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DIREITOS-HUMANOS-E-SEGURANÇA-PÚBLICA

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1 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 
2 O PROCESSO HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DOS DIREITOS 
HUMANOS .................................................................................................................. 3 
2.1 A constituição dos direitos humanos .................................................... 3 
2.2 Direitos humanos ................................................................................. 6 
2.3 Direitos humanos e senso comum ....................................................... 9 
3 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS ...................... 11 
3.1 Introdução .......................................................................................... 11 
3.2 Origens da Declaração Universal dos Direitos Humanos ................... 11 
3.3 Um importante instrumento na defesa dos direitos humanos ............. 13 
3.4 Dispositivos da Declaração Universal dos Direitos Humanos ............ 14 
3.5 Preâmbulo .......................................................................................... 15 
4 SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL E O PAPEL DOS ENTES 
FEDERADOS ............................................................................................................ 21 
4.1 Segurança pública e entes federados ................................................ 24 
5 INOVAÇÃO NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA ........................... 27 
6 AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DAS POLÍTICAS DE SEGURANÇA 
PÚBLICA 30 
6.1 Principais conceitos e discussões ...................................................... 31 
6.2 A segurança pública no governo FHC ................................................ 38 
6.3 A segurança pública no governo Lula ................................................ 44 
7 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 53 
 
 
 
2 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Prezado aluno, 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
3 
 
2 O PROCESSO HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 
 
Fonte:www.unisinos.br 
 
Os direitos humanos evoluíram ao longo do tempo conforme os contextos 
históricos. Eles se adequaram e foram construídos com base nas necessidades de 
cada momento. Em linhas gerais, os direitos humanos são direitos inerentes a todos 
os indivíduos, independentemente de cor, raça, sexo, classe social ou qualquer outra 
forma de distinção. O que se tem observado na atualidade é um movimento contrário 
à atuação dos defensores dos direitos humanos. Tal movimento é propagado pela 
mídia e por líderes políticos e governantes que possuem interesse em que a 
população desconheça ou desvalorize a importância de direitos dessa natureza 
(DORETO, 2018). 
 Neste capítulo, você vai estudar o processo histórico de constituição dos 
direitos humanos. Também vai conhecer a sua definição e discutir aspectos 
relacionados aos direitos humanos com base no senso comum (DORETO, 2018). 
2.1 A constituição dos direitos humanos 
Para começar, considere o Brasil Colônia. O povo daquela época não possuía 
autonomia enquanto nação e sofria uma intensa exploração (VINAGRE; PEREIRA, 
 
4 
 
2008). Já na época do Império (1822–1889), se registraram vio- lações importantes 
aos direitos humanos, especialmente no que se refere ao genocídio a que foram 
submetidos os índios e negros. Nesse aspecto, uma primeira conquista ocorreu em 
1888, com a abolição da escravatura. Para Vinagre e Pereira (2008, p. 35), “[...] a 
escravidão é uma das maiores violações dos direitos humanos, posto que se refere à 
apropriação total do produto do trabalho da pessoa a esse regime, sendo, também, 
apropriação do seu corpo, da sua vida e do seu destino”. Com o fim da escravidão, os 
negros adquiriram direitos civis, pois teoricamente deixaram de ser propriedade do 
senhor e de ser considerados mercadorias (DORETO, 2018). 
Ao longo da história de violação de direitos, sempre houve resistência e 
enfrentamento. Um exemplo de movimento organizado e desenvolvido pela 
resistência negra foi a experiência bem-sucedida do Quilombo de Palmares. No 
entanto, apesar da resistência, essas vivências não eram favoráveis à efetivação de 
direitos, uma vez que muitas pessoas ainda eram forçadas a realizar trabalhos em 
grandes propriedades rurais, em que os proprietários determinavam limites ao próprio 
Estado. VINAGRE e Pereira (2008, p. 36) complementam: 
[...] no que se refere aos direitos políticos, estes eram restritos a uma elite; e 
dos direitos sociais, ainda não se falava, uma vez que a garantia dos mínimos 
sociais ficava a cargo da filantropia privada e da Igreja Católica, 
prevalecendo, pois, o caldo cultural clientelista e patrimonialista (Apud, 
DORETO, 2018). 
No período destacado, além dos negros, outros setores também 
desfavorecidos se mobilizaram na busca por direitos. Datam desse período a Revolta 
dos Alfaiates, a Revolução Farroupilha, a Guerra de Canudos e outros movimentos. 
Na luta por direitos, merece destaque o movimento pelo voto das mulheres, após a 
Revolução de 1930. Destaque também para o movimento operário e a sua luta por 
direitos civis e políticos, reivindicando o direito ao trabalho, à organização sindical e 
aos direitos trabalhistas (VINAGRE; PEREIRA, 2008 apud DORETO, 2018). 
Na Primeira República, Vinagre e Pereira (2008) destacam que os primeiros 
avanços em termos de direitos ocorreram após a entrada do Brasil na Organização 
Internacional do Trabalho (OIT), em 1919. Então, houve avanços na área de direitos 
relacionados ao trabalho, como previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), 
de 1943. Os direitos políticos foram sendo efetivados de acordo com cada período 
histórico. No período da ditadura, por exemplo, direitos como a liberdade de expressão 
 
5 
 
e de organização política ficaram bastante restritos. Sobre isso, Vinagre e Pereira 
(2008, p. 37) consideram: 
No contexto ditatorial pós-golpe militar de 1964, os direitos civis e políticos 
foram brutalmente subtraídos pelas medidas de repressão mais sombrias da 
história do país. Com amparo em “instrumentos legais” — os atos 
institucionais —, foram cassados os direitos políticos de lideranças sindicais 
e partidárias, de artistas e intelectuais; foram fechadas as sedes das 
organizações estudantis e dos trabalhadores. O direito de opinião e 
organização foi restringido e adotada a censura nos meios de comunicação. 
Práticas de prisões arbirtrárias, torturas e execuções sumárias de opositores 
do regime eram frequentes. Direitos tais como a inviolabilidade do lar e da 
correspondência eram sistematicamente desrespeitados, assim como o 
direito à vida e à integridade física, em nome da ideologia da “segurança 
nacional”, que legitimava a autonomização do aparato policial, inclusive frente 
ao Estado. 
Para contrabalancear essaintensa repressão aos direitos, o governo trabalhou 
para a unificação e a universalização da Previdência. A década de 1970, por sua vez, 
foi marcada por movimentos da sociedade na luta por direitos. Grupos de mulheres, 
operários, negros, homossexuais e organizações da sociedade civil passaram a lutar 
pelos direitos humanos. Embora tenham conseguido avançar na luta por direitos, 
alguns considerados essenciais ainda não estavam assegurados, como os direitos à 
vida, à integridade física, à alimentação, à saúde, à educação, ao trabalho e tantos 
outros. Em 1988, houve a promulgação da Constituição Federal, que ratifica os 
direitos e acrescenta outros até então inexistentes (VINAGRE; PEREIRA, 2008 Apud 
DORETO, 2018). 
Para contrabalancear essa intensa repressão aos direitos, o governo trabalhou 
para a unificação e a universalização da Previdência. A década de 1970, por sua vez, 
foi marcada por movimentos da sociedade na luta por direitos. Grupos de mulheres, 
operários, negros, homossexuais e organizações da sociedade civil passaram a lutar 
pelos direitos humanos. Embora tenham conseguido avançar na luta por direitos, 
alguns considerados essenciais ainda não estavam assegurados, como os direitos à 
vida, à integridade física, à alimentação, à saúde, à educação, ao trabalho e tantos 
outros. Em 1988, houve a promulgação da Constituição Federal, que ratifica os 
direitos e acrescenta outros até então inexistentes (VINAGRE; PEREIRA, 2008). Veja: 
Ainda que sob a égide da moral liberal, a Declaração de 1948 avança em 
relação a textos dos séculos XVIII e XIX, posto que lança a inovação dos 
princípios da universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos, 
acrescentando direitos civis e políticos, da Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão (da Revolução Francesa de 1789), a defesa dos 
 
