora, um dos grandes nomes do design brasileiro, que já expos e expõe suas peças no Brasil e no exterior, morador da cidade de Maria da Fé, interior sul de Minas Gerais, com quase 15 mil habitantes (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Domingos utiliza materiais locais e papelão para criar e dar forma às suas peças de design. Além de residir na cidade, ele tem estúdio, oficina e showroom e busca a mão de obra local para a produção. A prática da sustentabilidade aplicada por Tótora vai desde o uso e reuso de materiais até proporcionar trabalho para moradores da região e incentivar a atração cultural para a cidade por meio de seu trabalho (ver Figuras 17 e 18). 46WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 17 – Domingos Tótora junto de sua matéria-prima principal. Fonte: Mudatudo (2017). Figura 18 – Trabalhador desenvolvendo a peça em papelão. Fonte: Valentina (2019). 47WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Conheça um pouco mais do trabalho de Domingos Tótora acessando a matéria As peças feitas de papelão reciclado de Domingos Tótora, escrita por Regina Galvão e publicado na revista Casa Claudia. Disponível em: https://casaclaudia.abril.com.br/moveis-acessorios/as-pecas-feitas-de-papelao- reciclado-de-domingos-totora/. O livro Domingos Tótora, sobre o designer e artista, é uma boa sugestão para quem quer conhecer mais de design de mobiliário e se inspirar. O volume percorre a trajetória do artista, sua vida e obra, como é viver “afastado” dos grandes centros e mercados de consumo e como o autor interfere na sua criação. Publicado pela editora carioca Papel&Tinta, com texto de Maria Sonia Madureira de Pinho e prefácio de Adélia Borges. Sabendo que a redução de consumo e os novos modos de consumir têm sido práticas recorrentes na sociedade contemporânea, quais caminhos o design brasileiro está tomando em relação a essa tendência, que nada mais é do que uma necessidade atual? 48WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, tratamos do principal objetivo do design de mobiliário: as pessoas. O uso, as particularidades, as medidas antropométricas e como aplicá-las, as medidas entre as relações sociais, todos esses fatores são relevantes na criação de um projeto. Além das medidas, vimos brevemente as principais legislações e conceitos que dão suporte e parâmetros para a elaboraçãode um projeto de mobiliário que contemple todas as pessoas. Além disso, compreendemos quais são as condicionantes estéticas, funcionais e econômicas e como elas podem interferir na elaboração do projeto. 4949WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................. 51 1. NORMAS TÉCNICAS ............................................................................................................................................... 52 1.1 NBR 10647/1989 – DESENHO TÉCNICO ............................................................................................................. 52 1.2 NBR 8196/1999 – DESENHO TÉCNICO - EMPREGO DE ESCALAS ................................................................. 52 1.3 NBR 8403/1984 – APLICAÇÃO DE LINHAS EM DESENHOS - TIPOS DE LINHAS - LARGURAS DAS LINHAS .......................................................................................................................................................................................54 1.4 NBR 10068/1992 – FOLHA DE DESENHO - LEIAUTE E DIMENSÕES .............................................................. 56 1.5 NBR 10126/1987 – COTAGEM EM DESENHO TÉCNICO ................................................................................... 57 1.6 NBR 10582/1988 – APRESENTAÇÃO DA FOLHA PARA DESENHO TÉCNICO ................................................. 59 1.7 NBR 13142/1999 – DESENHO TÉCNICO - DOBRAMENTO DE CÓPIA ............................................................. 60 MATERIALIZAÇÃO DAS IDEIAS: NORMAS, DESENHOS E MODELOS PROF.A MA. TALITA REZENDE TORCATO PEREIRA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PROJETO MOBILIÁRIO II 50WWW.UNINGA.BR 1.8 NBR 12298/1995 – REPRESENTAÇÃO DE ÁREAS DE CORTE POR MEIO DE HACHURA EM DESENHO TÉCNICO ...................................................................................................................................................................... 61 1.9 NBR 8402/1994 – EXECUÇÃO DE CARACTER PARA ESCRITA EM DESENHO TÉCNICO .............................. 61 1.10 NBR 10067/1987 – PRINCÍPIOS GERAIS DE REPRESENTAÇÃO EM DESENHO TÉCNICO .......................... 61 1.11 NBR 6492/1994 – REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA ....................................................... 62 2. DESENHO PROJETIVO: EXPRESSÃO E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA BIDIMENSIONAL E TRIDIMENSIONAL .................................................................................................................................................. 62 2.1 VISTAS .................................................................................................................................................................... 