6 
 
direitos econômicos, O processo histórico da constituição dos direitos 
humanos 3 sociais e culturais (como os direitos à educação, à saúde, a justas 
condições de trabalho e ao acesso à cultura), reivindicados desde as lutas 
operárias dos séculos XIX e XX e, em especial, após a Declaração dos 
Direitos do Povo Trabalhador e Explorado de Janeiro de 1918, advinda da 
Revolução Russa (VINAGRE; PEREIRA, 2008, p. 41 apud DORETO, 2018) 
Para Barroco (2008, p. 2): 
 [...] a origem da noção moderna dos DH é inseparável da ideia de que 
a sociedade é capaz de garantir a justiça — através das leis e do Estado — 
e dos princípios que lhes servem de sustentação filosófica e política: a 
universalidade e o direito natural à vida, à liberdade e ao pensamento. 
O autor ainda afirma que a Declaração Universal dos Direitos Humanos é uma 
forma de confirmar, na prática, algo que até então não era reconhecido por toda a 
sociedade. 
2.2 Direitos humanos 
Como você viu, após alguns acontecimentos históricos, como a Segunda 
Guerra Mundial, foi elaborada e aprovada a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos. Ela representa uma tentativa de contribuir com a luta da sociedade contra 
situações de discriminação, preconceito e opressão, valorizando a noção de igualdade 
entre todos os indivíduos e a dignidade humana. É dessas questões que tratam os 
chamados “direitos humanos”. Eles garantem a vida, a liberdade, o trabalho, a saúde, 
a educação, a dignidade, o respeito, entre outros direitos que buscam assegurar ao 
cidadão uma vida digna. Destaca-se o fato de que a Declaração foi proposta por meio 
de acordos internacionais, ratificada por meio de cartas, convenções e pactos. Isso 
assegura o seu caráter universal e representa o consentimento de toda a comunidade 
internacional envolvida. A proposta de que os direitos humanos sejam resguardados 
é feita por meio do Conselho de Segurança da ONU, que colabora com os países 
tanto na implantação desses direitos quanto no controle da sua violação. 
Os direitos humanos foram evoluindo ao longo do tempo conforme os contextos 
históricos, adequando-se e sendo construídos com base nas necessidades surgidas 
em cada momento. Para melhor representar essa evolução, utiliza-se uma 
classificação dos direitos humanos por meio de “gerações”, que, na verdade, situam 
as categorias propostas no momento histórico de sua construção. A primeira 
 
7 
 
classificação, conhecida como primeira geração, está associada ao século XVIII, à 
independência dos Estados Unidos, em 1787, e à Revolução Francesa, dois anos 
depois. Essa geração traz ideias de liberdade relacionadas especialmente aos direitos 
civis e políticos. Você deve considerar que nessa época se registrava uma luta da 
burguesia por melhores condições de comércio (liberdade). Portanto, os direitos 
conquistados restringiam-se a determinados indivíduos e não eram aplicados a toda 
a sociedade. Nessa geração, o Estado deveria limitar sua intervenção na ação 
humana, considerando o direito à liberdade de todos. São exemplos de direitos 
assegurados a liberdade de expressão, o direito de ir e vir, o direito à privacidade, 
entre outros. 
Já os direitos humanos considerados de segunda geração têm como marco 
oficial a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), crescendo paralelamente à ideologia 
do estado de bem-estar social. Nesse percurso histórico, os trabalhadores também 
começam a lutar pelos seus direitos, contrapondo-se à restrição dos direitos a uma 
classe. Nessa lógica, a proposta é que os direitos até então limitados a uma classe 
sejam expandidos para todos os indivíduos por meio de políticas públicas que 
garantam saúde, trabalho, moradia, direito ao voto e a participar da vida pública, entre 
outros. Nessa geração, fica evidente a necessidade de se exigirem do Estado 
condições iguais para todos, com a finalidade de que tenham uma vida mais digna. 
A terceira geração de direitos surge na década de 1960 e tem como foco 
principal os ideais de solidariedade e fraternidade. Mediante o acirramento da luta de 
classes, os trabalhadores começam a lutar por direitos mais específicos, aqueles das 
chamadas “minorias sociais”, ou seja, grupos considerados em situação mais 
desfavorecida. É o caso de mulheres, pessoas com deficiências e outras que 
precisavam que seus direitos fossem mais detalhados, a fim de que suas 
necessidades fossem de fato asseguradas. Além da proteção aos grupos mais 
vulneráveis, inclui-se nessa proposta a proteção ao meio ambiente. Na atualidade, há 
discussões entre os intelectuais sobre a inclusão de uma quarta geração de direitos, 
que envolve informática e bioética, mas eles ainda divergem opiniões e tal geração 
não está de fato estabelecida. 
Marco (2006, p. 47) destaca que “[...] os avanços tecnológicos e as descobertas 
científicas colocam o mundo em perplexidade com os valores sociais e éticos das três 
gerações de direitos até aqui delineadas”, trazendo à tona a necessidade de 
 
8 
 
considerar outra geração de direitos. Assim, ainda que esta não esteja de fato 
consolidada entre os intelectuais, considerando a intensidade de discussões a 
respeito do tema e sua viabilidade, falam-se hoje nos “direitos de quarta geração”. 
Trata-se de uma geração que surgiu para acompanhar o desenvolvimento da 
humanidade e ajudar o direito a encontrar soluções e impor limites para responder a 
eventuais questionamentos decorrentes das inovações tecnológicas e do 
aprimoramento genérico. Fazem parte dessa geração os direitos à democracia, à 
informação e ao pluralismo (BONAVIDES, 1996 apud MARCO, 2006) 
Isso posto, é importante você conhecer um pouco do conteúdo da Declaração 
Universal dos Direitos Humanos. Inicialmente, esse documento elenca alguns dos 
objetivos que levaram à sua elaboração. O primeiro deles refere-se ao 
reconhecimento de que a dignidade e a igualdade de direitos entre todos os indivíduos 
constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. Assim, o 
desconhecimento sobre os direitos origina responsáveis por atos de barbárie, que 
revoltam por seu elevado grau de crueldade.A Declaração possui 30 artigos. Entre 
eles: 
Artigo I Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e 
direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns 
aos outros com espírito de fraternidade. Artigo II Todo ser humano tem 
capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta 
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, 
idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou 
social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. [...] Artigo III Todo 
ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo IV 
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico 
de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo V Ninguém será 
submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou 
degradante. Artigo XVIII Todo ser humano tem direito à liberdade de 
pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar 
de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo 
ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em 
particular. Artigo XIX Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e 
expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e 
de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e 
independentemente de fronteiras. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 
2009, documento on-line). 
Como você pode observar, a Declaração Universal dos Direitos Humanos 
envolve a proteção do indivíduo e o respeito à sua dignidade, de forma bastante 
ampla. Diante disso, você pode considerar que se trata de um marco na história dos 
direitos na sociedade. No entanto, é necessário o conhecimento da sociedade acerca 
 
9 
 
desses direitos e de sua importância para que eles sejam de fato assegurados e para 
que se possam evitar violações (DORETO, 2018). 
2.3 Direitos humanos e senso comum 
Na atualidade, têm ocorrido importantes distorções no que se refere aos direitos 
humanos, especialmente vindas de setores sociais mais conservadores. Vários 
fatores contribuem para essa situação. Entre eles, destaca-se a mídia, que se 
encontra a serviço da classe dominante e, em razão disso, deixa de lado a sua função 
de informar com responsabilidade para disseminar notícias de forma sensacionalista. 
Nessa perspectiva, a relação entre os defensores dos direitos humanos e a mídia 
nunca seguiu um caminho tranquilo e sem embates. Sempre houve tensões. Em 
muitos casos, a mídia tem a função de servir à classe dominante, visando ao lucro. 
Isso, como você deve imaginar, acaba impactando negativamente a sociedade 
(COSTA, 2017). 
Por outro lado, as distorções sobre os direitos humanos também acontecem. 
Nem todos os indivíduos possuem acesso às informações e aos direitos de forma 
correta. Isso gera críticas infundadas e que trazem como consequência prejuízos à 
coletividade. 
Costa (2017) aponta que a mídia atua com um discurso diferente a cada 
momento histórico. Ela ora se posiciona a favor dos defensores dos direitos humanos, 
ora se coloca contra eles, tratando-os como se fossem defensores de bandidos. O 
autor acrescenta que a tentativa de construir um senso comum a respeito de direitos 
humanos intensificou-se a partir dos anos 1980, quando o Brasil buscava se adequar 
aos tratados e convenções que firmavam a necessidade de que esses direitos fossem 
assegurados em todo o País (OLIVEIRA, 2009 apud COSTA, 2017). 
Considere ainda o seguinte: 
A mídia em geral, e em particular a imprensa, gosta de investir no senso 
comum para manter a audiência e assegurar a manutenção do status quo, 
poucas vezes se preocupando em buscar novo enfoque diante de situação 
recorrente, mesmo quando os fatos apontam em outra direção e a conjuntura 
sugere a necessidade de se buscar nova abordagem. Muitos estereótipos e 
preconceitos arraigados na sociedade são decorrência dessa perseverança 
de atuar em sintonia com o senso comum, como ocorre com os movimentos 
sociais e, particularmente, os de defesa dos Direitos Humanos, sempre 
associados à defesa “de bandidos” quando atuam em prol de vítimas de maus 
 
10 
 
tratos ou arbitrariedades das autoridades policiais ou judiciárias (FREITAS, 
2010 apud COSTA, 2017, p. 27). 
 Costa (2017) afirma também que a mídia muitas vezes coloca seus 
interesses ligados à audiência e ao capital em primeiro lugar, em detrimento dos 
interesses coletivos. Assim, ela deixa de atender à sua responsabilidade com o que é 
repassado para a sociedade. São condutas dessa natureza que contribuem para a 
criação de estereótipos e preconceitos que acabam sendo disseminados e aceitos na 
sociedade. 
Você deve considerar, então, que no contexto do capitalismo não é possível 
conciliar a lógica da acumulação de riquezas, de capital e da exploração do 
trabalhador com as lutas a favor da garantia dos direitos humanos. Isso acontece pois, 
de acordo com essa lógica, os interesses pelo capital são individuais ou referem-se a 
uma classe específica, o que não ocorre com os direitos humanos, que buscam 
atender indistintamente a todos os indivíduos, sem discriminação de nenhum tipo. 
Assim, como você viu, a sociedade brasileira vive situações que requerem a 
defesa dos direitos humanos há muitos séculos. Sua história é marcada por 
exploração, discriminação e violência contra muitos grupos. Nesse sentido, O 
processo histórico da constituição dos direitos humanos os direitos humanos surgem 
para proteger e garantir a igualdade entre todos os indivíduos. No entanto, a defesa 
desses direitos nem sempre é vista como algo favorável. É por isso que a população 
deve conhecer o verdadeiro valor desses direitos, para que possa lutar por eles e 
valoriza-los. A mídia, enquanto importante instrumento de comunicação de massa, 
pode contribuir para que isso ocorra. No entanto, são necessárias instituições de fato 
comprometidas com a disseminação de informações corretas e com a sociedade. 
 
11 
 
3 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS 
 
Fonte: wordpress.com 
3.1 Introdução 
Estudar a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é analisar os 
principais valores da humanidade, para que todos os seres humanos do planeta 
consigam ter no mínimo uma vida com dignidade. Assim, neste capítulo, para melhor 
entender a DUDH, você vai analisar o momento histórico em que ela tomou forma e 
vai estudar seus dispositivos, identificando e compreendendo seu papel e 
sua importância no Direito (SEIXAS, 2018). 
3.2 Origens da Declaração Universal dos Direitos Humanos 
Os direitos humanos, não raras vezes, desafiam estudiosos de diversos 
âmbitos do conhecimento — como a Filosofia, a Sociologia, a História, o Direito, dentre 
muitos outros — a investigarem os precedentes históricos e a desvendarem os seus 
conceitos iniciais, tudo isso com a finalidade de entender o processo de surgimento, 
 
12 
 
proteção, abrangência e universalização desses tão importantes direitos, cujo marco, 
no plano internacional, deu-se com a positivação da DUDH (SEIXAS, 2018). 
Assim, de uma forma geral, o estudo acerca dos direitos humanos apresenta 
importantes características, como historicidade, universalidade, essencialidade, 
irrenunciabilidade, imprescritibilidade, inviolabilidade e efetividade. Isso porque os 
direitos humanos são fruto de um desenvolvimento social e jurídico, visto que tal 
proteção surgiu de forma progressiva, à medida que se desenvolvia o conceito e o 
reconhecimento de que todas as pessoas humanas são iguais e merecem, dessa 
forma, isonomia de direitos e proteção mínima efetiva (SEIXAS, 2018). 
Esse reconhecimento, apesar de parecer óbvio na contemporaneidade, não 
aconteceu de forma igualitária nem simultaneamente ao redor do planeta. Na verdade, 
esse reconhecimento e essa proteção são fruto de conquistas históricas, construídas 
gradualmente, devido à luta demovimentos sociais em prol da dignidade da pessoa 
humana (SEIXAS, 2018). 
Sobre a genealogia dos direitos humanos, é importante citar as palavras de 
Bobbio (1992, p. 30), que sintetiza essa importante discussão filosófica: 
[...] para a realização dos direitos do homem, são frequentemente 
necessárias condições objetivas que não dependem da boa vontade dos que 
os proclamam, nem das boas disposições dos que possuem os meios para 
protegê-los. Mesmo o mais liberal dos Estados se encontra na necessidade 
de suspender alguns direitos de liberdade em tempos de guerra; do mesmo 
modo, o mais socialista dos Estados não terá condições de garantir o direito 
a uma retribuição justa em épocas de carestia. Sabe-se que o tremendo 
problema diante do qual estão hoje os países em desenvolvimento é o de se 
encontrarem em condições econômicas que, apesar dos programas ideais, 
não permitiam desenvolver a proteção da maioria dos direitos sociais. O 
direito do trabalho nasceu com a Revolução Industrial e é estreitamente 
ligado à sua consecução. Quanto a esse direito, não basta fundamentá-lo ou 
proclamá-lo. Nem tampouco basta protegê-lo. O problema da sua realização 
não é nem filosófico nem moral. Mas tampouco é um problema jurídico. É um 
problema cuja solução depende de um certo desenvolvimento da sociedade 
e, como tal, desafia até mesmo a Constituição mais evoluída e põe em crise 
até o mais perfeito mecanismo de garantia jurídica. A efetivação de uma 
maior proteção dos direitos humanos está ligada ao desenvolvimento global 
da civilização humana. 
Dessa forma, é necessário entender o momento histórico no qual foi cunhado 
um dos mais importantes documentos de proteção à humanidade, a DUDH, que 
inaugurou uma nova era de direitos e proteção (SEIXAS, 2018). 
Após a Segunda Guerra Mundial, principalmente devido às atrocidades contra 
seres humanos nela cometidas, surgiu a necessidade de uma nova declaração de 
 
13 
 
direitos de cunho inclusive internacional, como explica Dallari (1993). O processo teve 
início em 1945, por meio da Carta das Nações Unidas (1930), com uma norma 
internacional “[...] destinada a fornecer a base jurídica para a permanente ação 
conjunta dos Estados em defesa da paz mundial” (DALLARI, 1993, p. 178), que serviu 
de pano de fundo para, em 1948, ser aprovada a DUDH (SEIXAS, 2018). 
Segundo Silva (2000), os princípios da universalidade e da indivisibilidade dos 
direitos individuais são os ideais da DUDH, que acabou por divulgá-los em todo o 
mundo e por ressaltar a condição de pessoa como requisito para a dignidade de todos. 
Portanto, com a DUDH, surgiu um novo conceito de proteção dos direitos humanos e 
iniciou-se, por consequência, o desenvolvimento da positivação internacional das 
normas relativas à proteção desses direitos mediante inúmeros tratados 
internacionais. Assim surgiu o chamado sistema normativo positivo global de proteção 
dos direitos humanos, composto por instrumentos de abrangência internacional 
específicos e gerais (Apud SEIXAS, 2018). 
3.3 Um importante instrumento na defesa dos direitos humanos 
A DUDH, aprovada em 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 
Paris, destaca-se como um importante instrumento de defesa dos direitos humanos 
no plano internacional, colocando esses direitos sob outro paradigma: o da 
necessidade do reconhecimento dos direitos fundamentais e da dignidade humana 
como fundamentos da liberdade, da justiça e da paz mundial, fazendo Declaração 
Universal dos Direitos Humanos 3 prevalecer a liberdade individual, a igualdade entre 
os seres humanos e o ideal democrático como formas de atingir o progresso 
econômico, social e cultural, conforme expõe Silva (2000). 
 
Para Douzinas (2007, p. 19): [...] os direitos humanos se tornam o princípio 
de libertação da opressão e da dominação, o grito de guerra dos sem teto e dos 
destituídos, o programa político dos revolucionários e dos dissidentes [...] Os direitos 
humanos são o fado da pós-Modernidade, a energia das nossas sociedades, o 
cumprimento da promessa do Iluminismo de emancipação e autorrealização (Apud, 
SEIXAS, 2018). 
 