63 2.1.1 O QUE DEVE CONTER NOS DESENHOS DAS VISTAS DO PROJETO DE UM MOBILIÁRIO? ......................... 64 2.2 CORTES ................................................................................................................................................................. 66 2.3 PERSPECTIVAS .................................................................................................................................................... 67 2.4 DETALHAMENTOS................................................................................................................................................ 70 2.5 CROQUIS ............................................................................................................................................................... 71 3. MODELOS TRIDIMENSIONAIS: MAQUETES FÍSICAS E COMPUTACIONAIS .................................................. 74 3.1 MAQUETES FÍSICAS ............................................................................................................................................. 74 3.2 SOFTWARES ......................................................................................................................................................... 76 3.2.1 SKETCHUP .......................................................................................................................................................... 76 3.2.2 PROMOB ............................................................................................................................................................ 77 3.2.3 AUTOCAD ........................................................................................................................................................... 78 3.2.4 REVIT .................................................................................................................................................................. 78 3.2.5 RHINOCEROS .................................................................................................................................................... 79 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................................... 80 51WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Para que seja possível fazer a leitura de projetos em uma linguagem universal e técnica, há uma padronização a partir de normativas, utilizadas por profissionais do design e de áreas correlatas. No Brasil, o órgão responsável pela normalização técnica de todas as áreas conhecimento é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Fundada em 1940, é uma entidade privada, sem fins lucrativos e de utilidade pública. A representação gráfica no design de mobiliário e de interiores, assim como na arquitetura, é orientada pelas mesmas normativas. Todavia, há algumas discrepâncias em relação aos nomes dados a alguns elementos e a alguns detalhes técnicos, mas que, devido à padronização do desenho e a sua universalidade, não atrapalham sua compreensão por parte dos profissionais. Nesta unidade, estudaremos o desenho técnico para o design de interiores com foco no projeto de mobiliário, as especificações técnicas fundamentais para a elaboração de uma peça ou objeto de mobiliário e os modelos tridimensionais. Observaremos a adoção da nomenclatura de desenho de acordo com as normativas vigentes e o enquadramento dos tipos de desenhos conforme etapas de projeto adotados na bibliografia referenciada. 52WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O M OB IL IA RI O II | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. NORMAS TÉCNICAS As normas técnicas são elaboradas com o propósito de fornecer uma leitura universal para os projetos, fazendo com que o designer, o marceneiro e o engenheiro consigam ler e entender a proposta pensada e detalhada. As normas brasileiras de desenho técnico definem desde o nome do desenho, etapas de projeto até a espessura de linha a se utilizar. Dessa forma, elas dão todo o aparato técnico fundamental para qualquer tipo de projeto a ser elaborado. Uma curiosidade é que as normas de desenho podem se alterar. Cada país pode ter seu método e estilo de representação. As principais normas para a representação gráfica estabelecidas pela ABNT são: NBR 10647 – Norma geral de Desenho Técnico; NBR 8196 – Desenho técnico - Emprego de escalas; NBR 8403 – Aplicação de linhas em desenhos - Tipos de linhas - Larguras das linhas; NBR 10068 – Folha de Desenho e Leiaute e Dimensões; NBR 10126 – Cotagem de Desenho Técnico; NBR 10582 – Apresentação da folha para desenho técnico; NBR 13142 – Desenho técnico - Dobramento de cópia; NBR 12298 – Representação de área de corte por meio de hachuras em desenho técnico; NBR 10067 – Princípios gerais de representação em desenho técnico. A seguir, veremos, brevemente, as particularidades, os principais pontos e como cada norma contribui para o desenho de mobiliário. 1.1 NBR 10647/1989 – Desenho Técnico Essa norma é datada de 1989 e esclarece os termos utilizados em desenho. Sua
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