14 
 
 
A DUDH inaugurou a forma como hoje entendemos os direitos humanos, uma 
vez que primou pelos princípios da universalidade e da indivisibilidade desses direitos 
e acabou por difundi-los pelo mundo inteiro. Assim, abriu caminhos para todo um 
sistema normativo positivo internacional de proteção e colocou o Direito Internacional 
em um novo patamar, o do Direito Internacional da Cooperação e da Solidariedade, 
no lugar do Direito da Paz e da Guerra. Zarca (1997, p. 9) explica que a DUDH: 
 
[...] traz um aspecto fundamental para a compreensão da modernidade. Um 
dos traços essenciais dessa modernidade não reside exatamente na 
definição do homem como sujeito de direitos? Sujeito ao qual se ligam, 
simplesmente porque é um ser humano, ou seja, naturalmente, direitos. Ora, 
essa definição do homem como um ser portador de direitos não é atemporal, 
já que foi inventada pela filosofia moral e política moderna, constituindo uma 
de suas principais inovações. Poderíamos dar várias formulações sobre a 
importância dessa inovação. Mas, eu ficarei com apenas uma: a 
transformação da noção renascentista de dignidade do homem na noção de 
homem como ser portador de direitos no século XVII. Transformação significa 
conservação e mudança. O que se conserva é a ideia de uma especificidade 
que caracteriza o homem enquanto tal e o distingue de todos os outros seres 
naturais. O que muda profundamente é que a dignitas hominis se refere 
menos ao lugar do homem na hierarquia dos seres, já que o homem tem sua 
própria liberdade de se constituir naquilo que ele é, e muito mais à noção do 
homem como ser portador de direito que define muito mais um dado do que 
uma responsabilidade sobre aquilo que ele será. 
Dessa forma, baseado em valores essenciais, pode-se dizer que o principal 
objetivo da DUDH é que os seres humanos, universalmente, ou seja, onde quer que 
se encontrem, consigam ter, no mínimo, uma vida com dignidade, independentemente 
de nacionalidade, sexo, idade e cor. Daí a grande importância dessa Declaração no 
plano internacional e como instrumento de proteção aos direitos humanos (Apud, 
SEIXAS, 2018). 
3.4 Dispositivos da Declaração Universal dos Direitos Humanos 
Como vimos, a DUDH foi aprovada em 10 de dezembro de 1948 pela 
Assembleia Geral das Nações Unidas, em Paris. A sua aprovação se deu por meio de 
uma resolução, a Resolução ONU nº. 217-A, destacando-se como um importante 
documento de defesa dos direitos humanos no plano internacional. Devido à grande 
importância desse instrumento na proteção dos direitos humanos, precisamos analisar 
os seus dispositivos legais. 
 
15 
 
 
A DUDH foi aprovada como resolução, não como tratado internacional. 
3.5 Preâmbulo 
Preâmbulo é a introdução, a declaração inicial dos termos de um dispositivo 
legal. É no preâmbulo que vêm expressos os princípios, valores e objetivos que 
fundamentam o texto legal. O preâmbulo da DUDH se inicia trazendo a dignidade 
como elemento inerente à pessoa humana e, junto com a isonomia, fundamenta o 
ideário de liberdade, justiça e paz no mundo. 
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os 
membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui 
o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo (ORGANIZAÇÃO 
DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
Contudo, nos parágrafos seguintes, o preâmbulo expõe a necessidade de 
consciência da humanidade e de se proteger os seres humanos das atrocidades 
praticadas pelos próprios seres humanos, de maneira universal: 
Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do Homem 
conduziram a atos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e 
que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar 
e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta 
inspiraçãodo Homem; Considerando que é essencial a proteção dos direitos 
do Homem através de um regime de direito, para que o Homem não seja 
compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a opressão 
(ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
O preâmbulo demonstra, na parte final, a necessidade de se universalizar de 
maneira isonômica a proteção aos direitos humanos fundamentais, como forma de 
promover o desenvolvimento das relações entre as nações, independentemente de 
onde se encontre o indivíduo: 
Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações 
amistosas entre as nações; 
 Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, 
de novo, a sua fé nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade e no 
valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das 
mulheres e se declaram resolvidos a favorecer o progresso social e a 
instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla; 
 
16 
 
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em 
cooperação com a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e 
efetivo dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais; Considerando 
que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da mais alta 
importância para dar plena satisfação a tal compromisso: A Assembleia Geral 
proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como ideal 
comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os 
indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no 
espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o 
respeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas 
progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a 
sua aplicação universais e efetivos tanto entre as populações dos próprios 
Estados-Membros como entre as dos territórios colocados sob a sua 
jurisdição (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
Os arts. 1º e 2º da DUDH proclamam o direito à liberdade e à igualdade de 
todos os seres humanos, consagrando assim os princípios da igualdade material e da 
liberdade, sem qualquer discriminação: 
Artigo 1º Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e 
direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns 
aos outros com espírito de fraternidade. Artigo 2º Todos os seres humanos 
podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente 
Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, 
de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou 
social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, 
não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou 
internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse 
país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma 
limitação de soberania (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009) 
 
 
 Igualdade material não significa tratar todos de forma igual, mas tratar os 
iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, de forma a igualar as possíveis 
diferenças. 
 
Os arts. 3º, 4º e 5º da DUDH consagram os direitos fundamentais à vida, à 
segurança jurídica (diferente da segurança pública) e à liberdade, proibindo a 
escravidão e a servidão, assim como o aliciamento das pessoas (é vedada a tortura e 
o castigo cruel ou degradante): 
Artigo 3º Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. 
Artigo 4º Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a 
escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 
5º Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, 
desumanos ou degradantes (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
 
17 
 
Os arts. 6º e 7º da DUDH anunciam o princípio da isonomia formal que, 
diferentemente da igualdade material, estabelece a necessidade de igualdade entre 
as pessoas (igualdade perante a lei), bastando nascer humana para fazer jus ao 
reconhecimento e tratamento como ser humano, proibindo inclusive o incitamento de 
discriminação a qualquer ser humano, o que viola a DUDH: 
 Artigo 6º Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos 
os lugares, da sua personalidade jurídica. Artigo 7º Todos são iguais perante 
a lei e, sem distinção, têm direito à igual proteção da lei. Todos têm direito à 
proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração 
e contra qualquer incitamento a tal discriminação (ORGANIZAÇÃO DA 
NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
Os arts. 8º, 9º, 10 e 11 trazem as garantias processuais e materiais das pessoas 
humanas: 
 
 os remédios constitucionais de garantia a direitos protegidos pela DUDH; 
 o devido processo legal; 
 a vedação à prisão arbitrária, à detenção ou ao exílio arbitrários; 
 a isonomia processual; 
 a imparcialidade do magistrado; 
 a publicidade dos atos processuais; 
 a presunção de inocência; 
 a legalidade e a irretroatividade da lei penal, salvo em benefício do réu. 
Artigo 8º Toda a pessoa tem direito a recurso efetivo para as jurisdições 
nacionais competentes contra os atos que violem os direitos fundamentais 
reconhecidos pela Constituição ou pela Lei. Artigo 9º Ninguém pode ser 
arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10º Toda a pessoa tem direito, 
em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada 
por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e 
obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra 
ela seja deduzida. Artigo 11º 1. Toda a pessoa acusada de um ato delituoso 
presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada 
no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias 
de defesa lhe sejam asseguradas 
 
2. Ninguém será condenado por ações ou omissões que, no momento da sua 
prática, não constituíam ato delituoso à face do direito interno ou 
internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a 
que era aplicável no momento em que o ato delituoso foi cometido 
(ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
 
18 
 
O art. 12 proclama o direito à vida privada, à intimidade e à inviolabilidade de 
correspondência e domiciliar: 
Artigo 12º Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na 
sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua 
honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem 
direito à proteção da lei (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
O art. 13 proclama o direito à liberdade de ir e vir (liberdade de locomoção), 
consagrando o direito de transitar pelo país e de sair e voltar quando quiser: 
Artigo 13º 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a 
sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de 
abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar 
ao seu país (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
O art. 14 consagra o direito ao asilo político, excepcionando os casos que não 
comportam esse direito, quando o indivíduo é legitimamente perseguido por crimes 
de direito comum ou quando se trata de atos contrários aos objetivos e princípios das 
Nações Unidas: 
Artigo 14º 1. Toda a pessoa sujeita à perseguição tem o direito de procurar e 
de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser 
invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito 
comum ou por atividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações 
Unidas (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
O art. 15 trata do direito à nacionalidade como um direito humano, que deve 
ser assegurado a todos as pessoas: 
Artigo 15º 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém 
pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de 
mudar de nacionalidade (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
O art. 16 protege odireito à constituição de família, considerando a família como 
um núcleo natural e fundamental da sociedade, ressaltando a igualdade entre os 
cônjuges no casamento: 
Artigo 16º 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de 
casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou 
religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm 
direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno 
consentimento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e 
fundamental da sociedade e tem direito à proteção desta e do Estado 
(ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
 
19 
 
O art. 17 consagra um direito de primeira geração, que é o direito à propriedade 
sem interferências do Estado: 
Artigo 17º 1. Toda a pessoa, individual ou coletiva, tem direito à propriedade. 
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade 
(ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
Os arts. 18 e 19 explicitam o direito à liberdade de pensamento, opinião, 
expressão, crença e consciência também como um direito humano e universal: 
Artigo 18º Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de 
consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião 
ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou 
convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo 
ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. Artigo 19º Todo o indivíduo tem 
direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não 
ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem 
consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de 
expressão (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
O art. 20 traz a liberdade de reunião e de associação pacífica, não podendo 
ninguém ser obrigado a fazer parte de uma associação: 
Artigo 20º 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de 
associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma 
associação (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009) 
Os arts. 21 e 22 consagram o direito à utilização dos serviços públicos e à 
segurança social e o direito de se fazer representar diretamente ou indiretamente 
pelos mesmos, assim como asseguram o direito ao voto e à participação política no 
país. 
Artigo 21º 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direção dos 
negócios públicos do seu país, quer diretamente, quer por intermédio de 
representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de 
acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A 
vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve 
exprimir-se através de eleições honestas a realizar-se periodicamente por 
sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente 
que salvaguarde a liberdade de voto. Artigo 22º Toda a pessoa, como 
membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente 
exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis, 
graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a 
organização e os recursos de cada país (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES 
UNIDAS, 2009) 
 
 
20 
 
Os arts. 23º e 24º consagram os direitos trabalhistas, como o direito de ter um 
trabalho em condições justas, de escolher o trabalho, de proteção contra o 
desemprego involuntário, de igualdade de condições no trabalho, de remuneração 
justa e satisfatória, de liberdade de associação em sindicatos, bem como o direito a 
repouso e lazer, a uma jornada limitada e a férias periódicas e remuneradas. 
Artigo 23º 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do 
trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção 
contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a 
salário igual por trabalho igual. Declaração Universal dos Direitos Humanos 
11 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, 
que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade 
humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de proteção 
social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas 
sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Artigo 
24º Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a 
uma limitação razoável da duração do trabalho e às férias periódicas pagas 
(ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
Dos arts. 25º ao 29º são assegurados os direitos sociais; ou seja, esses artigos 
estabelecem uma vida socialmente digna como um direito humano, incluindo o direito 
à educação, inclusive gratuita, nos períodos elementares e fundamentais, assim como 
a possibilidade de acesso a todos à instrução técnico-profissionalizante e à instrução 
superior baseada no mérito. Asseguram também como direitos humanos a cultura e o 
pleno desenvolvimento da personalidade, devendo os direitos e as liberdades serem 
limitados apenas pela lei. 
Artigo 25º 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe 
assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à 
alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda 
quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no 
desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos 
de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua 
vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito à ajuda e à assistência 
especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam 
da mesma proteção social. Artigo 26º 1. Toda a pessoa tem direito à 
educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao 
ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino 
técnico e profissional deve ser generalizado; o acesso aos estudos superiores 
deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A 
educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao 
reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve 
favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e 
todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das 
atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. 3. Aos pais 
pertence a prioridade do direito de escolher o gênero de educação a dar aos 
filhos. Artigo 27º 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na 
vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso 
científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à proteção 
dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, 
 
21 
 
literária ou artística da sua autoria. 12 Declaração Universal dos Direitos 
Humanos Artigo 28º Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e 
no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efetivos os 
direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração. Artigo 29º 1. O 
indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o 
livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercício deste 
direito e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações 
estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o 
reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de 
satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar 
numa sociedade democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades 
poderão ser exercidos contrariamente e aos fins e aos princípios das Nações 
Unidas (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
O art. 30, último dispositivo da DUDH, assegura uma interpretação ampla das 
proteções asseguradas nessa Declaração pelos Estados, proibindo de forma 
expressa a utilização das garantias e liberdades como forma de destruição dos direitos 
assegurados na própria Declaração: 
 Artigo 30º Nenhuma disposiçãoda presente Declaração pode ser 
interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou 
indivíduo o direito de se entregar a alguma atividade ou de praticar algum ato 
destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados 
(ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009). 
4 SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL E O PAPEL DOS ENTES FEDERADOS 
 
Fonte: oidiario.com.br 
 
22 
 
Neste capítulo, você vai conhecer a trajetória da segurança pública no Brasil, 
em especial você vai conhecer o papel dos entes federados no cenário do debate, da 
construção e da implementação das políticas de segurança pública. 
Como você vai ver, no contexto contemporâneo, a inovação na gestão da 
segurança pública e a participação social são ferramentas fundamentais para que as 
demandas do cidadão sejam atendidas de forma efetiva (MENDONÇA, 2020). 
4.1 A segurança pública no Brasil 
No Brasil, a primeira instituição policial surge com a transferência da família real 
portuguesa, em 1808. Apesar de ter moldes muito diferentes dos que você conhece 
hoje, a Intendência Geral da Polícia da Corte e do Estado do Brasil, sediada no Rio 
de Janeiro, era responsável pelo policiamento judiciário e pela fiscalização; além 
disso, atendia às necessidades relativas a serviços urbanos (MARCINEIRO; 
PACHECO, 2005). Menos generalista, a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia 
tinha cunho mais coercitivo. Criada em 1809, detinha competências militares e estava 
subordinada ao Ministério da Guerra. Além de reprimir atos criminosos, atuava na 
captura de escravos fugitivos e na patrulha. Com a independência e a convulsão social 
que ela provocou, uma Guarda Real foi estabelecida, visando à proteção do País e de 
seus cidadãos. Essa força policial agia em conjunto com o Exército, criado em 1648, 
mas com limitações de atuação em virtude da dependência brasileira de Portugal. 
Posteriormente, a Regência pôs fim à Guarda Real, substituindo-a pelo Corpo de 
Guardas Municipais Voluntários Permanentes. Tais instituições eram regionalizadas, 
o que mais tarde possibilitou a alteração de cada uma de acordo com a unidade 
federativa (MENDONÇA, 2020). 
Note que há uma relação entre o policiamento brasileiro e as forças militares. 
A estrutura social vigente em todo o período anterior à proclamação da República 
colocava a manutenção da ordem sob os cuidados da nobreza e de grandes 
proprietários de terra. Além disso, a polícia exercia um controle que visava a coibir 
insubordinações, fossem às leis ou aos costumes. Nesse período, as forças policiais 
tratavam de garantir a presença do poder estatal em todos os territórios, em uma 
tentativa de se aproximar da população, de modo a solucionar os conflitos cotidianos. 
Aos poucos, a instituição policial tomou forma e adquiriu força para manter a ordem 
 
23 
 
social. Como seu poder ainda era submisso à coroa portuguesa, a instituição policial 
exigiu esforços da nobreza e dos magistrados brasileiros para se tornar submissa ao 
Poder Judiciário (MENDONÇA, 2020). 
O período imperial trouxe inovações importantes para a descentralização do 
poder policial. Com a promulgação do Código Processual Penal, em 1832, foram 
criadas duas autoridades provinciais, que eram indicadas pelo governador e 
coordenavam a polícia regionalmente: os chefes de polícia e os juízes de paz. Mas 
esse modelo não foi bem-sucedido; afinal, ao regionalizar o controle, o Estado perdia 
poder de decisão. Assim, o cargo de juiz de paz perde sua autonomia frente às forças 
policiais em 1841, ficando tal autonomia concentrada nos chefes de polícia, agora 
indicados diretamente pelo governo central (MENDONÇA, 2020). 
Com a proclamação da República, em 1889, somada aos resultados da 
abolição da escravidão, as relações sociais sofreram um impacto significativo. Os 
escravos fugitivos, antes alvo da polícia, transformaram-se em uma classe subalterna 
livre, e a classe dominante perdeu parte de seu poder. Além disso, a rápida 
urbanização das cidades e o adensamento demográfico exigiram das instituições 
policiais algumas adequações. Configurava-se a passagem do espaço rural para o 
urbano, agora com diferentes demandas de vigilância e repressão (MENDONÇA, 
2020). 
O federalismo trouxe a descentralização de poderes, exigindo uma nova 
dinâmica para exercer o controle social. Apenas a vigilância e a repressão já não eram 
suficientes, e novos instrumentos precisavam ser pensados e implementados. O 
Código Penal de 1890 foi um desses instrumentos. Segundo Holloway (1997), o novo 
código voltou os olhos para as chamadas “classes perigosas”, tipificando como crimes 
a vadiagem, a prostituição, a embriaguez e a capoeira (MENDONÇA, 2020). 
É com o golpe de 1930 que a polícia começa a desempenhar um papel de 
destaque na manutenção do regime autoritário. Getúlio Vargas amplia as tarefas 
policiais para controlar as dissidências políticas e promove uma reforma no alto 
escalão das polícias civis em todo o País. Desse modo, somente pessoas de sua 
estrita confiança podiam ocupar cargos de comando (MENDONÇA, 2020). 
Para Faoro (1997), Vargas fazia repressão política e colocava todo o aparato 
policial sob suas ordens. Considere o seguinte: 
 
24 
 
A Constituição Federal de 1934 outorga o controle direto das forças públicas 
estaduais ao governo federal. É nesse texto constitucional que pela primeira 
vez na história há a imposição formal de um caráter eminentemente 
militarizado ao campo da segurança, tornando as forças estaduais, auxiliares 
do exército. Com isso a segurança pública brasileira segue na tênue e 
complexa dinâmica política e social que envolve o poder e a violência. Esse 
princípio metamórfico atinge especialmente as polícias que passam a receber 
uma espécie de upgrade em suas prerrogativas quanto ao uso do poder e do 
exercício da prática violenta (BONAMIGO; CHAVES, 2014, p. 461). 
A militarização das polícias toma corpo no regime militar. Assim como na Era 
Vargas, a polícia tinha como missão principal conter a oposição política, daí o histórico 
de abuso de autoridade, repressão violenta e tortura que marca esse período. Ainda 
que, pela perspectiva do governo, as polícias estivessem garantindo a ordem pública, 
os excessos cometidos no período da ditadura militar deixaram marcas profundas na 
história da instituição policial (MENDONÇA, 2020). 
No período seguinte, a centralização do comando começa a ser questionada, 
bem como o papel da instituição policial como um órgão de prestação de serviços para 
a sociedade. A Constituição Federal de 1988 reorganiza a estrutura das polícias, 
atribuindo a cada uma competências capazes de atender às necessidades sociais. 
4.2 Segurança pública e entes federados 
Em um país como o Brasil, de dimensões continentais e com tanta diversidade 
cultural, o controle da criminalidade e a manutenção da ordem são desafios para os 
governos. Ainda que o planejamento e a implementação das políticas públicas de 
segurança atendam a critérios regionais, o monitoramento, o controle e a avaliação 
precisam estar dispostos de forma a permitir a rápida tomada de decisão e o 
reencaminhamento de ações (MENDONÇA, 2020). 
Com o fim da ditadura e o começo da abertura democrática, torna-se possível 
pensar em alternativas para alterar a realidade da ação policial. A Assembleia 
Nacional Constituinte se preocupa em dedicar um espaço na Constituição para inovar 
na segurança pública (MENDONÇA, 2020). 
O modelo policial reativo praticado até então (era necessário que o delito se 
efetivasse para que a polícia agisse) estava muito longe do que a sociedade 
precisava. Assim, a Constituição Federal de 1988 propõe e legitima uma ação policial 
proativa, com políticas de prevenção. Além disso, ainda inova ao determinar a gestão 
 
25 
 
participativa como elo fundamental para a resolução dos crescentes violência e 
criminalidade. 
No seu art. 144, a Constituição estabelece os órgãos policiais e suascompetências. Veja (BRASIL, 1988): 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de 
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade 
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I — polícia 
federal; II — polícia rodoviária federal; III — polícia ferroviária federal; IV — 
polícias civis; V— polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
Ao estabelecer cinco âmbitos de atuação das polícias, o legislador pretendia 
obter uma organização por competências, antes de uma organização hierárquica. Isto 
é, ele não desejava estabelecer uma concorrência na ação das instituições, que 
passam a atuar de acordo com as demandas dos entes federativos. O art. 144 ainda 
determina o seguinte (BRASIL, 1988): 
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e 
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I — apurar 
infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, 
serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas 
públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão 
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se 
dispuser em lei; II — prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e 
drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação 
fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de 
competência; III — exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e 
de fronteiras; IV — exercer, com exclusividade, as funções de polícia 
judiciária da União. § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, 
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na 
forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais. § 3º A polícia 
ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e 
estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento 
ostensivo das ferrovias federais. § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados 
de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as 
funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as 
militares. § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação 
da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições 
definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. § 6º As 
polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva 
do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos 
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. § 7º A lei 
disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela 
segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades 
Veja que, com exceção da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Ferroviária 
Federal, a Polícia Federal e as polícias civis e militares apresentam competências 
muito semelhantes, o que pode significar uma dificuldade na definição e no 
cumprimento de suas competências. O legislador procurou determinar uma separação 
 
26 
 
regional e ainda de subordinação. Ao atribuir a uma lei futura a organização e o 
funcionamento dos órgãos de segurança pública, buscou descentralizar a organização 
de acordo com a realidade de cada ente federado. Veja a seguir uma síntese das 
competências de cada uma das polícias (MENDONÇA, 2020). 
 
 Polícias militares: são as forças estaduais de segurança pública. Sua 
função principal é a preservação da ordem pública. O policiamento é 
ostensivo e reativo. As polícias militares são subordinadas aos 
governadores. 
 Polícias civis: também são forças estaduais de segurança pública, no 
entanto atuam como polícia judiciária, como auxiliares na aplicação da lei 
pela Justiça Estadual. São consideradas forças de inteligência, pois, cabe a 
elas a investigação policial. 
 Polícia Federal: trata-se de instituição subordinada diretamente ao 
Ministério da Justiça, portanto investiga os crimes julgados pela Justiça 
Federal. Policiamento marítimo e aeroportuário, fiscalização de fronteiras e 
alfândegas, além de emissão de passaportes, são de competência da 
Polícia Federal. 
 Polícia Rodoviária Federal: a atuação da Polícia Rodoviária Federal está 
circunscrita às rodovias federais. Ela é responsável pela fiscalização de 
trânsito e pelo combate ao crime. 
 Polícia Ferroviária Federal: é subordinada diretamente à União, como as 
outras polícias federais. É responsável pelo patrulhamento ostensivo nas 
ferrovias federais. 
 
Para Mendonça (2020) as polícias legislativa e do Exército são instituídas em 
regulamento próprio, por serem internas aos seus órgãos. Assim, não cabe a elas 
funções que extrapolem o âmbito da instituição em que atuam. Por isso, essas polícias 
não constam do art. 144 da Constituição Federal. Há ainda a Força Nacional de 
Segurança Pública, que atua em situações localizadas e que, por seu caráter não 
permanente, não pode ser considerada uma força policial. As guardas municipais, 
apesar da previsão constitucional, possuem especificidades locais e não compõem a 
força policial, dado o seu caráter preventivo e de vigilância. 
 
27 
 
Por fim, os corpos de bombeiros militares são instituições de defesa civil, mas 
também atuam como forças auxiliares do Exército quando necessário, assim como as 
polícias militares. Seu caráter é mais protetivo, estando a serviço da população no 
combate a situações de calamidade pública. 
 
 
Os estados federados desempenham dois papéis fundamentais: a 
preservação da ordem e a investigação em seus territórios. Isso ocorre tanto no 
policiamento ostensivo das polícias militares quanto nas forças de inteligência 
representadas pelas polícias civis (MENDONÇA, 2020). 
 
5 INOVAÇÃO NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 
 
Fonte: escola.mpu.mp.br 
Quando se fala em inovação de serviços públicos, surge uma série de entraves 
burocráticos a serem transpostos. Com a segurança pública, não é diferente. Como 
ela é uma questão de extrema importância para a sociedade e envolve tantos fatores, 
 
28 
 
qualquer mudança deve ser discutida e refletida com vistas a oferecer à sociedade 
condições de segurança suficientes para o exercício pleno da cidadania. 
Na inovação do setor público, destaca-se a exigência de novos arranjos 
políticos, o que exige investimento em recursos humanos, capacitação profissional e 
gestão eficiente de recursos econômicos. Face a tantas condicionalidades, cada 
mudança proposta, apesar de necessária, enfrenta resistências e causa desconforto. 
Na segurança pública, com a gestão participativa, novos atores são convidados a 
opinar e debater as demandas, sempre com suas especificidades (OLIVEIRA, 2020). 
A Constituição Federal e as legislações posteriores se propuseram a trazer 
novas ferramentas e instrumentos para se pensar a segurança pública, de maneira a 
romper com o paradigma de uma polícia truculenta. A Política Nacional de Segurança 
Pública, juntamente ao Sistema Único de Segurança Pública, visa a uniformizar e 
multiplicar as boas práticas nas diferentes polícias, bem como a atender o anseio da 
sociedade por segurança e bem-estar (OLIVEIRA, 2020). 
 A prevenção ainda é reconhecida como uma das melhores estratégias para a 
redução dos índices de criminalidade. Mas trabalhar a prevenção exige uma interação 
cooperativa com a sociedade e com outras organizações públicas, além de incentivos 
dos entes federativos. A repressão continua sendo importante, no entanto pode ser 
minimizada por ações preventivas e educativas. Veja o que afirma Oliveira Junior 
(2016, p. 14): 
Parte-se do pressuposto de que a atuação de instituições participativas, tais 
como os conselhos comunitários de segurança pública (ou instituições 
congêneres) e os programas criados principalmente por iniciativa das polícias 
estaduais, como o Rede de Vizinhos Protegidos, consiste em uma forma 
relativamentenova de participação da sociedade civil na segurança pública 
no Brasil. Trata-se de programas, ações ou projetos costumeiramente 
classificados sob a rubrica do policiamento comunitário, ou modelos afins, 
como polícia de proximidade e outros. 
Políticas e programas têm trazido bons resultados, embora ainda tímidos, nas 
inovações em segurança pública no Brasil. Base comunitária, Unidades de Polícia 
Pacificadora (UPPs), programas de prevenção ao uso de drogas, conselhos de 
segurança, territórios de paz, entre tantas outras ações, destacam- -se como 
iniciativas importantes para modificar a realidade dos índices de violência e 
criminalidade do País (OLIVEIRA, 2020). 
 
29 
 
Como exemplo, você pode considerar a Secretaria de Segurança Pública do 
Estado de São Paulo, que criou em 2008 a Diretoria de Polícia Comunitária e de 
Direitos Humanos (DPCDH). Com a DPCDH, a instituição constrói um rol de valores 
para a aproximação com a comunidade. Isso passa pela capacitação profissional dos 
agentes policiais e por ações e programas de estreitamento do vínculo com a 
comunidade. Os valores da DPCDH são representados: 
 pelos pilares da hierarquia e da disciplina; 
 pela filosofia de polícia comunitária; 
 pelo mais absoluto respeito aos direitos humanos; 
 pela ação em defesa da vida, da integridade física e da dignidade das 
pessoas; 
 pela ação com honestidade de propósitos, probidade, patriotismo, civismo 
e coragem. 
 
As relações humanas no ambiente de trabalho devem ser pautadas pela 
fraternidade, pela justiça, pela lealdade, pela constância de propósitos e pelo 
profissionalismo. Além disso, os policiais devem servir à população da mesma forma 
como gostariam de ser servidos (OLIVEIRA, 2020). 
 
As UPPs do Rio de Janeiro não foram bem-sucedidas como política 
permanente; várias unidades já foram desativadas. 
 
Todos os programas têm como base a polícia comunitária, filosofia 
organizacional compartilhada por todos os órgãos de polícia, visando sempre ao 
ligação entre os direitos humanos e a segurança pública: 
É uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova 
parceria entre a população e a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a 
polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar 
e resolver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do 
crime, desordens físicas e morais, e em geral a decadência do bairro, com o 
objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na área (TROJANOWICZ; 
BUCQUEROUX, 1994, p. 4). 
A polícia comunitária atua a partir dos seguintes requisitos: 
 
30 
 
 
 imagem da polícia protetora e amiga; 
 aproximação entre a comunidade e a organização policial; 
 noção de que o agente policial tem função didático-pedagógica, orientando 
e educando o cidadão; 
 respeito aos direitos humanos e direitos fundamentais garantidos pela 
Constituição; 
 noção de que o policial é um cidadão íntegro, um representante do Estado 
que atende às demandas sociais. 
 
Todas essas inovações no comportamento e nas competências das polícias 
requerem também uma modificação da participação da sociedade e, principalmente, 
dos órgãos públicos na promoção de uma cultura de justiça social. São necessárias 
políticas públicas transversais e integradas com vistas ao exercício pleno da cidadania 
(OLIVEIRA, 2020). 
6 AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DAS POLÍTICAS DE SEGURANÇA 
PÚBLICA 
 
Fonte: gestaodesegurancaprivada.com.br 
 
31 
 
Neste capítulo, você vai estudar a avaliação e o monitoramento das políticas 
de segurança pública no Brasil. Ao longo do capítulo, você vai verificar como se 
organiza a estrutura federalista do Brasil e conhecer o histórico das políticas nacionais 
de segurança pública, com especial atenção aos planos nacionais de segurança 
pública propostos nos governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Luiz Inácio 
Lula da Silva. Você deve ficar atento às políticas públicas de segurança relacionadas 
aos diferentes níveis e segmentos de poder e à ramificação entre prevenção e 
repressão (OLIVEIRA, 2020). 
Por sua vez, o relacionamento entre a avaliação e o monitoramento deve ser 
compreendido junto às questões de performance policial, aos planos nacionais de 
segurança pública e aos apontamentos relativos aos direitos humanos. Também fique 
atento ao seguinte: violência, corrupção, criminalidade e brutalidade policiais são 
questões veementemente tratadas nos mais diversos planos nacionais, porém há 
recuos, pressões e reações, o que gera um histórico negativo de aplicação de políticas 
de segurança pública no Brasil (OLIVEIRA, 2020). 
Em síntese, a ideia é que, a partir das discussões propostas, você compreenda 
por que a segurança pública é uma das questões mais sensíveis no contexto 
brasileiro, ainda que sua presença seja corriqueira nas agendas políticas nacionais 
(OLIVEIRA, 2020). 
6.1 Principais conceitos e discussões 
A segurança pública está intimamente vinculada à segurança interna, no 
sentido de preservação da ordem pública. Por outro lado, ela se contrapõe à 
segurança interna territorial e à segurança externa, que ficam sob a responsabilidade 
das Forças Armadas. Então, embora tenha um conceito complexo, a segurança 
pública pode ser lida como uma das causas da ordem pública, que por sua vez se 
vincula à ordem administrativa em geral, que engloba saúde, segurança, moralidade 
e tranquilidade pública, assim como boa-fé nos negócios (LAZZARINI, 2003 apud 
OLIVEIRA, 2020). 
 
Ademais, o conceito de segurança pública está atrelado à proteção da 
sociedade; está em jogo um sistema de desenvolvimento social que dirige um sistema 
 
32 
 
de proteção social, no âmago da sociedade civil, em conjunto com um sistema de 
desenvolvimento nacional e um sistema de proteção nacional. A ausência de um 
conceito de segurança pública na Constituição abre margem à interpretação. Assim, 
a segurança pública ganha enfoques distintos: defesa ou garantia contra ameaças, ou 
unicamente defesa contra a ameaça do crime e da contravenção penal (ESPÍRITO 
SANTO; MEIRELES 2003). 
As políticas de segurança pública no Brasil têm sido, de forma geral, 
organizadas e implementadas de maneira fragmentada e pouco planejada. No final 
dos anos 1980, houve a retomada da ordem democrática no País, e diversos direitos 
foram respaldados e reformulados pela Carta Maior. Todavia, o direito à segurança e 
à ordem, da mesma forma que a organização estrutural que deveria garanti-lo, acabou 
limitado a uma lista de organizações policiais apresentada no Título V — Da Defesa 
do Estado e das Instituições Democráticas. Com esse tratamento, a segurança ficou 
longe de assumir o caráter cidadão conferido aos outros setores da vida social do 
Brasil, que começava a se reajustar (BALLESTEROS, 2014 apud OLIVEIRA, 2020). 
A insuficiência constitucional relativa à segurança pública é vista por inúmeros 
autores como decorrência do abalo institucionalizado em relação à temática, 
resultante das violações e arbitrariedades cometidas durante a ditadura militar. 
Refrear o debate e afastar-se dessa temática na Constituinte teria permitido edificar a 
conciliação indispensável para a transição ao regime democrático (BALLESTEROS, 
2014). Veja: 
As continuidades organizacionais [...] caracterizaram a segurança pública 
desde a promulgação da Constituição de 1988, somadas à falta de indicação 
sobre diretrizes de coordenação ou articulação, bem como à omissão com 
relação ao papel do governo federal e dos municípios neste setor. 
Tradicionalmente, as implicações da estrutura federalista para a 
caracterização das políticas públicas nacionais foram analisadas apenas para 
as políticas sociais e fiscais. Em raras oportunidades as análises desta 
natureza foram estendidas às políticas de segurança pública. Isso porque, no 
entender de alguns analistas, os vazios eram tão mais expressivos do que as 
ações empreendidas, que nãohaveria elementos sobre os quais fazer 
considerações teóricas. O federalismo como forma de organização político-
territorial, segundo corrente majoritária da doutrina, tem forte impacto na 
estrutura administrativa e no desenho e implementação das políticas 
públicas, e a interação que se dá entre o governo central e os governos 
subnacionais em uma federação é essencial para definir o modo e a 
qualidade com que o Estado proverá direitos fundamentais dos cidadãos 
(BALLESTEROS, 2014, p. 8). 
 
 
33 
 
Ainda assim, alguns procedimentos governamentais indicam mudanças na 
forma como a segurança pública vem sendo administrada nos últimos 30 anos no 
Brasil. Embora o governo federal não tenha a competência legal para tratar do tema, 
sua atitude política construída com base em propostas que superam as limitações da 
normatividade tem sido utilizada para movimentar um ambiente baseado na inércia e 
na reatividade. Ainda que não consumadas, essas alterações devem ser consideradas 
significativas marcas da governança da segurança pública (BALLESTEROS, 2014). 
Nesse sentido, a implementação de políticas públicas de segurança não 
depende apenas do desenvolvimento de um bom planejamento, mas dos resultados 
práticos que advêm da excelência na governança e da determinação de prioridades, 
bem como do afastamento de pontos errôneos que podem gerar retrocessos. Assim, 
manter programas de segurança pública em funcionamento depende de dois fatores 
essenciais: a avaliação e o monitoramento (OLIVEIRA, 2020). 
Conjuntamente, esses fatores são formuladores de índices de qualidade e/ou 
ineficiência das ações e estratégias desenvolvidas pela atividade conjunta dos 
governos federal, estadual e municipal para a aplicação de projetos vinculados à 
segurança pública, ao combate ao crime e à violência, à reestruturação das polícias, 
ao aprimoramento de tecnologias e conhecimentos, etc. 
A avaliação de desempenho diz respeito à análise dos resultados atingidos por 
meio de determinada ação, a qual, por sua vez, pressupõe a competência, que é 
entendida como “[...] a capacidade de um indivíduo ou grupo em executá-la e, em 
certos casos, a eficiência, que é a virtude de produzir algum efeito tendo em vista uma 
relação de custos e benefícios [...]” (DURANTE; BORGES, 2011, p. 64). Assim, avaliar 
o desempenho é o mesmo que lhe conceder um conceito em relação às expectativas 
preestabelecidas. Dessa forma, a avaliação e, por conseguinte, o monitoramento são 
instrumentos que possibilitam ao gestor ter conhecimento dos resultados e impactos 
da ação de determinada política, programa ou plano. Por meio disso, ele pode 
estabelecer, rotineiramente, contratos com os agentes vinculados ao projeto ou 
política avaliada considerando os resultados que são esperados, procurando “[...] 
acompanhar os desafios propostos, corrigindo os rumos quando necessário e avaliar 
os resultados alcançados. [Estes] derivam do planejamento estratégico definido pelos 
gestores da organização ou departamento avaliado [...]” (DURANTE; BORGES, 2011, 
p. 65). Considere o seguinte: 
 
34 
 
A avaliação em processo [...] tem a particularidade de ser preventiva da 
eficiência e até mesmo da eficácia, dependendo da metodologia e dos 
instrumentais que são utilizados. Este tipo de avaliação é fundamental para a 
introdução da correção de rumos no decorrer do processo de implementação 
de políticas públicas. Essa avaliação é muito sensível politicamente porque 
afeta diretamente os responsáveis políticos e técnicos pela condução das 
políticas. A avaliação em processo destina-se a problematizar, em 
profundidade, a direção, os produtos e os resultados que a política esteja 
produzindo, mas enquanto ela está́ sendo implementada (DURANTE; 
BORGES, 2011, p. 66). 
 
Durante e Borges (2011, p. 66) também discorre sobre a importância dos 
indicadores de desempenho. Veja: 
 
Como ferramenta essencial para realizar a avaliação de desempenho, 
destacamos os indicadores de desempenho. A criação de um sistema de 
indicadores de desempenho pode ser um instrumento para avaliação das 
instituições de segurança pública e um autocontrole dos resultados do seu 
desempenho. Por outro lado, permite comparar o desempenho da instituição 
gestora com outras similares. Permite, ainda, destacar os pontos fortes e 
fracos dos diferentes setores das entidades gestoras, de maneira que sejam 
adotadas medidas corretivas para a melhoria da produtividade, dos 
procedimentos e das rotinas de trabalho. Por fim, permite a monitorização dos 
resultados das decisões dos gestores, facilitando a implementação de um 
sistema de gestão da qualidade. Os indicadores de desempenho devem 
proporcionar informações no que diz respeito aos objetivos das instituições e 
facilitar as tomadas de decisão, bem como o redirecionamento de ações que 
estão sendo desenvolvidas (Apud OLIVEIRA, 2020). 
 
Soares (2007), por sua vez, destaca que os efeitos da sazonalidade e da 
relatividade da aceleração são coeficientes muito simples para os mecanismos de 
avaliação e monitoramento de políticas públicas de segurança. Deve-se recordar as 
hipóteses vinculadas a fatores sociais que são causas capazes de promover 
condições ótimas para a formação ampliada de práticas criminosas; nesses casos, 
ainda que um excelente programa de segurança seja aplicado, os indicadores 
poderiam ser negativos. O autor assinala que tais indicativos poderiam ser 
apaziguados caso uma política de segurança não estivesse sendo empregada, mas 
isso “[...] conduziria o analista a um argumento contrafactual impossível de testar e, 
portanto, de comprovar [...]” (SOARES, 2007, p. 78 apud OLIVEIRA, 2020). O 
contrário também poderia ocorrer, ou seja, fatores negativos poderiam fracassar ou 
mesmo se extinguir, tendo como consequência resultados positivos e alheios às 
políticas de segurança. Nesse sentido, 
 
35 
 
Consideremos quatro exemplos da participação relativamente autônoma de 
fatores negativos [...]: dinâmicas demográficas ou a qualidade da saúde 
pública materno-infantil, ou o aperfeiçoamento das condições sanitárias, fruto 
de processo de urbanização, levam ao aumento do número de jovens na 
população. Sabemos que a magnitude da presença de jovens na população 
constitui uma variável significativa para o panorama da criminalidade e da 
violência. Eis aí um contexto favorável ao crescimento do número de crimes. 
Desastres naturais, como enchentes e tornados, podem gerar 
desabastecimento, desespero e uma onda de saques, de tal maneira que se 
produza um ambiente propício à proliferação de práticas criminosas de tipos 
diversos, contra a vida e o patrimônio. Crise econômica, provocando 
desemprego em massa e aprofundando desigualdades, na contramão de 
uma cultura hegemônica individualista e igualitária, pode funcionar como 
vetor facilitador da difusão de práticas criminosas. Crescimento econômico e 
elevação da renda média, universalização do acesso ao ensino público, em 
ambiente de intenso desenvolvimento tecnológico, no contexto da expansão 
do que se convencionou chamar “sociedade do conhecimento ou da 
informação”, tornam simples a reprodução doméstica de obras culturais 
(como filmes e gravações musicais) e incontrolável sua distribuição ilícita, 
colocando em xeque os termos que tradicionalmente definem a propriedade 
intelectual e alimentando verdadeira avalancha dos crimes apelidados 
“pirataria” (SOARES, 2007, p. 78 apud OLIVEIRA, 2020). 
Tais hipóteses correspondem a um grupo de elementos independentes do 
desempenho policial ou das políticas de segurança e representam a perspectiva de 
que boas práticas não são capazes de minimizar danos ou limitar consequências 
negativas. Dessa forma, não estaria correta a avaliação por meio do resultado 
vinculado da colisão de dinâmicas, vetores e processos, exceto se fosse realizado por 
metodologia comparativa de situações similares (SOARES, 2007). 
 
Os indicadores sociais devem possuir duas características

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